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A Constituinte Perante a História – Ed. Fac-Similar, F.I. Marcondes Homem de Mello (1823). O ano de 1823 é o período mais importante da nossa história constitucional. Período nenhum da história do Brasil tem sido tão desfigurado, tão desapiedadamente calumniado, como o da constituinte de 1823. O Sr. Varnhagem assim se expressa sobre a constituinte: <<Era então (1822) a ocasião oportuna para D. Pedro haver outorgado ao Brasil uma constituição bem concebida e mediata...... Não o fez: e este grande erro veio a ser para ele causa dos maiores desgostos, que principalmente se originaram da dissolução, que foi levado a efetuar pela força da assembleia convocada, que (como em outros países tem semelhantemente sucedido), se emaranhava em largas discussões, em vez de realizar a obra para que principalmente se reunira; e que talvez houvera mal desempenhado, produzindo um parto informe das paixões do momento das votações, em vez de um código harmônico e homogêneo, como veio a ser a nossa atual Constituição, que ao cabo de esperanças malogradas teve o Imperador que outorgar.>> Estamos hoje muito mais adiantados na prática do sistema representativo e nas fórmulas constitucionais. Mas cumpre reconhecer, que apesar do atraso político do país nessa época, faziam-se, contudo estudos severos em materiais de doutrina; e as ciências jurídicas, que eram postas em maior contribuição para a feitura da constituição, estavam muito em honra no país. Na sessão de 5 de maio a assembleia nomeou uma comissão especial, encarregada de redigir o respectivo projeto de constituição para servir de base à discussão. Na sessão de 1.º de setembro Antonio Carlos apresentou à assembleia o Projeto de Constituição, organizado pela respectiva comissão. Todos os grandes princípios das liberdades constitucionais, todas as novas conquistas do sistema representativo, eram ali proclamados e consagrados. A liberdade pessoal, a igualdade perante a lei, a publicidade do processo, a abolição do confisco e da infâmia das penas, a liberdade religiosa, a liberdade de imprensa e de indústria, a garantia da propriedade, o julgamento pelo júri eram ali solenemente reconhecidos. Na sessão de 15 de setembro começou a discussão desse projeto. No desconhecimento dos recursos do sistema parlamentar, o poder tomava como um ataque à instituição qualquer censura feita a seus atos. Não estando afeito às exigências do regime constitucional, o governo, desde que viu oposição à sua política, estremeceu e reagiu contra ela. Entre novas e velhas ideias a luta era o resultado necessário de uma le histórica. A dissolução da constituinte brasileira de 1823 ainda não foi julgada. O rancor das paixões políticas não é o juízo da posteridade. Todas as constituintes são más, facciosas, anárquicas. Por isso a constituinte brasileira de 1823 deve ser condenada. Tomou-se por base o projeto de constituição da constituinte; e calando-se cautelosamente esta circunstância, apresentou-se a nova constituição, como uma dádiva graciosa do Imperador e dos conselheiros de estado, que a assinaram. A força não venceu o direito. A glória não é inimiga da verdade. Documentos Um documento muitas vezes caracteriza uma época, explica uma situação, resolve um problema. E aqui, nessa verdadeira exumação do passado, que se encontra aquilo que Chateaubriand chamou a physionomia dos séculos. · Constituição Política Para o Império do Brasil Título I – Do Território do Império do Brasil Do Império do Brasil Título I – Do Império do Brasil, seu Território, Governo, Dynastia e Religião Título II – Do Império do Brasil Título III – Da Constituição do Império e Representação Nacional Título IV – Do Poder Legislativo Título V – Das eleições Título VI – Do poder executivo, ou do Imperador Título VII – Do ministério Título VIII – Do Conselho privado Título IX – Do poder judiciário Título X – Da administração Título XI – Da fazenda nacional Título XII – Da força armada Título XIII – Da instrucção pública, estabelecimento de caridade, casas de correção e trabalho Título XIV – Disposições geraes Título XV – Do que é constitucional e sua revista Discussões ¨ Illm. e Exm. Sr. Sua Majestade o Imperador recebeu com especial agrado o exemplar do projeto da Constituição para o Império do Brasil, que a assembleia geral constituinte e legislativa resolveu fazer chegar ao seu conhecimento, não obstante ser apenas o resultado das ideias da respectiva comissão, que se acha ainda sujeito às deliberações do referido congresso; e seria muito maior a satisfação de Sua Majestade, se, em lugar daquele projeto, fosse já a Constituição do Império, por estar intimamente convencido de que dela dependem a sua estabilidade e a prosperidade geral, à que tanto se dirigem os seus desvelos; o que de ordem do mesmo Senhor participo à V. Ex. para ser presente na mesma augusta assembleia. Deus guarda a V. Ex. Palácio do Rio de Janeiro em 17 de setembro de 1823. José Joaquimm Carneiro de Campos. Sr. João Severiano Maciel da Costa.¨ (Diário da Assembleia da Constituinte, 2.º, 42.) Resposta do Imperador à deputação, que lhe apresentou as leis feitas pela constituinte: << Com sumo prazer recebo as leis, que a assembleia geral, constituinte e legislativa me envia por esta ilustre deputação, para eu as fazer executar; elas passam imediatamente a serem assinadas por mim. [...]. Paço, 20 de outrubro de 1823. Segundo da independência e do império. >> Diário da Assembleia Constituinte, 2.º, 269.)
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