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1 Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias Problema 07: Não tenho diagnóstico. 1. Compreender a ANEMIA FERROPRIVA; Conceito; Epidemiologia; Fatores de risco – Gastrectomia; Etiologia; Fisiopatologia (metabolismo do ferro); Manifestações Clínicas; Complicações (Gastrectomia não acompanhada); Diagnóstico; Diagnóstico diferencial (outras anemias microcíticas e hipocromicas); Tratamento. 2. Conceituar a síndrome da fadiga crônica. Anemia Ferropriva Conceito A anemia é definida por valores de hemoglobina (Hb) no sangue abaixo do normal para idade e gênero ocasionando uma série de outros sinais e sintomas. É um dos principais problemas de saúde pública mundial, chegando a afetar mais de um quarto da população do planeta, ou seja, mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo. Epidemiologia A Deficiência de Ferro (DF) é responsável por 75% de todos os casos de anemia. Estima-se a prevalência de DF em até 45% das crianças até cinco anos de idade, e de até 50% nas mulheres em idade reprodutiva. Cerca de 500 milhões de mulheres e até 60% de gestantes apresentam Anemia por Deficiência de Ferro (ADF), com resultados negativos na qualidade de vida, no feto e no lactente. Tanto em países subdesenvolvidos quanto em países desenvolvidos, a DF advém principalmente de DESIGUALDADES SOCIAIS. É muito mais prevalente em estratos sociais mais baixos, nos grupos de menor renda, e na população menos educada. Esse dado deve ser considerado na proposição de medidas populacionais de profilaxia e tratamento. Fatores de risco Aumenta em populações com carências nutricionais; com ingestão ou absorção inadequada de ferro; hábitos vegetarianos; 2 Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias dietas com muito chá ou café, que inibem a absorção de ferro, ou sem vitamina C (frutas cítricas), que favorece a sua absorção; baixo nível sócio-econômico e educacional; presença de infestações endêmicas (malária, ascaridíase, helmintoses, protozooses intestinais); estado nutricional influenciado pelo baixo peso, principalmente de mulheres em idade gestacional, associado à multiparidade e não uso de suplementação de ferro na gestação. Além disto, a ADF pode ser causada por hemorragias diversas, como as devidas a traumas ou por melena, hematêmese, hemoptise, menstruações, partos ou por múltiplas gestações. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em todo mundo, há mais de 1 bilhão de pessoas com sobrepeso, sendo que, aproximadamente, 300 milhões são obesas. A gastrectomia ou cirurgia bariátrica é comumente conhecida como “cirurgia de redução de estômago” e é aplicada para redução de peso em pacientes com obesidade mórbida. A anemia, que pode ser ferropriva ou megaloblástica, é uma manifestação muito comum em pacientes pós gastrectomizados. Etiologia Fisiopatologia O corpo de um indivíduo adulto bem nutrido e saudável contém de 3 a 4 g de ferro. O éritron (órgão descontínuo, porém único, formado pelo somatório de eritroblastos, reticulócitos e hemácias) é o maior compartimento funcional de ferro do organismo humano, contendo de 60 a 70% do ferro total. Desta forma, a necessidade de ferro do éritron tem influência dominante na sua deficiência. O restante do ferro corporal está distribuído nos hepatócitos e nos macrófagos do Sistema Reticuloendotelial (SRE), que atuam como órgão de depósito. O SRE é responsável por fagocitar células senescentes, catabolizar Hemoglobina (Hb) para restaurar o ferro e devolvê-lo à transferrina para nova utilização. Apesar da baixa capacidade absortiva do duodeno, o balanço de ferro no organismo é regulado a partir da absorção intestinal. Como não existe uma via fisiológica de excreção de ferro, essa regulação é crítica. 3 Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias A deficiência de ferro surge a partir do desequilíbrio entre ingesta, absorção e situações de demanda aumentada ou perda crônica (anemia ferropriva), sendo multifatorial. O ferro dietético consiste de ferro heme e não heme. Ferro heme está presente em alimentos de origem animal e tem excelente biodisponibilidade para absorção intestinal; o ferro não heme é encontrado em produtos de origem vegetal e tem baixa biodisponibilidade. Assim, indivíduos que consomem produtos animais têm menor risco de desenvolvimento de anemia ferropriva que vegetarianos. Anemia ferropriva é o distúrbio do ferro mais frequente em adultos e está associada à perda crônica de sangue, tanto por hipermenorreia ou menorragia (sítio mais frequente em mulheres em idade fértil), quanto pelo trato gastrointestinal (sítio mais frequente em homens e mulheres pós- menopausa). Cada mL de sangue perdido resulta em redução de cerca de 0,5 mg de ferro. MEDICINA INTERNA - Harisson ESTÁGIOS DA DEFICIÊNCIA DE FERRO A evolução para a deficiência de ferro pode ser dividida em três estágios. O primeiro estágio consiste em balanço de ferro negativo, em que as demandas (ou as perdas) de ferro excedem a capacidade do organismo de absorver o ferro da dieta. Essa fase resulta de diversos mecanismos fisiológicos, como perda de sangue, gravidez (em que as demandas de produção de eritrócitos pelo feto superam a capacidade materna de suprimento do ferro), rápidos surtos de crescimento no adolescente ou ingestão inadequada de ferro alimentar. A ocorrência de uma perda de sangue de mais de 10 a 20 mL de eritrócitos por dia é superior à quantidade de ferro absorvível pelo intestino a partir de uma dieta normal. Em tais circunstâncias, o déficit de ferro deve ser compensado pela mobilização do ferro dos locais de armazenamento no RE. Durante esse período, as reservas de ferro – refletidas pelo nível sérico de ferritina ou pelo aparecimento de ferro corável em aspirados de medula óssea – diminuem. Enquanto houver reservas passíveis de mobilização, o ferro sérico, a capacidade total de ligação ao ferro (TIBC, de total iron-binding capacity) e os níveis de protoporfirina eritrocitária permanecerão dentro dos limites normais. Nesse estágio, a morfologia do eritrócito e os índices eritrocitários são normais. Quando ocorre depleção das reservas de ferro, o nível sérico de ferro começa a diminuir. Gradualmente, a TIBC aumenta, assim como os níveis de protoporfirina eritrocitária. Por definição, as reservas de ferro medular estão ausentes quando o nível sérico de ferritina é < 15 μg/L. Contanto que o ferro sérico permaneça dentro da faixa normal, a 4 Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias síntese da hemoglobina não é afetada, a despeito da redução das reservas de ferro. Quando a saturação da transferrina cai para 15 a 20%, ocorre comprometimento na síntese de hemoglobina. Este é um período de eritropoiese deficiente em ferro. A cuidadosa avaliação do esfregaço de sangue periférico revela o primeiro aparecimento de células microcíticas, e, se houver disponibilidade de tecnologia laboratorial, pode-se detectar a presença de reticulócitos hipocrômicos na circulação. Gradualmente, a hemoglobina começa a diminuir, refletindo a anemia ferropriva. A saturação da transferrina nesse momento é < 10 a 15%. Quando ocorre anemia moderada (hemoglobina de 10-13 g/dL),a medula óssea permanece hipoproliferativa. Na anemia mais grave (hemoglobina de 7-8 g/dL), a hipocromia e a microcitose tornam-se mais proeminentes, aparecem células-alvo e eritrócitos deformados (poiquilócitos) no esfregaço sanguíneo, com formas em charuto ou lápis, e a medula eritroide torna-se cada vez mais ineficaz. Em consequência, na anemia ferropriva prolongada e grave, ocorre hiperplasia eritroide da medula óssea, mais do que hipoproliferação. Manifestações clínicas Deficiência de ferro pode gerar redução da capacidade funcional de vários sistemas orgânicos, estando associada à alteração do desenvolvimento motor e cognitivo em crianças, redução da produtividade no trabalho e problemas comportamentais, cognitivos e de aprendizado em adultos. Em gestantes, aumenta o risco de prematuridade, baixo peso, sendo responsável por 18% das complicações no parto e morbidade materna. As queixas costumam ser leves, pois a anemia se instala de maneira insidiosa, gerando adaptação, e há pacientes completamente assintomáticos. Pode-se observar palidez cutaneomucosa, fadiga, baixa tolerância ao exercício, redução do desempenho muscular, perversão alimentar ou pica (desejo e consumo de substâncias não nutritivas como gelo, terra, sabão, argila), baqueteamento digital e coiloníquia (unhas em forma de colher), atrofia das papilas linguais, estomatite angular e disfagia (formação de membranas esofágicas ou síndrome de Plummer-Vinson. A queilose (fissuras nos ângulos da boca) e a coiloniquia (unhas dos dedos das mãos em forma de colher) constituem sinais de deficiência avançada de ferro tecidual. Complicações Causas de anemia em gastrectomizados - Nas cirurgias realizadas através das técnicas disabsortivas ou mistas o grau de deficiência nutricional é maior, pois o paciente tem uma liberdade maior para comer, no entanto a sua absorção fica muito prejudicada diferente das técnicas restritivas, nas quais o paciente tem 5 Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias que ingerir uma quantidade muito menor de comida, mas sua absorção não é prejudicada. O ferro é um mineral essencial na nossa dieta e de difícil absorção, pois sofre muitas influências. Após a cirurgia bariátrica, a deficiência desse mineral é muito comum, principalmente devido à diminuição de ácido gástrico (XANTHACOS; INGE, 2006). O ferro no seu estado ferroso é melhor absorvido, porém na nossa dieta a maior parte do ferro encontrado está na forma férrico. A conversão do ferro férrico em ferroso é possível no nosso organismo e o ácido clorídrico (HCl), no estômago, favorece essa conversão mantendo o ferro no seu melhor estado para ser absorvido no duodeno (SANCHES et al., 2007). Nos pacientes gastrectomizados, há um ressecamento com conseqüente diminuição da disponibilidade ou produção desse ácido o que predispõe ao aparecimento da anemia ferropriva (PAPINI BERTO; BURINI, 2001). A anemia por deficiência de ferro produz hemácias microcíticas (pequenas) e hipocrômicas (pálidas, 6 descoradas) com diminuição do HCM (hemoglobina corpuscular média) e VCM (volume corpuscular médio) que pode ser evidenciado no hemograma do paciente. A anemia megaloblástica pode ocorrer devido à retirada da mucosa gástrica que produz o fator intrínseco (PAPINI BERTO; BURINI, 2001). Esse fator é responsável por se ligar na vitamina B12 e facilitar sua absorção intestinal. Com a cirurgia bariátrica, o estômago secreta uma quantidade muito menor tanto de ácido, quanto de fator intrínseco dificultando a absorção de vitaminas do complexo B (XANTHAKOS; INGE, 2006). Nesse tipo de anemia as hemácias do paciente são macrocíticas (grandes) com VCM e HCM aumentados. A deficiência de ferro e vitamina B12 pode ocorrer em conjunto. Quando isso acontece observa-se uma dupla popularidade de hemácias, macrocíticas e microcíticas, no sangue do paciente. O ácido fólico também pode estar deficiente, proveniente de uma ingestão diminuída desse composto (SANCHES et al., 2007), que pode ser suplementada com polivitamínicos (XANTHAKOS; INGE, 2006). Os pacientes pós - operados precisam ter um acompanhamento médico nutricional para que essas deficiências e outras possíveis complicações da cirurgia possam ser identificadas e tratadas precocemente. Diagnóstico O hemograma é um teste rápido, barato e amplamente disponível no rastreio de anemia ferropriva, mas incapaz de detectar DF sem anemia. Frequentemente se observa hipocromia, microcitose, aumento do índice de Anisocitose Eritrocítica (RDW) e plaquetose, além da presença de anisocitose, poiquilocitose, hemácias em charuto, eliptócitos e reticulocitopenia ao exame microscópico. 6 Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias A avaliação dos estoques de ferro na medula óssea a partir da coloração do tecido medular pelo corante de Perls é considerada padrão- ouro no diagnóstico de DF. É exame invasivo, de reprodutibilidade e acurácia questionáveis, não tendo papel na prática clínica diária. No mielograma observa-se hiperplasia eritroblástica com displasias morfológicas na DF moderada até hipoplasia das três linhagens da DF grave prolongada. Ferro sérico e capacidade total de ligação ao ferro - O nível sérico de ferro representa a quantidade de ferro circulante ligado à transferrina. A TIBC é uma medida indireta da transferrina circulante. A faixa normal do ferro sérico é de 50 a 150 μg/dL; a faixa normal da TIBC é de 300 a 360 μg/dL. A saturação da transferrina, normalmente de 25 a 50%, é obtida pela seguinte fórmula: ferro sérico × 100 ÷ TIBC. Os estados de deficiência de ferro estão associados a níveis de saturação < 20%. Existe uma variação diurna no nível de ferro sérico. Uma saturação de transferrina > 50% indica o suprimento de uma quantidade desproporcional de ferro ligado à transferrina em tecidos não eritroides. Se isso persistir por um período longo, poderá ocorrer sobrecarga de ferro tecidual. Ferritina sérica - O ferro livre é tóxico para as células, e o organismo estabeleceu um conjunto complexo de mecanismos protetores para a ligação do ferro em vários compartimentos teciduais. No interior das células, o ferro é armazenado ligado a proteínas, como a ferritina e a hemossiderina. A apoferritina liga-se ao ferro ferroso livre e o armazena no estado férrico. À medida que a ferritina se acumula no interior das células do sistema RE, formam-se agregados de proteína na forma de hemossiderina. O ferro na ferritina ou hemossiderina pode ser extraído para liberação pelas células RE, embora a hemossiderina seja menos prontamente disponível. Em condições de equilíbrio dinâmico, o nível sérico de ferritina correlaciona-se com as reservas corporais totais de ferro; logo, o nível sérico de ferritina é o teste laboratorial mais conveniente para estimar as reservas de ferro. O valor normal da ferritina varia de acordo com a idade e o sexo do indivíduo. Os homens adultos apresentam níveis séricos de ferritina de 100 μg/L, em média, ao passo que as mulheres adultas apresentam níveis médios de 30 μg/L. Quando ocorre depleção das reservas de ferro, a ferritina sérica cai para < 15 μg/L. Esses níveis são diagnósticos de ausência de reservas corporais de ferro. A dosagem plasmática ou urinária de hepcidina ainda não está comercialmente disponível, mas parece promissora em estudos preliminares na distinção entre anemia ferropriva e anemia de doença crônica. 7Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias Seus níveis estão aumentados na presença de inflamação e de estoques de ferro elevados, e reduzidos na presença de DF. Níveis de protoporfirina eritrocitária - A protoporfirina é um intermediário na via de síntese do heme. Em condições de comprometimento dessa síntese, a protoporfirina acumula-se no interior do eritrócito. Essa situação reflete um suprimento inadequado de ferro aos precursores eritroides para manter a síntese da hemoglobina. Os valores normais são < 30 μg/dL de eritrócitos. Na deficiência de ferro, são observados valores > 100 μg/dL. As causas mais comuns de aumento dos níveis de protoporfirina eritrocitária são a deficiência absoluta ou relativa de ferro e a intoxicação por chumbo. Níveis séricos da proteína receptora de transferrina - Como as células eritroides são as que apresentam, entre todas as outras células do corpo, o maior número de receptores de transferrina, e, como a proteína receptora de transferrina (TRP, de transferrin receptor protein) é liberada pelas células na circulação, os níveis séricos de TRP refletem a massa medular eritroide total. Outro estado em que os níveis de TRP estão elevados é a deficiência absoluta de ferro. Os valores normais são de 4 a 9 μg/L, determinados por imunoensaio. Esse exame laboratorial está se tornando cada vez mais disponível e, em conjunto com a ferritina sérica, em sido proposto para distinguir entre deficiência de ferro e anemia da inflamação. Diagnóstico diferencial Além da deficiência de ferro, apenas três condições precisam ser consideradas no diagnóstico diferencial da anemia microcítica hipocrômica. O primeiro distúrbio é um defeito hereditário na síntese das cadeias de globina: as talassemias. As talassemias são mais facilmente diferenciadas da deficiência de ferro pelos níveis séricos de ferro; com efeito, elas se caracterizam por valores normais ou elevados do ferro sérico e de saturação da transferrina. Além disso, o índice de anisocitose (RDW, de red blood cell distribution width) costuma ser normal na talassemia, ao passo que está elevado na deficiência de ferro. O segundo distúrbio é a anemia da inflamação (AI; também designada como anemia da doença crônica), com suprimento inadequado de ferro para a medula eritroide. A distinção entre anemia ferropriva verdadeira e AI insere-se nos problemas diagnósticos mais comuns encontrados pelos médicos. Em geral, a AI é normocítica e normocrômica. Os valores do ferro costumam tornar o diagnóstico diferencial evidente, visto que o nível de ferritina se apresenta normal ou elevado, e a porcentagem de saturação da transferrina e a TIBC estão abaixo do normal. ANEMIA DA INFLAMAÇÃO/INFECÇÃO AGUDA E CRÔNICA - A AI – que abrange 8 Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias inflamação, infecção, lesão tecidual e distúrbios (como o câncer) associados à liberação de citocinas pró-inflamatórias – é uma das formas mais comuns de anemia observada clinicamente. Trata-se da anemia mais importante a considerar no diagnóstico diferencial da deficiência de ferro, visto que muitas das características da anemia são produzidas pelo suprimento inadequado de ferro à medula óssea, a despeito da presença de reservas normais ou aumentadas de ferro. Isso se reflete por baixos níveis séricos de ferro, aumento da protoporfirina eritrocitária, medula óssea hipoproliferativa, saturação da transferrina na faixa de 15 a 20% e ferritina sérica normal ou aumentada. Com frequência, os valores da ferritina sérica constituem a característica diferencial entre a anemia ferropriva verdadeira e a eritropoiese por restrição de ferro associada à inflamação. Em geral, os níveis séricos de ferritina aumentam três vezes acima dos valores basais na presença de inflamação. Essas alterações decorrem dos efeitos das citocinas inflamatórias e da hepcidina, o principal hormônio regulador do ferro, que atuam em vários níveis da eritropoiese. A interleucina 1 (IL-1) diminui diretamente a produção de EPO em resposta à anemia. A IL- 1, ao atuar por meio da liberação celular acessória de γ- interferona (γ-IFN), suprime a resposta da medula eritroide à EPO – um efeito que pode ser superado pela administração de EPO in vitro e in vivo. Além disso, o fator de necrose tumoral (TNF), ao atuar por meio da liberação de γ-IFN pelas células do estroma medular, também suprime a resposta à EPO. A hepcidina, que é sintetizada pelo fígado, apresenta-se aumentada na inflamação por meio de uma via mediada pela IL-6 e atua para suprimir a absorção de ferro e sua liberação dos locais de armazenamento. O resultado global é o desenvolvimento de anemia hipoproliferativa crônica com alterações clássicas no metabolismo do ferro. A anemia é, ainda, complicada por um encurtamento leve a moderado da sobrevida dos eritrócitos. Na inflamação crônica, a doença primária é que determinará a gravidade e as características da anemia. Por exemplo, muitos pacientes com câncer também apresentam anemia que, em geral, é normocítica e normocrômica. Já os pacientes com artrite reumatoide ativa de longa duração ou infecções crônicas, como tuberculose, apresentam anemia microcítica hipocrômica. Em ambos os casos, a medula óssea é hipoproliferativa, porém as diferenças nos índices eritrocitários refletem as diferenças na disponibilidade de ferro para a síntese da hemoglobina. Por fim, as síndromes mielodisplásicas compõem o terceiro e menos comum grupo. Em certas ocasiões, os pacientes com mielodisplasia apresentam síntese reduzida da hemoglobina com disfunção mitocondrial, 9 Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias resultando em comprometimento da incorporação do ferro no heme. Os valores do ferro mais uma vez revelam reservas normais e suprimento mais do que adequado para a medula óssea, a despeito da microcitose e da hipocromia. Tratamento Consiste em reposição oral ou venosa. Oral A dose ideal para tratamento é de 180 a 200 mg de ferro elementar/dia para adultos e 1,5 a 2 mg de ferro elementar/dia para crianças, dividida em 3 a 4 tomadas, preferencialmente com o estômago vazio, ou 30 minutos antes das principais refeições. A forma ferrosa é mais bem absorvida que a férrica. Para pacientes em uso de antiácidos e inibidores da bomba de prótons recomenda-se a reposição com doses maiores e por mais tempo. A prevalência de efeitos colaterais é de até 30%, notadamente do TGI: pirose e dor epigástrica, náuseas, vômitos, empachamento, dor abdominal em cólica, diarreia e obstipação. O paciente deve ser informado de que é esperada mudança da cor das fezes, e que os efeitos colaterais melhoram com o tempo. Redução das doses diárias e ingestão do medicamento junto com alimentos diminuem a eficácia, porém diminuem os efeitos colaterais. Pode-se tentar ainda administrar doses mais altas à noite e modificar o sal prescrito, já que algumas formulações estão menos associadas a efeitos colaterais. Recomenda-se manter doses terapêuticas por cerca de quatro meses após a resolução da anemia.A persistência é a pedra angular no tratamento. Parenteral A reposição parenteral de ferro é efetiva, cara, trabalhosa, não isenta de efeitos colaterais, e deve ser indicada em situações especiais. Existem formulações para administração intramuscular, praticamente proscrita, e intravenosa. A via intramuscular está associada à dor local, pigmentação irreversível da pele e linfonodomegalia. A infusão venosapode estar associada a irritação, dor e queimação do sítio de punção, náuseas, gosto metálico na boca, hipotensão e reação anafilactoide, sendo que o principal fator no aparecimento dessas reações é a velocidade de infusão. TRANSFUSÃO DE HEMÁCIAS A terapia transfusional é reservada para os indivíduos que apresentam sintomas de anemia, instabilidade cardiovascular e perda contínua e excessiva de sangue de qualquer origem e para os que necessitam de intervenção imediata. O tratamento desses pacientes está menos relacionado com a deficiência de ferro do que com as consequências da anemia grave. As transfusões não apenas corrigem agudamente a anemia, mas também as hemácias transfundidas proporcionam uma fonte de ferro 10 Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias para reutilização, desde que não sejam perdidas por meio de sangramento contínuo. A terapia transfusional estabiliza o paciente enquanto se consideram outras opções. Resistência Com doses adequadas de ferro suplementar observa-se recuperação rápida da anemia por deficiência de ferro na maioria dos pacientes. O sinal mais precoce de resposta é o aumento na contagem de reticulócitos, que atinge seu pico entre o 5o e o 10o dias de tratamento. Observa-se, também, aumento médio de 1g/dL por semana na Hb. Considerável proporção dos pacientes tratados apresenta má resposta, recaída precoce ou resistência. Nesses casos, deve-se investigar: presença de fatores que interfiram na absorção intestinal, persistência do sangramento, perda maior que a capacidade de absorção, má adesão e, se constatada a impossibilidade de uso da via oral, partir para a reposição parenteral. PROFILAXIA Em alguns países já foi implantada a suplementação universal de ferro na farinha de trigo, visando a reduzir as estatísticas de DF. Além disso, recomenda-se reposição profilática com ferroterapia oral durante a gestação, nas lactantes, e nas crianças até cinco anos de idade. Especificamente na gestação, as estratégias recomendadas pela OMS para prevenção de ADF mostraram redução na prematuridade em até 50%, mortalidade neonatal em até 55%, nascituros de baixo peso em 16% e mortalidade infantil em até 31%. A dose recomendada é de 100 mg de ferro elementar/dia para gestantes e lactantes, 30 mg de ferro elementar/dia para pré-escolares e 30-60 mg de ferro elementar/dia para crianças em idade escolar, em períodos de duas a três semanas, várias vezes ao ano. Síndrome da fadiga crônica Síndrome de Fadiga Crônica é uma condição clínica caracterizada por uma série de sintomas constitucionais e neuro-psiquiátricas que ocorre com diferentes manifestações. Os critérios atuais a definem como um cansaço físico e mental, de início súbito, que é exacerbado exageradamente por atividades físicas. O paciente deve apresentar fadiga "inexplicada" por mais de 6 meses acarretando moderada incapacidade física e mental. Sintômas Os sintomas mais comuns são fadiga generalizada, dor de cabeça, memória fraca com dificuldade de concentração, mialgias (dores generalizadas), artralgias (dores nas articulações), perturbação do sono e humor irritável. Além disso faz parte do quadro enxaquecas ocasionais, linfadenopatia (glanguios no pescoço e axilas), cansaço após o sono, depressão, fibromialgias ( dores no pescoço) e síndrome do cólon irritável (diarréia). Este 11 Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias quadro leva a uma substancial diminuição dos trabalhos ocupacionais , profissionais, sociais, educacionais e até das próprias atividades pessoais. O perfil dos indivíduos com fadiga crônica apresenta níveis de atividade geral baixa, discreta tendência depressiva, mais eventos estressantes na vida, distúrbios do sono e dificuldade de lidar com estresse quando comparados aos indivíduos saudáveis. Contudo, quando comparados com indivíduos com SFC, estes apresentam maiores níveis de fadiga física e níveis mais baixos de atividade geral. Fadiga pode ser definida como uma sensação de cansaço generalizado ou falta de energia que não está relacionada exclusivamente à exaustão. Pode ser dividida nas seguintes entidades, conforme duração e apresentação dos sintomas: fadiga prolongada – fadiga incapacitante e prolongada com duração de pelo menos um mês; fadiga crônica – fadiga incapacitante e prolongada, com duração de pelo menos seis meses. Quando a fadiga crônica é inexplicada por outras condições médicas ou psicológicas, ela se subdivide em idiopática ou Síndrome da Fadiga Crônica (SFC). Metabolismo do ferro: O FERRO NO ORGANISMO - O ferro faz parte do grupo heme, que integra numerosas proteínas do organismo, como citocromos, citocromo oxigenase, peroxidases, catalase, mioglobina e hemoglobina. Sendo um metal pesado, o ferro livre é quase insolúvel e bastante tóxico, e por isso durante todo o seu ciclo metabólico está sempre ligado a proteínas de transporte ou funcionais. O homem adulto possui cerca de 3-4 g de ferro (ou seja, 35-45 mg de ferro/kg de peso), quantidade em média 30-40% menor em mulheres em idade fértil em consequência à perda periódica de sangue na menstruação. Mais de dois terços do conteúdo de ferro do organismo encontra-se incorporado à molécula de hemoglobina. Assim, a hemoglobina é a principal forma funcional de ferro no organismo e também seu principal depósito, e por isso a anemia é a manifestação clínica mais proeminente da carência de ferro. Aproximadamente 1 mL de concentrado de hemácias contém 1 mg de ferro. No homem, cerca de 2 g de ferro estão presentes na hemoglobina, enquanto que, em mulheres, esse valor corresponde a 1,7 g. A mioglobina tem uma estrutura muito semelhante à hemoglobina, sendo no entanto um monômero e não um tetrâmero, e funciona como uma proteína para depósito de oxigênio nos músculos, de onde o O2 é liberado durante o exercício. Presente em todas as células dos músculos esquelético e cardíaco, o organismo humano contém um total de cerca de 300 mg 12 Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias de ferro na mioglobina. As demais formas de ferro funcional nos tecidos (citocromos e enzimas) representam 0,5% do total de ferro do organismo. Além da hemoglobina, o organismo armazena ferro em diferentes tecidos sob formas de ferritina e hemossiderina. A quantidade de ferro nos depósitos é muito variável, mas equivale a 800 a 1.000 mg em um homem adulto, e cerca de 300 mg na mulher adulta. A ferritina, proteína presente no citoplasma da maioria das células, tem importante papel na estocagem do ferro (estoca até 4.500 átomos de ferro). É composta por 24 subunidades, com dois subtipos denominados H (Heavy ou Heart) e L (Light ou Liver), codificados por genes localizados nos cromossomos 11q e 19q, respectivamente. A ferritina H é pouco maior que a ferritina L e tem ação ferroxidase importante. A maior parte da ferritina sintetizada é usada na estocagem do ferro, entretanto pequena quantidade é secretada e liberada no soro (ferritina sérica), quantidade esta que se correlaciona com o estoque total de ferro no organismo. Por isso, a dosagem de ferritina plasmática é um exame importante para avaliar os depósitos de ferro do organismo. A outra forma de depósito de ferro no organismo é a hemossiderina, que corresponde a um agregado heterogêneo de ferro, componentes do lisossomo e outros produtos da digestão intracelular.Ela restringe-se aos macrófagos da medula óssea, do fígado e baço, representando pequena fração do ferro de estoque que pode, todavia, estar dramaticamente aumentada na sobrecarga de ferro. A destruição de hemácias senescentes ocorre nos macrófagos, principalmente do baço e medula óssea. Modificações bioquímicas presentes na membrana, decorrentes do envelhecimento eritrocitário, são sinais essenciais para que o macrófago reconheça quais células devem ser eliminadas. O ferro dos depósitos e aquele liberado pela destruição das hemácias são reutilizados para a síntese de hemoglobina. Dessa forma, o ferro é transferido dos depósitos, principalmente os macrófagos, para os eritroblastos em desenvolvimento. Essa mobilização do ferro dos depósitos torna possível a reutilização 25 a 30 mg de ferro por dia, o que corresponde à necessidade diária de ferro para a eritropoese. Os depósitos de ferro da medula óssea podem ser visualizados por reação citoquímica específica, que também revela um a três grânulos no citoplasma de eritroblastos (denominados “sideroblastos”). Esses depósitos medulares e os sideroblastos desaparecem por completo na deficiência de ferro. DIETA E ABSORÇÃO DE FERRO - A absorção intestinal é um processo finamente regulado 13 Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias em resposta às alterações da necessidade de ferro pelo corpo. Em geral é absorvido 0,5-2,0 mg/dia, quantidade que compensa as perdas, principalmente resultantes da descamação e células, crescimento e, no caso das mulheres, das perdas sanguíneas menstruais. Entretanto, essa absorção depende do depósito corporal de ferro, da hipóxia e do ritmo de eritropoese. A deficiência de ferro, por exemplo, é capaz de estimular a absorção de qualquer forma de ferro, embora seja menos eficiente no estímulo de absorção do ferro heme. A quantidade de ferro da dieta é bastante variável, na dependência de sua composição; os alimentos mais ricos em ferro são fígado, carne e alguns vegetais como feijão e espinafre. Fitatos, oxalatos e fosfatos formam complexos com o ferro, retardando a sua absorção, enquanto substâncias redutoras como hidroquinona, ácido ascórbico, sorbitol, cisteína, lactato, piruvato e frutose facilitam a absorção de ferro. A facilidade com que o tubo intestinal absorve o ferro depende da forma como ele está presente no alimento. O ferro na forma heme, presente em carne e fígado, representa um terço do ferro da dieta, sendo muito mais facilmente absorvido. Essa absorção é realizada por uma proteína ainda não completamente identificada, a HCP1 (Heme Carrier Protein 1). Já a absorção do ferro dos vegetais (ferro inorgânico ou ferrro não heme) é menos eficiente, dependendo bastante de vários fatores, como a presença de outras substâncias (fosfatos, oxalatos, aminoácidos livres) e produção de ácido clorídrico pelo estômago. Uma dieta bem equilibrada contém 10-20 mg de ferro por dia, dos quais cerca de 10% é absorvido. Contudo, o controle da absorção de ferro pelo epitélio intestinal é fundamental para a regulação dos estoques, pois a sua excreção não é fisiologicamente regulada. O ferro é absorvido na borda em escova das células epiteliais dos vilos intestinais do duodeno. Para sair do lúmen intestinal e atingir o plasma, o ferro precisa atravessar duas membranas da célula epitelial: a membrana apical e a basolateral. O transporte do ferro pela membrana apical do enterócito é realizado pelo DMT1, capaz de transportar outros metais divalentes (zinco, cobre, cobalto). Como o ferro inorgânico está primariamente presente na dieta na forma oxidada (Fe3+, ferro férrico) não biodisponível, para ser transportado pelo epitélio intestinal necessita ser reduzido a Fe2+ (ferro ferroso) pela DcytB (Duodenal cytochrome B), redutase férrica associada à membrana apical do enterócito. 14 Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias A expressão dessas proteínas, DcytB e DMT1, é acentuadamente influenciada pela deficiência de ferro. Uma vez no citoplasma do enterócito, o ferro tem dois possíveis caminhos a seguir: pode ser armazenado como ferritina na própria célula ou pode atravessar a membrana basolateral para chegar até o plasma. A proporção de ferro que segue cada uma das vias (absorção para o plasma ou armazenamento no enterócitos como ferritina) é determinada quando a célula é formada nas criptas do epitélio intestinal. Nas células das criptas, a proteína HFE (cujas mutações Cys282Tyr e His63Asp estão relacionadas à etiopatogenia da hemocromatose hereditária) e o receptor de transferrina (TfR) formam um complexo HFE-TfR que modula a capacidade absortiva do enterócito que futuramente irá migrar para os vilos intestinais e se tornar uma célula de absorção. Um dos moduladores da absorção de ferro é a dieta: quando a dieta é rica em ferro, e consequentemente a quantidade de ferritina no interior do enterócito está elevada, o complexo HFE-TfR inibe a capacidade absortiva de ferro do enterócito. Esse fenômeno é conhecido como bloqueio mucoso. Entretanto, nem todo ferro captado pelo enterócito é realmente transportado ao plasma. Se o ferro permanecer na forma de ferritina no enterócito, ele será perdido quando essa célula morrer e for descamada; dessa forma, o ferro não será “efetivamente” absorvido. Alternativamente, o ferro do citoplasma do enterócito pode atravessar a barreira basolateral, pela ação coordenada de duas proteínas: a ferroportina e a hefaestina, duas proteínas de membrana. A ferroportina é o único exportador celular de ferro, tem papel central na homeostase sistêmica desse metal e está presente na mucosa duodenal, nos macrófagos, hepatócitos e trofoblastos sinciciais da placenta. A outra proteína de membrana, a hefaestina, tem a função de oxidar o Fe2+ a Fe3+, permitindo seu transporte pela transferrina. A absorção de ferro é regulada em três pontos principais: Modulação de absorção provocada pela quantidade de ferro ingerida, chamada bloqueio mucoso; no entanto, com grandes doses de ferro, como doses farmacológicas ou intoxicações exógenas, esse bloqueio é superado, e a quantidade absorvida é proporcional à ingerida. Regulação pelo estoque de ferro pela hepcidina, de forma que a sobrecarga de ferro reduz a absorção, enquanto que a carência promove maior absorção de ferro. Sabe-se, hoje, que a hepcidina, peptídeo secretado pelo fígado, regula a taxa de absorção do ferro. 15 Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias Essa regulação se faz pelo controle de expressão da ferroportina. A ligação da hepcidina à ferroportina resulta na internalização desta última e perda de sua função. A ferroportina presente em macrófagos e fígado também é alvo da hepcidina. Assim, em situações de sobrecarga de ferro ou inflamação, observa-se elevação da hepcidina, e a liberação de ferro a partir de enterócitos, fígado e macrófagos encontra-se reduzida. Por outro lado, na presença de deficiência de ferro, anemia ou hipóxia, situações em que a hepcidina encontra- se diminuída, a expressão de ferroportina e a liberação de ferro das células intestinais, do fígado e dos macrófagos está aumentada. Regulação hematopoética, que faz com que a absorção seja modulada de acordo com as necessidades da eritropoese. A eritropoese acelerada aumenta a absorção de ferro, independentemente dodepósito corporal de ferro. Esse processo parece ser mediado pela Eritropoetina (Epo) e pelo GDF15 (Growth Differentiation Factor 15). A Epo suprime a expressão da hepcidina pela regulação negativa das vias STAT3 e SMAD. O GDF15 também tem ação supressora da expressão da hepcidina e atua nos estágios finais da eritropoese. TRANSPORTE DE FERRO - Após atravessar o enterócito, o ferro chega ao plasma onde se liga à transferrina. A transferrina pode receber ferro dos enterócitos e dos depósitos, e pode liberá-lo para os depósitos, para os eritroblastos, para o músculo, para a síntese de mioglobina, ou para diferentes tecidos para a síntese de enzimas e citocromos. A captação do ferro ligado à transferrina é intermediada pelo TfR, que pode ocorre sob duas formas: TfR1 e TfR2.5 O TfR1 é amplamente expresso na maioria das células, enquanto o TfR2 é restrito a hepatócitos, células da cripta duodenal e células eritroides, sugerindo que o TfR2 desempenhe um papel mais especializado no metabolismo do ferro. Desta forma, o compartimento plasmático de transporte de ferro tem papel central no intercâmbio de ferro entre os diferentes locais, e por isso as medidas laboratoriais realizadas no plasma ou soro (concentração de ferro sérico, de transferrina, de ferritina e saturação da transferrina) dão importantes informações sobre o metabolismo do ferro. Aproximadamente um terço da capacidade de ligação ao ferro da transferrina é ocupada pelo ferro, e o ferro ligado a ela se renova no mínimo dez vezes por dia. ENTREGA DO FERRO AOS TECIDOS - A ligação do TfR1 com a transferrina carregada de ferro desencadeia a invaginação da membrana celular, mediada pela clatrina, e formação de endossomos contendo o complexo transferrina/TfR1, seguida de alterações 16 Mírian Santos – 6° semestre. Fadiga, perda de peso e anemias conformacionais das proteínas, liberação e redução do ferro para Fe2+. O Fe2+ é então transportado através da membrana endossomal pela DMT1. No citoplasma, o ferro é incorporado à protoporfirina para a síntese do heme (nos eritroblastos) ou retido na forma de estoque (ferritina/hemossiderina nas células não eritroides). Nesse meio tempo, os endossomos retornam as proteínas, apotransferrina e TfR1, à superfície celular para serem reutilizadas. HOMEOSTASE INTRACELULAR DO FERRO - O sistema regulatório IRP/IRE (Iron Regulatory Protein/Iron Responsive Element) permite às células ajustar rapidamente a concentração do ferro citoplasmático e o funcionamento adequado dos componentes celulares dependentes de ferro. As IRP1 e IRP2 são capazes de registrar a concentração citoplasmática de ferro e regular a expressão pós-transcripcional de genes relacionados ao metabolismo deste metal, otimizando a utilização do ferro celular. A IRP1 é uma forma mais ativa de aconitase (proteína que contém agrupamento Fe-S) que a IRP2. Essas proteínas interagem com IRE, que são estruturas hairpin conservadas, localizadas nas regiões não traduzidas do RNA mensageiro (mRNA) da ferritina, do TfR e de outras proteínas, aumentando a captação de ferro ou diminuindo seu sequestro. EXCREÇÃO E PERDAS DE FERRO - Não existe mecanismo fisiológico de excreção de ferro, que é conservado pelo organismo com grande eficiência. Aproximadamente 1 mg de ferro (menos de 1 milésimo do total do organismo) é perdido diariamente, por via fecal (ferro presente nas células descamantes do epitélio), descamação da pele, do epitélio urinário e perspiração. Em mulheres, a menstruação normal leva à perda de 30-60 mL de sangue por mês, correspondentes a cerca de 15-30 mg de ferro por mês. A gravidez, a lactação e o crescimento são outras formas fisiológicas de aumento das necessidades de ferro.
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