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Epidemiologia e fisiopatologia A cetoacidose alcoólica ocorre em um paciente que bebeu muito sem se alimentar. A fisiopatologia é baseada na superprodução de β- hidroxibutirato e, em uma menor quantidade, de acetoacetato devido a uma produção aumentada de ácidos graxos livres. O álcool inibe a conversão do lactato em glicose no fígado. A oxidação de etanol aumenta a proporção entre NADH e NAD+ , e favorece a produção de β- hidroxibutirato. A lesão das mitocôndrias provocada pelo álcool pode elevar ainda mais a relação entre β-hidroxibutirato e acetoacetato ao impedir a reoxidação do NADH em NAD. O metabolismo oxidativo do etanol favorece a reação das enzimas desidrogenase a formarem β-hidroxibutirato e lactato (se opondo à produção de glicose). Manifestações clínicas A cetoacidose alcoólica ocorre geralmente após consumo exagerado de álcool. Além disso, pode estar associada a sintomas de abstinência e ao consequente estado hiperadrenérgico. A cetoacidose alcoólica é acompanhada de dor abdominal, vômitos, inanição e depleção de volume. Em contraste com a cetoacidose diabética, o coma é raro. Em geral, os níveis de glicemia estão baixos ou normais, e o nível de insulina frequentemente está baixo, com níveis elevados de glucagon e de cortisol. Alguns pacientes apresentam hiperglicemia em função da resposta aumentada às catecolaminas. Diagnóstico Tipicamente, os pacientes que consomem álcool apresentam gap osmolar elevado (definido pela diferença entre a osmolalidade sérica medida e a calculada). Os níveis sanguíneos de álcool podem ser indetectáveis ou elevados na apresentação do distúrbio. Um indício para o diagnóstico de ingestão tóxica de álcool consiste na presença simultânea de acidose metabólica com aumento de ânion gap e gap osmolar. Esse gap osmolar, se secundário a etanol, deve ser igual à concentração de etanol em miligramas por decilitro dividido por 4,6. Se este cálculo não fornecer o gap esperado com base na concentração de etanol, deve- se suspeitar da ingestão de outro álcool, tal como metanol, isopropanol ou etilenoglicol. A osmolalidade sérica deve ser medida por um osmômetro, o que consiste na determinação da temperatura em que ocorre o congelamento do plasma, e comparadacom a osmolalidade calculada. Se possível, os níveis de etanol, etilenoglicol, Cetoacidose alcoolica propilenoglicol e metanol devem ser diretamente medidos, pois cada um deles está associado à acidose metabólica. Por outro lado, o isopropanol metaboliza-se em acetona e causa cetose sem acidose.