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ABORDAGEM DA CRIANÇA GRAVE POR Rebeca Zilli Uma abordagem sistemática à uma criança gravemente enferma consiste em 1. avaliação inicial: momento em que se identifica se a criança está grave ou não (15s); 2. avaliação primária: se está grave, início correção apropriada das situações ameaçadoras; 3. avaliação secundária: uma vez estabilizada, faço a complementação de informações (clínico e EF); 4. avaliação diagnóstica: parto para exames complementares (quando necessário). Portanto a sequência de avaliação deve ser AVALIAR ► IDENTIFICAR ► INTERVIR ► REAVALIAR IMPRESSÃO INICIAL É a primeira observação ao examinar a criança nos segundos iniciais e vai se basear no TAP (triângulo de avaliação pediátrica). Ao bater o olho na criança já avalio sua aparência, o esforço respiratório e a circulação (observo pela cor). Comprometimento em qualquer uma das situações analisadas, a criança é tida como potencialmente grave e deve ser avaliada de forma sistematizada. ● identificando situações ameaçadoras: NÍVEL DE CONSCIÊNCIA: tocar no ombro da criança ou calcanhar do bebê e chamar ● se não responsiva, solicito ajuda e avalio respiração e circulação RESPIRAÇÃO E CIRCULAÇÃO: avalio simultaneamente em no máximo 10s ● elevação de tórax para respiração ● pulso braquial para bebês até 1 ano ● pulso carotídeo ou femoral para maiores de 1 ano ● circulação observo pela cor do paciente Além de observar se a criança está consciente e com respiração e circulação presente, há uma mnemônica que ajuda a memorizar outros sinais importantes ao se tratar de aparência: TÔNUS INTERATIVIDADE CONSOLABILIDADE OLHOS FALA OU CHORO AVALIAÇÃO PRIMÁRIA Se a criança apresentou situação ameaçadora de vida, início suporte básico de vida. Se a criança não apresenta situação ameaçadora de vida, prossigo com a avaliação primária, que vai fazer abordagem no modelo ABCDE: ● Avaliar patência da via aérea: faço isso observando movimento de tórax, ausculta de sons, percepção de fluxo de ar, sinais de esforço respiratório, sons inspiratórios anormais ou ausência de sons (apesar do esforço respiratório- obstrução total); esses três últimos são sinais de obstrução. ● Desobstrução de via aérea: MEDIDAS SIMPLES: 1. criança consciente→ eleva cabeceira (posicionamento) 2. criança inconsciente→ virar de lado, elevar queixo, inclinação de cabeça se houver suspeita de trauma cervical, apenas anteriorizar a mandíbula. 3. aspirar nariz e orofaringe 4. colocação de dispositivo de via aérea→ cânula de Guedel 5. técnicas de alívio de obstrução total em paciente consciente esforço respiratório < 1 ano: 5 pancadas nas costas seguidas de 5 compressões torácicas >1 ano: compressões abdominais MEDIDAS AVANÇADAS: 1. IOT ou mascara laríngea 2. aplicação de pressão positiva contínua em vias aereas (CPAP) 3. remoção de corpo estranho 4. cricotireoidostomia 5. RCP→ se suspeito de obstrução total e paciente está inconsciente Uma vez resolvido ou controlado um eventual problema encontrado em A, passo para B. Nesta etapa será feita uma avaliação da respiração da criança, verificando: ● Frequência respiratória valores normais IDADE FREQUÊNCIA bebês 30-53 irpm 1ª infância 22-37 irpm pré escolar 20-28 irpm escolar 18-25 irpm adolescente 12-20 irpm Contagem da FR: bebês→ contar por pelo menos 30s, pois podem haver pausas durante o sono. crianças→ contar com a criança em repouso; não agitá-la. Taquipneia (anormalidade): é geralmente o primeiro sinal de desconforto respiratório em crianças. Se não estiver associada à esforço respiratório, pode não ser de causa respiratória. até 2 meses→ FR > 60 irpm 2m à 1 ano→ FR > 50 irpm 1 a 4 anos→ FR > 40 irpm Bradipneia (anormalidade): é geralmente resultado de fadiga muscular após esforço respiratório, mas pode estar associada à outras condições como lesão de SNC, hipóxia, choque grave, hipotermia, medicamentos, doenças musculares. Padrão irregular (anormalidade): é geralmente associado à problemas neurológicos; gasping ou respiração alta seguida de apneia são sinais que requerem avaliação urgente. ● Esforço respiratório Para identificar se uma criança está fazendo esforço respiratório, devo avaliar se há batimento de asa nasal, retrações, maneios da cabeça e respiração paradoxal. Considero retrações leves/moderadas quando são subcostal, subesternal e intercostal; considero retrações graves quando estas ocorrem supraclavicular, supraesternal e esternal. Isso se dá pois a retração inicia nas partes mais baixas do gradil, então quanto mais baixo, mais leve. ● Expansão torácica Devo avaliar simetria na elevação do tórax durante a inspiração. ● Sons anormais Estridor: indica obstrução superior extratorácica (corpo estranho, infecções, anormalidades, alergia) Gemido: som curto e grave na expiração quando há colapso de vias pequenas ou colapso alveolar; Gorgolejo: som borbulhante pela presença de secreção, vômito ou sangue em via aérea; Sibilo: indica obstrução inferior, geralmente ocorre em bronquiolte e asma; Crepitação: frequente em atelectasias e doenças intersticiais; Outras alterações: choro, tosse, dificuldades de fonação; Consideram-se como valores anormais em qualquer idade quando FR <10 ou >60. É importante lembrar que excitação, ansiedade, dor, febre, podem influenciar na FR da criança. Lembrar que a FR sozinha não indica problema respiratório (deve ser associada ao esforço)! ● Oximetria de pulso SatO2 > 94% ► pode estar saturando bem, mas se houver esforço, suplemento oxigênio. SatO2 < 94% ► há necessidade de oxigênio suplementar. SatO2 < 90% ► se já houver suplementação de O2, avalio necessidade de suporte suplementar. OBS.: a saturação isoladamente não determina se será necessário a suplementação de O2. Uma vez resolvido ou controlado um eventual problema encontrado em B, passo para C. Nesta etapa será feita uma avaliação da circulação da criança, verificando: ● Tempo de enchimento: o normal é de ≤ 2 segundos, mas pode ter tempo aumentado em condições como choque, hipotermia e desidratação. ● Pulsos centrais e periféricos: CENTRAIS: femoral, braquial (bebês), carotídeos (crianças mais velhas), axilares; PERIFÉRICOS: radiais, dorsais do pé e tibiais posteriores; A redução do DC compromete incialmente os pulsos periféricos, por isso, devo palpar ambos. ● Pressão Arterial: o manguito ideal deve cobrir 40% da circunferência do braço e 50% do comprimento. A tabela de PA pediátrica é imensa e varia com idade, portanto, focamos nos valores que determinam hipotensão, que indica gravidade estando a PA abaixo do percentil 5 para idade e sexo. hipotensão IDADE PA sistólica neonatos < 60 mmHg bebês < 70 mmHg crianças (1-10 anos) < 70 mmHg + (idade em anos x 2) crianças (>10 anos) < 90 mmHg ● Frequência Cardíaca: a FC na criança varia muito e sozinha não serve de parâmetro, mas como comparativo ao avaliar a evolução. Pode ser avaliada pelo pulso, ausculta, monitor ou oxímetro. IDADE vigília sono neonatos 100 – 205 bpm 90 – 160 bpm bebês 100 – 180 bpm 90 – 160 bpm 1ª infância 98 – 140 bpm 80- 120 bpm pré-escolar 80 – 120 bpm 80 – 120 bpm escolar 75 – 118 bpm 58 – 90 bpm adolescente 60 – 100 bpm 50 – 90 bpm ARRITMIA: alterações do ritmo que podem ser devidas a lesão no sistema de condução ou tecido, além de situações como choque e hipóxia. Podem ser bradi ou taqui, e podem ter efeito de perfusão (descompensação). BRADICARDIA: FC menor que a esperada, sendo a hipóxia sua principal causa. Se há sinais de perfusao deficiente (pulso fraco, fria, mole), forneço ventilação com O2; se não houver melhora inicio compressões; se criança estáalerta pode ser overdose de drogas ou bloqueio cardíaco. TAQUICARDIA: pode ser relacionada a febre, ansiedade; quando houver sinal de comprometimento cirulatório, intervir. Quadros graves: bebês→ FC > 180 bpm Se houver redução de 10 mmHg na PA sistólica, existe a possibilidade de evolução para choque! crianças→ FC > 160 bpm ● Temperatura da pele: com as costas da mão, deslizando pelo tronco e extremidades da criança, avalio se há variações na temperatura. ● Coloração da pele: avalio palidez (em mucosa, pele), moteamento (descoramento irregular, com tons rosas, cinzas, azulados, pálidos) e cianose (mais importante quando é central – lábios e mucosas). A cianose periférica pode decorrer de frio, mas a central não; além disso, atenção para pacientes anêmicos que só vão apresentar a cianose tardiamente. Uma vez resolvido ou controlado um eventual problema encontrado em C, passo para D. Nesta etapa será feita uma avaliação quanto a disfunção da parte neurológica. ● Escala de Resposta Pediátrica AVDI: é uma escala mais simples, fácil, rápida, de eleição para avaliação da criança que não sofreu trauma, apenas rebaixamento de consciência. Alerta: resposta da criança conforme esperado para idade, local e situação; Voz: resposta da criança apenas à estímulos de voz; Dor: resposta da criança apenas à estímulos dolorosos; Inconsciente: criança não responsiva à nenhum estímulo. Pode haver sinais de disfunção neurológica em situações como: perfusão deficiente, choque, trauma de SNC, atividade convulsiva, infecções do SNC, hipoglicemia, drogas, alterações de ventilação/oxigenação. ● Escala de Coma Pediátrico de Glasgow: é uma escala mais voltadas para traumas. Pontuação Criança Bebê Abertura dos olhos 4 Espontaneamente Espontaneamente 3 Em resposta a comando verbal Em resposta a grito ou fala 2 Em resposta a dor Em resposta a dor 1 Sem resposta Sem resposta Resposta verbal 5 Orientado e conversa Sorri, murmura e balbucia 4 Desorientado, confuso Chora, mas é consolável 3 Palavras inapropriadas Choro ou grito persistentes e inapropriados 2 Sons incompreensíveis Geme em resposta a dor 1 Sem resposta Sem resposta Resposta motora 6 Obedece a comandos Movimentos espontâneos 5 Localiza a dor Retira em resposta ao toque 4 Retira estímulo com flexão Retira estímulo com flexão 3 Flexão anormal (decorticação) Flexão anormal (decorticação) 2 Extensão (descerebração) Extensão (descerebração) 1 Sem resposta Sem resposta Total= 3 a 15 ● Resposta pupilar: deve ser avaliado o tamanho pupilar, igualdade, reação à luz, de forma a avaliar função do tronco encefálico. ● Glicemia: vai avaliar se há hipoglicemia como causa do comprometimento neurológico: < 45 em neonatos Se identificar hipoglicemia→ intervir imediatamente. OBS.: resposta pupilar e glicemia são mandatórios para criança que apresente comprometimento neurológico (a partir de “V” na Escala AVDI). < 60 em crianças Uma vez resolvido ou controlado um eventual problema encontrado em D, passo para E. Nesta etapa será feita uma avaliação da exposição da criança ao meio. Remover roupas uma área de cada vez e observar o corpo (cabeça, dorso, extremidades) Aferir temperatura axilar (central) Verificar sinais de trauma, hemorragia, petéquias ou púrpuras. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA Será o momento em que haverá a coleta da história e exame físico de forma específica, sendo importante sempre reavaliar o paciente com constância. ► História Clínica: segue mnemônica que auxilia coletar as informações mais importantes de forma padrão: S – sinais e sintomas da enfermidade e sua evolução; A – alergias à medicamentos, alimentos, reações; M – medicações em uso, hora da administração, medicamentos que podem estar ao alcance da criança; P – passado de doenças, imunização, cirurgias e internações anteriores; L – last meal: tempo da última refeição; E – eventos que antecederam o quadro atual. ► Exame físico: deve ser feita breve avaliação global, de forma a ser direcionado à condição atual, de forma atenta ao local afetado. Suspeita de desconforto respiratório: sinais de obstrução, avaliação do tórax e pulmões, nível de consciência Suspeita de insuficiência cardíaca: ausculta cardíaca, pesquisa de sons pulmonares, edema, hepatomegalia Trauma: avaliação de abdome e dorso AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA Servem para detectar e identificar a presença e gravidade dos problemas respiratórios e circulatórios, auxiliando na elucidação dos quadros clínicos. Gasometria arterial/venosa Lactato arterial (↑ em choque) Radiografia de tórax ECG (arritmias cardíacas) ECO (doenças cardíacas)
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