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Direito Penal I | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 1 ¨ Conceito Fato típico é o fato humano que se enquadra com perfeição aos elementos descritos pelo tipo penal. ® Fato típico é o PRIMEIRO elemento do crime que deve ser analisado. A partir disso, para que exista o fato típico é necessário atestar a existência de quatro elementos: 1. Conduta penalmente relevante; 2. Resultado naturalístico; 3. Relação de causalidade (nexo causal); 4. Tipicidade. Tais elementos (todos) somente estarão presentes nos CRIMES MATERIAIS CONSUMADOS. Crime material é aquele em que o tipo penal aloja em seu interior, uma conduta e um resultado naturalístico. No caso de tentativa, suprimem-se o resultado naturalístico (pois não houve o resultado por vontade alheia do agente) e o nexo causal. Ficando apenas o fato típico = conduta + tipicidade. Nos crimes formais e de mera conduta (não precisam de resultado naturalístico) os elementos do fato típico é conduta + tipicidade. Crimes formais: o tipo penal contém em seu bojo uma conduta e um resultado, mas este ultimo é desnecessário para a consumação. 1. Conduta penalmente relevante “A conduta é a pedra angular da teoria do crime”. Isto é, sem conduta não existe o crime. O Direito Penal não serve para punir as pessoas pelo o que elas são, e sim pelo o que elas fazem. Adota-se a TEORIA FINALISTA, a qual diz que conduta é a ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dirigida a um fim, consistente em produzir um resultado tipificado em lei (crime ou contravenção). ® Formas de conduta: ação ou omissão A conduta deve ser penalmente relevante, e necessita ser (nessa ordem de aferição): 1. Humana; 2. Voluntária; 3. Dolosa ou culposa. Primeiro há a análise objetiva: A conduta penalmente relevante precisa, portanto, ser HUMANA e VOLUNTÁRIA (ao mesmo tempo). Na análise subjetiva a conduta precisa ser DOLOSA OU CULPOSA. ¨ Aspecto objetivo da conduta: ® Conduta humana: Necessita ser SOMENTE humana, temos isso como regra. Entretanto existe a exceção da Fato Típico Direito Penal I | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 2 possibilidade de a pessoa jurídica cometer crime ambiental – art. 225, §3º, CF. ® Conduta voluntária: Ocorre quando o movimento corporal (ação) ou a inação corporal (omissão) acontecem tendo o agente controle sobre o que realizou. Existe, portanto, possibilidade de uma ação ou omissão humana ocorrer em situação nas quais o agente não tem controle sobre o movimento. Trata-se da exclusão da conduta = não possui voluntariedade. São: ® Caso fortuito ou força maior: acontecimentos imprevisíveis e inevitáveis que fogem do domínio da vontade do ser humano. ® Atos de reflexo: reação motora involuntária. Resposta fisiológica. Observação: Ato reflexo ≠ Ato em curto circuito: Ato em curto circuito são reações momentâneas e impulsivas (reações explosivas) que surgem após estímulos externos. Nesse caso, há vontade, e então é conduta penalmente relevante. ® Coação física irresistível (vis absoluta): ocorre quando o coagido não tem liberdade de agir. Não possui escolha, a não ser praticar o ato em conformidade com o coator. Observação: Na coação MORAL irresistível (vis compulsiva), o coagido pode escolher obedecer ou não a ordem do coautor. Causa de exclusão de CULPABILIDADE. ® Sonambulismo e hipnose: atos praticados em estado de inconsciência. ¨ Modos de exteriorização da conduta COMISSÃO = Quando o tipo penal traz uma Ação. São crimes que, de regra, são praticados através de uma ação. OMISSÃO (omissão própria) = O tipo penal traz uma omissão, um não fazer (inação). Exemplo: omissão de socorro – art. 135, CP. Todos os tipos penais incriminadores, necessariamente, serão comissivos ou omissivos próprios. ® Omissão imprópria = comissão por omissão: Não existe no tipo penal. É como se fosse uma gambiarra jurídica, para penalizar aqueles que tem o dever de agir, mas não agem. Observação: Para o Direito Penal, possuímos as pessoas comuns e garantidoras. O crime comissivo é apenas para as pessoas comuns, mas somente para esses garantidores é possível o crime de comissão por omissão. Quem são esses garantidores? São as pessoas que tem o DEVER JURÍDICO (causalidade normativa) de evitar um resultado ¨ Art. 13, § 2º, CP: § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para Direito Penal I | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 3 evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado (ingerência). ® Nesse caso o omitente também responde pelo crime, igual o autor que cometeu o crime. O garantidor tem o dever de evitar o resultado, mas para responder pelo resultado que NÃO evitou há de ser aferido, no caso concreto, se ele tinha possibilidade concreta e razoável de agir. Caso não haja essa possibilidade não haverá tipicidade. ® O rol de agentes garantidores é taxativo. Se não for um daquelas três hipóteses do art. 13, §2º; ® É possível que o agente garantidor responda pelo crime comissivo perante o qual se omitiu de forma dolosa ou culposa; dependerá se sua omissão foi intencional ou não e de se o crime comissivo não evitado admite ou não forma culposa; ® Pessoa que não seja agente garantidor NUNCA poderá responder por um crime comissivo por ter diante dele se omitido. Entretanto, pode responder por omissão própria. 2. Resultado: O resultado pode ser classificado em: 1. Resultado Jurídico: é a violação da norma e, por isso, todo crime possui. 2. Resultado Naturalístico: é o que está previsto no tipo penal, nem todo crime possui. Há modificação do mundo exterior. Quanto à possibilidade ou necessidade de ter resultado naturalístico, os crimes são classificados em: ® Materiais, formais e de mera conduta. Crimes materiais: o tipo penal contem conduta e resultado naturalístico, sendo este INDISPENSAVEL à consumação. Precisa do resultado para se consumar. ® Todos os crimes materiais aceitam tentativa. Crimes formais: o tipo penal contem conduta e resultado naturalístico, sendo este DISPENSÁVEL à consumação. Aqui ele vai se contentar apenas com a conduta. Ou seja, só de agir (conduta) configura o crime. Ex: extorsão (art. 158 do CP), Corrupção passiva (art. 317 do CP). Crimes de mera conduta: o tipo penal contem somente conduta, sem mencionar resultado naturalístico. Só de praticar o ato configura o crime. Ex.: violação de domicilio (art. 150, CP) e Posse irregular de arma de fogo de uso permitido (Lei 10.826/03). Direito Penal I | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 4 3. Nexo causal É a ligação entre a conduta penalmente relevante e o resultado naturalístico = relação de causa e efeito. ® Relação de causalidade= CAUSA. Art. 13, caput, do CP: “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a que lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.” ® Só estuda nexo causal nos crimes MATERIAIS. ® Causa, para a lei, é tudo aquilo, sem restrição, que, caso não existisse, o resultado não teria ocorrido de forma que ocorreu. O Código Penal adotou, em regra, a Teoria da equivalência dos antecedentes causais, equivalência das condições ou “conditio sine qua non” = conduta sem a qual não. ® Mas devemos saber da proibição regresso de ato infinito = regressum ad infinitum. ¨ Concausas: Trata-se de concurso de eventos que vão em busca de um mesmo resultado. Exemplo: FULANO, querendo a morte de SICRANA, envenena sua bebida. SICRANA acaba por ingerir a bebida envenenada.Antes mesmo de o veneno fazer efeito, cai um lustre na cabeça de SICRANA que descansava na sala, causando sua morre por traumatismo craniano. Houve um resultado (morte de SICRANA) com dois eventos que se dirigiram a ele: o envenenamento ministrado por FULANO e a queda do lustre. Pergunta-se: FULANO responde por homicídio consumado ou tentado? ® 1º passo é identificar qual foi o evento paralelo à conduta da pessoa de quem queremos saber a responsabilidade criminal frente ao resultado final. ® 2º passo, o evento paralelo (no caso é a queda do lustre) causou SOZINHO o resultado ou precisou “unir forças” com a conduta de fulano? Resposta: A queda do lustre, POR SI SÓ, causou o resultado. Por quê? Porque o veneno, no caso narrado, em nada influiu no resultado ocorrido, que se deu unicamente pela queda do lustre (o traumatismo craniano). Conclui-se que, em evento paralelo causa o resultado POR SI SÓ e a conduta do agente em nada influi no resultado ocorrido, dizemos que foi uma CONCAUSA ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE. Portanto não houve nexo causal entre a conduta do agente e o resultado final, logo, este responde por crime tentado. A concausa absolutamente independente são aquelas que não se originam da conduta do agente, pode ser: ® Preexistente: Antes da conduta; ® Concomitante: Durante a conduta; ® Superveniente: Depois da conduta. Direito Penal I | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 5 Em todas o resultado naturalístico ocorre INDEPENDENTEMENTE da conduta do agente. ® Deve ser computado ao agente somente atos praticados. Portanto, responde por crime tentado. Mas, quando a conduta do agente “une forças” com o evento paralelo, e juntos causam o resultado. Há a CONCAUSA RELATIVAMENTE INDEPENDENTE. ® Originam da própria conduta efetuada pelo agente. ® Nesse caso, pode haver o nexo causal entre a conduta do agente e o resultado final. Responde pelo crime consumado. A concausa relativamente independente pode ser: Preexistente e Concomitante: o agente responde pelo crime consumado. Já em relação a concausa relativamente independente superveniente, há outra força de pensar: O art. 13 §1º do CP trouxe a disciplina própria e especifica para essa conduta: “a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou” ® Nesse artigo adota-se, como exceção, a teoria da causalidade adequada. Em face dessa regra, podem ser divididas em dois grupos: a) As que NÃO produzem por si só o resultado. Concausa relativamente independente superveniente por si só não causou o resultado OU o resultado final se deu na mesma linha de desdobramento natural da conduta do agente. Consequência: O agente responde pelo crime que quis praticar na forma consumada. b) As que produzem por si sós o resultado. Aqui o resultado final FUGIU da linha de desdobramento natural da conduta do sujeito da questão. Logo, a causa não é mais o acontecimento que de qualquer modo concocorre para o resultado. Consequência: O agente responde pelo crime que quis praticar na forma tentada. ® POSSUI O MESMO TRATAMENTO DA ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE. Exemplo: Pessoa atingida por disparos de arma de fogo que, internada em um hospital, falece não em razão dos ferimentos, e sim queimada por incêndio que destrói toda a área dos enfermos. Portanto, qualquer pessoa que estivesse naquela área poderia morrer, e não somente a ferida pela conduta praticada pelo agente. Direito Penal I | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 6 4. Tipicidade É o encaixe de determinada conduta, a qual lesiona bem jurídico ou o expõe a perigo de lesão, de forma significativa, a determinado tipo penal incriminador. ® Tipicidade formal: é o juízo de subsunção entre a conduta e a norma penal. ® Tipicidade material: é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Diretamente ligada com o principio da ofensividade ou lesividade. Primeiro analisa a tipicidade formal e depois a análise material. A conduta ocorrida se encaixa a algum tipo penal incriminador? Caso a resposta seja NÃO, já se pode afirmar que não existe tipicidade sob o aspecto formal. Caso seja SIM, faz-se outra pergunta: A conduta ocorrida lesiona ou expõe a perigo de lesão, significativamente, o bem jurídico? Caso a resposta seja NÃO, já se pode afirmar que não existe tipicidade sob o aspecto material. Caso seja SIM, agora podemos dizer que existe tipicidade. ® Jamais será possível haver tipicidade material sem haver a formal, aquela depende desta. Deve haver as duas. Entretanto, pode ocorrer um fato ser formalmente típico, mas materialmente atípico? SIM, ocorre quando há o principio da insignificância ou principio da adequação social. O que eles têm em comum: a) se incidirem ao caso concreto tornarão a conduta atípica materialmente; b) não possuem previsão legal, sendo criação doutrinária; c) são instrumentos de interpretação restritiva do tipo penal O que eles têm de diferente: a) o conceito; b) A jurisprudência dos Tribunais Superiores, em alguns casos, ACEITA a aplicação do princípio da insignificância e RECHAÇA, sempre, a aplicação do princípio da adequação social. formal + material = tipicidade penal
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