Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
��â�ð�Þ��]ð��8ÏÞÉ��� Ramon Tessmann UYJUK].dJ Direitos autorais Este material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre a obra são reservados. Você não tem permissão para vender este material nem para copiar/reproduzir o conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer outros veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeita a ações legais. Caso você acredite que alguma parte deste material deva ser removida ou alterada, por favor, entre em contato conosco através do e-mail equipe@ramontessmann.com.br. Copyright © Ramon Tessmann. Todos os direitos reservados. Histórico de atualizações ● 22/12/2020 | Finalização da produção do material. ● 04/01/2021 | Lançamento da versão 1.0. Caso você encontre alguma incorreção no material, por favor, envie um e-mail para equipe@ramontessmann.com.br. Imprima este livro Para facilitar o estudo você pode imprimir uma cópia desta obra para uso pessoal. A leitura no papel será mais confortável e prazerosa. mailto:equipe@ramontessmann.com.br mailto:equipe@ramontessmann.com.br Dedicado a todos aqueles incomodados e famintos por descobrir seu propósito. 2 Sobre o autor Meu nome é Ramon, muito prazer! Sou casado com a Amanda e sou pai da Laura. Desde muito cedo, tive inclinação para os estudos. Não que eu fosse um grande aluno na escola. Eu só gostava de estudar aquilo que me dava prazer. Aos doze anos mergulhei na música. Passei a adolescência inteira em cima do meu pequeno teclado. Aos dezessete, comecei a me interessar por gestão, marketing e liderança. Era hora de decidir qual curso seguir na faculdade. Decidi por administração e acabei me formando em 2004. Três anos depois, lancei o Aprenda Piano, uma escola online que chegou a ter alunos em dezessete países. Meus 3 anos ralando como professor particular de música chegaram ao fim. Em 2010, fundei uma agência de marketing digital, a Blueberry, que se tornou uma das cinco melhores agências PME do país, reconhecida pela gigante Google. Como nem tudo são flores, tive dois grandes fracassos: uma agência de criação e uma lan house que só me trouxeram dor de cabeça. Outros fracassos incluíram livros e CDs que não venderam. Só quem escreve um livro sabe o trabalho hercúleo envolvido. Imagine eu que já havia escrito dez livros, mas só um deles vendeu. A despeito disso, em 2015, cheguei no auge da carreira profissional. Como produtor de cursos online alcancei, com meus sócios, a independência financeira. Estava "aposentado" aos trinta e cinco anos. Que privilégio! Eu já disse que nem tudo são flores? Apesar da fé, do sucesso, da saúde, da família, dos amigos e do conforto financeiro, uma insistente dúvida me incomodava: "Será que a vida é só isso mesmo?" Sentia-me vazio. Eu não entendia o incômodo, pois tinha tudo o que sonhava ter. A partir daí, enfrentei uma dura crise existencial e depois de seis anos comecei a encontrar as respostas que procurava. Os primeiros raios de luz iluminaram meu caminho. Que alegria indescritível! Trilhei uma intensa jornada de fracassos e sucessos que me propiciaram lições e princípios valiosos que carrego comigo até hoje. Essa bagagem compõe um conhecimento rico 4 e útil para você que busca um sentido para sua vida. Convivendo nos mais variados ambientes, ouvi as mesmas perguntas que eu mesmo fazia anos antes: "Como descobrir minha jornada? Como me livrar do vazio e da angústia? Como ter certeza do quê fazer? O que Deus quer de mim?" Os anos passaram e sempre fiquei com aquilo na cabeça: "Um dia escreverei sobre esse tema". A hora chegou. Em meio à segunda onda da pandemia de Covid-19 parei tudo o que estava fazendo para cumprir mais uma missão na vida. Na verdade, fui "fisgado" por essa missão. Nas páginas deste livro, meu propósito é ajudar você a descobrir o seu. Reuni as principais lições que aprendi na busca do meu propósito. Espero que a leitura ajude a limpar algumas nuvens do seu caminho. Talvez até eliminar a maioria delas. Assim espero. Atualmente, dedico-me a mentorear pessoas na Altitude, ajudando-as a alinhar suas vidas e explorar seus potenciais para que vivam uma vida mais significativa e cheia de realizações. Vê-las alinhando suas vidas é uma paixão para mim. Eu acredito que quem se propõe a buscar respostas para suas perguntas, encontrará o que precisa para viver uma vida com propósito e sentido. Para saber mais sobre a Altitude, nossa comunidade online de crescimento pessoal, clique aqui. 5 https://ramontessmann.com.br/altitude Conecte-se comigo ● Me siga no Instagram. ● Me siga no Facebook. ● Me siga no YouTube. ● Me siga no Twitter. ● Entre no meu grupo do Telegram. ● Visite meu blog oficial 6 https://www.instagram.com/ramon_tessmann/ https://www.facebook.com/ramontessmannoficial/ http://www.youtube.com/channel/UCkRv0ZaPOWU9W4Up8c2I3qQ?sub_confirmation=1 https://twitter.com/tessmannramon https://t.me/ramontessmann https://ramontessmann.com.br/ Índice Sobre o autor 3 Conecte-se comigo 6 Índice 7 Introdução 10 1. Crise existencial 12 Noite dramática 13 Elo perdido 14 Sessenta anos 15 Não fazia sentido 18 O Dia da Marmota 20 2. A origem 24 "Cuspidos" no mundo? 25 A Aposta de Pascal 26 As 5 vias de Aquino 28 A volta dos que não foram 31 O maior propósito do universo 32 As 2 chaves 34 A conclusão do sábio 37 3. Clareamento 39 Canino ou molar 40 Uma mesa com propósito 41 7 Os chamados de Mário 42 Em busca da vocação perdida 45 Descomplicando 46 Exercício 48 Antes da próxima fase 49 4. Aventura singular 52 Impressão digital 53 Propósitos subordinados 54 Cavalo de Troia 55 Por que eu? 58 Chiados e ruídos 60 Cílios e pálpebras 63 5. Instruções para o viajante 67 Sobre fases 68 Sobre conciliação 69 Sobre sementes 72 Sobre marshmallows 73 Sobre intenção 76 Sobre pessoas 78 Sobre escolhas 80 6. Descobertas maravilhosas 84 A utilidade da gaveta 85 Você recebeu algo 86 Vire à direita 87 Não ultrapasse 90 Que tal uma live? 93 8 O que você ama? 94 O que você odeia? 98 Paralisou? 101 O mundo pede socorro 104 Exercício 106 7. Mergulhando fundo 108 Queimando formigas 109 Aperte o cinto 111 Esvazie a mochila 113 Repartindo o fardo 115 Mergulhe fundo 116 Considerações finais 119 Sem despedidas, ok? 120 Fontes bibliográficas 121 9 Introdução Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. - Eclesiastes 3:1 A ideia foi escrever um livro provocador. Talvez é exatamente o que você precisa no momento. Eu pagaria uma fortuna para poder tê-lo lido em 2010. Teria me privado de tanto sofrimento! Como eu conto nas páginas a seguir, há propósito para todas as coisas debaixo do céu, inclusive para o sofrimento. Portanto, consolo-me em saber que sem a dor este projeto nunca viria a existência.Não escrevi para oferecer respostas diretas e absolutas para suas dúvidas existenciais. Quão pretensioso eu seria se tentasse lhe dizer: "Faça isso, não faça aquilo". Estou mais interessado em provocar você. Me ponho ao seu lado, onde compartilho minha história e levanto algumas questões sobre a sua. Há conselhos, dicas e sugestões práticas? Evidentemente. Descobrir seu propósito, entretanto, é uma jornada pessoal. Você terá que investigar. Escrevi especialmente para quem deseja: ● Compreender o sentido da vida. ● Saber se há um propósito de Deus para sua existência. 10 ● Compreender as relações entre propósito, chamado e vocação. ● Realinhar a vida. ● Resolver o sentimento de vazio e angústia, embora tenha conquistado muitas coisas. ● Saber o que escolher diante das várias opções disponíveis. ● Viver uma vida intensa e cheia de significado. ● Construir um negócio com propósitos e princípios bem definidos. ● Deixar um legado na sua geração. ● Ter maior clareza nas decisões do dia a dia. ● Saber quais cursos, faculdades ou trabalhos estão mais alinhados com o propósito. ● Chegar ao fim da vida sem acumular arrependimentos do tipo "Ah! Se pudesse voltar atrás!" Recomendo que você imprima este livro porque a leitura será mais agradável. Leia, sublinhe e rabisque. Faça boas anotações. Releia quantas vezes achar necessário. Se gostar, compartilhe com os amigos e espalhe as boas novas. Boa leitura! Pessoa alguma pode dizer à outra o que é esse propósito. Cada um deve descobri-lo por si mesmo aceitar a responsabilidade que sua resposta implica. - Gordon Allport 11 Capítulo um. 1. Crise existencial Uma noite quente, o elo perdido e o Dia da Marmota. 12 Noite dramática Quando um homem descobre que seu destino lhe reservou um sofrimento, tem que ver nesse sofrimento também uma tarefa sua, única e original. - Viktor Frankl Novembro de 2011. Mais uma madrugada abafada em Criciúma. Estou deitado no piso morno na sala do nosso apartamento lutando contra uma forte dor no peito. Respiração controlada e aflita. A dor lancinante me impede de respirar normalmente. Entre as inspirações e expirações incompletas começo a me perguntar o óbvio. "Será essa a dor que sentem os que passam por um infarto? Não sei. Talvez seja uma crise de estresse ou de ansiedade. Será que estou trabalhando demais? Será uma opressão espiritual? Psicológica? Talvez seja o refrigerante que bebi no almoço. Acho que não." Me arrasto até a cozinha e tomo mais um copo de água fria. Quem já passou por uma situação agonizante sabe que minutos se transformam em horas. O tempo não passa. Minha teimosia também não. Se existe alguém que resiste a uma visita ao hospital esse alguém sou eu. A despeito da resistência, sou vencido pelo medo de que fosse algo realmente ruim. 13 Toda aquela bobagem do "não é nada, vai passar!" é evaporada pelo medo da morte. A hipótese de infarto parece ganhar força. "Dor aguda no peito. Só pode ser isso." Grito para minha esposa que dorme no quarto: "Amor, tô mal! Me leve no hospital, por favor!" Elo perdido São quatro da manhã no hospital. Faço alguns exames. "E então, doutor, o que eu tenho?" Espero receber o diagnóstico. Fico curioso porque aquelas dores só podiam apontar para algo muito sério. "Não é nada", diz o médico. Reajo rápido: "O quê? Como assim não é nada? Doutor, não é possível. Pensei que eu ia morrer. Não pode simplesmente não ser nada!" Ele retruca: "Não apareceu nada. Passe na farmácia, compre esses remédios. Se acontecer de novo volte aqui." Provavelmente, você já passou por isso. Todo mundo já foi ao hospital pensando estar morrendo só para sair de lá com uma receita de paracetamol. Essa era a minha vez. A essa altura eu não sentia nenhuma dor. Fiquei aliviado por poder respirar normalmente de novo. Voltamos para casa e vou para a cama pensando: "Meu Deus, o que foi que aconteceu hoje? E se a dor voltar? E se não descobrirem o problema?" 14 No fundo, eu tinha uma vaga ideia do que poderia ser. Ninguém mais sabia disso. O médico. Minha esposa. Meus familiares. Absolutamente, ninguém. Durante um bom tempo a questão martelou em minha cabeça: "Será que as dores no peito, as noites mal dormidas, o estresse, o incômodo na alma... Será que tudo isso está ligado àquele problema que começou um ano e meio atrás?" Vamos voltar um pouco para descobrir. Sessenta anos É inerente ao homem o anseio por descobrir um ‘para quê’, uma finalidade última para existência, algo pelo qual valha à pena entregar a vida. - Sílvia Brandão Maio de 2010. Maio é o mês do meu aniversário e naquele ano eu completaria trinta anos. Me lembro de ter escutado uma lenda sobre uma tal "crise dos trinta", uma espécie de crise existencial que acomete parte da população que se dá conta de que a vida tem um fim. Uns enfrentam fases assim aos quarenta. Outros, aos cinquenta. Tem os que são "capturados" bem cedo. Eu sempre considerei tais crises uma grande bobagem. Para mim, era coisa de gente que não tinha o que fazer. Crise existencial era para os fracos e problemáticos. Talvez para alguém com a vida sofrida e cheia de problemas complexos 15 para resolver. Pensava assim até que eu mesmo fui pego de surpresa: enfrentei uma séria crise de propósito. Aquilo que eu considerava a maior bobagem me aprisionou. Tudo começou da maneira mais boba que você possa imaginar: uma simples conta matemática de adição em que o resultado teimava em dar sessenta. Esse foi o gatilho. Vou contar como aconteceu. Prestes a fazer trinta anos me dei conta do quão rápido minha vida passara até ali. Foi um sopro. Um dia, caí no erro de dobrar minha idade para concluir que se vivesse o mesmo tanto chegaria aos "longínquos" sessenta anos. Sessenta anos de idade! A crise bateu aqui. Eu sempre ouvia dizer que quanto mais velho mais rápido o tempo passa. É evidente que é só uma questão de percepção. O relógio parece cada dia mais implacável, não menos. A gota que faltava para encher meu cálice da agonia foi uma simples dedução: Se chegar aos trinta foi um sopro, chegar aos sessenta será menos que um sopro. "Se" chegar... A conclusão é que provavelmente eu já passara da metade da vida. Até os vinte e nove eu raramente pensava na possibilidade de morrer. Nem sequer pensava que iria envelhecer. Agora, pelo menos superficialmente, eu tinha me 16 dado conta da efemeridade da minha existência na Terra e da cruel realidade da morte: "Um dia vou morrer. Quandoa hora chegar, o que terei feito com minha vida?" Essa dedução começou a engatilhar uma série de questões que volta e meia vinham me assombrar: ● Qual é o sentido da minha vida? Para quê fui criado? ● Será que estou fazendo o que deveria estar fazendo? Estou na jornada que deveria estar? ● Minha vida tem algum significado para as pessoas? Estou impactando os outros? Será que não sou egoísta demais, preocupado apenas em construir um reino próprio? ● Porque tenho a sensação de que falta alguma coisa ou que "algo está errado"? Porque minha vida parece estar desalinhada? Será que meu propósito, chamado e vocação não estão em direções divergentes? ● Será que estou na cidade certa? Na igreja certa? Na profissão certa? Nos projetos certos? Com os compromissos certos? ● Porque não sou como as outras pessoas que parecem ter tanta clareza na caminhada? ● A vida é isso mesmo? 17 Não fazia sentido É estranho que alguém como eu estivesse ponderando sobre questões dessa natureza. Não que eu me considerasse alguém especial. Longe disso. Todavia, além de sempre ter considerado tais crises uma grande bobagem eu não tinha a menor razão para ter uma. Eu tinha tudo o que uma pessoa da minha idade desejaria ter. Não fazia sentido. Se fosse fazer um checape da minha vida dificilmente encontraria um grande problema. Eu passaria incólume (e com louvor) em qualquer sessão de aconselhamento, seja ela espiritual, matrimonial, profissional, financeira ou qualquer outra. Tudo ia bem. Minha fé sempre foi firme em Deus. Minhas questões nada tinham a ver com a vida no porvir. Desde os meus quatorze anos, nunca deixei de servir minha igreja local. Sempre tive uma família incrível. Casei com a mulher dos meus sonhos. Nenhum problema de saúde. Na época, alguém poderia notar minha angústia e argumentar: "Já sei. Você está com problemas financeiros. Está aí a razão do estresse e da insônia". O argumento tem validade já que é comum vermos pessoas perderem o rumo diante de um fracasso financeiro ou profissional. Meu caso, entretanto, era exatamente o oposto. No livro Em busca de sentido, Viktor Frankl menciona uma pesquisa da Universidade John Hopkins realizada com 7.948 alunos de diversas instituições. A pergunta era sobre o 18 que eles consideravam "muito importante" na vida. Pasme: 16% dos estudantes respondeu "ganhar muito dinheiro e 78% respondeu que o seu principal objetivo era "encontrar um propósito para minha vida". Assim como a maioria dos alunos entrevistados, minha questão não era financeira. Durante os seis anos em que enfrentei essa crise de propósito eu trabalhei duro e fiz dinheiro. Muito dinheiro. No marketing digital brasileiro, colecionei algumas vitórias que me levaram à independência financeira aos trinta e cinco anos e status de semi celebridade em alguns círculos. Quem é do meio vai lembrar da era dos "gurus digitais". Acrescento que sempre tive ao meu lado dois sócios incríveis, meu cunhado Sílvio e meu irmão Tiago, cujo entrosamento sempre foi impecável. Eu não podia desejar sócios melhores. Olhando de fora, era a vida perfeita. Eu deveria estar vivendo intensamente, com alto grau de felicidade e realização. Podia comprar praticamente tudo o que queria. Podia viajar, fazer cursos ou morar no exterior. Podia desfrutar da família, ajudar a igreja ou tirar um longo período de férias, porém, as coisas começaram a "perder o gosto". Havia dentro de mim um incômodo retumbante: "É para isso que estou aqui?" A vida pode ser cheia de tudo, parecer perfeita, mas estar vazia de propósito. 19 Era isso o que eu não entendia: ter alcançado tudo o que alcancei e me deparar com o vazio. Parecia que a vida era apenas uma sucessão de dias bons e ruins que passavam diante dos meus olhos sem qualquer sentido até o fim inexorável de todos. O renomado neuropsiquiatra Dr. Viktor Frankl em certa entrevista disse que frequentemente doentes terminais encontram um sentido para suas vidas mais facilmente do que pessoais saudáveis que vivem com abundância e tranquilidade. Recentemente, ao assistir essa entrevista me lembrei daquela noite quente de novembro. De fato, eu parecia ter "tudo" sem conseguir enxergar sentido, enquanto outros encontravam sentido, quando nada restava a não ser partir para o estado eterno. O Dia da Marmota O Dia da Marmota é uma festa comemorada na cidade americana de Punxsutawney. A tradição é baseada na lenda de que marmotas podem prever a duração do inverno, bastando as pessoas notarem o comportamento delas para saberem a duração da estação. O filme Feitiço do Tempo explorou esse tema em 1993, onde o meteorologista Phil Connors (Bill Murray) acorda todos os dias no mesmo dia, exatamente no Dia da Marmota, em Punxsutawney. 20 Se você não lembra desse filme, deve lembrar da comédia Como Se Fosse a Primeira Vez, com Adam Sandler. Na trama, Henry (Sandler) se apaixona por Lucy (Drew Barrymore), que tem um grave problema. Toda vez que ela dorme, o dia anterior é apagado da sua memória e ela revive sempre o mesmo dia enquanto todos fazem de tudo para que ela não descubra o problema. O que esse tipo de trama tem a ver com propósito? Chegaremos lá. Cerca de seis anos depois daquela noite no hospital, alguns raios de luz começaram a clarear meu caminho. Comecei a enxergar com mais clareza meu papel nesta grande peça chamada existência. Sair da neblina sufocante não foi nada parecido com uma ciência exata. Não foi tão simples quanto uma conta de dois mais dois, mas uma longa jornada descobertas cujas lições compartilho nesta obra. Não quero dar spoiler agora. É importante que você sublinhe isso: não se trata de um ato único, de um insight ou de uma dica quente. Encontrar propósito é um processo. Para muitos, um longo processo. Por isso, não dê crédito a quem vende fórmulas prontas para a vida. Cuidado com os livros de auto-ajuda que vendem supostas fórmulas milagrosas para a felicidade e para o sentido da existência. Quem tenta aliviar sua dor rapidamente costuma ser um alvo fácil daqueles que vendem atalhos, mas não entregam. - Joel Moraes 21 Meu conselho é que você esteja disposto a partir em busca do seu propósito sem atalhos fajutos. Para mim, valeu à pena ter iniciado a jornada e não ter desistido. Foram anos de dúvidas e de turbulências, mas de reflexões e aprendizadosque me posicionaram no meu destino. Que deliciosa sensação! Que maravilhosa paz! Hoje me sinto na jornada que deveria estar trilhando. Talvez dois centímetros à direita ou quem sabe cinco a esquerda. A correção de rota é contínua, mas prossigo para o alvo, continuo no processo. Nem preciso dizer que as dores no peito, a insônia, o estresse, o incômodo na alma, a sensação de vazio, tudo isso sumiu. Minha desconfiança se confirmava. O elo perdido foi encontrado. Quão incrível é enxergar sentido na existência e descobrir que há muito mais do que os olhos podem ver. Saber que posso encontrar propósito em cada habilidade natural, em cada característica da personalidade, em cada traço físico, em cada centavo conquistado, em cada relacionamento, em cada porta que se abre. Saber que tudo isso aponta para algo maior do que mim mesmo, tudo isso traz uma indescritível sensação de pertencimento e completude. Você faz parte de algo inimaginavelmente grande e ainda pode contribuir deixando sua marca na história de alguém. Que privilégio! 22 Uma instabilidade existencial tentava me condenar a viver as mesmas coisas todos os dias. Em Feitiço do Tempo, Phil Connors até tenta se aproveitar da situação inusitada no início, mas, logo se cansa da rotina. É o que acontece com quem vive como um autômato, com um comportamento maquinal sem sentido. Uma hora cansa e adoece. Você não foi criado para viver preso no Dia da Marmota. Não sei qual parte da jornada você trilha hoje. Você pode estar vivendo a sua madrugada sufocante no hospital, ouvindo que os exames não acusaram nada, a despeito da sua lancinante dor no peito. Você pode estar naquela fase em que pensa que não sabe seu papel no mundo, mas, no fundo, sabe. Só está com medo. Talvez você até sabe sua missão, mas não sabe como vivê-la. Quem sabe você se considera "velho" demais ou padece de uma doença terminal, cujos dias foram penosamente abreviados. Não sei em qual parte da jornada você está, mas se está lendo estas palavras há uma esperança, nem que seja uma fagulha. Há propósito para cada minuto que lhe resta. Você pode decidir descobrir sentido neles. As próximas páginas podem lhe ajudar nessa tarefa. Caminharemos juntos por elas! Que você possa chegar ao fim de sua vida sem remorso, sem arrependimentos, tendo certeza de que deu tudo o que tinha, de que atirou todas as flechas que podia. - Erwin MacManus 23 Capítulo dois. 2. A origem Se Ele existe tudo muda. O sentido da vida para alguns sábios, filósofos, cientistas e eu. 24 "Cuspidos" no mundo? No século XIV, Soren Kierkegaard defendeu que cada pessoa deveria descobrir a sua própria verdade (propósito da vida), encontrando assim uma razão pela qual viver e morrer. Kierkegaard foi um filósofo existencialista dinamarquês. Ele via o homem como o definidor de sua existência, cabendo a ele viver de forma sincera e apaixonada, apesar dos obstáculos da vida. A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás. mas só pode ser vivida, olhando-se para frente. - Soren Kierkegaard No entanto, por causa da liberdade de escolha, o homem pode encontrar sofrimento, já que a possibilidade de escolha entre os vários caminhos causa angústia: "Devo cursar engenharia ou direito? Abro um negócio próprio ou continuo no emprego atual?" Para Kierkegaard, a pessoa não deve buscar um caminho ideal para si (uma trilha pré-determinada), mas sim construir sua própria história de vida. Ela é quem dá o sentido de sua existência. No século XX, Sartre, outro filósofo existencialista, argumentou a favor da inexistência de Deus. Por isso, o homem nasce completamente "despido" de qualquer propósito. A existência precede a essência. Assim, o homem 25 vem ao mundo, se descobre e só depois se define por meio de suas ações. Se Deus não existe, o homem está livre e é totalmente responsável pela sua existência. Sob essa ótica, você e eu apenas "surgimos" no mundo. Não há um Criador. Não há nenhum sentido ou propósito e agora cabe a nós fazermos nossas escolhas. Fomos simplesmente "cuspidos" à existência. Brotamos ao acaso. Se decido ser um jogador de futebol, elimino as possibilidades de ser um cantor ou um bancário. O responsável sou eu, não há a quem culpar. Não há um Deus a quem posso interrogar: "O que estou fazendo aqui?". Eu mesmo devo resolver essa questão com minhas escolhas e ações. Diferente de Sartre, Kierkegaard não foi ateu. O Existencialismo pode parecer um sistema de pensamento completamente ateu, mas o próprio Kierkegaard foi um cristão fervoroso. A Aposta de Pascal Voltando um pouco no tempo, chegamos ao século XIV, no tempo do filósofo e matemático Blaise Pascal. Talvez você já deva ter ouvido falar sobre a controversa Aposta de Pascal, que visou derrubar o mito de que não existem razões lógicas para a crença na existência de Deus. 26 Em linhas gerais, Pascal lançou um sistema de raciocínio em que a crença em Deus poderia levar a apenas dois resultados possíveis: 1. Ganho infinito: significa a vida eterna. 2. Perda finita: engloba todos os sacrifícios que a religião demanda do fiel durante sua vida. Segundo Pascal, não acreditar em Deus também levaria a apenas dois resultados possíveis: 1. Perda infinita: significa o sofrimento eterno no inferno. 2. Ganho finito: engloba todos os prazeres que o incrédulo pode usufruir na vida sem os esforços que a religião exige. A defesa de Pascal é que racionalmente não valeria a pena não crer na existência de Deus, pois ela oferece o melhor "custo-benefício". Como era de se esperar, isso levantou muita polêmica e Pascal acabou sendo atacado por crentes e incrédulos. Os crentes condenaram a racionalização da fé e os incrédulos tentaram apontar supostas falhas lógicas no raciocínio dele. Contudo, não é minha pretensão aprofundar tais questões aqui. Apenas ressalto que no campo da fé e da razão os debates atravessam os séculos. Se voltarmos um pouco mais no tempo, lá para o século XIII, encontraremos outra 27 personalidade que contribuiu muito nesses debates: Tomás de Aquino. As 5 vias de Aquino Aquino foi um frade italiano que partiu da filosofia aristotélica para escrever cinco pontos que visam "provar" a existência de Deus. Muito resumidamente, são elas: 1. Primeiro motor: tudo o que se move no mundo foi movido por alguém e este alguém não pode ser imóvel. Logo, há um primeiro motor quedeu início ao movimento existente, ou seja, Deus. 2. Causa eficiente: todas as coisas que existem no mundo são fruto de uma causa. Não há efeito sem causa. Se retrocedermos ao infinito, devemos chegar a uma causa primeira que por ninguém foi causada, ou seja, Deus. 3. Ser necessário: todas as coisas que existem no mundo podem deixar de existir, logo, houve um momento em que elas não existiam. Conclui-se que deve haver um ser eterno que seja a causa de tudo. 4. Ser perfeito: conseguimos enxergar graus de perfeição, bondade e beleza nos seres. Diariamente, fazemos comparações, como, por exemplo, algumas coisas são mais 28 belas do que outras. Logo, deve haver um ser que seja o padrão máximo de perfeição, a referência, que é a causa da perfeição dos demais seres. 5. Inteligência ordenadora: existe uma ordem no universo, em que cada coisa cumpre uma finalidade, um objetivo. Não se chega à ordem pelo acaso ou pelo caos. Logo, Deus organizou o universo e governa sobre todas as coisas para que elas cumpram seu propósito. Sobre o ponto cinco, o professor de filosofia Luiz Cláudio argumenta: O que justifica o fato da natureza ser “tão perfeita” no seu equilíbrio, cada coisa fazendo uma função específica, que no final dá um equilíbrio para tudo? O filósofo (Aquino) usa o argumento da flecha para exemplificar. Uma flecha não tem consciência, mas consegue seguir seu rumo e chegar em um objetivo se disparada por um arqueiro, esse sim, um ser consciente. Ele continua: Da mesma forma, a natureza é governada por uma inteligência superior, por trás dela, que lhe dá o direcionamento e a ordem do que fazer e para onde ir. A natureza não é um caos nem um acaso, ela é ordenada. E quem dá essa ordem é um ser supremo, que está para 29 além de todo o universo, regendo-o. Esse ser é Deus. - Luiz Cláudio (Nau dos Loucos) Meu intuito não é convencer você a crer em Deus, embora o meu desejo é que todos creiam. Aliás, se nem fatos conseguem mudar certas opiniões, eu não teria esse poder de persuasão. Eu não conseguiria convencer um fumante a abandonar o cigarro, mesmo provando cientificamente que uma morte horrível o espera como fruto do seu vício destrutivo. Que dirá convencer alguém sobre um tema tão elevado, acima de todas as minhas limitações! Meu intuito aqui é anunciar uma boa notícia: Existe um Criador e Ele é o ponto de partida. Ao contrário de Sartre, não creio que tenhamos "brotado" no mundo desprovidos de sentido ou de missão, embora haja certa liberdade de escolha. Particularmente, não creio ser possível conversar sobre propósito de vida sem falar sobre Deus. Sem Ele, seríamos apenas resto da poeira das estrelas. A vida seria um absurdo. Não creio assim. Creio que fomos criados e esse é o nosso ponto de partida. A volta dos que não foram O Senhor confia o seu segredo aos que o temem [...] - Salmos 25:14 30 A densa neblina das minhas dúvidas existenciais começaram a se dissipar lentamente quando me voltei para Deus. Se há um Criador que criou tudo com um propósito, Ele poderia dar indícios do meu. "Senhor, sob tua palavra lançarei as redes", assentiu Pedro. Depois de uma pescaria frustrada, coube ao contrariado pescador seguir o estranho conselho de Cristo. As redes de Pedro ficaram cheias de peixe. Sair em busca de um propósito para a vida é antes de tudo uma jornada de retorno à origem. Se fui criado à imagem e semelhança, carrego algo da natureza do Criador. "Ele tem as respostas. Preciso voltar à fonte". O Senhor fez todas as coisas para determinados fins [...] - Provérbios 16:4 Foram muitas perguntas feitas a Deus no mais absoluto silêncio. Conversar com Ele difere de conversar com uma pessoa que você vê bem em sua frente. Muitos perguntam sobre como reconhecer a voz de Deus. Sempre me lembro do meu falecido avô, que tinha um ouvido fino para o canto dos pássaros. Diferente de mim, ele conseguia diferenciar um canário de um curió apenas pelo canto, mesmo de bem longe. É o que acontece com alguém que passa anos "afinando o ouvido". É o mesmo com Deus. Discernir sua voz requer relacionamento e tempo. Você precisa experimentar. 31 Foi assim que os primeiros raios de luz começaram a aparecer para mim. No caminho, descobri o seguinte: "Há um propósito mais elevado para toda a criação". Entendi esse propósito como o maior e mais importante que existe, comum a todas as criaturas. Não é sobre qual faculdade ou carreira seguir. Não é sobre o momento certo de casar ou de ter filhos. É sobre algo muito mais elevado. Precisamos conversar sobre isso, antes de falar sobre missão, chamado e vocação. O maior propósito do universo Todas as coisas não são somente dEle e por meio dEle, mas também “para Ele.” Portanto, “a Ele seja a glória.” Nossas vidas devem ser vividas voluntariamente para a glória de Deus, ou então serviremos a Sua glória involuntariamente em nossa condenação. Fomos criados e chamados para tornar a beleza e grandeza de Deus conhecidas no mundo. A razão de existirmos é para valorizar Deus, e levar todas as nações a confessar que Jesus é Senhor “para a glória de Deus o pai.” (Romanos 11:36, Filipenses 2.11). - John Piper O propósito da criação é a glória de Deus. Tudo o que você vê na natureza existe primeiro para a glória de Deus. Esse é o porquê principal de toda a criação. Quer você acredite ou não, você foi criado para resplandecer a beleza e a glória de Deus. 32 Com essa consciência, nossa perspectiva sobre a vida toma outra dimensão. O próprio Cristo diz: Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. Mateus 6:33 Em certo sentido, Cristo estabelece prioridades: primeiro, o Reino de Deus, primeiro, a vontade e a glória de Deus. Suas palavras gritam: “Primeiro, se voltem para o Criador e para o seu Reino!” Só depois, vêm as outras coisas. Primeiro vem a vontade dEle, o seu Reino e a sua justiça, depois o resto. Paulo diz: Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus. - 1 Coríntios 10:31 Seu maior porquê é viver para a glória de Deus. Esse é o ponto de partida, é o porquê sob o qual os porquês ulteriores estão submetidos. Se você não se alinhar a isso não viverá tudo o que poderia viver. Você pode ser o melhor médico ou advogado do mundo, mas se viver apenas para si mesmo e para glória própria, terá se entregue a algo muito pequeno. Sua vida será muito aquém do que poderia ser. 33 Há muitos planos no coração do ser humano, mas o propósito do Senhor permanecerá. - Provérbios 19:21Você pode ter muitos planos e alcançar certo êxito através dos seus esforços. Sua capacidade intelectual pode até leva-lo a conquistar feitos admiráveis. Contudo, as realizações meramente humanas serão sempre limitadas e deixarão muito a desejar se comparadas ao que Deus pode fazer através de uma pessoa. A obra humana passa e facilmente vira pó, enquanto o que Ele faz através de você é estabelecido permanentemente. Talvez esse seja um dos fatores que fazem os bem sucedidos encherem os consultórios de psicologia. A saúde, a fama, o dinheiro, a família, os amigos, nada disso preenche a sensação de vazio. Aconteceu comigo. As fases mais angustiantes foram as que eu me encontrava com a fé fria, vivendo pela minha glória e não como um instrumento da glória de Deus. As 2 chaves Se você luta por si mesmo, você se entregou a algo muito pequeno. - Erwin MacManus Ao responder um especialista da lei mosaica que o indagava sobre qual seria o maior dos mandamentos, Cristo aponta para duas chaves que são a base da ética cristã: 34 1. Ame a Deus. 2. Ame o seu próximo. Se você quer entender seu papel no mundo, se realmente quer ter mais clareza sobre sua missão nesta existência, deve fundamentar sua busca e sua vida nestas duas chaves: (1) voltar-se ao Criador e (2) dedicar-se ao próximo. Quanto mais você se relaciona com Deus, mais indícios sobre o seu propósito você terá. Se você seguir esses dois mandamentos não só estará agradando a Deus e cumprindo a elevada lei de Cristo como terá mais clareza para tomar melhores decisões no decorrer da caminhada. Nos últimos dez anos, as grandes decisões da minha jornada foram pautadas na sabedoria das Escrituras, tendo em vista os dois mandamentos, e assim saí de uma grande crise de dúvidas para uma vida cheia de sentido e propósito. Isso teve impacto até mesmo nas menores decisões. Quanto mais a pessoa esquecer de si mesma, dedicando-se a servir uma causa ou a amar outra pessoa, mais humana será e mais realizará. - Viktor Frankl Lembro muito bem que quando fazia atendimentos na Blueberry o senso de "amor ao próximo" pautava até mesmo o nível de sacrifício dedicado a um cliente que estava precisando 35 dos meus conhecimentos. Passei a fazer muitas coisas por puro amor, por querer o máximo bem de um cliente necessitado, sem ganhar um centavo a mais e no completo anonimato. Muitos deles nem sabem que fiz mais em suas campanhas do que eles haviam me pago. Por quê? Porque agora minha empresa compreendia haver um propósito maior do que uma simples transação comercial. O amor não é um sentimento afetuoso, mas um desejo constante pelo bem maior da pessoa amada até onde for possível obtê-lo. - CS Lewis Agora, se eu fosse apenas um amontoado de células oriundas de reações químicas, um mero filho do caos ou fruto do acaso, algo como um propósito maior não faria sentido. Nesse caso, o sentido óbvio seria se empenhar em um projeto egoísta, em um reino próprio e aproveitá-lo ao máximo enquanto há fôlego nos pulmões. Se o nosso destino é o nada o negócio é aproveitar o mundo da matéria enquanto há tempo. É a filosofia de vida de muitas pessoas. Converse com doentes terminais e pessoas em idade avançada e você encontrará lamentos: "O que eu fiz com a minha vida? Ah! Se eu pudesse voltar no tempo!" Uma tonelada de arrependimentos. Não precisa ser um moribundo no hospital para chegar a conclusões assim. Talvez você esteja lendo este livro justamente porque chegou no topo, mas sua alma continuou incomodada. 36 Quem sabe, assim como eu, você alcançou tudo o que sempre desejou, mas se deu conta de que suas conquistas não preencheram a "lacuna". Quando abri a primeira turma da Altitude fiz uma pesquisa de satisfação com os membros e identifiquei exatamente isso. A maioria dos trinta e oito assinantes já havia alcançado certo sucesso na vida, mas ainda buscavam compreender o propósito de sua existência. As respostas da pesquisa quase sempre concluíam algo como "eu sei que há algo maior, quero descobrir o quê". Nas aulas e mentorias da comunidade, ficou cada vez mais claro que elas encontravam o que procuravam quando se voltavam para Deus e reposicionavam suas vidas para servir o próximo com aquilo que tinham nas mãos. Cristo sempre teve razão. A conclusão do sábio Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade. Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol? — Salomão em Eclesiastes 1:2,3 Busquei responder minhas dúvidas existenciais com mais tarefas, mais projetos, mais compromissos, mais dinheiro e mais qualquer outra coisa. Quis preencher o vazio 37 com mais vazio. Sobrou aquilo que sobra quando se estoura uma bolha de sabão. Tudo é vaidade. Para compreender o sentido de uma música, posso perguntar para o compositor. Se quero saber o sentido da vida, devo perguntar ao Autor da vida. O grande Salomão tentou viver à sua maneira, encontrou terrível angústia, só para concluir em avançada idade que a única vida que valia a pena ser vivida era uma vida ligada a vontade de Deus. Quer descobrir o sentido da sua vida? Voltar ao Criador é o primeiro passo. 38 Capítulo três. 3. Clareamento Caninos, Mario Bros e o resgate da princesa Cogumelo. 39 Canino ou molar ● "O que está acontecendo?" - pergunta o médico. ● "Meu peito está doendo!" Ninguém vai ao hospital para esconder uma informação como essa. Rapidamente, aponto para onde dói. "Provavelmente, o problema está aqui." Ocorre o mesmo no dentista. Seria tolice correr ao dentista e se negar a apontar exatamente onde dói. Na consulta, a pergunta surge rapidamente: "Qual dente está doendo?" Você só não apontaria a fonte da dor se por algum motivo não conseguisse identificá-la. Do contrário, a resposta é rápida. "É este aqui, doutor. É bem aqui. Chega a latejar!" Eu costumava fazer confusão com os significados dos termos relacionados ao tema propósito. O escritor norte-americano Simon Sinek tornou famoso o conceito de Círculo de Ouro em seu livro Comece Pelo Porquê. Um dos grandes temas da filosofia é o sentido da vida. Nos círculos religiosos, ouvimos com frequência a palavra chamado. Nos consultórios de psicologia, nas entrevistas de emprego e nos eventos motivacionais emprega-se o termo vocação. A infinidade de termos usados, muitas vezes com significados bastante diferentes dependendo do contexto, pode ser uma pedra no sapato de quem busca compreender seu papel no mundo. Propósito, chamado, vocação, causa,porquê, missão, sentido, destino — será tudo a mesma coisa? 40 É possível distinguir esses termos? Isso sempre me atrapalhou um pouco. "Preciso parar e remover esse pedregulho." Se não distingo bem as coisas, posso me encontrar fazendo um teste vocacional para resolver uma dúvida sobre um chamado divino. Posso buscar livros sobre o sentido de vida para resolver uma desmotivação no trabalho. Posso ouvir conselhos inadequados de um eletricista sobre os tipos de tratamentos dentários que deveria escolher. As palavras e os problemas precisam ser distinguidos. Pelo menos um pouco. Preciso saber diferenciar um canino de um molar. Depois, atacamos o problema. O resultado será mais clareza na caminhada. Uma mesa com propósito [...] e o enchi do Espírito de Deus, de habilidade, de inteligência e de conhecimento, em todo artifício, para elaborar desenhos e trabalhar em ouro, prata e bronze [...] - Êxodo 31:3,4 A palavra propósito tem sua origem em termos que fizeram uma longa viagem pela história, desde o grego, o latim, o francês antigo, entre outros. Alguns significados apontam para alvo, fim, finalidade, sentido, objetivo, intenção, vontade e assim por diante. Quando o marceneiro constrói uma mesa ele tem uma intenção. Antes mesmo de escolher a madeira, dedica algum 41 tempo para reflexão. Ele imagina a mesa em sua cabeça, pensa na finalidade dela, em como será usada entre outras questões. Como todas as outras, é uma mesa que vai servir a um ou mais propósitos depois que ficar pronta. Há, no mínimo, uma boa razão para a existência dela. Quando terminar o trabalho, o marceneiro orgulho vai pensar: "Ficou muito bom! Esta mesa ficará perfeita na minha sala de jantar!" Certamente, você conhece alguém cujo propósito de vida é tão evidente que provoca afirmações do tipo: "Parece que fulano nasceu para aquilo". Por outro lado, imagine a família do marceneiro usando a nova mesa como cadeira e todos sentados nela. É possível alguém sentar sobre uma mesa? Sim, mas não faria muito sentido. Seria uma mesa muito mal utilizada! É o que acontece quando olhamos para alguém e pensamos: "Fulano não tem nada a ver com aquilo. Por que ele se meteu nessa?" Apesar de polímata, um gênio com conhecimento em várias áreas, Leonardo da Vinci foi uma pessoa que qualquer um poderia olhar e dizer: "Esse cara nasceu para ser pintor!" Na perspectiva cristã, Deus é o Marceneiro que criou tudo com um propósito e viu que tudo o que criou era bom. Os chamados de Mário [...] disse o Espírito Santo: Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. - Atos 13:2 42 Na minha infância, eu era viciado em um jogo da Nintendo chamado Super Mario Bros. Foi um divertido entretenimento por muito tempo da minha vida. Agora pense comigo, para quê os jogos de video games são criados? Os propósitos podem incluir entretenimento, diversão, aliviar o estresse, reunir os amigos entre outros. Os desenvolvedores de jogos podem ter esses alvos em mente ou também podem criar jogos apenas para ganhar dinheiro e fazer fortuna. Depende da visão, dos valores e dos princípios da empresa e de cada um dos envolvidos. Agora, olhemos um pouco para o personagem Mario. Qual é o objetivo dele no jogo? Segundo o enredo, Mario parte em uma jornada para salvar a princesa Peach Cogumelo e libertar o reino de Bowser, o vilão. Para cumprir esse propósito, Mario deve cumprir várias missões que incluem perigos diversos, inclusive derrotar Bowser. Se o propósito de Mario é resgatar a princesa e libertar o reino, suas missões no jogo podem ser comparadas ao que nos referimos por chamado. Pelo menos em certo aspecto. Mario tinha um propósito maior, mas para chegar nele precisou cumprir propósitos menores. Não posso dizer quais são os seus propósitos, mas posso dizer que certamente você terá vários chamados. Nas religiões, o termo chamado está mais ligado ao divino, às questões espirituais. No cristianismo, Deus chama as pessoas 43 para missões específicas de acordo com sua vontade. Assim, me parece que o termo chamado refere-se mais frequentemente a uma convocação espiritual, uma missão divina ou algo parecido. Um exemplo é o chamado comissional aos cristãos. "Vão e façam discípulos" é entendido como um chamado comum a todos os cristãos, sem exceção. Como cristão, não preciso buscar uma confirmação sobrenatural para esse chamado, ele simplesmente já foi feito. É só questão de obediência. Existem também as designações específicas. Pedro foi chamado para ser um dos doze apóstolos de Cristo. Paulo foi chamado para ser apóstolo entre os gentios. Há quem seja chamado para o matrimônio, como também há quem seja chamado para o celibato. Uma pessoa provavelmente terá de cumprir muitas missões na vida, o que pode incluir crescer, estudar, trabalhar ou ter filhos. Falo isso porque é comum associarmos todo e qualquer chamado aos chamados de Moisés ou de Maria, envoltos em visões e grandes sinais sobrenaturais. Você não precisa disso para ter um chamado. Madre Teresa recebeu a missão de viver entre os pobres e doentes. Foi em 1946, durante uma viagem de trem na Índia, que ela recebeu o "chamado dentro de um chamado". Além da grandiosa missão que ela já desempenhava agora ela havia recebido uma nova missão que sabemos que cumpriu com louvor. Durante a vida, receberemos chamados de várias formas diferentes. 44 Em busca da vocação perdida Vocação refere-se mais a um "chamado natural", muitas vezes entendido como inclinações pessoais, gostos, habilidades naturais, entre outros. O uso corrente do termo está bastante ligado a escolha de um curso ou de uma carreira profissional, o que para muitos é reduzir o conceito. Para fins didáticos, me focarei mais no aspecto popular do termo. Normalmente, quando as pessoas falam em vocação elas estão se referindo a uma atividade que gostam, uma inclinação ou uma profissão. Talvez você já tenha ouvido de alguém: "Trabalho nesse emprego, mas não é minha vocação". Ou quem sabe: "Não tenho vocação para matemática". Essas são as conotações populares. Quem nunca passou por um teste vocacional na escola? Partindo desse ponto, por curiosidade, observe alguns personagens bíblicos e suas profissões: ● Paulo: fabricante de tendas. ● José: carpinteiro. ● Dorcas: costureira. ● Neemias: copeiro. ● Lucas: médico. ● Mateus: cobrador de impostos. ● Pedro: pescador. ● Amós: agricultor. ● Daniel: político. 45 ● Josué:soldado. Vocação tem a ver com quem a pessoa é, o que inclui suas características e inclinações inatas. Para muitos especialistas, não é uma coisa a ser escolhida, mas a ser descoberta. É algo que Deus lhe deu de presente. Você não escolheu nascer na cidade em que nasceu assim como não escolheu as habilidades que possui. Não decidiu preferir tomate em vez de cebola. Você descobriu tudo isso vivendo, prestando atenção, experimentando, se conhecendo. Portanto, na jornada da vida você descobre sua vocação e então pode escolher segui-la ou rejeitá-la, se encaixar a ela ou lutar contra ela. Descomplicando Deixo claro que o sistema de definições que apresento neste capítulo começou meramente como um projeto pessoal. Ele foi sendo construído lentamente como a montagem de um grande quebra-cabeças cujo objetivo era facilitar meu processo de auto-conhecimento. Tenho certeza que pessoas mais capacitadas do que eu, nas mais diversas áreas do conhecimento, podem dar definições mais precisas sobre cada um dos termos. Dito isso, apresento alguns exemplos bíblicos de acordo com meu sistema de definições: Se eu pensar no propósito de vida de Moisés, inevitavelmente surgem palavras como libertador, guia, 46 legislador, profeta, entre outros. Para viver seu propósito, ele cumpriu diversos chamados como: comparecer diante de Faraó, entregar a lei de Deus, conduzir o povo pelo deserto e assim por diante. A vocação de Moisés apontava para liderança, política, intelectualidade e comunicação. Maria nasceu para ser a mãe de Jesus (Gênesis 3:15). Dentre os seus chamados estavam gerar, criar e cuidar de Jesus, o que ela fez até o último suspiro dele na cruz. É comum ouvirmos sobre a "vocação de Maria", mas não no sentido de uma profissão ou de uma atividade que ela desempenhasse, mas como um sinônimo de chamado. É fácil perceber que popularmente os termos e os significados se misturam. O próprio Cristo veio à Terra com o propósito bem claro de nos salvar. Qualquer cristão responderia facilmente sobre o principal motivo de Cristo descer entre nós. Para cumprir seu propósito, ele foi chamado para morrer na cruz, missão que ele decidiu obedecer até o fim: [...] foi precisamente com este propósito que eu vim para esta hora. - Jesus Cristo em João 12:27 Durante sua vida, Cristo estudou, trabalhou, escolheu e treinou discípulos, operou milagres e muito mais. A Bíblia não indica a profissão dele com clareza absoluta, embora fosse comum que os filhos ajudassem o pai no trabalho. Em todo caso, percebemos que Jesus tinha familiaridade com elementos da construção civil, conforme os exemplos que dava em suas pregações. 47 A mesa que citei anteriormente tem como propósito ser uma mesa de jantar. Um dos seus chamados é servir como ponto de encontro da família nas segundas-feiras quando todos jantam juntos. Ela também já foi "chamada" para servir como a mesa principal de uma festa de aniversário. Que honra! E quanto a vocação? Ah! Trata-se de uma bela mesa de madeira, grande, forte, com duas gavetas embaixo e que encaixa perfeitamente na sala de jantar do marceneiro que a construiu. Temos aqui uma mesa muito bem alinhada com seu propósito de existência! Exercício Baseado no que vimos neste capítulo, responda às questões a seguir: 1. PROPÓSITO: escreva algumas palavras-chave que possuem conexão com seu propósito. Não precisa responder com exatidão. Exemplo: um médico poderia escrever "cuidar de pessoas, saúde, ONG, trabalho humanitário, pesquisa, cura, entre outros". 2. CHAMADO: você já se sentiu impelido a iniciar ou participar de algum projeto, causa, missão, ministério, entre outros? Descreva. 3. VOCAÇÃO: liste algumas atividades que você ama fazer ou habilidades naturais que você possui. Exemplos: 48 liderar, cantar, vender, organizar, palestrar, escrever, empreender, aconselhar, entre outros. Um simples exercício como esse pode lançar luz sobre seu propósito. Tome como exemplo esta obra que você lê. Ela é fruto de perguntas como essas, após eu ter descoberto uma paixão por servir pessoas através dos meus textos. Portanto, a existência deste livro está cem por cento alinhada ao meu propósito e a considero mais um chamado cumprido. Antes da próxima fase Você já está quase passando de fase. Antes, quero compartilhar alguns pontos que respondem a dúvidas comuns ainda no tema. Primeiro, não é possível traçar uma linha divisória clara entre seu propósito, vocação e chamado. Em alguns casos, a divisão pode ser nítida. Em outros, as coisas vão se misturar completamente. Às vezes, encontro pessoas tentando fazer uma divisão tola: "Das oito às dezoito horas estou no trabalho (vocação). A noite vou à igreja, onde sou voluntário (chamado). Nos fins de semana, faço trabalho social (propósito)". Não recomendo fazer delimitações assim, especialmente porque quem faz isso frequentemente está comparando sua trajetória com a trajetória de outra pessoa. Segundo, deixe o passado. Não raro, encontro pessoas angustiadas querendo voltar no tempo porque deixaram de 49 cumprir alguma missão ou chamado lá atrás. Isso não significa que seu propósito foi cancelado. Se você viveu com a vida desalinhada, se negligenciou algum chamado de Deus, se arrependa, busque alinhamento e continue a caminhada. O que Davi, Elias, Pedro, Sansão, Moisés, Jacó, Jonas, Tomé e outros personagens bíblicos têm em comum? Todos eles falharam, mas isso não os impediu de completarem suas carreiras. Terceiro, busque sabedoria para conciliar as várias esferas da vida. Muitos me perguntam sobre como concilio profissão, família, ministério, lazer, estudo, entre outros. Esse é um assunto que trato em detalhes na Altitude, mas posso adiantar o seguinte: o fato de Mario, personagem do jogo, ser um encanador não o impediu de salvar a princesa, assim como o fato de Paulo de Tarso ser um fabricante de tendas não o impediu de pregar aos gentios. "Como assim, Ramon?" Fique tranquilo. No capítulo cinco, volto nesse tema. Quarto, reflita nas decisões que você toma diariamente. Não adianta você dizer que tem um propósito claro se não convergir para ele. Se não há decisões alinhadas, pode ser que nem você mesmo acredita no seu propósito. Pergunte-se todos os dias: "As decisões que estou tomando me aproximam ou me afastam da jornada que devo estar trilhando?" Quinto, mudesua perspectiva a respeito da sua profissão. Se você não gosta do seu trabalho, não fique resmungando pelos cantos. Tome a responsabilidade de dar o melhor de si e enxergue essa etapa como parte do seu 50 aprendizado e crescimento. Você pode não ter escolhido seu trabalho, mas pode tentar ver um propósito maior onde não consegue enxergar. Tenho um tio que é dono de uma loja que vende parafusos. Alguém poderia menosprezá-lo dizendo: "Parafusos?" A verdade é que ele não vende parafusos, mas está ajudando a construir a cidade. Os parafusos que ele vende contribuem para as casas e apartamentos que surgem diariamente para abrigar as novas famílias. A perspectiva muda completamente. Ao vender parafusos, meu tio está contribuindo para a sociedade e glorificando a Deus com sua postura digna, honesta, dedicada e apaixonada. Quem o conhece sabe o quanto ele gosta de resolver os problemas dos clientes. Trabalhei por cerca de oito anos com coisas que não gostava. Foram quatro anos como estoquista na loja de auto peças da família e quatro como professor particular de música. Hoje, vejo que foi um tempo valioso de aprendizado e desenvolvimento de várias habilidades que me prepararam para saltos maiores. Sou muito grato a Deus por aquele tempo. Se você não vê sentido no seu trabalho, que tal mudar sua perspectiva sobre ele? Comece dando o melhor de si no que você faz e continue na jornada até enxergar uma possibilidade de mudança. Quem sabe você não precise mudar de trabalho, mas de perspectiva. Seja grato e compreenda que tudo pode estar servindo um propósito maior do que você imagina. 51 Capítulo quatro. 4. Aventura singular Viagens no tempo, fitas cassetes e a importância das pálpebras. 52 Impressão digital Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no ventre de minha mãe. Graças te dou, visto que de modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem. - Salmos 139:13,14 A biologia garante que não há duas pessoas com impressões digitais iguais. Cada um de nós possui mãos e dedos com linhas diferentes, os sulcos interpapilares. Mesmo em casos em que duas pessoas têm digitais muito parecidas, basta aos papiloscopistas — profissão que estuda as linhas das mãos e dos pés — expandir um pouco a área de análise para encontrar diferenças. Por essa razão, o uso de impressões digitais para identificar uma pessoa remonta à Idade Antiga. No capítulo dois, vimos que o maior propósito da Criação é a glória de Deus. Esse é o propósito universal de tudo o que foi criado. O bramido das águas, o reluzir das estrelas, o canto do galo, o afeto da mãe, o saborear de uma maçã - tudo isso concorre para que Deus seja glorificado. O céu e a terra, o paraíso e o inferno, o deserto e os prados, rios e mares – todos têm seu modo próprio de prestar homenagem a Deus. - Paulo Brabo Debaixo do propósito universal para todas as pessoas, há propósitos e planos divinos para cada pessoa na Terra. Isso 53 quer dizer que os planos de Deus para a sua vida são únicos, e que Ele quer lhe usar de um jeito específico. A estatística e a biologia afirmam o óbvio: não há ninguém igual a você. Não existem duas pessoas a quem podemos dizer: "São exatamente iguais". Logo, não haverá trajetórias iguais. As manifestações de glória e louvor da sua vida diferirão das manifestações de qualquer outra pessoa na história da humanidade. Assim como o salmista, o próprio Deus teceu você no ventre de sua mãe, de uma maneira assombrosamente maravilhosa. Propósitos subordinados [...] o Espírito Santo disse: — Separem-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. - Atos 13:2 Abaixo do propósito universal temos algo como propósitos subordinados. Me refiro a todas as missões, chamados, causas, vocações, atividades, tarefas, entre outros, que são particulares de cada pessoa. Abraão, Moisés, Isaías, Pedro, Paulo — cada um deles trilhou uma jornada diferente. Muitos apontam para essa trajetória única como o tão famoso propósito de vida que tantos anseiam descobrir. A descoberta é uma combinação de auto-conhecimento (entender como Deus me criou), de relacionamento 54 (entender a vontade de Deus específica para mim) e de ações que respondem às questões que a vida me faz. Não se trata de uma jornada só de auto-conhecimento ou só de relacionamento. No auto-conhecimento as coisas já são dadas, você só precisa começar a se examinar. Não é necessário Deus enviar um anjo para lhe falar sobre sua inclinação para a matemática. Um simples teste vocacional resolve essa questão. Todavia, o entendimento de que você deve mergulhar na matemática porque em três anos haverá uma missão importante para cumprir pode vir do relacionamento com Deus. Foi assim que Barnabé e Saulo descobriram sua nova missão. Não com um teste vocacional. Com isso em vista, fica claro que não é necessário tentar saber todas as coisas. Compreender sua missão não se trata de tentar prever o futuro. Longe disso. Trabalhe com o que você já sabe sobre si e continue aprofundando seu relacionamento com Deus e dessa forma, num trabalho a quatro mãos, você descobrirá gradualmente a trajetória que deve viver. Cavalo de Troia Um abismo de abstrações pode desconectar você do mundo real. Certos questionamentos podem mais atrapalhar do que ajudar, por isso, eles precisam ser identificados. Ficar absorto em questões sem sentido é um obstáculo para as questões que lhe dariam sentido. Para alguns, é um desafio 55 escolher as reflexões que de fato frutificarão em melhores decisões e ações. ● Por que nasci assim, com este cabelo, nariz e boca? ● Por que nasci com esta personalidade? ● Por que nasci nesta família? ● Por que nasci nesta cidade? Frequentemente, abro a caixa de perguntas no meu Instagram e recebo perguntas como: ● Vai ter cachorro no céu? ● Jesus tinha barba? ● Quantos anjos existem ao todo? ● Quem é o anticristo? Me lembro que em 2004 caí em um website americano sobre conspirações e quase fiquei maluco, acreditando em viagens no tempo e invasões alienígenas. Desperdicei um ano da minha vida fuçando tudo o que podia encontrar naquelas páginas fantasiosas de mau gosto ímpar. Foram horas e horas por dia vasculhando um verdadeiro buraco negro de informações obscuras. Isso só me trouxe uma coisa: arrependimento (e vergonha). Não foi a primeira vez. No fim da década de noventa, eu li um livro chamado Operação Cavalo de Troia, do espanhol J.J.Benítez. O enredo "provava" uma incrível viagem no tempo à Palestina do primeiro século realizada pela Força Aérea 56 https://www.instagram.com/ramon_tessmann/ Americana. A obra me envolveu tanto e fornecia tantas "provas" que cheguei a acreditar que fosse verdade. Cheguei a entrar em discussões sobre o livro. O problema é que a obra (vendida até hoje) se trata de pura ficção. Benítez ficou conhecido por fazer muito de seus leitores acreditarem em suas estórias fantasiosas. Pelo menos não fui o único. Quanto tempo você está desperdiçando com bobagens sem sentido? Enquanto você busca saber o que existia antes do Big Bang o mundo lá fora anseia pela manifestação do seu propósito. Você é a solução viva para alguém! Agora mesmo, existe uma pessoa que poderia ser ajudada através do seu propósito, mas alguns devaneios inúteis estão tirando você do mundo real. A atual época de desinformação não tem tido piedade e está lhe "puxando" para a confusão de pensamento. Você não tem tempo para visitar um orfanato, mas é capaz de passar uma semana assistindo a vídeos intermináveis sobre supostos anticristos. Por mim, tudo bem se é esta a vida que você escolheu viver. Todavia, ler esta obra prova que você não quer investir sua vida fazendo dancinhas no TikTok. Você decide como vai se posicionar diante disso tudo. Embora eu não tenha controle sobre qualquer talento, habilidade, inteligência, vantagens ou desvantagens com as quais nasci, assumo a responsabilidade de maximizar 57 qualquer potencial de Deus tenha me dado para cumprir a minha missão. - Erwin MacManus Meu conselho é que você escolha bem onde vai investir seu tempo. Escolha bem até mesmo as questões que você vai investigar. "Por que nasci com duas mãos e cinco dedos?" Não sei. Só sei que vou usá-los do jeito mais proveitoso que puder. Tudo o que recebi é fruto da multiforme sabedoria de Deus. Cabe a mim aceitar essa realidade e partir para a jornada com as ferramentas que me foram dadas. Com tudo o que sou e tenho, decido glorificar a Deus e servir as pessoas que Ele colocar em meu caminho. Por que eu? Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel? - Moisés em Êxodo 3:11 A pergunta de Moisés representa a pergunta de muitos: "Por que eu?" O medo, o sentimento de incapacidade, a incredulidade, a baixa autoestima, a falsa humildade — são alguns dos motivos prováveis para retrucarmos: "Por que não fulano?" Você lembra que no primeiro capítulo contei que minha crise durara seis anos? Vou lhe contar mais detalhes. Foi no Chile onde Deus usou a boca de um homem para revelar meu novo chamado. "Calma, o caminho é por ali." 58 A densa neblina começava a se dissipar mais precisamente no dia dez de março de 2016 em um hotel no centro de Santiago. Eu havia sido convidado para ministrar duas palestras para um grupo de duzentos líderes e empresários, mas chegando lá o ministrado fui eu. Após o evento tive uma experiência marcante que apontaria minha nova missão. Era a resposta que buscava por anos. Sabe qual foi a primeira pergunta que fiz depois disso? A mesma de Moisés: "Quem sou eu? Por que eu?" Talvez você já tenha cometido esse mesmo erro. Você buscou tanto uma resposta e quando ela apareceu, sua a reação foi: ● Ah! Isso não é para mim! ● Tem outras pessoas para visitar o asilo hoje! ● Tem gente mais capacitada para aconselhar aquele jovem! ● Há funcionários melhores para este projeto! ● Outros já pensaram nesta ideia! ● Quem sou eu para liderar esta equipe! ● Outras pessoas já escreverem um livro assim! ● Já tem muita gente fazendo isso! Existem aqueles que têm boas ideias para si, mas são covardes o suficiente para jogá-las no colo do outro. "Tive uma excelente ideia, toma faz você!" 59 As desculpas são várias e todas elas são filhas da covardia. Se o Marceneiro lhe chamou a única resposta é "Sim" e o único sentido é para frente. Não jogue no colo dos outros aquilo que lhe cabe fazer. Não fique buscando informações sobre seu propósito só para depois querer que outra pessoa o viva. É como se você dissesse a Deus: "Obrigado por me revelar tudo isso. Agora, envie fulano!" Chiados e ruídos Todas as viúvas o rodearam, chorando e mostrando-lhe os vestidos e outras roupas que Dorcas tinha feito quando ainda estava com elas. - Atos 9:39 Uma coisa interessante sobre as fitas cassetes de antigamente era que uma cópia sempre tinha qualidade inferior a da original. A diferença entre a original e a cópia era bastante perceptível. Os chiados e ruídos revelavam quem era quem. Isso significava que a cópia da cópia ficava ainda pior e assim por diante. No afã de ter uma vida mais significativa eu já caí no erro ser aquela cópia mal feita, que todos percebiam não ser a original. Já imitei estilos que nada tinham a ver comigo, já mudei meu jeito de falar e de me vestir, já preguei mensagens que não eram minhas, já comprei coisas que não precisava, etc. — tudo na tentativa de ser quem não nasci para ser. 60 "Quem sabe assim chego no sucesso." Quantas decisões estúpidas! Existe apenas um de você [...] Se você bloquear sua expressão, ela nunca existirá por meio de outra pessoa e isso será perdido. - Martha Graham Imagine o agitado canteiro de obras de uma bela casa de campo. Uma pequena confusão se instala quando dois carpinteiros tentam dar os acabamentos na obra. Um deles precisa fixar um último prego na varanda, mas ao apanhar o martelo o serrote "pula na frente" e se oferece para a missão. O carpinteiro desconfiado apanha o serrote e começa a golpear o prego. O segundo carpinteiro chega e requer o serrote para serrar um pedaço de madeira que completará o forro. Todavia, ele descobre que o serrote está "ocupado" servindo como martelo. Ele decide, então, levar o martelo para tentar serrar a madeira. Instala-se o caos. A conclusão da história é que a casa ainda não foi terminada. Os dois carpinteiros ainda estão lá, pregando com o serrote e serrando com o martelo. Pode ser que eles terminem a casa, mas ela não ficará tão bem acabada e bela como no projeto. No mínimo, será um serviço mal-feito. Muito mal-feito. É isso o que acontece quando estamos fora de propósito: desperdício, obras mal-feitas, angústia e confusão. Eu já fui aquele serrote querendo servir como martelo. Seja porque eu 61 admirava a trajetória de alguém, seja por inveja ou por insegurança. Posso dizer é que isso só me trouxe frustração.
Compartilhar