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APOSTILA-DIREITO-PENAL-LEBRE

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APOSTILA DIREITO PENAL – PARTE GERAL 
CURSO JURÍDICO 
 
01. NOÇÕES PRELIMINARES DE DIREITO PENAL 
 
1.1. Conceito: doutrinariamente entende-se que o Direito Penal é o conjunto de conhecimentos e 
princípios ordenados metodologicamente, de modo a tornar possível a elucidação do conteúdo das 
normas de conteúdo penal e dos institutos em que elas se agrupam, com vista à sua aplicação aos 
casos concretos, segundo critérios rigorosos de Justiça. 
 
1.2. Missão: sua função primordial é a de proteger bens jurídicos imprescindíveis ao convívio social 
(por exemplo: a vida, a honra, o patrimônio, a dignidade sexual, a administração pública, etc.). 
 
1.3. Princípios do Direito Penal: os princípios figuram como pilares estruturantes de determinado 
ramo do saber jurídico, servindo-lhe não apenas de base, mas também de instrumento de 
orientação. 
Neste tocante, levando-se em conta a função garantista trazida pela Carta Magna de 1988, é 
possível delinear que todos os princípios que regem o Direito Penal são extraídos (direta ou 
indiretamente) do próprio texto constitucional. Nada obstante, é certo que alguns deles encontram-se 
também positivados na legislação penal. 
Os mais relevantes princípios penais são os seguintes: 
 
a) legalidade: é o princípio reitor do Direito Penal, do qual se extraí vários outros princípios. 
Consagra-se na máxima prevista no art. 5º, inciso XXXIX, da CF/88 e no art. 1º do Código Penal: 
 
Art. 1º do CP - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem 
prévia cominação legal. 
 
b) intervenção mínima e fragmentariedade: o Direito Penal, por ser demasiado rigoroso, não pode 
intervir sempre, mas apenas em último caso (“ultima ratio”) e apenas para proteger os bens jurídicos 
mais relevantes para determinada sociedade (ou seja, não deve proteger todos os possíveis bens 
jurídicos). 
 
c) lesividade: por este, entende-se que o Direito Penal só deve intervir quando há lesão (real ou 
potencial) à bem jurídico de outrem. Deste modo, entende-se que a autolesão e o pensamento são 
criminalmente impuníveis. 
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d) culpabilidade: é o fundamento e o critério de balizamento da pena criminal. Nestes termos, um 
cidadão só poderá ser criminalmente sancionado se constatada a culpabilidade. 
 
e) pessoalidade: também conhecido como intransferência, encontra expresso assento no art. 5º, 
inciso XLV da Constituição de 1988: 
 
Art. 5º, XLV da CF/88 - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, 
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens 
ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, 
até o limite do valor do patrimônio transferido. 
 
f) individualização: este princípio orienta a construção dos ditames penais e também a dosimetria 
da pena, pois cada caso tem suas particularidades, razão pela qual cada situação merece uma 
sanção única, conforme indica o art. 5º, inciso XLVI da Constituição de 1988: 
 
Art. 5º, XLVI da CF/88 - a lei regulará a individualização da pena e adotará, 
entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de 
bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de 
direitos. 
 
g) proibição do “bis in idem”: fruto da legalidade penal e da segurança jurídica, tal princípio se 
extrai também dos art. 8° e art. 42 do CP, bem como do Pacto de São José da Costa Rica, ratificado 
pelo Brasil por meio do Decreto n.º 678 de 1992. Em resumo, indica que ninguém pode ser 
duplamente punido por um mesmo caso. 
 
h) humanização: em todas as relações penais, deve-se respeitar a dignidade da pessoa humana, 
conforme prevê o art. 3º, inciso III da Constituição de 1988. 
 
i) insignificância: nominado por alguns sob a alcunha de “bagatela”, consagra que as condutas 
devem ser consideradas atípicas se não gerarem efetiva lesão a determinado e relevante bem 
jurídico tutelado. Tal princípio tem como premissa a ideia de que a irrelevância da lesão em alguns 
casos não justifica a utilização da máquina punitiva estatal. 
A insignificância tem a missão de ajustar a aplicação da lei penal perante os casos concretos, 
evitando a desnecessária atuação criminal para a proteção de certos bens que, por inexpressivos, 
não merecem a atenção do legislador penal. 
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Mas vale uma observação: é somente diante do caso concreto que se poderá verificar a 
possibilidade ou não da incidência deste princípio. E para balizar o aplicador do direito nesta análise 
o Supremo Tribunal Federal acabou assentando jurisprudência delimitando os requisitos necessários 
para o reconhecimento da insignificância. São eles: 1º) Mínima ofensividade da conduta; 2º) 
Ausência de periculosidade; 3º) Reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; 4º)
 Inexpressividade da lesão jurídica. 
 
j) adequação social: esse princípio indica que apesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal 
(tipo formal), não deverá ser considerada materialmente típica se for socialmente adequada, 
tolerável ou reconhecida. 
Ou seja, se a conduta estiver de acordo com a ordem social historicamente condicionada, não se 
verifica um desvalor de resultado na conduta do agente, como ocorre, por exemplo, em casos de 
lesões desportivas, intervenções cirúrgicas com fins terapêuticos, circuncisão judaica, etc. 
Sobre o tema, é importante destacar o teor da Súmula 502 do STJ, a qual impede a aplicação deste 
princípio para o crime de violação de direitos autorais: “Presentes a materialidade e a autoria, 
afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art. 184, § 2º, do CP, a conduta de expor à venda 
CDs e DVDs piratas”. 
 
1.4. Estrutura legislativa do Direito Penal: dada a relevância da legalidade para este ramo do 
saber jurídico, é possível delimitar que os ditames penais podem estar dispostos em dois 
instrumentos: 
 
a) No Código Penal: o qual é dividido em parte geral (que contempla a estrutura central do Direito 
Penal – art. 1º a 120 do CP) e parte especial (que trata dos crimes em espécie – art. 121 a 359 do 
CP). 
 
b) Nas Leis Penais Especiais: fala-se aqui da legislação extravagante, com viés complementar, que 
disciplina temas específicos da ciência penal; a título meramente exemplificativo: a Lei das 
Contravenções Penais (Decreto-lei 3.688/76), a Lei de Drogas (Lei 11.343/06), a Lei dos Crimes 
Hediondos (Lei 8.072/90), a Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605/98), o Estatuto do Desarmamento 
(Lei 10.826/2003), a Lei de Tortura (Lei 9.455/97), a Lei dos Crimes Organizados (Lei 12.850/13), 
dentre outras. 
 
02. TEORIA DA NORMA 
 
2.1. ESPÉCIES DE NORMAS PENAIS 
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De acordo com tradicional classificação doutrinária, as normas penais podem ser classificadas em 
duas perspectivas: as incriminadoras e as não-incriminadoras. 
As primeiras são aquelas que descrevem uma infração penal e sua respectiva sanção. Por 
exemplo: o art. 121 do CP descreve a figura típica “matar alguém” (conduta proibida) e a pena 
aplicável no caso de infringência da norma (reclusão de 6 a 20 anos). Tais normas possuem dois 
preceitos: o preceito primário (que é a parte em que se define a infração) e o secundário (que é parte 
na qual se estabelece a sanção). 
Por outro lado, as normas penais não-incriminadoras são aquelas que descrevem apenas formas 
de aplicação da pena, procedimentos, critérios ou meras explicações.Estas, ao seu turno, podem 
ser subdivididas em: 
a) Normas Permissivas: aquelas que prevêem uma causa excludente do crime (ex: o art. 23 do 
CP). 
 
b) Normas Explicativas: aquelas que conceituam ou explicam o significado de algo (ex: o art. 
327 do CP traz o conceito de funcionário público para fins penais). 
 
c) Normas Complementares: que tem a função de complementar outra norma (ex: o art. 59 do 
CP, que fala das circunstâncias judiciais, complementa o art. 68 do CP, que estabelece o critério 
trifásico para a aplicação da pena). 
 
E é exatamente dentro desta perspectiva que se pode falar em normas penai em branco e tipos 
penais abertos; são exemplos de normas incriminadoras cujo preceito primário é imperfeito. Ou seja, 
para que se possa ter pleno conhecimento de sua carga proibitiva, é necessário que alguém as 
complemente de alguma forma. 
Segundo entendimento doutrinário predominante, a norma em branco é aquela em que a 
descrição da conduta punível se mostra incompleta ou lacunosa, necessitando de outro dispositivo 
legal para a sua integração ou complementação (ex: como ocorre com o crime de peculato do art. 
312 do CP, cujo complemento é ofertado pelo art. 327 do CP). Já o tipo aberto é aquele que 
descreve apenas parte da ação proibida, e que deve ser completado pelo julgador diante do caso 
concreto (ex: o crime de ‘ato obsceno’ do art. 233 do CP). 
Anote-se, por fim, que é possível distinguir duas subespécies de normas penais em branco: as 
homogêneas (também conhecidas como impróprias, homólogas ou normas penais em branco em 
sentido lato) e as heterogêneas (também conhecidas como próprias, heterólogas ou normas penais 
em branco em sentido estrito). 
As primeiras são aquelas em que o complemento é oriundo de uma mesma fonte legislativa (ex: o 
art. 339 do CP depende do conceito de investigação policial, o qual só é ofertado pelo art. 4º do 
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CPP). Já as heterogêneas são aquelas em que a complementação é oriunda de fonte diversa da 
que editou a norma a ser complementada (ex: art. 33 da Lei de Drogas, que só se complementa com 
a Portaria SVS/MS 344 de 1998, da ANVISA). 
 
2.2. APLICAÇÃO DA LEI PENAL 
 
2.2.1. NO TEMPO (questão central: na hipótese de sucessão temporal, qual lei deve ser aplicada?). 
 
-Regra: o tempo rege o ato (art. 2º, caput, do CP e art. 5°, inciso XL da CF/88). 
*Atenção! Em relação ao tempo do crime, aplica-se a “Teoria da Atividade” (art. 4º do CP). 
 
-Exceção: “novatio legis in melius” (art. 2°, §único do CP). 
 
*Atenção! Quanto ao tema, algumas questões poderão ser objeto de cobrança nas provas. 
Vejamos: 
*Súmula 611 do STF: “Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das 
execuções a aplicação de lei mais benigna”. 
*Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime 
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. 
*Leis Temporárias e Leis Excepcionais: estas leis, segundo disposição do art. 3º do CP, não 
retroagem nunca. 
 
2.2.2 NO ESPAÇO (questão central: em qual hipóteses devo aplicar lei penal brasileira?) 
 
-Regra: princípio da territorialidade (art. 5º do CP). 
 
*Questão! O que se considera território brasileiro para fins penais? 
Art. 5º CP - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito 
internacional, ao crime cometido no território nacional; § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se 
como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública 
ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as 
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no 
espaço aéreo correspondente ou em alto-mar; § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes 
praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se 
aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em 
porto ou mar territorial do Brasil. 
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*Atenção! Quanto ao lugar do crime, adotamos a “Teoria da Ubiquidade” – art. 6º do CP. 
 
-Exceção: extraterritorialidade (art. 7º do CP). 
Art. 7º CP - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a 
fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, 
sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a 
administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro 
ou domiciliado no Brasil; 
II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por 
brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade 
privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. 
 
*Atenção! Art. 2º da Lei 9.455/97 - “O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha 
sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local 
sob jurisdição brasileira”. 
 
2.3. CONFLITO APARENTE DE NORMAS 
O conflito aparente de normas penais ocorre quando, para um mesmo fato, se verifica a 
possibilidade de aplicar (ao menos em tese) mais de uma disposição da lei penal. Ocorre que um 
mesmo fato concreto não pode estar enquadrado em várias figuras típicas, sob pena de se 
possibilitar uma dupla e indevida punição ao réu (o vedado bis in idem). 
Assim, em tais casos, é necessário decifrar qual será a única norma aplicável à hipótese fática. E 
para isso, existe uma série de critérios que orientarão o juiz na resolução do conflito: 
 
a) Princípio da Especialidade: quando se verifica um conflito entre duas normas, sendo uma delas 
geral (genérica) e a outra específica (norma especial), deve prevalecer esta última. 
 
b) Princípio da Subsidiariedade: quando se verifica a impossibilidade de aplicação de uma norma 
principal, mais grave, permite-se a aplicação de uma norma penal menos grave que lhe é subsidiária 
(a qual funciona, pois, quase que como uma “norma de reserva”). 
 
c) Princípio da consunção (absorção): quando se verifica o conflito entre uma conduta mais e outra 
menos grave, deve prevalecer a primeira, que acaba abarcando (englobando) esta última. 
 
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*Atenção! Quanto ao tema, inclusive, vale destacar o teor exemplificativo ofertado pela Súmula 17 
do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este 
absorvido”. 
 
2.4. COMBINAÇÃO DE LEIS PENAIS 
Quando o intérprete, verificando que uma lei nova favorece o agente em determinado aspecto, mas 
o prejudica em outro, pode aplicar somente a parte benéfica e ignorar a outra? É esta a questão que 
se busca responder com o tema combinação de leis penais. 
Os críticos dizem que não é possível a combinação de leis penais, pois se o Juiz fizer isso ele estará 
inovando a legislação (criando uma nova lei), e tal seria um afronte ao princípio da legalidade (art. 
5º, XXXIX da CF/88). Por outro lado, há quem diga que é sim viável a combinação de leis penais, e 
o principal argumento segue no sentido de que: se o juiz pode retroagir o todo, não impede que ele 
retroaja só uma parte; ademais, entendem que a retroatividade de dispositivo mais benéfico é 
assegurada pelo art. 5°, XL da CR/88. 
 
*Atenção! Quanto ao tema, relevante o teor da Súmula 501 do STJ - “É cabível a aplicação retroativada Lei 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais 
favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei 6.368/1976, sendo vedada a combinação de 
leis”. 
 
2.5. PENA NO ESTRANGEIRO E DUPLICIDADE DE JULGAMENTO 
Nos termos do art. 8° do CP, a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo 
mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Tal ideia visa evitar a dupla 
punição (o “bis in idem”). 
 
2.6. EFICÁCIA DA SENTENÇA ESTRANGEIRA 
Sobre o tema, o art. 9° do CP estabelece que a sentença estrangeira, quando a aplicação da lei 
brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para dois 
fins: I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; II - sujeitá-lo 
a medida de segurança. 
 
2.7. CONTAGEM DOS PRAZOS E FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS 
O tema está disciplinado no art. 10° do CP, que delimita que a contagem segue o calendário comum 
(que é o gregoriano). 
Na contagem, inclui sempre o primeiro dia e excluí o último dia. Tem-se ainda, que se o prazo 
final cair em um sábado, domingo ou feriado, tal prazo deve retroagir ao último dia regular anterior 
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(exemplo: se cair em um sábado, o último dia será a sexta-feira). 
Por fim, cabe anotar que a contagem no processo penal não segue a mesma lógica do direito 
penal material. 
 
03. TEORIA DO DELITO 
 
3.1. CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME 
Inicialmente, vale destacar que a nomenclatura mais adequada para se empregar seria teoria do fato 
punível (enquanto gênero; sinônimo de infração penal). Ou seja, todo aquele que infringe uma norma 
penal comete um fato punível, sendo espécies deste: os “crimes” (ou delitos) e as “contravenções 
penais” (disciplinadas no Decreto n.º 3.688/41 – a LCP). 
Assim, tem-se que o Código Penal, ao fazer a distinção entre crimes e contravenções, adotou um 
critério dicotômico (art. 1º da LICP): “considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de 
reclusão ou detenção; contravenção, a infração a que a lei comina pena de prisão simples”. 
É de se ver que existem várias definições analíticas para o fato punível, dentre as quais, destaca-se 
a concepção tripartite: crime seria um fato típico, antijurídico e culpável. 
 
3.2. O FATO TÍPICO 
 
3.2.1. Noções gerais: 
O primeiro elemento analítico do crime é a tipicidade. Dentro desta perspectiva, é possível 
verificar que ela é composta de quatro elementos: (i) Conduta Humana; (ii) Resultado; (iii) Nexo 
Causal; e (iv) Adequação Típica (tipo legal); os quais serão minuciosamente analisados a seguir. 
 
3.2.2. Conduta Humana 
-Delimitação e teorias: 
O conceito de conduta humana depende da teoria adotada pelo ordenamento jurídico em dado 
momento histórico. Hoje, prevalece a Teoria finalista, que concebe que a conduta é uma ação ou 
omissão, voluntária e consciente, direcionada a determinado fim (WELZEL). 
Desta feita, sendo uma vontade finalística que rege o curso causal, tem-se que a conduta se 
desenvolveria em duas partes: (1ª etapa) na esfera subjetiva, enquanto antecipação do fim a ser 
realizado, seleção dos meios para consecução e consideração sobre os efeitos; (2ª etapa) e na 
esfera objetiva, consagrada na execução da conduta no mundo real. 
 
-Hipóteses que afastam a conduta: 
Partindo do pressuposto que a conduta humana é composta de três elementos (vontade + 
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consciência + finalidade), é possível arrolar algumas causas que afastam a conduta. São elas: 
(1ª) Coação física irresistível: casos em que o agente fica materialmente à mercê de outrem. 
(2ª) Caso fortuito: trata-se de um fato imprevisível ao agente. 
(3ª) Força maior: são considerados atos da natureza, razão pela qual não há que se falar em 
conduta humana. 
(4ª) Atos reflexos: também conhecido como força física interna irresistível, conformam uma 
resposta neuromotora a estímulos interiores ou exteriores, sem intervenção cerebral. 
(5ª) Estados de inconsciência: os quais, como o próprio nome está a indicar, carecem da 
consciência do agente. 
 
-Formas de conduta: 
Por fim, resta observar que existem duas formas de conduta (ação e omissão), as quais geram 
duas espécies de crimes: os comissivos e os omissivos. 
i. Crimes comissivos: consagram um comportamento positivo do agente. Ou seja, pressupõe 
um fazer, um obrar, uma ação. 
ii. Crimes omissivos: consagram um comportamento negativo do agente. Ou seja, pressupõe 
um “não-fazer”, uma abstenção, uma omissão. Estes, ao seu turno, podem ser subdividos em 
omissivos próprios e omissivos impróprios. 
Os omissivos próprios são aqueles em que o dever jurídico de agir está contido na própria 
definição do tipo. Já os omissivos impróprios (também conhecidos como “comissivos por omissão” 
ou “omissivos impuros”) são aqueles em que o dever de agir não decorre diretamente do tipo legal, 
mas sim de uma posição de garante em que o sujeito foi alçado diante de uma situação concreta, 
nos termos do art. 13, §2° do CP: por dever legal, por dever contratual ou por ingerência. 
 
3.2.3. Resultado 
 
- Delimitação geral: 
Como visto anteriormente, somente interessa ao Direito Penal as condutas que geram ou podem 
gerar lesão à bem jurídico tutelado (princípio da lesividade). A teoria adotada pelo legislador penal 
brasileiro para tratar do tema (ao menos como regra) foi a “Teoria Naturalística”: resultado é a 
modificação no mundo dos fatos. 
Nada obstante, cabe observar que existem algumas figuras delitivas em que o resultado 
naturalístico simplesmente não ocorre, e ainda assim a conduta criminosa existe e é punível (como 
ocorre, por exemplo, nos delitos de mera conduta e nos formais). Nestas hipóteses, fala-se da 
adoção de outra teoria (como exceção) para justificar o tema: a “Teoria Normativa”, pois o resultado 
ocorre apenas no plano jurídico, não no mundo real. 
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- Classificação: 
Como visto anteriormente, a doutrina penal costuma classificar os crimes de acordo com o 
resultado em três perspectivas: (1) crimes materiais (ex: homicídio, furto, roubo, estupro, etc.); (2) 
crimes formais (ex: extorsão mediante sequestro); (3) crimes de mera conduta (ex: porte ilegal de 
arma de fogo, omissão de socorro, etc.). 
 
3.2.4. Nexo Causal 
- Conceituação: 
Vínculo que liga o comportamento humano à modificação no mundo exterior .É a correlação entre 
a conduta de alguém e o resultado que ela produziu. 
Sobre o tema, a doutrina traz várias teorias que tentam explicar este vínculo especial, dentre as 
quais se destacam as seguintes: 
a) Teoria da Causalidade Adequada: entende que causa é a condição mais adequada para 
produzir o resultado (KRIES). 
b) Teoria da Causa Eficiente: entende que causa é a condição da qual depende a qualidade do 
resultado (MEZGER). Alguns doutrinadores a intitulam como “teoria da relevância” (causa é a 
condição relevante para o resultado). 
c) Teoria da Imputação Objetiva: a causa depende da criação de um perigo juridicamente 
desaprovado (ROXIN/JAKOBS). Nesta teoria, a preocupação primária não é saber se o agente 
agiu com dolo/culpa (embora sua análise seja também necessária), mas sim se o resultado 
previsto na parte objetiva do tipo por ou não ser imputado a ele. Assim, de acordo com esta 
teoria, não se pode imputar ao agente o resultado decorrente da prática de um risco permitido, 
ou mesmo para aquele que atue visando a redução de um risco não permitido. 
d) Teoria da Equivalência dos Antecedentes: para esta teoria, causa é toda ação ou omissão 
sem a qual o resultado não teria ocorrido (VONBURI). Ou seja, tudo o que concorre para a 
produção do resultado é a sua causa. 
*Observa-se que o nosso Código Penal adotou a “Teoria da Equivalência dos Antecedentes”. 
 
- Concausas: 
É toda causa adjacente, que concorre com uma principal, contribuindo para a produção do 
resultado. Estas, segundo delimitação doutrinária, podem ser divididas em duas categorias 
principais: as dependentes e as independentes (as quais, por sua vez, podem ser absolutas ou 
relativas). Vejamos: 
1. Dependentes: aquelas que se encontram dentro da linha de desdobramento natural da conduta 
(ex: a hemorragia provocada pela ação perfuro-cortante de uma facada). Nestes casos, por óbvio, o 
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agente responsável pela conduta principal responderá pelo resultado produzido como um todo (ou 
seja, pelo crime em sua modalidade consumada). 
2. Independentes: são aquelas que, por si só, poderiam provocar o resultado. Ou seja, não se 
incluem no desdobramento natural da conduta principal. 
*Atenção! Sobre o tema, deve-se dar atenção às hipóteses de superveniencia causal – art. 13, 
§1° do CP. 
 
3.2.5. Tipo legal 
- Conceito e delimitação: 
O tipo é a forma máxima de concretização do princípio da legalidade na esfera penal, pois 
expressa a descrição abstrata de um fato real que a lei penal proíbe ou exige. Assim, seguindo os 
ensinamentos da doutrina, tem-se que o tipo penal é a adequação, objetiva e subjetiva, formal e 
material, da conduta humana a uma norma penal. 
 
- Composição do tipo: 
Toda figura típica é composta de alguns elementos, que podem ser essenciais ou não à sua 
caracterização. Nesta perspectiva, tem-se a seguinte divisão: 
1. Elementares do tipo: descrevem o tipo fundamental (aquilo que é imprescindível para a 
formatação da figura incriminada). E estes, ao seu turno, são os seguintes: 
(a) Elementares objetivas: aqueles que descrevem o conteúdo proibitivo de uma norma; 
aqueles cujo significado se extrai da mera observação, não demandando juízo de valor. 
(b) Elementares normativas: aqueles que demandam um juízo de valor do intérprete. Somente 
com uma valoração se consegue alcançar o seu sentido ou significado. 
(c) Elementares subjetivas: é o elemento psíquico/anímico inerente ao tipo legal, o qual diz 
respeito à intenção do agente (é aí que se fala em dolo, culpa e elementos subjetivos diversos 
do dolo). 
2. Circunstâncias do tipo: são todos os dados acessórios da figura típica, não elementares, cuja 
ausência não elimina a tipicidade da conduta. Sua função é, basicamente, influir na fixação da pena. 
 
- Tipos dolosos e culposos: 
Como visto, dolo e culpa são elementos subjetivos do tipo legal. Sem eles, não é possível dizer 
que a conduta de alguém é criminosa. E vale anotar que este é um tema de especial importância 
para os concursos de Defensor (várias questões abordam esta temática). Vejamos então algumas 
particularidades sobre os tipos dolosos e culposos: 
(A) Tipos Dolosos: 
Dolo é a vontade de concretizar as circunstâncias objetivas da figura típica (art. 18, I do CP). 
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Segundo entendimento doutrinário, ele constitui elemento subjetivo implícito a todo tipo legal. 
Entende-se que o dolo é composto dos seguintes elementos: (1) o elemento cognitivo (conhecer); e 
(2) o elemento volitivo (querer). 
Ademais, a doutrina concebe algumas espécies de dolo (verdadeiras classificações). Assim, fala-
se em dolo direto ou dolo indireto. 
No dolo direto, o sujeito visa certo e determinado resultado; este, ao seu turno, pode ser 
subdividido em: direito de primeiro grau (“quer e faz”) e direito de segundo grau (é o “dolo de 
consequências necessárias”). Já no dolo indireto, a vontade do sujeito não se dirige a certo e 
determinado resultado; este, por sua vez, se apresenta de duas formas: dolo alternativo (quando a 
vontade do sujeito se dirige a um ou outro resultado (existem vários desejos - ex: quer lesionar ou 
matar, tanto faz, qualquer um satisfaz o agente) e o dolo eventual (ocorre quando o sujeito admite a 
aceita o risco de produzir o resultado; isto é, antevê o resultado como possível e assume o risco de 
produzi-lo). 
 
(B) Tipos culposos: 
A culpa diz respeito à inobservância do dever de cuidado e diligência (art. 18, II do CP). A todos 
no convívio social, é imposta a obrigação de realizar condutas de forma a não produzir danos a 
terceiros (é o denominado “cuidado objetivo”). 
A conduta torna-se típica a partir do instante em que não se tenha manifestado o cuidado 
necessário nas relações com outrem. Assim, são elementos do fato típico culposo: (1) a conduta 
humana e voluntária, de fazer ou não fazer; (2) a inobservância do cuidado objetivo manifestada 
através da imprudência, negligência ou imperícia; (3) a previsibilidade objetiva, e a ausência de 
previsão; (4) o resultado involuntário; (5) o nexo de causalidade; (6) e a tipicidade. 
A quebra de um dever de cuidado pode ser gerada por três perspectivas distintas: 
FORMAS DE CULPA 
NEGLIGÊNCIA É a ausência de precaução ou indiferença em relação 
ao ato realizado ;é sinônimo de desleixo, e está 
diretamente ligada à inércia do agente. 
IMPRUDÊNCIA É a prática de um fato perigoso ;é agir sem cautela, 
sem a atenção necessária. 
IMPERÍCIA É a falta de aptidão para o exercício da conduta. 
 
Ademais, destacam-se duas espécies de culpa (classificações): a culpa consciente e a culpa 
inconsciente. Na primeira, o resultado é previsto pelo sujeito, que espera levianamente que o mesmo 
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não ocorra ou que possa evitá-lo. Já na culpa inconsciente o resultado não é previsto pelo agente, 
embora fosse previsível; esta seria a culpa propriamente dita, que se manifesta pela imprudência, 
negligência ou imperícia. 
Veja então que a culpa inconsciente distingue-se da consciente no que diz respeito à previsão do 
resultado: naquela, embora o resultado seja previsível, não foi previsto pelo agente; nesta, o 
resultado é previsto, mas o agente acredita sinceramente que não será responsabilizado, por confiar 
em suas habilidades pessoais. 
*Atenção! Sobre o tema, lembrar que a culpa é uma exceção (Art. 18, único do CP). Lembrar 
ainda que existem crimes “preterdolosos”. 
 
3.3. ANTIJURIDICIDADE 
3.3.1. Delimitação: 
Antijuridicidade é a qualidade de um comportamento não autorizado pelo Direito. É a 
contrariedade que se estabelece entre um fato típico e o ordenamento penal como um todo. Assim, 
dizer que um fato é antijurídico é afirmar que ele é ilícito (são sinônimos). 
Nada obstante, vale observar que nem toda a conduta típica será também antijurídica. Isso 
porque, por mais que a conduta esteja expressamente proibida por um tipo legal, se ela estiver 
autorizada ou mesmo fomentada por outra norma jurídica, não se pode falar em ilicitude. Ou seja, se 
a conduta estiver amparada por uma causa de exclusão da antijuridicidade (se ela estiver justificada) 
não haverá crime, por ausência de ilicitude. 
 
3.3.2. Causas de Exclusão da Antijuridicidade: 
As causas de exclusão da ilicitude podem ser de duas ordens: fala-se em causas legais (quando 
previstas expressamente em lei – como ocorre com as hipóteses do art. 23 do CP) e causas 
supralegais (quando advém de construção doutrinária ou jurisprudencial). Vejamos então algumas 
particularidades sobre as principais figuras: 
 
(a) Estado de Necessidade: 
Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não 
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, 
nas circunstâncias, não era razoável exigir-se (art. 24 do CP). 
 
(b) LegítimaDefesa: 
Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele 
injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem (art. 25 do CP). 
 
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 (c) Estrito Cumprimento do Dever Legal: 
Casos em que a Lei obriga um agente público a realizar condutas, dando-lhe poderes até para 
praticar fatos típicos para a execução das mesmas (art. 23, III, primeira parte do CP). 
 
(d) Exercício Regular de Direito: 
Entende-se que todo aquele que exerce um direito assegurado pelo ordenamento jurídico, não 
atua de forma ilícita (art. 23, III, parte final do CP). 
 
(e) Consentimento do ofendido: 
Casos em que o titular do bem jurídico protegido consente validamente com a lesão de seu bem. 
Ou seja, é a renúncia à proteção do bem jurídico. 
Trata-se de uma causa supralegal, pois não possui amparo legislativo (é criação doutrinária, 
também aceita na jurisprudência pátria). Mas para que o consentimento opere efeitos jurídicos 
válidos, é imprescindível que ele recaia sobre bem disponível, que o consentimento seja válido e 
ofertado prévia ou concomitantemente com a conduta típica do agente. 
 
3.3.3. O excesso nas excludentes: 
Segundo expressa delimitação do CP, uma justificadora perde sua natureza (deixa de ser uma 
causa excludente da ilicitude) quando o agente se excede no comportamento. Ou seja, quando ele 
passa dos limites da norma permissiva. 
 
3.3.4. O erro na causa de justificação: 
Veremos no próximo capítulo que o agente pode pressupor, equivocadamente, que está 
amparado por uma causa excludente da ilicitude. Nestes casos, não se falará em exclusão da 
ilicitude propriamente dita (pois não há uma verdadeira excludente da antijuridicidade), mas poderá 
haver a exclusão do crime por outros fatores (pela própria tipicidade ou então pela culpabilidade, 
consoante se verá adiante). É o que se chama de “descriminantes putativas”. 
 
3.4. CULPABILIDADE 
3.4.1. Conceito e teorias: 
A culpabilidade, hoje, é concebida como sendo o juízo de reprovação que recai sobre a conduta 
do sujeito que tem ou pode ter a consciência da ilicitude do ato e de atuar conforme as normas 
jurídico-penais. 
 
3.4.2. Elementos e excludentes da culpabilidade: 
Para que recaia o juízo de reprovação sobre a conduta do agente, é necessária a junção de três 
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elementos (cumulativos). São eles: imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade 
de conduta diversa. 
 
(A) Imputabilidade: 
É a possibilidade de atribuir a alguém a responsabilidade por algo. Diz respeito à capacidade 
mental do indivíduo em entender os seus atos e de se comportar conforme este entendimento. 
Dito isso, é possível anotar as seguintes causas de inimputabilidade: 
a) Menoridade: segundo expressa delimitação do art. 27 do CP e art. 228 da CF/88, os 
menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas 
estabelecidas na legislação especial (no Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069/90). 
b) Doença mental: define-se doutrinariamente como uma alteração mórbida da saúde mental 
do indivíduo, e independe de sua causa originária. Em tais casos fala-se de uma “absolvição 
imprópria”, pois embora o sujeito não receba uma pena, poderá receber uma medida de 
segurança (art. 96 do CP). 
c) Desenvolvimento mental incompleto: pessoas que possuem uma tábua de valores 
diferenciada (como ocorre com o indígena não adaptado), não podem ser reprovadas pelo 
nosso Direito Penal, razão pela qual são tidas como inimputáveis. 
d) Embriaguez: é a intoxicação (aguda ou transitória) provocada pela ingestão de substâncias 
alcoólicas ou entorpecentes. Ocorre que não é qualquer espécie de alcoolemia que provoca a 
inimputabilidade. Assim, somente se for completa e acidental é que se afasta a reprovação da 
conduta – nos termos do art. 28, inciso II, §1° do CP e também art. 45 da Lei 11.343/06. 
 
(B) Potencial Consciência da Ilicitude: 
Trata-se da possibilidade de o agente poder conhecer o caráter ilícito de sua conduta ou não. 
Assim, só será possível recair o juízo de reprovação quando o indivíduo age com conhecimento de 
que sua conduta é ilícita; afinal, se o agente não tiver o necessário conhecimento da proibição, não 
cabe o juízo de reprovação. 
E a potencial consciência da ilicitude pode ser afastada numa hipótese: em alguns casos de “erro 
de proibição” do art. 21 do CP (que veremos adiante). 
 
(C) Exigibilidade de Conduta Diversa: 
Entende-se que só é possível reprovar a conduta de um agente se lhe for exigível, na situação em 
que se encontrava, uma postura diversa da que tomou. Assim, há situações em que o Direito deixa 
de reprovar a conduta do agente, por se tratar de algo que qualquer um faria em situação análoga: 
fala-se então em “inexigibilidade de conduta diversa”, cujas hipóteses estão previstas no art. 22 do 
CP. São elas: 
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a) Coação moral irresistível: nestes casos, o sujeito é vítima de uma pressão psíquica oferecida 
por outrem (grave ameaça), razão pela qual fica isento de pena. Nestes casos, só se pune 
quem exerceu a coação. 
 
b) Obediência hierárquica: casos em que há uma ordem revestida de caráter criminoso, 
emanada de autoridade hierarquicamente superior. 
 
Nestes casos, só se pune o autor da ordem (e não quem a obedeceu). 
E segundo doutrina majoritária, tal hipótese está diretamente ligada a relações hierárquicas de 
Direito Público, razão pela qual não se aplicaria aos particulares (pois o tipo não se refere à 
subordinação existente nas relações privadas entre patrão e empregado.). 
 
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3.5. TEORIA DO ERRO 
 
3.5.1. ERRO DE TIPO 
Previsto no art. 20, caput do CP, o erro de tipo ocorre quando o sujeito supõe a ausência de 
elemento ou circunstância do tipo incriminador (por isso a doutrina o batiza de “erro de tipo 
incriminador”). Há, portanto, uma falsa percepção da realidade fática (o agente erra sobre o próprio 
fato). 
E de acordo com as particularidades do caso, o erro de tipo pode ser essencial ou acidental. 
Vejamos cada uma destas perspectivas: 
 
i. Erro de Tipo Essencial: ocorre quando a falsa percepção impede o sujeito de compreender a 
natureza criminosa do fato praticado. Apresenta-se sob duas formas: 
a) Erro vencível (“evitável ou inescusável”): quando poderia ser evitado pela diligência ordinária 
do agente. 
b) Erro invencível (“inevitável ou escusável”): quando não pode ser evitado pela normal 
diligência do agente. 
 
ii. Erro de Tipo Acidental: não versa sobre elementares do crime, mas sim sobre dados 
circunstanciais ou sobre a forma de execução do delito, razão pela qual o erro acidental não exclui o 
crime. 
São casos de erro acidental: o erro sobre o objeto; erro sobre pessoa; e as hipóteses de “crimes 
aberrantes”. Vejamos: a) Erro sobre objeto; b) Erro sobre pessoa; c) Erro na execução; d) Erro sobre 
o nexo causal; e) Resultado diverso do pretendido. 
 
3.5.2. ERRO DE PROIBIÇÃO 
Previsto no art. 21 do CP, é aquele no qual incide o agente que, por falso conhecimento (ou 
mesmo desconhecimento), não tem a possibilidade de saber que o seu comportamento é ilícito. E é 
possível verificar duas espécies de erro de proibição: 
 
a) Erro de proibição Evitável: casos em que falta a consciência da ilicitude, mas o agente 
possuía condições de tê-la. 
b) Erro de proibição Inevitável: aquele em que qualquer pessoa de diligência mediana, nas 
mesmas circunstâncias em que se encontra o agente, também teria errado. 
 
3.5.3.DESCRIMINANTES PUTATIVAS 
Quando o sujeito, levado a erro pelas circunstâncias do caso concreto, supõe agir em face de 
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uma causa excludente de ilicitude (supõe agir de forma justificada). Fala-se então em eximentes 
(estados putativos), pois o agente pensa, equivocadamente, que sua conduta é lícita. 
Este erro pode recair sobre os pressupostos fáticos de uma causa excludente da antijuridicidade, 
sobre os limites normativos de uma excludente, ou até mesmo sobre a existência de uma causa de 
exclusão. E esta distinção, acaba gerando duas figuras: o erro de tipo permissivo e o erro de 
proibição indireto. 
A natureza jurídica das descriminantes putativas varia de acordo com a teoria da culpabilidade 
que é adotada por um ordenamento jurídico (se extremada ou limitada). E aqui, vale lembrar que o 
nosso Código Penal adota a “teoria normativa pura limitada”, a qual diferencia as hipóteses que 
afastam a tipicidade, das que afastam a culpabilidade. Vejamos: 
 
 
3.6. CAMINHO DO CRIME 
 
3.6.1. ETAPAS: 
É o conjunto das etapas pela qual a realização de um fato punível passa .Segundo entendimento 
doutrinário, um crime se realiza em quatro fases (“iter criminis”): cogitação, preparação, execução e 
exaurimento. A primeira é a fase interna, enquanto que as demais conformam a fase externa. 
(1ª etapa) Cogitação: a fase mental ocorre quando nasce a ideia da prática delitiva. 
(2ª etapa) Preparação: quando o agente planeja a realização do crime. 
(3ª etapa) Execução: quando o agente começa a por em prática o plano engendrado. E é 
exatamente a partir deste momento que a conduta passa a interessar para o Direito Penal 
(agora já se fala na existência de um fato punível). 
(4ª etapa) Exaurimento: desfecho da conduta no mundo dos fatos. 
 
3.6.2. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
 
-Crime Consumado: 
Diz-se o crime consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal 
(art. 14, inciso I, do CP). 
 
-Crime Tentado: 
É a execução iniciada de um crime que não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do 
agente (art. 14, inciso II do CP). 
Nota-se, ademais, que a tentativa figura, em regra, como minorante da pena (art. 14, §único do 
CP): “salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime 
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consumado, diminuída de um a dois terços”. 
 
3.6.3. ARREPENDIMENTO POSTERIOR 
De acordo com o art. 16 do CP, nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, 
reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato 
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços. 
São requisitos para o arrependimento posterior: (a) reparação do dano ou restituição da coisa; (b) 
o que deve ocorrer em momento anterior ao do recebimento da denúncia ou queixa; (c) não pode 
ser um crime violento; (d) e a reparação deve ocorrer por ato voluntário do agente. 
 
3.6.7. CRIME IMPOSSÍVEL 
Nos termos do artigo 17 do CP, não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio 
ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. 
Há dois casos de crime impossível: (a) por ineficácia absoluta do meio; (b) por impropriedade 
absoluta do objeto. E veja que, nestes casos, não há que se falar sequer em tentativa, face à total 
ausência de tipicidade do ato. Por isso, caracterizado o crime impossível, tem-se que a conduta do 
agente é atípica. 
 
3.7. CONCURSO DE AGENTES 
 
3.7.1. INTRODUÇÃO 
Quando vários sujeitos se reúnem, em comunhão de esforços, para a prática de uma infração, fala-
se em concurso de agentes. 
E pra que haja a concorrência plúrima (concurso de agentes), mister a reunião de alguns 
requisitos. São eles: (a) pluralidade de agentes e comportamentos; (b) relevância causal das 
condutas (nexo causal entre as condutas e o resultado); (c) liame psíquico entre os agentes 
(“pactum sceleris”); (d) identidade do fato (ou seja, deve haver um fim comum, ao menos em regra). 
Em relação ao último requisito, é de se firmar que a legislação penal brasileira adotou, como 
regra, a “Teoria Monista” (unitária) para definição do concurso de agentes (nos termos do art. 29, 
caput do CP). Isto quer dizer exatamente que todos os agentes responderão pela mesma figura 
delitiva. 
Ocorre que existem exceções dualísticas e pluralísticas a esta teoria, dentre as quais se destaca 
o caso do art. 29, §2° do CP (participação dolosamente distinta). 
 
3.7.2. FORMAS DE ATUAÇÃO 
Três são as formas pelas quais um agente pode atuar numa empreitada criminosa: como autor, 
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como coautor ou como participe. E para diferenciar a autoria (ou coautoria) da participação, várias 
teorias foram desenvolvidas, dentre as quais se destaca: a “teoria restritiva” e a “teoria do domínio 
do fato”. Segundo doutrina majoritária, a teoria restritiva foi adotada no Brasil após a Reforma do CP 
de 1940, estabelecendo como critério definitivo a prática ou não de elementos do tipo. 
Mas esta não foi adotada de forma absoluta, visto que ela não resolve os problemas inerentes a 
autoria intelectual e autoria mediata, hipóteses que só são solucionadas com a adoção da teoria do 
domínio do fato. Assim, considera autores e coautores aqueles que possuem o controle do domínio 
do fato, mesmo não realizando as elementares do tipo (veja que tal ideia permitiria a punição do 
mandante do crime como autor). Já o partícipe é aquele que contribui, sem ter domínio algum sobre 
o fato delitivo. 
 
3.7.3. COMUNICABILIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS 
Nos termos delineados pelo art. 30 do CP, as circunstâncias de caráter pessoal não se 
comunicam aos demais agentes (ou seja, tudo aquilo que é pessoal de um agente, não se estende 
aos demais – ex: a situação de reincidência), salvo quando esta circunstância for uma elementar do 
crime. 
 
3.8. CONCURSO DE CRIMES 
Trata-se de tema de especial relevância, tratado nos arts. 69 a 72 do Código Penal. Neste passo, 
existem três formas de concurso: material, formal e o crime continuado. 
 
-Concurso material 
 Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais 
crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja 
incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro 
aquela. 
 § 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de 
liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que 
trata o art. 44 deste Código. 
 § 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá 
simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais. 
 
-Concurso formal 
 Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, 
idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, 
mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, 
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cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios 
autônomos, consoante o disposto no artigo anterior. 
 
 Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste 
Código. 
 
-Crime continuado 
 Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais 
crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo,lugar, maneira de execução e outras 
semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a 
pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer 
caso, de um sexto a dois terços. 
 Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou 
grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta 
social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de 
um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do 
parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código. 
 
 - Multas no concurso de crimes 
 Art. 72 - No concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente. 
 
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03. TEORIA DA PENA 
 
3.1. DA SANÇÃO PENAL ENQUANTO GÊNERO 
Inicialmente, vale observar que a pena não é a única resposta que o Estado, detentor exclusivo 
do jus puniendi, pode ofertar àquele que infringe uma norma penal. É certo que todo aquele que 
comete um crime ou contravenção deverá receber uma “sanção penal” (gênero), da qual são 
espécies: as penas (aplicáveis aos indivíduos imputáveis) e as medidas de segurança (aplicável aos 
inimputáveis patológicos e perigosos). 
Dito isso, pode-se definir a pena como sendo a consequência jurídica da prática de um crime, a 
qual impõe aos seus autores uma restrição à bem jurídico (liberdade, patrimônio, etc.), como forma 
de retribuição pelo mal que fez, bem como para evitar que novas infrações sejam cometidas. 
 
3.2. FINALIDADE DA PENA 
Ao longo da história, a doutrina penal fez questão de firmar várias justificativas para a existência e 
aplicação de uma pena. Neste afã, o discurso oficial (aquele que é propagado pelos códigos) 
produziu três grandes teorias sobre o tema: absolutas, relativas e mistas. 
a) Teorias Absolutas: para os adeptos desta teoria, a pena é um instrumento de retribuição ao 
crime. 
b) Teorias Relativas: para os adeptos desta teoria, a pena serve como instrumento de prevenção 
delitiva. 
c) Teorias Mistas: também conhecidas como “unificadoras”, buscam uma conciliação entre as 
perspectiva anteriores, aduzindo que a pena serve para prevenir e reprimir delitos. E foi exatamente 
esta a teoria adotada pela legislação penal brasileira, conforme se verifica da parte final do art. 59 do 
CP. 
 
3.3. DAS ESPÉCIES DE PENA 
De acordo com o art. 32 do CP e art. 5°, XLVI da CF/88, é possível verificar três espécies de 
pena: as privativas de liberdade, as restritivas de direito e a multa. 
 
(A) Penas privativas de liberdade: 
Delineada entre os arts. 33 a 42 e art. 53 do CP, bem como nos arts. 87 a 95 e arts. 105 a 146 da 
Lei 7.210/84 (LEP), é aquela que pressupõe a restrição da liberdade ambulatorial do indivíduo. 
Segundo delimitação legislativa, existem três formas de privação: a reclusão e a detenção (para 
as hipóteses de crimes), bem como a prisão simples (para as contravenções penais, nos termos do 
Decreto-lei 3.688/41). 
 
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 (B) Penas restritivas de direito: 
No Código Penal, estão previstas entre os artigos 43 a 48 e art. 54 do CP. Na Lei de Execuções 
Penais, entre os arts. 147 a 155. Estas são penas autônomas, reversíveis e aplicadas, vias de regra, 
em substituição às penas privativas de liberdade. 
Ocorre que são várias as espécies de penas restritivas de direitos, as quais estão previstas no art. 
43 do CP, em rol meramente exemplificativo: i.Prestação pecuniária; ii.Perda de bens e valores; 
iii.Prestação de serviços à comunidade; iv.Interdição temporária de direitos; v.Limitação de final de 
semana. 
 
(C) Pena de multa: 
Prevista entre os arts. 49 a 52 do CP, a pena de multa consiste na obrigação de entregar ao 
Fundo Penitenciário Nacional a quantia fixada pelo Juiz na sentença condenatória. 
Tal quantia é calculada com base no critério do “dias-multa”, sendo o mínimo de 10 e o máximo 
de 360 dias-multa (DM). E o valor de cada um dos DM fixados também deverá ser definido pelo Juiz, 
que deve respeitar o parâmetro mínimo de 1/30 do salário-mínimo vigente à época dos fatos, e o 
máximo de cinco vezes o salário-mínimo. 
Mas vale anotar que o valor máximo da multa pode ser majorado, em casos de abundante 
situação econômica do réu (art. 60, §1° CP). Assim como Leis penais especiais podem disciplinar 
valores diferenciados. 
 
3.4. DAS PENAS PROIBIDAS 
Consoante dispõe o artigo 5°, inciso XLVII da CF/88, é expressamente proibida a criação, 
aplicação e execução das seguintes penas: morte (salvo em caso de guerra externa declarada), 
perpétuas, trabalhos forçados, banimento e cruéis. 
Trata-se de norma penal garantista, prevista como Direito Fundamental do cidadão e protegida 
como cláusula pétrea pela Constituição (art. 60, §4º da CF/88). 
 
3.5. APLICAÇÃO DA PENA 
Inicialmente, vale lembrar que o Juiz possui a missão constitucional de individualizar a pena em 
casos de condenação (conforme previsão do art. 5°, inciso XLVI da CF/88), visto que o legislador 
prevê limites mínimos e máximos em abstrato, os quais servem apenas de parâmetro para a 
quantificação diante do caso concreto. 
O critério que o Juiz seguirá para realizar a dosimetria da pena é nominado de “critério trifásico”, e 
está definido no art. 68 do CP: inicialmente, fixa-se a pena base; após, analisa as agravantes e 
atenuantes; por fim, as causas de aumento e diminuição da pena. 
 
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3.6. REGIMES PRISIONAIS 
Após a fixação da reprimenda definitiva, o Juiz sentenciante deverá estabelecer o regime inicial 
para o cumprimento da pena privativa de liberdade. E aqui, vale lembrar que os regimes prisionais 
são três: o fechado, o semiaberto e o aberto. 
De acordo com o disposto nos arts. 34 a 36 do CP, a principal diferença entre os regimes 
supramencionados está no maior ou menor rigorismo para o cumprimento da pena. Assim, a pena 
do regime fechado é cumprida em penitenciárias; do regime semiaberto em colônias penais; e do 
regime aberto em casas do albergado ou estabelecimentos congêneres. 
Para estabelecer o regime prisional em que o condenado iniciará o cumprimento de sua pena, o 
Juiz sentenciante deverá levar em consideração uma série de fatores, dentre os quais: a espécie de 
pena privativa (se reclusão, detenção ou prisão simples), a natureza do crime (se hediondo ou 
comum), a quantidade de pena fixada na sentença, e a situação pessoal do condenado (se primário 
ou reincidente; se possui boas circunstâncias judiciais ou não) – é o que indica o art. 33 do Código 
Penal. 
Conjugando todas estas circunstâncias, chega-se à seguinte regra geral sobre a fixação do 
regime inicial: 
REGIME 
INICIAL 
REQUISITOS 
FECHADO Se a pena fixada pelo Juiz for superior a 08 anos. 
SEMIABERT
O 
Se a pena fixada for superior a 04 e não exceda 08 anos + réu 
primário em crimes doloso + possuir circunstâncias judiciais 
preponderantemente favoráveis (art. 59 do CP). 
ABERTO 
 
Se a pena fixada for igual ou inferior a 04 anos + réu primário 
em crimes doloso + possuir circunstâncias judiciais 
preponderantemente favoráveis (art. 59 do CP). 
 
 
3.7. DETRAÇÃO PENAL 
Nos termos do art. 42 do Código Penal, computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida 
de segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e 
o de internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior. 
Como visto, embora vigore em favor do réu o princípio da presunção de inocência, é certo que ele 
pode permanecerpreso durante a persecução criminal em alguns casos. E nestes casos, se ele vier 
a ser condenado a uma pena privativa de liberdade, todo o período em que ele permaneceu em 
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cárcere provisório será considerado como tempo de pena cumprido, inclusive para a obtenção de 
eventuais benefícios da execução que dependam do tempo (como, por exemplo, o livramento 
condicional e progressão de regime). 
 
3.8. LIMITES DA PENA 
De acordo com o art. 75 do Código Penal, ninguém poderá ficar preso mais do que trinta anos. E 
vale destacar que esse é um limite para a execução da pena (e não para a aplicação). 
Aqui, importante também resgatar o teor da Súmula 715 do STF: “A pena unificada para atender 
ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é 
considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais 
favorável de execução”. 
 
3.9. SURSIS E LIVRAMENTO CONDICIONAL 
3.9.1. SURSIS 
Trata-se de um instituto jurídico-penal descarcerizador, de competência do Juiz da sentença, que 
impede a execução concreta de uma pena privativa de liberdade aplicada. Até por isso é também 
chamado de “suspensão condicional da pena” (arts. 77 a 82 do CP e arts. 156 a 163 da LEP). 
Assim, o sujeito será processado, condenado e receberá uma pena privativa de liberdade (firme-
se, pois, que o Juiz sentenciante chega a aplicar uma pena para o réu); todavia, a execução desta 
pena ficará suspensa por ordem do mesmo Juízo. Ademais, é de se ver que este é um benefício 
exclusivo da pena privativa de liberdade (não se estende para a restritiva de direitos ou para a multa, 
nos termos do art. 80 do CP), e trata-se de direito subjetivo do réu que preenche os requisitos legais. 
 
3.9.2. LIVRAMENTO CONDICIONAL 
Trata-se de um instituto jurídico-penal descarcerizador, de competência do Juiz da execução, que 
visa antecipar a liberdade do indivíduo que se encontra preso, mediante determinadas condições e 
desde que ele preencha certos requisitos (arts. 83 a 90 do CP e arts. 131 a 146 da LEP). 
Deve ser encarado como direito subjetivo do réu que preenche os requisitos legais (não podendo 
ser negado pelo Juiz). Ademais, é certo que a decisão deve ser sempre motivada e precedida da 
manifestação do Ministério Público e da defesa.

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