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TCC-Tabata-13-11

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL – FURG
INSTITUTO DE LETRAS E ARTES – ILA
CURSO DE ARTES VISUAIS - LICENCIATURA
TÁBATA MATOS DOS SANTOS
O FEMININO E A EDUCAÇÃO VISUAL. POR UM IDEÁRIO ANTI-GROTESCO E ANTI-
MALIGNO NA SALA DE AULA. 
RIO GRANDE - RS
2017
TÁBATA MATOS DOS SANTOS
O FEMININO E A EDUCAÇÃO VISUAL. POR UM IDEÁRIO ANTI-GROTESCO E ANTI-
MALIGNO NA SALA DE AULA. 
Trabalho de Conclusão de Curso requisito
obrigatório para a aprovação do Curso de Artes
Visuais - Licenciatura do Instituto de Letras e
Artes da FURG. Orientado pela Profa. Dr.a
Teresa Lenzi.
RIO GRANDE-RS
2017
TÁBATA MATOS DOS SANTOS
O FEMININO E A EDUCAÇÃO VISUAL. POR UM IDEÁRIO ANTI-GROTESCO E ANTI-
MALIGNO NA SALA DE AULA. 
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado pela banca
examinadora.
Rio Grande, RS., xx de Xxxxx de 20xx.
______________________________
Prof. Dra. Teresa Lenzi
Orientador
______________________________
Prof. Esp. Marcelo Antônio Matos dos Santos
______________________________
Prof. Dra. Vivian Paulitsch
Dedico este trabalho a minha família,
especialmente aos meus filhos e ao meu marido,
que, com a ajuda de Deus, praticamente me
carregaram no colo durante essa jornada. 
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a minha família, pois sem o apoio deles não teria
chegado até o final. Ao meu marido Marcos, que entendeu as minhas frustrações, que me
incentivou a perseguir o meu sonho, e que me faz ir além. Aos meus filhos, Ezequiel e
Alex, porque é por eles que a cada dia levanto na perspectiva de dar um futuro melhor a
eles. Aos meus filhos amados que entenderam as minhas ausências, que muitas vezes
questionaram o porque delas, mas que gentilmente me deixavam sozinha com os meus
escritos e pensamentos para poder dar origem e concretização a essa pesquisa. A minha
sogra Teresinha, que muito me ajudou com o cuidado da casa e dos filhos. Ao meu irmão
Marcelo, que foi uma figura de exemplo de determinação, e que sempre esteve disposto a
me ajudar. 
Em especial a minha Mãe, Onira, ‘In memorian’, nome que é símbolo de sonho,
da mulher guerreira, que esteja onde estiver, certamente deve estar orgulhosa da filha,
pois um dos seus sonhos era me ver formada.
Um agradecimento mais que especial a minha orientadora, pois sabe-se que, nos
menores frascos encontram-se os melhores perfumes e os piores venenos. Com sua
ternura e seus puxões de orelhas nos carregou no colo, orgulho de ter sido orientada por
ti. Te carregarei eternamente no coração e levarei para vida toda teus ensinamentos.
Aos professores, um eterno obrigada, todos de uma maneira ou de outra
deixaram marcas e boas lembranças na minha jornada acadêmica. 
Aos colegas, muito obrigada, pelas parcerias de trabalhos, muitas vezes
desastrosas, mas que de qualquer forma nos ensinam a superar obstáculos.
Por fim, depois de muitos dias com bloqueio na escrita, de noites intermináveis de
escrita e reescrita, pois este é a minha primeira pesquisa, mais um ciclo se encerra pra
dar lugar a outro. 
A todos, muito obrigada!
As mulheres não falam, não devem falar dele. O
pudor que encobre os seus membros, ou lhes cerra
os lábios, é a própria marca da feminilidade.
Michelle Perrot
RESUMO
Esta monografia é resultado de uma pesquisa, feita ao longo do ano de 2017, no âmbito
do ensino da arte, e propõe discutir o ideal histórico de beleza feminino - que enfoca o
corpo feminino como objeto de desejo, maldição e bendição, e no qual imiscui-se também
o maligno e o grotesco: representações marcadas pelo exagero daquelas que podem ser
consideradas as partes mais características e ou mais sensuais do corpo feminino - e sua
propagação pela cultura visual, com a premissa de que a publicidade, atualmente, cumpre
papel fundamental neste processo. Teve como objetivo indagar sobre como o professor
de arte poderia ou deveria tratar este tema em sala de aula em uma perspectiva crítica.
Como fundamentos iniciais para a investigação, no âmbito conceitual, recorreu-se aos
estudos das autoras Giulia Crippa oferecidos em O grotesco como estratégia de
afirmação da produção pictórica feminina, que enfoca a criação pictórica crítica de artistas
sobre as representações do feminino tanto no âmbito artístico e estético, quanto sobre os
papéis desempenhados por estas socialmente; á Naomi Wolf pelas reflexões oferecidas
em O mito da beleza, que trata das amarras sociais que envolvem à estética relacionada
aos corpos. No âmbito artístico recorreu-se à obras de diversas artistas como Orlan,
Louise Bourgeois e Cindy Sherman, dentre outras. Quanto à prática educativa dialogamos
com Fernando Hernández, a partir da obra Catadores da cultura visual: transformando
fragmentos em nova narrativa educacional, especialmente pelas conexões propostas
entre a educação pela arte e o imaginário simbólico, e Ana Mae Barbosa com a
Abordagem Triangular que consiste em fazer, ver e contextualizar, e que conversa
perfeitamente com a metodologia proposta por Hernández. A reflexão discorre
especialmente sobre como esse corpo é associado a conceitos de desejo, maldição,
bendição e grotesco, que o hiperssexualizam e objetificam; e em como isto pode
conformar o imaginário coletivo e influenciar a formação identitária dos jovens, através da
história da arte e da propaganda.
Palavras-chave: Feminino. Educação. Arte. Grotesco. Malignidade. 
ABSTRACT
This monograph is the result of a research carried out during the year 2017 in the field of
art education, and proposes to discuss the historical ideal of feminine beauty - which
focuses on the female body as an object of desire, curse and blessing, and in which the
malignant and the grotesque are also involved: representations marked by the
exaggeration of those that can be considered the most characteristic and / or most sensual
parts of the female body - and its propagation through the visual culture, with the premise
that advertising currently fulfills paper fundamental in this process. He aimed to ask how
the art teacher could or should treat this subject in the classroom in a critical perspective. 
In the conceptual framework, the studies of the authors Giulia Crippa offered in The
grotesque as a strategy of affirmation of the feminine pictorial production, that focuses the
critical pictorial creation of artists on the representations of the feminine in the artistic
scope and aesthetic, and on the roles played by these socially; to Naomi Wolf for the
reflections offered in The Myth of Beauty, which deals with the social ties that involve the
aesthetics related to bodies. In the artistic scope one resorted to the works of diverse
artists like Orlan, Louise Bourgeois and Cindy Sherman, among others. Regarding the
educational practice, we spoke with Fernando Hernández, from the work Collectors of
visual culture: transforming fragments into a new educational narrative, especially for the
proposed connections between education through art and the symbolic imaginary, and Ana
Mae Barbosa with the Triangular Approach consisting of do, see and contextualize, and
that converses perfectly with the methodology proposed by Hernandez. Reflection focuses
on how this body is associated with concepts of desire, curse, blessing, and grotesque,
which hyperssexalize and objectify; and how this can shape the collective imagination and
influence the identity formation of young people through the history of art and propaganda.
Keywords: Female. Education. Art. Grotesque. Malignancy.
LISTA DE FIGURAS
Fig. 1. Arcimboldo - “Os Quatro Elementos”, 1563; Salvador Dalí - “A Tentação de Santo Antônio”,
1946 e Remedios Varo - “O Rei”, 1958...........................................................................................17
Fig. 2. Jocelyn Wildnstein; Donatella Versace e Amanda Lepore,personalidades submetidas à
cirurgias plásticas que levaram a deformação das suas fisionomias..............................................18
Fig. 3. Michelangelo - “A Expulsão do Paraíso”, Capela Sistina, 1475 – 1546...............................20
Fig. 4. Sarah Baartman..................................................................................................................21
Fig.5. Mulher Melancia; Mulher Melão, Mulher Fitness..................................................................22
Fig. 6. Pedro Weingartner - ‘’Chez la Faiseuse D’Anges (1908).....................................................29
Fig. 7. The Dinner Party, Judy Chicago; Sem título, Cindy Sherman e A destruição do pai. Louise
Bourgeois.......................................................................................................................................34
Fig. 8. Delacroix - ‘‘A liberdade guiando o povo’’ (1830).................................................................39
Fig. 9. Anúncio publicitário da cervejaria “Devassa”; Anúncio publicitário da revendedora de motos
“Blumare Motors” e Anúncio publicitário da cervejaria “Devassa”...................................................44
Fig. 10. Campanha publicitária de uma marca de calçados. Campanha publicitária de uma marca
de acessórios exclusivos. Registro do encontro de pessoas ligadas à cultura underground.
Propaganda de acessórios inspirada no movimento da contra-cultura...........................................48
Fig. 11. Gravura de Théodore de Bry, Tupinambás em ritual de antropofagia, 1592. Debret
“Calceteiros” de 1824. Adriana Varejão “Língua com padrão sinuoso”...........................................56
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................11
1. PREÂMBULOS. EXPERIÊNCIAS VIVIDAS QUE DERAM ORIGEM A PESQUISA
.....................................................................................................................................13
2. O FEMININO E O GROTESCO. REFLEXÕES EM TORNO DE CONCEITOS
BASILARES E CONTEXTO HISTÓRICO...................................................................16
2. 1. Feminino..........................................................................................................24
2. 2. Maternidade, aborto e infanticídio...................................................................26
2. 3. Mulheres artistas.............................................................................................28
3. ARTE-EDUCAÇÃO. UM CONTEXTO.....................................................................36
3. 1. Educação feminina no Brasil..........................................................................38
4. PUBLICIDADE, PROPAGANDA E A SUA INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO.............41
4. 1. O feminino e a publicidade..............................................................................46
5. Publicidade, educação, cultura visual e grotesco. Uma proposta pedagógica......55
CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………………....59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................62
11
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa, de caráter obrigatório para a obtenção do grau de
licenciada em Artes Visuais. A referida pesquisa que aqui se apresenta, tem como
tema gerador, e consequente delimitação do mesmo, questões que tangem o
universo feminino e de como esse corpo é associado à malignidade e ao grotesco
que o hiperssexualiza e objetifica, e que por consequência conforma assim o
imaginário coletivo. 
O grotesco tem origem no italiano grottesco, derivado de grotta, cujo
significado é gruta. Este termo, aqui, é usado no sentido das modificações corporais
e como associação à genitália feminina, como também a questões de maternidade e
sexualidade, bem como aos efeitos que a cirurgia plástica exerce sobre esses
corpos transformando-os em possíveis cyborgs, devido ao fato de que já foram
transpostas as barreiras entre o puramente natural e o modificado.
Vivemos, na contemporaneidade, um mundo cheio de apelos visuais, com
um verdadeiro bombardeio imagético que só reforça hábitos e estereótipos em
relação ao corpo feminino e às questões atreladas a ele. Com as descobertas
científicas mais recentes da medicina, como por exemplo, os estudos sobre a célula-
mãe1 que permitem a partir dela reproduzir tecidos corporais, dentre outras
descobertas, portanto o corpo é tomado como objeto ou "coisa" e é desumanizado,
consequentemente manipulado. Por outro lado, a publicidade, juntamente ao
sistema capitalista da sociedade de consumo, que teve como gatilho a revolução
industrial, nesse sentido, toma-se posse desse corpo objeto e o associa ao produto,
aproximando o desejo de consumo deste produto, combinado ao desejo de consumo
desse corpo objetificado. 
Na maioria esmagadora das vezes em que as mulheres protagonizam uma
peça publicitária, ainda hoje, elas são expostas como um mero acessório, uma
conquista a ser alcançada. Existem propagandas que trabalham com a inversão de
papéis, porém sem se preocuparem em quebrar esses estereótipos, haja vista que,
1.Todo organismo pluricelular é composto por diferentes tipos de células, derivadas de célu-
las precursoras, denominadas células-tronco (stem cells), ou células-mãe, cujo processo de
diferenciação que gera as células especializadas — da pele, dos ossos e cartilagens, do
sangue, dos músculos, do sistema nervoso e dos outros órgãos e tecidos humanos — é re-
gulado, em cada caso, pela expressão de genes específicos. 
12
no momento em que um homem representa um papel dito feminino, normalmente é
em uma situação cômica, ou de lazer, assim, reforçando ainda mais a ideia de que o
papel do homem não é aquele, mas sim da mulher. Existem também propagandas
que se preocupam em quebrar essa regra, porém a regra do corpo, do estereótipo
empregado ao estético, que por assim dizer conforma o ideário imagético coletivo
acerca do que é o feminino, é negado pela publicidade. É lógico que a publicidade
não se faz sozinha, ela é fruto da sociedade de consumo, das demandas dessa
sociedade, portanto acredita-se que uma reeducação visual se faz necessária para
que possamos então reconfigurarmos o imaginário coletivo. 
O trabalho baseou-se também, além de investigações de referenciais
teóricos e audiovisuais arrolados durante a pesquisa, em informações de campo sob
a forma de discussões em sala de aula nas quais se discutirá sobre as
representações do feminino e dos estereótipos que se consolidam e são propagados
no cenário atual através das mídias em aulas ministradas sob minha
responsabilidade no PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência) na Escola estadual de Ensino Médio Silva Gama em uma turma de 8° ano
do Ensino Fundamental e o estágio obrigatório na escola; Centro de Educação
Santa Medianeira – Cesam com duas turmas de oitavo ano do Ensino Fundamental,
situada na cidade de Rio Grande – RS.
Por se tratar de uma pesquisa no campo da educação e acreditando que as
artes visuais têm um papel importante na educação, é que a pesquisa se faz valer
para saber o quão nociva é a reprodução desses simulacros na formação dos
educandos.
13
1. PREÂMBULOS. EXPERIÊNCIAS VIVIDAS QUE DERAM ORIGEM A PESQUISA
A presente pesquisa é fruto de vivências, tanto da esfera privada quanto da
esfera pública, experiências que esta acadêmica enquanto mulher, considera de
fundamental importância explicitá-las, para que se possa fazer entender a proposta
da presente pesquisa.
Sobre a esfera privada, esta acadêmica, que tem o corpo fora dos padrões
de beleza aceitáveis socialmente, com o passar dos anos começou a questionar-se
sobre a propagação do ideal de beleza atravésdas mídias, palavra esta, que de
acordo com Júlio Ribeiro palavra mídia tem origem etimológica advinda do latim
medium que significa meio. Os brasileiros a adequaram a sua grafia ao português e
obtivemos mídia (1985, p. 177), o que significa então que, não somente as
propagandas têm a total responsabilidade pela disseminação de valores e
estereótipos associados ao feminino, mas a sociedade como um todo, todos os
espaços e dispositivos propagadores são mediadores de e para algo, portanto, o
espaço escolar não é de forma alguma um espaço neutro, mas também um meio. 
Com relação a esfera pública, obteve-se a oportunidade de fazer parte do
PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência) de 2015 até o
presente ano de 2017, programa este, que possibilita um primeiro contato com a
escola na posição (supervisionada) de docente. Esta experiência foi o marco inicial
para pensar as questões da propagação dos estereótipos do universo feminino por
meio da escola. O primeiro contato em sala de aula como docente, foi em uma
escola situada em um bairro da cidade de Rio Grande que tem elevados índices de
criminalidade. Pode-se a partir daí, fazer constatações empíricas do processo de
escolarização, e de formação dos jovens em um contexto periférico. Estes jovens,
muitos deles, vem de lares em que a mãe não tem grandes aspirações na vida, e
que, em sua grande maioria, são donas de casa, e o homem é o provedor do lar. 
No ano de 2016, teve-se ainda a oportunidade de trabalhar em uma escola
em um bairro afastado do centro urbano da cidade — e de qualquer outro bairro -
localizado no distrito industrial da cidade, composto, na maioria, por pescadores e
suas famílias. Esse bairro também não conta com escola de ensino médio, mas
conta com EJA (Educação de Jovens e Adultos) no período da noite. Diante de tal
realidade, observou-se, basicamente nas meninas que — algumas delas estavam
14
prestes a se casar — quase nenhuma esboçava sequer a vontade de cursar o
ensino médio, quem dirá uma universidade. 
O ano de 2017, foi agraciado com diversas oportunidades de
reconhecimento de diversas realidades. Através do PIBID, oportunizou-se a
docência em uma escola que situa-se no bairro situado na praia da cidade, e esta
escola possuí ensino médio e EJA, e também nessa não viu-se os jovens, em geral,
terem ambições em seguir adiante. Uma palavra que ouço das meninas, com
frequência, na escola, é: casamento. Mas não no sentido de constituição de família,
ou casar por amor, por exemplo. O casamento, hoje, para muitas jovens, não é mais
aquele casamento romantizado com o príncipe encantado, mas é o casar com
alguém que seja rico e possa fornecer a elas tudo o que a mídia oferece, tornando-
as submissas. 
Ainda este ano, concluiu-se o estágio obrigatório, um no ensino formal e o
outro no ensino não-formal. 
No ensino formal, teve-se a chance de estar a frente de duas turmas de uma
escola particular. Pode-se constatar concretamente, na instituição, a distinção entre
meninos e meninas, e apesar de todos terem a mesma base curricular, eles são
estimulados a agir de maneira diferente, o que foi chocante: poder ver de perto como
a escola funciona como propagadora de estereótipos.
No ensino não-formal, o estágio aconteceu em modalidade de oficina, dentro
da universidade para os colegas de curso. O intuito da oficina foi o de proporcionar
uma troca de experiências entre licenciandos de Artes Visuais e de como podemos
aplicar - práticas aprendidas na universidade – no contexto efetivo da sala de aula.
O que pode ser constado durante os encontros da oficina, infelizmente, foi a falta de
sensibilidade dos futuros licenciandos em relação às suas futuras práticas. Nestes
encontros foram proporcionadas conversas sobre a sala de aula culminando em
fazeres artísticos, e, no decorrer das oficinas, surgiram frases como: “Isso dá muito
trabalho”. 
As aulas de artes, deveriam servir para estimular a sensibilidade, a
criatividade e a criticidade dos indivíduos, mas o que constata-se em sala de aula,
são encontros carregados de fazeres artísticos que resultam em trabalhos
maravilhosos, mas que não estimulam o estudante a pensar, e que descartam a
cultura visual, o entorno escolar e o meio social ao qual este estudante está inserido.
15
Situações que interferem diretamente na constituição da visão de mundo dos
mesmos.
Ao longo da pesquisa, deparamo-nos com a deficiência de estudos nesta
área. Inúmeros são os estudos, trabalhos acadêmicos, etc, sobre a propagação dos
estereótipos sobre o corpo feminino, mas quase nenhum, se preocupa com a
disseminação destes valores através da escola, visto que a escola é parte
constituinte da vida dos jovens. Acreditamos assim, que as aulas de artes deva ser
um espaço utilizado para a proporcionar ao estudante, um momento de reflexão e
desvelamento das armadilhas que os cercam.
16
2. O FEMININO E O GROTESCO. REFLEXÕES EM TORNO DE CONCEITOS
BASILARES E CONTEXTO HISTÓRICO.
No presente trabalho, tratamos a categoria do grotesco em sua relação com
o maligno, e nesse tópico dedicaremos atenção ao feminismo e ao grotesco a partir
de alguns entendimentos basilares e de algumas contingências históricas.
Em decorrência de experiências vividas em sala de aula, acreditando que a
provocação de uma reflexão acerca do corpo feminino, e do grotesco relacionado a
ele, se faz necessária, pois as mulheres vivenciam experiências diversas no que diz
respeito a esse aspecto, em todos os campos de suas vidas. 
O feminino ao longo da história da arte vem sendo representado de maneiras
distintas, mas, independentemente das diferenças de representação,
predominantemente enfoca a mulher como objeto de desejo, maldição e bendição.
Já o grotesco se associado ao seu significado original, pode, por analogia, ser
relacionado à genitália feminina, ao interior de uma gruta cavernosa, por outro lado
remete também à Gaia/fertilidade, revelando uma dicotomia. Com o passar do
tempo o termo grotesco associou-se à ideia de malignidade.
O grotesco como categoria estética remete ao riso, ao cômico, e possuí como
elementos de composição a fantasia, sendo considerado de ordem onírica. Foi
utilizado como estratégia de pintura pelos surrealistas como Dalí2 e outros.
Arcimboldo3, por exemplo, usa frutas e legumes dispostos de maneira que
juntos formem uma figura (um rosto por exemplo) (Fig. 1), de maneira a compor uma
imagem grotesca humanoide. Esta técnica visa mesclar diferentes partes de
diversos objetos, ou o aumento exagerado de partes do corpo.
2.Salvador Dalí i Domènech (Figueres, 11 de maio de 1904 — Figueres, 23 de janeiro de
1989) pintor catalão surrealista.
3.Giuseppe Arcimboldo (Milão, 1527 — 11 de julho de 1593) pintor italiano que se utiliza da
categoria estática do grotesco para realizar as suas obras.
17
Fig. 1. Arcimboldo - “Os Quatro Elementos”, 1563; Salvador Dalí - “A Tentação de Santo
Antônio”, 1946 e Remedios Varo - “O Rei”, 1958.
Fonte: Arcimboldo, disponível em: http://virusdaarte.net/giuseppe-arcimboldo-quatro-
estacoes-quatro-elementos/; Salvador Dalí, disponível em:
http://noticias.universia.com.br/tempo-livre/noticia/2012/12/12/988398/conheca-tentaco-
santo-antonio-salvador-dali.html# e Remedios Varos, disponível em:
http://pt.wahooart.com/@@/8LT63E-Remedios-Varo-o-rei. Acesso em: 30/09/2017.
 No caso de Arcimboldo e Dalí, eles utilizam o grotesco como uma figura de
linguagem estética correspondente ao tempo histórico de cada artista. No caso de
Arcimboldo, pintor maneirista, esta linguagem é utilizada como contraponto ao belo.
Por outro lado Dalí, artista surrealista, faz uso da linguagem do grotesco como forma
de representação onírica, ou seja, uma distorção da realidade que opunha-se ao
clássico do belo, assim como diz Umberto Eco em“História da Beleza”.
Várias teorias, da Antiguidade à Idade Média, veem o feio como uma
antítese do belo, uma desarmonia que viola as regras daquela
proporção sobre a qual se fundamenta a Beleza, tanto física quanto
moral, ou uma falta de retira de um ser aquilo que, por natureza,
deveria ter.” (2004, apud CAMPOS, 2007, p. 12)
Porém, nesta pesquisa, nos valeremos do grotesco e do grotesco associado
a malignidade, além de um meio encontrado por artistas de fazerem suas críticas
aos padrões estéticos impostos à feminilidade, e de como estes padrões causam
distúrbios psicológicos e corpóreos, trazendo consequências, muitas vezes
irreparáveis através das cirurgias plásticas (Fig. 2), e de como os padrões
influenciam no desenvolvimento crítico do estudante.
http://pt.wahooart.com/@@/8LT63E-Remedios-Varo-o-rei
http://noticias.universia.com.br/tempo-livre/noticia/2012/12/12/988398/conheca-tentaco-santo-antonio-salvador-dali.html
http://noticias.universia.com.br/tempo-livre/noticia/2012/12/12/988398/conheca-tentaco-santo-antonio-salvador-dali.html
http://virusdaarte.net/giuseppe-arcimboldo-quatro-estacoes-quatro-elementos/
http://virusdaarte.net/giuseppe-arcimboldo-quatro-estacoes-quatro-elementos/
http://virusdaarte.net/giuseppe-arcimboldo-quatro-estacoes-quatro-elementos/
18
Na antiguidade a esta palavra era atribuído outro significado: no
século XVI, grotesco indicava, nas artes plásticas, o uso de figuras
inspiradas nas decorações da Domus Aurea, de Nero, em Roma, na
qual os artistas da época entravam em cestas pendurados no alto e,
através da iluminação de tochas, copiavam partes das imagens
presentes (CRIPPA, 2003, p. 112).
Fig. 2. Jocelyn Wildnstein; Donatella Versace e Amanda Lepore, personalidades submetidas
à cirurgias plásticas que levaram a deformação das suas fisionomias. 
Fonte: http://www.naosalvo.com.br/top-10-galeria-de-horrores-de-celebridades-
vitimas-de-cirurgias-plasticas-desastrosas/. Acesso em: 30/09/2017
As mulheres, no contexto histórico de sociedades predominantemente de
base masculina e patriarcal, desde sempre são associadas como a causa das
mazelas da sociedade – por serem o sexo frágil, menos incapaz intelectualmente - e
por isso, facilmente relacionadas ao grotesco e ao cômico.
Antigamente o grotesco era associado ao riso, ao cômico, e também
comumente associado ao abjeto, e nessa conjuntura um dos temas centrais tem
sido as mulheres. Artistas como Tarsila do Amaral4, a pintora cubista Tamara de
Lempicka5 - que apesar de pintar as formas impostas pela sociedade da época,
encontram uma maneira de burlar e questionar esses padrões com um
arredondamento forçado das formas —, Frida Kahlo, e subsequentemente Louise
Bourgeois, se valem do grotesco como uma forma de afirmação de suas linguagens
artísticas para fazerem críticas aos papéis desempenhados e “sofridos” pelas
mulheres na sociedade. 
Algumas artistas se apropriam da categoria estética do grotesco para a
produção de suas obras, usam como uma forma de manifestar as suas inquietações.
4.Tarsila do Amaral (Capivari, 1 de setembro de 1886 - São Paulo, 17 de janeiro de 1973)
pintora brasileira que deu origem ao movimento antropofágico.
5.Tamara de Lempicka (Varsóvia, 16 de maio de 1898 - Cuernavaca, 18 de março de 1980) 
http://www.naosalvo.com.br/top-10-galeria-de-horrores-de-celebridades-vitimas-de-cirurgias-plasticas-desastrosas/
http://www.naosalvo.com.br/top-10-galeria-de-horrores-de-celebridades-vitimas-de-cirurgias-plasticas-desastrosas/
19
Giulia Crippa em “O Grotesco como estratégia de afirmação da produção pictórica
feminina” diz que estas artistas além da necessidade de confrontar os padrões
estéticos e trazer à luz suas inquietações, encontram nessa categoria uma forma de
fazer analogias, Crippa cita — dentre outras artistas — a norte-americana,
considerada a precursora do modernismo nos Estados Unidos, a pintora Georgia
O'Keeffe6. O'Keeffe faz representações de flores que usualmente são associadas à
genitália feminina, visto que nessa época a medicina, dominada agora por homens,
interferem diretamente na vida das mulheres, portanto a categoria do grotesco é
comumente utilizada por se tratar de modalidade de representação onde o seu
sentido pode ser retirado da realidade e mutável, uma obra de características
oníricas e como uma estratégia de incindir um olhar feminino sobre o feminino.
A categoria estética do grotesco se caracteriza pela presença de
elementos estranhos, fantásticos e irreais, combinados
frequentemente na constituição de aspectos aparentemente
inerentes à realidade, porém revelando um afastamento dela, fato
que aparenta a categoria com o cômico.” (CRIPPA, 2003, p.112).
Se fizermos uma revisão histórica constataremos que a estética do grotesco
relacionada a malignidade já está presente desde a antiguidade. O mito cristão da
criação evoca Eva como sendo a causa da danação da humanidade, a ela como
castigo, e a ela (Fig. 3) lhe foi dada a dor do parto. Lilith, na mitologia judaica, por
sua desobediência, deixou o paraíso para viver junto aos demônios, reencarnando
como a serpente que viria a enganar Eva, que por sua vez corromperia Adão,
fazendo com que os dois fossem expulsos do paraíso, e provocando a ira de Deus,
sobre a humanidade. Aqui citam-se estes exemplos, que se localizam na escritura
sagrada, por serem eles emblemáticos quanto a papéis sociais atribuídos às
mulheres na mitologia bíblica no que diz respeito à sociedade, visto que, a igreja -
uma instituição propagadora e mantenedora de mitologias - também foi basilar no
quesito das questões femininas, da manutenção de suas amarras, e na conformação
do imaginário coletivo. A relação entre o feminino e o monstruoso, em vários
âmbitos, se faz presente em todas as mitologias – e estas constituem a matriz de
toda a vida humana – e segundo elas, de maneira predominante, isto é engendrado
6.Georgia Totto O'Keeffe (Sun Prairie, 15 de novembro de 1887 – Santa Fé, 6 de março de
1986), pintora norte-americana, considerada a precursora do modernismo dos Estados Uni-
dos.
20
dentro da gruta obscura do útero feminino onde os perfis ideais transformam-se em
grotescos.
Fig. 3. Michelangelo - “A Expulsão do Paraíso”, Capela Sistina, 1475 – 1546.
Fonte: http://deniseludwig.blogspot.com.br/2013/09/arte-em-pinturas-de-adao-e-eva-o-
jardim. Acesso em: 30/09/2017.
A literatura também exerceu grande influência sobre a propagação de ideais
sobre a aparência feminina. Helena de Tróia, considerada a mulher mais bela do
mundo e desejada por muitos homens é um exemplo de como a beleza pode ser
socialmente forjada. Eis aqui a grande problemática que gira em torno da beleza
feminina e de propagandas e utilitários “pensados para as mulheres”: estas coisas
todas sempre são produzidos para as mulheres usarem e obterem a aprovação
masculina, visto que a mulher durante muito tempo e com reflexos na
contemporaneidade foi objeto de figuração, um utilitário masculino, um troféu a ser
conquistado. Como bem sabemos hoje, obtivemos diversos avanços em relação a
liberdade da mulher e o reconhecimento quanto ao seu papel fundamental na
engrenagem que move a sociedade, porém, depois da libertação das amarras da
igreja, a indústria da moda, farmacêutica e a publicidade, criaram novas armadilhas
que sequestram silenciosamente e de forma subliminar esta liberdade.
A indústria dos cosméticos que promete a eterna juventude, na atualidade
controlada também por homens, se transforma novamente em uma ferramenta que
inibe e amarra a naturalidade dos corpos, e dessa maneira o setor masculino com
http://deniseludwig.blogspot.com.br/2013/09/arte-em-pinturas-de-adao-e-eva-o-jardim
http://deniseludwig.blogspot.com.br/2013/09/arte-em-pinturas-de-adao-e-eva-o-jardim
21
suas descobertas continuaa ditar o que é certo ou errado em relação ao corpo e ao
universo feminino.
Mas afinal, que liberdade é essa se não uma liberdade vigiada, onde os
homens disseram e seguem dizendo: tudo bem vocês são livres, assim como uma
carta de alforria para a liberdade, porém uma liberdade condicionada. Portanto
acredita-se que em relação a algumas conquistas femininas, principalmente
relacionadas a sexualidade, não obteve-se um grande avanço pois, continuamos a
ter nossos corpos objetificados e usados para o entretimento e descarte quando não
sejam mais jovem.
A primeira mulher, que se tem notícia, no contexto da história ocidental
moderna, a ter seu corpo usado como entretimento foi Sarah Baartman7 (Fig. 4).
Levada de sua terra natal para Europa com a esperança de uma vida melhor,
Baartman foi vítima de abusos psicológicos e físicos. Enganada, não recebeu o
prometido e foi exposta aos mais variados públicos em razão das suas formas fora
de padrão (grotescas), em circos, vestindo roupas apertadas da cor de sua pele para
que aparentasse estar nua. Foi também contratada para entreter festas particulares,
e nestas ela podia ser tocada, cutucada e dissecada pelos olhos que a observavam.
Fig. 4. Sarah Baartman.
Fonte: http://www.bbc.com/news/magazine-35240987. Acesso em: 28/10/2017.
7.Sarah Baartman, ou Sarah "Saartjie" Baartman, nasceu em 1789, e morreu em 29 de de-
zembro de 1815. O show a partir de seu corpo, entretanto, sob uma perspectiva ainda mais
macabra, continuou. Seu cérebro, esqueleto e órgãos sexuais continuaram sendo exibidos
em um museu de Paris até 1974. Seus restos mortais só retornaram à África em 2002.
http://www.bbc.com/news/magazine-35240987
22
Na atualidade muitas mulheres utilizam seus corpos para entretenimento,
modificando-os e/ou aumentando exageradamente partes dele. São as comumente
chamadas mulheres frutas8, e as mais recentes mulheres “fitness”9, a partir destas
denominações podemos fazer uma analogia com os quadros de Arcimboldo, citado
anteriormente. Dentre as mulheres frutas estão: a Mulher Moranguinho, a Mulher
Melão, a Mulher Melancia (Fig. 5), dentre outras, que se utilizam destas
denominações para fazer alusão as partes mais avantajadas.
Fig.5. Mulher Melancia; Mulher Melão, Mulher Fitness.
Fonte: Disponível em: Mulher Melancia, http://diversao.r7.com/tv-e-
entretenimento/fotos/veja-11-fotos-provam-que-mulher-melancia-e-a-fruta-mais-desejada-
das-redes-sociais-10072017#!/foto/1. Mulher Melão,
http://www.primeirahora.com.br/noticia/13097/mulher-melao-comemora-o-lingerieday-na-
piscina-e-instig. Mulher Fitness, http://netizando.wordpress.com/2010/05/18/mulheres-
musculosas-vai-encarar-em/. Acesso em: 30/09/2017.
É consenso entre as mulheres que vivemos diversas vidas em uma só,
somos: profissionais, do lar, mãe, esposas, amigas, filhas, irmãs, seres sociais.
Vivemos estas inúmeras situações convencionadas pela religião social, que
aprisiona a nossa liberdade. Estas convenções sociais estipulam regras ao corpo
feminino. Diz Virgínia Wolf em “O Mito da Beleza”, que a mulher vive “(...) imersa em
conceitos de beleza, ela é um escuro filão de ódio a nós mesmas, obsessões com o
físico, pânico de envelhecer e pavor de perder o controle (...)”, e que vivemos uma
“(...) violenta reação contra o feminismo” (1992, pg. 12).
8.Estas denominações vem da cultura popular do funk no Brasil.
9.Fitness é um atermo em inglês que conota uma boa forma física.
http://netizando.wordpress.com/2010/05/18/mulheres-musculosas-vai-encarar-em/
http://netizando.wordpress.com/2010/05/18/mulheres-musculosas-vai-encarar-em/
http://www.primeirahora.com.br/noticia/13097/mulher-melao-comemora-o-lingerieday-na-piscina-e-instig
http://www.primeirahora.com.br/noticia/13097/mulher-melao-comemora-o-lingerieday-na-piscina-e-instig
http://diversao.r7.com/tv-e-entretenimento/fotos/veja-11-fotos-provam-que-mulher-melancia-e-a-fruta-mais-desejada-das-redes-sociais-10072017#!/foto/1
http://diversao.r7.com/tv-e-entretenimento/fotos/veja-11-fotos-provam-que-mulher-melancia-e-a-fruta-mais-desejada-das-redes-sociais-10072017#!/foto/1
http://diversao.r7.com/tv-e-entretenimento/fotos/veja-11-fotos-provam-que-mulher-melancia-e-a-fruta-mais-desejada-das-redes-sociais-10072017#!/foto/1
23
Antes tínhamos as mulheres do campo, que mesmo sendo subjugadas aos
homens, tinham seu trabalho reconhecido como de fundamental importância para o
funcionamento da casa e da família. Depois, com o capitalismo, passamos a ter a
mulher burguesa, que com suas questões pessoais, suas depressões romantizadas,
trazem à luz outro tipo de estética corporal: se antes tínhamos a mulher mais
robusta, que era sinônimo de saúde e de fertilidade, no período romântico, temos a
mulher, mais esguia, pois a robusta já não se encaixa no padrão dessa mulher
delicada, do sexo frágil, visto que a robustez representa no imaginário social o ócio,
e não sendo isso servil para o trabalho.
Com o passar do tempo, muitos avanços sucederam-se na medicina, e
inúmeras são as mulheres que recorrem a procedimentos estéticos em busca da
aparência perfeita e a eterna juventude, e que por fim, deformam seus corpos a fim
de alcançar uma beleza criada virtualmente através de programas de computadores.
 As cirurgias plásticas estão a serviço dessa beleza que envenena o corpo da
mulher, tornando-o muitas vezes grotesco: um outro grotesco. Diferentes tempos
históricos usam diferentes artifícios para conter o corpo e as aspirações femininas e
o nosso momento atual não deixa nada a desejar nesse sentido. Dietas milagrosas,
que prometem deixar o corpo “fitness”, termo este que nada mais é que uma
expressão em inglês que visa homogeneizar e impor um padrão estético. Este último
padrão contemporâneo interfere diretamente na questão da maternidade – assunto
este, que será discutido em um outro tópico – período no qual o corpo feminino
passa por diversas mudanças ao longo da gestação e que impõe a esta mulher que
seu corpo volte rapidamente a forma física esteticamente aceita pela sociedade, pois
o corpo materno não atende aos desejos de uma sociedade patriarcal que objetifica
e manipula o corpo e o psicológico feminino, sob a pena de a mulher ser
considerada desleixada.
Mas então, como resolver este paradoxo social que continua a afirmar que a
mulher somente torna-se completa quando mãe mas renega seu corpo de forma
maternais? Ou ainda, que não aceita aquela que não quer tornar-se mãe, e que não
respeita o padrão biológico de cada indivíduo e nem suas escolhas pessoais?
Por acreditar que a educação ainda pode exercer uma grande influência
sócio-cultural, e para que as mulheres que exercem a profissão de educadoras, e
outras profissões, sejam dignamente respeitadas, é que consideramos e propomos
24
que estas e outras questões devem ser discutidas em sala de aula.
2. 1. Feminino
Afinal, o que é ser feminina, senão uma conjuntura de fatores, carregadas de
valores sociais estereotipados pelo imaginário masculino. Desde muito tempo, ou
quem sabe poderia se dizer, desde sempre, as mulheres vem sendo tolhidas de
exercer a sua própria feminilidade: elas são estimuladas e condicionadas a
reproduzirem padrões exógenos.
Capas de revista, anúncios publicitários, a sociedade, a família e a escola,
ditam regras em uma cartilha continuamente atualizada e a ser seguida por todas as
mulheres. Mesmo as mais arrojadas e a frente do seu tempo, vez ou outra, acabam
sucumbindo aos clichês da feminilidade. 
Diversos mitos têm associado o corpo da mulher às mazelas da
humanidade, nesse sentido o mito cristão da criação do homem é emblemático, pois
a igreja era e ainda é uma grande instituição mantenedora dos estereótipos, visto
que, além de toda imageire e mitologia de virgens que propaga, de acordo com
Michelle Perrot (2007, p. 42), as igrejas soavampor menos tempo os sinos tanto no
nascimento quanto na morte de uma mulher, por isso a autora diz que “o som é
sexuado”. Estupros, subjugação, a medicina, diversos fatores contribuem para que
as mulheres de uma maneira ou de outra, sigam obedientes a algum tipo de regra
maior e externa a elas mesmas.
Com a revolução industrial a vida das mulheres foi transformada. O período
entre guerras foi o mais devastador, pois seus maridos, filhos, amantes, todos, foram
para a guerra, ficando essas mulheres abandonadas a própria sorte, e sendo elas o
único sustento da família. Nesse período, o aborto e o infanticídio foram muito
comuns, visto que as mulheres estando sozinhas, muitas, tiveram relacionamentos
extraconjugais e outras foram vítimas de estupro, resultando disso filhos que não
poderiam ser mantidos.
A “mística10” histórica formulada sobre o feminino determinou durante longos
10.A mística feminina, foi um termo utilizado por Betty Fredan para designar as questões so-
bre as mulheres.
25
períodos como a mulher deveria ser. Apesar de todas as lutas, progressos do
feminismo, esta mística transfigurou-se em outras místicas, como por exemplo: o
mito da beleza, pois além de todas as tarefas atribuídas as mulheres, o cuidado com
a aparência torna-se mais uma outra tarefa a ser cumprida.
Segundo Perrot, (2007, p. 13) o corpo feminino é um corpo de se cala, que
esconde as marcas, e ainda conforme ela, “As mulheres não falam, não devem falar
dele. O pudor que encobre seus membros ou lhes cerra os lábios é a própria marca
da feminilidade”. As marcas de um corpo que é usado como moeda de troca, que
desdobra-se para atender a diferentes situações, um corpo que fica a mercê da
sociedade, pois este há de sustentar a virilidade e a fortuna do marido. 
As mulheres vivem por mais tempo hoje, mas nem sempre foi assim, a
maternidade e os abortos, ambos, praticados pelas parteiras, levaram muitas
mulheres a morte. Ainda existem países com a Índia e a China, em que as mulheres
ainda praticam aborto, ou infanticídio, até obter o tão desejado menino. 
Meninas, usualmente saem da escola mais cedo, mesmo nos dias de hoje,
especialmente nas famílias de baixa renda, pois estas, fazem o papel da mãe, fazem
todo o tipo de trabalho da casa e ajudam a cuidar dos irmão mais novos, estas
jovens estão sendo preparadas para o casamento, que será escolhido a dedo pela
família e não pela jovem.
Segundo Christine Delphy no texto O contrato matrimonial é um contrato de
trabalho (2015, p. 314) - escrito sob uma ótica marxista - o casamento é como um
contrato de serviço que reforça e mantém estereótipos femininos. De acordo com a
autora, a cultura visual ajuda a reforçar estes clichês através dos filmes e dos contos
de fadas. Delphy afirma ainda que os homens se aproveitam do trabalho feminino,
pois este trabalho não tem termos de acordo, é um trabalho de tempo integral, não-
remunerado.
Para Frederich Engels, com o aumento da propriedade privada os homens
tornam-se cada vez mais poderosos, destarte, eles necessitam de herdeiros
legítimos para que seu legado seja levado adiante, portanto, a relação monogâmica
foi institucionalizada baseada em crenças dessa natureza, e fazendo da família uma
empresa privada sem fim lucrativo, da qual o homem se beneficia mais do acordo
que a mulher. O que Delphy quer dizer, é que mesmo que a mulher se beneficie
deste acordo financeiramente, com este contrato, o trabalho que ela realiza em casa
26
é muito maior e por horas indefinidas.
Ainda sob uma ótica marxista, ela exemplifica que o trabalho exploratório só
acontece porque tem alguém que se subjugue a ele. Não adianta nada a mulher ser
remunerada pelo serviço doméstico, se a sociedade não mudar como um todo a
visão em relação ao trabalho doméstico. O fato de o trabalho doméstico não ser
pago, não é inerente ao tipo específico de serviço feito, já que, quando a mesma
tarefa é feita fora do lar, ela é paga. (DELPHY, 2015, p. 316). O que isto quer dizer é
que o trabalho doméstico não é o problema, mas sim as múltiplas tarefas que a
mulher desempenha dentro e fora de casa sem que esse trabalho seja devidamente
computado.
Ainda sobre o trabalho feminino, mas agora o da esfera pública, Alice
Russell Hochschild, diz que: depois da operária da fábrica, que trabalhava horas a
fio com baixa remuneração, veio o setor que necessitava de um empregado que
atendesse a um trabalho mais emocional, porém salarialmente desigual. Estes
trabalhos estão impregnados de estereótipos, segregando mais uma vez o feminino
do masculino. Portanto, o trabalho dito emocional, executado por mulheres, tornou-
se uma força de trabalho e um capital simbólico, transformando sentimentos e vida
afetiva em mercadoria. 
As questões sobre o feminino permeiam toda a sociedade, e com a
educação não é diferente. O grotesco e a malignidade associado aos corpos
femininos atravessa o campo da educação, e, nota-se na atualidade que a educação
ainda é um trabalho feminino, devido ao grande número de mulheres na profissão.
Portanto, reflexões acerca destas questões, necessitam ser estimuladas dentro da
sala de aula. 
2. 2. Maternidade, aborto e infanticídio.
Diversos anos se passaram desde a colonização do Brasil, porém, mesmo
depois de tanto tempo, algumas questões que tangem o corpo feminino, ainda são
tabus. Por mais que hoje as mulheres sejam mais despojadas, e tenham um melhor
conhecimento sobre o próprio corpo, a sexualidade ainda é um ponto chave a ser
discutido.
27
A maternidade é ainda sinônimo da mulher realizada, da mulher que
alcançou o objetivo divino de gerar uma nova vida. Mas, e quando essa nova vida
não foi planejada ou desejada, e o que fazer com essa mulher que não deseja a
maternidade? Esperar que ela morra em uma clínica de aborto clandestina? Esperar
que ela mate seu filho recém-nascido, no desespero de não querer/poder ficar com
essa criança, ou fazer que ela nasça e fique durante longos períodos esperando que
alguém a queira?
As religiões, ainda hoje, exercem uma poderosa influência na sociedade. A
religião sempre foi hostil com a mulher, e em relação ao corpo e a sexualidade
feminina, a situação não é diferente.
De acordo com Joana Maria Pedro em: As representações do corpo feminino
nas práticas contraceptivas, abortivas e no infanticídio - século XX. Antes da metade
do século XX, métodos arcaicos de contracepção eram amplamente utilizados pelas
mulheres e na antiguidade. Com tais métodos, pouco eficientes, a gravidez era
praticamente certa. Não nos ateremos aqui as questões que envolvem as doenças
sexualmente transmissíveis, embora elas também fizeram, e fazem parte dos fatores
que levaram muitas mulheres ao aborto e ao infanticídio, devido aos abortos
espontâneos, má formação do feto, entre outros. 
Com a ausência ou ineficácia de métodos contraceptivos as mulheres
acabam recorrendo as “fazedoras de anjos”11 o que também nem sempre era
seguro. Mas, quem disse que a mulher nasce pronta para ser mãe? Essas
afirmações, foram construídas socialmente ao longo dos tempos, fazendo com que a
sexualidade feminina fosse reprimida, pois o filho só seria admitido dentro das leis
do casamento, desde que a criança nascesse saudável e que, pelo menos, um dos
filhos fosse menino, para que desse continuidade aos feitos do pai.
Sob essa ótica, o aborto foi amplamente difundido entre as mulheres, esse
era o “assunto de mulher”, mas esse assunto de mulher, nunca deixou de ser
assunto do Estado e da Igreja, pois a criminalização do aborto, vem no sentido de
coibir as relações extraconjugais femininas que davam origem a filhos bastardos.
De acordo com Joana Maria Pedro (2003, p. 160), os jornais, que eram o
meio de comunicação mais comum, tinham a função de difundir os anúncios das
11.De acordo com Carla Maria BassaneziPinski e Joana Maria Pedro, eram mulheres que fi-
cavam entre parteiras e bruxas, que desapareciam com os recém-nascidos indesejados.
28
aborteiras, de romantizar a maternidade, mas também demonizar a parturiente que
aborta ou prática o infanticídio.
Como dito anteriormente, o amor materno imediato ao nascimento é uma
construção social que serve como freio inibidor da sexualidade feminina. Portanto, o
aborto e o infanticídio foram usados como instrumento, tanto para frear a concepção
extraconjugal, como para que as solteiras não perdessem a honra e posteriormente,
durante o período das grandes guerras, teve o intuito de incentivar o aumento da
taxa de natalidade devido as grandes baixas.
E, estes mitos do amor materno incondicional, a criminalização do aborto e o
infanticídio, estão diretamente ligado à educação no aspecto sociocultural.
O que se quer discutir aqui é a repercussão da mídia - todos os meios de
comunicação, sejam eles arcaicos ou contemporâneos, mas especialmente esse
último - que propagam um ideal, tanto de beleza, quanto de comportamento que as
mulheres têm como dever segui-los, e que impregnam o imaginário coletivo. 
Na contemporaneidade estes mitos servem como cabresto para a
sexualidade feminina, pois o corpo feminino é o que corrompe. E esta prática hoje
está diretamente ligada também aos mitos da beleza e da mulher bem-sucedida,
pois um filho, hoje, no contexto das exigências feitas às mulheres, arruinaria o seu
corpo e a sua vida.
2. 3. Mulheres artistas.
A posição social da mulher varia de acordo com o seu tempo histórico. Mas,
predominantemente o papel feminino, tem sido marcado pela lida da casa, ou pelo
papel de uma simples ajudante da lida da fazenda. A elas, às mulheres,
inevitavelmente lhes tem sido atribuído o cuidado da família e o sucesso da mesma.
E apesar de todos saberem da importância da mulher como agente social, ela ainda
costuma ser vista como a sombra do marido. Inúmeras são as obras que nos
oferece a história que retratam este cenário do trabalho e da posição dita feminina.
(Fig. 6)Com as habilidades artísticas das mulheres não foi diferente. Michelle Perrot
conta que: 
29
Escrever foi difícil. Pintar, esculpir, compor música, criar arte foi ainda
mais difícil. Isso por questões de princípio: a imagem e a música são
formas de criação do mundo. Principalmente a música, linguagem
dos deuses. As mulheres são impróprias para isso. (2006, p. 101)
Fig. 6. Pedro Weingartner - ‘’Chez la Faiseuse D’Anges (1908).
Fonte: http://www.dezenovevinte.net/artistas/pw_vp_influencias.htm. Acesso em:
28/10/2017
As mulheres percorreram, e ainda percorrem, um árduo caminho nas
manifestações artísticas – pois ainda vivemos em uma sociedade baseada no
patriarcado, que vê as mulheres apenas como objetos – já que atuar na arte significa
ter aspirações que diferem da dona de casa, da mãe zelosa. Atuar fora dessa
previsão provoca que ainda sejam vistas com maus olhos pela sociedade, pois para
eles, os homens, ela não está cumprindo o seu papel social. Podemos, hoje, na
historiografia da arte encontrar mais facilmente pinturas e práticas artísticas em geral
de autoria das mulheres que nos antecederam, mas o que nos falta é uma
historiografia de como estas mulheres viviam realmente, pois seus diários, muitos
deles, foram eliminados pela família e outros perderam-se ao longo do tempo. Mais
recentemente temos diários publicados, como é o caso específico daquele de Louise
Borgeois12 (Louise Bourgeois. Destruição do Pai, Reconstrução do Pai)13, por
12.Louise Bourgeois: (Paris, 25 de dezembro de 1911 - Nova Iorque, 31 de maio de 2010)
pintora e escultura franco-americana, mundialmente conhecida por sua obra intitulada Ma-
man.
13.O foco principal é um rico e introspectivo testemunho de vida. São os diários que ela
manteve desde os 12 anos de idade, os inúmeros depoimentos e entrevistas aos jornalistas
e críticos. Enfim, as percepções que movem um processo de trabalho e alimentam um en-
http://www.dezenovevinte.net/artistas/pw_vp_influencias.htm
30
exemplo, e que muito nos esclarece sobre sua vida e obra, ou as cartas de Frida
Kalo, também publicadas em livro e que nos fornece detalhes reveladores de sua
vida e sentimentos14.
De acordo com Perrot, as aspirações artísticas femininas até século XVIII
ocupavam tão somente a vida privada, pois a educação em arte, representava um
capital simbólico: sinônimo de educação refinada, digno de uma dama. Contudo
essa educação, somente poderia ser usada para a reprodução, nunca como uma
criação autônoma, já que a criação é sinônimo de criatividade de “sopro de vida”, e a
criação da vida é atribuída sempre a uma divindade masculina, e quando é permitido
criar, as representações do nu lhes eram proibidas.
Somente com a admissão de mulheres na Escola de Belas Artes, no final do
século XIX, é que o panorama artístico para as mulheres no Brasil começa a mudar,
apesar delas enfrentarem uma grande resistência por parte do público masculino e
dos professores. Não que não houvessem produções antes da admissão de
mulheres pela escola.
De acordo com Perrot, em 1881 a escultora Hélène Bertaux15 funda no país
a “União das Mulheres Pintoras e Artistas” (2006, p. 102), e a primeira exposição
desse grupo em um salão contou com as temáticas já tão conhecidas pelas pintoras,
como interior, natureza morta, etc. Perrot conta que, somente a partir da virada do
século XIX para o século XX, o tão famigerado nu foi conquistado pelas pintoras, e
ainda de acordo com a autora, as pintoras vanguardistas, também não eram bem-
vistas. Para poder exercer o direito de pintar a plein air, muitas requisitavam
autorizações, ou formavam grupos de amigas, porém o reconhecimento e o prestígio
continuava sendo dos homens. Poucas não foram as mulheres que acabaram
casando-se com artistas para poder desfrutar de seus ateliês, não somente como
modelo, mas como produtoras, criadoras. 
No Brasil, diz Priscila Cruz Leal (2012, p. 2), que a Academia Imperial de
tendimento de mundo.
14.Durante os últimos dez anos de vida, a artista mexicana Frida Kahlo manteve um diário
em que documentou sua luta política, reflexões da vida conturbada e dores pessoais, além
do amor pelo marido, o muralista Diego Rivera. As pinceladas coloridas e manuscritos poéti-
cos da artista podem ser apreciados pelo público na reedição de “O Diário de Frida Kahlo -
Um Autorretrato Íntimo”, uma reprodução fiel de todo o material produzido entre 1944 a
1954.
15.Hélène Bertaux (Paris, em 4 de julho de 1825 - Saint-Michel-de-Chavaignes em 20 de
abril de 1909) é uma escultora francesa e ativista.
31
Belas Artes abre as portas para alunas somente em 1893, já com o nome de Escola
de Belas Artes. Apesar da abertura para entrada das mulheres, elas só poderiam
frequentar, se tivessem alguma relação com algum artista, ou fosse ela parente de
um deles, ou casada. Leal cita o estigma que muitas destas artistas ainda carregam
por serem conhecidas apenas como “amantes” dos artistas, e Camille Claudel16, na
França, é um exemplo disso. No que se refere a este caso, especificamente no
Brasil, não conseguimos localizar nenhum caso especificamente.
Com o advento da fotografia, muitas foram as mulheres que rumaram para
este campo de experimentações, chamada por Pierre Bourdieu de uma “arte
menor17” (In PERROT, 2006, p. 104), entendida pelo senso comum como uma
simples mímese da realidade, visto que a fotografia só existe através do registro de
um objeto/momento que se configura no mundo real. Para o senso comum, à época,
a fotografia representava somente uma cópia fidedigna do real, e não levava-se em
consideração a subjetividade do fotógrafo. Bourdieu considerava a fotografia como
‘arte menor’ no que diz respeito a questão da produção de sentido, ou seja, a
produção fotográfica fica no entremeioda erudição com a cultura popular.
As classes superiores, da sua parte, possuem com frequência o
equipamento fotográfico, como efeito dos rendimentos elevados e de
seus estilos de vida. Porém, esta posse não testemunha uma prática
mais intensa. Quando ocorre a prática, tende a estar vinculada a
prática fotográfica que costumam realizar se distancia da ordem dos
julgamentos abstratos, redutíveis aos princípios estéticos universais.
A fotografia não estimula para essas categorias um senso estético,
haja vista a posição inferior que a prática fotográfica ocupa na
hierarquia das práticas artísticas. A fotografia é uma arte menor. O
artificialismo do discurso acerca da fotografia, que os quadros
superiores exercitam como uma retórica, decorre do fato de que seus
gostos e sentimentos não se aplicam ao objeto fotográfico. (…)
Entretanto, assim como se processa uma lógica do empréstimo
cultural da parte dos estratos sociais inferiores, tomado dos
dominantes, estes, por sua vez, adotam comumente uma estratégia
populista: ‘os produtores sociais da classe dominante produzem uma
imitação (counter-feit) de arte popular(…) (MIRANDA, 2005, pp. 57-
16.Camille Claudel, nome artístico de Camille Athanaïse Cécile Cerveaux Prosper (Fère-en-
Tardenois, 8 de dezembro de 1864 - Montdevergues, 19 de outubro de 1943) foi uma escul-
tora francesa. 
17.A expressão “arte menor” é uma interpretação de Perrot que preservamos. Para Bourdi-
eu, o cinema (assim como o jazz e a fotografia) é uma arte média, pois somente um grupo
restrito assume “a disposição devota” que se espera ter diante das obras da cultura legítima,
enquanto não se exige da maioria dos espectadores o conhecimento das regras técnicas ou
dos princípios estéticos como condição obrigatória na fruição das obras legítimas.
32
58)
 Mesmo as mulheres que, artisticamente rumaram para a fotografia,
dependiam dos homens, para poder usufruir de seus ateliês. Com o passar das
décadas, a fotografia tomou outros ares, inúmeros foram os artistas que se valeram
e se valem da fotografia como expressão e/ou denúncia da realidade, por exemplo.
Mas, apesar de ser um campo amplo de possibilidades, a invenção da
fotografia foi um marco decisivo na propagação dos estereótipos femininos. Até
quase o final do século XIX, as mulheres comuns não eram tão expostas a uma
grande quantidade de imagens, mas com o advento da fotografia, a reprodução de
imagens torna-se mais fácil. A partir daí é construída a imagem da mulher ideal.
(WOLF, 1992, p, 19).
Nessa perspectiva, a artista norte-americana Cindy Sherman18 nos
contempla, através das suas fotografias visto que a artista, além de ser mulher,
pensa nos conceitos de suas obras e posa para a câmera como modelo delas -
muitas vezes consideradas autobiográficas e narcisistas - com um trabalho baseado
nos papéis que as mulheres têm que representar socialmente. 
De acordo com uma análise feita por Alessandra Manchesi Ribeiro, esta
artista aborda questões do universo feminino através de suas fotografias que tem
um caráter grotesco e de denúncia dos estereótipos, e dos lugares sociais que as
mulheres ocupam.
Nessa perspectiva podemos associá-la com duas outras artistas. A primeira,
Judy Chicago19 em sua obra intitulada “The Dinner Party”, uma obra que constitui-se
de uma mesa triangular com 39 assentos, e cada um é correspondente a uma
mulher que deixou, de alguma forma, uma contribuição social, e cada lado com 13
lugares, fazendo alusão aos treze apóstolos e à soberania masculina. Cada lugar
possuí uma porcelana pintada representando uma mulher distinta, seja ela das
artes, das ciências, etc.
Podemos pensar a partir das obras de Sherman e das obras das outras duas
artistas citadas, que ainda vivemos em uma sociedade patriarcal, sob uma lógica de
subjugação feminina em relação à masculina. A partir daí é possível analisarmos o
18.Cindy Sherman (19 de janeiro de 1954, Glen Ridge, Nova Jersey, EUA -). Fotógrafa
norte-americana que atualmente reside e trabalha em Nova Iorque. 
19.Judy Chicago (20 de julho de 1939) artista feminista e arte-educadora norte-americana.
33
quanto essa subjugação realmente advém do poder simbólico de dominação
masculina, e o quanto essa subjugação e estado de coerção está ligado às mulheres
e seu medo de transgredir as regras sociais. Já o grotesco nas obras de Cindy
Sheramn, de acordo com Ribeiro, é representado pela psicanálise como o estranho
o “unheimlich” de Freud (RIBEIRO, 2008, p. 91).
A partir das obras de Sherman podemos também discutir a hemorragia de
imagens que caracteriza a contemporaneidade, e estas influenciam diretamente o
comportamento dos indivíduos. O mundo das “selfies”, de inúmeras fotos que fazem
com que não consigamos aproveitar integralmente os momentos — pois ficamos
tentando registrar tudo que acontece ao nosso redor — na tentativa de usarmos as
fotografias como um registro de memória. Através da fotografia vivemos um mundo
de fantasia, pois acabamos por existir sobretudo, virtualmente. Como já citado em
outra oportunidade nesta monografia, inúmeros foram as descobertas vivenciadas
por nós através dos avanços tecnológicos, e a fotografia não ficou de fora destas
descobertas. Vivenciamos a era digital, de corpos digitais, que se apropriam da
realidade e transformam-na em outra realidade assimilada por nós no mundo real
que fez com que a sociedade começasse a adoecer, mudando de forma drástica o
comportamento e os corpos dos sujeitos.
A outra é a artista franco-americana Louise Bourgeois, que com a obra
intitulada “A destruição do pai” remete à genitália feminina ao útero grotesco,
gerador da vida, das condições da maternidade versus o corpo materno, corpo este
que, após o parto é repudiado por deformar-se durante a gestação e não atender
mais aos padrões estéticos sociais, vigentes de cada época. Nesta obra Bourgeois,
trata o sentido do útero gerador de vida, como uma forma de libertação de seus
traumas de infância ligados a infidelidade do pai e a morte prematura da mãe. (Fig.
7).
34
Fig. 7. The Dinner Party, Judy Chicago; Sem título, Cindy Sherman e A destruição do pai.
Louise Bourgeois.
Fonte: https://jdlusp.org/2017/09/18/a-figuracao-estetico-psicologica-de-louise- 
bourgeois-um-caminho-introspectivo/,
https://nitidafotografia.wordpress.com/2016/04/21/cindy-sherman/,
http://ec2artes.blogspot.com.br/2011/10/destruicao-do-pai-grupo-8.html. Acesso em:
03/11/2017.
Tomemos no presente trabalho, a fotografia como reprodução de
estereótipos através dos anúncios publicitários e de artistas que se valem deste
recurso tecnológico como registro do discurso anti-maligno e anti-grotesco
relacionado ao corpo feminino.
Teresa Lenzi em “Fotografia feminina hoje. Formas, aparências e
reincidências. Indiferença e epocalidades.” diz que precisamos ter um certo cuidado
ao analisarmos registros fotográficos, pois cada época é marcada por diferentes
simbologias de repressão ao feminino.
 
Tal como ocorreu com as manifestações culturais de todos os
tempos, a fotografia informa sobre seu próprio lugar e sua
importância no contexto artístico, e também informa sobre a condição
sociocultural de seu tempo histórico, o que significa dizer, tal como
fez José Luis Brea (2007, p. 62), que cada momento histórico, no que
se refere aos seus signos e imagens, tem uma ‘senha de identidade
“epocal”. E se é certo que cada época tem suas próprias senhas e
sinais, qualquer análise sobre as práticas artísticas deveria antes de
qualquer coisa, tentar identificá-las. (2015, p. 31)
Naomi Wolf traz à luz os conceitos de beleza impostos a nós através dos
anúncios publicitários, das fotografias em revistas, que impõe uma beleza
inalcançável para a maioria das mulheres, e ela diz também que, neste sentido
algumas mulheres, da nova geração,têm se mostrado contra o feminismo, pois isto
http://ec2artes.blogspot.com.br/2011/10/destruicao-do-pai-grupo-8.html
https://nitidafotografia.wordpress.com/2016/04/21/cindy-sherman/
https://jdlusp.org/2017/09/18/a-figuracao-estetico-psicologica-de-louise-bourgeois-um-caminho-introspectivo/
https://jdlusp.org/2017/09/18/a-figuracao-estetico-psicologica-de-louise-bourgeois-um-caminho-introspectivo/
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faz com que as mesmas comecem a ter vergonha de admitir que o cuidado com a
aparência importa muito mais do que elas deixam transparecer.
Ela ainda nos narra que, com o crescente repúdio ao feminismo, muitas
jovens compram a ideia dessa desenfreada vontade de se encaixar nos padrões
estéticos que são veiculados pelas mídias. Hoje, muito mais do que antes, as
disfunções alimentares, e a procura por cirurgias estéticas, crescem de forma
assustadora, o que torna às representações femininas estereotipadas, e que faz
com que estes corpos sejam tão modificados a ponto de ficarem irreconhecíveis,
grotescos, ocasionando perda da identidade natural da mulher.
Ou seja, em conformidade com Wolf, 
As qualidades que um determinado período considera belas nas
mulheres são apenas símbolos do comportamento feminino que
aquele período julga ser desejável. O mito da beleza na realidade
sempre determina o comportamento, não a aparência. A juventude e
(até recentemente) a virgindade foram ‘bonitas’ nas mulheres por
representarem a ignorância sexual e a falta de experiência. O
envelhecimento na mulher é ‘feio’ porque as mulheres adquirem
poder com o passar do tempo e porque os elos entre as gerações de
mulheres devem ser sempre rompidos. As mulheres mais velhas
temem as jovens, as jovens temem as velhas, e o mito da beleza
mutila o curso da vida de todas. E o que é mais instigante a nossa
identidade deve ter como base a ‘beleza’, de tal forma que
permaneçamos vulneráveis à aprovação externa, trazendo nosso
amor-próprio, esse órgão sensível e vital, exposto a todos. (1992, pp.
17-18)
Essa divisão se faz necessária para que o consumo seja potencializado “(…)
as diferenças vem cunhadas artificialmente a fim de padronizá-las” (ADORNO,
HORKHEIMER, 2004, p. 07). Por este motivo, reforçamos a ideia da importância de
aulas de artes promotoras de indivíduos críticos e não de sujeitos alienados que
compram ideias prontas, para que estes indivíduos possam enfraquecer a cadeia do
capitalismo e da manutenção de imagens estereotipadas, desde dentro do próprio
sistema. 
36
3. ARTE-EDUCAÇÃO. UM CONTEXTO.
De acordo com Raquel Lima de Freitas, a educação em arte, em nosso país,
teria origem ainda no período do Brasil Colônia, com as missões jesuítas, que,
através dos processos artesanais catequizavam os índios, e teve continuidade com
a chegada da família imperial no século XVII, e com ela, da missão francesa, com o
objetivo de fundar uma escola de Belas Artes no Brasil. Num primeiro momento a
escola chamava-se Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, sob o comando de
Joachim Lebreton20, que tinha como interesse formar desenhistas. Depois de anos
de crise, revoltas, e afastamentos dos membros oficiais da escola (devido à tensões
políticas), a escola passa a se chamar Escola de Belas Artes.
No entanto, a educação formal em arte, segundo Ana Mae Barbosa, em
“Arte-educação no Brasil. Realidade hoje e expectativas futuras”, a disciplina de
artes somente foi introduzida no currículo base através de um acordo feito pelo MEC
com os norte-americanos durante o período da ditadura militar no país, criando o
que conhecemos hoje como LDB (Lei de Diretrizes e Bases).
A arte era a única disciplina capaz de abrir o campo de ensino-aprendizagem
que estimulava a criatividade, consequentemente a criticidade e, haja vista que, a
disciplina de artes e o nosso modelo curricular foi concebido no período da ditadura
no Brasil, disciplinas como filosofia foram extirpadas do currículo. Conforme Ana
Mae, o currículo da educação básica iria somente até o oitavo ano, sendo os
posteriores dedicados à profissionalização para a geração de mão de obra
especializada.
O fazer e o ensinar sobre arte, era tarefa atribuída, até então, às escolinhas
de arte, que visavam a criação poética de crianças e jovens. Com a introdução da
disciplina de “Educação Artística” no currículo, houve a necessidade da criação de
profissionais que pudessem lecionar. O arte-educador veio mais tarde, antes,
haviam profissionais que eram instrumentalizados a ensinar desenho, especialmente
desenho geométrico (prática esta, que, ainda hoje vemos com frequência na sala de
aula). 
20.Joaquim Lebreton (Saint-Méen-le-Grand, França, 1760 - Rio de Janeiro, 1819) professor
frances encarregado de chefiar a missão francesa.
37
O ofício de arte-educador, somente entra em vigor com a criação do curso
universitário em 1973, com um currículo básico que atenderia às necessidades
emergentes da demanda de arte-educadores: um curso de licenciatura curta.
Que de acordo com Barbosa, este curso compreendia a aprendizagem para
o ensino de música, dança, teatro e desenho geométrico, e sua área de atuação
destinava-se ao ensino fundamental e médio. Sobre o currículo desta licenciatura
curta, Ana Mae discorre sobre uma pesquisa realizada com professores de artes e é
na qual é consenso, por parte dos educadores, que a prioridade de ensino é a
estimulação da criatividade, porém todos tomam como base livros didáticos, que,
segundo ela, vão de encontro com a liberdade da criatividade, já que um livro
didático segue uma determinada ordem, ou linearidade de tempo.
Ana Mae pondera sobre outro ponto, que consideramos crucial: a questão
da falta de prestígio atribuída à disciplina, que até então, era uma disciplina na qual
os estudantes não eram avaliados, já que as aulas de artes não eram (e ainda não
são) vistas como uma disciplina, mas sim como uma mera atividade de lazer. A partir
destas ponderações, podemos entender o porque de a educação em arte ser tão
desvalorizada ainda nos dias de hoje. Barbosa toca em outro ponto importante —
apesar de ser um artigo antigo, ele ainda ilustra a realidade contemporânea – que é
a questão da educação visual, da importância de levarmos em consideração a
influência que as imagens exercem na educação de crianças e jovens, e neste
ponto, Fernando Hernández em “Catadores da cultura visual”, na mesma linha de
pensamento de Ana Mãe, é bastante enfático quando diz que: 
Do meu ponto de vista, trata-se de enfrentar um desafio de maior
importância: ‘adquirir um alfabetismo visual crítico’ que permita aos
aprendizes analisar, interpretar, avaliar e criar a partir da relação
entre os saberes que circulam pelos ‘textos’ orais, auditivos, visuais,
escritos, corporais e especialmente, pelos vinculados às imagens
que saturam as representações tecnologizadas nas sociedades
contemporâneas. (HERNÁNDEZ, 2007, pp. 23–24)
Destarte, tal como Hernández e Ana Mae, cremos que as aulas de artes
devem ser voltadas para a formação de seres críticos. Hernández nos diz, que é
preciso nos valermos dos ícones da cultura popular — ele cita o exemplo da boneca
Barbie – deste modo poderemos incentivar a criança/adolescente a pensar, refletir
38
sobre as consequências dos estereótipos disseminados pela mídia, especialmente
no caso das mulheres. Nessa lógica, a cultura contemporânea dificulta a promoção
de um ambiente de reflexão, pois ela joga uma carga visual em excesso sobre a
sociedade, o que faz com que os jovens tenham dificuldade em parar para apreciar
e refletir sobre, 
Por conseguinte, o professor necessita promover um ambiente de reflexão,
ou seja, o professor tem de ser o mediador e estimulador destas reflexões para que
o jovem possa, com base em fundamentos concretos, aceitar ou refutar esses
padrões impostossimbolicamente, através das imagens, pelas mídias sociais. 
3. 1. Educação feminina no Brasil
A história oficial da educação no Brasil, não é muito antiga, já que ela ignora
a cultura dos povos que aqui habitavam e passa a ser oficializada a partir da
colonização do país com a chegada dos Jesuítas. Com isso, já a história da
educação feminina no Brasil é ainda mais recente, pois, poucas foram as mulheres
brasileiras que tiveram algum estudo no período colonial, e menor ainda foram as
pessoas que se dispuseram a estudar o fenômeno da educação feminina no Brasil.
Guacira Lopes Louro21, foi uma das primeiras a esboçar um quadro nacional sobre a
educação feminina no Brasil.
Apesar de, no presente trabalho, nos utilizarmos também de artistas e fontes
bibliográficas estrangeiras, faremos o recorte da educação e da condição das
mulheres no Brasil na atualidade, por se tratar, primeiramente, de um corte pouco
estudado, e por sabemos que não há tempo hábil suficiente para que possamos
fazer um panorama global sobre a educação feminina.
As mulheres invadiram o mercado de trabalho, as escolas, os espaços
públicos e privados, mesmo assim a sociedade continua a escondê-las,
menosprezá-las. Muitos foram os avanços conquistados pelas mulheres, mas nos
21.Licenciada em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1969), Mestre
em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1976) e Doutora em Educa-
ção pela Universidade Estadual de Campinas (1986). Professora Titular aposentada da Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi fundadora do GEERGE (Grupo de Estudos de
Educação e Relações de Gênero) e participa deste grupo de pesquisa desde 1990. 
39
últimos tempos, podemos perceber que há uma estagnação e podemos nos atrever
a dizer que há um retrocesso.
Esta estagnação – ou retrocesso – muito se deve ao fato de a nova geração
de mulheres ter nascido sob o signo da ‘liberdade’, não enxergando assim o quanto
ainda necessita ser conquistado ainda, tanto na esfera pública quanto na esfera
privada, e a instituição escola não está nem um pouco aquém a esta situação, muito
pelo contrário, a escola ainda é uma grande produtora e mantenedora de
estereótipos e de propagadora de papéis sociais para os grupos femininos.
Guacira Lopes Louro (1997) afirma que a escola é um símbolo de
separatismo, que tal qual os produtos, as pessoas são separados por gênero, e os
estudantes também o são. A escola doutrina, segundo essa autora, imprime valores
que serão carregados por toda a vida. Não quer dizer que, todos os estudantes
aceitem passivamente, mas quer dizer que a escola está carregada de simbologias
que induzem os estudantes a seguirem os padrões.
Louro faz uma analogia entre a escola e a pintura de Delacroix ‘A liberdade
guiando o povo’ (Fig. 8). Essa pintura mostra a mulher como personagem central,
mas ela não é a agente da ação: o foco da ação são os homens, eles são mostrados
como verdadeiros heróis e a mulher somente como musa inspiradora, e na escola
este papel não é diferente.
Fig. 8. Delacroix - ‘‘A liberdade guiando o povo’’ (1830) 
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Liberdade_guiando_o_povo. Acesso em: 30/10/2017.
https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Liberdade_guiando_o_povo
40
Assim como afirma Louro, meninas são sujeitadas às aulas de atividades
mais simples, artesanais, que atendam a demanda da casa, já os meninos são
incentivados a preencher os espaços ao ar livre, para que cumpram na vida de
adulto a sua função de chefe, provedor da família.
Se as diferentes instituições e práticas sociais são constituídas pelos
gêneros (e também as constituem), isso significa que essas
instituições e práticas não somente ‘fabricam’ os sujeitos, como
também são, elas próprias, produzidas (ou engendradas) por
representações de gênero, classe e raça. (LOURO, 2003, p. 82)
O grotesco, por exemplo, muitas vezes entra no contexto da educação por
intermédio da moda. A indústria da moda tem se apropriado dessa categoria estética
para vender produtos de luxo, produtos estes, que chamam a atenção dos jovens
em formação, pois estas marcas vendem ideia de luxo, de status social elevado, o
que configura um poder sobre os demais. Portanto, assim como Hernández também
defende em ‘Catadores da Cultura Visual’, é preciso tomar cuidado ao abordar em
sala de aula os conteúdos fornecidos por propagandas e outros produtos dos meios
de comunicação e entretenimento, pois, se não estivermos atentos, poderemos
ajudar a manter a propagação de ideologias a que a propaganda se destina.
41
4. PUBLICIDADE, PROPAGANDA E A SUA INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO. 
Conforme Eloá Muniz (2017, p. 2), é importante relembrar que o termo
publicidade tem origem no latim “publicus”, o que significa o ato de tornar público.
Inicialmente seu significado era atrelado ao jurídico, com o ato de tornar pública as
decisões do legislativo e resultados de julgamentos. Sua utilização como
conhecemos hoje, pode ter seu início datado ainda na antiguidade clássica, com as
placas anunciando os duelos dos gladiadores. Na idade Média, era utilizada como
recurso para feirantes venderem seus produtos, podemos aqui fazer uma analogia
com o sistema antigo da bolsa de valores, que era através da voz (grito) de compra
e venda que faziam a sua publicidade.
Com os adventos tecnológicos, como a confecção manual de impressos, a
publicidade começa a ser melhor realizada, se tem notícia que por volta do ano de
1600, a primeira publicidade tenha sido feita para a venda de um livro.
Na era moderna, a publicidade cresce com o capitalismo, com maior
demanda por bens, produtos e serviços, inúmeras novas empresas são criadas e
necessitam consolidar-se no seu nicho mercadológico, a propaganda torna-se cada
vez mais feroz do que diz respeito a persuasão dos seus potenciais consumidores,
assim nos afirma Muniz.
Recentemente, com o advento da era industrial, a concentração
econômica e a produção em massa trouxeram como conseqüência a
necessidade de aumentar o consumo dos bens produzidos. Para
atender a esta necessidade, as técnicas publicitárias foram se
aperfeiçoando. A publicidade tornou-se mais persuasiva, perdendo o
sentido inicial, de caráter exclusivamente informativo. (Caderno
Universitário, No 148, Canoas, Ed. ULBRA: 2004. (Acesso em: 18 de
setembro de 2017).
Já a propaganda, de acordo com Muniz, tem origem etimológica também no
latim “propagare”, surge com a igreja católica com o propósito de arrebanhar mais
fiéis e a formação de novos missionários, pois cumpre a função de disseminar as
doutrinas da igreja. Um dado importante sobre a publicidade e a propaganda, é que,
de acordo com Diego Brito, a publicidade é gratuita, já a propaganda é paga.
Publicidade é quando alguém fala de você. Então, pensa o seguinte:
42
você apareceu em alguma mídia, por exemplo, na TV ou jornal, canal
de comunicação. E fizeram isso de forma espontânea. Então, ele te
fez publicidade. Agora, se apareceu em algum canal, fazendo
pagamento para aparecer, por exemplo, com um comercial, um
anúncio na revista, jornal, algo assim, você fez propaganda. Porque
é toda vez que você paga para falarem de você. (2017, p. 2).
Na atualidade, e na prática, cumpre a função de propagar e disseminar
ideias, crenças, princípios e doutrinas (MUNIZ; 2004, p. 5), e mais especialmente
estereótipos. Na propaganda atual, o corpo é utilizado insistentemente, e o corpo
utilizado é o corpo persona, tal como as máscaras teatrais usadas pelos gregos,
provavelmente de origem etrusca. E esse corpo persona, de acordo com Angela
Schaun e Rosangela Schwartz em “O corpo feminino na publicidade: aspectos
históricos e atuais”, é um corpo idealizado, carregado de erotização e sentimento de
posse.
A categoria do corpo persona

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