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Resenha do livro - Dicionário da escravidão - segunda parte - Disciplina Antropologia jurídica

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Resenha sobre o livro SCHWARCZ, Lília Moritz & GOMES, Flávio (organizadores). Dicionário da Escravidão e Liberdade – 50 textos críticos, São Paulo: Companhia das Letras, 2018 (Textos: Escravidão indígena e o início da escravidão africana, Família escrava, Fim do tráfico, Legislação emancipacionista, Lei de 1831, Movimentos sociais abolicionistas, Mulher, corpo e maternidade, Revoltas escravas, Teorias raciais).
O texto “Escravidão indígena e o início da escravidão africana” de Stuart B. Schwartz, inicia a segunda parte do livro que será analisada. 
	O texto trata da transição da escravidão indígena para a africana e, se pensarmos bem, este é um tema que dificilmente é tratado pela história – os inúmeros motivos que levaram essa transação. Que eu me lembro, a escravidão indígena e africana era tratada de forma geral.
	O texto destaca que inicialmente as relações com os povos indígenas era estabelecido em trocas, mas com a implantação do sistema de capitanias a partir de 1534 e a introdução da cana-de-açúcar e dos engenhos mudaram essa relação. Os índios se mostraram relutantes para o trabalho e apresentaram resistência armada contra a apropriação de suas terras, o que resultou na captura de índios por meio de “guerra justa”.
	Sabemos que a utilização do trabalho por meio de captura de guerra justa precede o sistema escravocrata e era uma atitude corriqueira. Todavia, os missionários jesuítas tentaram frear a escravização dos índios, mesmo quando havia calamidades epidêmicas e era necessário reposição de mão de obra. 
	Os índios de fato não era a mão de obra favorita dos senhores, eram indisciplinados, bárbaros e tinham baixa produtividade, mas importar negros africanos era muito caro naquele período em que o comércio se baseava em agricultura. Após o início da exploração do ouro a importação de escravos africanos se intensificou e eram esses superiores aos índios.
	Isabel Cristina Ferreira dos Reis, autora do texto “Família escrava” destaca que a família escrava não só existiu como experimentou estabilidade no tempo. Segundo ela, alguns defendem que a família funcionava de certo modo como um elemento de adaptação ao escravismo. Além disso, ela destaca que os conflitos costumavam aflorar quando um integrante da família era ameaçado pelo poder senhorial.
	Interessante notar que, por conta da predominância da matrifocalidade da família escrava, era comum se negar a existência da estrutura familiar entre os cativos. O texto também destaca que os casamentos tinham tendência à endogamia, e os grupos se juntavam através de parentesco simbólico ou ritual.
	Em seguida, o autor Carlos Eduardo Moreira de Araújo, no texto “Fim do tráfico” mostra o árduo caminho percorrido no Brasil até de fato chegarmos ao fim. O processo começou pela pressão britânica, e D. João, sabendo da importância do comércio de escravos para a economia do império, teve que buscar meios para atender os interesses conflitantes.
	Mesmo com a independência, os britânicos tentaram forçar o fim do tráfico no Brasil, o que foi atendido, mas se manteve a entrada ilegal de escravos. 
	A lei de 1850 trouxe mudanças significativas na economia, os capitais foram transferidos para outros setores o que gerou um tráfico interprovincial. A escravidão só chegou ao fim 38 anos depois.
	No texto “Legislação emancipacionista, 1871 e 1885” de Joseli Maria Nunes Mendonça, a autora apresenta a realidade por detrás das mencionadas legislações. 
	Segundo a autora um dos argumentos preocupantes que também, juntamente com outros, foi motivo de se iniciar o processo emancipatório do Brasil escravista, foi o fato de que o grande número de africanos que entrava na colônia em 1840 trazia o risco do país se “africanizar”. Argumento que nenhum outro texto havia destacado até então.
	Houveram algumas legislações que previa alguns cuidados específicos (como a proibição de separar os filhos de escravas), todavia, a primeira legislação importante foi a Lei do Ventre Livre, em 1871. Sabemos que na pratica, esse lei ajudou muitos senhores de escravos a regularizar seus escravos adquiridos após a proibição de tráfico, sem falar nas demais práticas abusivas.
	Após isso, e com a grande judicialização das demandas escravistas veio a lei de 1885 que foi interpretada pelos abolicionistas como uma medida retrógrada, mas o suposto objetivo não foi alcançado e em pelo menos dois anos de sua vigência a escravidão já era uma instituição condenada.
	O que mais me chama atenção neste texto é que a judicialização da escravidão e suas regras, tornou o “judiciário um campo de luta social, um ambiente de militância e de expressão de suas demandas por liberdade”. Com toda a seletividade do sistema, isso sem dúvidas foi algo de bom extraído.
	Também no texto seguinte “Lei de 1831”, de Beatriz Gallotti Mamigonian e Keila Grinberg, as autoras destacam que essa legislação, tendo como objetivo proibir o tráfico de escravos, serviu na verdade para acelerar o mercado enquanto fosse possível. As autoras também destacam as discussões parlamentares e a tentativa de modificar o acordo realizado com os ingleses.
	No texto “movimentos sociais abolicionistas” de Wlamyra Albuquerque, a autora destaca alguns dos movimentos de maior destaque, bem como alguns personagens, como por exemplo Luís Gama, José do Patrocínio, entre outros. Esses movimentos e grupos, que eram formados por todo tipo de pessoa com as mais variadas profissões, se faziam presentes tanto nos tribunais quanto nos periódicos, literatura e jornais.
	Interessante notar que esses grupos, não lutavam apenas pela abolição, a liberdade e igualdade era também assunto recorrente e por isso, a autora destaca que a luta pela liberdade não foi concluída em 1888, considerando a necessidade de construção da igualdade.
	“Mulher, corpo e maternidade” de autoria de Maria Helena Pereira Toledo Machado, conta a difícil jornada da mulher escrava que era submetida a dupla jornada de trabalho e dupla sujeição. A mulher escrava, além de ser preferida na agricultura, era também constantemente estimulada a reprodução e portanto era de grande importância da economia. A mulher chegou a ser também o símbolo maior da campanha abolicionista, visto o dia a dia degradante vivido por elas. Estupro, gravidez indesejada, morte precoce dos filhos, tudo isso fazia até mesmo a própria mãe matar os filhos para não se sujeitarem a escravidão, que parecia ter um peso a mais para elas.
	No texto de João José Reis – “Revoltas escravas”, algo que achei extremamente interessante que eu não sabia, é o fato de que as primeiras e principais revoltas ocorreram por escravos que tinha experiências com guerras nos conflitos ligados à expansão do Islã, e a presença mulçumana era comum nesses episódios.
	Outro fato que me chamou atenção que era por mim desconhecido, é o fato de que alguns estudiosos sugerirem que a revolta dos Malês deu na Bahia continuidade ao jihad iniciado em 1804 em território haussá.
	Por fim, o texto “Teorias raciais” de Lilia Moritz Schwarcz foi o que mais gostei entre todos. Nota-se que o diferente era sinônimo de inferioridade em relação ao colonos e, mesmo tendo Paulo III confirmado a “humanidade” e a existência de “alma” nos nativos, criaram ao longo do tempo todo tipo de teoria degradante – bárbaros, crianças, degenerados, decaídos.
	O debate ganharia força com a publicação da obra de Charles Darwin – A origem das espécies (escola poligenista) -, e com o desenvolvimento da escola evolucionista que selecionava o desenvolvimento humano em uma pirâmide.
	Além disto, a evolução do debate e das teorias raciais cridas principalmente pelas “darwinistas raciais” ou “deterministas sociais”, trouxe o fortalecimento dos modelos de raça que eram entendidos como imutáveis e seu cruzamento uma degeneração racial e social. Daí advém o “ideal político” que previa a submissão ou eliminação das “raças inferiores”, que seria uma prática do darwinismo racial.
	Brasil era o grande laboratório de raças no século XIX, e diante de um movimento abolicionista, embora liberdade fosse umtema constante, igualdade se afastava cada vez mais da realidade brasileira. Surgia estudos que “comprovavam” a relação de crimes com a mestiçagem, a capacidade do negro era a todo momento questionada, e até mesmo ditos populares como: “A liberdade é negra, mas a igualdade é branca”, e “É preciso não ter preconceito; as raças são diferentes”, criava uma perspectiva que até hoje se mantém.

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