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Resenha do documentário - Democracia em vertigem - Disciplina ACiência Política

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Resenha sobre o documentário “Democracia em vertigem”
Democracia em vertigem é um dos documentários mais famosos do Brasil que relata por dentro do das paredes da Alvorada o caminho entre a ascensão social e o retorno do autoritarismo no Brasil.
	Antes que tratar especificamente do documentário – que foi o primeiro exclusivamente brasileiro a ser indicado ao Oscar -, acho importante frisar um pouco sobre a diretora Ana Petra Costa.
	Petra, nascida em Minas Gerais, filha de Manoel Costa e Marília Andrade, é neta de ninguém menos que Gabriel Donato de Andrade. Seu avô, de família latifundiária, criadores de animais de raça, é também, um dos fundadores da construtora Andrade Gutierrez.
	A construtora é uma das principais empresas envolvidas no esquema da “Lava Jato” (citado inclusive no texto “Sobre o autoritarismo brasileiro” de Lília Schwarcz, página 117), operação que seria o ápice, o grande marco do descontentamento brasileiro e da certeza de que o Brasil seria um grande paraíso da corrupção. 
	Essa contextualização é interessante de se ressaltar, justamente porque, sendo Petra neta de um dos fundadores da empresa que teve grande participação em vários esquemas de corrupção no país (até mesmo porque, a construtora realiza obras pelo Brasil desde meados de 1950), seria de se esperar que os pais e a própria Petra não estivessem tão dedicados a expor todo esse envolvimento na corrupção política da empresa. Até mesmo porque, houveram notícias de que os Pais da diretora haviam em algum período trabalho na Andrade Gutierrez.
	Também, há notícias de que o Pai de Petra, além de ter sido filiado ao PMDB, também foi secretário de Estado no governo de Aécio Neves. Sua mãe por sua vez, filiada ao PT desde 1997, é também Jornalista e socióloga. 
	O que ela apresenta em seu documentário é que os pais, desde 197 eram militantes de esquerda e que durante anos tiveram que viver na clandestinidade. 
	Petra herdou, nitidamente, esse gosto pela história do Brasil e pela política. Iniciou seus estudos em Artes Cênicas, mas se graduou em Antropologia em uma faculdade em Nova York. Após seu mestrado em Comunidade e Desenvolvimento, cursado em Londres, voltou ao Brasil para se dedicar ao cinema.
	Dentre as várias obras que produziu, Democracia em vertigem é a de maior sucesso. Embora a crítica se divida, uma coisa é certa: mesmo que muitos digam que a forma como o documentário mostra o Partido dos Trabalhadores e seus principais líderes, seja romantizada, no mínimo, aos que sejam resistentes a verdade, é possível questionar a reprodução do senso comum implantado em nossas cabeças de que era necessário “tirar o PT para depois tirar o resto”.
	O documentário mostra todo o jogo político por trás do impeachment da então presidente Dilma. Nunca houve crime que justificasse um processo legal de impeachment, foi golpe e assim como aconteceu na subida de Getúlio Vargas e na Ditadura Militar, a luta nunca foi contra o comunismo e a corrupção, sempre foram interesses pessoais e do grupo.
	O que aconteceu é que com a exposição das operações de corrupção, juntamente com os movimentos ocorridos em 2013, que começaram pelo preço da passem, se tornou um grande gatilho para partidos e políticos específicos utilizarem discursos óbvios e vazios contra todos os problemas que vivíamos. E sobre esse momento, podemos lembrar novamente que sempre foi assim, além dos inúmeros exemplos no Brasil, temos também a Alemanha Nazista, Hitler subiu ao poder com um discurso óbvio, vazio e fácil, que ganhava as massas. Sobre o golpe de 64, Ernesto Geisel disse: “O que houve em 1964 não foi uma revolução. As revoluções fazem-se por ideia, em favor de uma doutrina. Nós simplesmente fizemos um movimento para derrubar João Goulart. Foi um movimento ‘contra’ e não ‘por’ alguma coisa. Era contra a subversão [...] e a corrupção”. Esse discurso serve perfeitamente para o Golpe de 2015.
	Partidos, principalmente de matriz autoritária tomam o poder utilizando denúncias de práticas ilícitas de governos anteriores e assim se autovalorizam. Aécio Neves, do partido PSDB, tentou, na onda do descontentamento nacional, conquistar o poder, em sucesso, o país também já conhecia suas ligações com a corrupção. Bolsonaro por sua vez, que sempre foi desconhecido (até mesmo por nunca ter feito nada de prestígio durante suas décadas no congresso), utilizava desses mesmo discursos contra a corrupção e violência, o que era prato cheio para um país em crise.
	Na sua votação a favor do impeachment, Bolsonaro diz: “Nesse dia de Glória para o povo brasileiro, pelo nome que entrará na história nessa data, pela forma como conduziu os trabalhos nessa Casa, parabéns presidente Eduardo Cunha. Perderam em ‘meia quatro’, perderam agora em 2016. Pela família e pela inocência das crianças em sala de aula, que o PT nunca teve. Contra o comunismo, pela nossa liberdade. Contra o folha de São Paulo. PELA MEMÓRIA DO CORONEL, Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Russef. Pelo Exército de Caxias. Pelas forças armadas. Por um Brasil acima de tudo, e por Deus acima de todos, o meu voto é sim”. 
	Somente em um colapso total é que seria possível imaginar alguém que fala tanta atrocidade em um pequeno discurso como esse. Dentre tudo que ele diz, somente ressalto a frase amplamente utilizada pela Alemanha Nazista: “Deutschland über alles”, que significa “Alemanha acima de todos”, para justificar a supremacia da raça ariana.
	O documentário mostra muito bem esse período. A subida do então presidente, como um verdadeiro Messias, salvador da pátria, que utilizando fielmente dos algoritmos para disseminar fake News, conquistou o posto, mesmo sem qualquer plano eficiente e comprometido contra a corrupção e a criminalidade. 
	Muitos dizem que o documentário é “esquerdista”, que mostra Dilma e Lula como “santos”. Que utilizando de imagens e sons fortes e marcantes, estaria romantizando o PT. Não digo que é mentira, mas não acredito que a intenção da Diretora era ser 100% imparcial, até mesmo porque ela mostra o motivo de estar ali, fazendo aquele trabalho. Ela mostra como chegou àquela posição. Ela não nega ou omite sua relação com a esquerda. Embora, mostre os erros também cometidos por eles.
	Hoje, quase dois anos após a ascensão de Jair Bolsonaro como aquele que traria o Brasil de volta aos trilhos, se mostrou novamente uma grande decepção para alguns. Muitos de nós já sabíamos o que nos esperava, a história apenas se repetia, para outros, ainda existe a possibilidade de um bom governo e de um país melhor. Sobre esses, apoiadores fieis, mesmo diante de tantas provas de relação corrupta, acredito que fazem parte daquele grupo denominado por Hannah Arendt como aqueles que banalizam o mal.
	Sabemos que a democracia está intimamente ligada à manutenção de instituições fortes, democráticas, independentes e autônomas. Mas, passamos por um momento tão desafiador na nossa história que é até difícil concluir dizendo como espero ou imagino que será daqui para frente. Espero que ao menos tenhamos sensibilidade para pensarmos no país como um todo, na grande desigualdade que temos e em todos que sofrem com isso.
	Por fim, gostaria de dizer que gosto muito desse documentário e já havia assistido há muito tempo, logo quando lançou. Fico ainda mais feliz de ser uma atividade obrigatória da disciplina porque imagino que muitos de nós evitamos assistir aquilo que não naturaliza um pensamento que já temos arraigado em nós, e que talvez seria o caso deste documentário. Não é para o gosto de todos, não é à toa que mesmo sendo um documentário indicado ao Oscar, teve uma nota de apenas 74% de relevância.

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