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ANEMIA FERROPRIVA - O TUDÃO 1. Metabolismo do Ferro O ferro corporal está em 50mg/kg no homem e 35 mg/kg. A maior parte do ferro é ligada ao grupo heme da hemoglobina. Um quarto pode ser encontrado nas proteínas ferritina e hemossiderina, os compartimentos armazenadores de ferro, nas células da mucosa intestinal, nos macrófagos, no baço e medula óssea. Outro restante, fica no plasma ligado à transferrina sérica. A apoferritina é uma proteína do fígado, que quando ligada ao ferro forma a ferritina. Ela é a principal proteína do armazém de ferro do organismo, guardando-o ou o mobilizando, quando necessário. Ela é proporcional a quantidade de reservas no organismo, ou seja, conforme aumenta o seu valor, maior será o ferro no organismo. Os níveis de ferritina variam de 20 a 200ng/ml. A hemossiderina é um derivado da ferritina após a proteólise, ela também armazena ferro e o libera de forma mais lenta. A transferrina é responsável pelo transporte de ferro no plasma, é a ligação comum entre os depósitos de ferro e a medula óssea vermelha. 1.1 Ciclo do Ferro - 1.1.1 Absorção e eliminação do ferro Os responsáveis por toda absorção do ferro são o jejuno proximal e o duodeno. O percentual de ferro não ultrapassa 50% da ingesta, inclusive nos que tem anemia ferropriva. Eles sofrem influência do tipo de alimento, de outros alimentos que inibem a absorção, do que o organismo precisa. Os ferros alimentares podem vir na forma heme( alimentos de origem animal) e não heme( alimentos de origem vegetal). Na primeira, absorvemos a forma heme enquanto que na última, absorvemos o íon ferroso. O ferro heme é mais absorvido, por isso as fontes animais são importantes para a oferta de ferro diária. O ferro é mais absorvido na presença de ácido ascórbico( vitamina C), outros derivados animais proteicos e inibido pelos derivados de cereais e derivados do leite. 1.1.2 Regulação da absorção de ferro com as necessidades do organismo O ferro da dieta pode ser incorporado pela ferritina nas células da mucosa intestinal ou ser transportado pela ferroportina e depois ligado à transferrina plasmática. O ferro absorvido pela mucosa só passa para a transferrina e as necessidades dele aumentam. Normalmente, ele vai permanecer ali no interior até a descamação do intestino e eliminado, sendo uma das principais vias de eliminação. A hepcidina é o hormônio que controla a regulação da entrada do ferro, ligando-se à ferroportina, inibindo o transporte de ferro pela membrana basolateral do enterócito em direção ao plasma. Quando temos a hipóxia teremos a diminuição da sua síntese, que a presença ferro e citocinas inflamatórias podem estimular. O ferro da mucosa intestinal ganha a corrente sanguínea com a baixa da hepcidina e vai se ligar à transferrina, que é capaz de chegar aos precursores eritróides da medula óssea devido os seus elevados receptores para a proteína. Quando ocorre da transferrina atingir a medula, há internalizacao do complexo transferrina-ferro-receptor, do qual o ferro se dissocia e a transferrina é retirada da célula para ir pro sangue novamente. A partir daí o ferro pode ser armazenado pela ferritina nas células ou ser captado pelas mitocôndrias e ser transformado no heme. Assim que acontece o segundo fato, ele passa a compor a hemoglobina e circula nas hemácias por 120 dias. A senilidade das hemácias faz com que elas sejam destruídas no baço por fagócitos que liberam as moléculas de hemoglobina e as dissociam em globina e grupo heme. O heme recebe a ação da heme oxigenase, liberando ferro e biliverdina. O ferro desses macrófagos pode ser estocado pela ferritina e hemossiderina deles, ou ser liberado no plasma se ligando à transferrina e ser captado pelos precursores na medula. A hepcidina vai interferir nesse metabolismo, pois pode inibir a liberacao de ferro dos macrófagos para a transferrina. O baço então compõe um compartimento armazenador de ferro. Como não perdemos ferro naturalmente, o sangramento crônico é a principal causa de anemia ferropriva. 1.2 Saturação da Transferrina, TIBC e ferritina - Saturação da transferrina: mostra quantas moléculas de transferrina existem no sangue. É o percentual de todos os sítios da massa de transferrina que o ferro ocupa. Nos indivíduos normais apenas ⅓ de local de ligação de ferro da transferrina é ocupado, 30-40%. - TIBC( Capacidade total de ligação do ferro unido ao ferro sérico): representa de forma indireta a concentração de transferrina sérica. Nele temos os sítios ligados da transferrina, o qual é o ferro sérico e o sítios livres, a qual é a capacidade de fixacao do ferro. - Ferritina: reserva de ferro que pode ser aumentada quanto mais ferro estiver em estoque celular. 2. Etiologia das Anemia Ferroprivas Os quadros carenciais de ferro provocam a anemia, como a menstruação exacerbada ou indivíduos com perda crônica de sangue. Há um balanço negativo do ferro corporal, até que ocorra o consumo de todo estoque de ferro. Entre os quadros importantes podemos destacar: defeitos na absorção( gastrectomia, enteropatias, doença celíaca), baixa ingesta, gestação, hipermenorreia, doação de sangue frequente, verminoses ( Necator americanus e Ancylostoma duodenale), hemorroida, doença péptica ulcerosa e câncer de cólon. A anemia ferropriva em crianças atinge taxas tão altas quanto 50%, o aleitamento materno exclusivo, em crianças a termo impede essa doença. Os PIGS e com baixo peso ao nascer possuem menor estoque de ferro e maior velocidade de crescimento, necessitando de maior aporte de ferro diário. Dos 3 meses até os dois anos, são quando os bebês têm mais tendência a anemia, porque além de ser o momento de pico de crescimento, temos o esgotamento dos estoques do nascimento e o desmame sem suplemento de ferro e fórmulas ou alimentos enriquecidos. 3. Manifestações Clínicas A depleção de ferro ocorre normalmente com assintomatologia. Porém os sinais e sintomas podem ser relacionados à anemia e à ferropenia. 3.1 Sinais relacionados à Anemia Como a instalação é insidiosa, os sintomas são pronunciados depois da cronificação da doença. Eles são: asterina, insônia, palpitações e cefaleia. Pacientes com doenças cardíacas e cerebrovasculares, podem ter angina pectoris, insuficiência cardíaca, dispneia e rebaixamento da consciência. Há palidez cutaneo-mucosa e sopro sistólico de hiperfluxo, aumento do débito cardíaco. 3.2 Sinais e sintomas da ferropenia Os pacientes podem ter glossite( língua despapilada com ardência), queilite angular( lesão nos ângulos da boca), unhas quebradiças e unhas em colher ( coiloníquia). Coloração azulada nas escleras e esplenomegalia pequena com mecanismo desconhecido. Além disso, pode ser apresentada a perversão do apetite, chamada também de pica ou parorexia, com os desejos de comer alimentos com baixo valor nutricional como amido, gelo e terra. A avidez por gelo é a pagofagia. Ainda podemos ter fraqueza muscular, baixa imunidade celular, anorexia e irritabilidade. 4. Diagnóstico Deve ser sempre cogitado no paciente anêmico, devemos pedir o hemograma e o esfregaço do sangue periférico, porém a confirmação do diagnóstico é feita pelo ferro sérico, pela TIBC e pela ferritina sérica. Só lançamos mão do aspirado de medula, quando tivermos dúvida diagnóstica. 4.1 Hemograma O hemograma pode ser composto por duas fases, uma leve e moderada, com índices hematimétricos normais do tipo normocítica e normocrômica, e outra grave com dados para microcítica e hipocrômica. A hemoglobina varia entre 4-11g/dl, o VCM entre 53-93 fl, e o CHCM, entre 22-31 g/dl. Quando o VCm está normal junto com um RDW alterado, sugere a existência de anemia ferropriva e megaloblástica. Ela cursa com trombocitose, devido a infusão do aumento das células mielóides na medula óssea. A leucometria geral está normal. O RDW elevado. O VCM diminuído, que deve diferenciar os diagnósticos de anemia ferropriva ou talassemia. O ferro sérico se apresenta diminuído e aumenta após a reposição oral, imediatamente. Nas talassemias ou anemia sideroblástica, elese apresenta normal ou elevado. A ferritina sérica, é o primeiro parâmetro que altera a anemia ferropriva para baixo. O TIBC varia de acordo com os valores de transferrina sérica e se encontra elevado, devido ao aumento da transferrina produzida pelo fígado, na anemia ferropriva os valores ficam acima de 360 mg/dl e na anemia de doença crônica podem chegar até 300 mg/dl. O valor de saturação de transferrina abaixo de 15% são consistentes para o diagnóstico de anemia, porém na doença crônica também ocorre uma ferritina baixa. 4.2 Hematoscopia O início vem com anisocitose, com a piora da anemia temos microcitose e hipocromia. A poliquilocitose é um achado que acompanha uma anemia grave, a anemia ferropriva combina mais com anisopoiquilocitose. 4.3 Aspirado de medula Na anemia ferropriva não há presença de qualquer ferro, enquanto que na anemia de doença crônica podemos ver o aumento dos depósitos de ferro medular, diferenciando-as quando não é possível com o testes sanguíneos. 5. Tratamento A terapia dietética não tem valor algum quando empregada na anemia ferropriva, devido à baixa biodisponibilidade do ferro nos alimentos. A dose recomendada para correção da anemia ferropriva é de 60 mg de ferro elementar, de três a quatro vezes ao dia. Nas crianças, os dados são de 5mg/kg/dia. Ele é melhor absorvido em 1-2h antes das refeições associado à vitamina C ou suco de laranja. Os efeitos colaterais são náuseas, vômitos, desconforto epigástrico e diarreia. A resposta ao tratamento é observada pela contagem de reticulócitos, que tem seu pico nos primeiros dias, 5-10. A reposição de ferro deve durar até 12 meses até que se normalize o hematócrito, restabelecendo os estoques. O controle deve ser feito por meio da ferritina sérica até que ela atinja valores maiores que 50 ng/ml. Nas crianças recomenda-se 3-4 meses de terapia de reposição ou dois meses depois que a hemoglobina normalizou.
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