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244268364-Sociologia-urbana-pdf

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Angelo Silva
2009
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© 2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito 
dos autores e do detentor dos direitos autorais.
Capa: IESDE Brasil S.A.
Crédito da imagem: Digital Juice.
IESDE Brasil S.A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
S586 Silva, Angelo. / Sociologia Urbana. / Angelo Silva. 
— Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009. 
188 p.
ISBN: 978-85-387-0151-4
1.Sociologia urbana. 2.Sociologia – Origem. 3.Urbanização. 
I.Título.
CDD 307.76
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mais informações www.iesde.com.br
Doutor em História pela Universidade Federal do 
Paraná (UFPR). Mestre em Ciência Política pela Universidade 
Estadual de Campinas (Unicamp). Bacharel em Ciências 
Sociais pela Unicamp.
Angelo Silva
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SUMÁRIO
As origens da Sociologia: os pais fundadores ............................................11
Os antecedentes do surgimento da Sociologia ..............................................................................11
A sociedade transforma-se em objeto de estudo ..........................................................................12
Os precursores ............................................................................................................................................13
Karl Marx e a revolução ..........................................................................................................................13
Émile Durkheim e a institucionalização da Sociologia ................................................................15
Max Weber e a Sociologia compreensiva .........................................................................................17
As grandes cidades industriais inglesas do século XIX e a crítica de 
Friedrich Engels .................................................................................................31
O contexto da época ................................................................................................................................32
Um pouco da biografia do autor ..........................................................................................................33
Sobre o texto de Engels .........................................................................................................................34
“As grandes cidades” ................................................................................................................................35
Comentários sobre o texto .....................................................................................................................37
Reforçando algumas ideias ....................................................................................................................38
Sobre a metrópole capitalista e seus efeitos no indivíduo ....................45
Georg Simmel e a Sociologia ................................................................................................................45
O que é que a grande cidade tem de especial? ..............................................................................46
Conclusão .....................................................................................................................................................52
Max Weber e a cidade .........................................................................................57
Sobre o autor ...............................................................................................................................................57
Max Weber e a cidade ..............................................................................................................................58
Alguns elementos para a definição de cidade ................................................................................59
A cidade e o campo ..................................................................................................................................60
A cidade como local de defesa .............................................................................................................61
Observando mais de perto ....................................................................................................................62
Reunindo os fios .........................................................................................................................................63
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A Sociologia Urbana e a Escola de Chicago: Robert Ezra Park ......67
Sobre o autor em foco ...............................................................................................................67
Uma pequena síntese da obra de Robert Park .................................................................68
Conclusão .......................................................................................................................................73
Louis Wirth e o urbanismo como modo de vida............................. 79
Uma pequena apresentação ...................................................................................................79
Sobre seu texto mais conhecido no Brasil ..........................................................................79
Buscando uma conclusão .........................................................................................................86
Paul Singer e a Sociologia Urbana no Brasil ..................................... 91
Uma base marxista para pensarmos o Brasil .....................................................................92
Alguns aspectos teóricos sobre o processo de migração ............................................95
O perfil das cidades recortado pelo tipo de desenvolvimento capitalista .............97
Uma conclusão que se impõe aos olhos .............................................................................98
Henri Léfèbvre e a Sociologia Urbana pela ótica marxista .......105
Sobre o autor .............................................................................................................................. 105
A revolução urbana .................................................................................................................. 106
Discussão metodológica ........................................................................................................ 107
Análise histórica ....................................................................................................................... 108
Algumas suposições teóricas sobre a fase crítica ......................................................... 110
Manuel Castells e a Sociologia Urbana ............................................117
Sobre o autor .............................................................................................................................. 117
Sua produção na temática urbana ..................................................................................... 117
Contribuição para os estudos urbanos ............................................................................. 118
O debate sobre a teoria do espaço .................................................................................... 119
Delimitação teórica do urbano ............................................................................................ 122
Consumo como processo de reprodução da força de trabalho .............................. 123
Instrumentos teóricos para o estudo da políticaurbana ........................................... 125
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Ilhas de felicidade no meio do caos urbano ............................................ 135
Um pouco mais sobre a autora e o tema ....................................................................................... 135
Construindo muralhas para esconder a diferença...................................................................... 136
A transformação do espaço público em espaço privado ......................................................... 139
Uma comparação esclarecedora: São Paulo e Los Angeles..................................................... 141
A modernidade invade as cidades: os shopping centers e as mudanças 
do urbano ......................................................................................................... 149
O começo da história ............................................................................................................................ 150
Recriando identidades .......................................................................................................................... 153
O mundo cabe dentro de um SC ...................................................................................................... 155
Redesenhando a fisiognomia da metrópole moderna ........................ 161
O livro das passagens ........................................................................................................................... 161
Uma primeira volta pela quadra para reconhecimento .......................................................... 163
Um olhar mais próximo ........................................................................................................................ 165
A cidade que sobrepõe texto e imagens ....................................................................................... 167
No Brasil, São Paulo e Minas Gerais .................................................................................................. 168
GABARITO ............................................................................................................. 175
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 185
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APRESENTAÇÃO
O objetivo principal deste trabalho é situar o leitor na 
discussão acadêmica sobre a Sociologia Urbana. 
Temos aqui dois caminhos que seguirão em paralelo, 
pelo menos inicialmente, até que venham a convergir 
no sentido de termos uma ideia clara do surgimento da 
Sociologia como ciência e da Sociologia Urbana como 
um ramo no tronco da ciência maior. 
Com este objetivo, organizei o trabalho de uma maneira 
cronológica, por um lado, e monográfica, por outro. Isto 
quer dizer que organizei os capítulos do livro a partir do 
surgimento da Sociologia como ciência, passando pelos 
precursores da Sociologia Urbana, depois pelos seus fun-
dadores propriamente ditos. Isto posto, chegamos 
aos autores contemporâneos e ao Brasil. Mantivemos 
aqui uma cronologia não muito rigorosa. 
Outro aspecto relativo à forma de organização do traba-
lho é que procurei trabalhar com os principais autores 
dos respectivos temas. Tanto no caso da cronologia 
quanto da autoria, não segui com rigidez essas deter-
minações. Elas funcionaram mais como um parâmetro 
geral do que como uma lei imutável, algo próximo das 
características relacionadas às ciências sociais em geral 
e à Sociologia em particular. Não estamos tratando das 
Ciências Exatas aqui, da Matemática, Física etc. Podemos, 
portanto, trabalhar com uma flexibilidade maior. Foi o 
que procurei aplicar na própria construção do texto, em 
suas partes e no conjunto que estas partes formam.
Temos, então, ao longo dos capítulos, um arranjo próxi-
mo do seguinte: uma parte introdutória sobre as origens 
da Sociologia, seguida dos precursores da Sociologia 
Urbana, para depois chegarmos aos principais autores 
contemporâneos. Dedico uma parte do trabalho para 
refletirmos sobre os problemas urbanos mais atuais, 
articulados com a realidade brasileira. 
Boa leitura!
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11
As origens da Sociologia: 
os pais fundadores
Para compreendermos a Sociologia Urbana é imprescindível que façamos um 
movimento de olhar para trás. Este é o sentido deste capítulo, a saber: tomarmos con-
tato com as origens da Sociologia. Vou lançar mão desse recuo histórico para iniciar 
meu trabalho. Veremos, a seguir, uma contextualização do período em que surgiu a 
Sociologia para depois tomarmos um primeiro contato com os assim chamados pre-
cursores dessa ciência.
Os antecedentes do surgimento da Sociologia
Da mesma maneira que as outras ciências, exatas, naturais ou sociais, a Sociologia 
passou por um processo de construção. É desse período da história dessa ciência que 
trataremos aqui. Estamos no final do século XVIII, no centro da Europa, e podemos cons-
tatar que a assim chamada Revolução Industrial já havia lançado suas raízes na Inglaterra 
e esparramava-se pelo continente. Essa revolução tinha alterado de forma significativa 
a maneira como os indivíduos e a sociedade produziam os seus bens. Queremos dizer 
com isso que o artesanato tinha sido deixado de lado e que a manufatura predominava. 
Aquele espaço de produção de mercadorias, que hoje chamamos de fábrica, começava 
a ganhar uma feição mais definida. Conforme as coisas foram se alterando no sistema 
produtivo, as cidades também foram se modificando. O mundo daquela época era pre-
dominantemente rural, mas em alguns lugares a concentração de pessoas nas cidades 
começa a crescer: podemos mencionar Londres e Paris, entre outros.
Nesse mundo para o qual nos conduzimos, uma nova revolução veio se somar à 
anterior. Refiro-me à Revolução Francesa, que, assim como a Industrial, também pro-
vocou muitas transformações, por isso mesmo uma revolução. Enquanto a primeira se 
caracterizou por alterar as bases materiais da sociedade europeia, a segunda deixou 
suas principais marcas no campo das ideias. Parte significativa das ideias dos filósofos 
iluministas que antecederam essa revolução ganharam um corpo e uma vida com ela. 
As ideias de liberdade, igualdade e fraternidade não foram as únicas a se destacarem 
Sociologia U
rbana
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12
em 14 de julho de 17891. Uma das mais importantes concepções nascentes pode ser 
percebida no primeiro verso da Marselhesa, que se tornou o hino nacional francês, em 
que vemos surgir a ideia de Nação. O verso “Avante filhos da Pátria” inaugura a materia-
lização dessa ideia que se esparramou pelo mundo todo, do ponto de vista histórico, 
em pouco tempo.
Estamos diante de uma dupla revolução que promove uma reviravolta na forma 
como as pessoas estavam acostumadas a viver (a trabalhar, por exemplo) e na forma 
como as pessoas estavam acostumadas a pensar, a ver o mundo. Os resultados dessas 
duas mudanças importantes não se fizeram esperar para produzirem seus efeitos.
A sociedade transforma-se em objeto de estudo
Do ponto de vista material, as cidades começaram a crescer desenfreadamente 
em função da Revolução Industrial. Não só as cidades cresceram, mas a quantidade e o 
tipo de problemas que esse crescimento produziu foram notáveis. Nesse momento, al-
gumas mudanças também ocorreram no campo das ideias, cujo exemplo que merece 
maior destaque é a Revolução Francesa. Antes desse período, predominava a visão do 
catolicismo, que era a religião dominante.Isso significava que tudo o que acontecia na 
vida das pessoas e da sociedade tinha uma explicação divina. Em outras palavras, era 
assim porque Deus queria. A partir dessa revolução, a maneira de se pensar foi altera-
da. Não era mais Deus que estava no centro das explicações e sim o homem, ou seja, 
era possível e necessário compreender os fenômenos sociais porque estes eram resul-
tado da ação dos homens e não da vontade divina. Portanto, as duas grandes revolu-
ções, a Industrial e a Francesa, abalaram e, por fim, derrubaram a maioria dos alicerces 
sobre os quais a sociedade europeia se apoiava. Tanto no plano material quanto no das 
ideias, as alterações foram largas e profundas.
Do ponto de vista do qual estamos observando essa história, o conjunto de mo-
dificações ocorridas levou a uma série de conflitos que colocaram a sociedade como 
um problema a ser estudado e resolvido. O crescimento desordenado das cidades e os 
problemas relativos a ele e o clima de instabilidade gerado pelas revoluções e pela in-
certeza diante das mudanças foram mais do que suficientes para fazer com que vários 
pensadores e homens de ação começassem a se preocupar em resolver esses proble-
mas. Com o isolamento da religião católica e o deslocamento do teocentrismo, abriu-
se a possibilidade de pensar o mundo sem os limites impostos pela Igreja.
De outro ponto de vista, observamos que, com as mudanças na produção, o 
mundo se alterou com o crescimento das cidades. O capitalismo, que começava a se 
1 Apesar de a Revolução Francesa ser um processo com raízes nos fatos do passado, diversos acontecimentos ocorreram no ano de 1789, sendo o principal 
deles a tomada da Bastilha em 14 de julho, símbolo máximo da resistência popular frente aos privilégios da nobreza.So
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desenvolver, fez surgir a classe operária, que, com suas reivindicações, produzia uma 
série de conflitos sociais. Nesse clima de conflitos, aqueles que se preocupavam em 
refletir sobre a sociedade começaram a ocupar-se com ideias sobre a sua reforma. 
Vimos surgir então um grupo de pensadores que viam na derrubada do antigo regime 
a origem de todas as mazelas que a sociedade enfrentava. A solução para os proble-
mas estava dada, ou seja, bastava voltar para o sistema feudal que tudo se resolveria. 
Essa proposta foi atropelada pela História e não vingou. O feudalismo e seus principais 
sustentáculos tinham perdido o seu lugar e era o capitalismo que imperava.
Os precursores
Estamos na primeira metade do século XIX e um dos pioneiros da Sociologia 
como a conhecemos hoje produzia suas ideias a respeito da sociedade. Estou falando 
de Augusto Comte. Esse autor lançaria as bases para a consolidação da Sociologia no 
final desse mesmo século. Comte tomou de outras ciências já consolidadas, a Física, a 
Matemática, a Fisiologia/Biologia, elementos metodológicos que procurou aplicar à 
análise da sociedade.
Comte acabou por ver a necessidade de se criar o que ele chamou de física social, 
ou seja, uma nova ciência que deveria estudar os fenômenos sociais a partir das ci-
ências ditas naturais, aquelas que têm como objeto de estudo a natureza. Seus esfor-
ços não o levaram à fundação dessa nova ciência, mas seus seguidores, como Émile 
Durkheim dariam seguimento às suas ideias. Contudo, antes de continuarmos com 
Durkheim, vamos tratar de apresentar as ideias de Karl Marx, que se constituíram num 
marco, não só para a Sociologia, mas para as Ciências Sociais como um todo.
Karl Marx e a revolução 
O autor do qual vamos tratar nas próximas linhas produz opiniões muito contro-
versas, desde a sua época até os dias atuais. Por conta disso, vou fazer um breve relato 
sobre a construção das linhas que nortearam o pensamento de Marx. Nascido em 5 de 
maio de 1818, na antiga Prússia, hoje Alemanha, no interior de uma família de judeus 
convertidos ao protestantismo, ele seguiria o caminho tradicional para um filho de 
classe média da época, desenvolvendo estudos no campo do Direito e da Filosofia. 
Com 25 anos de idade, esse autor encontrava-se na direção do jornal Gazeta Renana, 
assumindo a profissão de jornalista. No final de 1843, ao escrever Crítica da Filosofia do 
Direito de Hegel, Marx declarou publicamente que havia abandonado o campo político 
do liberalismo e da burguesia para se colocar no campo da classe operária e do co-
munismo. Esse movimento político pode ser entendido como resultado de uma série 
A
s origens da Sociologia: os pais fundadores
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14
de fatores. Destaco o fato de que o autor em foco entrou em contato com a militância 
comunista da época e, além disso, pôde verificar com seus próprios olhos a situação de 
miséria na qual se encontrava a classe trabalhadora.
Karl Marx tornou-se, portanto, um militante da causa revolucionária e seus es-
tudos têm uma marca muito clara, a saber, o fato de realizar suas análises a partir da 
experiência vivida e não dos estudos desenvolvidos no interior dos gabinetes. Além 
disso, encontra-se em sua obra uma clara intenção prática de transformação. Para ele, o 
conhecimento servia para mudar o mundo, para fazer a revolução socialista e não para 
fundar uma ciência. Foi dentro dessa perspectiva que Marx produziu sua obra.
O primeiro trabalho de Marx que ganhou o mundo foi escrito entre dezembro de 
1847 e janeiro de 1848, sendo publicado em fevereiro daquele ano. O Manifesto do Par-
tido Comunista, escrito em parceria com Friedrich Engels, tornou-se rapidamente um 
dos livros mais traduzidos e vendidos da história da imprensa. Por que tanto sucesso? 
Nessa obra, por meio de uma linguagem clara e direta, os autores apresentaram as 
principais teorias que desvendariam o funcionamento do capitalismo e propuseram 
medidas para a sua superação.
A luta de classes, uma ideia fundamental no pensamento de Marx, abre o Mani-
festo. Além disso, outros conceitos, como a dialética, a ditadura do proletariado e as 
formas de exploração da classe trabalhadora pelos capitalistas, aparecem no interior 
do texto. Posteriormente a esse trabalho, Marx escreveu O 18 Brumário de Luís Bona-
parte, no qual é analisado o golpe de estado que colocou esse Bonaparte no comando 
do Estado francês ao longo de 20 anos, de 1851 a 1871. Nessa obra, temos uma ra-
diografia da sociedade francesa, fundamentalmente no campo da política, com uma 
crítica ácida aos vários agrupamentos políticos que se batiam naquele momento. Marx 
denuncia que todos os partidos ligados à burguesia optaram, em função das pressões 
exercidas pela classe operária, que havia feito revoluções por toda a Europa em 1848, 
por entregar o poder a um ditador para garantir a sua dominação. É a clássica ideia de 
entregar os anéis para não perder os dedos.
No ano de 1867, Marx publicou o primeiro volume de O Capital, sua obra mais 
importante. Esse trabalho resultou da experiência do autor como militante do comu-
nismo, como fundador de partidos e organizações políticas com abrangência nacional 
e internacional e, também, como intelectual que inaugura uma maneira de produzir 
conhecimento, ou seja, associando às ideias uma ação concreta.
Alguns dos principais temas que Marx trabalhou em O Capital constituíram-se 
em pilares do conhecimento no campo da Política, da Economia, da Sociologia, entre 
outros. A título de exemplo, podemos tomar, inicialmente, a descoberta do meio pelo 
qual os capitalistas exploram a classe operária, a saber, a mais-valia. Esse conceito 
revela como, ao final do expediente, o operário recebe um valor predeterminado, 
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15
entregando ao capitalista o produto do seu trabalho. A exploração se dá na medida 
em que o valor obtido com a venda dos produtos que o trabalhadorproduziu e que foi 
apropriado pelo empregador é muito maior do que aquilo que foi pago como salário. 
Assim, a exploração não é ilegal, porque o contrato de trabalho acorda justamente 
esse procedimento, mas não deixa de ser exploração do trabalho. A partir disso, Marx 
desvenda também como as leis estão a serviço daqueles que dominam a sociedade e 
que o Estado não existe para representar todos os indivíduos, mas que, em nome de 
todos, ele, o Estado, garante que alguns mantenham a sua dominação sobre o conjun-
to da sociedade.
Em função do exposto, fica mais fácil imaginar por que esse autor foi tão perse-
guido em seu tempo e por que seus seguidores continuam sendo. Contudo, o obje-
tivo é mostrar que as intenções de Marx, nesse caso, não têm importância para nós. 
O que importa é a contribuição que esse autor deu para compreendermos o mundo 
que nos cerca.
Émile Durkheim e a institucionalização 
da Sociologia
Todos aqueles que estiveram ligados às origens da Sociologia possuíam intenções 
práticas. Isto quer dizer que, de uma maneira ou de outra, havia uma preocupação em 
transformar a sociedade da época, no caso, o século XIX. Existem, contudo, diferentes 
maneiras de se intervir na realidade social. De forma muito distinta daquela pretendida 
por Karl Marx, o autor que passaremos a tratar também deixou marcada a sua contri-
buição para o desenvolvimento dessa ciência.
David Émile Durkheim nasceu em 15 de abril de 1858, na região da Alsácia, na 
França, no interior de uma família de rabinos. Assim como Karl Marx, Durkheim rea-
lizou seus estudos até o nível universitário. Em 1887, tornou-se professor na Univer-
sidade de Bordeaux, criando a primeira cátedra exclusivamente destinada ao ensino 
da Sociologia. Esse autor vinha se dedicando, mesmo antes de criar essa disciplina na 
academia, a construir a Sociologia como uma ciência autônoma. Seu pensamento foi 
influenciado por vários autores, atuantes na época e menos conhecidos hoje em dia, 
como Spencer, Espinas, Wundt e Comte. Deles, retirou algumas características que 
marcaram a ciência produzida por Durkheim. Como exemplo, podemos utilizar a pre-
ferência durkheimiana por modelos biológicos, ou seja, pensar a sociedade como um 
organismo vivo. Além dessa influência, esse autor articulou conhecimentos de outras 
áreas, mais ou menos estabelecidas, como da Antropologia e da Psicologia, em seu 
trabalho de criação da nova ciência, a Sociologia.
A
s origens da Sociologia: os pais fundadores
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16
É possível ver, pelos títulos dos trabalhos publicados por Émile Durkheim, o seu 
empenho no sentido de construir a Sociologia, senão vejamos: em 1889, temos os Ele-
mentos de Sociologia; quatro anos depois, apareceu A Divisão do Trabalho Social; em 
1895, foram publicadas As Regras do Método Sociológico; em 1897 e 1912, foram pu-
blicados, respectivamente, O Suicídio e As Formas Elementares da Vida Religiosa. Entre 
essas duas últimas publicações, Durkheim fundou, em 1898, uma revista que se cons-
tituiu em local privilegiado de divulgação da recém-criada sociologia francesa. Essa 
revista chamou-se L’Année Sociologique (O Ano Sociológico). Após sua morte, ocorrida 
em 1917, ainda foram publicados Educação e Sociologia, em 1922; Sociologia e Filosofia, 
em 1924; A Educação Moral, em 1925; e, por fim, O Socialismo, que é de 1928.
A Sociologia da ordem
Além de buscar os parâmetros para a construção da Sociologia, Durkheim voltou 
suas expectativas para a produção de um conjunto de novas ideias que poderiam me-
lhorar as condições de existência no interior da sociedade de sua época. A Europa em 
geral, e a França em particular, experimentavam no final do século XIX um período 
muito conturbado. Por um lado, uma série de abalos na economia, de conflitos sociais 
resultantes das crises do sistema capitalista, tornava difícil a vida naqueles dias. Por 
outro, os progressos técnicos e a expansão econômica também eram muito marcados. 
Diante dessa sociedade marcada pela contradição, Durkheim acabou trilhando um ca-
minho oposto àquele escolhido por Karl Marx, por exemplo.
Para ele, reformas econômicas não resolveriam os problemas colocados. Antes 
disso, Durkheim acreditava ser necessário descobrir por meio da pesquisa sociológica 
quais eram as leis que regiam o funcionamento da sociedade. Com isto em mãos, a 
Sociologia ganhava um caráter “positivo”, ou seja, ao invés de negar a sociedade exis-
tente, tratava-se de orientá-la positivamente no sentido de corrigir aquelas anormali-
dades provocadas pelas tensões sociais e mantidas pela ignorância em relação à sua 
existência. Quero dizer com isto que a Sociologia durkheimiana pretendia encontrar 
por meio da pesquisa científica os padrões considerados normais para uma determi-
nada sociedade. Assim, era possível corrigir os “desvios” e “anormalidades” que eram 
responsáveis pelos conflitos existentes.
A sociologia positiva criada por Durkheim constituiu-se em uma das principais 
correntes da Sociologia como ciência autônoma. Definindo o fato social como objeto 
de estudo dessa ciência e estabelecendo um conjunto de métodos e técnicas para o 
estudo desse objeto, o trabalho desse autor ganhou rapidamente influência na França 
e, posteriormente, no restante da Europa e nos Estados Unidos.
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Max Weber e a Sociologia compreensiva
Seguindo a ordem cronológica, temos o trabalho de outro pensador alemão 
que também se constitui em um dos principais suportes para o trabalho no inte-
rior das Ciências Sociais e da Sociologia mais especificamente. Max Weber nasceu 
no interior de uma família de protestantes, na Alemanha, no dia 21 de abril de 1864. 
Faleceu com 56 anos, em 1920. Assim como Karl Marx e Émile Durkheim, Weber teve 
uma formação acadêmica muito sólida. Este autor tornou-se um dos mais importan-
tes pensadores do século XX. Com um interesse por diferentes temas sociais, como o 
Direito, a Economia, a Música, além da Sociologia, Weber trará para o interior dessa 
ciência essa diversidade de abordagens.
Da mesma maneira que Durkheim procurou dar à Sociologia as bases para sua 
formação como uma ciência, Weber também trabalhou nesse sentido. Uma das princi-
pais maneiras adotadas por ele para perseguir esse objetivo foi criar uma diferenciação 
muito precisa entre a política e a ciência. Para esse autor, jamais poderiam ser confun-
didas essas duas formas de ação. A primeira delas estava calcada sobre juízos de valor 
próprios a cada indivíduo. Esses juízos serviriam para orientar as escolhas de atuação 
de todos. O próprio Weber teve, ao longo de sua vida, uma intensa intervenção política. 
Portanto, o cientista pode e inclusive deve se posicionar em relação à política, mas en-
quanto cidadão e não enquanto cientista, pois, caso contrário, contaminaria a ambas. 
No que diz respeito à ciência, o procedimento do autor era no sentido de tratar de 
compreender os fenômenos sociais por meio de uma metodologia de pesquisa extre-
mamente rigorosa e detalhada. No que diz respeito à Sociologia, ele adere de maneira 
mais intensa a ela já no final de sua carreira. Afirma, como uma espécie de definição, 
que essa ciência deve se voltar para a compreensão interpretativa da ação social. Além 
disso, deve também fornecer uma explicação a partir das causas dessa ação e, por fim, 
os efeitos prováveis que ela produzirá.
Weber insistia sempre que o cientista deveria tratar com frieza, sem ira e nem 
paixão, os fenômenos por ele analisados. Além disso, as conclusões a que o cientista 
chegava serviriam para orientar o político. Este sim, um indivíduo de ação que se 
move também com o combustível da paixão. Nesse sentido, os produtos do conhe-
cimento da ciência poderiam ser tratados como mercadorias que não possuem pre-
ferências, juízos de valor ou cores políticas. Cada umde nós pode, segundo Weber, 
fazer o uso que julgar conveniente de um conhecimento científico. Dessa proposição 
é que vai surgir posteriormente, no interior da Sociologia, a ideia de que os mesmos 
procedimentos de pesquisa podem tanto ajudar a vender um sabonete quanto a 
eleger um presidente.
As proposições feitas por Max Weber sempre produziram muita polêmica. Contu-
do, por meio de sua extensa obra, ele consegue fundamentar suas proposições como 
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poucos o fizeram. Seus principais trabalhos no campo da Sociologia são os seguintes: 
Economia e Sociedade, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Ciência e Política: 
duas vocações.
Max Weber e a ação individual
A Sociologia weberiana é fortemente influenciada por pensadores alemães, tanto 
os contemporâneos a ele quanto outros que o precederam. Uma visão pessimista de 
seu mundo Weber toma emprestada de Nietzsche2.
A generalização para todos os indivíduos da capacidade de agir racionalmente 
origina-se de proposições de Kant3. Além desses, Weber estabeleceu, pela sua obra, 
um intenso diálogo com Karl Marx. Boa parte dos escritos de Weber procura refutar ou 
verificar a eficiência dos conceitos presentes nos principais trabalhos daquele autor. 
Outros menos conhecidos por nós também deixaram sua cota de contribuição à Socio-
logia weberiana, dentre os quais Georg Lukács4 e Georg Simmel5.
O tipo de Sociologia desenvolvida por Weber leva em conta, fundamentalmen-
te, o indivíduo e sua ação. Nesse sentido, o autor se contrapõe a outros pensadores 
que procuram colocar no centro de suas atenções o coletivo, como faz Marx com as 
classes sociais, ou as instituições sociais como o Estado, as empresas, os partidos po-
líticos. Weber destaca que o caminho principal do sociólogo para a compreensão dos 
fenômenos sociais passa pela compreensão das motivações que levam um indivíduo a 
praticar uma determinada ação.
Para a perseguição desse objetivo, o autor define quatro tipos de ação com 
o intuito de construir um modelo teórico que auxilie o cientista em seu trabalho de 
compreensão. A primeira ação tratada por Weber é a ação racional com vistas a um 
determinado fim. Essa ação toma por base o pensamento racional que é utilizado para 
se atingir um determinado objetivo, seja ele profissional, pessoal, criativo etc. Como 
exemplo desse tipo de ação, temos o compositor que escreve uma música ou o médico 
que realiza uma cirurgia.
2 Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 15 de outubro de 1844, em Röcken, localidade próxima à Leipzig, e morreu em Weimar, em 25 de agosto de 1900. 
Foi um filósofo crítico do seu tempo, tido por alguns como autoritário e por outros como transformador. Sua obra vem ganhando importância nas últimas 
décadas. Assim Falou Zaratustra é um de seus trabalhos mais difundidos. As indicações de data e locais foram retiradas do site: <www.mundodosfilosofos.
com.br/nietzsche.htm>, em 25 de agosto de 2008, por coincidência aniversário da morte do filósofo.
3 Immanuel Kant passou sua vida, trabalhou e produziu sua obra na cidade Koenigsberg, Alemanha. A segunda metade do século XVIII foi o período mais 
significativo na produção desse filósofo, que tem como obra mais conhecida A Crítica da Razão Pura. Informações disponíveis em: <www.mundodosfilosofos.
com.br/kant.htm>. Acesso em: 25 ago. 2008.
4 Georg Lukács foi um filósofo húngaro, nascido em Budapeste no dia 13 de abril de 1885 e falecido na mesma cidade em 5 de junho de 1971. Teve uma 
trajetória intelectual muito intensa, iniciando seu trabalho a partir da obra de Kant e chegando, em sua última etapa, ao marxismo. História e Consciência de 
Classe, de 1923, é o trabalho que o coloca no campo da teoria marxista, sendo um dos mais conhecidos no Brasil. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/
Georg_Luk%C3%A1cs>. Acesso em: 25 ago. 2008.
5 Georg Simmel, nascido em Berlim, viveu de 1.º de março de 1858 a 28 de setembro de 1918. Foi um dos fundadores da sociologia alemã e um pensador 
muito eclético, abordando temas como dinheiro, moda, as grandes metrópoles etc. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Georg_Simmel>. Acesso em: 
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Um segundo tipo é a ação racional determinada por valores. Neste caso, o que de-
termina o sentido da ação pensada e refletida racionalmente não é um determinado 
objetivo, mas sim um valor, que pode ser moral, político, dentre outros. Exemplificando, 
tomo o caso de um político que prefere perder uma eleição, seu objetivo, em nome das 
propostas políticas que defende. No exemplo, o que conta para a ação não é o objetivo 
racionalmente definido, ganhar a disputa, mas manter-se fiel, também racionalmente, 
a um determinado valor ou conjunto de valores.
Outro tipo é a ação afetiva que, como o próprio nome revela, é toda ação execu-
tada de maneira irracional, ou seja, afetiva. Este tipo de ação tem como determinante 
as emoções do indivíduo e não o cálculo frio e racional. No caso em que alguém deixe 
de assinar um contrato, por exemplo, por estar de mau humor, pode-se dizer que essa 
ação foi motivada pelo instinto, pela ausência da razão e pela prevalência da emoção.
Por fim, a ação tradicional tem por motivação a predominância de valores incul-
cados no indivíduo através da tradição. Com esse tipo de ação podemos compreender 
melhor como em espaços dominados pela tradição, por exemplo, as religiões, o que 
move as pessoas não é o cálculo nem o sentimento, mas um conjunto de normas pas-
sado de um indivíduo para outro através da tradição, seja ela escrita, oral ou ritual.
Weber, além de criar esses conceitos para analisar a ação dos indivíduos, também 
propõe outras formas de instrumentalizar o sociólogo para a análise e compreensão 
das ações individuais.
O tipo ideal
O conceito de tipo ideal criado por Weber articula-se ao papel dado por ele à ma-
neira como o cientista deve proceder para realizar suas análises. No positivismo de 
Durkheim, em função da utilização de modelos das ciências naturais, o pesquisador 
ocupa muitas vezes o lugar de um mero fornecedor de informações. Os dados obje-
tivos da realidade são coletados e inseridos em um questionário, por exemplo, e as 
respostas quase que aparecem automaticamente. Max Weber se opõe a essa metodo-
logia, propondo outro tipo de lugar para o sociólogo, a saber, o de realizar um intenso 
esforço mental para tirar conclusões a respeito das ações individuais. Para tanto, ele 
necessita de instrumentos lógicos de análise e o tipo ideal vem cumprir esse papel.
De forma resumida, podemos dizer que esse conceito é, antes de tudo, uma cons-
trução mental, algo parecido com um modelo que deve auxiliar na compreensão do 
fenômeno estudado, não existindo de fato na realidade, mas apenas na cabeça do pes-
quisador. Um exemplo utilizado pelo próprio Weber é a “ideia” de artesanato. A partir 
de um conjunto de observações a respeito desse fenômeno conhecido como artesa-
nato, desenha-se um modelo que apresenta os elementos mais característicos desse 
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fenômeno. Uma vez construído o modelo, pela observação do fato a partir de diferen-
tes pontos de vista, a análise torna-se mais eficiente.
Vemos, ainda, outra marca da teoria weberiana que se expressa na crítica feita por 
Weber à tentativa de Marx de explicar o capitalismo apenas pela economia. Segundo 
Weber, os fenômenos sociais têm tal complexidade que não existe apenas uma explica-
ção para eles. O papel do cientista é produzir o maior número possível de abordagens 
e somar a estas outras interpretações para compor um leque explicativo mais comple-
to. No entanto, no campo das Ciências Sociais,a compreensão definitiva é apenas uma 
motivação para a continuidade do trabalho.
TEXTO COMPLEMENTAR
Opúsculos de Filosofia Social
(COMTE, 1978)
Entendo por Física Social a ciência que tem por objeto próprio o estudo dos fenô-
menos sociais, considerados com o mesmo espírito que os fenômenos astronômicos, 
físicos, químicos e fisiológicos, isto é, como submetidos a leis naturais invariáveis, cuja 
descoberta é o objetivo especial de suas pesquisas. Propõe-se, assim, a explicar dire-
tamente, com a maior precisão possível, o grande fenômeno do desenvolvimento da 
espécie humana, considerado em todas as suas partes essenciais; isto é, a descobrir o 
encadeamento necessário de transformações sucessivas pelo qual o gênero humano, 
partindo de um estado apenas superior ao das sociedades dos grandes macacos, foi 
conduzido gradualmente ao ponto em que se encontra hoje na Europa civilizada. O 
espírito dessa ciência consiste sobretudo em ver, no estudo aprofundado do passado, 
a verdadeira explicação do presente e a manifestação geral do futuro.
Considerando sempre os fatos sociais, não como objetos de admiração ou de 
crítica, mas como objetos de observação, ocupa-se ela unicamente em estabelecer 
suas relações mútuas e apreender a influência que cada um exerce sobre o conjunto 
de desenvolvimento humano. Em suas relações com a prática, afastando das diver-
sas instituições qualquer ideia absoluta de bem ou de mal, encara-as como cons-
tantemente relativas ao estado determinado da sociedade, e com ele variáveis, ao 
mesmo tempo que as concebe como podendo se estabelecer espontaneamente 
Selecionei aqui alguns trechos de obras dos principais autores que estiveram na 
origem do surgimento da Sociologia. Começamos com Augusto Comte tratando de 
alguns temas gerais dessa ciência.
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pela única força dos antecedentes, independente de qualquer intervenção política 
direta. Reduzem-se, pois, suas pesquisas de aplicação a colocarem em evidência, 
segundo as leis naturais da civilização combinadas com a observação imediata, as 
diversas tendências próprias de cada época.
Esses resultados gerais tornam-se, por sua vez, o ponto de partida positivo dos 
trabalhos do homem de Estado, que só tem, por assim dizer, como objetivo real, 
descobrir e instituir as formas práticas correspondentes a esses dados fundamen-
tais, a fim de evitar, ou pelo menos mitigar, quanto possível, as crises mais ou menos 
graves que um movimento espontâneo determina, quando não foi previsto. Numa 
palavra, nesta, como em qualquer outra ordem de fenômenos, a ciência conduz à 
previdência, e a previdência permite regular a ação. (COMTE: sociologia, p. 53-54)
As regras do método sociológico
(DURKHEIM, 1987)
Pouco se preocuparam até hoje os sociólogos em caracterizar e definir o 
método que aplicam ao estudo dos fatos sociais. É assim que, em toda a obra de 
Spencer, o problema metodológico não ocupa nenhum lugar; pois a Introduction à 
la Science Sociale, cujo título podia dar essa ilusão, está consagrada à demonstração 
das dificuldades e da possibilidade da sociologia, e não à exposição dos processos 
de que ela se deve servir. É verdade que Stuart Mill se ocupou com a questão de 
maneira assaz longa; mas não procurou senão passar no crivo de sua dialética o que 
Comte dissera a respeito dessa ciência, sem nada acrescentar de verdadeiramente 
pessoal. Um capítulo do Cours de Philosophie Positive, eis o único, ou quase o único, 
estudo original e importante que possuímos sobre a matéria.
Esta aparente despreocupação nada tem, todavia, que nos surpreenda. Com 
efeito, os grandes sociólogos cujos nomes acabamos de lembrar não saíram das ge-
neralidades sobre a natureza das sociedades, sobre as relações entre o reino social e 
o reino biológico, sobre a marcha geral do progresso; a própria sociologia de Spen-
cer, tão desenvolvida, não tem outro objetivo senão mostrar como a lei da evolução 
Émile Durkheim, sociólogo responsável pela implantação da Sociologia como 
uma disciplina acadêmica no sistema educacional francês, apoiou-se muito sobre 
as ideias de Comte, dando a elas, contudo, um sentido mais prático. Temos, a seguir, 
alguns trechos de seu trabalho As Regras do Método Sociológico, publicado em Paris, no 
ano de 1895. Esse livro se constituiu em uma referência para a Sociologia.
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universal se aplica às sociedades. Ora, para tratar dessas questões filosóficas não 
são necessários processos especiais e complexos. Era bastante então avaliar com-
parativamente os méritos da dedução e da indução, fazendo um levantamento su-
mário dos recursos mais gerais de que dispõe a investigação sociológica. Porém, as 
precauções a tomar com a observação dos fatos, a maneira pela qual os principais 
problemas devem ser colocados, o sentido em que se deve nortear as pesquisas, as 
práticas especiais que soem lhes permitir chegar ao fim, as regras que devem presi-
dir a administração das provas permaneciam indeterminadas.
Que é Fato Social?
Antes de indagar qual o método que convém ao estudo dos fatos sociais, é 
necessário saber que fatos podem ser assim chamados.
A questão é tanto mais necessária quanto esta qualificação é utilizada sem 
muita precisão. Empregam-na correntemente para designar quase todos os fenô-
menos que se passam no interior da sociedade, por pouco que apresentem, além 
de certa generalidade, algum interesse social. Cada indivíduo bebe, dorme, come, 
raciocina e a sociedade tem todo o interesse em que estas funções se exerçam de 
modo regular. Porém, se todos esses fatos fossem sociais, a Sociologia não teria 
objeto próprio e seu domínio se confundiria com o da Biologia e da Psicologia.
Na verdade, porém, há em toda sociedade um grupo determinado de fenô-
menos com caracteres nítidos, que se distingue daqueles estudados pelas outras 
ciências da natureza.
Quando desempenho meus deveres de irmão, de esposo ou de cidadão, 
quando me desincumbo de encargos que contraí, pratico deveres que estão defini-
dos fora de mim e de meus atos, no direito e nos costumes. [...]
Estamos, pois, diante de uma ordem de fatos que apresenta caracteres muito es-
peciais: consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, 
dotadas de um poder de coerção em virtude do qual se lhe impõem. Por conseguinte, 
não poderiam se confundir com os fenômenos orgânicos, pois consistem em repre-
sentações e em ações; nem com os fenômenos psíquicos, que não existem senão na 
consciência individual e por meio dela. Constituem, pois, uma espécie nova e é a eles 
que deve ser dada e reservada a qualificação de sociais. [...] Nossa definição compre-
enderá, pois, todo o definido, se dissermos: É fato social toda maneira de agir fixa ou 
não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, que é geral na 
extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente 
das manifestações individuais que possa ter [...].
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O Manifesto do Partido Comunista
(MARX; ENGELS, 1983)
“Um espectro ronda a Europa – o espectro do comunismo. Todas as potências 
da velha Europa unem-se numa Santa Aliança para conjurá-lo: o papa e o czar, Met-
ternich e Guizot, os radicais da França e os policiais da Alemanha.
Que partido de oposição não foi acusado de comunista por seus adversários 
no poder? Que partido de oposição, por sua vez, não lançou a seus adversários de 
direita ou de esquerda a pecha de comunista?
Duas conclusões decorrem desses fatos:
o comunismo já é reconhecido como força por todas as potências da 1. 
Europa;
é tempo de os comunistas exporem, à face do mundo inteiro,seu modo de 2. 
ver, seus fins e suas tendências, opondo um manifesto do próprio partido 
à lenda do espectro do comunismo.
Com este fim, reuniram-se, em Londres, comunistas de várias nacionalidades 
e redigiram o manifesto seguinte, que será publicado em inglês, francês, alemão, 
italiano, flamengo e dinamarquês.
I – Burgueses e proletários 1
Até hoje, a história de todas as sociedades que existiram até nossos dias [...] tem 
sido a história das lutas de classes.
1 Na edição inglesa de 1888, F. Engels escreve a seguinte nota, reproduzida aqui: “Por burguesia compreende-se a classe dos capitalistas modernos, pro-
prietários dos meios de produção social, que empregam o trabalho assalariado. Por proletários compreende-se a classe dos trabalhadores assalariados 
modernos que, privados de meios de produção próprios, se veem obrigados a vender sua força de trabalho para poder existir. “
Afastar todas as pré-noções...
Karl Marx, pensador que influenciou na construção de várias áreas do conheci-
mento humano, desde a Filosofia, passando por Economia, Psicologia, Teoria Literária, 
Crítica de Arte, Ciência Política e, também, a Sociologia, é o autor que exporemos a 
seguir, com algumas passagens de um dos seus textos mais conhecidos, O Manifesto 
do Partido Comunista. Ele foi escrito por Marx e Engels entre dezembro de 1847 e janei-
ro de 1848 e publicado pela primeira vez em Londres, em fevereiro de 1848, como uma 
espécie de panfleto ou manifesto, para os operários, com uma síntese das propostas 
dos comunistas da época.
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Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação 
e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm 
vivido uma guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou 
sempre ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela des-
truição das suas classes em luta.
Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte, uma com-
pleta divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições 
sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na 
Idade Média, senhores, vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em cada uma 
dessas classes, gradações especiais.
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, 
não aboliu os antagonismos de classes. Não fez senão substituir novas classes, novas 
condições de opressão, novas formas de luta às que existiram no passado.
Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simpli-
ficado os antagonismos de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois 
vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a bur-
guesia e o proletariado.
Dos servos da Idade Média nasceram os burgueses livres das primeiras cidades; 
dessa população municipal, saíram os primeiros elementos da burguesia.
A descoberta da América, a circunavegação da África ofereceram à burguesia 
em ascensão um novo campo de ação. Os mercados da Índia e da China, a coloniza-
ção da América, o comércio colonial, o incremento dos meios de troca e, em geral, 
das mercadorias imprimiram um impulso, desconhecido até então, ao comércio, à 
indústria, à navegação, e, por conseguinte, desenvolveram rapidamente o elemento 
revolucionário da sociedade feudal em decomposição.
A antiga organização feudal da indústria, em que esta era circunscrita às corpora-
ções fechadas, já não podia satisfazer às necessidades que cresciam com a abertura de 
novos mercados. A manufatura a substituiu. A pequena burguesia industrial suplantou 
os mestres das corporações; a divisão do trabalho entre as diferentes corporações desa-
pareceu diante da divisão do trabalho dentro da própria oficina.
Todavia, os mercados ampliavam-se cada vez mais; a procura de mercadorias au-
mentava sempre. A própria manufatura tornou-se insuficiente; e então o vapor e a ma-
quinaria revolucionaram a produção industrial. A grande indústria moderna suplantou a 
manufatura; a média burguesia manufatureira cedeu lugar aos milionários da indústria, 
aos chefes de verdadeiros exércitos industriais, aos burgueses modernos. [...]
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As armas que a burguesia utilizou para abater o feudalismo voltam-se hoje contra 
a burguesia.
A burguesia, porém, não forjou somente as armas que lhe darão morte; pro-
duziu também os homens que manejarão essas armas – os operários modernos, os 
proletários.
Com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do capital, desenvolve-se também 
o proletariado, a classe dos operários modernos que só podem viver se encontrarem 
trabalho, e que só encontram trabalho na medida em que este aumenta o capital. 
Esses operários, constrangidos a vender-se diariamente, são mercadoria, artigo de 
comércio como qualquer outro; em consequência, estão sujeitos a todas as vicissi-
tudes da concorrência, a todas as flutuações do mercado.
O crescente emprego de máquinas e a divisão do trabalho, despojando o tra-
balho do operário de seu caráter autônomo, tiraram-lhe todo atrativo. O produtor 
passa a um simples apêndice da máquina e só se requer dele a operação mais sim-
ples, mais monótona, mais fácil de aprender. Desse modo o custo do operário se reduz, 
quase exclusivamente aos meios de manutenção que lhe são necessários para viver 
e perpetuar sua existência. Ora, o preço do trabalho, [...] como de toda mercadoria, é 
igual ao custo de sua produção. Portanto, à medida que aumenta o caráter enfadonho 
do trabalho, decrescem os salários. Mais ainda, a quantidade de trabalho cresce com o 
desenvolvimento do maquinismo e da divisão do trabalho, quer pelo prolongamento 
das horas de labor, quer pelo aumento do trabalho exigido em um tempo determina-
do, pela aceleração do movimento das máquinas etc.
A indústria moderna transformou a pequena oficina do antigo mestre da cor-
poração patriarcal na grande fábrica do industrial capitalista. Massas de operários, 
amontoados na fábrica, são organizados militarmente. Como soldados da indústria, 
estão sob a vigilância de uma hierarquia completa de oficiais e suboficiais. Não são 
somente escravos da classe burguesa, do Estado burguês, mas também diariamen-
te, a cada hora, escravos da máquina, do contramestre e, sobretudo, do dono da 
fábrica. E esse despotismo é tanto mais mesquinho, odioso e exasperador quanto 
maior é a franqueza com que proclama ter no lucro seu objetivo exclusivo.
Quanto menos o trabalho exige habilidade e força, isto é, quanto mais a indús-
tria moderna progride, tanto mais o trabalho dos homens é suplantado pelo das 
mulheres e crianças. As diferenças de idade e de sexo não têm mais importância 
social para a classe operária. Não há senão instrumentos de trabalho, cujo preço 
varia segundo a idade e o sexo.
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A “objetividade” do conhecimento nas Ciências Sociais
(WEBER, 1989)
Na medida em que a nossa ciência, pela regressão causal, atribui causas individu-
ais – de caráter econômico ou não – a fenômenos culturais econômicos, ela busca um 
conhecimento “histórico”. Na medida em que persegue um elemento específico dos 
fenômenos culturais – neste caso o elemento econômico – através dos mais variados 
complexos culturais, no intuito de discernir o seu significado cultural, ele busca uma 
interpretação histórica sob um ponto de vista específico. Oferece assim uma imagem 
parcial, um trabalho preliminar, para o conhecimento histórico da cultura. [...]
O domínio do trabalho científico não tem por base as conexões “objetivas” entre 
as “coisas”, mas as conexões conceituais entre os problemas. Só quandose estuda 
um novo problema com auxílio de um método novo e se descobrem verdades que 
abrem novas e importantes perspectivas é que nasce uma nova “ciência”. [...]
Atualmente, a chamada “concepção materialista da História”, segundo, por 
exemplo, o antigo sentido genial-primitivo do Manifesto Comunista, talvez apenas 
subsista nas mentes de leigos ou diletantes. Entre estes, com efeito, encontra-se 
ainda muito difundido o singular fenômeno de que a sua necessidade de explicação 
causal de um fenômeno histórico não fica satisfeita, enquanto não se demonstre 
(mesmo que só na aparência) a intervenção de causas econômicas. [...]
A “objetividade” do conhecimento no campo das ciências sociais depende 
antes do fato de o empiricamente dado estar constantemente orientado por ideias 
de valor que são as únicas a conferir-lhe valor de conhecimento, e ainda que a sig-
nificação desta objetividade apenas se compreenda a partir de tais ideias de valor, 
não se trata de converter isso em pedestal de uma prova empiricamente impossível 
da sua validade. E a crença – que todos nós alimentamos sob uma forma ou outra 
– na validade supraempírica de ideias de valor últimas e supremas, em que funda-
mentamos o sentido da nossa existência, não exclui, antes pelo contrário inclui, a 
variabilidade incessante dos pontos de vista concretos a partir dos quais a realidade 
Por último, mas não menos importante, temos trechos de um trabalho de Max 
Weber intitulado A “objetividade” do conhecimento nas Ciências Sociais, que, pelo fato 
de ser posterior aos trabalhos aqui apresentados de Durkheim e Marx, estabelece um 
diálogo com esses autores do ponto de vista metodológico. Por outro lado, esse traba-
lho também é útil para percebermos como Weber trata de maneira particular o tema 
da metodologia nas Ciências Sociais e, dentro delas, da Sociologia.
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empírica adquire significado. A realidade irracional da vida e o seu conteúdo de sig-
nificações possíveis são inesgotáveis, e também a configuração concreta das relações 
valorativas mantém-se flutuante, submetida às variações do obscuro futuro da cul-
tura humana. A luz propagada por essas ideias de valor supremas ilumina, de cada 
vez, uma parte finita e continuamente modificada do caótico curso de eventos que 
flui através do tempo.
É preciso não darmos a tudo isso uma falsa interpretação no sentido de consi-
derarmos que a autêntica tarefa das Ciências Sociais consiste numa perpétua caça 
a novos pontos de vista e construções conceituais. Pelo contrário, convém insistir 
mais do que nunca sobre o seguinte: servir o conhecimento da significação cultural 
de complexos históricos e concretos constitui o único fim último e exclusivo ao qual, 
juntamente com outros meios, está também dedicado o trabalho da construção e 
crítica de conceitos.
ATIVIDADES
Por que a Sociologia surge no século XIX?1. 
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Por que o teocentrismo foi uma barreira para o desenvolvimento das ciências?2. 
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Quais são os principais elementos constitutivos da teoria marxista?3. 
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As grandes cidades industriais 
inglesas do século XIX e a 
crítica de Friedrich Engels
Nesta aula trabalharemos com um autor significativo das ciências humanas, cha-
mado Friedrich Engels, ou simplesmente, Engels. Ele foi parceiro de Karl Marx, este sim, 
muito mais conhecido e lido do que o primeiro. Para equilibrarmos um pouco as coisas, 
vamos trabalhar com o livro de Engels A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra 
(1985), mais especificamente com o capítulo “As grandes cidades”.
Esse trabalho, no seu conjunto, lançou as bases para a elaboração de várias ideias 
que Marx e Engels desenvolverão posteriormente. Serviu, também, para aproximar 
esses militantes que identificaram um conjunto de semelhanças na sua maneira de 
pensar a realidade na qual viviam e se esforçavam para transformar.
Como o próprio título do livro diz, o texto discute a situação da classe trabalhado-
ra inglesa na primeira metade do século XIX. O autor tratou das condições de trabalho 
dos operários, dos salários, das diferentes divisões da classe, por exemplo, trabalhado-
res agrícolas, das minas, das fábricas, dentre outros. Além disso, inaugurou um conjun-
to de pesadas críticas ao capitalismo, denunciando a maneira como a burguesia orga-
nizava a exploração da classe operária, orquestrando diferentes artifícios para extrair 
o máximo do trabalho e dos ganhos dos trabalhadores. Neste último caso, cobrando 
aluguéis de espaços que não poderiam ser chamados de moradia. É, justamente, no 
capítulo tomado para esta aula que o autor trabalha com as grandes cidades industriais 
inglesas. Encontravam-se, ali, os elementos constituintes da formação das cidades e de 
suas principais características porque o capitalismo lançava suas bases e se consolidava 
naquele período e era por esse motivo que ficava mais visível o conjunto de parâmetros 
que dão os contornos para as cidades, inclusive nesses dias do século XXI.
Poderíamos pensar que se trata de saudosismo estudarmos um texto dos anos 
quarenta, do século XIX. Contudo, a atualidade desse trabalho se mostrará sem esforço 
à medida que formos apresentando e discutindo as ideias de Engels.
Sociologia U
rbana
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O contexto da época
É importante que nos situemos em relação ao período analisado por Engels. Fare-
mos um recuo de um pouco mais de 160 anos para chegarmos à Inglaterra do século 
XIX. E, lá chegando, encontramos um mundo que é ao mesmo tempo conhecido e dis-
tante. O que o torna conhecido é nossa “memória” que se constitui a partir de leituras, 
fotos, pinturas, e outras formas de construção de uma representação do capitalismo 
do século XIX.
No caso inglês, local de origem dessa forma de organização social, as grandes ci-
dades já vinham sofrendo um adensamento populacional relativamente intenso desde 
o século XVIII. A Revolução Industrial ainda produzia efeitos como um remédio que vai 
produzindo alterações em nosso corpo, mesmo depois de passado muito tempo de sua 
ingestão. Cidades como Manchester e Londres vão conhecer e expressar a maneira ca-
pitalista de construção das cidades. Centenas de milhares de pessoas saíram do campo 
rumo aos centros urbanos para trabalhar nas fábricas. Essa migração deu-se, em certa 
medida, espontaneamente, porque as cidades sempre exerceram um fascínio sobre a 
imaginação das pessoas, atraindo-as como as mariposas são atraídas pela luz das lâm-
padas. Por outro lado, na Inglaterra, houve um conjunto de pressões, leis e ações do go-
verno que expulsaram do campo uma multidão de agricultores. Isso aconteceu porque 
a base da industrialização inglesa era constituída pelas fábricas de tecidos, que precisam 
da lã para produzir a famosa casimira britânica. Houve, assim, uma ação levada adiante 
pelo governo e pelos industriais da época no sentido de expulsar os camponeses de suas 
terras, cercá-las e criar ovelhas porque era o que dava lucro naquele momento.
Para nós interessa perceber que os indivíduos que foram expulsos de suas terras 
não tinham nada a fazer, além de procurar um lugar para trabalhar nas cidades, nas 
fábricas têxteis, como mão-de-obra barata, uma vez que havia excesso de operários. 
Esse movimento desordenado marcou o perfil dos espaços urbanos. Como exemplo,encontramos em um primeiro momento dessa urbanização os trabalhadores habi-
tando bairros próximos das fábricas, que ficavam no chamado centro da cidade. Os 
donos das fábricas habitavam a periferia, lugares mais calmos, arborizados, limpos etc. 
Depois, essa realidade se alterou com o deslocamento dos bairros operários para a 
borda das cidades, junto com as fábricas, na maioria das vezes. Em função disso, temos 
a modelagem do espaço urbano com profundas alterações. Em um determinado pe-
ríodo o centro das cidades foi valorizado, em outros foi a periferia. Até hoje, vemos 
movimentos semelhantes aos descritos acima.
Vamos continuar nossa viagem através da memória e associá-la aquilo que vemos 
ao nosso redor. O que é essencial em uma cidade, pelo menos do ponto de vista ma-
terial? O que compõe, portanto, uma cidade digna desse nome? Vamos buscar as res-
postas para esta pergunta.So
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As alterações do espaço, os deslocamentos, a cultura 
Um dos primeiros aspectos que devem ser marcados quando pensamos em um 
espaço urbano é a existência de construções, espaços de moradia, de poder, de socia-
bilidade. Como é habitual dizer, a cidade é um espaço que o homem interferiu, alterou, 
modelou. Essa alteração produzida por nós atinge diferentes dimensões. Uma delas, 
além das construções, é relativa aos meios de transporte, ou seja, toda cidade precisa 
ter meios para que seus habitantes se desloquem de um lugar para outro. Desde os 
deslocamentos a pé até aqueles feitos por carroças, carros, ônibus, a cidade tem que 
prover os caminhos para os deslocamentos, através de ruas e calçadas, por exemplo. 
Ainda encontramos em muitas cidades, em pleno século XXI, a carroça utilizada como 
meio de transporte. No século XIX, os diferentes tipos de carros puxados por animais 
predominavam nas cidades para transportar pessoas e cargas. É nesse quadro que 
Engels traça suas análises.
Outro aspecto importante na conformação das cidades é o comércio que anima 
os espaços urbanos. Quando pensamos em lojas que nos oferecem para a compra uma 
infinidade de produtos, estamos diante de uma herança daquele período. Precisando 
um pouco mais essa ideia, podemos dizer que se o comércio surge muitos séculos 
antes do XIX, é nele que se intensifica de uma forma nunca antes vista. Nessas áreas ur-
banas temos uma agitação mais intensa do que naquelas destinadas à moradia. Além 
disso, como as cidades não produzem alimentos, os espaços comerciais que as abaste-
cem são locais muito importantes. Basta lembrarmos as feiras livres, os mercados e os 
armazéns para visualizarmos um pedaço daquele século.
A maneira como a cidade é construída influencia também as relações sociais entre 
os seus habitantes e a cultura que se desenvolve no meio urbano. Uma cidade com 
muitos parques e praças pode incentivar as atividades físicas e de lazer das pessoas. A 
existência de muitas casas de espetáculos, e de restaurantes, provavelmente vai inten-
sificar a sua vida noturna. Por outro lado, as universidades, os centros de pesquisa, as 
escolas intermediárias podem se constituir em atrativo como também transformar a 
cidade em produtora de conhecimento. Enfim, certas características das cidades, que 
sobrevivem à passagem do tempo, vão nos dizer muito sobre como é viver nesses es-
paços urbanos à medida que alteram o comportamento e as expectativas dos mora-
dores da cidade.
Um pouco da biografia do autor
Antes de passarmos para o texto, vamos apresentar melhor este autor. Friedrich Engels 
nasceu em 28 de novembro de 1820 em Barmen, atualmente a cidade de Wuppertal, na 
A
s grandes cidades industriais inglesas do século XIX e a crítica de Friedrich Engels
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Alemanha. Filho de um rico industrial do ramo têxtil foi enviado pelo pai para o centro 
do capitalismo naquela época, Manchester, para trabalhar com um sócio do Sr. Engels. 
Ele pretendia transformar o filho em seu sucessor no comando das empresas, como 
é de se esperar de um pai. Além disso, o jovem Engels já manifestava algumas ideias 
críticas em relação ao capitalismo nascente. Com o passar do tempo, o pai de Engels 
percebeu que seus esforços para transformar o filho em capitalista não deram certo. 
Com apenas 22 anos o herdeiro da família Engels viajou para o centro do capitalismo 
daquela época, a Inglaterra, visitando suas principais cidades. E, ao invés de aprender 
a administrar empresas ele constata como o capitalismo se desenvolvia e alterava a 
maneira dos indivíduos se relacionarem. Em relação às cidades, o candidato a revolu-
cionário observa que elas se transformavam em algo maravilhoso e assustador.
Foi nesse momento que Engels trava contato com Karl Marx, um dos principais, 
senão o principal, crítico do capitalismo. Esses dois militantes do socialismo, a partir 
desse momento vão estreitar seus laços políticos e de amizade, construindo uma obra 
significativa de crítica ao capitalismo. De fato, o pai de Engels não esperava por esses 
resultados quando envia o filho para a Inglaterra.
Sobre o texto de Engels 
Por uma série de motivos o livro de Engels A Situação da Classe Trabalhadora na 
Inglaterra constitui-se em obra fundamental. Escrito por um autor com uma capacida-
de de síntese muito apurada, ele traça o primeiro contorno da classe trabalhadora no 
capitalismo inglês do século XIX. Resultado da viagem do autor para a Inglaterra em 
1842, o livro é publicado em 1845, na cidade de Leipzig, inaugurando a crítica do capi-
talismo na vertente marxista.
A forma de escrever adotada por esse autor transforma o texto em algo fluente de 
ser lido, embora o tema central, a miséria humana, esteja distante de ser considerado 
agradável. O conteúdo do trabalho apresenta inovações que também merecem nossa 
atenção. Quais são elas? Refiro-me ao amplo uso na construção daquele livro de fontes 
estatísticas, entrevistas, depoimentos em inquéritos policiais etc. que mostram o cami-
nho dos futuros trabalhos no campo das ciências sociais. Além disso, ele visita os locais 
sob análise, o que permite um relato mais intenso e cheio de vida. Engels nos mostra 
de forma ricamente alimentada pelos dados como vivia a classe trabalhadora inglesa, 
como morava, quais os mecanismos de exploração, ou seja, ele consegue articular a 
frieza dos dados estatísticos com o dia-a-dia das pessoas.
Para nós pode parecer banal ou óbvio que fundamentemos as informações cien-
tíficas em “provas” que são oferecidas ao pesquisador através dos dados contidos, por 
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exemplo, em um censo demográfico. Nunca é demais lembrar, contudo, que na época 
da edição daquele trabalho isso era pouco usual, para dizer o mínimo. Vale frisar, ainda, 
que a Inglaterra possuía essas informações estatísticas organizadas e disponíveis, o 
que facilitava o trabalho do pesquisador.
“As grandes cidades” 
Este foi o título que o autor deu para a parte de seu trabalho que analisa as gran-
des cidades inglesas. Focarei a atenção para este capítulo do livro que é, naquilo que 
nos diz respeito, sua parte essencial. O início do texto de Engels já se mostra uma pre-
ciosidade. O autor nos transporta para a Londres de meados do século XIX. Chega a ser 
emocionante.
Uma cidade como Londres, onde podemos andar horas sem sequer chegar ao princípio do fim, sem 
descobrir o menor indício que assinale a proximidade do campo, é realmente um caso singular.
Esta enorme centralização, este amontoado de 3,5 milhões de seres humanos num único lugar, 
centuplicou o poder destes 3,5 milhões de homens. Ela elevou Londres à condição de capital comercial 
do mundo, criou docas gigantescas e reuniu milhares de navios, que cobre continuamente o Tâmisa. 
(ENGELS, 1985, p.35)
Essa metrópole de mais de três milhões de indivíduos não é uma descrição do 
século passado, mas de quase dois séculos atrás. É curioso notar como Engels identifica 
nessa concentração de pessoas uma concentração de poder. O fato de aqueles indi-
víduos viverem simultaneamente naquele lugar mobiliza um conjunto de forças que 
multiplica o poder da cidade diante das outras aglomerações humanas.
Não conheço nada mais imponente que o espetáculo oferecido pelo Tâmisa, quando subimos o rio 
desde o mar até a ponte de Londres. A massa de casas, os estaleiros navais de cada lado, sobretudo 
acima de Woolwich, os numerosos navios dispostos ao longo das duas margens, apertando-se cada 
vez mais uns contra os outros, a ponto de, por fim, deixarem somente um estreito canal no meio 
do rio, sobre o qual se cruzam, a toda a velocidade, uma centena de barcos a vapor – tudo isto é 
tão grandioso, tão enorme, que nos sentimos atordoados e ficamos estupefatos com a grandeza da 
Inglaterra antes mesmo de pôr os pés em terra. Quanto aos sacrifícios que tudo isto custou, só os 
descobrimos mais tarde. (ENGELS, 1985)
Depois de colocar os pés em terra, nosso autor descobre o preço de todo esse 
poder e essa riqueza materializada na maior cidade europeia daquele século. Inicial-
mente, Engels percebe as transformações ocorridas com os indivíduos que circulam 
pelas ruas.
Depois de pisarmos, durante alguns dias, as pedras das ruas principais, de a custo termos aberto 
passagem através da multidão, das filas sem fim de carros e carroças, depois de termos visitado os 
“bairros de má reputação” desta metrópole, só então começamos a notar que estes londrinos tiveram 
que sacrificar a melhor parte da sua condição de homens para realizar todos estes milagres da 
civilização de que a cidade é fecunda, que mil forças que neles dormiam ficaram inativas e foram 
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s grandes cidades industriais inglesas do século XIX e a crítica de Friedrich Engels
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neutralizadas para que só algumas pudessem se desenvolver mais e fossem multiplicadas pela união 
com outras. Até a própria multidão das ruas tem, por si só, qualquer de repugnante, que revolta a 
natureza humana. Estas centenas de milhar de pessoas, de todos dos estados e todas as classes, que 
se apressam e se empurram, não serão todas seres humanos possuindo as mesmas qualidades e 
capacidades e o mesmo interesse na procura da felicidade? E não deverão, enfim, procurar a felicidade 
com os mesmos métodos e processos? E, contudo, estas pessoas cruzam-se apressadas como se nada 
tivessem em comum, nada a realizar juntas, e a única convenção que existe entre elas é o acordo tácito 
pelo qual cada um ocupa a sua direita no passeio, a fim de que as duas correntes da multidão que se 
cruzam não se constituam mutuamente obstáculo; e, contudo, não vem ao espírito de ninguém a 
ideia de conceder a outro um olhar sequer. (ENGELS, 1985, p. 35-36)
O processo de desumanização referido pelo autor é identificado de maneira ine-
quívoca quando ele lança mão de uma notícia do Times, de 17 de novembro de 1843, 
para informar sobre as condições de vida de alguns operários.
Por ocasião de uma inspeção mortuária realizada pelo Sr. Carter, coroner do Surrey, no corpo de Ann 
Galway, de 45 anos de idade, em 14 de novembro de 1843, os jornais descreveram a casa da defunta 
nestes termos: habitava no n. 3, White Lion Court, Bermondsey Street, Londres, com o marido e o filho 
de 19 anos, em um pequeno quarto onde não havia nem cama, nem lençóis, nem o menor móvel. 
Jazia morta ao lado do filho sobre um monte de penas, espalhadas sobre o corpo quase nu, porque 
não havia nem cobertores nem lençóis. As penas estavam de tal maneira coladas ao seu corpo que 
o médico nem pôde observar o cadáver antes deste ter sido limpo; encontrou-o então totalmente 
descarnado e roído pelos vermes. Parte do soalho da sala estava escavado e esse buraco servia de 
sanitário à família. (ENGELS, 1985, p. 41)
Este relato, que foi publicado pelo jornal inglês, ilustra de maneira inequívoca a si-
tuação de pobreza absoluta da maioria dos operários da época. Há outra narrativa que 
podemos agregar a esta para formarmos uma imagem mais precisa e vem de outro tipo 
de fonte. Trata-se do relato de um pregador religioso em uma região de Londres domina-
da por bairros operários. O nome da paróquia do Sr. M. G. Alston é Bethnal Green.
Ela possui 1 400 casas habitadas por 2 795 famílias, ou seja, cerca de 12 000 pessoas. O espaço em que 
habita esta população não chega a 400 jardas quadradas, e num tal amontoado não é raro encontrar 
um homem, a sua mulher, quatro ou cinco filhos e também por vezes o avô e a avó num só quarto de 
10 ou 12 pés quadrados1 é minha [sic], onde trabalham, comem e dormem. Creio que antes do bispo 
de Londres ter chamado a atenção do público para esta paróquia tão miserável ela era tão pouco 
conhecida na extremidade oeste da cidade como os selvagens da Austrália ou das ilhas do Pacífico. 
E, se quisermos conhecer pessoalmente os sofrimentos destes infelizes, se os observarmos a comer a 
sua magra refeição e os virmos curvados pela doença e pelo desemprego, descobrimos uma tal soma 
de angústia e de miséria que uma nação como a nossa deveria envergonhar-se de sua existência. Fui 
pastor perto de Huddersfield durante três anos de crise, no pior momento de marasmo das fábricas, 
mas nunca vi os pobres numa miséria tão profunda como depois, em Bethnal Green. Não há um 
único pai de família em cada 10, em toda a vizinhança, que tenha outras roupas além de sua roupa de 
trabalho, e esta rota e esfarrapada; muitos só têm, à noite, como cobertas, estes farrapos e, por cama, 
um saco cheio de palha e serragem. (ENGELS, 1985, p. 41)
Diante desse quadro resta muito pouco a dizer do ponto de vista humanitário. 
Farei, contudo, um esforço para descrever como se construiu essa realidade perversa e 
alguns de seus aspectos mais visíveis. Seguirei os passos Friedrich Engels para analisar 
os eventos aqui narrados.
1 Cerca de 3 a 3,5 metros quadrados.So
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Comentários sobre o texto
Aos nossos olhos do século XXI pode parecer um tanto carregado nas tintas o 
cenário pintado pelo texto. Torna-se importante destacar que este quadro de miséria 
não é resultado de nenhum tipo de ficção ou de “efeitos especiais” para usar uma lin-
guagem atual. Trata-se de uma descrição das mais fidedignas da realidade, aquilo que 
acabamos de ler. Mas, como é possível construir tal situação?
Inicio estes comentários destacando o processo de pauperização da classe operá-
ria através do desemprego cíclico. Como funciona esse processo? Vislumbremos a cena 
na qual um número significativo de operários mantém suas contas em dia consumindo 
seu salário com isto. No século XIX eram comuns as crises do capitalismo por exces-
so de produção e queda de consumo. Produzia-se muito e vendia-se pouco, tendo 
como resultado a crise e o fechamento das fábricas. Isso produzia o desemprego e o 
endividamento dos trabalhadores que permaneciam desempregados por meses a fio. 
Comprava-se comida e mais nada. Quando o crédito acabava aqueles trabalhadores 
iniciavam seu percurso em direção à miséria absoluta. Vendiam as roupas e usavam os 
móveis como lenha. Aglomeravam-se em pequenos cubículos para gastarem menos 
com aluguel. Finalmente, chegavam às situações descritas anteriormente. Os mais 
fortes sobreviviam até o final da crise, recuperando empregos e retomando uma vida 
“normal” de operários. Os mais frágeis morriam de fome e de doenças, com uma ali-
mentando a outra.
As situações descritas constituíam a fase aguda da exploração dos trabalhadores. 
No cotidiano, uma série de mecanismos impedia a estabilização econômica da maioria 
da classe operária. O salário era constantemente rebaixado – ou mantido em níveis

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