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CONTABILIDADE DE CUSTOS AULA 6 Prof. Ivanildo Viana Moura 2 CONVERSA INICIAL Depois de todos os assuntos que vimos no decorrer da disciplina, vamos falar um pouco sobre as formas de custeamento. Trabalharemos então os seguintes tópicos: 1. Custeamento por ordem; 2. Custeamento por processos; 3. Custeamento em ambientes de produção conjunta; 4. Contabilidade de custos e o Pronunciamento CPC 16 – Estoques; 5. Perdas na produção e administração da qualidade. Aproveite a leitura e pratique os conhecimentos adquiridos resolvendo os exercícios. Lembre-se: a melhor maneira de aprender é praticando. CONTEXTUALIZANDO Você já parou para pensar que as empresas podem trabalhar num mesmo ramo de atividade, mas oferecendo seu produto de forma diferente para os consumidores? De que forma? Bem, vamos pensar no seguinte contexto: uma indústria fabrica os mesmos produtos em série, todos padronizados e oferecidos a um público geral, que irá adquirir esses itens sem fazer exigências em relação a qualquer especificidade. Por outro lado, digamos que uma indústria do mesmo porte oferece o mesmo tipo de produto, mas com uma diferença: seus produtos são feitos sob encomenda. É o cliente que solicita as características que devem ter os bens que ele está adquirindo, e a empresa irá trabalhar para atender esse cliente. Também temos que levar em consideração o fato de que, algumas vezes, no processo de fabricação, uma mesma matéria-prima pode dar origem a vários produtos, e é necessário saber como tratar os custos relacionados a esses processos. Já havia pensado nisso? Vamos então agora entender um pouco mais sobre esse assunto. TEMA 1 – CUSTEAMENTO POR ORDEM Quando se fala em custeamento, entende-se a forma como a empresa irá contabilizar os seus custos, ou seja, a forma como ela irá tratar os gastos 3 incorridos no processo de fabricação. Nos temas vistos até o momento, falávamos de custos relacionados a indústrias de produtos padronizados, mas e quando estamos nos referindo à produção por ordem, como seria feita a alocação desses gastos? Para falar sobre isso, é importante que, antes, saibamos o que é o custeamento por ordem. Segundo Dubois, Kulpa e Souza (2009, p. 109): Neste sistema, cada produto é elaborado sob as especificações dos clientes, o que torna cada ordem de produção ou lote diferente dos demais. Na área de serviços isto é típico, pois cada um deles será realizado de acordo com as necessidades do cliente. [...] Para cada encomenda recebida dos clientes, abrir-se-á uma ordem de produção (ou de serviço), em que cada elemento do custo é acumulado separadamente, ou, ainda, sob as instruções específicas de produção ditadas pelo Departamento de Programação e Controle de Produção (PCP). Conforme contextualizado pelos autores supracitados, no sistema de ordem de produção, a empresa somente produz o que lhe é encomendado, ou seja, os clientes entram em contato e solicitam a produção de um determinado bem ou serviço de acordo com suas especificidades, devendo apresentar as características que foram solicitadas quando da contratação da empresa. De acordo com Martins (2010, p. 144), por esse método de custeamento “se produz atendendo encomendas dos clientes ou, então, produz também para venda posterior, mas de acordo com determinações internas especiais, não de forma contínua, já se terá incluído entre as de produção por ordem”. De acordo com o autor supracitado, “trabalham normalmente por ordem as indústrias pesadas, fabricantes de equipamentos especiais, algumas indústrias de móveis, empresas de construção civil, confecção de moda por estação climática etc.” (Martins, 2010). De um modo geral, o que determina a forma como o produto será fabricado é a ordem de produção, a qual, de acordo com Dubois, Kulpa e Souza (2009, p. 109) “é um documento emitido que autoriza a fabricação e com ela dá-se o início da produção”. Complementarmente, Martins (2010, p. 145) explana de forma mais profunda sobre a ordem de produção, colocando esta como um primeiro objeto de custeio, da qual, posteriormente, os custos serão transferidos para os produtos: Na produção por ordem, os custos são acumulados numa conta específica para cada ordem ou encomenda. Essa conta só para de receber custos quando a ordem estiver encerrada. Se terminar um período contábil e o produto estiver ainda em processamento, não há 4 encerramento, permanecendo os custos até então incorridos na forma de bens em elaboração, no ativo; quando a ordem for encerrada, será transferida para estoque de produtos acabados ou para Custo dos Produtos vendidos, conforme a situação. Dessa forma, as ordens de produção são contas que, além de dar início à produção, também devem representar uma conta específica na qual os custos são alocados, sendo esses gastos todos aqueles que incorrerem durante o processo de fabricação. Conforme exposto por Dubois, Kulpa e Souza (2009, p. 109). Tais ordens de produção são emitidas para o início da execução da encomenda ou serviço. São necessárias para que a empresa consiga produzir com eficiência o que for designado, e ainda servirão de base para o custeio. O objetivo é a determinação do custo da OP, pois cada ordem de produção é um produto. Os estoques finais consistirão apenas naquelas encomendas que, mesmo prontas, ainda não foram entregues. Portanto, em princípio, não ocorrerão estoques a não ser pela razão mencionada. Nesse contexto, a forma de apropriação dos custos segue basicamente o mesmo método da departamentalização, com a diferença de que, no custeamento por ordem, quem primeiro recebe os custos são as ordens de produção. Sobre esse aspecto, Martins (2010) contextualiza que, primeiro, são apropriados os custos diretos em relação à ordem de produção, e, depois, os custos indiretos são alocados por meio de algum critério de rateio. Ocorre, no entanto, que, pelo fato de os produtos ou serviços serem oferecidos de forma diferenciada, de acordo com as especificações de cada cliente, os custos incorridos na sua fabricação também variam de cliente para cliente. Dessa forma, pode-se inferir que as exigências bem como certas características de cada cliente podem se transformar em variáveis que impactem no custo final do produto por ele encomendado. Como exemplo, temos o contexto de Megliorini (2012, p. 260), o qual menciona que: A localização de cada cliente, o tipo de embalagem utilizada, o tamanho do lote de embarque, a modalidade de transporte, a frequência de realização dos pedidos, o suporte pré e pós-vendas e a oportunidade no pagamento são apenas algumas variáveis que permitem considerar o custo de atendimento de cada cliente diferente. Uma vez que estamos falando de custos por encomenda, é importante ressaltar que a empresa ainda não tem o custo certo para negociar com o cliente. Por conta disso, pode-se dizer que, ao passar qualquer valor para os clientes, a empresa estará fazendo um orçamento, o qual, no contexto 5 empresarial, configura-se como um documento de projeção do que se espera acontecer, ou seja, no contexto do custeamento por ordem de produção, o orçamento passado ao cliente pode ser considerado como uma espécie de previsão de gastos que devem ser levados em conta na produção da encomenda. Nesse sentido, é importante conhecer os processos e manter registros de dados passados, pois eles servirão como base para previsões futuras. Com base nessas informações, a empresa poderá estabelecer o preço de venda do seu produto/serviço, bem como manter-se competitiva frente aos seus concorrentes, uma vez com a informação pode fornecer subsídios para que seja possível fazer boas negociações com seus clientes. Conforme exposto por Maher (2001, p. 122): O custeio por ordem é importante na precificação de produtos e no controlede custos. Clientes em potencial sempre solicitam orçamentos, e frequentemente realizam concorrências, para verificar quem contratarão para realizar o trabalho. Consequentemente, para ser competitivos e lucrativos, os fornecedores precisam ser capazes de estimar custos com certa precisão. Os administradores utilizam seu conhecimento sobre o custo dos trabalhos para estimar os custos de trabalhos futuros semelhantes. Boas estimativas de custos sobre trabalhos futuros ajudam os administradores a formular boas propostas, ao participar de concorrências. [...] Os administradores comparam os custos reais dos trabalhos com os custos estimados (também denominados custos orçados), para controlar custos. De modo geral, o custeio por ordem se apresenta como uma forma de se estimarem custos quando se fala de precificação por encomenda, uma vez que não se tem o custo exato do produto que ainda não foi elaborado. Outro ponto a ser destacado é o fato de que o cliente tem a possibilidade de aumentar ou diminuir os custos dos seus produtos, uma vez que esses custos irão incorrer de acordo com as exigências em relação à qualidade dos materiais e características gerais de sua encomenda. TEMA 2 – CUSTEAMENTO POR PROCESSOS Quando a empresa trabalha com produtos padronizados, os quais não são fabricados por meio de ordens de produção e não atendem a especificações de um determinado cliente em particular, dizemos que ela trabalha na forma de produção contínua, ou custeamento por processo. Diferentemente do que acontece na produção por ordem, em que os custos são primeiro alocados à ordem de produção para posteriormente serem 6 distribuídos aos produtos, na produção contínua “a apuração dos custos visa principalmente a identificação do custo por departamento ou centro de custo, apurando o valor dos bens ou serviços consumidos em cada centro de atividade durante um período considerado” (Stark, 2007, p. 243). Diante dessa característica de produtos padronizados, o custeamento por processo segue a linha de distribuição dos custos de forma igualitária, pois não existe o fator “características individuais dos produtos” gerados por conta de exigências dos clientes, uma vez que a empresa tem como consumidor o público em geral, nenhum em específico. Dessa forma, esse método de custeamento pode ser descrito da seguinte forma: Este sistema é aplicável quando a atividade se constitui em industrializar diversos bens que são virtualmente iguais, feitos segundo especificações que o fabricante acredita serem do desejo do mercado. Por esta razão, a produção é contínua. A sua aplicação cabe na produção em massa de produtos similares e que mantém homogeneidade no processo produtivo, como no caso de refrigerantes, alimentos enlatados, eletrodomésticos e outros. (Dubois; Kulpa; Souza, 2009, p. 115) Complementarmente ao exposto, Stark (2007, p. 243) afirma que “de maneira geral, o custeio por processo é utilizado como forma de mensuração dos estoques quando há produção contínua em massa de unidades semelhantes, em contraposição à produção de bens únicos ou sob medida”. Como exemplos mais comuns de produção contínua, Martins (2010) cita as indústrias de cimento, química e petroquímica, de petróleo, de álcool, de açúcar, automobilística (parte delas), de produtos alimentícios etc. As características da produção em massa, foco da produção contínua, possibilitam que os custos sejam alocados aos departamentos, justamente pelo fato de os produtos serem padronizados, não exigindo processamentos que demandem maiores gastos em decorrência de especificações dos clientes, como acontece na produção por ordem. No custeamento por processo, os produtos são fabricados e somente depois são colocados no mercado ficando à disposição de potenciais compradores, conforme contextualizado por Dubois, Kulpa e Souza (2009, p. 115). Nestes casos, a produção é feita para estoques à espera de vendas e o marketing trata de realçar-lhes as qualidades do mercado. Em geral, os produtos são elaborados em curto período. São de produção repetitiva, similares em esforços e recebem a mesma quantidade de recursos em um fluxo contínuo. Assim, é factível o objeto de apuração do custo de uma unidade produzida, por unidade de tempo. No custeio por processo, os custos não são atribuídos a cada 7 unidade isoladamente. São alocados à produção total, procurando obter os valores médios dos custos unitários. Em relação a esses fatores elencados pelos autores supracitados, um item em especial deve ser considerado: a questão dos valores médios dos custos unitários. Sabendo-se que algumas unidades têm seu processamento iniciado num período e finalizado em outro, a contabilidade de custos, com o auxílio da engenharia da produção, deverá apurar esse fato para a alocação correta dos custos desses itens em processamento, para saber quanto dos custos devem ser atribuídos a um período e quanto pertence ao outro período. Dessa forma, trabalha-se com equivalentes de produção. 2.1 Equivalente de produção Conforme dito anteriormente, é comum na produção contínua debitar os custos de materiais aos departamentos onde foram utilizados, para depois serem apropriados às linhas; isso se deve à necessidade, muitas vezes, de se saber os custos por departamento para efeito de controle. No entanto, deve haver a preocupação com os problemas de atribuição de custos para efeito de avaliação contábil do produto elaborado (Martins, 2010). Nesse sentido, o problema da elaboração recai justamente no fato de que, ao encerrar um período, ou iniciar outro, pode ser que haja produtos dos quais algumas unidades tenham sido iniciadas e não terminadas, porém que já incorreram em alguns custos de processamento. Nesse caso, é necessário que se faça a apuração dos custos dessas unidades incorridos nos dois períodos, para uma correta alocação. Esse fato é contextualizado por Crepaldi e Crepaldi (2018, p. 132). Quando a empresa mantém uma produção contínua, desenvolvida em fases distintas, a apuração de custos pode ser feita por departamentos, mas, ao final de cada período, está sujeita à verificação do nível de acabamento de todos os produtos existentes em cada departamento ligado à produção. É a quanto equivalem em unidades acabadas os custos acumulados nas unidades que estão em processo. Quando ficam produtos em processo no final do período, é preciso determinar o estágio de fabricação (grau de acabamento) em que essas unidades se encontram para poder distribuir os CP entre as unidades concluídas e as que ficaram em processo. A avaliação da produção equivalente é feita pela Engenharia da Produção. Dessa forma, chegamos ao conceito de equivalente de produção, o qual consiste em atribuir às unidades iniciadas, mas não terminadas num 8 determinado período, o custo relativo à sua transformação total, convertendo o percentual elaborado em unidades totalmente terminadas, ou seja, determinando a quantas unidades totalmente concluídas equivalem as unidades iniciadas, mas não terminadas. Conforme exposto por Crepaldi e Crepaldi (2018, p. 133) O conceito de produção equivalente ou equivalente de produção é utilizado quando a produção é contínua e, ao final do período, a indústria apresenta estoques de produtos acabados e estoques de produtos em processo ou em elaboração. A solução consiste em determinar o nível equivalente de produção dos produtos em elaboração para, a partir de então, estimar o custo médio dos produtos acabados. Para um melhor entendimento do método, vamos trabalhar com o exemplo de Martins (2010, p. 153). Suponhamos que uma determinada empresa elabore um único produto, disponibilizando os seguintes dados: Custos de produção do Período (diretos e indiretos): R$ 5.000.000,00 Unidades produzidas: 20.000 (iniciadas e acabadas no período) O custo unitário será então a média R$ 5.000.000/20.000= R$ 250,00/un. Suponhamos agora que, no período seguinte existam esses outros dados: Custos de produção do período: R$ 5.544.000,00 Unidades iniciadas no período: 23.000 Unidades acabadas no período: 21.000 Unidades em elaboração no fim do período: 2.000 As 2.000 unidades em elaboração receberam metade (50%) do processamento e, por esse motivo, não se podem dividir os custos de produção do período pelo total de unidades iniciadas, pois nem todas foram finalizadas e, por esse motivo, as não acabadas têm que receber somente o custo correspondente ao processamento que realmente receberam. O raciocínio então é o seguinte: As 21.000 unidades acabadas vão entrar no cálculo pelo valor integral. Como as 2.000 unidades não acabadas receberam metade do processamento, isso significa que, se fôssemos converter esse processamento em unidades acabadas, teríamos 2.000 x 0,5 = 1.000 unidades acabadas. 9 Dessa forma, o nosso equivalente total de produção ficaria: 21.000 +1.000 22.000 Assim, o cálculo do custo médio de cada unidade totalmente acabada ficaria: R$ 5.544.000,00 / 22.000 = R$ 252,00/un. Os R$ 5.544.000,00 serão distribuídos da seguinte forma: Produção acabada: 21.000 x R$ 252,00 R$ 5.292.000,00 Produção em andamento: 2.000 x ½ x R$ 252,00 + R$ 252.000,00 Total: R$ 5.544.000,00 Continuando o exemplo, suponhamos agora que ocorra um terceiro período em que foram apuradas as seguintes informações: Custos de produção do período: R$ 5.278.000,00 Unidades novas iniciadas: 20.500 Unidades em elaboração no final do período: 1.800, 1/3 acabadas Unidades acabadas: 2.000 (iniciadas no 2º período) + 20.500 (iniciadas no 3º período) – 1.800 (não acabadas): 20.700 Dessa forma, no fim do período temos 22.500 unidades trabalhadas (20.500 + 2.000), mas teremos que calcular o equivalente de produção. Trazendo as unidades não terminadas do 2º período para o terceiro, temos o equivalente a 1.000 unidades concluídas (2.000 x 0,5). Das 20.500 novas, 1.800 não foram acabadas; assim, foram iniciadas e terminadas no 3º período 18.700 unidades (20.500 -1.800). O que se gastou para fazer 1/3 das 1.800 unidades equivaleria, em termos de iniciadas e totalmente acabadas, a 600 unidades (1.800 x 1/3). Dessa forma, o nosso equivalente total de produção ficaria: 1.000 18.700 + 600 20.300 Assim, o cálculo do custo médio de cada unidade totalmente acabada ficaria: 10 R$ 5.278.000,00 / 20.300 = R$ 260,00/un. A produção total acabada no período é igual a 20.700 unidades, sendo: 2.000 unidades do 2º período que já tinham recebido R$ 252.000,00 de custos (2.000 x 0,5 x 252) + 1.000 x R$ 260,00 / unidade = R$ 512.000,00. 18.700 unidades x R$260,00/unidade = R$ 4.862.000,00 Total R$ 5.374.000,00 Com base no exemplo, torna-se possível visualizar com mais facilidade a técnica utilizada em equivalência de produção. Assim como a alocação dos custos indiretos, na determinação da equivalência também existe subjetividade, visto que não é possível determinar com 100% de certeza em que grau exatamente cada produto recebeu processamento, mas é possível fazer uma estimativa que possibilite alocar parte dos custos ao período na qual elas foram iniciadas, e parte no período em que foram concluídas. TEMA 3 – CUSTEAMENTO EM AMBIENTES DE PRODUÇÃO CONJUNTA A questão do custeamento é um fator que exige dos profissionais da área de custos o máximo de atenção e controle no manuseio das informações geradas no decorrer dos processos, pois a complexidade na alocação dos custos tende a ser cada vez maior. Isso ocorre em decorrência dos processos possibilitados pelo uso cada vez maior de tecnologias que possibilitam flexibilidade de fatores na área produtiva. Pelo fato de produzir de forma padronizada e em massa, a produção contínua tende a sofrer mais com esse problema, e um fator em especial é a questão da produção conjunta. De acordo com Martins (2010, p. 162), a produção conjunta “é o aparecimento de diversos produtos a partir, normalmente, da mesma matéria-prima, como é o caso do tratamento industrial da quase totalidade dos produtos naturais da agroindústria”. Nesse contexto, os custos que incorrem em vários produtos têm sua origem numa mesma matéria-prima, da qual geralmente se extrai um produto principal com a parte mais nobre desse material, e com o restante se extrai um produto de menor qualidade. Têm-se então, a partir da mesma matéria prima, os coprodutos e subprodutos, conforme exposto a seguir: 11 Decorrem de um mesmo material diversos produtos conjuntos normalmente classificados em co-produtos e subprodutos. A produção conjunta não é uma característica própria somente da produção contínua; é apenas muito mais comum nesse tipo de empresa. Pode também ocorrer na produção por ordem em alguns tipos de indústrias, como a de móveis de madeira por encomenda, onde, a partir de uma única tora, podem sair peças de diferentes qualidades, costaneiras, etc., que são também co-produtos ou subprodutos. (Martins, 2010, p. 162) Diante da necessidade de separação dos produtos oriundos de uma mesma matéria-prima, é necessário saber identificar os derivados, principalmente para saber quais deles é o mais nobre, pois essa classificação se faz importante tanto para contabilizar os custos quanto para a posterior venda desses itens. Nesse sentido, temos que “os coprodutos são os próprios produtos principais, só que assim chamados porque nascidos de uma mesma matéria-prima. São os que substancialmente respondem pelo faturamento da empresa” (Martins, 2010, p. 162). De acordo com o mesmo autor, “produtos de maior valor são os que recebem ou têm condições de receber maior custo”. Por outro lado, os subprodutos, à medida que são produzidos, têm seu valor líquido de realização considerado como redução do custo de elaboração dos produtos principais, mediante débito aos estoques e crédito aos custos de produção (Martins, 2010). 3.1 Apropriação dos custos conjuntos aos produtos Uma vez que os coprodutos são os produtos principais da empresa, os de maior valor, e por esse motivo recebem maior custo, vamos fazer a apropriação dos custos conjuntos a eles, por meio do método do valor de mercado, o qual, segundo Martins (2010), é o mais utilizado na prática e tem como característica o fato de distribuir o resultado de forma homogênea aos coprodutos. Para fazer a apropriação, vamos trabalhar com o exemplo proposto por Martins (2010, p. 164), o qual apresenta os seguintes dados: Matéria-prima processada R$ 30.000.000,00 Mão de outra e custos industriais R$ 15.000.000,00 Custos conjuntos totais R$ 45.000.000,00 12 Quadro 1 – Dados dos coprodutos Fonte: Martins, 2010, p. 164. Uma vez que estamos trabalhando com o valor de mercado, a distribuição dos custos conjuntos é feita proporcionalmente à participação do coproduto na receita. Tabela 1 – Distribuição dos custos aos produtos Coproduto A = R$ 22.000.000,00 x R$ 45.000.000,00 = R$ 16.500.000,00 R$ 60.000.000,00 Coproduto B = R$ 20.000.000,00 x R$ 45.000.000,00 = R$ 15.000.000,00 R$ 60.000.000,00 Coproduto C = R$ 18.000.000,00 x R$ 45.000.000,00 = R$ 13.500.000,00 R$ 60.000.000,00 Custo total = R$ 45.000.000,00 Fonte: Martins, 2010, p. 164. Com base nesses resultados, teríamos os seguintes custos por quilo de produto: Tabela 2 – Custo unitário por quilo Coproduto A = R$ 16.500.000,00 x R$ 300,00 / kg55.000 Coproduto B = R$ 15.000.000,00 x R$ 150,00 / kg 100.000 Coproduto C = R$ 13.500.000,00 x R$ 225,00 / kg 60.000 Fonte: Martins, 2010, p. 164. Conforme observado no exemplo, o método do valor de mercado é bem fácil de ser utilizado, e este apropria os custos aos produtos com base na sua participação na receita total obtida, fazendo a alocação de forma homogênea. 13 TEMA 4 – CONTABILIDADE DE CUSTOS E O PRONUNCIAMENTO CPC 16 – ESTOQUES A questão da apropriação dos custos tende a atender não somente à contabilidade gerencial, mas também à contabilidade societária, principalmente no que tange ao atendimento das leis, decretos e pronunciamentos. Nesse sentido, dada a convergência às normas internacionais de contabilidade, a contabilização dos estoques deve ser feita de acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 16(R1), cujo texto diz o seguinte: O objetivo deste Pronunciamento é estabelecer o tratamento contábil para os estoques. A questão fundamental na contabilização dos estoques é quanto ao valor do custo a ser reconhecido como ativo e mantido nos registros até que as respectivas receitas sejam reconhecidas. Este Pronunciamento proporciona orientação sobre a determinação do valor de custo dos estoques e sobre o seu subsequente reconhecimento como despesa em resultado, incluindo qualquer redução ao valor realizável líquido. Também proporciona orientação sobre o método e os critérios usados para atribuir custos aos estoques. O CPC 16 determina a forma como as empresas devem fazer a contabilização de seus custos, quais fatores devem ser ativados como estoques e qual o momento de reconhecimento destes como despesa na demonstração de resultado do exercício (lembrando que, no contexto do CPC, reconhecimento como despesa em resultado diz respeito ao reconhecimento dos custos incorridos no processo produtivo como custos dos produtos vendidos (CPV) no resultado). Nesse sentido, no contexto do CPC, é determinada a forma como os estoques são formados, considerando as empresas de serviços, indústria e comércio. No contexto do comércio, segundo o CPC, “os estoques compreendem bens adquiridos e destinados à venda, incluindo, por exemplo, mercadorias compradas por varejista para revenda ou terrenos e outros imóveis para revenda”. Para a indústria, o CPC determina que “os estoques também compreendem produtos acabados e produtos em processo de produção pela entidade e incluem matérias-primas e materiais, aguardando utilização no processo de produção”. O texto do pronunciamento apresenta alguns exemplos de itens a serem considerados como custos, sendo eles: componentes, embalagens e material de consumo. 14 Uma vez adquiridas as mercadorias ou os materiais, o CPC determina que, na mensuração dos estoques, esses itens devem ser mensurados pelo valor de custo ou pelo valor realizável líquido, dos dois o menor. Conforme já exposto anteriormente, a questão do registro do estoque pelo seu valor de custo de aquisição já é determinada pelo princípio do custo pelo valor original, tendo o CPC ressaltado esse princípio. No entanto, o CPC determina que, se o valor realizável líquido do estoque for menor que o custo de aquisição, deverá então esse estoque ser registrado por esse valor. “Valor realizável líquido é o preço de venda estimado no curso normal dos negócios deduzido dos custos estimados para sua conclusão e dos gastos estimados necessários para se concretizar a venda” (CPC 16, 2009). Na determinação do que da sua composição, “o valor de custo do estoque deve incluir todos os custos de aquisição e de transformação, bem como outros custos incorridos para trazer os estoques à sua condição e localização atuais. Dessa forma, segundo o CPC, a determinação do que seria custo de aquisição, é dada a seguir: O custo de aquisição dos estoques compreende o preço de compra, os impostos de importação e outros tributos (exceto os recuperáveis junto ao fisco), bem como os custos de transporte, seguro, manuseio e outros diretamente atribuíveis à aquisição de produtos acabados, materiais e serviços. Descontos comerciais, abatimentos e outros itens semelhantes devem ser deduzidos na determinação do custo de aquisição. (CPC 16, 2009) Na mesma ordem, segue a composição do que seria classificado como custo de transformação, o qual, na sua grande maioria, é aplicado à empresa industrial: Os custos de transformação de estoques incluem os custos diretamente relacionados com as unidades produzidas ou com as linhas de produção, como pode ser o caso da mão de obra direta. Também incluem a alocação sistemática de custos indiretos de produção, fixos e variáveis, que sejam incorridos para transformar os materiais em produtos acabados. Os custos indiretos de produção fixos são aqueles que permanecem relativamente constantes independentemente do volume de produção, tais como a depreciação e a manutenção de edifícios e instalações fabris, máquinas e equipamentos e os custos de administração da fábrica. Os custos indiretos de produção variáveis são aqueles que variam diretamente, ou quase diretamente, com o volume de produção, tais como materiais indiretos e certos tipos de mão-de-obra indireta. (CPC 16, 2009) De um modo geral, o pronunciamento técnico CPC 16 visa fazer com que as entidades façam o tratamento contábil de seus estoques de acordo com 15 as normas internacionais de contabilidade, atendendo dessa forma, ao que determina o fisco e a legislação do imposto de renda, bem como aos princípios contábeis aplicados a custos. TEMA 5 – PERDAS NA PRODUÇÃO E NA ADMINISTRAÇÃO DA QUALIDADE Conforme já mencionado nas nossas primeiras aulas, uma das funções da contabilidade de custos diz respeito ao controle, principalmente no que tange à busca de melhoria contínua dos processos, visando reduzir ou eliminar os desperdícios, pois esse é um dos pontos que mais impacta na eficiência operacional. A questão do desperdício é o que gera perdas no processo produtivo, tendo a empresa que arcar com esses gastos, o que leva à redução do seu resultado. Vários podem ser os fatores que favorecem os desperdícios. Nesse sentido, Maher (2001, p. 205) contextualiza que “a perda na produção ocorre porque as pessoas não se encontram bem treinadas, utilizam materiais de baixa qualidade ou trabalham com equipamentos defeituosos”. No contexto do autor supracitado, percebem-se vários problemas que levam às perdas operacionais, sendo eles, de um modo geral, problemas de gestão, pois todos os elencados podem ser resolvidos por meio de decisões administrativas, devendo os gestores analisarem se é viável resolver os problemas ou não. Conforme descrito por Maher (2001, p. 205): Os administradores deparam-se com os seguintes problemas principais, referentes a perdas na produção: Identificação da existência do problema. Análise da possibilidade de eliminação do problema. Muitas vezes a perda na produção pode ser reduzida com maior treinamento dos empregados. Decisão se vale a pena eliminar a perda na produção. Por exemplo, a eliminação da perda compensa o gasto com treinamento dos empregados? Diante dos problemas elencados, cabe à administração determinar planos de ação para minimizar ou eliminar os problemas, mas isso somente será feito mediante uma análise de custo-benefício. Se acaso o custo para a resolução for maior que o benefício a ser alcançado, a decisão será de não eliminar os desperdícios, e os problemas continuarão. 16 Se as perdas na produção forem decorrentes de funcionários mal treinados, equipamentos defeituosos ou de materiais de baixa qualidade, a empresa então poderá chegar a outro tipo de problema, tornando a coisa ainda mais séria:a perda de clientes por insatisfação. Se, por acaso, o produto oferecido tiver uma baixa qualidade, seja por ter sido mal manuseado por funcionários destreinados, seja por ter sido processado por máquinas defeituosas, ou mesmo que tenham sido utilizados materiais de má qualidade no processo, o cliente não estará adquirindo um bom produto e, automaticamente, a sua satisfação será afetada, e um cliente insatisfeito deixa de comprar daquela empresa. Não existe melhor medida de satisfação de clientes que a qualidade. Se a qualidade dos produtos for boa, os clientes ficam satisfeitos e voltam a comprar da empresa. Se, por outro lado, a qualidade for ruim, os clientes ficam insatisfeitos e não compram mais da empresa. Para Maher (2001, p. 205): A qualidade tem-se tornado um fator cada vez mais importante na mensuração da satisfação do cliente. Quando compram produtos de baixa qualidade, os clientes muitas vezes mudam de marca. Baixa qualidade de produção implica não somente custo de perder clientes, mas também custos de materiais perdidos no processo de produção – as chamadas perdas na produção. Aperfeiçoamento da produção em seu início, a qualidade melhora e os custos caem, como resultado da eliminação ou redução de produtos defeituosos, em estágios posteriores. Diante do exposto, os gestores devem ter ciência de que a não correção das perdas no processo pode ter impacto ainda maior que os custos dessas perdas, visto que isso pode levar à perda de clientes, e esse fato pode levar a empresa a entrar em descontinuidade. Nesse sentido, a empresa deve considerar a possibilidade de corrigir os problemas e, de uma forma mais abrangente, fazer isso de forma contínua, investindo constantemente no aprimoramento de seus processos, e uma forma de fazer isso é por meio da “administração da qualidade total”, a qual se caracteriza por ser uma estratégia voltada para a prática da qualidade em todos os processos operacionais, visando entre outros fatores, à redução ou eliminação das perdas. Nas palavras de Maher (2001, p. 205): As companhias que implantam administração da qualidade total focalizam a atenção no conceito de aperfeiçoamento contínuo. O aperfeiçoamento contínuo é aplicável à produtos e suas características; cada faceta da cadeia de valor, inclusive o processo de produção, é continuamente aperfeiçoada. 17 Para a contabilidade de custos, a administração da qualidade pode ser uma boa aliada no aprimoramento dos processos, e a sua implantação poderia ser uma alternativa à redução dos custos e despesas operacionais e, mesmo que os gastos com sua implantação sejam considerados altos no curto prazo, os resultados podem ser satisfatórios no longo prazo, e a empresa poderia se destacar no seu setor de atuação frente aos concorrentes por oferecer produtos mais acessíveis, além de alcançar um maior número de clientes por oferecer produtos de qualidade. TROCANDO IDEIAS Nesta aula, vimos um pouco a respeito das perdas na produção e seus impactos nas atividades da empresa. Conforme estudado, a administração da qualidade é uma estratégia que pode ajudar a minimizar ou dizimar esse problema. Sabendo-se que existem alguns principais problemas que podem ser eliminados pela administração da qualidade, imagine a sua empresa, pense nos problemas que poderiam ser resolvidos por meio da administração da qualidade, lembrando que o foco principal dessa estratégia em contabilidade de custos é a eliminação das perdas. Entre no fórum e debata o assunto com seus colegas, compartilhe suas ideias e veja o que pensa seus pares sobre o assunto. NA PRÁTICA Com base no que foi exposto no decorrer desta aula, analise as assertivas a seguir: I. Os estoques também incluem matérias-primas e materiais, aguardando utilização no processo de produção. II. O custeamento por ordem é aplicável quando a atividade se constitui em industrializar diversos bens que são virtualmente iguais feitos segundo especificações que o fabricante acredita serem do desejo do mercado. III. O custeamento por processo é aplicável quando cada produto é elaborado sob as especificações dos clientes, o que torna cada ordem de produção ou lote diferente dos demais. IV. Os subprodutos são os próprios produtos principais, só que assim chamados porque nascidos de uma mesma matéria-prima. 18 V. As companhias que implantam administração da qualidade total focalizam a atenção no conceito de aperfeiçoamento contínuo. Assinale a alternativa correta: a. Estão corretas somente as assertivas I e IV. b. Estão corretas somente as assertivas I e V. c. Estão corretas somente as assertivas II, e V. d. Estão corretas somente as assertivas III e V. e. Todas as assertivas estão corretas. FINALIZANDO Nesta aula, vimos que existem diferentes tipos de empresas, as quais oferecem produtos de formas diversas, sendo elas as que produzem por encomenda e as que produzem de forma padronizada. As formas de custeamento são diferentes nessas duas formas de produção, sendo que na produção por encomenda, o custo é primeiramente atribuído à ordem e depois aos produtos; e na produção contínua, quem recebe os custos primeiro é o departamento, depois vai para os produtos. Vimos também que existem produtos que são derivados da mesma matéria-prima, a chamada produção conjunta, e esses produtos são classificados em coprodutos e subprodutos, sendo a apropriação dos custos feita de forma diferente. Por fim, chegamos ao ponto em que falamos do impacto das perdas nas atividades da empresa, e como a administração da qualidade pode ajudar na resolução desses problemas. 19 REFERÊNCIAS BORNIA, A. C. Análise gerencial de custos: aplicação em empresas modernas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2010. BRUNI, A. L. A administração de custos, preços e lucros: com aplicações na HP12C e Excel. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2010. COSTA, R. P. da; FERREIRA, H. A. S.; SARAIVA JÚNIOR, A. F. 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