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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 2 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA ..................................................................... 4 3 CONCEPÇÕES DE HOMEM ...................................................................... 7 3.1 Concepção metafísica .......................................................................... 8 3.2 Concepção naturalista .......................................................................... 8 3.3 Concepção histórico social ................................................................... 8 4 A TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM ATRAVÉS DA FILOSOFIA ............... 9 5 PERÍODOS DA FILOSOFIA ..................................................................... 13 5.1 A busca de uma explicação ................................................................ 14 6 FILOSOFIA OCIDENTAL .......................................................................... 16 7 FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA ................................................................. 18 8 FILOSOFIA CLÁSSICA............................................................................. 20 9 FILOSOFIA MEDIEVAL ............................................................................ 22 10 FILOSOFIA MODERNA ......................................................................... 24 11 ÉTICA .................................................................................................... 25 11.1 A Ética na Filosofia ............................................................................. 26 12 MORAL .................................................................................................. 27 13 POLÍTICAS EDUCACIONAIS ................................................................ 28 14 AS POLÍTICAS DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA NO BRASIL .... 31 15 INCLUSÃO: ESCOLA PARA TODOS ................................................... 35 16 AS REFORMAS DA EDUCAÇÃO: POLÍTICAS DE RESULTADOS E O MODELO DE MERCADO.......................................................................................... 39 16.1 Quadro I: Médias a serem atingidas pelas escolas públicas no IDEB e no PISA até 2021 ................................................................................................... 46 2 17 O IDEB NO CONTEXTO DAS AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA NAS ESCOLAS PÚBLICAS BRASILEIRAS ...................................................................... 48 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 52 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA Fonte: Google.com De acordo com SCARIOTTO (2007) a filosofia trata da realidade não a partir de recortes, mas do ponto de vista da totalidade. A visão da filosofia é de conjunto, de entendimento do problema, não de modo parcial, mas relacionando cada aspecto observado outros do contexto em que está inserido. A Filosofia não faz juízos de realidade, como a ciência, mas juízos de valor. Isto significa que filosofar é ir além do que é, é buscar entender como deveria ser, julgar o valor da ação, ir em busca do significado Filosofia propriamente surge quando um pensar torna-se objeto de uma reflexão. Podemos então conceituar a filosofia como uma reflexão sobre os problemas que a realidade apresenta. “A filosofia não é, de modo algum, uma simples abstração independente da vida. Ao contrário ela é a própria manifestação humana e sua mais alta expressão(...) A filosofia traduz o sentir, o pensar e o agir do homem. Evidentemente, o homem não se alimenta da filosofia, mas sem dúvida nenhuma, com a ajuda da filosofia” (BRANGATTI,1993, apud SCARIOTTO,2007, p.12). Este ramo do conhecimento que pode ser caracterizado de três modos: seja pelo conteúdo ou temas tratados, seja pela função que exerce na cultura, seja pela forma como trata tais temas. Com relação aos conteúdos, contemporaneamente, a Filosofia trata de conceitos como o bem, beleza, justiça, verdade. Mas, nem sempre a Filosofia tratou de temas selecionados, como os indicados acima. Inicialmente, na 5 Grécia, a Filosofia tratava de todos os temas, já que até o séc. XIX não havia uma separação entre ciência e filosofia, incorporava todo o saber (SENEDA, 2009). No entanto, a Filosofia inaugurou um modo novo de tratamento dos temas a que passa a se dedicar, determinando uma mudança na forma de conhecimento do mundo até então vigente. A filosofia em sua trajetória histórica procura resposta as questões percebidas e a cada época são respondidas a partir de diferentes reflexões que constituem correntes ou escolas de pensamentos. Platão (427-347a.C) e Aristóteles (384-322 a.C) deram à filosofia uma de suas melhores definições. Eles viram a filosofia como um discurso admirado e espantado com o mundo. A filosofia faz, na concepção tradicional que aparece em Platão e Aristóteles, ou seja, põe certas perguntas que nos obrigam a olhar o banal como não mais banal. A filosofia, então, é o vocabulário com o qual desbanalizamos o banal. Tudo com o qual estamos acostumados torna-se motivo para uma suspeita, tudo que é corriqueiro fica sob o crivo de uma sentença indignada, e então deixamos de nos aceitar como acostumados com as coisas que até então estão estávamos acostumados. A maioria das definições de filosofia são razoavelmente controversas, em particular quando são interessantes ou profundas. Esta situação deve-se em parte ao fato de a filosofia ter alterado de forma radical o seu âmbito no decurso da história e de muitas das investigações nela originalmente incluídas terem sido mais tarde excluídas (ARANHA, 1996, apud SCARIOTTO,02007, p.12). Velasco e Braga (2014) afirma que a filosofia consiste em pensar sobre o pensamento. Isto permite-nos sublinhar o caráter de segunda ordem da disciplina e tratá-la como uma reflexão sobre gêneros particulares de pensamento, formação de crenças e de conhecimento, sobre o mundo ou porções significativas do mundo. Uma definição mais pormenorizada, mas ainda assim incontroversa e abrangente, é que a filosofia consiste em pensar racional e criticamente, de modo mais ou menos sistemático sobre a natureza do mundo em geral (metafísica ou teoria da existência), a justificação de crenças (epistemologia ou teoria do conhecimento), e a conduta de vida a adaptar (ética ou teoria dos valores). Cada um dos três elementos listados possui uma contraparte não filosófica, da qual se distingue pelo seu modo de proceder explicitamente racional e crítico e pela sua natureza sistemática. Todos nós temos uma concepção geral sobre a natureza do mundo em que vivemos e do lugar que nele ocupamos. A metafísica interroga-se 6 sobre ospressupostos que sustentam acriticamente estas concepções recorrendo a um conjunto organizado de crenças (VELASCO; BRAGA, 2014). [...] ocasionalmente, duvidamos e questionamos crenças, não só as nossas como as alheias, e fazemos com mais ou menos sucesso sem possuirmos uma teoria acerca do que fazemos”. (CHAUÍ, 1985, apud SCARIOTTO,2007, p.14). Também orientamos as ações com vista a objetivos e fins que valorizamos. A ética, ou filosofia moral, no sentido mais inclusivo, pretende articular, de uma forma racional e sistemática, as regras ou princípios subjacentes. (Na prática, a ética tem- se restringido aos aspectos morais da conduta e, em geral, tem tendência para ignorar a maioria das ações que praticamos em virtude de critérios de eficiência ou prudência, como se fossem demasiado básicos para justificarem um exame racional) (SCARIOTTO, 2007). Os primeiros filósofos reconhecidos, os pré-socráticos, eram sobretudo metafísicos preocupados em estabelecer as características essenciais da natureza no seu todo. Platão e Aristóteles escreveram penetrantemente sobre metafísica e ética; Platão sobre o conhecimento; Aristóteles sobre lógica (dedutiva), a técnica mais rigorosa para justificar crenças; estabeleceu as suas regras de uma forma sistemática e manteve intacta a sua autoridade durante mais de 2000 anos. Na Idade Média, ao serviço do cristianismo, a filosofia apoiou-se primeiramente na metafísica de Platão, e em seguida na de Aristóteles, com o propósito de defender crenças religiosas. No Renascimento, a liberdade de especulação metafísica ressurgiu; na sua fase tardia, com Bacon e, de um modo mais influente com Descartes e Locke, dirigiu-se para a epistemologia com o objetivo de ratificar e, tanto quanto possível, acomodar a religião e os novos desenvolvimentos das ciências naturais (CUNHA,1992, apud SCARIOTTO,2007, p.15). Ainda de acordo com o autor diferentes partes da filosofia, e diferentes elementos que compõem nossa visão de mundo, deveriam integrar-se. Sendo assim, conceitos à primeira vista muito distanciados podem vir a afetar de modo vital outros conceitos que envolvem mais de perto a vida diária. A filosofia merece ser valorizada por si própria, e não por seus efeitos indiretos de ordem prática. E a melhor maneira de assegurarmos esses bons efeitos práticos é nos dedicarmos em encontrar a verdade, buscando-a desinteressadamente. 7 3 CONCEPÇÕES DE HOMEM Fonte: Google.com O que é o homem? É esta a primeira e principal pergunta da filosofia. (...) Se pensamos nisto, a própria pergunta não é uma pergunta abstrata ou “objetiva”. Nasceu daquilo que refletimos sobre nós mesmos e sobre os outros e queremos saber, em relação do que refletimos e vimos, o que somos e em que coisa nós podemos tornar, se realmente ou dentro de que limites somos “artífices de nós próprios”, da nossa vida, do nosso destino. E isto queremos sabe-lo hoje, nas condições dadas hoje, pela vida “hodierna “e não por uma vida qualquer e de qualquer homem (RODRIGUES, 2015). Toda concepção de mundo e forma de agir partem de uma ideia de homem. As teorias humanísticas sustentam-se procurando compreender um conceito de homem. Por isso é importante nas práxis educativas que se tenha claramente tematizada a questão antropológica. Selecionamos, então, como temática primeira de nossos encontros as concepções de homem, de modo bastante sucinto, mesmo porque o ser-humano, o animal que pensa, é o grande garimpeiro de uma longa atividade de escavação que é a filosofia. São destacados três principais enfoques antropológicos: a concepção metafísica, a cientificista ou naturalista e a histórico social, dos quais apresentamos alguns tópicos. A semente que germina produz ramos, folhas, flores e frutos. O pensamento que pensa produz conhecimentos e falas diversas. Produz o conhecimento que calcula (as ciências), imagina (as artes) e confia (a fé). E produz a filosofia. (BUZZI, 199, apud BRANCO, 2004, p. 7). 8 3.1 Concepção metafísica De acordo com Siviani (2007), a existência humana no mundo está na questão do ser, na unidade e na multiplicidade. A essência caracteriza cada coisa. A essência humana é um modelo a ser atingido. Educação vista como processo de aperfeiçoamento, desenvolvimento das potencialidades do indivíduo. O fim da educação é desenvolver, em cada indivíduo, toda a perfeição de que ele seja capaz. Nesta concepção, a educação é centrada no interior do indivíduo e o modelo de homem é determinado a priori. 3.2 Concepção naturalista Costa (2004), propõe que Descartes, Loocke, Galileu e Newton criaram novas teorias sobre o conhecimento e que até hoje orientam a ciência e pesquisas científicas, pois desenvolveram o método científico. A ciência percebe regularidades na natureza e o homem procura encontrar as regularidades que marcam seu comportamento. A educação inspira-se numa metodologia que enfatiza a rigorosa programação dos passos para se adquirir o conhecimento (behaviorismo/psicologia comportamentalista). Tentativa de adequar a metodologia das ciências humanas ao método das ciências da natureza (experimentação, controle e generalização). Contrapõem-se às teorias humanistas. 3.3 Concepção histórico social A crítica ao mecanicismo newtoniano e ao empirismo de Locke e a primazia do sentimento sobre a razão, faz com que importantes pensadores passem a conceber uma nova visão antropológica, a histórico-social, amparada no romantismo alemão. Rousseau desloca o centro do processo educacional do mestre para o aluno. Visão de homem está no sentimento (o coração ou consciência moral); destaca dois níveis: natureza e sociedade. Hegel: concebe o ser como processo, como movimento, como virá a ser (filosofia do devir). O homem passa a ser como ser-no-tempo. Desenvolvimento do Espírito (COSTA, 2004). 9 Marx: o mundo material é anterior ao espírito, e este deriva daquele. Os homens se definem pela produção e pelo trabalho coletivo. O homem deve ser compreendido como um ser real, concreto, situado em um contexto histórico-social. Privilegia-se o processo, a contradição e o caráter social do se fazer homem. A pedagogia contemporânea busca o homem como pessoa ou ser social numa interação entre sujeito e sociedade (COSTA, 2004). 4 A TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM ATRAVÉS DA FILOSOFIA Fonte: Google.com Costa (2004) afirma que o homem é um ser que interroga a vida, e deve interrogá-la continuamente. O modo de perguntar difere de homem para homem, mas o próprio enigma sempre permanece. A resposta do homem ocorre dentro de um determinado contexto histórico. “Todos os homens desejam naturalmente saber. Muitos, contudo, se perdem nesta tarefa ao longo da vida, talvez por desconhecerem um caminho”. (ARISTÓTELES 384-322 a C. apud SCARIOTTO,2007, p.15). É preciso buscar conceituar a filosofia de forma simples e existencial, compreender o que ela é, e verificar o seu significado para a vida humana. A filosofia está associada tanto ao saber teórico quanto à sabedoria prática. De fato, o sucesso da filosofia teórica não nos oferece qualquer garantia de que seremos filósofos no sentido prático ou de que agiremos e sentiremos de modo correto sempre que nos envolvermos em determinadas situações práticas. A filosofia se manifesta como uma forma de entendimento que tanto propicia a compreensão de sua existência, em 10 termos de significado, como oferece um direcionamento para sua ação. A filosofia é o campo de entendimento que, quando nos apropriamos dele, nos percebemos refletindo sobre a cotidianidade dos seres humanos: Desde as coisas mais simples até as mais complexas. O ato de filosofar não é unicamente um processo individual, mas também um processo que possui uma contrapartida social (COSTA, 2004). Ao colocar-se na posição de que o homem, ser da natureza, constitui entre muitos outros cósmicos, físicos,biológicos, um agente da transformação do universo, a filosofia situou na experiência de campo e processo dessas contínuas metamorfoses. Não agimos por agir. Agimos por certa finalidade, que pode ser mais ampla ou restrita; as finalidades mais amplas são aquelas que se referem ao sentido da existência, busca o bem da sociedade, lutar pela emancipação dos oprimidos, e assim por diante (SCARIOTTO, 2007). Isso porque está certo que a vida só tem sentido se vivido em função de valores dignos e dignificantes. Todos têm uma forma de compreender o mundo, ninguém age no escuro, sem saber onde vai ou porque vai. Só se pode agir a partir de um esclarecimento do mundo e de uma realidade. Todos vivem de uma concepção do mundo, agem e se comportam de acordo com uma significação inconsciente que emprestam a vida. E neste sentido que podemos dizer que todo homem e filósofo. Todos temos uma filosofia de vida, ou seja, nos orientamos por valores implícitos (inconsciente) ou explícitos (conscientes) (SCARIOTTO, 2007). Quando falamos em filosofia de vida queremos dizer que esse direcionamento diário inconsciente pode ocorrer da massificação, do senso comum, que adquirimos e acumulamos espontaneamente. Não é possível viver sem pensar, uma das características do homem e a necessidade, de não só conhecer a natureza a fim de poder transformá-la pelo trabalho, mas a necessidade de compreender-se a si mesmo (SCARIOTTO, 2007). Não há, portanto, vida humana consciente de si mesma sem reflexão filosófica, sem reflexão crítica sobre o real, considerado em sua totalidade. A filosofia vai coincidir com que se chama de processo de consciência ou conscientização, tanto no sentido do tempo como no julgamento (Reflexão Crítica). Não existe um modelo de homem, é impossível existir um homem padrão, um modelo que todos deveriam seguir à risca. O que existe é uma condição humana que resulta do conjunto das relações humana, de sua vocação como homem (SCARIOTTO, 2007). 11 Este último ponto é importante, pois afasta qualquer tentativa de estabelecer a existência de uma natureza humana fixa e imutável, ou de estabelecer distinções entre os homens com base em qualquer aspecto extrínseco, como a raça, a cor, ou religião (HUSSERL,1965, apud SCARIOTTO,2007, p.19). Ainda de acordo com o autor o homem, como os outros seres vivos, também se esforça para se preservar, numa das coisas que difere dos outros organismos é que produz os meios para sua existência, reorganizando e modificando os recursos naturais disponíveis. Age dirigido por finalidades conscientes, para responder aos desafios da natureza e para sobrevivência. O homem, ao colocar-se no mundo, estabelece uma ligação entre o sujeito que quer conhecer e o objeto a ser conhecido. O sujeito se transforma mediante o novo saber e o objeto também se transforma, pois, o conhecimento lhe dá sentido (COTRIN, 1993, apud SCARIOTTO, 2007, p.19). O homem é um agente transformador da natureza, e a natureza é o resultado dessa transformação. Ao atuar através de sua atividade produtiva sob a natureza, pelo trabalho cuidando de prover sua existência mediante a apropriação e incorporação dos recursos naturais transformados, o homem não estabelece apenas relações individuais com a natureza. Ao mesmo tempo em que estabelece relações técnicas de produção, vai instaurando relações interindividuais, relações com os outros homens. Cria a estrutura social. O homem se descobre e se afirma no mundo, não como um mero objeto integrante da realidade total, mas como sujeito no qual essa realidade se transfigura (SCARIOTTO, 2007). Ao interpretar e transformar a realidade, o homem se encontra com outros seres humanos envolvidos na mesma tarefa, é o que chamamos de confronto com outros sujeitos. Na medida em que alguém fala e acolhe a palavra do outro realiza o reconhecimento mais profundo outro como sujeito. No instante em que o homem reconhece o outro e com ele dialoga em busca de um sentido para o mundo para a existência, nasce à história (SCARIOTTO, 2007). Dar um sentido ao mundo no diálogo das consciências, é existir plenamente como homem e, portanto, existir plenamente como sujeito do processo histórico (HUSSERL,1965, apud SCARIOTTO, 2007, p.20). 12 Na medida de nossas forças, construímos, uma filosofia e a ela nos acomodamos, tão bem como tão mal, em nossa ânsia e inquietação de compreender e de pacificar o espírito. Quando a ciência vai refazendo o mundo e a onda de transformação alcança as peças mais delicadas da existência humana, só quem vive à margem da vida, sem interesse e sem paixões, sem amores e sem ódios, pode julgar que dispensa uma filosofia. Só com uma vida profundamente superficial podemos não sentir as solicitações diversas e antagônicas das diferentes fases do conhecimento humano, e os conflitos e perplexidades atordoantes da hora presente (SCARIOTTO, 2007). Aprender concepções e verdades que engessam o processo de ação e reflexão diante do mundo e de sua própria existência, é desta que filosofia transforma o homem. Contudo, boa parte da filosofia volta-se mais para o modo pelo qual conhecemos as coisas do que propriamente para as coisas que conhecemos, sendo essa uma segunda razão pela qual a filosofia parece carecer de conteúdo (RODRIGUES, 2015). No entanto, discussões a respeito de um critério definitivo de verdade podem determinar, na medida em que recomendam a aplicação de um dado critério, quais as proposições que na prática deliberamos serem verdadeiras. Não é tarefa da filosofia investigar intenções ocultas e preexistentes da realidade, mas interpretar uma realidade carente de intenções, mediante a capacidade de construção de figuras, de imagens a partir dos elementos isolados da realidade; ela levanta as questões, cuja investigação exaustiva é tarefa das ciências; uma tarefa à qual a filosofia permanece continuamente vinculada, porque sua intensa luminosidade não conseguiria inflamar- se em outro lugar a não ser contra essas duras questões (RODRIGUES, 2015). Ainda de acordo com o autor a filosofia tem exercido, por mais que ignoremos isso, uma admirável influência indireta até mesmo sobre a vida de gente que nunca ouviu falar nela. Indiretamente, tem sido destilada através de sermões, da literatura, dos jornais e da tradição oral, afetando assim toda a perspectiva geral do mundo. Em grande parte, foi através de sua influência que se fez da religião cristã o que ela é hoje. Devemos originalmente a filósofos ideias que desempenharam papel fundamental para o pensamento em geral, mesmo em seu aspecto popular, como, por exemplo, a concepção de que nenhum homem pode ser tratado apenas como um 13 meio ou a de que o estabelecimento de um governo depende do consentimento dos governado. No âmbito da política, a influência das concepções filosóficas tem sido expressiva. É inegável que a influência da filosofia sobre a política pode às vezes ser nefasta: os filósofos alemães do século XIX podem ser parcialmente responsabilizados pelo desenvolvimento de um nacionalismo exacerbado que posteriormente veio a assumir formas bastante deturpadas. Todavia, não resta dúvida de que essa responsabilidade tem sido frequentemente muito exagerada, sendo difícil determiná-la exatamente, o que se deve ao fato de aqueles filósofos terem sido obscuros (RODRIGUES, 2015). Contudo, Scariotto, (2007), salienta que se uma filosofia de má qualidade pode exercer influência nefasta sobre a política, com as filosofias de boa qualidade pode ocorrer o contrário. Não há meios de impedir tais influências sendo, portanto, extremamente oportuno que dediquemos especial atenção à filosofia com o intuito de constatar se concepções que exerceram alguma influência foram mais positivas do que nefastas. Uma boa filosofia, ao influenciar favoravelmente a política, pode gerar uma prosperidade incapazde ser alcançada sob a égide de uma filosofia inferior (HUSSERL,1965, apud SCARIOTTO, 2007, p. 22.). 5 PERÍODOS DA FILOSOFIA Fonte: Google.com 14 De acordo com Nascimento (2017), a filosofia tem dois objetivos importantes. Em primeiro lugar, tenta dar ao homem uma visão unificada do universo em que vive. Em segundo lugar, procura fazer com que a pessoa tenha um pensamento mais crítico, ao aguçar sua capacidade de raciocinar com clareza e precisão. A filosofia é como uma tentativa geralmente obstinada de pensar com clareza. Um filósofo é uma pessoa que pensa com maior profundidade e obstinação do que as outras. O termo filosofia origina-se de duas palavras gregas, philo e sophia, que, reunidas, significam amor à sabedoria. Em Sócrates e Platão, existe uma contraposição entre sabedoria e filosofia. A sabedoria perfeita é própria de Deus, que é o sábio por excelência. Os homens são filósofos, isto é, amantes ou aficcionados à sabedoria. Estão em busca do saber, guiam-se pela procura do saber, embora nunca o terão plenamente. (GOMES, 2001, apud BRANCO, 2004, p. 9). A filosofia possui um grande valor para as pessoas que vivem nesse mundo complicado. Muitas delas não têm fundamentos ou crenças que norteiem suas vidas. A filosofia pode fornecer-lhes uma estrutura racional, com a qual podem pensar. Ao aceitar uma determinada corrente filosófica, o homem tem possibilidade de começar a buscar certos objetos e dirigir seu comportamento. Por exemplo, um estoico tenta dominar suas emoções; um epicurista busca a felicidade através do prazer; o racionalista tenta chegar ao conhecimento através da razão; o cristão luta pela salvação através da graça e dos ensinamentos de Jesus Cristo (BRANCO, 2004). De acordo com o autor supracitado cada conjunto de crenças leva a um determinado modo de pensar e a um comportamento diferente. A filosofia também examina fundamentos de outros estudos. Pergunta ao cientista social o que acredita ser a natureza do homem. Indaga ao físico por que utiliza o método científico. A filosofia procura organizar as conclusões das várias ciências para mostrar os diversos modos como estão relacionadas. 5.1 A busca de uma explicação O homem primitivo não começou filosofando, assim como o homem medieval não podia ainda fazer Ciência. Sua mente primitiva se sentia estimulada a explicar uma Natureza totalmente desconhecida. Recém-vindo de uma evolução biológica 15 surpreendente, sua mente era, diante das coisas, um papel em branco onde iria escrever seus mitos. O mito surge da necessidade consciente e inconsciente que o homem tem de explicar seu meio e seus problemas desconhecidos. Depois da explicação, sente-se como que dono da situação. Apossa-se intelectualmente do fato. (BRANCO, 2004). Quando o homem surgiu na Terra, tudo era incógnito e, por conseguinte, sua imaginação começou a criar explicações numa função existencial de dar sentido a seu meio. Estas explicações primitivas recebem a denominação de mitos. O mito, ainda hoje, é uma constante da mente humana. Mito é um contexto explicativo feito para esclarecer um fato até então desconhecido. O mito pode ser definido como uma narrativa imaginária que estrutura e organiza de forma criativa as crenças culturais Relato mitológico é aquela elaboração de natureza poética, literária, moral, que se faz sobre um mito ou algum fato de natureza literária ou histórica (BRANCO, 2004). Sobre a mitologia o autor referenciado afirma que é o conjunto dos relatos mitológicos, podendo incluir alguns mitos de determinado povo. O mito, em suma, é o pensamento anterior à reflexão mais crítica. Nasceu de uma atitude primária diante das coisas, sem rigor racional e sem crítica pessoal. Isto seria característica do momento seguinte: o filosófico. Platão e Aristóteles assinalam como princípio da filosofia o desejo de saber, inato no ser humano, excitado pela admiração e curiosidade frente aos fenômenos da natureza. É característico do filósofo o estado de ânimo da admiração, pois outro não é o princípio da filosofia. E não estabeleceu mal a genealogia aquele que disse que Íris (a filosofia) é filha de Thaumante (a admiração). (PLATÃO, (Platão, TEETETO, 155 apud BRANCO, 2004, p. 10). A reflexão, a meditação ativa e a razão crítica viriam interpretar o mundo mítico e elaborar um outro tipo de explicação: a filosófica. O mito ocupa todos os espaços da vida humana e faz do mundo uma celebração de sonho e de delírio. Os demais conhecimentos se enraízam no mito e são modulações de sua força. É sempre a experiência mítica que entusiasma a filosofia e a ciência. E hoje é ainda ela que comanda a produção e o uso das máquinas e dos aparelhos técnicos. (BRANCO, 2004). 16 6 FILOSOFIA OCIDENTAL Fonte: pixers.be De acordo com Severino (2006) a filosofia ocidental pode-se entendida como o estudo racional e crítico dos princípios básicos da compreensão. Divide-se quase sempre em quatro ramos principais: metafísica (O que é real?), epistemologia (Como se sabe? O que é verdade?), ética (Qual é a natureza do bom, do religioso?) E estética (Qual é a natureza do belo?). Contudo, diversos compêndios costumam relacionar os principais campos de domínio da filosofia, além dos já relacionados, ainda a teoria do conhecimento, a filosofia política, a filosofia da história, a história da filosofia, a filosofia da linguagem, a lógica e a filosofia aplicada. Para um maior entendimento, observa- se as definições de cada campo: Ontologia ou metafísica: conhecimento dos princípios e fundamentos últimos de toda a realidade, de todos os seres. Lógica: conhecimento das formas gerais e regras gerais do pensamento correto e verdadeiro, independentemente dos conteúdos pensados; regras para a demonstração científica verdadeira; regras para pensamentos não-científicos; regras sobre o modo de expor os conhecimentos; regras para verificação da verdade ou falsidade de um pensamento, etc. (SEVERINO, 2006) Epistemologia: análise crítica das ciências, tanto as ciências exatas ou matemáticas, quanto as, naturais e as humanas; avaliação dos métodos e dos 17 resultados das ciências; compatibilidades e incompatibilidades entre as ciências; formas de relações entre as ciências, etc. (SEVERINO, 2006). Teoria do conhecimento ou estudo das diferentes modalidades de conhecimento humano: o conhecimento sensorial ou sensação e percepção; a memória e a imaginação; o conhecimento intelectual; a ideia de verdade e falsidade; a ideia de ilusão e realidade; formas de conhecer o espaço e o tempo; formas de conhecer relações; conhecimento ingênuo e conhecimento científico; diferença entre conhecimento científico e filosófico, etc. (SEVERINO, 2006). Ética: estudo dos valores morais (as virtudes), da relação entre vontade e paixão, vontade e razão; finalidades e valores da ação moral; ideias de liberdade, responsabilidade, dever, obrigação, etc. (SEVERINO, 2006). Filosofia política: estudo sobre a natureza do poder e da autoridade; ideia de direito, lei, justiça, dominação, violência; formas dos regimes políticos e suas fundamentações; nascimento e formas do Estado; ideias autoritárias, conservadoras, revolucionárias e libertárias; teorias da revolução e da reforma; análise e crítica das ideologias (SEVERINO, 2006). Filosofia da História: estudo sobre a dimensão temporal da existência humana como existência sócio-política e cultural; teorias do progresso, da evolução e teorias da descontinuidade histórica; significado das diferenças culturais e históricas, suas razões e consequências (SEVERINO, 2006). Filosofia da arte ou estética: estudo das formas de arte, do trabalho artístico; ideia de obra de arte e de criação; relação entre matéria e forma nas artes; relação entre arte e sociedade, arte e política, arte e ética (SEVERINO, 2006). Filosofia da linguagem: a linguagemcomo manifestação da humanidade do homem; signos, significações; a comunicação; passagem da linguagem oral à escrita, da linguagem cotidiana à filosófica, à literária, à científica; diferentes modalidades de linguagem como diferentes formas de expressão e de comunicação. (SEVERINO, 2006). História da Filosofia: estudo dos diferentes períodos da Filosofia; de grupos de filósofos segundo os temas e problemas que abordam; de relações entre o pensamento filosófico e as condições econômicas, políticas, sociais e culturais de uma sociedade; mudanças ou transformações de conceitos filosóficos em diferentes 18 épocas; mudanças na concepção do que seja a Filosofia e de seu papel ou finalidade. (SEVERINO, 2006). O autor ainda afirma que os dois tipos fundamentais de investigação filosófica são a filosofia analítica, que é o estudo lógico dos conceitos, tratando o assunto tão amplo e globalizador que se torna impossível a experimentação, e a filosofia sintética, que é a organização dos mesmos num sistema unificado, onde a mente se volta para as minudências, os pormenores, a gênese do assunto, seus aspectos reais em oposição a seus aspectos aparentes. Para os gregos clássicos, o termo filosofia significa a busca do conhecimento por si próprio e abrange todas as áreas do pensamento especulativo. Daí o estudo da filosofia no mundo de hoje – a filosofia aplicada – envolver às mais diversas áreas: filosofia da ciência, filosofia da arte, filosofia da educação, filosofia da matemática, filosofia política, filosofia do direito, etc. Filosofia da Educação: A tarefa da filosofia é interrogar o mundo para interpretá-lo; à Filosofia da Educação cabe refletir criticamente a ação pedagógica, examinar a concepção de homem, os valores, os pressupostos do conhecimento, avaliar currículos, etc. (SEVERINO, 2006). 7 FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA Fonte: netmundi.org 19 De acordo com Morais (2010) a pré-socráticos são os filósofos anteriores a Sócrates que viveram na Grécia por volta do século VI a.C., considerados os criadores da filosofia ocidental. Essa fase, que corresponde à época de formação da civilização helênica, se caracteriza pela preocupação com a natureza e o cosmo. Como é possível que as coisas mudem e desapareçam e, apesar disto, a natureza continue sempre a mesma? A Terra está repleta de espécies. A água se transforma em vapor. A matéria viva se transforma em pó e neste surgem as plantas para alimentar outros seres vivos...? (TELES, 1988, apud BRANCO, 2004, p. 12). A filosofia pré-socrática inaugura uma mentalidade baseada na razão e não mais no sobrenatural e na tradição mítica. As escolas jônicas, eleática, atomista e pitagórica são as principais do período. Os físicos da Jônia, como Tales de Mileto (625-546 a.C), Anaximandro (611-547 a.C), Anaxímenes, (570-547 a.C) e Heráclito4 (544-480 a.C), procuram explicar o mundo pelo desenvolvimento de uma natureza comum a todas as coisas e em eterno movimento. Heráclito afirma a estrutura contraditória e dinâmica do real. Para ele, tudo está em constante modificação. Daí sua frase "Não nos banhamos duas vezes no mesmo rio", já que nem o rio nem quem nele se banha são os mesmos em dois momentos diferentes da existência. (MORAIS, 2010). Os pensadores de Eléa, como Empédocles (483-430 a.C), Parmênides (530- 460 a.C) e Anaxágoras (499-428 a.C), ao contrário, dizem que o ser é unidade e imobilidade e que a mutação não passa de aparência. Para Parmênides, o ser é ainda completo, eterno e perfeito. Já Zenon (510-? A.C) conceituou os paradoxos lógicos (no campo da lógica e da matemática designa uma conclusão aparentemente contraditória derivada de uma proposta com premissas válidas), enigmas intelectuais que filósofos e lógicos de todas as épocas posteriores tentariam resolver. O interesse dos eleáticos pelo problema da coerência racional propiciou o desenvolvimento da ciência da lógica (MORAIS, 2010). Os atomistas, como Leucipo e Demócrito (460-370 a.C), (a quem se atribui o primeiro esboço mais completo de um materialismo determinista) sustentam que o Universo é constituído de átomos eternos, indivisíveis e infinitos reunidos aleatoriamente (BOCAYUVA, 2010). 20 Por volta de fins do século V a.C., os sofistas passaram a ter um importante papel na evolução das cidades - estado gregas. A famosa máxima de Protágoras (490- 410 a.C), “o homem é a medida de todas as coisas”, é representativa da atitude filosófica desta escola. Os sofistas, como Protágoras e Górgias (485-380), são educadores pagos pelos alunos. Pretendem substituir a educação tradicional, destinada a preparar guerreiros e atletas, por uma nova pedagogia, preocupada em formar o cidadão da nova democracia ateniense. Com eles, a arte da retórica – falar bem e de maneira convincente a respeito de qualquer assunto – alcança grande desenvolvimento (BOCAYUVA, 2010). Pitágoras (582-500 A. C) afirma que a verdadeira substância original é a alma imortal, que preexiste ao corpo e no qual se encarna como em uma prisão, como castigo pelas culpas da existência anterior. O pitagorismo representa a primeira tentativa de apreender o conteúdo inteligível das coisas, a essência, prenúncio do mundo das ideias de Platão (BOCAYUVA, 2010). 8 FILOSOFIA CLÁSSICA Fonte: netmundi.org De acordo com Piovezan (2008) talvez a maior personalidade filosófica da história tenha sido Sócrates (470-399 A.C). Sua contribuição não foi uma doutrina sistemática, e sim um método de reflexão, a maiêutica, e um estilo de existência. Enfatizou a necessidade de um autoexame analítico das crenças de cada um, de 21 definições claras para os conceitos básicos, e de um levantamento racional e crítico dos problemas éticos. Platão (427-347 a.C), pensador mais sistemático do que Sócrates, baseou sua filosofia em sua teoria das ideias, ou doutrina das formas. Seu conceito do bem absoluto — que é a ideia mais elevada e engloba todas as demais — foi uma das principais fontes das doutrinas religiosas – panteísta e mística – na cultura ocidental. (PIOVEZAN, 2008). Aristóteles (384-322 a.C), considerado o mais ilustre discípulo de Platão, e, juntamente com ele, os mais profundos e influentes pensadores do mundo, definiu os conceitos e princípios básicos de inúmeras ciências teóricas, como a lógica, a biologia, a física e a psicologia. Ao estabelecer os rudimentos da lógica como ciência, desenvolveu a teoria da inferência dedutiva, representada pelo silogismo e por um conjunto de regras, fundamentando o que viria a ser o método científico. Esboçou um sistema orgânico da natureza que foi adotado por muitos teólogos cristãos, judeus e muçulmanos na Idade Média (PIOVEZAN, 2008). Com a democracia em Atenas, o governo procura formar cidadãos participativos nas atividades da polis, homens políticos e habilitados a participar do processo democrático, por meio da Paidéia (formação integral do homem). A filosofia passa a valorizar, a refletir sobre o homem, diminuindo o interesse pela natureza. Do século IV a.C. ao desenvolvimento da filosofia cristã no século IV, o epicurismo, o estoicismo, o ceticismo e o neoplatonismo foram as principais escolas filosóficas do mundo ocidental. O interesse pela ciência natural declinou ainda mais durante este período e essas escolas se preocuparam principalmente com a ética e a religião; a salvação e a felicidade passam a ser vistas como possíveis de alcançar de forma individual e subjetiva (PIOVEZAN, 2008). 22 9 FILOSOFIA MEDIEVAL Fonte: slideshare.net Durante o declínio da civilização greco-romana, os filósofos ocidentais abandonaram a investigação científica da natureza e a busca da felicidade no mundo e passaram a se preocupar com o problema da salvação em outro mundo melhor. Por volta do século III, o cristianismo já se havia estendido às classes mais cultas do ImpérioRomano. Santo Agostinho (354-430) conciliou, juntamente com outros padres da Igreja (de onde originou o nome de filosofia patrística, dado ao período), a ênfase dada pelos gregos à razão com a insistência dos romanos nas emoções religiosas dos ensinamentos de Cristo e dos apóstolos, gerando um sistema de pensamento que se transformou na própria doutrina do cristianismo da época. Em grande parte, graças a sua influência, o pensamento cristão foi platônico em espírito até o século XIII. (SANTOS, 2015). O estadista do século VI Boécio reavivou o interesse pelos pensamentos grego e romano, especialmente pela lógica e a metafísica aristotélicas. No século IX, o monge irlandês Johannes Scotus Erigena (810-877) propôs uma interpretação panteísta do cristianismo, identificando a Trindade divina com o Uno, o Logos e a Alma universal do neoplatonismo. Separa-se a filosofia da teologia. A filosofia é chama da “serva “da teologia. Procura-se conciliar fé e razão, característica fundamental da filosofia tomista, chamada escolástica (ministrada nas escolas cristãs – catedrais e 23 conventos), mais tarde nas universidades. No século XI, essa corrente de pensamento filosófico ressurgiria com vigor, fruto do crescente encontro entre as diferentes regiões do mundo ocidental e o despertar do interesse pelas culturas desconhecidas, que culminaria no Renascimento (SANTOS, 2015). Os filósofos muçulmanos, judeus e cristãos interpretaram e esclareceram os escritos de Platão, Aristóteles e outros sábios gregos, tentando conciliar a filosofia com a fé religiosa e dar às próprias crenças religiosas pilares racionais. Surgiu a escolástica, cujo método foi dialético ou discursivo. O interesse pela lógica do discurso levou a importantes avanços, tanto em lógica quanto em teologia (SANTOS, 2015). Avicena (980-1037), médico, filósofo, astrônomo e físico árabe do século XII, integrou o neoplatonismo e as ideias aristotélicas à doutrina religiosa muçulmana. O teólogo francês Pedro Abelardo (1079-1142) propôs um compromisso entre realismo e nominalismo, que ficou conhecido como conceitualismo. O jurista hispano-árabe Averroes contribuiu para que a ciência e o pensamento aristotélico tivessem grande influência no mundo medieval, graças a seus lúcidos e eruditos comentários sobre a obra de Aristóteles. Porém, a maior figura intelectual da Era Medieval foi, sem dúvida, São Tomás de Aquino (1225-1274), que uniu a ciência aristotélica e a teologia agostiniana num amplo sistema de pensamento, que se transformaria na filosofia escolástica autorizada da Igreja católica. Aquino elabora a síntese entre o cristianismo e o pensamento aristotélico, estabelecendo os fundamentos filosóficos para a teologia cristã (SANTOS, 2015). 24 10 FILOSOFIA MODERNA Fonte: revistahcsm.coc.fiocruz.br De acordo com Andrade (2017) a partir do século XV, a filosofia moderna tem estado caracterizada por uma contínua interação entre sistemas de pensamento, fundada em uma interpretação mecanicista e materialista do universo, e os que se baseiam na fé no pensamento humano como única realidade última. Esta interação reflete o efeito crescente das descobertas científicas e das transformações políticas na especulação filosófica. À religiosidade medieval, a filosofia moderna apresenta-se leiga, profana, crítica e encontra na razão sua fundamentação. O autor ainda afirma que para compreender a si e o mundo, o homem moderno debruça-se ainda mais sobre o conhecimento: quer entender a sua própria capacidade de entender, de conhecer. A teoria do conhecimento pode ser entendida como a investigação acerca das condições do conhecimento verdadeiro. Conhecer é representar cuidadosamente o que é exterior à mente, a representação é o processo pelo qual a mente torna presente diante de si a imagem, a ideia ou o conceito de algum objeto Portanto, para que exista conhecimento será necessária a relação entre dois elementos básicos: um sujeito conhecedor (nossa consciência, nossa mente) e um objeto (a realidade, o mundo, os fenômenos). Só haverá conhecimento se o sujeito conseguir apreender o objeto, isto é, conseguir representa-lo mentalmente. É possível 25 o conhecimento verdadeiro ou tudo é incerteza? Na realidade, o conhecimento é a fabricação do ideal sobre a terra (ANDRADE, 2017) 11 ÉTICA Fonte: riooportunidadesdenegocios.com.br De acordo com Silva (2016) ética, princípios ou pautas da conduta humana, também denominada filosofia moral. Como ramo da filosofia, é considerada uma ciência normativa. Os valores morais estão presentes nos mais diferentes atos de nossa vida. Para tudo estabelecemos prioridades a partir de valores. Ética pode ser entendida, então, como reflexão sobre o comportamento moral (bem/mal – justo/injusto). (...) a Ética observa o comportamento humano e aponta seus erros e desvios, além de formular os princípios básicos a que deve subordinar-se a conduta do homem; e, a par de valores genéricos e estáveis, a Ética é ajustável a cada época e circunstância. (ACQUAVIVA, 2002, apud SILVA, 2016, p. 27). Ética de acordo com o autor supracitado é a ciência do comportamento moral do homem em sociedade, aproximando-se da Moral. Isto porque ética e moral têm a mesma origem. Portanto, pode-se concluir que a ética tem o sentido de higidez, de irrepreensibilidade, de correção, de postura moral. 26 11.1 A Ética na Filosofia Uma das configurações atribuídas à palavra Ética é de cunho filosófico. Nesse sentido, Ética, enquanto parte da Filosofia, refere-se a uma reflexão a respeito da moral, relacionada ao meio social em que está inserido o indivíduo. Assim, ela impulsiona o exercício crítico e reflexivo das bases moralistas, na busca da elucidação dos fatos morais. Desta forma, é notável que a Ética, na Filosofia, não oferece um código de normas, apenas incentiva o homem, como ser racional e social, a praticar o senso crítico e auto avaliativo, em suas atitudes e modo de agir (PEDR, 2014). A ética não pode prescrever conteúdos ao agir, nem pode instrumentalizá-lo; não é seu papel fornecer soluções concretas ao agir humano. A ética precisa contar com a capacidade de os indivíduos encontrarem saídas plausíveis, racionais para o seu agir. A ética filosófica (formal e universalista) não pode, paternalisticamente, dizer o que o indivíduo deve fazer, prescrevendo ações; ela não pode se constituir em um receituário para a conduta cotidiana dos indivíduos, nem servir de desculpa para justificar seu agir mediante motivos puramente externos. A justa medida requerida pela ética não é extraída por intermédio de fórmula alguma; ela é medida qualitativamente, por isso requer mediania. (CENCI, 2002, apud SILVA, 2016, p. 30). Este é o principal pilar da diferenciação entre Moral e Ética, pois, para ela, toda moral é normativa, enquanto designada a ditar aos sujeitos os padrões de conduta, assim como os valores e costumes das sociedades das quais participam. Já a ética não é necessariamente normativa, e vem, em seguida, sistematizando a subdivisão de ética em normativa e não normativa, sendo que, normativa seria a ética de deveres e obrigações; e não normativa, seria a ética que tem como objeto de estudo as ações e paixões humanas, embasadas no ideal da felicidade, de acordo com o critério da relação razão - vontade – liberdade (SILVAA , 2016). (...) entre as tarefas da ética como filosofia moral são essenciais as que seguem: 1) elucidar em que consiste o moral, que não se identifica com os restantes saberes práticos (com o jurídico, o político ou o religioso), ainda esteja estreitamente conectado com eles; 2) tentar fundamentar o moral; ou seja, inquirir as razões para que haja moral ou denunciar que não as há. Distintos modelos filosóficos, valendo-se de métodos específicos, oferecem respostas diversas, que vão desde afirmar a impossibilidadeou inclusive a indesejabilidade de fundamentar racionalmente o moral, até oferecer um fundamento; 3) tentar uma aplicação dos princípios éticos descobertos aos distintos âmbitos da vida cotidiana. (CORTINA, 2010, apud SILVA, 2016, p. 31). 27 Seria responsabilidade da Ética a definição da figura do agente ético e de suas atitudes, que corresponde ao sujeito consciente, que sabe o que são suas ações, sendo livre para escolher o que faz, e responsável pelas consequências de seus atos. E, neste mesmo sentido, o sujeito, desde que em perfeito estado de juízo, já possui a ideia do que é certo ou errado, em suas atitudes, orientados pelos códigos de conduta da sociedade em que vive, que definem como fazer (SILVA, 2016). 12 MORAL Fonte: asemananews.com.br Silva (2016), propõe que a expressão moral deriva da palavra romana mores, com o sentido de costumes, conjunto de normas adquiridas pelo hábito reiterado de sua prática. São regras de conduta que regulamentam o comportamento do indivíduo na sociedade, garantindo o funcionamento, a estabilidade e a possibilidade de transformação da própria sociedade. A moral deriva da necessidade comum aos indivíduos de se relacionarem, buscando o bem para a coletividade, podendo ser definida, também, como um conjunto de normas e regras, que tem a finalidade reguladora das interações entre os indivíduos, dividindo o mesmo espaço, em um mesmo tempo. (VÁZQUEZ,1984, apud SILVA, 2016, p. 34). A moral, dessa forma, consiste em um dado histórico mutável e dinâmico, que evolui conforme as transformações políticas, econômicas e sociais, tendo em vista 28 que a existência de princípios morais estáticos seria impossível. É a parte subjetiva da ética, que ordena o comportamento humano para consigo mesmo, além de englobar os costumes, obrigações, maneiras e procedência do homem, em convívio com os demais. Assim, a moral é compreendida na forma de uma conduta voluntária, isenta de pressões externas ao indivíduo, acrescida de uma listagem de normas de ação específica, estando então, implícita em códigos, normatizações e leis, que regulamentam a ação do ser humano, em meio social (SILVA, 2016). Torna-se oportuno ressaltar que o objeto da Ética é a moral, vista como um dos aspectos do comportamento humano. É a moralidade positiva, é o conjunto de regras de comportamento e formas de vida, através das quais tende o homem a realizar o valor do bem. Sob essa vertente, moral e ética significam algo muito semelhante, sendo que a distinção conceitual existente não elimina o uso corrente das duas expressões como intercambiáveis (SILVA, 2016). 13 POLÍTICAS EDUCACIONAIS Fonte: medium.com As políticas educacionais fazem parte do grupo de políticas públicas sociais do país. Dessa forma, constituem um elemento de normatização do Estado, guiado pela sociedade civil, que visa garantir o direito universal à educação de qualidade e o pleno desenvolvimento do educando (LIBÂNEO, 2016). https://blog.unyleya.edu.br/insights-confiaveis/afinal-voce-sabe-o-que-sao-politicas-publicas/ 29 No entanto, construir uma política pública eficiente, principalmente na área educacional, não é nada fácil. Com o intuito de servir para todos os cidadãos, cada qual com suas necessidades e anseios, as políticas educacionais precisam, obrigatoriamente, abranger uma série de variáveis. A sociedade é dinâmica e, por isso, a compreensão da função do Estado e das necessidades educacionais também muda ao longo dos anos. As políticas públicas de educação geralmente estão associadas aos momentos históricos de um país e do mundo e à interpretação de poder de cada época (LIBÂNEO, 2016). No Brasil, elas são estabelecidas por um processo pedagógico nacional, no qual são discutidas as temáticas necessárias para garantir uma educação de qualidade, e apoiadas pela legislação. Exigem, ainda, a participação da sociedade como um todo — educadores, alunos, pais e governo. Normalmente, as políticas educacionais têm origem nas leis votadas pelo Poder Legislativo nas esferas federal, estadual e municipal, embora membros do Poder Executivo também possam propor ações nessa área. Aos cidadãos cabe participar dos conselhos de políticas públicas, que são espaços de discussão de demandas. (LIBÂNEO, 2016). Dessa forma, as políticas educacionais podem ser entendidas como um meio de construção de valores e conhecimentos que possibilitam o pleno desenvolvimento do educando, incluindo sua capacidade de se comunicar, compreender o mundo ao seu redor, defender suas ideias e exercer a cidadania. Ao estabelecer modelos educacionais concebidos pelos cidadãos e pelo governo, essas políticas públicas viabilizam a criação de uma sociedade apta para trabalhar, questionar e contribuir com o crescimento da nação — por isso, são de extrema importância para o país (FERREIRA, 2015). Políticas públicas são ações de Governo, portanto, são revestidas da autoridade soberana do poder público. Dispõem sobre “o que fazer” (ações), “aonde chegar” (metas ou objetivos relacionados ao estado de coisas que se pretende alterar) e “como fazer” (estratégias de ação) (RODRIGUES, 2010, apud FERREIRA, 2015, p. 03). Embora haja distinção entre as práticas da política e da educação, estas se articulam, tendo influência no projeto de sociedade que se pretende implantar, ou que está em curso, em cada momento histórico, ou em cada conjuntura, projeto este que corresponde ao referencial normativo global de uma política (FERREIRA, 2015). 30 [...] a educação depende da política no que diz respeito a determinadas condições objetivas como a definição de prioridades orçamentárias que se reflete na constituição- consolidação-expansão da infraestrutura dos serviços educacionais etc.; e a política depende da educação no que diz respeito a certas condições subjetivas como a aquisição de determinados elementos básicos que possibilitem o acesso à informação, a difusão das propostas políticas, a formação de quadros para os partidos e organizações políticas de diferentes tipos, etc. (SAVIANI, 1986, apud GRACIANO, 2017, p.15). Dentro do projeto de sociedade do modo de produção capitalista, marcado pela contradição, as políticas sociais simbolizam as forças antagônicas da luta de classes. A classe dominante, que detém os modos de produção, beneficia-se do poder para explorar a classe trabalhadora, utilizando-se das políticas como: “[...] formas de manutenção da força de trabalho econômica e politicamente articuladas para não afetar o processo de exploração capitalista e dentro do processo de hegemonia e contra-hegemonia da luta de classes” (FALEIROS, 1991, apud GRACIANO, 2017, p.15). A melhoria da qualidade de ensino e a equidade educacional deveriam ser um dos principais objetivos da educação, mas dentro da contradição capitalista, direito de acesso não significa direito à permanência e/ou a ensino de qualidade. Para melhor compreendermos as políticas educacionais no contexto da sociedade neoliberal estruturamos o texto em três tópicos. O primeiro trata a respeito das Políticas da Infância e da Adolescência no Brasil contemplará a história das políticas, uma vez que para desvelarmos a influência neoliberal em nossas políticas precisamos compreender as relações estabelecidas entre os fenômenos sociais, políticos e econômicos durante a história da educação em nosso País e sua relação com o contexto mundial (GRACIANO, 2017). Na sequência discute-se a inclusão educacional, no qual abordar a relação existente entre exclusão e desigualdade social, bem como a influência do currículo para instrumentalização e transformação da escola em um ambiente inclusivo. Por fim, intentamos demonstrar que investir em qualidade para a educação não é prioridade para a classe dominante, por esse motivo a lógica neoliberal de meritocracia e individualismo tem sido disseminado no espaçoescolar, deixando aos professores o desafio de perceber suas nuances impedindo sua difusão (GRACIANO, 2017). 31 14 AS POLÍTICAS DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA NO BRASIL Fonte: Google.com Graciano (2017) salienta que a noção de infância que adotamos em nossos dias, como período peculiar de nossas vidas, não é um sentimento inerente à condição humana, e sim, uma construção social que teve um olhar particular ao findar da Idade Média. Neste período já se percebia a fragilidade e limitações no conceito de criança, modificando assim os cuidados e as concepções acerca das mesmas. Essa mudança, associada a outros fatores, dentre eles as modificações econômicas e da família fez com que se tornasse necessário o desenvolvimento de políticas públicas de atendimento à infância. Dentre as principais influências nas transformações sociais e políticas no desenvolvimento da história dos direitos humanos e da defesa da educação popular encontram-se os pensadores dos séculos XVII e XVIII, com suas ideias acerca dos direitos naturais, inerentes à condição humana. Que culminaram com a ênfase nos direitos a liberdade e a igualdade, difundidos pela corrente de pensamento racionalista. É importante compreender que esse direito diz respeito ao aspecto valorativo da pessoa (DALLARI, 1994, apud GRACIANO, 2017, p.16). Ainda de acordo com o autor a expansão da industrialização e a ascensão do capitalismo trouxe a necessidade de inserção da mulher e das crianças no mundo do trabalho, para auxiliarem na complementação da renda da família. As crianças não eram alfabetizadas, pois além da extensa rotina de trabalho, que girava em torno de 14 horas diárias, não tinham direito ou oportunidade de acesso à educação escolar. 32 Na contramão dos interesses do Estado a classe trabalhadora começou a reivindicar o direito à educação para sua prole, encontrando dificuldades, pois de acordo com o pensamento dominante: “Qualquer um a não ser que seja idiota sabe que as classes baixas precisam ser mantidas na pobreza ou nunca serão industriosas”. Acontecimentos importantes nessa luta também foram as revoluções burguesas, ocorridas nos séculos XVII e XVIII, na Holanda, Inglaterra e França, sendo que esta última teve seus ideais de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” difundidos por todo o mundo (DALLARI, 1994, apud GRACIANO, 2017, p.16). Para a classe dominante a educação popular implicava em risco, pois ensinaria as classes populares a pensar. Mas mesmo diante da ameaça, a necessidade de mão- de-obra qualificada para manter as indústrias tornou a escola necessária, desde que se detivesse a ensinar o básico para a melhoria da produtividade. Por interessar a elite dominante, os ideais de cidadania advindos das revoluções burguesas foram difundidos durante o século XIX, legitimando os princípios liberais pautados no tripé burguês. Nesse momento histórico, nem todos os homens eram cidadãos ativos, ou seja, com direitos iguais de decisão. O poder econômico e político centrava-se na burguesia (GRACIANO, 2017). Já no Brasil a história das políticas da infância e adolescência teve início no período em que ainda era colônia de Portugal (1500-1822), tendo sua estrutura econômica e política vinculada a metrópole portuguesa, sendo o poder mantido por meio da união entre os representantes da corte e da igreja católica. Das primeiras preocupações com o cuidado das crianças desprovidas de recursos originaram-se as casas de recolhimento, fundadas pelos jesuítas, com a finalidade de cuidar das crianças índias, batizando-as e preparando-as para o trabalho. Com a cultura escravocrata surgiram novas dificuldades relacionadas as crianças, uma vez que o custo de sua criação era maior do que a importação de mão de obra escrava adulta. Sendo o problema agravado pelos filhos ilegítimos nascidos dos senhores com suas escravas ou índias (relações estas consideradas imorais), predestinando essas crianças ao abandono. Para sanar o problema, em 1726 foi proposto a estratégia de coletar esmolas na comunidade para acudir e internar essas crianças, sendo instalada em 1726, na Bahia a “Roda dos Expostos”, grande roda 33 giratória para onde eram levadas às crianças abandonadas, mantendo os pais no anonimato (GRACIANO, 2017). Durante os séculos XIX e XX a ideologia de caridade foi substituída pela ideologia filantrópica com a criação dos primeiros "institutos de atenção à criança". Sendo fundado em 1899, o Instituto de Proteção e Assistência à Infância no Rio de Janeiro, pelo Dr. Arthur Moncorvo Filho e o Instituto Disciplinar de São Paulo, criado em 1902. O Estado passou a ter papel ativo no atendimento a crianças e adolescentes privados de assistência que deveriam então submeter-se às suas determinações, para que não ameaçassem a sociedade, mas a família era responsabilizada pelo abandono (GRACIANO, 2017). Em 1927 instituiu-se o primeiro Código de Menores que tratou de questões referentes a higiene da infância, bem como da delinquência, estabelecendo sobre a infância vigilância pública, classificando os menores em abandonados e delinquentes. Em 1941 o Estado interviu com a instalação de serviços de atendimento aos menores (SAM - Serviço de Assistência ao Menor e a FUNABEM - Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor), objetivando que as crianças e adolescentes provenientes de famílias “despreparadas”, incapazes ou inexistentes tivessem uma educação adequada, tornando-se responsável pela assistência e proteção à infância (MARCÍLIO, 1998, apud GRACIANO, 2017, p.17). Ao findar da Segunda Guerra Mundial a necessidade de combater injustiças, despertou o desejo de uma nova ética social. Este aspecto fez com que as nações se organizassem na Assembleia Geral em 1948, que originou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, base de uma ideia que hoje tem extraordinária importância para toda a humanidade – a de democracia(GRACIANO, 2017). Assegurar os direitos e liberdades, bem como medidas progressivas de caráter nacional e internacional, que devem ser promovidas por meio do ensino e da educação é um ideal comum entre indivíduos e instituições (VIEIRA, 2001, apud GRACIANO, 2017, p.17). Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a instrução elementar e gratuita é um direito de todos, podendo os pais escolherem o gênero de instrução que será ministrada a seus filhos. No Brasil, o período do pós-guerra foi marcado pela luta em prol da universalização do ensino primário. O interesse pelo acesso à educação fez emergir campanhas de alfabetização para as massas, intensificando a 34 cobrança de ações para prover recursos financeiros e fundamentar a política nacional de educação (GRACIANO, 2017). Em 1959 a Organização das Nações Unidas - ONU proclamou a Declaração Universal dos Direitos da Criança. Esta Declaração foi o marco do avanço das “conquistas da infância”, pois, pela primeira vez na história a criança passou a ser vista como “prioridade absoluta e sujeito de Direitos” (MARCÍLIO, 2006, apud GRACIANO, 2017, p.19). Em 1964 a Lei 4.513 estabelece a PNBEM - Política Nacional do Bem-Estar do Menor, propondo que o assistencialismo seja executado pela FUNABEM – Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, intentando que a política de bem-estar de crianças e adolescentes assumisse um caráter nacional. Surgindo ao findar dos anos de 1970 um movimento social com visão diferenciada a respeito das crianças e adolescentes, mostrando ser a prática de confinamento das instituições perversa e ineficaz (GRACIANO, 2017). A década de 1990 marcou a luta pelo direito a educação para todos por meio da Declaração Mundial de Educação Para Todos. A estreita relação apresentada entre pobreza, analfabetismo e desigualdade social levou os países participantes da conferência a estabelecer metas para a ampliação da escolarização. Neste período no Brasil, passoua vigorar o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, Lei n° 8.069/90 este teve como fundamento os princípios adotados pela Doutrina de Proteção Integral, defendida pela Organização das Nações Unidas e pela Declaração Universal dos Direitos da Criança, de 1959 — crianças e adolescentes passaram a ser projetados como sujeitos em desenvolvimento, tendo direito à proteção integral devendo ser-lhes assegurados oportunidades e facilidades, para facultar seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. De acordo com o artigo 227 de nossa Constituição Federal: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com prioridade absoluta, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los à salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988, apud GRACIANO, 2017, p.20). Como reflexo lógico há imposição do dever ao Estado, à família e à sociedade de assegurar-lhes acesso a todos os bens da vida considerados fundamentais ao seu 35 bem-estar presente e futuro e de destinar-lhes proteção integral, mantendo-os a salvo de toda e qualquer negligência, discriminação, violência, crueldade, opressão e exploração. Cabendo a família, a comunidade, a sociedade e ao Poder Público assegurar, que isso esses direitos sejam cumpridos (GRACIANO, 2017). No âmbito da educação as décadas de 1990 e 2000 trouxeram em seu bojo propostas educacionais apoiadas por organismos internacionais (Banco Mundial e UNESCO) e políticas sociais nacionais para todos os níveis de ensino: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/96, o Plano Nacional de Educação (2001), a implementarão do Fundo de Manutenção de Desenvolvimento do Ensino Fundamental - FUNDEF (1996). 15 INCLUSÃO: ESCOLA PARA TODOS Fonte: neuroconecta.com.br A escolarização brasileira aumentou significativamente no século XX, sendo parte integrante da vida de todos os indivíduos e tendo importante papel para a inserção social. O sucesso e/ou fracasso do indivíduo determinam sua inserção nos grupos sociais (SILVA, CARVALHO, 2017). A maneira mecânica e instrucionista como o currículo se organiza, com grande volume de matérias e conteúdos associada a ministração reprodutiva, tem trazido resultados insatisfatórios, sendo que “essa barbaridade, condenada frontalmente pelas atuais teorias de aprendizagem, não é, porém, 36 questionada, porque se tornou cultura. Está na alma da escola e do professor” (DEMO, 2004, apud GRACIANO, 2017, p.21). Apesar do fracasso escolar ser um dos maiores focos de estudo e discussão, ele ainda não foi eficazmente solucionado no país. Se o fracasso escolar é um elemento resultante da integração de várias forças que englobam o espaço institucional (a escola), o espaço das relações (vínculos do ensinante e aprendente), a família e a sociedade em geral, estão diante de um novo desafio. Aos educadores cabe não somente aceitar, mas compreender e incluir os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem e familiares, auxiliando na formação de sujeitos críticos com perspectivas de futuro. Atualmente ainda temos alicerçados a noção de que a escola é um espaço de ensino, mas antes de tudo de promoção da justiça social, o que traz a emergência de redefinição de sua função social (SILVA, CARVALHO, 2017). Em busca da conquista de uma melhor qualidade de vida para todos faz-se necessário que as situações de exclusão sejam eliminadas e que as discussões para a elaboração das políticas sociais públicas contemplem a importância “das comunidades locais e regionais” (MAZZOTTA, 2005, apud GRACIANO, 2017, p.21). Nesse sentido, os principais documentos legais e normativos oficiais a partir da Constituição Federal como a Lei Federal no. 7853/89 (dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência), Lei no. 9394/96 (institui a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), Decreto Federal no. 3298/99 (Regulamenta a Lei 7853/89 e Institui a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência), Lei no. 10.172, de 09 de janeiro de 2001 (aprova o Plano Nacional de Educação), Resolução CNE no. 02, de 11 de setembro de 2001 (institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica), tratam da inclusão de pessoas com necessidades educativas especiais (SILVA, CARVALHO, 2017). Inclusão significa ‘escola para todos’, Direito que toda criança possui e que requer empenho e articulação de todas as instâncias da sociedade. Educação Inclusiva exige o atendimento de Necessidades Especiais, não apenas dos portadores de deficiências, mas de todas as crianças. Implica trabalhar com a diversidade, de forma interativa - escola e setores sensíveis. Deve estar orientada para o acolhimento, aceitação, esforço coletivo e equiparação de oportunidades de desenvolvimento. Requer que as crianças portadoras de necessidades especiais saiam da exclusão e participem de classes comuns. Para isso, é necessário um diagnóstico cuidadoso que levante as 37 necessidades específicas de cada criança. (SCOTTO, 2005, apud GRACIANO, 2017, p.22). Apesar da aparente preocupação da Legislação em encontrar caminhos que tornem possível a prática da inclusão, esta não é a única esfera que precisa mover- se neste sentido, pois seu sucesso também depende da mobilização da escola em trabalhar, esta diversidade. Isso pode ser feito por meio da incorporação da diversidade como eixo central da tomada de decisões, no projeto pedagógico, visando atender a todos alunos da comunidade, otimizando espaços e recursos. O currículo é um forte instrumento para que isso venha a ser alcançado, devendo esse ser amplo, flexível e aberto, abrangendo os aspectos cognitivos, afetivos e sociais (LEONARDO, 2008). A educação de qualidade é um direito de todos, mas para que seja possível, precisa-se de práticas pedagógicas que estimulem o desenvolvimento da criatividade e do espírito crítico, que rompam com o pragmatismo dos conteúdos não limitando-se a perspectiva informativa e minimalista, que abrange somente o ensino da leitura, da escrita e das operações matemáticas simples, como é de interesse da classe dominante, por ser essa prática mais do que suficiente para o papel que delas se espera: o de subordinados (LEONARDO, 2008). É fundamental que os alunos oriundos das classes populares sejam instrumentalizados para a leitura crítica da sociedade e possível transformação do mundo em que vivem. Para isso o currículo precisa ser reestruturado, a fim de contribuir com uma sociedade inclusiva, solidária e participativa, privilegiando valores, atitudes e conhecimentos do aluno, numa atitude preocupada em se opor aos valores competitivos, pautados na visão mercantilista e empresarial que atuam naturalizando o individualismo, o conformismo, a competição, a indiferença e, consequentemente, a exclusão (LEONARDO, 2008). No contexto da sociedade capitalista em que predomina-se a meritocracia, a desigualdade torna-se positiva e natural e o currículo não prevê a necessidade dos socialmente em desvantagem, consolidando a exclusão daqueles que não se encaixam nos comportamentos apregoados pela ideologia dominante, tendo se transformado nas últimas décadas em um instrumento do apartheid social instituído pelas elites, legitimada por alguns educadores e agravada pela falta de mobilização da sociedade civil em prol de uma escola pública de qualidade (CORTELLA , 2001, apud GRACIANO, 2017, p.23). 38 Cabe à escola integrar-se à comunidade a qual pertence, e fazer do currículo o grande articulador do trabalho pedagógico com o contexto social e cultural dos seususuários. É de extrema importância no processo de inclusão a conscientização de que todos são pessoas que possuem diferenças e singularidades. Ao passo que há necessidades educacionais comuns, independentes da condição social, cultural e pessoal (que geralmente fazem parte do currículo escolar), há também uma bagagem pessoal, da qual fazem parte crenças, visão do mundo e interesses distintos, inerentes à cultura de origem do aluno (LEONARDO, 2008). Entretanto não podemos incorrer no erro de aceitar o relativismo, mas é preciso defender valores e princípios que possam assegurar o desenvolvimento de todos os indivíduos, integrando as diferentes culturas e garantindo o acesso a um currículo comum (SACRISTÁN, 2002, apud GRACIANO, 2017, p. 23). Se a pretensão é educar para a autonomia e para a liberdade faz-se necessário que essas necessidades individuais, diferenças e diversidades sejam diagnosticadas e trabalhadas de forma a permitir ao aluno os meios de acesso ao currículo, respeitando o tempo de cada aluno e a capacidade de assimilação individual, não o privando do conhecimento, mas procurando estratégias de ensino diferenciadas para atingir os objetivos propostos no currículo (SILVA, CARVALHO, 2017). Os problemas que apresentam para o currículo escolar a igualdade, a autonomia, a liberdade, as diferenças entre os seres humanos o sujeito, etc., não se esgotam na escolha de conteúdos de aprendizagem, porque são conceitos carregados de significados que vão informar o discurso, as políticas e as práticas educativas para todos os níveis (SÁCRISTÁN, 2002, apud GRACIANO, 2017, p.24). É também importante ressaltar que as transformações no ensino perpassam pela prática educativa, da qual o professor é parte integrante. O que implica em repensarmos a formação docente, preparando e conscientizando o professor desses processos, para alcançarmos uma inclusão social efetiva e a melhoria da qualidade da educação (SILVA, CARVALHO, 2017). 39 16 AS REFORMAS DA EDUCAÇÃO: POLÍTICAS DE RESULTADOS E O MODELO DE MERCADO Fonte: /theintercept.com Segundo Dantas e Jesus (2003), no final da década de 1970 surgem nos países desenvolvidos atividades que demandam produtividade e eficiência em meio às práticas sociais. A globalização e o desenvolvimento tecnológico são fatores que nortearam os rumos da sociedade e ocasionaram mudanças significativas nas práticas cotidianas das pessoas e das instituições públicas e privadas. O acesso e a aceitação de um novo modelo social significaram rupturas com o que até então estava estabelecido e proporcionou aos países em desenvolvimento e os subdesenvolvidos a tentar se adaptarem a esses novos modelos para ter acesso ao conhecimento, ao comércio e a lógica mercantilista. A recente reestruturação de sistemas educacionais pode ser explicada de forma correta recorrendo-se ao entendimento da globalização. Desse modo, para compreender como se deu o desenvolvimento das reformas nas políticas educacionais, faz-se necessário analisar o processo da globalização e a sua relação com a educação no contexto social. A partir do fenômeno da globalização, a educação foi tomando novos rumos e consequentemente, a influência desta incidiu em várias consequências, entre elas, políticas educacionais formuladas por empresas multilaterais que visavam à formação dos sujeitos para a atuação no mercado de trabalho, à mão de obra barata, desqualificada, à procura do lucro e, assim, ressignificando o papel social da educação (DANTAS, JESUS, 2003). 40 A “globalização” é frequentemente considerada como representando um inelutável progresso no sentido da homogeneidade cultural, como um conjunto de forças que estão a tornar os estados-nação obsoletos e que pode resultar em algo parecido com uma política mundial, e como refletindo o crescimento irresistível da tecnologia da informação. (DALE, 2004, apud SILVA, 2019, p. 262). De acordo com Peroni, Caetano e Lima (2017) a globalização está voltada para a homogeneização da cultura em que os estados-nação perdem sua força, sua contribuição na sociedade e, por sua vez, o crescimento da tecnologia da informação colaborou para o fenômeno da globalização e da homogeneização das culturas. Na abordagem denominada de “Agenda Globalmente Estruturada para a Educação”, destaca-se que a globalização “é vista como sendo construída através de três conjuntos de atividades relacionadas entre si, econômicas, políticas e culturais”. A globalização é um conjunto de dispositivos político-econômicos para a organização da economia global, conduzido pela necessidade de manter o sistema capitalista, mais do qualquer outro conjunto de valores. A adesão aos seus princípios é veiculada através da pressão económica e da percepção do interesse nacional próprio (DALE, 2004, apud SILVA, 2019, p. 263). A manutenção do sistema capitalista como elemento principal da globalização, pois por meio do capitalismo a economia global cresce acentuadamente. Dessa forma, pode-se inferir que a globalização perpassa por interesses que estão voltados para o crescimento socioeconômico do país. Assim, a educação é o principal setor afetado por este fenômeno, a fim de assegurar que as pessoas inseridas no âmbito escolar, tenham uma formação pautada nos interesses da lógica da economia e do mercado (PERONI, CAETANO, LIMA, 2017). A globalização, longe de ser consensual, é um vasto e intenso campo de conflitos entre grupos sociais, Estados e interesses hegemónicos, por um lado, e grupos sociais, Estados e interesses subalternos, por outro; e mesmo no interior do campo hegemónico há divisões mais ou menos significativas. (SANTOS, 2002, apud SILVA, 2019, p. 263). Nesse sentido, a globalização é um fenômeno complexo, instituído por conflitos e por interesses de diversos grupos hegemônicos e subalternos da sociedade, configurando-se em um campo de lutas, de tensões, de entraves e de dilemas, em que cada grupo tem seus interesses e seus objetivos na estruturação de uma política governamental. Assim, o processo de globalização mostra que estamos perante um fenômeno multifacetado com dimensões econômicas, sociais, políticas, culturais, 41 religiosas e jurídicas interligadas de modo complexo (PERONI, CAETANO, LIMA, 2017). A partir da década de 1990, no Brasil, aconteceram algumas mudanças nas quais ocasionaram um novo modelo de sociedade por meio da concepção política do neoliberalismo. O modelo neoliberal tem como princípio possibilitar que as pessoas tenham autonomia para desenvolverem suas atividades educativas, de saúde e de lazer sem o auxílio do Estado, pois até então havia uma defesa de que o Estado seria o provedor das ações básicas para os cidadãos (PERONI, CAETANO, LIMA, 2017). Após a implantação das políticas neoliberais no contexto brasileiro, muitas rupturas aconteceram, mudando as ações dos cidadãos no cenário político e social no Brasil. As práticas neoliberais surgiram no Brasil com intensidade no mandato de Fernando Collor de Melo (1990-1992) e se consolidaram nos mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) que apresentam à sociedade brasileira uma nova concepção política que tem como principal fator um Estado mínimo com práticas do voluntariado para a sociedade civil e um Estado Avaliador, por meio da implantação de políticas que favorecem aos empresários e ao mercado financeiro (DANTAS, JESUS, 2003). Após a vivência das práticas neoliberais na sociedade brasileira surgiram diversos fenômenos que evidenciaram as consequências dessa política na esfera social, entre elas destacam-se o fracasso reiterado das tentativas de estabilização da economia e controle da inflação, retração econômica, aumento das desigualdades, violência urbana e a má qualidade de vida para a população menos favorecida. As desigualdades sociais, a falta de oportunidade de emprego, de lazer, de saúde e de
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