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AULA 01 - TREINAMENTO CORPORATIVO

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A importância do Código de 
Defesa do Consumidor
Marcos Catalan*
Histórico
A experiência comum relata uma infinidade de casos em que o poder dos mais fortes se sobre-
põe à fragilidade dos menos favorecidos, especialmente quando analisados os contratos que entre eles 
são pactuados, o que acaba por fazer que estes suportem prejuízos dos mais diversos em incontáveis 
situações cotidianas.
Entre inúmeras hipóteses, pode-se lembrar que, antes do advento do Código de Defesa do 
Consumidor (CDC), quem fosse vítima de intoxicação alimentar, para ser indenizada, teria o dever de 
provar não só que comprou o alimento em determinado estabelecimento comercial, mas também, 
que o produto adquirido estava contaminado, pela bactéria salmonela, por exemplo, assumindo, 
consequentemente, mesmo diante do quadro patológico apresentado (efeitos causados pela ingestão 
de comida estragada), o ônus de pagar todas as despesas para produzir esta prova por meio da perícia 
a ser realizada durante o curso do processo judicial, além de muitas vezes, ter que provar a culpa do 
causador do dano, fato este que desestimulava a vítima de lutar por seus direitos.
Em linhas gerais, pode ser lembrado ainda, o exemplo da compra de um eletrodoméstico com 
defeito, cujo prejuízo seria suportado em regra pelo comprador sob o argumento de que ele deveria ter 
olhado melhor o produto e mesmo solicitado que este fosse testado antes da entrega, e, a hipótese da 
aquisição de um terreno em longas parcelas mensais sucessivas, que poderiam ser perdidas totalmente, 
caso o adquirente não pudesse pagar o preço total do imóvel, por ter perdido o emprego ou porque 
alguém da família adoeceu, e não havia dinheiro para pagar os remédios e a prestação do terreno ao 
mesmo tempo.
* Doutorando em Direito Civil na Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Direito Negocial pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). 
Professor convidado dos cursos de especialização da Escola Paulista de Direito (EPD), do Diex, da UEL e da Universidade Paranaense (Unipar).
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
8 | A importância do Código de Defesa do Consumidor
Como se observa facilmente, os inconvenientes oriundos do excesso de liberalidade no exercício 
do poder de contratar, bem como os abusos praticados de maneira cada vez mais constante em detri-
mento dos consumidores, precisavam ser combatidos, o que de fato ocorreu, inicialmente por meio do 
processo denominado intervencionismo estatal, preocupação que é vista, por exemplo, na edição da Lei 
de Usura, em 1933, que limita o valor dos juros convencionados e da multa contratual devida em razão 
de atraso no pagamento dos empréstimos em dinheiro; do Estatuto da Terra, em 1964, que fixa prazos 
mínimos de vigência dos contratos de arrendamento e parceria rural e determina o preço máximo a ser 
pago ao proprietário pelo arrendatário; e da Lei do Inquilinato, em 1991, que proíbe, por exemplo, que 
o proprietário do imóvel locado sem prazo determinado, reivindique o bem sem justo motivo, dentro 
dos primeiros 30 meses de vigência do contrato.
Apesar da ativa participação do Estado, buscando reequilibrar o papel e os poderes de cada 
indivíduo no contrato, não se pode negar que tais avanços legislativos não foram suficientes para 
solucionar uma infinidade de problemas no âmbito dos negócios que, hoje, são conhecidos por relações 
de consumo, pois – em especial – após o fim da Segunda Guerra Mundial, o grau de organização e 
especialização das empresas cresceu muito mais rápido que o número de leis editadas visando à sua 
regulamentação, como se afere, por exemplo, em razão da oferta crescente de novos produtos, entre 
eles, os eletroeletrônicos; de serviços dos mais diversos oferecidos à coletividade, como ocorre com 
os contratos pactuados com um personal training ou com um provedor de internet, ou ainda, com o 
aparecimento de técnicas publicitárias agressivas, que passam a utilizar diversos mecanismos de mídia, 
entre eles, a televisão, e mais recentemente, o universo virtual.
Visando solucionar uma grande parte dos conflitos de interesses que explodiam prolongadamente 
no seio social (FACHIN, 2005, p. 28) e respeitando a obrigação criada pouco antes no artigo 5.º, XXXII, 
da Constituição Federal (CF)1, o CDC foi aprovado em 1990, visando ser um instrumento de proteção 
da parte mais fraca nas relações de consumo: o consumidor explorado desde antes de seu nascimento, 
durante toda sua vida, e até mesmo, após a sua morte!
De fato, por mais complexa que essa reflexão inicialmente possa parecer, merece destaque o fato 
de que muitas vezes, antes mesmo de sair do ventre materno, o ser que ali se encontra alimenta-se de 
produtos recheados de pesticidas, é vítima de diagnósticos equivocados durante exames de ultrassom; 
uma vez nascendo com vida, comprará alimentos, roupas, uma casa para morar, um veículo para ir ao 
trabalho e combustível, irá ao médico, à escola etc.; e mesmo após sua morte, pode ter sua imagem 
lesada pelo uso indevido de alguma fotografia que se perdeu durante a revelação, ou mesmo contratar a 
cremação de seu corpo e descobrir posteriormente que o que fora queimado foram apenas algumas toras, 
e que seus restos mortais, foram vendidos para um laboratório de anatomia de uma escola qualquer.
Enfim, não há dúvida de que o CDC é de importância vital, haja vista que no Brasil, antes dele, 
não havia mecanismo específico para tutelar os consumidores, sendo que os problemas deveriam ser 
solucionados pelo Código Civil (CC) de 1916, defensor da propriedade, do indivíduo egoísta, do poder 
absoluto da vontade e da força obrigatória dos contratos.
1 “Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país 
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes [...] XXXII - o Estado promoverá, 
na forma da lei, a defesa do consumidor”. Vale lembrar que a ordem econômica também se encontra fundada na defesa do consumidor, como 
se extrai do texto constitucional: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre-iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios [...] V - defesa do consumidor”.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
9|A importância do Código de Defesa do Consumidor
A importância do Código de Defesa do Consumidor
Resta, evidentemente, que o CDC surge para solucionar problemas como os destacados anterior-
mente, entre tantos outros que precisam de respostas eficientes do sistema, pois somente um direito 
que tenha seu foco na pessoa humana, exigindo uma postura leal e ética de todos os sujeitos de direito, 
e que afaste pretensões egoístas em favor da proteção de interesses sociais será capaz de resolvê-los.
Como se afere, e continuará a ser observado ao longo de todo este trabalho, o CDC abandonou 
a tradição individualista do direito clássico, que acreditava que todos eram verdadeiramente iguais e 
por isso, especialmente nas relações entre pessoas e empresas, naturalmente diferentes, não resolvia 
incontáveis problemas que hoje encontram solução naquele diploma legislativo.
Salienta-se que o CDC surgiu em 1990, por meio da Lei 8.078, buscando a proteção do ser humano, 
e porque não, de toda a sociedade, tutelando o ser, o existir, em detrimento do ter, do possuir. Afastou-se 
assim do paradigma imposto pelo Estado Liberal que privilegiava a propriedade e o indivíduo egoísta, 
outrora analisado isoladamente, aproximando-se, por consequência, das premissas que informam o 
Estado Social, e isso se dá porque criou mecanismos que resolve os problemas ligados aos interesses 
das massas, dos grupos populacionais, já que o mercado, por si só, não possui nem nunca possuiu um 
mecanismo eficaz paraa solução dos conflitos surgidos no cotidiano das relações entre fornecedores e 
consumidores.
Cumpre destacar mais especificamente que as vantagens trazidas pelo CDC são notadas, por 
exemplo, no reconhecimento de que todo consumidor é vulnerável e, por isso, merecedor de especial 
proteção do Estado que, por consequência, entre outros, é titular ou detentor dos seguintes direitos: 
à revisão dos contratos assinados entre ele e o fornecedor, caso a economia sofra alguma alteração 
considerável; à informação clara e adequada sobre o funcionamento do produto que pretende comprar, 
bem como do preço à vista, e se a prazo, dos juros que incidirão sobre aquele; ao acesso a orçamento 
prévio e gratuito para o conserto de seu computador ou outro bem qualquer que necessite de reparos; à 
garantia de troca do produto ou a devolução do dinheiro pago no caso de vício no produto; à devolução 
de produtos comprados fora do estabelecimento comercial, caso o bem não lhe agrade etc.
Observa-se que a importância do CDC na atualidade é inegável, em especial, por conta da ampli-
tude das questões do dia a dia que são por ele regradas e solucionadas.
Os diálogos com a Constituição Federal 
e o Código Civil de 2002: a tese do diálogo das fontes
O fenômeno da constitucionalização do direito, conhecido também pela leitura constitucional do 
direito privado, deve ser compreendido como a interpretação das condutas previstas no CDC, e outras 
leis aplicáveis aos contratos privados, como é o caso do CC, a partir das premissas contidas no texto 
constitucional, especialmente quando estão em jogo questões ligadas à dignidade da pessoa humana ou à 
exploração dos menos favorecidos, pois parece evidente que se faz necessária à garantia de um patrimônio 
mínimo a todos os sujeitos, já que “entre a garantia creditícia e a dignidade pessoal, opta-se por esta, que 
deve propiciar a manutenção dos meios indispensáveis à sobrevivência” (FACHIN, 2001, p. 184).
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
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10 | A importância do Código de Defesa do Consumidor
A leitura das relações de consumo a partir da CF assume especial relevância principalmente 
porque impõe limites ao poder de escolher o conteúdo das cláusulas contratuais, em razão do surgimento 
de ditames impositivos de conduta que não podem ser invocados apenas para suprir eventuais lacunas 
que surjam quando da criação da norma jurídica (NALIN, 2005, p. 102).
O recurso ao texto constitucional, sempre necessário, mostra-se claro também quando se pensa 
na tutela do polo mais fraco da relação jurídica, pois em um país formado por milhões de analfabetos 
em que em torno de 60 milhões de habitantes estão à margem da linha da miséria, não há como se 
sustentar que existe igualdade material (CATALAN, 2003, p. 376), sendo imperioso invocar o princípio 
constitucional da isonomia, que determina que todos são iguais perante a lei, reconhecendo assim, que 
as pessoas são diferentes entre si, e desse modo, ao tratar os desiguais de modo desigual, as diferenças 
existentes são respeitadas, garantindo a manutenção do equilíbrio das relações jurídicas e permitindo, 
para além do desenvolvimento individual, que se atinja o escopo de redução das desigualdades sociais.
É importantíssimo, nesse contexto, destacar o papel exercido pelas diretrizes elevadas à condição 
de fundamentos da República, entre elas as que determinam a redução das desigualdades e a busca 
pela erradicação da pobreza e de modo ainda mais explícito o artigo 170 da CF, que limita o poder de 
contratar, pois nenhuma atividade poderá ser exercida quando se colocar em conflito com os ditames 
da justiça social (DONNINI, 2000, p. 76), ou violar os direitos dos consumidores, já que não há como se 
sustentar a presença de liberdade contratual sem que exista igualdade substancial.
Como se observa, a CF sempre deverá ser invocada quando da criação da norma jurídica, ainda 
que a vontade externada pelas partes não permita que qualquer dúvida paire sobre ela, já que o 
contrato, especialmente os contratos regrados pelo CDC, deve atuar de modo a permitir que o homem 
busque sua felicidade plena, objetivo precípuo derivado do princípio da dignidade da pessoa humana.
Nesse contexto, a desigualdade material acaba por justificar a ampliação da proteção dos direitos 
fundamentais na esfera privada, o que ocorre a partir da premissa de que a assimetria de poder prejudica 
as partes mais fracas durante o ato de contratar e seus efeitos, haja vista que quando o ordenamento deixa 
livres forte e fraco, a liberdade só existe para o primeiro, ainda que, do ponto de vista formal, o comporta-
mento possa parecer decorrente do exercício da sua autonomia privada (SARMENTO, 2006, p. 273).
Salienta-se, ainda, que o principal papel da análise do direito do consumidor à luz da CF está no 
reconhecimento de que nas relações privadas potencialmente lesivas a direitos fundamentais, formar- 
-se-á uma rede complexa de direitos e deveres, que se limita e se condiciona mutuamente, autorizando-
-se ao juiz, por meio da técnica conhecida por ponderação, destacar qual direito deverá prevalecer no 
caso concreto (PEREIRA, 2006, p. 143), como se afere de situações de conflito entre o direito à recusa de 
transfusão sanguínea por conta da crença religiosa e o dever que tem o médico de salvar a vida de seus 
pacientes; ou do direito à dignidade da mãe que carrega em seu ventre um feto que sofre de anencefalia, 
e que, portanto, está fadado a vir ao mundo sem vida, e o direito a nascer daquele que cresce dentro 
do útero materno. Dessa forma, quanto à aplicação das regras previstas nos textos infraconstitucionais, 
sempre deverá promover sua leitura a partir dos direitos consagrados na CF, mormente àqueles que 
garantem direitos básicos como a saúde, a moradia, a educação, a liberdade, a privacidade e a intimidade, 
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
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11|A importância do Código de Defesa do Consumidor
a segurança, o acesso ao poder judiciário, entre outros, pois o texto constitucional contém as premissas 
necessárias que permitem a construção de uma sociedade justa e solidária.
Entretanto, existe outro problema que merece ser analisado. Ocorre que o CDC, não contém todos os 
conceitos necessários para a adequada solução de inúmeros problemas que o legislador determinou que 
ele resolva, desse modo será necessário, por meio da técnica conhecida por diálogo das fontes, que sejam 
buscadas no CC e, se preciso, em outras leis que se destinam a regulamentar as relações entre os particulares, 
as premissas essenciais para a construção de decisões justas no processo de concreção do direito.
Essa corrente de pensamento, desenvolvida na Europa por Erik Jayme, versa acerca da necessidade 
do diálogo das fontes existentes em busca de melhores respostas para os problemas surgidos no 
cotidiano, comunicação esta necessária em razão do pluralismo de mananciais a regrar um mesmo 
fato, de sujeitos hábeis a tutelar os mesmos direitos, e ainda de múltiplas respostas para um mesmo 
problema (MARQUES, 2005, p. 13).
Por meio da aludida teoria, o CC e o CDC deverão interagir autorizando, por exemplo, que os 
elementos do contrato de compra e venda ou do contrato de prestação de serviços, em ambos os casos 
detalhados no CC, sejam utilizados para a solução de problemas surgidos no âmbito das relações de 
consumo, ou ainda que a interpretação do contrato de seguro também regrado pelo CC seja feita à luz 
das regras elencadas no CDC (TARTUCE, 2006, p. 496), desse modo permitindo-se a proteção de um 
consumidor naturalmente vulnerável, por isso mesmo protegido das práticas abusivas do mercado.
A superação do conceito de microssistema isolado
Em razão de tudo o que se viu até este momento cumpre destacar, por fim, que é equivocado 
tratar o CDC como um microssistema, ou no mínimo que ao assim denominá-lo deve-se atentar aos 
diálogos possíveis e necessárioscom as regras previstas em outros dispositivos legais, pois a ideia de 
microssistema isolado implica em restrições na atividade hermenêutica ou interpretativa, pois impede 
que conceitos e regras sejam buscados em outros textos legais que não aquele que é o principal – mas 
não o único – para regrar o problema ocorrido no mundo dos fatos.
Em que pese para fins didáticos, a análise do direito do consumidor deve-se amparar princi-
palmente no conteúdo previsto no CDC, em verdade, o direito não pode ser visto como um armário 
composto por incontáveis gavetas que contém em cada uma delas uma vertente ou um ramo daquele, 
que só podem ser abertas uma de cada vez. Ao contrário, o direito enquanto ciência é um só e suas 
regras e princípios devem ser utilizados como um todo.
Desse modo, respeitadas as peculiaridades de cada caso surgido no mundo concreto e 
submetido ao controle do Poder Judiciário, os mais distintos ramos do direito deverão atuar de modo 
a buscarem a solução mais justa na solução daquele, possibilitando assim que as partes alcancem a 
tão almejada e necessária justiça e, por consequência, que ocorra a pacificação social.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
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