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1 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 Tutorial 9 OBJETIVO 1: CARACTERIZAR AS PRINCIPAIS DEFORMIDADES INFLAMATÓRIAS ARTICULARES DAS MÃOS E PUNHOS. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” 2016 Design de Órteses Corretivas para deformidades nos dedos Artropatia de Jaccoud: Relato de caso - Luiz Clóvis Bittencourt Guimarães 2014 DEFORMIDADES INFLAMATÓRIAS Na AR, as deformidades são decorrentes de três processos: degradação da cartilagem, a expansão da membrana sinoval da articulação devido a inflamação (que pode levar a erosão óssea) levando a frouxidão ou rompimento dos ligamentos. DEDO EM BOTEIRA/ DEFORMAÇÃO DE BOUTONNIÈRE - O dedo em botoeira é uma deformação em que a articulação central do dedo fica curvada em uma posição fixa para dentro (em direção à palma da mão) e a última articulação flexiona-se excessivamente para fora (em direção oposta à palma da mão). - A lesão do tendão extensor, conhecida como dedo em botoeira, normalmente é proveniente de algum trauma que faz uma laceração do aparelho extensor, ou seja, do tendão que nos ajuda a fazer o movimento de extensão do dedo. O tendão que deveria fazer com que a gente estique o dedo se rompe e geralmente por um mecanismo de trauma. - Essa doença muitas vezes resulta da artrite reumatoide, mas também pode ser resultado de uma lesão (como cortes profundos, luxação de articulações ou fraturas) ou osteoartrite. Pessoas com artrite reumatoide podem desenvolver a doença, como consequência de uma inflamação prolongada da articulação central de um dedo. - Conhecida também como dedo em botoeira, esta doença é uma deformidade característica do dedo, na qual a articulação interfalângica proximal do dedo (sua sigla é IFP), se flexiona para baixo e a articulação interfalângica distal (sua sigla é IFD) se hiperextende. - A deformidade em botoeira é causada por uma lesão do tendão extensor central do dedo. Na maior parte das vezes ocorre por traumatismo e o mecanismo é o de flexão da interfalângica proximal com o dedo em extensão. Logo após o trauma, e durante alguns dias, o paciente é capaz de estender a IFP graças a ação dos tendões extensores laterais. Em seguida, a cabeça da falange proximal penetra entre os tendões extensores laterais, como se estes fossem uma “casa de botão”, daí vem o nome dedo em botoeira. - Este tendão se lesiona com frequência quando um dedo estendido se flexiona a força, ou se desloca em direção à palma da mão, ou por laceração no dorso do dedo, próximo da articulação proximal. Esta doença também pode surgir como resultado de uma artrite inflamatória ou uma osteoartrite, o que pode resultar em um enfraquecimento e estiramento dos tecidos estabilizadores do mecanismo extensor. - Os sintomas mais comuns incluem inflamação e sensibilidade na articulação intermedial do dedo. Em lesões severas ou em casos que não são tratados rapidamente, o dedo pode flexionar-se na posição característica de botoeira. Nos casos de deformidade aguda, a articulação proximal não mantêm-se na posição normal por si mesma, somente é possível com a ajuda da outra mão. Nos casos de deformidade crônica, a articulação pode tornar-se dura e ficar nessa posição flexionada, não sendo possível endireitar-se nem com uso de força da outra mão. DEFORMIDADE EM PESCOÇO DE CISNE - A deformidade em pescoço de cisne consiste na hiperextensão da articulação interfalangiana proximal (IFP), https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-%C3%B3sseos,-articulares-e-musculares/dist%C3%BArbios-articulares/artrite-reumatoide-ar https://www.msdmanuals.com/pt/casa/les%C3%B5es-e-envenenamentos/luxa%C3%A7%C3%B5es/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-luxa%C3%A7%C3%B5es https://www.msdmanuals.com/pt/casa/les%C3%B5es-e-envenenamentos/fraturas/fraturas-dos-dedos https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-%C3%B3sseos,-articulares-e-musculares/dist%C3%BArbios-articulares/osteoartrite-oa 2 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 flexão da articulação interfalangiana distal (IFD) e, algumas vezes, flexão da articulação metacarpofalangiana (MCF) Deformidades em pescoço de cisne e em botoeira.) - Embora seja característica na artrite reumatoide, a deformidade em pescoço de cisne tem várias etiologias, como dedo em martelo não tratado, frouxidão dos ligamentos da face palmar da articulação interfalangiana proximal (p. ex., como pode ocorrer depois de febre reumática ou no lúpus eritematoso sistêmico com artropatia de Jaccoud), espasticidade dos músculos intrínsecos da mão, ruptura do tendão flexor da articulação interfalangiana proximal e má união de fratura da falange medial ou proximal. A incapacidade para corrigir ou compensar a hiperextensão da articulação IFP faz com que o fechamento do dedo seja impossível e possa causar incapacidade grave. - A verdadeira deformidade em pescoço de cisne não afeta o polegar, acomete apenas uma articulação interfalangiana. Contudo, pode ocorrer hiperextensão grave da articulação interfalangiana do polegar com a flexão da articulação metacarpofalangiana; isso é chamado de bico de pato, tipo Z (ziguezague) ou deformidade em ângulo de 90°. Com a instabilidade simultânea do polegar, a prensa é significativamente prejudicada. Essa deformidade pode normalmente ser corrigida pela artrodese interfalangiana com a reconstrução do tendão da articulação MCF. DEDO EM MARTELO - O dedo em martelo é uma deformidade do dedo que ocorre quando o tendão que estica o dedo (tendão extensor) rompe. Quando uma bola ou outros objetos atingem a ponta do dedo ou do polegar e dobra-a de forma forçada, a energia rompe o tendão que estende o dedo. A força da pancada pode chegar a arrancar um pedaço de osso junto com o tendão. A ponta do dedo ou polegar não consegue ser estendida. - O dedo em martelo ocorre geralmente quando há ruptura do tendão que prende o osso ao músculo da ponta do dedo. Este tendão (chamado o tendão extensor) é usado para endireitar a ponta do dedo. Geralmente, o tendão é rompido quando uma força faz com que a ponta do dedo se dobre para trás mais do que o normal. No dedo em martelo, a ponta do dedo fica caída: não pode ser esticada, a não ser que seja ajudada com outro dedo. Pode haver dor, inchaço e alteração de coloração na junta do dedo, principalmente se houver fratura associada, mas com frequência o único achado é a incapacidade de estender a ponta do dedo. Ocasionalmente, pode haver hematoma embaixo da unha. A unha pode até se desprender da prega de pele localizada na sua base. DESVIO ULNAR DOS DEDOS - A articulação metacarpofalangeana (MCF) é comumente afetada na artrite reumatóide (AR), sendo sujeita a grande estresse durante movimentos constantes na função diária, como ao abrir e fechar potes e torneiras e ao picar alimentos utilizando-se faca. - Com a progressão do processo reumatóide, o equilíbrio muscular normal é perdido e as estruturas do sistema ligamentar são atingidas, com conseqüente desenvolvimento de deformidades manifestadas por aumento do desvio ulnar. Uma vez ocorrido o desvio ulnar, as forças deformantes, desencadeadas por pressões externas (manuseio de objetos com movimentos na direção ulnar) e/ou internas (desequilíbrio das estruturas articulares e musculares) acentuarão a deformidade. - As pressões que contribuem para padrões de deformidade devem ser evitadas. A órtese de desvio ulnar tem como objetivo pro-mover aumento da função e neutralizar a tendência das articulações MCFs desviarem-se ulnarmente durante a preensão, promovendo também estabilidade articular ao compensar parcialmente a frouxidão ligamentar e capsular. - A órtese promove tracionamento dos dedos para seu alinhamento central e assim reduz o desvio ulnar. Em razão da relação entre o uso da mão e o desenvolvimento dessa deformidade, a órteseindicada deve ser utilizada durante as atividades diárias. 3 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 MÃO EM VENTANIA - No desvio ulnar do punho, os ossos metacarpianos se desviam para o lado radial enquanto os dedos se desviam para o lado ulnar. Essa deformidade, também chamada de mão de vela ou mão de ventania, agrava o desvio ulnar dos dedos. Normalmente, as primeiras articulações afetadas são as articulações metacarpofalangianas (MCF) e interfalangianas proximais (IFP) PUNHO EM DORSO DE CAMELO - Os punhos também são locais comuns de serem acometidos pela artrite reumatoide. E, nos punhos pode surgir um sinal, uma deformidade, que é o punho em dorso de camelo. - Os punhos sofrem deformidades, com um grande aumento de volume, e se apresentam em um formato semelhante ao dorso do camelo. - Todas essas deformidades levam o paciente a uma limitação funcional, ou seja, dificuldade em realizar suas atividades diárias, como pegar objetos, e quaisquer outras atividades que envolvam a movimentação das mãos. CONTRATURA DE DUPUYTREN - A contratura de Dupuytren é caracterizada por fibrose progressiva da fáscia palmar que pode levar a contraturas que puxam um ou mais dedos em flexão na articulação MCP. - Os pacientes inicialmente podem notar lesões nodulares na fáscia palmar, que podem ou não ser dolorosas, geralmente afetando o quarto e o quinto dedos, com enrugamento e amarração da pele sobrejacente. Quando os pacientes relatam dor nessa área, a dor geralmente desaparece em alguns meses. Com o tempo, o espessamento da fáscia palmar pode levar à perda de extensão total. LÚPUS - Sintomas articulares, que vão desde dores intermitentes nas articulações (artralgias) a inflamação repentina de múltiplas articulações (poliartrite aguda), ocorrem em cerca de 90% das pessoas e podem existir por anos antes de outros sintomas se manifestarem. - Nos casos em que a doença está presente há um longo período, podem ocorrer folga e deformidades articulares acentuadas (artropatia de Jaccoud), mas são raras. No entanto, a inflamação das articulações geralmente é intermitente e não danifica as articulações. ARTROPATIA DE JACCOUD (AJ) - É uma deformação do tipo não-erosiva identificada pela primeira vez em pacientes com febre reumática. Mais tarde, também foi descrito no lúpus eritematoso sistêmico (LES) e em outras doenças, como a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), esclerose sistêmica. - Esta forma de artropatia provoca graves deformidades principalmente nas articulações das mãos com subluxações múltiplas, que originam as lesões em “pescoço de cisne” e em “boutonniere”, além da distorção dos polegares em “Z”, e derivação ulnar do metacarpo-falangeana juntas3 , que se assemelham as artropatias do LES e AR, os principais diagnósticos diferenciais. Ao contrário da Artrite Reumatóide, as articulações na AJ sofrem desvios devido à frouxidão de ligamentos e cápsulas, além de fibrose periarticular. Essas deformidades são redutíveis e geralmente causam pouca ou nenhuma dor e a função articular é bem preservada. OBJETIVO 2: DESCREVER A FISIOPATOLOGIA, FATORES DE RISCO E COMPLICAÇÕES SISTÊMICAS ASSOCIADAS A ARTRITE REUMATOIDE. Clínica médica – USP Reumatologia – Harrison INTRODUÇÃO - A artrite reumatóide (AR) é uma doença auto-imune de etiologia desconhecida, caracterizada por poliartrite periférica, simétrica, que leva à deformidade e à destruição das articulações por erosão do osso e cartilagem1 (D). Afeta mulheres duas vezes mais do que os homens e sua incidência aumenta com a idade. - Em geral, acomete grandes e pequenas articulações em associação com manifestações sistêmicas como rigidez matinal, fadiga e perda de peso. Quando envolve outros órgãos, a morbidade e a gravidade da doença são maiores, podendo diminuir a expectativa de vida em cinco a dez anos - A artrite reumatóide é uma doença inflamatória crônica, prevalente no mundo todo acometendo cerca de 1% da população mundial, portanto, cerca de 2 milhões de pessoas só nos Estados Unidos. É uma doença com quadro clínico característico em sua apresentação clássica e patogênese complexa. - A artrite reumatóide é uma doença inflamatória por excelência. O elemento clínico dominante e aquele relacionado à maior morbidade da doença é a presença de artrite, ou seja dos fenômenos clássicos da inflamação (dor, calor, rubor, tumor e perda de função) nas mais diferentes articulações diartrodiais. - É uma doença crônica, com fenômenos inflamatórios persistentes, duração maior do que seis semanas, debilitante e com acentuado caráter sistêmico, pois sinais e sintomas gerais como febre, mal-estar, emagrecimento, adinamia, além do comprometimento de outros órgãos ou sistemas, podem estar presentes. - Embora sua etiologia permaneça desconhecida, o envolvimento do sistema imunológico, de processos auto- imunes, está bem definido, caracterizado pela presença de auto anticorpos como o fator reumatoide, que é um auto 4 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 anticorpo padrão, um anticorpo dirigido contra um outro anticorpo, ou seja, uma imunoglobulina, geralmente IgM dirigida contra a porção constante de uma IgG. - A importância de um componente hormonal é indicada pela maior incidência da doença em mulheres (proporção de pelo menos três mulheres para cada homem com artrite reumatóide), no período da pré-menopausa ou pós-parto, e melhora dos sintomas durante a gestação. Considera-se como fator protetor o uso de pílulas anticoncepcionais, sugerindo-se que as oscilações hormonais das mulheres têm implicação na doença. - Em relação aos fatores ambientais, estudos popula- cionais e em gêmeos sugerem fortemente a existência de fatores não genéticos envolvidos no desenvolvimento da artrite reumatóide, como o tabagismo e algumas infecções, particularmente aquelas causadas por EBV (Epstein-Barr), parvovírus B-19 e três bactérias: M. tuberculosis, Escherichia coli e Proteus mirabilis, como agentes desencadeadores da doença. É importante res- saltar que nenhum destes ou de outros agentes foi considerado agente causal. Fatores como o estresse e a dieta também já foram estudados e parecem contribuir mais para a gravidade da doença. - Classicamente, a artrite reumatóide afeta de modo predominante as pequenas articulações periféricas de forma simétrica e aditiva, podendo evoluir para a incapaci- dade física e significativa limitação da qualidade de vida. FATORES DE RISCO - O sedentarismo é prejudicial para a saúde como um todo. Especificamente em relação às doenças reumáticas, ele gera enfraquecimento muscular: Quanto mais o paciente for sedentário, mais a sobrecarga recai sobre as articulações. Por outro lado, quanto mais forte estiverem os músculos, mais eles sustentam o corpo e menos agridem as articulações. - Dessa maneira, o sedentarismo provoca redução da condição física, deixando o paciente predisposto ao aparecimento de lesões e inflamações. Os exercícios físicos liberam hormônios, importantes para o metabolismo e substâncias anti-inflamatórias que agem nos músculos, articulações e tendões. - A obesidade pode contribuir para o aparecimento de alguns sintomas das doenças reumáticas: O sobrepeso pode causar dor lombar, desgaste e dor nas articulações, decorrentes do excesso de peso nas articulações. - Uma alimentação inadequada, rica em gorduras e alimentos inflamatórios contribui para o agravamento do quadro de inflamação. Ela pode, portanto, não somente levar ao surgimento de doenças reumáticas como, por exemplo, artrite reumatoide, como também piorar os seus sintomas. - O tabagismo é considerado um fator de risco para o surgimento de doenças reumáticas como artrite reumatoide e lúpus, assim como para a piora dos seus sintomas. estresse; ansiedade; depressão; alterações climáticas bruscas; genética. - O desenvolvimento das DAIs é influenciado por fatores hormonais, ambientais e imunológicos, que atuam em conjunto sobre indivíduos geneticamente suscetíveis. Estudos ao longo do tempo têm mostrado que a superposição desses fatores é determinante para o desenvolvimento da AR. - Calcula-se em 60% a contribuição genética para o desenvolvimento da AR. Os fatores genéticos estão fortemente associados à positividade do anticorpo antipeptídio cíclico citrulinado (anti-CCP) e à resposta do paciente ao tratamento. -Em relação ao sexo, sabe-se que a AR afeta três vezes mais mulheres do que homens, e diversos estudos têm relacionado o sexo feminino com o desenvolvimento de formas mais graves da doença. -Estudos sugerem a influência de infecções por microrganismos na fisipatologia da AR por meio de mecanismos de mimetismo molecular. Entre os microrganismos mais estudados estão o Proteus mirabilis e o vírus Epstein-Barr. - Por sua vez, já se encontra bem estabelecida a relação entre o uso de tabaco e a maior suscetibilidade ao desenvolvimento da AR em pacientes HLA-SE positivos. Klareskog et al. demonstraram que, em pacientes portadores do HLA-SE, o cigarro acelera as reações de citrulinização em proteínas pulmonares, o que dispara a produção de autoanticorpos. O cigarro também afeta o curso da AR, elevando o aparecimento de nódulos reumatoides, bem como pode alterar o limiar da dor percebida pelo paciente. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA - A etiologia, ou seja, as causas da artrite reumatóide, ainda não são completamente conhecidas. Há evidências da interação de vários fatores para o desenvolvimento da doença. São eles: fatores genéticos, do hospedeiro (hor- monais etc.) e ambientais (agentes infecciosos, tabagis- mo, entre outros). De maneira geral, podemos dizer que existem indivíduos suscetíveis geneticamente à AR, que são expostos a patógenos desconhecidos (antígenos), e que isto gera uma resposta imunológica persistente e desregulada nas articulações sinoviais. - O desequilíbrio entre as citocinas pró-inflamatórias e as anti-inflamatórias desempenham um papel importante na 5 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 doença: interleucinas e fatores de crescimento promovem a diferenciação de células Th17, suprimindo a diferenciação de células T reguladoras. Isso promove um status pró- inflamatório que contribui para a manutenção da autoimunidade e destruição articular. - O alvo-primário da doença é a membrana sinovial, formada por tecido conjuntivo frouxo e camadas de células internas. Esse ataque às células sinoviais as torna mais espessas por proliferação celular de sinoviócitos e pela invasão de células do sistema linfo-hematopoiético. Há ainda hiperplasia e proliferação vascular, neoangiogênese e infiltrado inflamatório intenso. - Ainda na região da membrana sinovial, forma-se um tecido granulomatoso com células gigantes, fibroblastos e macrófagos denominado pannus. Esse tecido pode invadir e induzir degradação do tecido conjuntivo, perda de condrócitos e erosões ósseas, por meio da estimualação da sobrevida de osteoclastos sobre a matriz óssea. Há abundância de células TCD4+ nos folículos linfoides sinoviais, enquando TCD8+ são mais numerosos nos neovasos. - Há ainda menos células B nas camadas sinoviais profundas. Essas células, em sua maioria, estão ativadas expressando o MHC II e receptores de TNF-alfa, bem como secretando citocinas pró-inflamatórias. Estas, especialmente o TNF-alfa (que, aliás, inibe as células T regulatórias) e as IL--1-beta e IL- 6, são as principais responsáveis pela inflamação crônica. - O alvo primário da inflamação na AR é a membrana sinovial, que sofre intensa transformação. A membrana sinovial é constituída de tecido con- juntivo frouxo e, normalmente, uma a duas camadas de células revestem sua superfície mais interna. Na AR, a membrana sinovial torna-se mais espessa às custas de um aumento no número de suas células constituintes (sinoviócitos do tipo A e B), e por uma invasão maciça de diversas células do sistema linfo-hematopoiético. - O líquido sinovial tem aumento de volume e celularidade, com abundância de polimorfonucleares – raramente encontradas no tecido sinovial normal, bem como células T, macrófagos, células dendríticas e células B. Células do sistema imune inato também exercem papel na inflamação. Macrófagos, mastócitos e células NK são encontradas na membrana sinovial; enquanto neutrófilos são encontrados principalmente no fluido sinovial. - Macrófagos são os efetores principais da sinovite. Eles liberam citocinas, intermediários reativos de oxigênio e nitrogênio, produzem enzimas que degradam a matriz celular, além de fazerem fagocitose e apresentação de antígenos. São ativados por receptores toll-like e citocinas. Já os neutrófilos contribuem para a sinovite por meio da síntese de prostaglandinas, proteases, e reativos intermediários de oxigênio. Mastócitos – ativados pelos receptores de toll-like – que produzem altos níveis de aminas vasoativas, citocinas, quimiocinas e proteases também exercem papel. - As células do tipo A são semelhantes a macrófagos, e as do tipo B, a fibroblastos; estas últimas são as responsáveis pela síntese do líquido sinovial. - Nas camadas mais profundas da membrana sino- vial da AR, observa-se um acúmulo de vasos neoforma- dos e, com freqüência, aglomerados linfóides muito se- melhantes aos folículos e aos vasos/vênulas de um linfonodo. Na região da membrana sinovial em íntima relação com a cartilagem articular e com o osso adjacente, observa-se um tecido granulomatoso com células gigantes, fibroblastos e macrófagos. Recebe o nome de Pannus e tem potencial de invadir e induzir degradação, perda de condrócitos e erosões ósseas, normalmente pela secreção de enzimas proteolíticas ou pela ação direta sobre condrócitos e osteoclastos. - Os folículos linfóides observados na sinóvia da AR são ricos em células T CD4+8-10. Macrófagos são encontrados tanto nos folículos como ao seu redor. As células T CD8+, assim como outras células plasmáticas, são mais freqüentes entre os neovasos. Linfócitos B são mais raros nas camadas profundas da sinóvia. A maioria des- tas células está em sua forma ativada, isto é, expressam na membrana moléculas ou antígenos do CMH (com- plexo maior de histocompatibilidade) tipo II (50%), receptores de TNF (fator de necrose tumoral) (80%), en- tre outros, e produzem citocinas pró-inflamatórias. - O líquido sinovial também se transforma na AR com aumento de volume e celularidade. As células mais abundantes no líquido sinovial são os polimorfonucleares, que raramente são encontrados na membrana sinovial, seguidos das células T, macrófagos, células dendríticas e células B em pequenas quantidades. - Pode-se dividir os principais even- tos da patogênese nos tópicos a seguir: RECRUTAMENTO CELULAR - A grande quantidade de células que invade a membrana sinovial na AR é originária do sistema linfo-hematopoiético, o que implica a existência de um processo aumentado de recrutamento celular e de retenção local dessas células. A membrana sinovial sofre intensa neovascularização por meio da ação de citocinas angiogênicas, como o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), facilitando assim o aporte celular. - Além disso, aumenta a expressão de moléculas de adesão nos linfócitos, polimorfonucleares, monócitos e nas células endoteliais, o que facilita a adesão e a migra- ção celular local (VCAM-1, ICAM-1 e E-selectina têm sua expressão aumentada pela atuação local de IL-1 e TNF). Fatores quimiotáticos também são importantes e incluem representantes de duas grandes famílias de citocinas: “C-X- C(alfa)”, comopor exemplo IL-8 (qui- miotática predominantemente para neutrófilos), e “C- C(beta). 6 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 RESPOSTA IMUNE LOCAL - Há dois tipos de linfócitos envolvidos na patogênese da AR: o linfócito T e o linfócito B. As células T podem ser CD8+ (citotóxicas) ou CD4+(helper). Na membrana sinovial, 40% das células são linfócitos T, predominantemente CD4+, que são células auxiliadoras que regulam a resposta imune. São capa- zes de estimular uma resposta imune específica e adequada. - A análise das células CD4+, que infiltram a sinóvia, indica que a maioria é do subtipo Th1. Ou seja, são dependentes do estímulo das citocinas IL-12 e IFN-gama. Causarão uma resposta mediada por células, e não por anticorpos. Entretanto, no microambiente articular, as principais citocinas – IL-1 (interleucina 1) e TNF-alfa (fator de necrose tumoral) envolvidas no processo de destruição/lesão da articulação e perpetuação da inflamação não são produzidas pelos linfócitos, mas por macrófagos ativados. - Na membrana sinovial da AR, os linfócitos T CD4+ (helper) estão normalmente ativados, isto é, chegam à sinóvia já expressando grande quantidade de antígenos de superfície do CMH II (HLA-DR) e outros marcadores de superfície, indicadores de que, em sua maioria, são células de memória, e que portanto já foram expostas a antígenos que deflagraram sua ativação, provavelmente em outros sítios distantes da articulação. Estes linfócitos desempenhariam um papel fundamental no desencadear da doença e na migração articular das células, porém teriam papel patogênico secundário como efetores de lesão. - Os linfócitos B são responsáveis pela produção do fator reumatóide, um auto anticorpo que pode formar imunocomplexos, ativar complemento, atraindo polimorfonucleares para a articulação. Os neutrófilos raramente são vistos na membrana sinovial. Passam por ela e são abundantes no líquido sinovial. Têm papel importante na degradação da cartilagem, liberando radicais livres derivados do oxigênio e enzimas proteolíticas. Outras células fagocitárias: como macrófagos e monócitos também estão presentes. Cerca de 20% das células da membrana sinovial são macrófagos que produzem várias citocinas importantes no processo patogênico da AR. PAPEL DAS CITOCINAS - Citocinas são glicoproteínas solúveis que servem de mensageiros químicos entre células e estão envolvidos em conhecidos processos básicos como inflamação, crescimento e diferenciação celular e regulação da resposta imune. Normalmente, são de expressão temporária em um microambiente, mas na AR têm expressão prolongada e contínua. - O TNF-alfa e a IL-1 são considerados, hoje, elemen- tos- chave na patogênese da AR. Ambos estão presentes na sinóvia e no líquido sinovial. Estudos mostram que são produzidas sobretudo por células que expressam na superfície marcadores de macrófagos. Sabidamente, IL- 1 está implicada na destruição articular. Na membrana sinovial, a síntese de IL1 é quase totalmente depen- dente do TNF-alfa, configurando um processo de retroalimentação positiva. Além disso, sabe-se que várias outras citocinas pró- inflamatórias estão ligadas à síntese do TNF-alfa. - Estas duas citocinas induzem um fenótipo pró-in- flamatório nas outras células da membrana sinovial, es- timulam a ativação dos linfócitos B e T, quimiotaxia, angiogênese e produção de metaloproteinases. Outras citocinas estão envolvidas, contribuindo para a complexa fisiopatologia da doença, tais como IL- 6, IL-8, IL-12, IL-15, IL- 17, IL-18, sistema RANK, RANK-L e osteoprotegerina e fatores de crescimento. QUADRO CLÍNICO - O quadro clínico da artrite reumatóide é clássico e caracterizado principalmente por artrite simétrica e aditiva das articulações periféricas. Com frequência há sinais flogísticos nas articulações – dor, edema, rubor e alteração da temperatura. Os sintomas são mais intensos pela manhã logo ao acordar e após longos períodos de inatividade. Esses sintomas persistem por mais de uma hora (rigidez matinal prolongada), sendo que a duração está positivamente associada com o grau de inflamação articular. - Com frequência, o quadro articular característico da artrite reumatóide é precedido de manifestações gerais como fadiga, mialgia e febre. O início da doença ocorre, habitualmente, entre os 20 e 60 anos de idade, com a maior incidência entre 35 e 45 anos. - A incidência de AR aumenta entre os 25 e 55 anos de idade, quando em seguida atinge um platô até os 75 anos e depois diminui. Os sintomas inicias da AR resultam da inflamação das articulações, tendões e bursas. Os pacientes, em geral, se queixam de inchaço matinal nas articulações, que dura mais de uma hora e melho- ra com a atividade física. As articulações inicialmente envolvidas são as pequenas articulações das mãos e pés. MANIFESTAÇÕES ARTICULARES - As mãos são envolvidas na grande maioria dos casos, afetando particularmente os punhos, metacarpofalangeanas (MCF) e interfalangeanas proximais (IFP). Convém pontuar que muito raramente a AR envolve as interfalangeanas distais (IFD) e seu acometimento deve levantar suspeita de diagnósticos diferenciais, como a artrite psoríaca. - O quadro clínico, desde o seu início caracterizado por dor e edema das articulações, é frequentemente poliarticular, envolvendo, em especial, as pequenas articulações de mãos e pés (70% dos casos), embora qualquer uma das 68 articulações diartrodiais do organismo seja passível de acometimento. Em cerca de um terço dos pacientes, a doença pode estar limitada a uma ou duas articulações, geralmente um ou ambos os joelhos. 7 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 - Na maioria dos pacientes, o acometimento articular é simétrico e aditivo, como descrito nos critérios de classificação da doença. A rigidez articular (enrijecimento ou sensação de inchaço) é observada principalmente pela manhã, após o período de inatividade noturna (rigidez matinal) e melhora com a movimentação. A presença da rigidez matinal prolongada (maior ou igual a uma hora) também é um dos critérios de classificação da artrite reumatóide. Sua duração é valorizada como índice de atividade inflamatória, ou seja, rigidez matinal de maior duração indica maior intensidade do processo inflamatório. - As articulações mais acometidas nos membros superiores são as do punho, metacarpofalangianas e interfalangianas proximais. Ao contrário da artrite psoriática e da osteoartrose, o envolvimento das interfalangianas distais é incomum. Ao conjunto de punho alargado pela sinovite, atrofia dos músculos interósseos das mãos e aumento de volume das metacarpofalangianas e/ou interfalangianas proximais, com um aspecto característico, chamamos de mão reumatóide. - As mãos são a principal área de acometimento. Classicamente, inicia-se com edema das MCF’s e IFP’s. Na doença mais avançada, desenvolvem-se deformidades nessa região: desvio ulnar, dedos em pescoço de cisne (hiperextensão das IFP’s) e em boutonnière (hiperextensão das IFP’s) podem se deselvolver secundários a inflamação articular de longo prazo. - Deformidades típicas, embora não patognomônicas, são observadas na evolução da doença como desvio ulnar dos dedos, dedo em “pescoço de cisne” (hiperextensão da articulação interfalangiana proximal e flexão da interfalangiana distal) e boutonniere (flexão da interfalangiana proximal e hiperextensão da interfalangiana distal). - Em relação aos punhos, há comprometimento na maioria dos pacientes com AR e o desvio radial é frequente. Além disso, pode haver síndrome do túnel do carpo secundária à compressão do nervo mediano devido ao edema articular. Já o envolvimento das grandes articulações, como joelhos, tornozelos, quadris e ombros é comum. -Asuperfície articular é totalmente afetada si- metricamente. Ou seja, tanto o acometimento da articulação é simétrico como também a superfície articular é acometida simetricamente. Isso é uma pista para a diferenciação entre AR e osteoartrite: nesta, apenas um dos lados da articulação está afetado, ao passo que o acometimento na AR é bilateral. - Compressões neurológicas periféricas também po- dem ocorrer. São decorrentes, por exemplo, do processo inflamatório nos punhos e tendões, particularmente nos tendões flexores, podendo causar compressão do nervo mediano com desenvolvimento da síndrome do túnel do carpo. De maneira similar, pode ocorrer com- pressão do nervo ulnar (envolvimento do canal de Guyon, ou no cotovelo) e síndrome do túnel do tarso (compressão do nervo tibial posterior). - Em relação ao cotovelo, artrite é frequente, verificando-se quadro doloroso pouco expressivo e significativa limitação funcional. - Os membros inferiores, joelhos e pés também são frequentemente acometidos, inclusive nas fases iniciais da doença. Observa-se artrite nos tornozelos, metatarsofalangianas e interfalangianas dos artelhos, evoluindo com deformidades como desabamento do arco transverso e longitudinal dos pés, desvio e desalinhamento dos artelhos com valgo do primeiro artelho, sobreposição de interfalangianas e dedos em martelo (hiperflexão da articulação distal do artelho). Estas deformidades, embora comuns e características, não são patognomônicas. - Quanto ao envolvimento do joelho, caracteriza-se pela formação de grandes derrames e de cistos sinoviais – particularmente o chamado cisto de Baker, que pode se estender para a fossa poplítea, panturrilha e face posterior da coxa. Seu eventual rompimento pode causar quadro clínico semelhante a tromboflebite. - A artrite reumatóide também acomete o esqueleto axial. A frequência do envolvimento da coluna cervical varia entre 17 e 86%, dependendo da seleção de pacientes, da técnica e dos critérios radiológicos empregados. Quadros de compressão medular e mesmo morte súbita são observados como consequência principalmente da subluxação atlanto- axial. O envolvimento da coluna lombar e sacroilíaca é raro. - A articulação temporomandibular é comprometida em mais de 50% dos pacientes, tornando difícil a mas- tigação, e pode ser causa de dor referida no ouvido mé- dio e garganta. Artrite da articulação cricoaritenóidea pode levar à rouquidão e mesmo à obstrução grave das vias áreas superiores. A artrite esternoclavicular ocorre em 30% dos pacientes, com radiografia normal, e só a tomografia irá mostrar anormalidades. - Além dos sintomas articulares, manifestações extra- articulares são observadas em aproximadamente 50% dos pacientes, sendo a síndrome de Sjögren a mais comum. Outra manifestação extra-articular típica da AR é os nódulos reumatoides, que resultam da vasculite de pequenos vasos, e a consequente necrose com proliferação de fibroblastos e histiócitos epiteliais. MANIFESTAÇÕES EXTRA-ARTICULARES - Manifestações extra-articulares podem se desenvolver duran- te o curso clínico da AR, mesmo antes do aparecimento da artrite. Os pacientes com maior tendência a desenvolver doença extra-articular apresentam uma história de tabagismo, aparecimento precoce de incapacidade física significativa e teste positivo para o FR sérico. Nódulos subcutâneos, síndrome de Sjogren 8 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 secundária, nódu- los pulmonares e anemia estão entre as manifestações extra-articu- lares mais frequentemente observadas. - As manifestações extra-articulares podem ocorrer em até 20% dos pacientes e afetar pele, tecido subcutâneo, olhos, pericárdio, coração, pulmões e pleura, sistema nervoso central e periférico, baço e fígado, vias aéreas respiratórias superiores e inferiores, incluindo cordas vocais, laringe e passagens nasais. Sintomas gerais de febre e emagrecimento também podem ser identificados, assim como a associação de uma anemia de doença crônica. São fatores de risco para estas manifestações: fator reumatóide positivo, HLADRB10401, doença articular grave e presença de nódulos. - CONSTITUCIONAL: Estes sinais e sintomas incluem perda de peso, febre, fadiga, mal- -estar, depressão e, nos casos mais severos, caquexia; eles geralmente refletem um alto grau de inflamação e podem até preceder o apare- cimento de sintomas articulares. Em geral, a presença de uma febre > 38,3oC (101oF), a qualquer momento durante o curso clínico, deverá aumentar a suspeita de vasculite sistêmica (ver adiante) ou infecção. - PELE E SUBCUTÂNEO: nódulos subcutâneos são observados em 30% dos pacientes. Vasculites cutâneas, in- cluindo tanto lesões periungueais, úlceras cutâneas, pioderma gangrenoso e eritema palmar, assim como quadros mais graves com isquemia, necrose e perda tecidual também são descritos. Os nódulos subcutâneos ocorrem em 30 a 40% dos pacientes e mais comumente naqueles com os mais altos níveis de atividade da doença: o epítopo compartilhado relacionado com a doença (ver adiante), um teste positivo para o FR sérico e evidência radiográfica de erosões articulares. Quando palpáveis, os nódulos são geralmen- te firmes, não sensíveis e aderentes ao periósteo, tendões ou bursas, se desenvolvendo em áreas do esqueleto sujeitas ao trauma repetido ou irritação, como o antebraço, proeminências sacrais e o tendão de Aquiles. Eles também podem ocorrer nos pulmões, pleura, pericár- dio e peritônio. Os nódulos são benignos, embora possas estar asso- ciados à infecção, ulceração e gangrena. - OLHOS: o achado mais comum é a ceratoconjunti- vite sicca, observada em 10 a 35% dos pacientes. Epis- clerite, esclerite e nódulos coróides e retinianos também são relatados. - CORAÇÃO E PERICÁRDIO: pericardite raramente evolui com sintomas. Há relatos de que 50% dos pacientes apresentam derrame pericárdico no ecocardiograma. Miocardite, nódulos no sistema de condução e vasculi- te coronária também são referidos. Na atualidade, está amplamente reconhecido o aumento da incidência de doenças cardiovasculares nos pacientes reumatóides, sendo a doença coronária uma das principais causas de morte prematura nestes pacientes. O sítio mais frequente de envolvimento cardíaco na AR é o pericárdio. Entretanto, manifestações clínicas de pericardite ocorrem em menos de 10% dos pacientes com AR, apesar do fato de que o en- volvimento pericárdico pode ser detectado em quase metade destes pacientes por ecocardiograma ou estudos de autópsia. A miocardiopatia, outra manifestação clinicamente importante da AR, pode resultar da miocardite granulomatosa ou necrosante, doença arterial coronária ou disfunção diastólica. Raramente, o músculo cardíaco poderá conter nódulos reu- matoides ou estar infiltrado com amiloides. A regurgitação mitral é a anormalidade valvular mais comum da AR, ocorrendo em maior frequência do que na população geral. - PULMÃO: pode ser afetado das seguintes formas: doença pleural (mais comum e com evolução favorá- vel), nodulose pulmonar, fibrose intersticial e bronquiolite obliterante. A síndrome de Caplan foi descrita originalmente nos mineiros de carvão de Welsh, e consiste na associação da AR e nódulos pulmonares múltiplos (granulomas reumatóides) em pacientes com pneumoconiose. A doença pleural, a manifestação pulmonar mais comum da AR, pode produzir dor torácica pleurítica e dispneia, assim como fric- ção e efusão pleural. Efusões pleurais tendem a ser exsudativas com níveis crescentes de monócitos e neutrófilos. A doença pulmonar intersticial (DPI) também pode ocorrer em pacientes com AR e é anunciada por sintomas de tosse seca e encurtamento progres- sivo da respiração. - SISTEMA NERVOSO CENTRAL E PERIFÉRICO: neuropatiasperiféricas por compressão (p. ex., túnel do carpo), compressão medular por desarranjo cervical (subluxa- ção C1-C2), mononeurites múltiplas (vasculite) e rara- mente vasculite de sistema nervoso central. - BAÇO E FÍGADO: síndrome de Felty: esplenomegalia, febre, neutropenia e úlcera de membros inferiores po- dem ocorrer durante a evolução da artrite reumatóide. Alterações das enzimas hepáticas são comumente rela- cionadas às medicações usadas ou ao desenvolvimento de esteatose pelo uso de corticosteróides. - VIAS AÉREAS SUPERIORES: rouquidão por acometi- mento das cricoaritenóideas etc. Obstrução laríngea é rara mas pode ocorrer. - ANEMIA: achado comum e com múltiplas causas, desde sangramentos por uso crônico de AINH e deple- ção de ferro até anemia de doença crônica. Uma anemia normocítica normocrômica geralmente se desenvolve em pacientes com AR e é a anormalidade hematológica mais comum. O grau de anemia tem relação direta com o grau de inflamação, se correlacionando com os níveis séricos de proteína C-reativa (PCR) e com a taxa de sedimentação dos eritrócitos (TSE). A contagem de plaquetas também pode estar elevada na AR, como uma reação de fase aguda. A trombocitopenia mediada pelo sistema imune é rara nesta doença. - LINFOMA: Amplos estudos em coortes mostraram um aumento de duas a qua- tro vezes no risco de linfoma em 9 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 pacientes com AR, quando compa- rados com a população geral. O tipo histopatológico mais comum de linfoma é o linfoma difuso das grandes células B. O risco de de- senvolver linfoma aumentará se o paciente apresentar altos níveis de atividade da doença ou síndrome de Felty. - Além das manifestações extra-articulares, diversas condições asso- ciadas à AR contribuem para as taxas de morbidade e mortalidade da doença. É importante mencioná-las, pois afetam o controle da doença crônica. - A causa mais comum de morte em pacientes com AR é a doença cardiovascular. A incidência de doença arterial coronária e da aterosclerose da carótida é mais elevada em pacientes com AR do que na população geral, mesmo sendo feito o controle dos fatores de risco cardíacos tradicionais, como hipertensão, obesidade, hipercolesterolemia, diabetes e tabagismo. Além disso, a insuficiência cardíaca con- gestiva (incluindo ambas as disfunções sistólica e diastólica) ocorre em uma taxa aproximadamente duas vezes maior na AR do que na população geral. - A osteoporose é mais comum em pacientes com AR do que em uma população controle de idade e sexo semelhante, com taxas de prevalên- cia de 20-30%. O ambiente inflamatório da articulação provavelmente se espalha para o resto do corpo e promove perda óssea generalizada por meio da ativação dos osteoclastos. O uso crônico de glicocorticoi- des e a imobilidade relacionada com a incapacidade também contri- buem para a osteoporose. - Hipoandrogenismo: Homens e mulheres, em período pós- menopausa, com AR apre- sentam níveis médios inferiores de testosterona no soro, hormônio luteinizante (LH) e desidroepiandrosterona (DHEA) do que as po- pulações controle. Portanto, estabeleceu-se a hipótese de que o hipo- androgenismo possa desempenhar um papel na potegênese da AR ou aparecer como consequência da resposta inflamatória crônica.
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