Buscar

a criança autista estudo psicopedagógico

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 114 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 114 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 114 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

© 2010 by Janine Marta Coelho Rodrigues e Eric Spencer
Gerente Editorial: Alan Kardec Pereira
Editor: Waldir Pedro
Revisão Gramatical: Lucíola Medeiros Brasil
Capa e Projeto Gráfico: 2ébom Design
Capa: Eduardo Cardoso Diagramação: Flávio Lecorny
Este livro foi revisado por duplo parecer, mas a editora tem a política de reservar a privacidade.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
R611c
Rodrigues, Janine Marta Coelho
A criança autista: um estudo psicopedagogico/Janine Marta Coelho Rodrigues, Eric Spencer - 2 ed.
Rio de Janeiro: Wak Editora, 2015.
132p.: 21cm
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7854-113-2
1. Crianças autistas - Educação. 2. Autismo. 3. Psicologia educacional. 4. Educação especial. I. Spencer, 
II. Título.
10-3577. CDD 371.94 CDU 376.43
2015
Direitos desta edição reservados à Wak Editora
Proibida a reprodução total e parcial.
WAK EDITORA
Av. N. Sra. de Copacabana 945 – sala 107 – Copacabana
Rio de Janeiro – CEP 22060-001 – RJ
Tels.: (21) 3208-6095 e 3208-6113
Fax (21) 3208-3918
wakeditora@uol.com.br
www.wakeditora.com.br
mailto:wakeditora@uol.com.br
http://www.wakeditora.com.br/
Aos profissionais que buscam na seriedade do estudo, na
curiosidade acadêmica e na singeleza da pesquisa caminhos
para compreender os problemas, dividir as preocupações e
socializar os resultados.
Agradecemos a todos aqueles que colaboraram com a
pesquisa e com os relatos aqui apresentados.
PRIMEIRAS PALAVRAS
SEGUNDAS PALAVRAS
1 – INTRODUZINDO A DISCUSSÃO
2 – COMPREENDENDO O AUTISMO
2.1 – Construindo uma caracterização
2.2 – A importância da observação individual para organização de elementos para
uma intervenção pedagógica
2.3 – Etiologias
2.3.1 – A Teoria Psicodinâmica
2.3.2 – A Teoria Genética
2.3.3 – A Teoria Orgânica
3 – ALGUNS CASOS ILUSTRATIVOS
4 – PROGNÓSTICOS
5 – AUTISMO E OUTRAS SÍNDROMES
6 – MODELOS DE ATENDIMENTO
6.1 – Educação Especial: construindo uma educação inclusiva
7 – INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS NO TRABALHO COM O AUTISTA
7.1 – TEACCH
7.2 – ABA – Análise Aplicada do Comportamento
7.3 – Sistema de comunicação por meio da troca de figuras
7.4 – Son-Rise
7.5 – Ambientes estruturantes
8 – TERAPIA DE LINGUAGEM
9 – PSICOTERAPIA E AUTISMO
10 – TRATAMENTO MEDICAMENTOSO
11 – ESTUDO DE CASO NO CONTEXTO DAS PRÁTICAS PSICOPEDAGÓGICAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
O presente estudo objetiva proporcionar àqueles pais e
profissionais que lidam com o autista a oportunidade de conhecer
algumas experiências, relatos e sugestões de atividades que
certamente orientarão de forma sistematizada, o atendimento
especializado do indivíduo autista.
As pesquisas teóricas, os depoimentos colhidos e as
experiências vividas foram aqui relatados com o mais possível
rigor.
Esperamos, com esta publicação, estimular outros estudos e
pesquisas sobre um tema ainda pouco estudado e de tão complexas
discussões.
Suponho que o sucesso da primeira edição deste singelo livro,
que esgotou-se em tempo surpresa, deu-se pelo fato de que os
temas foram aqui tratados com rigor científico, mas de modo
descomplicado, com palavras simples e precisas que ajudaram
pais e profissionais a entender melhor as questões do Autismo.
Esta segunda edição revisada em alguns pontos reafirma aqui
nosso compromisso pessoal e profissional com aqueles que
precisam ser acolhidos, para serem compreendidos e
adequadamente atendidos.
Atualizamos alguns índices, revisamos alguns assuntos e
introduzimos uma rápida apresentação de métodos que, na edição
anterior, não foram tratados.
Esperamos com esta nova edição estar contribuindo para a
discussão do tema Autismo. Tema complexo, difícil de ser
entendido e explicado. Contudo, temos a certeza de que antes de
discutir níveis, denominações, causas do Autismo, melhor será
interagir com os considerados autistas, conviver com eles,
vislumbrando sempre as potencialidades que precisam ser
reveladas e as capacidades que precisam ser desenvolvidas.
A questão sobre o tema do Autismo permeia o discurso da
Educação Especial Inclusiva, quando se propõe a valorização do
ser humano portador de deficiência. Tal discurso é gerado à luz de
princípios universais, ancorados nos direitos humanos difundidos
na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Convenção
Sobre os Direitos da Criança.
O Autismo bem como outras síndromes e deficiências ainda
são cercados por atitudes de discriminação e preconceito que
envolvem o desconhecido e a desinformação. Neste sentido, o
pesquisador ou o estudioso do Autismo tem como compromisso
primeiro desvendar um imenso espaço do conhecimento sobre o
Autismo e dar a conhecer, caminhando em vagarosos e atenciosos
passos, ultrapassando quadros estreitados por um diagnóstico,
descrevendo o universo do autista como tal, desenvolvendo
estudos e divulgando achados compreendidos nas interações das
especificidades de cada sujeito autista que se estuda.
Levar em conta o meio circundante do contexto sociofamiliar
em que o autista vive e em quais condições é educado conduz o
pesquisador a duas atividades: a primeira consiste em indagar e a
segunda em transformar. O propósito deste estudo é levar os
leitores a se questionarem, refletirem e, consequentemente,
transformarem-se, mudarem de atitude em relação ao autista.
A síndrome do Autismo é um distúrbio do desenvolvimento,
embora os sintomas tornem-se mais evidentes aos três anos de
idade. A pessoa autista apresenta dificuldades de compreensão
dos significados atribuídos, não se sabe se seu pensamento é do
tipo puramente figurativo, sem conservações, o que lhes dificulta
a possibilidade de realizar algumas habilidades que impliquem
mudanças. Mas percebemos que, na elaboração do pensamento,
as crianças autistas não utilizam a reversibilidade lógica ou
fazem evocações mentais. São capazes de refazer por imitação
inicialmente e, mais tarde, por transformação, quando se
trabalham precocemente o espaço, a casualidade e a
generalização em suas ações. Daí os pais e os professores não
experimentarem pedir à criança autista que relate o que fez, por
exemplo. Parece que, por ele não haver desenvolvido a capacidade
de ordenamento, de organização e, assim, a evocação de cenas, de
situações que supõem a construção e a reconstrução de esquemas
reversíveis apresentam muitas dificuldades de serem adquiridas.
Explica-se, então, a necessidade do autista em estabelecer
rotinas quanto à sua comunicação e às reações comportamentais.
O distanciamento das relações, uma eventual agressividade
quando seu ambiente é modificado, as condutas de birra e a difícil
participação nas atividades de interação social para nós,
estudiosos do Autismo, são tentativas diferentes de se comunicar
com a realidade social.
A proposta desta pesquisa foi conhecer a Psicopatologia
autística e a pessoa portadora da síndrome, identificando
particularidades no comportamento (uma fixação, gosto,
habilidade, limitações), que indicassem possibilidades, que
poderiam vir a se tornar canais de comunicação.
O estudo tenta apontar caminhos para ajudar a pessoa autista
e sua família por meio de práticas psicopedagógicas capazes de
reduzir os problemas e modificar o comportamento autístico para
uma conduta mais autônoma com base em teorias científicas de
estudiosos que, há muito, vêm estudando e pesquisando o
Autismo, como Rivière (1999, p. 286), quando diz: “Desenvolver ao
máximo suas potencialidades e competências, favorecer um
equilíbrio pessoal o mais harmonioso possível, fomentar o bem-
estar emocional e aproximar as crianças autistas do mundo
humano de relações significativas”.
Assim como Rivière, pensamos que a criança autista tem os
mesmos direitos e precisa das mesmas oportunidades para
educar-se como uma criança considerada normal.
Os primeiros estudos sobre o Autismo foram iniciados pelo
psiquiatra Leo Kanner, em 1943, quando estudou um grupo de
crianças com características clínicas específicas, que assumiam
comportamentosdiferentes daqueles já conhecidos pela literatura
das síndromes psiquiátricas.
Foram 11 casos estudados desde os primeiros meses de vida da
criança e descritos, em 1943, em um artigo sobre um quadro
descritivo intitulado “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”.
Este trabalho apresentava casos de 11 crianças com faixa etária
entre dois anos e meio e oito anos onde ele distinguiu as mesmas
características clínicas. Mais tarde, apresentando mais 38 casos,
publica o “Tratado de Psiquiatria Infantil”, edição de 1950. O
aspecto mais marcante nos estudos iniciais de Kanner descrevia
uma anormalidade inata no comportamento social, “o isolamento
ou o afastamento social”, que denominou retraimento autístico,
notável desde os primeiros períodos do desenvolvimento.
Prosseguindo nos estudos sobre os distúrbios decorrentes desse
estado patológico, Kanner, em 1949, refere-se ao quadro com o
nome de Autismo Infantil Precoce, evidenciando sérias
dificuldades de contato com as pessoas, ideia fixa em manter os
objetos e as situações sem variá-los, fisionomia inteligente,
alterações na linguagem do tipo inversão pronominal,
neologismos e metáforas. A contínua análise dos problemas leva
Kanner a acreditar que o Autismo devesse ser separado da
Esquizofrenia Infantil, embora continuasse colocando o Autismo
Infantil no grupo das psicoses infantis até o fim de seus trabalhos.
Durante o processo de pesquisa, ressalta a importância da
verificação do Autismo como sintoma primário, afastando o
distúrbio autístico de outros quadros orgânicos (Afasia Sensorial
Congênita) e psíquicos (Demência de Heller). Com o passar dos
anos, observa diferenças na evolução dos casos estudados e propõe
que pesquisas bioquímicas poderiam abrir novos caminhos no
estudo do Autismo Infantil. Em 1956, há uma reestruturação da
concepção quanto à idade de aparecimento das características.
Kanner e Eisenberg constatam que a síndrome pode apresentar-
se após um desenvolvimento supostamente normal. Os valiosos
trabalhos de Kanner foram complementados pelas investigações
de Chapman, B. Rimbaud, Bettelheim, Ajuriaguerra, Diatkine,
Spitz, L. Bender, entre outros.
Entre Leo Kanner e Eugene Bleuler, um psiquiatra da época,
que também se preocupava com a explicação destes casos,
provocou-se uma divergência que dividiu a comunidade científica,
causando uma dificuldade em diferenciar claramente os
diagnósticos de Esquizofrenia Infantil, Psicose Infantil e Autismo.
Kanner admite no Autismo uma “inaptidão” em estabelecer
relações socias normais com as pessoas e em reagir diante de
situações da realidade. Já Bleuler propõe uma “ausência da
realidade”, com visível ênfase à vida interior, e,
consequentemente, impedimento ou impossibilidade de
comunicar-se com o mundo externo, demonstrando atos de um
proceder muito reservado. Para Bleuler, o autista mergulha
ativamente no seu imaginário. Kanner discorda e sugere uma
falta de imaginação.
Encontramos na literatura alguns conceitos sobre Autismo,
visto ora como um transtorno orgânico resultante de uma
patologia de sistema nervoso central e, por isso, compreende
implicações neurobiológicas, neurofisiológicas e neuroanatômicas,
ora como uma doença incapacitante e crônica que provoca sérios
comprometimentos no campo cognitivo, no desenvolvimento da
motilidade e da linguagem, apresentando deficit ou alterações na
codificação e na decodificação dos significados das palavras, ora,
ainda, como um impedimento neurofuncional que não permite ao
seu portador o desenvolvimento funcional eficaz no processo de
comunicação. São distúrbios que variam desde um mutismo
(silêncio voluntário) até a ecolalia, a inversão pronominal e os
neologismos. Os estudiosos também evidenciam perturbações
quanto ao comportamento social. Alguns deles afirmam que
alguns autistas até chegam a manter um contato social, porém
demonstram uma forma de relacionamento bastante subjetiva,
talvez até atípica aos padrões normais de relacionamento.
Percebemos em nossas observações no campo de estudo que
alguns autistas podem fixar-se apenas em uma parte do corpo ou
em um detalhe da roupa de quem se aproxima dele. Expressam
gestos repetitivos e um conjunto variado de manias, acendem e
apagam uma lâmpada continuamente, fazem questão de colocar
um objeto sempre na mesma posição, frequentemente apelam
para movimentos com as mãos antes de pegar em um material
qualquer ou mesmo na ausência deste. Existem outros traços
marcantes, resultados de descrições clínicas mais recentes, como
tipos de afetos inadequados, como, por exemplo, dificuldade de
perceber intenções e de externar os sentimentos, distúrbios do
sono (insônia precoce) e da alimentação, problemas digestivos nos
primeiros meses do nascimento, anomalias congênitas e
hiporrespostas ou hiper-respostas aos estímulos sensoriais, como
analisaremos em detalhes mais adiante.
A aparência física dos autistas, a princípio, não expõe a
dimensão exata da gravidade do problema, cujos sintomas iniciais
surgem antes dos dois anos e seis meses de nascimento do bebê.
Em geral, são crianças de traços singelos e de feições bonitas. O
diagnóstico depende de uma combinação de vários critérios
determinados. No DS – IV, é preciso estabelecer critérios (seis
itens em cada grupo de avaliação: interação social, comunicação e
comportamento) para diagnóstico. Já circula, entre os
profissionais interessados, o DSM–V, com componentes mais
sintetizados de informações, objetivando agilizar o diagnóstico.
Para viabilizar um atendimento mais eficaz, sugerimos trabalhar
com os dois. A prevalência varia em uma taxa de dois a cinco
casos por 10.000 crianças nascidas vivas. Se forem consideradas
algumas características do retardo mental severo semelhantes ao
Autismo, a taxa sobe para 20 casos por 10.000 nascidos. É mais
comum em crianças do sexo masculino, e a proporção atinge de
três a cinco vezes mais meninos do que meninas. Nas meninas
autistas, a manifestação da síndrome é mais intensa quando
comparada aos meninos autistas, isto se deve a questões de
ordem genética. Segundo dados da literatura psiquiátrica, cerca
de 70% a 80% dos autistas possuem comprometimento
intelectual.
2.1 – Construindo uma caracterização
Na literatura pesquisada (veja o item Referências no final do
estudo), o diagnóstico do autista é elaborado a partir de alguns
parâmetros: a classificação Internacional de Doenças da
Organização Mundial de Saúde, CID-10, na décima versão, e o
Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais da
Academia Americana de Psiquiatria, DSM-IV. No Reino Unido,
utiliza-se o CHAT (Checklist de Autismo em Bebês, desenvolvido
por Baron-Cohen, Allen e Gilberg).
As características observadas na síndrome do Autismo variam
na forma de exteriorização dos desvios de relações interpessoais,
linguagem, motricidade, percepção e patologias associadas ao
distúrbio. A intensidade destes desvios, os estados mais
determinantes, também é diversificada. As alterações do
comportamento social são marcadas pela acentuada inaptidão de
desenvolver relações com outras pessoas, pois os autistas
preferem permanecer isolados do grupo social. Investigações
recentes confirmam que as relações dos autistas com os objetos
inanimados seguem um entendimento incomum ou se apegam em
demasia ou os abandonam.
Existe em alguns autistas um comportamento obsessivo
expressado pela fixação de parte de um brinquedo ou partes do
corpo de alguém que está próximo, como, por exemplo, no contato
com pessoas, interessa-se em uma parte do pé, da mão, cheira o
cabelo, e, por vezes, é atraído por algum detalhe do vestuário.
Por sua vez, os pais nos relatam que, nos primeiros anos de
vida do bebê autista, percebem um atraso de expressão facial,
direcionamento de atividades, e constatam certa passividade do
bebê (bebê hipotônico). A mãe de L, autista, sexo masculino, hoje
com 12 anos, nos relata que sempre percebeu que, em seu colo, L
ficava rígido, e nãotinha nem seis meses de vida, e parecia que
não gostava de ser pego (sic). Já o pai de J, hoje com cinco anos,
diz que sempre via que o filho era diferente das outras crianças,
ficava sempre inquieto, afastado e movia o corpo para frente e
para trás, abrindo e fechando as mãos (sic). A mãe de L lembra
que seu filho nunca deu os braços para ser carregado (sic).
A ausência do comportamento que represente dor, perigo e
medo nas crianças autistas é despercebida. O desenvolvimento
emocional é confuso, surgem sorrisos inesperados. Parecem ter
uma capacidade restrita para exprimir afetos e entender emoções.
Certa vez, no momento da recreação, G. de O. L., um
adolescente autista, de 17 anos, sem razão notável para os
profissionais que o observaram, corre velozmente pelo pátio,
passa por um espaço estreito do portão entreaberto, atravessa a
rua e vai parar dentro de uma casa próxima à escola, de onde
fugiu. Para ele, inexistem a noção de perigo, o sentido do
acontecimento e as consequências.
Jogos lúdicos de socialização não os atraem, quase não
participam de atividades para desenvolver amizades e brincar em
grupo, somente quando estimulados, sendo um tipo de
envolvimento rápido e desordenado.
Todos estes desvios de comportamento precisam ter
considerações, caso a caso, individuais, afinal, o universo clínico
de cada indivíduo é diversificado, no entanto um fator comum é o
surgimento dos sintomas na primeira infância, e é importante
salientar a probabilidade de diminuição dos sintomas,
principalmente quando a criança autista, logo cedo, é inserida em
um ambiente que propicie a estimulação da interação social.
Quando a pessoa autista permanece muito tempo em um espaço
social limitado, convivendo exclusivamente com as pessoas da
família, sem uma estimulação psicopedagógica adequada, seu
comportamento pode apresentar comprometimentos bem mais
complicados referentes às manias, aos movimentos ritualísticos, à
excitação emocional, aproximando-se de possíveis reações
agressivas e regressivas.
Em relação à capacidade de comunicações verbais e não
verbais, acontecem alguns desvios marcados por distúrbios da
comunicação: atrasos de aquisição da linguagem, afasia,
distúrbios articulatórios, desvio fonológico, gagueira, disfonia,
perdas auditivas, disartria, distúrbio de leitura e escrita.
Alguns autistas não desenvolvem a fala por implicações na
compreensão dos códigos linguísticos e demonstram retardo na
apreensão da linguagem e, ainda, notáveis desvios qualitativos no
processo de expressão e recepção de ideias. Isto os impede de
fazer uma leitura de mundo que possam compreender os
significados das representações, criando obstáculos de
comunicação na vida diária. O entendimento funcional que
acontece normalmente na comunicação entre emissor da fala e
receptor da mensagem é no Autismo muito limitado e patológico,
caracterizado por uma feição estereotipada na fala, que consiste
na repetição imediata ou retardada de frases e palavras ditas
anteriormente, e chama-se esse desvio de ecolalia. Apresentamos
alguns casos que são ilustrativos, como a extensão peculiar dos
problemas na área da linguagem, em relação à repetição de
expressões sem nenhum sentido, de uma criança autista que
parecia satisfazer-se em emitir, de forma descontrolada, palavras
do tipo “dália”, “vinhatrombeta”, “negócios”, “o direito sim”, “o
esquerdo não”, que são expressões ditas sem conexão lógica e
mostram a especificidade da natureza do problema. Presenciamos
casos em que falam seu próprio nome: Paulo... Lopau... Paulo...
Lopau... Como se ecoasse seu próprio nome, repetindo-o de trás
para frente continuamente, até ser estimulado para outras
situações.
As inversões pronominais, problemas relativos à utilização do
pronome “tu” em situações que pedem o uso do pronome “eu”, ou
repetir J pinte, J pinte ou J quer água? J quer água? Isto
denuncia uma desorganização parcial, às vezes total, do seu
reconhecimento como pessoa e como ser dotado de personalidade
própria. No primeiro caso estudado por Leo Kanner, o garoto
Donald T., quando queria tomar banho, perguntava: “Você quer
tomar banho?”. Eventualmente, usam neologismos, inventam
sons de modulação variável, têm uma comunicação inexpressiva,
supostamente desprovida de emoção, e demonstram uma maneira
particular de falar as palavras (idiossincrasia).
O autista S, sexo masculino, com 11 anos, quando
encaminhado para o banho, repetia continuamente: “S vai tomar
banho, vai, S vai tomar banho, vai...” E continua repetindo a
frase, mesmo depois do banho, até que se desenvolva com ele
outra atividade.
Em outro caso analisado, de J. N., 13 anos, sexo masculino,
percebia-se que emitia um som vocal de baixo nível, com razoável
entoação harmoniosa enquanto pintava formas geométricas
traçadas na folha de cartolina.
A capacidade de simbolização é comprometida, e as atividades
de natureza abstrata possivelmente não darão nenhum resultado
caso sejam aplicadas na terapia pedagógica. Uma criança em
condições normais anima as coisas inanimadas, pois cria
personagens, histórias e conversas, dando vida aos bonecos, aos
carrinhos e aos demais objetos sem demonstrar alguma fixação.
Quanto à comunicação não verbal, motivada pelos gestos e
pelas mímicas, vemos que, no Autismo, é restrita, até em
momentos nos quais a criança autista sente necessidades
orgânicas (sede, fome) e não pede nem aponta para o que pode
atendê-la. Na maioria dessas circunstâncias, a criança faz uso da
mão, do punho ou do antebraço da pessoa mais próxima, usando a
pessoa como ferramenta.
A despedida gestual indicada pelo aceno de mão talvez seja
retribuída apenas como imitação, pois é difícil classificar que tal
gesto seja intencional. Mas, sempre, enfatizamos que é necessário
observar o contexto sociofamiliar de cada caso, pois não há uma
regra fixa. Salientamos que cada criança, como qualquer outra
criança, é mais ou menos desenvolvida de acordo com o meio, os
estímulos e a atenção que recebe. Com o autista, isso não é
diferente.
Em uma escola da capital, onde algumas observações foram
feitas, encontramos um aluno autista condicionado a apertar a
mão das pessoas, porém o detalhe pouco comum é que, ao largar a
mão da pessoa, olhava para essa parte do seu corpo, levando-a ao
nariz como se quisesse inalar algo. Os estímulos feitos na escola e
no ambiente familiar a partir de solicitações simples, como pegar
um brinquedo localizado à sua frente, no lado esquerdo, direito,
embaixo da mesa, em compartimentos da estante, são maneiras
de trabalhar favoravelmente na extinção desses comportamentos.
Alguns comportamentos dos autistas seguem uma rotina que,
quando quebrada, torna-se um problema para a família, os
professores ou os técnicos que lidam com eles. Como referência a
essa questão, apresentamos o caso de G. de O. L. que,
diariamente, ao passar pela sala dos professores, para defronte a
uma cadeira colocada no canto esquerdo da sala e pega nela,
deslocando-a a uma curta distância. O movimento que faz
arrastando a cadeira é rápido, acompanhado por um sorriso
discreto. Quando a cadeira não está lá, ele fica parado à espera
que alguém a coloque para realizar o movimento.
Nota-se, nos autistas, uma demonstração de resistência às
mudanças no ambiente. Querer sentar na mesma cadeira durante
as refeições, beber em um único copo, comer no mesmo prato, não
tolerar visitas, repetir os percursos de caminhos, passando por
locais sempre idênticos, até o ponto de interferir nos hábitos das
pessoas com que convive, para manter suas práticas repetitivas e
rotineiras quase imutáveis, são rotinas para eles, mas, muitas
vezes, constituem problemas para a família que precisa de ajuda
para resolvê-los.
A exemplo disso, a mãe de L nos diz que, no dia da faxina,
quando a faxineira chega, ela passa o dia fora com a criança, pois
já aconteceu que, quando as coisas, os móveis, as cortinas e os
tapetes começaram a sair do lugar, a criançaentrou em crise por
estressar-se com a “desarrumação” da casa para a limpeza. As
mudanças podem provocar reações agressivas ou de imobilidade.
As experiências vivenciadas demonstraram que, durante a
realização de uma atividade pedagógica, de repente, um
adolescente autista sentou na cadeira, ficou inerte e deixou de
reagir. Intencionalmente, a professora buscou um brinquedo, e a
aproximação deste, que usualmente parecia despertar sua
atenção, fez com que ele reagisse e voltasse à atividade com o
brinquedo entre as mãos.
É comum grande parte dos autistas conseguir progredir na
interpretação da linguagem verbal e insistir na elaboração de
perguntas que esperam respostas precisas e parecidas com as
respostas dadas anteriormente. Neste sentido, a preparação
daquele profissional que lida com o autista deve, inclusive,
caminhar para estar atento ao que irá responder, pois há a
memorização das respostas e, quando as mesmas perguntas são
feitas, eles esperam as mesmas respostas. Perguntas
estereotipadas relativas às datas históricas, aos personagens da
literatura, da política, das artes, aos números de edições de
revistas, aos horários, aos itinerários, à sequência de filmes são
questões que, às vezes, até surpreendem quem lida com eles, pois
nem percebeu as situações sobre as quais está sendo interrogado.
Nas atividades de encaixe com peças de plástico, os autistas
rotineiramente as encaixam sem variações de posição e cor,
exceto quando o educador intervém, encorajando o aluno autista a
modificar aquilo que realiza.
Os autistas podem também desenvolver no cotidiano
temporárias fixações por assuntos e caracteres específicos,
tonalidade de instrumento musical, formas diversas de corpos no
espaço.
O mundo interior do autista apresenta à realidade externa as
distorcidas e inesperadas representações do pensamento. Podem
aparecer nos desenhos, por exemplo, traços curtos e uniformes,
círculos, garatujas, demasiada valorização por temas subjetivos e
reações compulsivas momentâneas.
Na literatura pesquisada, encontramos casos como esse: A mãe
de Frederick W., de seis anos de idade, relatara que o menino,
quando conduzido ao consultório do psiquiatra no Harriet Lane
Home, em 27 de maio de 1942, sentou-se no sofá emitindo sons
incompreensíveis quando, abruptamente, se deitou exibindo um
escandaloso sorriso.
Dando continuidade, conforme informações contidas nos casos
estudados e publicados por Leo Kanner e equipe, havia o de
Bárbara K, recebida no Johns Hopkins Hospital, em fevereiro de
1942, que evidenciara em uma das avaliações caligrafia legível,
desenhava homem, casa, gato sentado com seis pernas,
máquinas, porém eram desenhos desprovidos de imaginação,
rabiscava palavras do tipo: laranjas, bananas, panelas, suco de
melancia, uvas; era comum que as palavras se precipitassem
umas sobre as outras e, obviamente, ficavam confusas ao
entendimento coerente.
Frequentemente demonstram apego excessivo por objetos,
associando-os a atitudes sem valor simbólico, impróprias para o
nível de idade cronológica. Podem, por exemplo, cheirar o
material que está sob sua posse, encostá-lo na boca, jogá-lo com
força em qualquer direção ou guardá-lo por tempo indeterminado.
E típico serem atraídos por coisas em movimento, principalmente
rotativos, como ventiladores, água, rodinhas dos carrinhos de
brinquedo, objetos diversos que giram e rolam.
Registramos as atividades de E. D. S., do sexo masculino, com
12 anos, que, quando vê uma torneira, desperta o impulso de se
aproximar, abrir a torneira e mergulhar as mãos na água, admira
o acontecimento durante minutos e, às vezes, é preciso chamar
sua atenção, pois o barulho da água, o movimento do fluido
contínuo derramando sobre ele ou alguma coisa que colocou
embaixo da água parece o fascinar.
Outro autista como J, do sexo masculino, com 10 anos, enrola
e desenrola uma mangueira de jardim, inúmeras vezes, até abrir
a torneira e ficar sentado, molhando-se, mesmo se estiver
chovendo. A família nos relata que, muitas vezes, é preciso
desligar a torneira geral de entrada de água da residência para
conseguir tirá-lo do jardim.
Autistas dão provas de que são detentores de uma notável
memória operacional: memória associada à reprodução de atos
ligados a trabalhos elaborados em circunstâncias passadas, à
execução de procedimentos relativos a exercícios escolares, às
listas de nomes, aos trechos de poemas e aos números. Estudos
comprovam que as informações armazenadas não serão
analisadas e, dificilmente, reestruturadas.
“Na memorização imediata, os autistas utilizam pouco a
estratégia de codificação semântica ainda que a codificação
acústica seja relativamente boa”. (LEBOYER, 2003, v.4, p.148)
J. N. lembra-se dos passos e das movimentações dados durante
o exercício de música aplicado meses anteriores ao dia em que
reproduziu os mesmos movimentos ritmados do corpo ao escutar
outro gênero musical.
Outra criança autista, também realizando uma atividade
gráfica com um bastão de giz de cera, geralmente utilizava cores,
como azul escuro e verde. Ouvíamos que cantava durante a
atividade uma música de propaganda, que caracterizava uma
soletração, de uma loja de calçados para crianças da cidade.
Parece ser comum entre os autistas que existe um
considerável comprometimento nos movimentos das mãos, dos
membros inferiores, do tronco e no jeito de sentar, ficar de pé,
caminhar. Executam manobras estranhas e complexas com as
mãos antes de pegarem objetos ou quando os seguram. É
característico caminhar na ponta dos pés e, repentinamente, dar
saltos. Alguns inclinam o corpo para os lados, para frente,
balançam a cabeça no ar ou giram em torno de si mesmos. Estes
movimentos não são caracterizados como deslocamentos físicos
voluntários. Daí a importância de estudar e planejar os exercícios
pedagógicos direcionados ao autista e, depois, avaliar o
desempenho dos indivíduos quando envolvidos nestas atividades.
Os transtornos na motilidade (capacidade de mover-se) podem
aparecer de modo contínuo em um horário regular do dia ou
possuírem uma frequência variada no dia e até chegarem a
desaparecer. As causas são atribuídas a disfunções na fisiologia do
sistema vestibular, responsável pelo equilíbrio e pela estabilidade
do globo ocular e “por modelar as entradas sensoriais e a
excitação motora”. (LEBOYER, 2003, p.136)
De acordo com o entendimento de Leboyer, a idade de início
dos sintomas faz parte integrante dos critérios de diagnóstico do
Autismo. Michael Rutter, Gauderer e demais teóricos também
admitem que a idade de surgimento dos sintomas é uma
característica clínica fundamental para o diagnóstico. Nota-se que
o começo dos sintomas no Autismo é desenvolvido antes dos dois
anos e seis meses (30 meses) de idade.
Ornitz e Ritvo (2001) descrevem características resultantes de
estudos sensoriais e do desenvolvimento, que objetivam contribuir
para o esclarecimento da evolução do Autismo ao longo da
história, desde sua descoberta até tempos posteriores.
Comumente, dependendo da intensidade das instigações
geradas no ambiente, o autista gira a cabeça com movimentos
rápidos e balança o corpo para os lados. Isto evidencia um tipo de
defesa orgânica diante das dificuldades de compreensão sensorial.
Constatam-se irregularidades no ritmo normal do
desenvolvimento motor, social e cognitivo. O retardo é típico
nessas três dimensões da formação humana.
Conforme pesquisas sobre a insônia no Autismo, são
observadas insônias agitadas acompanhadas por excitação motora
(contração muscular, movimentações repentinas de braços e
pernas). Interrupções no sono implicam uma diminuição do tempo
de sono, a criança acorda e pode ficar passiva ou agitada.
Estudos apontam a existência de perturbações digestivas,
como diarreia ou redução do número de evacuações, por causa de
uma retenção anormalmente prolongada das fezes no intestino,
verificadas com frequência no decorrer dos primeiros meses. A
literaturaestudada informa que, após o sexto mês de vida, o bebê
autista tende a rejeitar a ingestão de alimentos sólidos, dando
preferência a alimentos pastosos.
De acordo com as informações pormenorizadas escritas pelos
pais de Donald. T., caso estudado por Leo Kanner, a criança fora
amamentada com alimentação suplementar até o oitavo mês e
acometida por periódicas mudanças de dieta. O relatório dos pais
afirmava que comer foi sempre um problema para ele.
2.2 – A importância da observação individual para
organização de elementos para uma intervenção
pedagógica
Enfatizamos aqui que, antes de se estabelecer um diagnóstico,
a estimulação, o carinho e a atenção voltada à criança autista,
para que se desenvolva, interaja e sinta-se parte daquela família
e daquele grupo, são mais importantes do que lhe chamar
portadora disso ou daquilo. Neste estudo, a discussão sobre
diagnóstico foi utilizada muito mais como um parâmetro para
estudar, planejar e desenvolver atividades pedagógicas capazes de
ajudar os autistas do que para rotulá-los.
Salientamos, então, a importância em considerar a dimensão
social na singularidade da criança autista. É essencialmente
mobilizadora, pois o grau de desenvolvimento do autista está
diretamente ligado às questões de estimulação, atendimento
especializado e conhecimento adequado de como lidar com as
situações do seu cotidiano. Tais questões, certamente, implicam
as condições econômicas e culturais da família de cada um.
Os desdobramentos das interfaces no social e no cultural estão
também fundamentados na Psicologia e na psicodinâmica do
atendimento aos autistas nos dias atuais. Ao falarmos do social,
do econômico e do cultural, estamos falando também da escola,
que, em sua função educadora e socializadora, precisa responder a
um ideal de educação que traga consigo a melhoria do
desenvolvimento e das condições de trabalho que possa oferecer a
esta demanda. Com base nestas considerações, estudamos alguns
comprometimentos associados que os autistas podem apresentar,
apontando, desde já, que as incursões na literatura apontam que
os casos devem ser individualmente analisados.
A criança autista não está livre do aparecimento de patologias
associadas e, por isso, quem trabalha com ela deve conhecer e
acompanhar esses problemas associados inseridos no diagnóstico.
O retardo mental, os desvios de desenvolvimento da linguagem,
os desvios de comportamento observados conforme a idade
cronológica, mental e verbal bem e as condições psiquiátricas que
possam afetar o comportamento fazem parte do conjunto de
sintomas verificados no Autismo.
a) Retardo Mental
Apesar da ideia de que os autistas têm retardo mental, é
necessário diferenciar os comportamentos do autista e do
deficiente mental, diagnosticando-os conforme a especificidade de
cada caso. A criança, o adolescente e o adulto com retardo mental
podem externar características próprias do transtorno autista,
mas não, necessariamente, apresentar o diagnóstico de autismo,
afinal, são os critérios de diagnóstico aplicados individualmente
que determinarão o estado geral da personalidade do paciente.
Uma diferença visível é a capacidade do deficiente mental em
buscar aproximações com as outras pessoas para estabelecer
relações de conversação, o que dificilmente acontece com pessoas
autistas, salvo um número reduzido de autistas que possuem
níveis intelectuais e de desenvolvimento da linguagem receptiva e
expressiva elevados, que, ainda assim, mantêm o
desenvolvimento social irregular. Crianças mentalmente
retardadas assumem um comportamento homogêneo de retardo,
enquanto, nos autistas, as reações e as aprendizagens são muitas
vezes inesperadas, mas se percebem também uma descrição mais
heterogênea, respostas comportamentais precoces, estagnação do
desenvolvimento. Gilberg (2005), por exemplo, aponta o caso de
uma menina de quatro anos e meio com transtorno autista que
podia ler. Assim não há inflexibilidade nas afirmativas, como
sempre destacamos, são casos diferentes que implicam famílias e
estímulos diferentes.
b) Esquizofrenia
A história familiar é um critério frequentemente aceito em
pacientes esquizofrênicos, e a literatura também é associada a
pessoas de baixo nível socioeconômico. Infelizmente, nem sempre,
a genealogia do autista é analisada e, segundo Kanner, os
resultados intelectuais dos esquizofrênicos no período da infância
não são deficitários, registram-se distúrbios comportamentais e
transtornos do pensamento. Por outro lado, é identificado nos
autistas de QI baixo um estado comportamental mais parecido
com aqueles que têm retardo mental grave. Os autistas de QI
elevado têm como traço de diferença a ausência de alucinações e
delírios.
Um dos aspectos relevantes de diferenciação seria a idade na
qual aparecem os sintomas. No transtorno autista, aparecem
antes dos 36 meses, já nas manifestações típicas da
Esquizofrenia, começam durante ou após a puberdade, e é muito
raro surgir em crianças com menos de cinco anos. No Autismo, a
relação entre os sexos (M/F) tende a acometer os meninos (3 –
4/1), com uma incidência de duas a cinco crianças afetadas em
cada 10.000, enquanto os dados relativos à Esquizofrenia são bem
diferentes, há uma incidência provavelmente inferior a 1/1000, a
uma razão entre os sexos de 1,67/1, com leve predomínio em
homens. Existem algumas descrições muito pontuais, em torno da
possibilidade de que Esquizofrenia e Autismo poderiam ocorrer
sobrepostos, por haver relatos de tais combinações raras e
semelhanças comportamentais momentâneas, como o referido
caso descrito por Ornitz e Ritvo (apud LIPPI, 1987). Um garoto
de quatro anos exibe todas as características de Autismo (atraso
no desenvolvimento, distúrbio na modulação da percepção, no
comportamento, na linguagem e na motilidade). Analisado
novamente pela equipe aos nove anos de idade, perguntaram-lhe
por que se balançava e punha as mãos em frente ao rosto, ao que
respondeu: “O chão está vindo em minha direção”; “As paredes
estão se movendo para dentro e para fora”.
c) Deficiências Sensoriais (Surdez e Cegueira)
A ausente ou limitada quantidade de respostas aos estímulos
auditivos leva a pensar sobre o possível diagnóstico de surdez na
criança autista. Há sinais de reação a sons intensos por parte da
criança autista, e, ainda, exames indicam perda significativa de
audição. Percebemos em autistas alguns comportamentos
extremamente ansiosos que são impulsos reativos a sons bruscos
e repentinos ou à música muito alta. Em contrapartida, as
crianças autistas podem também reagir a sons de menor
intensidade e responder a sons fracos e músicas. No geral, as
respostas positivas nos contínuos trabalhos lúdicos com música
sempre aparecem com espaços de investigação. Se a criança tiver
surdez congênita, desenvolverá algum comportamento
semelhante a um traço autístico (estereotipias, caráter
introvertido, resistência à mudança), que vai sendo modificado à
medida que aprende a se comunicar socialmente. Também, nas
crianças com cegueira, são vistos comportamentos semelhantes às
expressões autísticas. Quando desenvolve a capacidade de
autonomia em locomoção, orientação e mobilidade, é comum que
a criança cega realize movimentos de braços e gesticulação da
mão em frente da face. Mas, as diferenças vão ficando nítidas
quando se percebe o interesse da criança deficiente visual, ao
procurar interação normal com pessoas e objetos no ambiente,
quando desenvolve um comportamento afetivo e interativo.
d) Distúrbios de Desenvolvimento da Linguagem
Não é fácil distinguir crianças autistas de crianças portadoras
de Distúrbios do Desenvolvimento da Linguagem Receptivo-
Expressiva. Alguns critérios são fundamentais na observação. As
crianças com transtornos da linguagem são capazes de utilizar a
comunicação não verbal para estabelecer relações no convívio
social e desenvolvem brincadeiras com jogos imaginativos,
demonstram interesse na participação ecoerência nas conversas.
Ao contrário das crianças autistas, mesmo aquelas capazes de
falar, possuem um padrão de uso funcional da linguagem com
características específicas, como ecolalia retardada, frases
estereotipadas fora do contexto lógico de conversação, emitem
sons de tonalidade alta e baixa inesperadamente.
e) Privação Psicossocial
Graves transtornos no ambiente físico e emocional causam
marcas profundas, às vezes, irremediáveis no desenvolvimento da
personalidade de uma criança. Falta de interação afetiva com
adultos, privação materna, escassez de estímulos sensoriais,
vestibulares e cinestésicos, carência de proteção, contato físico,
reciprocidade de sentimentos, durante longos períodos de
hospitalizações ou por desestruturação familiar, podem gerar
atrasos na criança, talvez distúrbios na aquisição e no
desenvolvimento da linguagem e nas habilidades motoras,
alterações no curso dos relacionamentos como apatia ou
isolamento. A diferença fundamental nestas crianças é o avanço
progressivo quando inseridas em um ambiente harmonioso e rico
em estímulos, o que não ocorre com os autistas que levam mais
tempo para responder aos estímulos e às reações ao ambiente.
2.3 – Etiologias
Alguns estudiosos atribuem as causas do Autismo às
anormalidades orgânicas, neurológicas e biológicas que descrevem
várias patologias manifestadas em associação com o Autismo nas
fases pré-natais, perinatais e neonatais, fatores genéticos,
achados neuroanatômicos e achados bioquímicos.
Outros autores apontam fatores de origem psicogênica,
bastante discutidos nas primeiras décadas, desde o descobrimento
do Autismo por volta de 1940. Esses fatores parecem refutados
como etiologia preponderante do Autismo, conforme afirma
Gauderer (1992): “... esta teoria caiu totalmente em desuso,
devido à enorme gama de estudos científicos, documentado um
comprometimento orgânico neurológico central”.
Estudaremos, a seguir, algumas teorias que apontam as
causas do nascimento de uma criança autista na tentativa de
melhor estudar didaticamente e compreender como se originam.
2.3.1 – A Teoria Psicodinâmica
Ainda na década de 40, Kanner identifica fatores comuns às
famílias dos 11 primeiros pacientes por ele analisados: autistas
oriundos de famílias com padrão socioeconômico elevado, pais com
nível de inteligência superior à média, obsessivos, dedicados a
assuntos de teor abstrato, pouco afetuosos e emotivos e
introvertidos. A partir destes grupos, Kanner elaborou três
hipóteses: a primeira enfatiza fundamentos de natureza
psicogênica, os pais possuem uma estrutura psíquica patológica
que pode provocar o nascimento de filhos com condições
autísticas; a segunda sugere dois tipos de autismo: o orgânico,
ligado a patologias neurológicas, e o anorgânico, que destaca
fatores psicogênicos; por fim, a terceira hipótese defendida por
Kanner, em 1955, traz no bojo a possibilidade de um acidente
orgânico inato e de estresse psicogênico.
Surgiram, a partir daí, estudos que apresentaram uma gama
de novas hipóteses: ou argumentavam que o nascimento de um
autista seria provocado por possíveis situações de estresse no
ambiente familiar, ou a criança autista nasceria das patologias
psiquiátricas nos pais. E, ainda, estudos de caráter sociológico
relacionaram o nível de rendimento intelectual à classe social
elevada dos pais, o que levou Kanner a organizar uma estatística
das famílias dos autistas, destacando o padrão socioeconômico
alto.
Apesar de os argumentos dessas teorias não consolidarem os
fatores psicogênicos como causa maior do Autismo, é válido
sempre correlacionar situações do cotidiano do autista ao
repertório de reações diferentes desprendidas repentinamente e
com frequência.
2.3.2 – A Teoria Genética
Destaca-se, nesta teoria, a importância do estudo das famílias
dos autistas. Foram estudados os riscos nos grupos familiares de
nascerem filhos da mesma família com Autismo. Primos, irmãos,
irmãos gêmeos, sobrinhos, familiares em diferentes graus de
parentesco entre membros afetados pelo Autismo.
Quanto à metodologia do estudo de famílias, Roubertoux (apud
LEBOYER, 2003), durante a década de 80, aponta para o
aumento do risco de desenvolvimento do Autismo entre irmãos e
irmãs de autistas. Tratando-se dos estudos com gêmeos, os dados
revelam que a concordância para o Autismo em gêmeos
monozigóticos (gêmeos idênticos univitelinos) varia de 36% a
90%, e, em gêmeos dizigóticos (gêmeos não idênticos afetados), a
concordância é nula ou baixa. Quando são consideradas as
anormalidades cognitivas e sociais, o nível de concordância
aumenta para 92% entre os monozigóticos e 10% entre os
dizigóticos.
A Equação Biológica (Fenótipo = Genótipo + ambiente) pode
nos ajudar a examinar possibilidades de haver alterações
patológicas no genótipo e da influência de complicações exógenas
(apneia perinatal, nascimento retardado, convulsões neonatais) de
natureza não genética responsável por lesões cerebrais. Afinal,
vêm sendo descritos fenótipos diversificados que podem resultar
da soma determinada pela equação biológica: Autismos de
autofuncionamento no qual o indivíduo consegue um desempenho
normal ou acima da média em uma área de conhecimento
específica e em um inesperado momento de sua vida, autistas
apresentando ausência de comunicação verbal, com grande
habilidade nos desenhos, e autistas com sérios comprometimentos
na sociabilidade, porém possuem a fala funcional e a inteligência
normal. Enfim, são variados e bem notáveis os traços ligados ao
fenótipo, todavia, ainda, há muita contestação concernente ao
modelo genético. No contexto atual, são sugeridos indícios
comprovados da presença de uma transmissão heterogênea de
componentes genéticos no Autismo, uma interação entre
múltiplos genes lesados em certos cromossomos. Deste modo, é
aceita a existência de três a mais de dez genes relacionados com o
Autismo. Genes de desenvolvimento relacionados ao sistema
nervoso central, genes do sistema serotoninérgico e de demais
sistemas de regulação das funções neurais, identificados em
pacientes autistas, têm aberto significativos caminhos de estudo
nessa área.
2.3.3 – A Teoria Orgânica
Pesquisas vêm revelando a importância de se investigar a
influência das lesões neurológicas na alteração do
desenvolvimento do sistema nervoso central.
Um dado útil em nível de confrontação teórica reporta-se à
amplitude do conjunto de doenças orgânicas relacionadas não
apenas às condições neurológicas mas também às anormalidades
metabólicas, hereditárias e às infecções virais neonatais
constituídas em momentos distintos de formação do bebê. No
período pré-natal, as ocorrências patológicas mais frequentes são
a rubéola congênita e as hemorragias do primeiro trimestre.
Complicações perinatais são bastante evidentes, com um
quantitativo mais relevante nos casos de síndrome de Aflição
Respiratória e Baixo Apgar, além de outras patologias
manifestadas nos três primeiros anos de vida, a exemplo da
Fenilcetonúria, Esclerose Tuberosa e Convulsões apresentadas
sem tanta frequência, somando-se ainda ao aparecimento de
patologias posteriores à primeira infância. Em estudo recente, foi
identificado um aumento no volume cerebral dos autistas entre 8
e 12 anos de idade, mas não naqueles com mais de 12 anos.
Foram observados anormalidades no lobo temporal, região do
cérebro que, quando afetada, ocasiona modificações nos
comportamentos motor e social; perda de interesse e dificuldade
no reconhecimento de pessoas próximas e fatos do cotidiano;
problemas de dispersão no iniciar, continuar e concluir uma
atividade; e comportamento motor repetitivo. Em cerebelos
estudados, observou-se a diminuição de células de Purkinje, o que
tende a originar transtornos de atenção, excitação motora e
processos sensoriais anormais. São identificadas anormalidades
eletroencefalográficas (EEG) em 13% a 83% das crianças
autistas, entretanto, em métodos distintos de obtenção e
interpretaçãodos exames, em diferentes critérios usados para o
diagnóstico clínico, por existirem patologias associadas, identifica-
se uma variabilidade em relação aos resultados desses trabalhos
científicos, afirmando-se apenas indicações de falha de
lateralização cerebral.
Um dos achados mais consistentes está atribuído às vias
serotoninérgicas. A serotonina, neurotransmissor que atua nos
processos fisiológicos do organismo, quando apresentada em
níveis normais, regula o sono, controla a temperatura do corpo, a
dor, a agressividade e o comportamento sexual e, em condições
patológicas, provoca perturbação na modulação de estados
afetivos, retardo mental e hiperatividade. Cerca de um terço dos
pacientes autistas tem elevação da taxa de serotonina plasmática.
Os resultados das pesquisas sugerem que as elevadas taxas de
serotonina em autistas não são constantes e nem sequer todos são
hiperserotoninêmicos. Aproximadamente, 30% estão classificados
no subgrupo de serotonina elevada, supondo inclusive a
possibilidade de uma heterogeneidade clínica de casos patológicos
em crianças e adolescentes tanto na Neurologia quanto na
Psiquiatria no que concerne às pesquisas neurobiológicas.
M. J. T.
Naturalidade: João Pessoa/PB. Internada desde 1990, foi
trazida por uma ativista dos Direitos Humanos, após denúncia
dos vizinhos de que a mesma vivia trancada em um quarto há 10
anos. Vivia com o irmão, também portador de transtornos
mentais, e encontrava-se em estado de desnutrição. Segundo
registro de internação, “paciente com deficit intelectual, humor
instável, desorientada no tempo e no espaço, risos imotivados,
atitude pueril, deambulação excessiva, descuido pessoal, rapport
prejudicado”. Apresentava também um quadro de mutismo,
tricolomania e enurese.
Quadro atual: conserva o mutismo. Dá mostras de entender o
que se fala, já estabelece laços e participa das atividades,
demonstrando interesse, segundo suas limitações. Ainda
apresenta o sintoma maníaco (tricotilomania) com frequência
bem menor. Faz sua própria higiene. Vai para as atividades
voluntariamente, realiza algumas tarefas da vida diária (como
lavar copos, limpar mesas e cadeiras, guardar os materiais
utilizados nas atividades).
Sono e apetite são preservados. Recebe visitas esporádicas do
irmão, onde ambos permanecem calados, sem comunicação.
“Pequeno”
Internado desde l995. Não se tem conhecimento de dados
pessoais. Foi trazido ao hospital pela Polícia. Consta no registro
de internação que encontrava-se na rua despido, em estado de
agitação psicomotora. Apresenta também mutismo, o gestual é
limitado a acenos de cabeça, e a aproximação ou o afastamento
das pessoas ocorre segundo suas necessidades: aproxima-se
quando quer solicitar algo (comida, roupa etc.) e afasta-se quando
não necessita de cuidados. Não aceita a medicação que lhe é
ministrada e, portanto, ela é diluída na comida. Raramente toma
banho sem ajuda. Algumas vezes, resiste ao banho. Permanece a
maior parte do tempo na enfermaria. Costuma guardar pequenos
objetos, sem valor aparente, retirados do lixo, os quais conserva
com zelo. Não apresenta evolução do seu quadro psicopatológico e
apresenta crises convulsivas.
L. T. L.
Hoje, com 12 anos, desde muito pequeno, relata a mãe, parecia
que não gostava de ninguém. Não olhava as pessoas, não gostava
de beijo ou de abraço. Chorava quando ouvia sons muito alto,
principalmente no carro. Ficava agitado. Conduz sempre na mão
direita ou debaixo do braço direito um tecido azul, que torce e
estica como se passasse a ferro. Fala sozinho, diz palavras soltas
ou que ouviu há pouco tempo. Não responde verbalmente, mas é
capaz de ir ao banheiro com supervisão, beber água e realizar
pequenas atividades domésticas como pegar objetos quando
solicitado ou abrir e fechar portas.
J. M. de S.
Menino com cinco anos. A família só soube do diagnóstico de
autista quando ele tinha quatro anos. Apesar de ser um bebê
arredio e sem linguagem, a família nunca esperou que fosse tão
grave (sic). Pensavam que ele era diferente, mas que, com o
crescimento e com a convivência com os outros irmãos,
melhorasse. Tem constantes crises de agressividade, se
autoagride, chegando a se machucar. A mãe é que cuida e leva-o
para escola. Ele estuda em uma escola particular e,
contrariamente ao que se esperava, fica na escola sem problemas.
Parece gostar do ambiente colorido e dos brinquedos. Atualmente
frequenta sessões de Fonoaudiologia, mas responde pouco à
estimulação. Embora tenha uma boa coordenação motora, não é
sempre que realiza as atividades solicitadas.
No acompanhamento dos prognósticos, é importante refletir
sobre a situação crônica e a probabilidade de acontecer variação
discreta ou mais intensa nas características previsíveis à síndrome
no decorrer da vida do autista. A maioria atinge a velhice, porém
conserva os problemas básicos de desvio na linguagem e no
comportamento (rotinas e manias), além de problemas
secundários, como transtornos de personalidade, afetivos, sociais e
catatonia. Percebe-se que alguns comportamentos vão surgindo e
outros desaparecendo na trajetória de vida do autista.
A literatura demonstra que o nível mental e a estimulação
precoce, combinados com o desenvolvimento das habilidades de
comunicação por volta dos cinco aos sete anos de idade, são fatores
bastante positivos para os melhores prognósticos.
Mesmo havendo desenvolvimento da linguagem funcional, é
provável que aconteçam anormalidades no uso da linguagem e na
ação de se expressar com as palavras.
Fala monótona sem modulações, fala em staccato (emitida com
intervalos), linguagem que substitui o significado compreensível
de uma palavra por outras palavras com significado incomum; nos
adolescentes, a linguagem é constituída por questões obsessivas,
quase sempre associadas a preocupações momentâneas.
O entendimento do valor funcional e da aplicabilidade de cada
símbolo percebido na realidade cotidiana depende do nível
intelectual no qual a criança se situa.
Expressar com habilidade por meio da fala os símbolos
apreendidos proporciona a criança a fazer uso das mais variadas
funções do cérebro, logo uma criança autista com um sutil desvio
no funcionamento deste órgão restringe a sua aptidão no
desempenho de atividades da vida diária. Tanto é que os
prognósticos menos otimistas no Autismo são atribuídos às
crianças com funcionamento intelectual inferior a 70.
Durante a vida adulta, são introvertidos e passivos, é possível
que um número bastante reduzido possa levar uma vida social
independente, exercendo uma profissão, pois, à proporção que as
crianças autistas se desenvolvem, vão evidenciando avanços
tímidos e incertos nos padrões qualitativos de comportamento, o
que não quer dizer cura. Segundo Gauderer (1992), algumas
vezes, crianças com retardo mental grave são suscetíveis a
convulsões. No Autismo, a idade de aparecimento das convulsões é
diferente dos indivíduos não autistas, cujas crises de convulsão
surgem no início da infância. As convulsões nos autistas, em geral,
ocorrem a partir dos sete anos. Cerca de 25% apresentam
convulsões entre 11 e 19 anos.
Consideramos que a definição do Autismo é um conceito
sempre em construção. Independentemente da terminologia que
se utilize, o mais importante é atendê-los. Identificam-se alguns
estereótipos, percebem-se alguns comportamentos ritualísticos,
encontram-se desempenhos de aprendizagem satisfatórios e, em
algumas atividades, a linguagem expressiva está presente. Hoje,
2015, vem sendo utilizado o Transtorno do Espectro Autista –
TEA, que envolve diferentes síndromes que afetam o
desenvolvimento, e a palavra inglesa “spectrum” é usada por se
tratar de diferentes situações, de diversas gradações de
comprometimentos, mas sempre relacionadas às perturbações da
comunicação e do relacionamento social.
Para compreender a extensão do termo Autismo com as
síndromes correlacionadas, inseridas no universo dos Transtornos
Invasivosdo Desenvolvimento com base no DSM-IV (Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), estão incluídos
nesta categoria os transtornos de Rett, o transtorno
desintegrativo da infância, o transtorno de Asperger e o
transtorno autista.
Na literatura pesquisada, a descrição de diversas doenças
fundamentadas em aspectos metabólicos, neurológicos e
genéticos, estudados paralelamente à sintomatologia autística,
apresenta semelhança com a enunciação clínica do Autismo.
Neste sentido, como o objetivo deste estudo é discutir
pedagogicamente as questões do Autismo, serão estudados como
correlacionamos o grupo dos Transtornos Invasivos de
Desenvolvimento, terminologia que, nos últimos anos, tem sido
substituída com o conceito de Espectro Autístico.
Sugere-se ao leitor interessado em aprofundar o tema a leitura
do estudo de Assumpção (1994) – veja o item Referências no final
do trabalho – que aponta problemas de ordem genética,
neurológica e metabólica que envolvem o Autismo:
1.Infecções pré-natais: rubéola congênita, sífilis congênita,
toxoplamose, outras (citomegaloviroses)
2.Hipoxia neonatal
3.Infecções pós-natais: herpes simplex
4.Deficits sensoriais
5.Espamos infantis: síndrome de West
6.Doença de Tay-Sachs
7.Síndrome de Rett
8.Fenilcetonúria
9.Esclerose tuberosa
1
0.Neurofibromatose
1
1.Síndrome de Cornelia de Lange
1
2.Síndrome de Willians
1
3.Síndrome de Moebius
1
4.Mucopolissacaridoses
1
5.Síndrome de Turner
1
6.Síndrome do X Frágil
1
7.Outras alterações cromossômicas
1
8.Hipomelanose de Ito
1
9.Síndrome de Zunich
2
0.Intoxicações diversas
Síndrome de Rett
Como anteriormente esclarecemos, apenas algumas
correlações serão apresentadas, a exemplo da síndrome de Rett.
A síndrome de Rett (SR) é um distúrbio neurológico
incapacitante com grau de severidade considerável, de início
precoce, provoca a gradual regressão do desenvolvimento
psicomotor de meninas previamente normais.
No começo dos sintomas, o diagnóstico é complicado, pode ser
confundido com demais transtornos invasivos. Percebe-se,
contudo, sintomas mais específicos que repercutem no
reconhecimento da síndrome.
Foi relatada clinicamente por Andreas Rett em 1966. Um ano
antes, foram percebidos comportamentos atípicos em 22 meninas.
O desenvolvimento dessas meninas parecia se enquadrar em um
nível normal, dentro de um espaço de tempo de, pelo menos, seis
meses, verificando-se posteriormente um intenso agravamento
evolutivo do estado clínico.
Etiologia
Pelas pesquisas, não existem parâmetros que provem com
precisão a causa da síndrome de Rett, embora a deterioração
progressiva, após um tempo normal inicial transcorrido, possa
sugerir uma combinação com determinada desordem metabólica.
Também é provável ter ligações de base genética, pois é
diagnosticada somente em meninas. Os diversos relatos sinalizam
para a aceitação completa em gêmeas monozigóticas.
Sintomas e Sinais
• comprometimento na evolução psicomotora, considerado após
uma evolução normal das habilidades até, pelo menos, o
sexto mês de vida. Ausência de registros anormais no
desenvolvimento pré-natal e perinatal;
• após o terceiro mês de vida, é notada uma desaceleração de
crescimento da área craniana;
• a capacidade de comunicação receptiva e expressiva sofre um
decréscimo, atingindo certos níveis de danos estabelecidos
entre seis meses e um ano de idade. Os efeitos vão desde a
indiferença e a dispersão até o isolamento afetivo, pouco
respondendo aos estímulos ambientais, traços
comportamentais também vistos no Autismo;
• diminuição da ação de agarrar, segurar ou apanhar objetos.
O fato de pouco a pouco deixar de utilizar os movimentos dos
membros superiores faz surgir as estereotipias manuais, tais
como: retorcer as mãos, movimentos de esfregar e bater as
mãos e, muitas vezes, parecem simular o gesto de lavar as
mãos,.Isto vai acontecendo no intervalo de seis meses a dois
anos de idade;
• os distúrbios motores são considerados elementos
importantes, porque marcam a existência de um transtorno
neurológico em crescimento, diferenciando-se do Autismo.
Fraca coordenação motora que implica uma marcha e
posturas irregulares (instabilidade e rigidez);
• ocorre retrocesso das funções intelectuais e graves problemas
no desenvolvimento da linguagem;
• convulsões em até 75% dos portadores da síndrome de Rett,
problemas respiratórios, como apneia, hiperventilação e
respiração irregular no que diz respeito à coordenação da
expiração e inspiração. As escolioses severas são frequentes
nestes pacientes.
As pessoas portadoras desse transtorno podem apresentar,
durante o passar dos anos, desgaste muscular, rigidez e
suscetibilidade a nenhuma capacidade de linguagem, tornando-as
dependentes em potencial.
Crianças que trazem consigo as características da síndrome de
Rett podem receber diagnósticos da síndrome autística, devido às
deficiências nas relações sociais. Mas, ao analisar o curso dos dois
transtornos, ficam definidas as diferenças...
Os maneirismos no Autismo são mais acentuados. No
transtorno de Rett, as crianças perdem por completo suas
aptidões verbais, já os indivíduos autistas usam uma linguagem
provida de desvios, a exemplo da ecolalia, inversão pronominal e
neologismos. As anormalidades respiratórias e as convulsões
observadas no transtorno de Rett não são vistas no Autismo,
exceto possíveis convulsões que ocorrem na adolescência.
Tratamento
São orientadas intervenções medicamentosas, administrando
anticonvulsivantes para o controle do acesso convulsivo e seções
de fisioterapia aplicada à disfunção muscular. A terapia
comportamental cuja função é reforçar estímulos positivos
(aplaudir, abraçar, movimentar-se com a criança), de muita
utilidade no Autismo, é direcionada ao controle de comportamento
autodestrutivos dos portadores da síndrome de Rett. Em relação à
escolarização pelo comprometimento geral, são poucos os
progressos.
Prognóstico
Os problemas da síndrome são progressivos. Apesar de os
prognósticos não serem totalmente conhecidos pela comunidade
científica, estudos de casos mostram indivíduos que, quando
chegam à idade adulta, mantêm características cognitivas
equivalentes às dos primeiros anos de vida.
Transtorno Desintegrativo da Infância
Descrito em 1908 como uma deterioração lenta das funções
intelectuais, sociais e da linguagem, os Transtornos
Desintegrativos, conhecidos por síndrome de Heller ou por
psicoses desintegrativas, envolvem um conjunto de problemas
associados à evolução global do indivíduo.
Percebe-se a presença do desenvolvimento normal nos
primeiros anos de vida. No decorrer do tempo, o relacionamento
social, o desenvolvimento da comunicação e as práticas
comportamentais para a construção da elaboração do raciocínio e
das emoções são significativamente reduzidas. O
comprometimento intelectual é visto em uma quantidade
expressiva de casos e discute-se a existência ou não de dano
cerebral. Com a evolução destas complicações, é que a
caracterização deste transtorno desintegrativo da criança
aproxima-se da caracterização daquelas que possuem o Autismo.
Etiologia
De causa desconhecida, tem sido associado a estados
neurológicos, abrangendo perturbações convulsivas, esclerose
tuberosa e diversos transtornos metabólicos. Os dados
epidemiológicos não são precisos, estima-se um caso em cada
10.000 meninos e a uma razão de quatro a oito meninos para uma
menina
Sintomas e Sinais
A idade mínima para referência, conforme o DSM-IV, é de dois
anos. Antes disso, é visto um desenvolvimento supostamente livre
de traços anormais. A literatura admite um campo delimitador
que varia entre um e nove e entre três e quatro anos de idade
para o diagnóstico.
Perda repentina ou sutil ao longo de vários meses das
habilidades de comunicação verbal e não verbal, visível regressão
nas interações com as pessoas, perturbações motoras, ansiedade,
impulso à repetição de atos, diminuição do interesse nas práticasde jogos (brincadeiras de faz de conta, muito presente durante a
infância) e problemas no controle esfincteriano são traços
presentes.
Existe a perda de habilidades em algumas áreas: linguagem,
comportamento social, controle urinário ou intestinal, jogos
(cognição) e motricidade. Há comprometimentos no
desenvolvimento da interação social, na comunicação, nos padrões
de conduta restritivos repetitivos e em alguns comportamentos
estereotipados.
O Transtorno Desintegrativo da Infância se distingue do
Autismo inicialmente por apresentar perda na formação de
habilidades adquiridas antes das manifestações dos sintomas e,
posteriormente, na construção de frases, situação que não
acontece nos indivíduos autistas.
Tratamento
Por causa da proximidade clínica com o Autismo, o tratamento
defendido a favor do transtorno desintegrativo segue critérios de
interferência similares aos dirigidos às crianças portadoras do
transtorno autístico.
Prognóstico
Pessoas que apresentam declínios progressivos das funções
cognitivas, motoras e de linguagem em geral são diagnosticadas
com retardo mental considerado de grau moderado.
Síndrome de Asperger
O médico austríaco Hans Asperger, em 1944, relata uma
síndrome a qual denomina “psicopatia autista”, considerando-a
como um distúrbio do desenvolvimento associado a alterações
orgânicas e enfatizava a hipótese de uma lesão de integração de
informações. O relato original explicitava a existência de crianças
com sérios comprometimentos de interação social recíproca, além
de peculiaridades comportamentais diferentes, se comparadas ao
conjunto de atitudes normais, inteligência em níveis aceitáveis e
sem atrasos no desenvolvimento de linguagem.
Sendo assim, pessoas com algum retardo mental e sem atrasos
de linguagem têm sido diagnosticadas como portadoras do
transtorno de Asperger ou síndrome de Asperger, definição
contida na décima revisão da Classificação Internacional de
Doenças (CID-10).
Na vida adulta, estes indivíduos são considerados excêntricos,
diferentes e com comportamentos estranhos.
Etiologia
A causa da síndrome de Asperger é desconhecida. O que se
sugere é uma semelhança com o Autismo, estudada à luz de
hipóteses genéticas, metabólicas, infecciosas e perinatais
(problemas transcorridos durante o parto).
Sintomas e Sinais
Comprometimentos qualitativos acentuados na relação social,
como gestos comunicativos não verbais anormais, expressão
facial, postura do corpo e contato visual com outras pessoas, são
marcados por notáveis perturbações.
Apresentam, muitas vezes, dificuldade para estabelecer
relacionamentos com pessoas do seu grupo social, pois parecem
não desenvolver uma disposição espontânea para compartilhar
atividades, interesses ou realizações.
Desenvolvem também padrões pessoais de comportamento
restritos, repetitivos e aparentemente inflexíveis, conduzindo-os
às rotinas e aos rituais específicos de natureza não funcional.
Nota-se a presença de alguns maneirismos motores e
insistente preocupação em seguir os mesmos roteiros de atitudes
que interferem na vida ocupacional e social.
Não existem atrasos significativos na linguagem nem no
desenvolvimento cognitivo.
Tratamento
Os modelos de intervenção, como Educação Especial e
Modificação de Comportamento, usados no tratamento do
Autismo, tendem a exercer influência satisfatória na motivação
das potencialidades intrínsecas dos portadores da síndrome de
Asperger.
Prognósticos
Desenvolvem uma escolarização dentro da normalidade sem
problemas expressivos de aprendizagem. As questões mais
comprometidas referem-se ao comportamento e às relações
sociais.
Aconselha-se a adoção de uma programação individualizada,
em duplas ou em pequenos grupos, dependendo da habilidade do
educador em controlar as situações inesperadas e do grau de
relacionamento estabelecido entre os indivíduos a serem
atendidos, objetivando aproveitar, pedagogicamente, o máximo do
atendimento. É importante estabelecer metas pedagógicas,
objetivos a médio e longo prazo e metodologias especiais
direcionadas ao autista. Tais questões devem estar norteadas
pelas concepções e pelas abordagens estudadas pelo educador, o
que lhe proporciona, além de uma segurança acadêmica, um leque
de possibilidades no programa a ser desenvolvido.
Sabemos que o processo de crescimento e funcionamento do
cérebro é decisivo no desempenho das funções psicológicas e que a
ligação dos neurônios entre si (sinapses) e a arborização dendrítica
têm início na gestação e atingem níveis elevados de
desenvolvimento até três ou cinco anos, diminuindo o ritmo após
essa idade.
Lesões no lóbulo frontal alteram a capacidade de organizar
ações para se adaptar às mudanças do ambiente, são responsáveis
por restrições de afetos, ausência de empatia, comprometimento
do controle sobre a atenção. Esta complexa rede de formação do
sistema nervoso central se justapõe desde o nascimento a vários
níveis de funcionamento passíveis de interrupções, distorções,
estagnação temporária e retrocessos em sua evolução e
maturação, comprometendo o desenvolvimento normal do ser
humano.
A indicação de um planejamento pedagógico individual para o
portador de Autismo se propõe exatamente pela individualidade
dos casos, ideia esta que estamos apresentando durante todo o
estudo, a importância dos contextos sociofamiliares, econômicos e
culturais, que interferem no aprendizado. Tais interferências
diferem de pessoa a pessoa no que concerne ao estágio de
desenvolvimento, grau de comprometimento da patologia e a idade
no período do tratamento.
Uma segunda questão na importância do trabalho
individualizado refere-se ao entendimento citado por Fernandes
(2004): “atingir o nível real de desenvolvimento da criança e seu
perfil de habilidades e dificuldades”. Da complexidade dos
sujeitos, resultam implicações que interferem nos resultados de
um único tratamento, daí a sugestão da interdisciplinaridade de
abordagens terapêuticas, respeitando a fase de desenvolvimento e
a intensidade dos comprometimentos.
Os transtornos do Espectro Autístico apresentam diferenças
baseadas na análise de variáveis, como etiologia, idade de
manifestação das alterações comportamentais, características
específicas dos desvios de desenvolvimento em cada transtorno do
espectro avaliado, diagnóstico, funcionamento intelectual, perfil
neuropsicológico e prognóstico. O conhecimento dessas variáveis
também ajudará a possibilidade de combinar diferentes princípios
de abordagens terapêuticas e educacionais, uma vez que não
existe um tratamento específico indicado para influir em todas as
áreas afetadas.
A compreensão em nível de tratamento é heterogênea.
Diferentes autistas podem beneficiar-se com um determinado tipo
de atendimento orientado por métodos da Psicoterapia, enquanto
outros autistas podem desenvolver-se a partir de atendimentos
norteados por uma abordagem comportamental.
O que se propõe neste estudo é atender os autistas viabilizando
a redução dos traços autísticos no sentido das relações sociais, da
aprendizagem e da escolarização, motivando permanentemente a
expansão e possível maturação da capacidade das áreas
comprometidas, a fim de obter resultados mais funcionais, na
perspectiva de um desenvolvimento pessoal, por meio de
oportunidades pedagógicas que os impulsionem a desenvolver e
concretizar trabalhos que sejam úteis para atender às suas
necessidades do cotidiano.
Ensiná-los a lavar as mãos, tomar banho, vestir suas roupas,
calçar os sapatos, desempenhar tarefas simples de organização do
mobiliário do quarto, na cozinha, acompanhá-los guardando
talheres, pratos, deixar que arrumem a mesa antes das refeições,
enfim, tornando-os autônomos e independentes no trato das
habilidades pessoais, são exercícios de valorização das experiências
compartilhadas de contato social, da interação com o mundo
externo e do sentimento de autorrealização.
6.1 – Educação Especial: construindo uma educação
inclusivaEducação Especial é uma modalidade terapêutica norteada por
concepções, metodologias e técnicas fundamentadas na Psicologia,
na Pedagogia, na modificação de comportamento e na terapia de
linguagem. Entendemos que o modo de atendimento educacional
precisa ser visto em uma expectativa conceitual ampla,
concentrada no estudo teórico-cientifíco das disfunções
neurológicas, dos desvios nas funções psicológicas e cognitivas que
alteram o funcionamento comportamental do portador de
transtornos do Espectro Autístico.
Como consequência desse prévio juízo em nível de senso
científico, virão as intervenções de aplicação pedagógica, pelas
quais o professor confrontará na práxis as realidades dele, sujeito
pesquisador e construtor, sujeito dirigido por suas intenções de
minimizar sintomatologias, maximizando potencialidades. Ainda
agregando-se neste conjunto, virá a própria realidade evolutiva do
educando deficiente no espaço terapêutico, a qual o educador
avaliará respaldado por critérios psicopedagógicos, sugerindo
mudanças nos planos de aula de acordo com as especificidades dos
comportamentos do educando.
O PEP-R (Perfil Psicoeducacional Revisado) é uma proposta de
avaliação que consiste no teste do coeficiente de desenvolvimento
do aluno autista, evidenciando a idade cronológica adequada ao
nível de desenvolvimento. A aplicação deste método avaliativo
enfatiza a comunicação visual, pois considera que a dificuldade de
compreensão do aluno interfere na eficácia dos resultados. São
sete áreas de desenvolvimento avaliadas pelo PEP-R – imitação,
performance cognitiva, cognitiva verbal, coordenação olho-mão,
coordenação motora ampla, coordenação motora fina e percepção.
A Educação Especial para autistas, na perspectiva inclusiva,
segue a ideia de uma política de ensino estruturado, que é
indiscutivelmente eficiente e eficaz no tratamento dos transtornos
autísticos, mas pode flexibilizar-se no sentido de conceber aspectos
metodológicos centrados em um modelo de pensamento relativo,
que envolve experiências construídas em um espaço terapêutico
mais maleável. Na perspectiva do ensino estruturado, concepção
que, segundo Gutstein (apud FERNANDES, 2004), obedece a um
modelo de pensamento absoluto no qual a sala de aula é
organizada em espaços divididos, visando atender ao ensino
individual, ao trabalho independente, ou seja, em uma mesa, o
aluno executa atividades aprendidas anteriormente com o
professor, e conta-se também um espaço de descanso, que inclui
atividades livres, mas com postura adequada. O problema é saber
se esta postura é adequada ao desenvolvimento do ser humano
autista ou ao aprendizado condicionante de uma ideia de educação
mecanicista. Outras ideias de destaque no âmbito da Educação de
autistas tratam da funcionalidade dos programas de atividades e
do uso de um sistema visual (os autistas demonstram bom
desempenho nas habilidades visório-especiais), cuja finalidade é
orientar o aluno no espaço escolar, por meio de cartões com
instruções simples. Por exemplo, uma sequência de representações
– símbolos – para ajudá-los no caminho ao banheiro ou construir
uma agenda contendo fotos das atividades facilitará a realização
dos trabalhos. Cada atitude concretizada pelo aluno nas rotinas de
trabalho deve ser percebida por ele como útil para sua vida. A
execução de experiências concretas vivenciadas no ambiente
sociointeracionista, integrando as práticas de desenvolvimento
cognitivo indispensáveis, passa a assumir grande valor educativo
na relação entre ensino e aprendizagem, é nestes instantes que a
ação participativa do professor-mediador representa o diferencial
positivo para ajudar o aluno autista na organização da consciência
sobre si mesmo, a ter a percepção do corpo ocupando espaços na
realidade externa e, posteriormente, a ter a consciência de que
existem pessoas interagindo.
A proposta inclusiva da Educação (um direito assegurado) tem
por fim conscientizar os(as) professores(as) sobre as bases
filosóficas, político-educacionais, jurídicas, éticas, responsáveis
pela formação de competências do profissional que participa
ativamente dos processos de integração, desenvolvimento e
inserção da pessoa deficiente na vida produtiva em sociedade;
evidenciar o direito legal mediante dever do Estado com a
educação; e garantir, conforme determina a Constituição da
República Federativa do Brasil no seu artigo 208, inciso III, o
atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. O
conteúdo do citado dispositivo constitucional encontra redação
quase idêntica no capítulo V, da Educação Especial, artigo 58 da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Já na óptica do
conceber filosófico, a Educação Especial baseia-se no intento da
valorização plena da dignidade humana, independentemente da
situação socioeconômica na qual a pessoa se encontra. São
documentos essenciais à universalização da formação de uma
consciência igualitária, includente e solidária: a Declaração
Universal dos Direitos do Homem, a Convenção Sobre os Direitos
da Criança e as declarações das Nações Unidas (Declaração de
Salamanca) culminadas no documento Regras Padrões Sobre a
Equalização de Oportunidades para Pessoas com Deficiências. No
parecer da ação pedagógica, a preocupação da Educação Geral
deve ser o desenvolvimento integral – corpo, psiquismo, espírito –
do ser humano, preparando-o já nas primeiras infâncias para a
vida produtiva, fundada no equilíbrio das intenções individuais e
dos interesses normativos voltados à regulação da vida coletiva.
Respeito ao educando e ao direito à educação de qualidade são
características assinaladas no ideal do Estado Democrático de
Direitos. Nesta visão universal da educação, aparece como parte
integrante a Educação Especial, cuja efetiva materialização
acontece quando se identificam atrasos ou alterações no
desenvolvimento global da criança, estendendo-se ao longo da vida
do cidadão, com o firme propósito ético-moral de valorizar suas
potencialidades, gerando oportunidades sociais, educacionais e
profissionais, isentas de quaisquer resquícios segregacionais.
Afinal, todo ser humano é valioso e, independentemente da forma
física ou psicológica pela qual se apresenta ao mundo, deve
desfrutar de uma vida plena e decente em condições que lhe
garantam sua qualidade moral, favoreçam sua autonomia e
facilitem sua participação ativa na comunidade, de maneira que as
pessoas do grupo social acolham a pessoa deficiente, sentindo-a
presente e participante nas atividades de trabalho e lazer,
conscientes da necessidade de respeitar as limitações físicas,
orgânicas e psíquicas da pessoa portadora de deficiência.
Ratificar perante pais, profissionais e comunidade científica a
possibilidade de discutir políticas educacionais a favor da melhoria
na qualidade de ensino dos portadores de Autismo e síndromes
correlatas, trazendo informações relevantes, é parte da ação
profissional, encontra-se escrito em uma das laudas produzidas no
I Encontro Brasileiro de Práticas Terapêuticas, ocorrido em março
do ano de 1994, em Minas Gerais, cujo texto informa à sociedade
civil que o programa TEACCH (Tratamento e Educação para
Autistas e Crianças com Deficiências Relacionadas à
Comunicação) é atualmente na Carolina do Norte um Programa
de Estado, sendo utilizado nos sistemas locais de ensino. No
Brasil, esse programa é referência em algumas escolas, sendo
citado também pela Coordenadoria Nacional para Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência – CORDE como proposta de
intervenção educacional. Fundamentando-me nestes documentos,
busco respaldo no princípio do ajuste econômico com a dimensão
humana e no princípio de legitimidade, garantidos no documento
Subsídios para a Organização e Funcionamento de Serviços de
Educação Especial – Área da Deficiência Mental, do Ministério da
Educação e do Desporto – MEC, e no artigo 208 da Constituição

Outros materiais