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Produto escalar em Rn O produto escalar (também chamado de produto interno) de dois vetores −→v = (v1, v2, ..., vn) e −→w = (w1, w2, ..., wn) do Rn é o escalar −→v • −→w = v1w1 + v2w2 + ...+ vnwn A norma de um vetor −→v = (v1, v2, ..., vn) do Rn é o escalar ||−→v || = √−→v • −→v = √ v21 + v 2 2 + ...+ v 2 n Exemplo 1. Considere os vetores −→v = (1, 2, 0, 2) e −→w = (1, 2, 2, 0) do Rn. Temos que • −→v • −→w = 1.1 + 2.2 + 0.2 + 2.0 = 1 + 4 = 5. • ||−→v || = √ 12 + 22 + 02 + 22 = √ 1 + 4 + 4 = √ 9 = 3. • ||−→w || = √ 12 + 22 + 22 + 02 = √ 1 + 4 + 4 = √ 9 = 3. Observe que se nós escrevermos os vetores −→v = (v1, v2, ..., vn) e −→w = (w1, w2, ..., wn) do Rn como matrizes colunas, isto é, se escrevermos os vetores −→v e −→w como as matrizes colunas n×1 V = v1 v2 ... vn e W = w1 w2 ... wn respectivamente, então o produto escalar pode ser escrito em termos do produto de matrizes como sendo −→v • −→w = V tW Temos as seguintes propriedades para o produto interno do Rn: Proposição 1. Se −→v , −→w e −→u são vetores do Rn e α é um escalar, então 1. −→v • −→w = −→w • −→v ; 2. −→v • (−→w +−→u ) = −→v • −→w +−→v • −→u ; 3. (α−→v ) • −→w = α(−→v • −→w ) = −→v • (α−→w ); 4. −→v • −→v = ||−→v ||2 ≥ 0; 5. ||−→v || = 0 se, e somente se, ||−→v || = 0; 6. ||α−→v || = |α|||−→v ||; 7. |−→v • −→w | ≤ ||−→v || ||−→w || (desigualdade de Cauchy-Schwarz); 8. ||−→v +−→w || ≤ ||−→v ||+ ||−→w || (desigualdade triangular). Dizemos que dois vetores −→v = (v1, v2, ..., vn) e −→w = (w1, w2, ..., wn) do Rn são ortogonais se −→v • −→w = 0 Exemplo 2. Os vetores −→v = (1, 0, 1, 0) e −→w = (−1, 1, 1, 1) do R4 são ortogonais, pois −→v • −→w = 1 · (−1) + 0 · 1 + 1 · 1 + 0 · 1 = 0 1 Suponha que os vetores −→v1 ,−→v2 , ...,−→vk sejam vetores não-nulos do Rn ortogonais entre si, isto é, suponha que −→vi • −→vj = 0 para todo i 6= j. Considere a equação α1 −→v1 + α2−→v2 + ...+ αk−→vk = −→ 0 Fazendo a multiplicação por escalar dos dois lados da equação por −→vi , temos que α1( −→vi • −→v1) + α2(−→vi • −→v2) + ...+ αk(−→vi • −→vk) = −→vi • −→ 0 = −→ 0 Como −→vi • −→vj = 0 se i 6= j, então αi( −→vi • −→vi ) = αi||−→vi ||2 = −→ 0 Como −→vi 6= −→ 0 , então ||−→vi || 6= 0 e αi = 0. Como isso vale para todo i ∈ {1, 2, ..., k}, então a combinação linear α1 −→v1 + α2−→v2 + ...+ αk−→vk = −→ 0 possui apenas a solução trivial α1 = 0, α2 = 0, ..., αk = 0 e os vetores são LI. Suponha que −→v seja um vetor do Rn que pode ser escrito como combinação linear de −→v1 ,−→v2 , ...,−→vk . Então existem escalares α1, α2, ..., αk tais que −→v = α1−→v1 + α2−→v2 + ...+ αk−→vk Fazendo a multiplicação escalar dos dois lados da equação por −→vi , temos que −→vi • −→v = α1(−→vi • −→v1) + α2(−→vi • −→v2) + ...+ αk(−→vi • −→vk) Como −→vi • −→vj = 0 se i 6= j, então −→vi • −→v = αi(−→vi • −→vi ) = αi||−→vi ||2 Ou seja, αi = −→v • −→vi ||−→vi ||2 Com isso, mostramos o seguinte teorema: Teorema 1. Se −→v1 ,−→v2 , ...,−→vk são vetores não-nulos do Rn ortogonais entre si, então 1. O conjunto {−→v1 ,−→v2 , ...,−→vk} é LI. 2. Se um vetor −→v do Rn puder ser escrito como combinação linear desses k vetores, isto é, se existirem escalares α1, α2, ..., αk tais que −→v = α1−→v1 + α2−→v2 + ...+ αk−→vk então necessariamente α1 = −→v • −→v1 ||−→v1 ||2 , α2 = −→v • −→v2 ||−→v2 ||2 , ..., αk = −→v • −→vk ||−→vk ||2 Exemplo 3. Considere os vetores −→v1 = (2, 0, 3),−→v2 = (−3, 0, 2) e −→v3 = (0,−4, 0). Como −→v1 • −→v2 = 0, −→v1 • −→v3 = 0, −→v2 • −→v3 = 0 então os vetores −→v1 ,−→v2 e −→v3 são ortogonais entre si, e, portanto, são LI. Como temos três vetores LI no R3, então estes vetores formam uma base para o espaço vetorial R3. Logo, 2 qualquer vetor do R3 pode ser escrito como combinação linear deste três vetores. Por exemplo, se −→v = (4,−2, 3), então −→v = α1−→v1 + α2−→v2 + α3−→v3 onde α1 = −→v • −→v1 ||−→v1 ||2 = 17 13 α2 = −→v • −→v2 ||−→v2 ||2 = − 6 13 α3 = −→v • −→v3 ||−→v3 ||2 = 8 16 = 1 2 Ou seja, −→v = 17 13 (2, 0, 3)− 6 13 (−3, 0, 2) + 1 2 (0,−4, 0) Bases ortogonais e ortonormais Seja W um subespaço de Rn e seja {−→v1 ,−→v2 , ...,−→vk} uma base desse subespaço. Dizemos que 1. {−→v1 ,−→v2 , ...,−→vk} é uma base ortogonal de W se quaisquer dois vetores dessa base forem ortogonais entre si, isto é, se −→vi • −→vj = 0 para i 6= j. 2. {−→v1 ,−→v2 , ...,−→vk} é uma base ortonormal deW se, além de ser uma base ortogonal, os vetores da base forem unitários, isto é, se ||−→vi || = 1 para todo i ∈ {1, 2, ..., k}. Exemplo 4. A base canônica do Rn, que é formada pelos vetores −→e1 = (1, 0, ..., 0),−→e2 = (0, 1, 0, ..., 0), ...,−→en = (0, 0, ..., 0, 1) é uma base ortonormal do Rn. Exemplo 5. Considere os vetores −→v1 = (2, 0, 3),−→v2 = (−3, 0, 2) e −→v3 = (0,−4, 0). Como−→v1 • −→v2 = 0, −→v1 • −→v3 = 0 e −→v2 • −→v3 = 0, então os vetores −→v1 ,−→v2 e −→v3 são ortogonais entre si e a base do R3 constituída por eles é uma base ortogonal. Como os vetores −→v1 , −→v2 e −→v3 não são unitários, tal base não é ortonormal. Entretanto, se considerarmos os vetores −→u1 = −→v1 ||−→v1 || = 1√ 13 (2, 0, 3) −→u2 = −→v2 ||−→v2 || = 1√ 13 (−3, 0, 2) −→u3 = −→v3 ||−→v3 || = 1 4 (0,−4, 0) a ortogonalidade dos vetores é preservada (uma vez que os vetores −→u1, −→u2 e −→u3 são apenas múltiplos escalares dos vetores −→v1 , −→v2 e −→v3 , respectivamente) e a base formada por −→u1, −→u2 e −→u3 é uma base ortonormal de R3 (uma vez que os vetores −→u1,−→u2 e −→u3 são unitários). 3 Projeção ortogonal em Rn De�nimos a projeção ortogonal de um vetor −→v = (v1, v2, ..., vn) do Rn sobre um vetor não-nulo −→w = (w1, w2, ..., wn) do Rn como sendo o vetor proj −→w −→v = (−→v • −→w ||−→w ||2 ) −→w Observe que −→v • −→w ||−→w ||2 é um número real. Logo, a projeção ortogonal de um vetor −→v sobre um vetor não-nulo −→w é um múltiplo escalar do vetor −→w e, portanto, possui a mesma direção de −→w . Proposição 2. Seja −→w um vetor não-nulo do Rn. Então o vetor −→v − proj −→w−→v é ortogonal a −→w para qualquer vetor −→v do Rn. Proposição 3. Sejam −→w1,−→w2, ...,−→wk vetores não-nulos do Rn e ortogonais entre si. Então, para qualquer vetor −→v do Rn, o vetor −→v − proj −→w1 −→v − proj −→w2 −→v − ...− proj −→wk −→v é ortogonal a −→wi para todo i ∈ {1, 2, ..., k}. Método de Gram- Schmidt O seguinte teorema nos garante que conseguimos obter uma base ortonormal para um su- bespaço do Rn a partir de uma base qualquer desse subespaço. Além disso, ele nos fornece um método para obter tal base, que é chamado de método de Gram-Schmidt. Teorema 2. Teorema de Gram-Schmidt: Seja W um susbespaço de Rn e seja {−→v1 ,−→v2 , ...,−→vk} uma base desse subespaço. O conjunto {−→w1,−→w2, ...,−→wk} composto pelos vetores −→w1 = −→v1 −→w2 = −→v2 − proj −→w1 −→v2 −→w3 = −→v3 − proj −→w1 −→v3 − proj −→w2 −→v3 ... −→wk = −→vk − proj −→w1 −→vk − proj −→w2 −→vk − ...− proj −−−→wk−1 −→vk é uma base ortogonal para W e o conjunto {−→u1,−→u2, ...,−→uk} composto pelos vetores −→u1 = −→w1 ||−→w1|| ,−→u2 = −→w2 ||−→w2|| , ...,−→uk = −→wk ||−→wk|| é uma base ortonormal para o subespaçoW . Mais do que isso, o subespaço gerado por {−→u1,−→u2, ...,−→uj} é igual ao subespaço gerado por {−→v1 ,−→v2 , ...,−→vj } para qualquer j ∈ {1, 2, ..., k}. 4 Exemplo 6. Determine uma base ortonormal para o subespaço W = {(α + γ + λ,−α + β, α− β + λ, β + γ − λ), α, β, γ, λ ∈ R} Observe que o subespaço vetorial W é constituído por todos os vetores −→v ∈ R4 que podem ser escritos como −→v = α(1,−1, 1, 0) + β(0, 1,−1, 1) + γ(1, 0, 0, 1) + λ(1, 0, 1,−1) onde α, β, γ, λ ∈ R, ou seja, W é constituído por todos os vetores do R4 que podem ser escritos como combinação linear dos vetores −→v1 = (1,−1, 1, 0),−→v2 = (0, 1,−1, 1),−→v3 = (1, 0, 0, 1),−→v4 = (1, 0, 1,−1) Concluímos assim que os vetores −→v1 ,−→v2 ,−→v3 ,−→v4 geram o subespaço W . Vamos selecionar, entre eles, uma base para W . A matriz A cujas colunas são estes vetores é a matriz A = 1 0 1 1 −1 1 0 0 1 −1 0 1 0 1 1 −1 Vamos escaloná-la. Fazendo L2 + L1: 1 0 1 1 0 1 1 1 1 −1 0 1 0 1 1 −1 Fazendo L3 − L1: 1 0 1 1 0 1 1 1 0 −1 −1 0 0 1 1 −1 Fazendo L3 + L2: 1 0 1 1 0 1 1 1 0 0 0 1 0 1 1 −1 Fazendo L4 − L2: 1 0 1 1 0 1 1 1 0 0 0 1 0 0 0 −2 Fazendo L4 + 2L3: 1 0 1 1 0 1 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 A matriz acima está na forma escalonada. Como apenas a primeira, a segunda e a quarta coluna tem pivôs, então concluímos que {−→v1 ,−→v2 ,−→v4} 5 formam uma base para W . Vamos encontrar uma base ortonormal à partir dela pelo processo de Gram-Schmidt. Temos que −→w1 = −→v1 = (1,−1, 1, 0) −→w2 = −→v2 − proj −→w1 −→v2 = −→v2 − (0, 1,−1, 1) • (1,−1, 1, 0) ||(1,−1, 1, 0)||2 −→w1 = −→v2 + 2 3 −→w1 = (0, 1,−1, 1) + 2 3 (1,−1, 1, 0) = ( 2 3 , 1 3 ,−1 3 , 1 ) = 1 3 (2, 1,−1, 3) −→w4 = −→v4 − proj −→w1 −→v4 − proj −→w2 −→v4 = −→v4 − (1, 0, 1,−1) • (1,−1, 1, 0) ||(1,−1, 1, 0)||2 −→w1 − (1, 0, 1,−1) • 1 3 (2, 1,−1, 3) 1 9 ||(2, 1,−1, 3)||2 −→w2 = (1, 0, 1,−1)− 2 3 (1,−1, 1, 0) + 2 15 (2, 1,−1, 3) = ( 9 15 , 12 15 , 3 15 ,− 9 15 ) = 1 5 (3, 4, 1,−3) Agora só precisamos dividir os vetores −→w1,−→w2,−→w4 pelas suas respectivas normas para obtermos os vetores unitários na direção e no sentido deles: −→u1 = −→w1 ||−→w1|| = 1√ 3 (1,−1, 1, 0) −→u2 = −→w2 ||−→w2|| = 1√ 15 (2, 1,−1, 3) −→u4 = −→w4 ||−→w4|| = 1√ 35 (3, 4, 1,−3) O conjunto dos vetores obtidos {−→u1,−→u2,−→u3} é uma base ortonormal para o subespaço W e dimW = 3. Observação 1. No exercícios anterior, para determinar uma base ortogonal para W , podería- mos também colocar os vetores −→v1 = (1,−1, 1, 0),−→v2 = (0, 1,−1, 1),−→v3 = (1, 0, 0, 1),−→v4 = (1, 0, 1,−1) como vetores-linha de uma matriz B B = 1 −1 1 0 0 1 −1 1 1 0 0 1 1 0 1 −1 6 e escaloná-la para obter sua forma escalonada reduzida que é 1 0 0 1 0 1 0 −1 0 0 1 −2 0 0 0 0 Como o escalonamento não altera o espaço-linha de uma matriz, então os vetores −→a1 = (1, 0, 0, 1), −→a2 = (0, 1, 0,−1), −→a3 = (0, 0, 1,−2) formam uma base para o subepaço W . Utilizando o processo de Gram-Schmidt: −→w1 = −→a1 = (1, 0, 0, 1) −→w2 = −→a2 − proj−→w1 −→a2 = (0, 1, 0,−1)− [ (1, 0, 0, 1) • (0, 1, 0,−1) ||(1, 0, 0, 1)||2 ] (1, 0, 0, 1) = (0, 1, 0,−1) + 1 2 (1, 0, 0, 1) = ( 1 2 , 1, 0,−1 2 ) −→w3 = −→a3 − proj−→w1 −→a3 − proj−→w2 −→a3 = (0, 0, 1,−2)− [ (1, 0, 0, 1) • (0, 0, 1,−2) ||(1, 0, 0, 1)||2 ] (1, 0, 0, 1)− [( 1 2 , 1, 0,−1 2 ) • (0, 0, 1,−2) || ( 1 2 , 1, 0,−1 2 ) ||2 ]( 1 2 , 1, 0,−1 2 ) = (0, 0, 1,−2) + (1, 0, 0, 1)− 2 3 ( 1 2 , 1, 0,−1 2 ) = ( 2 3 ,−2 3 , 1,−2 3 ) Normalizando estes vetores: −→u1 = −→w1 ||−→w1|| = 1√ 3 (1, 0, 0, 1) = ( 1√ 3 , 0, 0, 1√ 3 ) −→u2 = −→w2 ||−→w2|| = √ 3√ 2 ( 1 2 , 1, 0,−1 2 ) = ( √ 3 2 √ 2 , √ 3√ 2 , 0,− √ 3 2 √ 2 ) −→u3 = −→w3 ||−→w3|| = √ 7√ 3 ( 2 3 ,−2 3 , 1,−2 3 ) = ( 2 √ 7 3 √ 3 ,−2 √ 7 3 √ 3 , √ 7√ 3 ,−2 √ 7 3 √ 3 ) O conjunto dos vetores obtidos {−→u1,−→u2,−→u3} é uma base ortonormal para o subespaço W e dimW = 3. 7
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