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TIREOIDE ANATOMIA E FISIOLOGIA -Localizada imediatamente abaixo da laringe e ocupando regiões laterais e anterior da traqueia. -peso de 15 a 20 gramas em adulto; - Composta pelos lobos direito e esquerdo, conectados pelo istmo. Cerca de 50% apresentam um terceiro lobo, chamado de piramidal. - A principal função da tireoide é produzir quantidades adequadas de hormônios tireoidianos (HT) para atender às demandas periféricas. Os dois principais HT são a tri-iodotironina ou T3 e a tetraiodotironina (tiroxina ou T4). - Estruturalmente, tais hormônios são constituídos por um arcabouço de duas moléculas de tirosina iodadas e unidas por uma ligação éter. Uma importante característica estrutural dos hormônios tireoidianos é a posição dos iodos nesse arcabouço (T4 com 4 iodos e T3 com 3 iodos). - A tireoide é composta de grande número de folículos fechados, cheios por substância secretora, chamada de coloide, e revestidos por células epiteliais cuboides que secretam seus produtos para o interior dos folículos. O coloide é constituído, em sua maior parte, pela glicoproteína tireoglobulina, cuja molécula tem HT. Uma vez que a secreção chega aos folículos, deve ser reabsorvida através do epitélio folicular para o sangue, para poder realizar sua função no corpo. - No indivíduo normal, o hormônio tireoidiano circulante consiste em cerca de 90% de T4, 9% de T3 e 1% de rT3 (maneira biologicamente inativa de hormônio tireoidiano, também conhecida como tri- iodotironina reversa) estando a maior parte ligada a proteínas plasmáticas (tanto a proteínas de ligação específicas quanto à albumina). -A tireoide normal produz todo o T4 circulante e cerca de 20% do T3 circulante. Os 80% restantes do T3 circulante provêm da deiodinação periférica do T4, por meio da ação das deiodinases tipo 1 (D1) e tipo 2 (D2). Existe ainda a deiodinase tipo 3 (D3), que é responsável pela metabolização periférica do T4 em tri-iodo-L-tironina (T3 reverso ou rT3), metabolicamente inativo. - A maior parte da atividade biológica dos HT provém dos efeitos celulares do T3, que tem maior afinidade pelo receptor do hormônio tireoidiano e é cerca de 4 a 10 vezes mais potente do que o T4. - Uma vez liberados na circulação, T4 e T3 se ligam, de maneira reversível, a três proteínas plasmáticas: globulina ligadora de tiroxina (TBG), transtirretina (TTR) e albumina. - Apenas 0,004% do T4 e 0,4% do T3 circulam na sua forma livre, que é a metabolicamente ativa. - A ausência completa de secreção tireoidiana, em geral, faz com que o metabolismo basal caia pra 40- 50% do total, e o excesso extremo pode aumentar para 60-100%. - A tireoide é controlada pela atividade do eixo hipotalâmico-hipofisário-tireoidiano. O TSH, produzido pelas células tireotróficas da hipófise anterior, liga-se a receptores específicos nas células tireoidianas e estimula todas as etapas da síntese do T4 e do T3, bem como sua liberação pela glândula. - A síntese e a secreção do TSH, por sua vez, são inibidas pelos HT (feedback negativo) e estimuladas A TBG tem a maior afinidade pelo T4 e T3 e a menor capacidade de ligação, o inverso acontecendo com a albumina. Aproximadamente 70% do T4 e 80% do T3 são ligados à TBG, e o restante, por sua vez, liga-se à TTR e à albumina. Devido a sua alta concentração sérica, a albumina carreia aproximadamente 15% do T4 e do T3 circulantes. pelo hormônio liberador da tireotrofina (TRH), produzido no hipotálamo. - A secreção do TSH é pulsátil e apresenta um ritmo circadiano, com os pulsos de secreção ocorrendo entre as 22h e as 4h: Valores médios do TSH ficam em torno de 1,3 a 1,4 mUI/ℓ. Com limites inferiores entre 0,3 e 0,5 mUI/ℓ. E limites superiores entre 3,9 e 5,5 mUI/ℓ. DISTÚRBIOS TIREOIDIANOS - Diversas condições podem cursar com hipofunção ou hiperfunção tireoidianas, facilmente diagnosticadas pela dosagem de TSH e T4 livre. A medida do T3 apenas é útil quando se suspeita de T3-toxicose (hipertireoidismo com T4 normal) ou tireotoxicose induzida pela ingestão de T. T4 é convertido em T3 nos tireotrofos hipofisários, sob ação da 5’-deiodinase tipo 2. Em seguida, o T3 se liga a seu receptor nuclear, inibindo a transcrição de TSH. Desse modo, se a função hipotalâmico- hipofisária estiver intacta, pequenas alterações nos níveis dos HT livres provocam grandes alterações nos valores séricos do TSH (relação log-linear entre os HT e o TSH). Por isso, o TSH constitui-se no melhor indicador de alterações discretas da produção hormonal da tireoide. HIPOTIREOIDISMO - síndrome clínica caracterizada pela deficiência de hormônios tireoidianos. Pode ser: Primário (HTP): quando resulta de condições que interfiram diretamente sobre a tireoide. 95% dos casos. Secundário: devido à deficiência hipofisária de TSH. Terciário: devido à deficiência hipotalâmica de TRH. Apenas em casos muito raros, o hipotireoidismo pode ser decorrente de uma resistência generalizada aos hormônios tireoidianos, causada por mutações nos seus receptores. OBS: A terminologia Central é preferível, por que nem sempre é possível distinguir as causar hipofisárias de hipotalâmicas. - hipotireoidismo, quando ocorre na infância: resulta em uma redução acentuada do crescimento e do desenvolvimento, com sérias consequências permanentes, incluindo retardo mental. - Quando o hipotireoidismo ocorre na idade adulta, causa uma redução generalizada do metabolismo, com diminuição da frequência cardíaca, diminuição do consumo de oxigênio e depósito de glicosaminoglicanos nos espaços intracelulares, particularmente na pele e nos músculos, produzindo, em casos extremos, o quadro clinico de mixedema. EPIDEMIOLOGIA - hipotireoidismo primário (HTP) é uma doença muito prevalente em todo o mundo e responde por 95% do total de casos de hipotireoidismo. Pode ser endêmica em regiões com deficiência de iodo. - HTP (clínico e subclínico) variou de 9,4% em mulheres com 35 a 44 anos de idade a 19,1% naquelas com 75 anos de idade ou mais. - hipotireoidismo central tem prevalência estimada é de 0,005% na população geral. FATORES DE RISCO DO HTP Idade > 60 anos Sexo feminino Bócio Doença nodular tireoidiana História familiar de doença tireoidiana História de radioterapia para cabeça e pescoço (radiação externa e iodo radioativo) Doença autoimune tireoidiana e extratireoidiana Fármacos (amiodarona, lítio, tionamidas, interferon-α etc.) Baixa ingestão de iodo, síndrome de Down, síndrome de Turner ETIOLOGIA HTP ETILOGIA EM ADULTOS: DOENÇAS TIREOIDIANAS - A tireoidite de Hashimoto (TH) é a causa mais comum de hipotireoidismo. Trata-se de doença autoimune, caracterizada por títulos elevados de anticorpos antiperoxidase (anti-TPO). - A doença de Graves pode, também, ter essa doença como estágio final, devido à agressão glandular pelo processo autoimune. Da mesma maneira, pacientes com hipertireoidismo autoimune podem evoluir para hipotireoidismo e vice-versa, em função de mudanças no tipo predominante de anticorpos contra o receptor do TSH (de estimuladores para bloqueadores). - As tireoidites subagudas (granulomatosa, linfocítica e pós-parto) com frequência levam ao hipotireoidismo, que nesse caso é transitório na grande maioria das vezes. Cerca de 20 a 30% das mulheres com tireoidite pós-parto desenvolverão HTP após 5 anos (risco maior naquelas com altos títulos de anticorpos antiperoxidase) O hipotireoidismo ocorre também em 30 a 40% dos pacientes com tireoidite de Riedel, resultado da substituição do tecido tireoidiano por tecido fibroso. - Algumas vezes, o hipotireoidismo é decorrente de doenças infiltrativas, como hemocromatose, sarcoidose, esclerose sistêmica progressiva, amiloidose ou cistinose. - O câncer da tireoide nãocostuma causar hipotireoidismo Tratamento do hipertireoidismo A terapia com ¹³¹I representa, em nosso meio, a segunda causa mais comum de hipotireoidismo. Este último em geral ocorre dentro do primeiro ano após o tratamento (com retorno espontâneo ao eutireoidismo em alguns pacientes), mas pode levar vários anos para se manifestar. - Em uma série,15 entre pacientes com a doença de Graves, a incidência cumulativa foi de 24% (após 1 ano), 59% (após 10 anos) e 82% (após 25 anos) Outros fármacos - Além das tionamidas, algumas substâncias, como o iodo (em quantidade excessiva) e vários fármacos podem resultar em graus variados de hipotireoidismo, como medicamentos ricos em iodo (amiodarona, contrastes radiológicos) ou o carbonato de lítio. - Tal fato ocorre, sobretudo, na presença de tireoidite de Hashimoto, história prévia de tireoidite pós-parto ou tireoidite Indolor, bem como em pacientes que já foram submetidos à cirurgia tireoidiana ou terapia com 131 I. Radioterapia externa - Decorrente de radioterapia externa da cabeça e do pescoço Hipotireoidismo consuntivo Esta denominação tem sido aplicada aos raros casos em que hipotireoidismo resulta de excessiva inativação dos hormônios tireoidianos pela enzima iodotironina deiodinase do tipo 3 (D3) produzida por tumores. ETIOLOGIA EM CRIANÇAS - A tireoidite de Hashimoto (TH) constitui a etiologia mais comum de hipotireoidismo e bócio atóxico adquiridos em crianças e adolescentes. A doença é rara antes dos 4 anos de idade, mas pode se manifestar bem antes. A incidência da TH é maior em meninas (4 a 8:1). Em regiões endêmicas para baixa ingestão de iodo, esta constitui a causa mais comum de hipotireoidismo em crianças. O hipotireoidismo detectado no período neonatal pode ser permanente ou transitório: Entre os tipos transitórios, estão os resultantes da transferência transplacentária de anticorpos bloqueadores do receptor do TSH e da administração durante a gravidez de iodetos, amiodarona ou fármacos antitireoidianos. Casos de hipotireoidismo congênito permanente sem bócio decorrem de defeitos de desenvolvimento da glândula (ectopia, hipoplasia ou aplasia tireoidianas), administração inadvertida de 131I a gestantes hipertireóideas, ou, o que é mais raro, por hiporresponsividade ao TSH. ETIOLOGIA DO HIPOTIREOIDISMO CENTRAL Adquirido O hipotireoidismo central (HC) pode se originar de qualquer processo neoplásico, inflamatório, infiltrativo, isquêmico ou traumático que comprometa a capacidade secretória da hipófise anterior e/ou do hipotálamo (Quadro 29.3). Em adultos, as causas mais comuns são lesões tumorais da região hipotalâmico- hipofisária e o tratamento cirúrgico e/ou radioterápico dessas lesões. Em crianças, a maioria dos casos é decorrente de craniofaringiomas ou irradiação craniana para disgerminoma ou neoplasias hematológicas. Congênito Defeitos congênitos na estimulação ou na síntese do TSH, ou na estrutura desse hormônio, representam raras causas de hipotireoidismo central congênito (HCC). São decorrentes de defeitos em vários genes homeobox, como POU1F1, PROP1 e HESX1 PATOGÊNESE HIPOTIREOIDISMO Patologicamente, o achado mais característico é o acúmulo de glicosaminoglicanos - sobretudo o ácido hialurônico – nos tecidos intersticiais. O acúmulo desta substância hidrofllica e o aumento da permeabilidade capilar à albumina são responsáveis pelo edema não depresslvel, o qual é particularmente evidente na pele e nos músculos cardíaco e estriado. O acúmulo é ocasionado não pela síntese excessiva e sim devido à redução do metabolismo dos glicosarninoglicanos. Sinais e Sintomas Hipotireoidismo O hipotireoidismo tem como manifestações mais marcantes: astenia, sonolência, intolerância ao frio, pele seca e descamativa, voz arrastada, hiporreflexia profunda, edema facial, anemia e bradicardia. A síndrome compromete o organismo de maneira global, por isso a riqueza da sintomatologia com a qual a síndrome pode expressar-se. Entretanto, muitos pacientes são assintomáticos ou oligossintomáticos, sobretudo aqueles com doença menos intensa ou de duração não prolongada, sendo diagnosticados em exames de rotina. Diagnóstico Laboratorial Hipotireoidismo primário As alterações clássicas são: TSH elevado e níveis baixos de T4 livre (FT4) e T3. De início, observa-se apenas elevação do TSH, caracterizando o hipotireoidismo subclínico; a seguir, reduzem-se o T4 e, em uma fase posterior, o T3. Pode haver, também, secreção preferencial de T3, de modo que, em pelo menos um terço dos hipotireóideos, os níveis de T3 estão normais. Por essa razão, diante da suspeita de hipotireoidismo, a dosagem de T3 sérico torna-se desnecessária, já que a redução de seus níveis séricos sempre sucede a redução do T4. Hipotireoidismo central O hipotireoidismo central (HC) caracteriza-se por níveis séricos de FT4 baixos, enquanto aqueles do TSH podem estar normais, baixos ou, até mesmo, um pouco elevados (em geral, < 10 mUI/ℓ). Ospacientes com HC apresentam, com frequência, deficiência de outras trofinas hipofisárias. Tratamento O tratamento do hipotireoidismo consiste em geral na administração de levotiroxina ou L-tiroxina (L-T4), em uma dose única diária. HIPERTIREOIDISMO - Caracterizado pelo aumento da síntese e liberação dos hormônios tireoidianos pela glândula tireoide. - A doença de Graves (DG) representa a etiologia mais comum de hipertireoidismo (80% dos casos). Ela possui origem autoimune. DOENÇA DE GRAVES Epidemiologia - Estima-se que afete 3% das mulheres e 0,5% dos homens ao longo de suas vidas. - 5 a 10 vezes mais comum em mulheres do que em homens. - Seu pico de incidência ocorre entre 30 e 60 anos Etiopatogênese A DG é um distúrbio autoimune cujo principal sítio antigênico é o receptor do TSH (TSHR). O hipertireoidismo se origina da produção pelos linfócitos B de anticorpos contra o TSHR (TRAb). Tais anticorpos se ligam ao TSHR e ativam complexos de sinalização das proteínas Gsα e Gq, o que, em última análise, resulta em crescimento da tireoide, aumento de sua vascularização e incremento da taxa de produção e secreção dos hormônios tireoidianos (Figura 30.1).Ao se ligarem ao receptor do TSH, os TRAb vão estimular a síntese e a liberação dos hormônios tireoidianos (T3 e T4), que, por sua vez, exercem retroalimentação negativa sobre a hipófise, mas não sobre os TRAb. Como consequência, surgirá elevação do T3 e T4, associada à supressão do TSH. Fatores predisponentes A DG é poligênica e multifatorial; se desenvolve como resultado de uma interação complexa entre a suscetibilidade genética e fatores ambientais (como danos à tireoide, por radiação ou por injeção de etanol, com a liberação de antígenos tireoidianos na circulação) ou endógenos, o que conduz à perda da tolerância imunológica a antígenos da tireoide e, em particular, ao receptor do TSH. - em alguns pacientes, situações adversas (como privação, aflição, divórcio, perda do emprego etc.) ou, mesmo, programas agressivos de perda de peso antecedem a eclosão da DG. REFERENCIAS: Vilar, L. (2013). Endocrinologia Clínica. 5ª edição. Recurso eletrônico. Gardner, D. G., Shoback, D., & Muñoz, B. R. (2012). Greenspan. Endocrinología básica y clínica. McGraw- Hill Interamericana Editores. GUYTON, A. (2011). Hall JE Tratado de Fisiologia Médica. 12 Edição Douglas S Ross. Diagnosis of and screening for hypothyroidism in nonpregnant adults. UpToDate. 2020.