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llllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll ABSORÇÃO Quando injetados nos tecidos moles, os anestésicos locais exercem uma ação farmacológica sobre os vasos sanguíneos da área. Todos os anestésicos locais apresentam algum grau de vasoatividade, a maioria deles produzindo a dilatação do leito vascular no qual são depositados, embora o grau de vasodilatação possa variar e alguns deles possam produzir vasoconstrição. Até certo grau, esses efeitos podem ser concentração- dependentes. INJEÇÃO A velocidade de absorção dos anestésicos locais após a administração parenteral (subcutânea, intramuscular ou IV) está relacionada tanto com a vascularização do local da injeção quanto com a vasoatividade da substância. A administração IV de anestésicos locais fornece a elevação mais rápida dos níveis sanguíneos e é utilizada clinicamente no tratamento primário das arritmias ventriculares. A administração IV rápida pode levar a níveis sanguíneos significativamente altos do anestésico local, o que pode induzir reações tóxicas graves. Os benefícios da administração IV da substância devem ser sempre avaliados em relação aos riscos. A substância deve ser administrada somente quando os benefícios superarem claramente os riscos, como no caso de arritmias ventriculares, como as contrações ventriculares prematuras (CVPs). DISTRIBUIÇÃO Depois de absorvidos pela corrente sanguínea, os anestésicos locais são distribuídos para todos os tecidos do corpo. Os orgãos (e áreas) altamente perfundidos, como cérebro, cabeça, fígado, rins, pulmões e baço, apresentam inicialmente níveis sanguíneos mais elevados do anestésico do que aqueles menos perfundidos. O músculo esquelético, embora não seja tão perfundido quanto os órgãos citados, contém maior percentagem de anestésico local do que qualquer tecido ou órgão, já que constitui a maior massa tecidual do corpo. A concentração plasmática de um anestésico local em certos órgãos-alvo tem um impacto significativo sobre a toxicidade potencial da substância. O nível sanguíneo do anestésico local é influenciado pelos seguintes fatores: 1. Velocidade de absorção da substância para o sistema cardiovascular; 2. Velocidade de distribuição da substância do compartimento vascular para os tecidos (mais rápida em pacientes saudáveis do que naqueles que apresentam comprometimento médico [como insuficiência cardíaca congestiva], levando, assim, a níveis sanguíneos mais baixos nos pacientes saudáveis); 3. Eliminação da substância por vias metabólicas ou excretoras. Os dois últimos fatores reduzem o nível sanguíneo do anestésico local. O tempo de meia-vida de eliminação é o tempo necessário para uma redução de 50% do nível sanguíneo. Todos os anestésicos locais atravessam com facilidade a barreira hematoencefálica. Eles também atravessam prontamente a placenta e entram no sistema circulatório do feto em desenvolvimento. METABOLISMO (BIOTRANSFORMAÇÃO, DESTOXIFICAÇÃO) Uma diferença significativa entre os dois principais grupos de anestésicos locais, os ésteres e as amidas, é o meio pelo qual o organismo transforma biologicamente a substância ativa em uma substância farmacologicamente inativa. O metabolismo (ou biotransformação ou detoxificação) dos anestésicos locais é importante, pois a toxicidade geral da substância depende do equilíbrio entre a velocidade de absorção pela corrente sanguínea no local de injeção e a velocidade em que ela é removida do sangue por meio dos processos de absorção tecidual e de metabolismo. ANESTÉSICOS LOCAIS DO TIPO AMIDA A biotransformação dos anestésicos locais do tipo amida é mais complexa que a dos ésteres. O local primário da biotransformação dos anestésicos locais do tipo amida é o fígado. Praticamente todo o processo metabólico ocorre no fígado para a lidocaína, mepivacaína, etidocaína e bupivacaína. A prilocaína sofre o metabolismo primário no fígado, com algum metabolismo ocorrendo também possivelmente no pulmão. A articaína, uma molécula híbrida contendo componentes tanto éster quanto amida, é metabolizada tanto no sangue quanto no fígado. A velocidade de biotransformação da lidocaína, mepivacaína, etidocaína e bupivacaína é semelhante. Portanto, a função e a perfusão hepáticas influenciam significativamente a velocidade de biotransformação de um anestésico local do tipo amida. Aproximadamente 70% de uma dose de lidocaína injetada sofrem biotransformação em pacientes com função hepática normal. Pacientes com fluxo sanguíneo hepático abaixo do habitual (hipotensão, insuficiência cardíaca congestiva) ou função hepática deficiente (cirrose) são incapazes de efetuar a biotransformação dos anestésicos locais do tipo amida em velocidade normal. Essa biotransformação mais lenta acarreta níveis sanguíneos elevados do anestésico e aumento potencial na toxicidade. Uma disfunção hepática significativa representa uma contraindicação relativa à administração de anestésicos locais do tipo amida. A articaína apresenta meia-vida mais curta do que as outras amidas, porque uma parte de sua biotransformação ocorre no sangue por meio da enzima colinesterase plasmática. Os produtos da biotransformação de alguns anestésicos locais podem apresentar atividade clínica significativa caso seja permitido seu acúmulo no sangue. Isso pode ser observado na insuficiência renal ou cardíaca e durante períodos de administração prolongada da substância. EXCREÇÃO Os rins são os órgãos excretores primários tanto para os anestésicos locais quanto para seus metabólitos. Uma percentagem da dose do anestésico local é excretada inalterada na urina. Essa percentagem varia de acordo com a substância. As amidas são geralmente encontradas na urina como o composto primário em uma maior percentagem do que os ésteres, principalmente em razão de seu processo de biotransformação mais complexo. Embora as percentagens da substância original encontradas na urina variem de um estudo para outro, menos de 3% de lidocaína, 1% de mepivacaína e 1% de etidocaína são encontrados inalterados na urina. Os pacientes com insuficiência renal significativa podem ser incapazes de eliminar do sangue o anestésico local original ou seus principais metabólitos, resultando em um ligeiro aumento dos níveis sanguíneos desse composto e, portanto, em aumento no potencial de toxicidade. Isso pode ocorrer tanto com ésteres quanto com amidas e é especialmente provável com a cocaína. Portanto, doenças renais significativas (ASA 4 ou 5) constituem contraindicação relativa à administração de anestésicos locais. Isso inclui pacientes que se submetem à diálise e aqueles portadores de glomerulonefrite ou pielonefrite crônica. AÇÕES SISTÊMICAS DOS ANESTÉSICOS LOCAIS O sistema nervoso central e o sistema cardiovascular são particularmente suscetíveis aos anestésicos locais. SISTEMA NERVOSO CENTRAL Os anestésicos locais atravessam facilmente a barreira hematoencefálica. Sua ação farmacológica no SNC é a depressão. Em níveis sanguíneos baixos (terapêuticos, não tóxicos), não ocorrem efeitos clinicamente significativos no SNC. Em níveis mais altos (tóxicos, superdosagem), a manifestação clínica primária é a convulsão tônico-clônica generalizada. Entre esses dois extremos há um espectro de sinais e sintomas clínicos. PROPRIEDADES ANTICONVULSIVANTES Alguns anestésicos locais (p. ex., procaína, lidocaína, mepivacaína, prilocaína, até mesmo a cocaína) têm demonstrado propriedades anticonvulsivantes. Essas propriedades ocorrem em um nível sanguíneo consideravelmente menor que aquele no qual os mesmos agentes produzematividade convulsiva. A procaína, a mepivacaína e a lidocaína têm sido utilizadas por via intravenosa para fazer interromper ou reduzir a duração das crises de grande mal e pequeno mal. O nível sanguíneo anticonvulsivante da lidocaína é muito próximo de seus limites cardioterapêuticos. Foi demonstrado que ela é eficaz na suspensão temporária das crises na maioria dos pacientes. Ela é particularmente eficaz em interromper o estado epiléptico. Mecanismo das Propriedades Anticonvulsivantes: Os pacientes epilépticos apresentam neurônios corticais hiperexcitáveis no local no cérebro onde o episódio convulsivo tem origem (designado como foco epiléptico). Em virtude de suas ações depressoras no SNC, os anestésicos locais elevam o limiar convulsivo por meio da redução da excitabilidade desses neurônios, prevenindo ou interrompendo as crises. ANALGESIA Existe uma segunda ação dos anestésicos locais no SNC. Quando administrados por via intravenosa, eles aumentam o limiar de reação à dor e produzem algum grau de analgesia. ELEVAÇÃO DO HUMOR O uso de substâncias anestésicas locais para a elevação do humor e o rejuvenescimento persiste por séculos, apesar do registro de eventos catastróficos (na elevação do humor) e da falta de efeito desejado (no rejuvenescimento). SISTEMA CARDIOVASCULAR Os anestésicos locais têm ação direta no miocárdio e na vasculatura periférica. Entretanto, em geral, o sistema cardiovascular parece ser mais resistente aos efeitos de substâncias anestésicas locais do que o SNC. AÇÃO DIRETA NO MIOCÁRDIO Os anestésicos locais modificam os eventos eletrofisiológicos que ocorrem no miocárdio de maneira semelhante às suas ações nos nervos periféricos. À medida que aumenta o nível sanguíneo de anestésico local, a velocidade de elevação de várias fases da despolarização miocárdica diminui. Não há alterações significativas no potencial de membrana em repouso e não há prolongamento significativo das fases de repolarização. Os anestésicos locais produzem depressão do miocárdio que está relacionada com o nível sanguíneo do anestésico local. Os anestésicos locais diminuem a excitabilidade elétrica do miocárdio, a velocidade de condução e a força de contração. As ações cardíacas diretas dos anestésicos locais em níveis sanguíneos acima do nível terapêutico (antiarrítmico) incluem redução da contratilidade do miocárdio e diminuição do débito cardíaco, ambas levando a colapso circulatório. AÇÃO DIRETA NA VASCULATURA PERIFÉRICA A cocaína é o único anestésico local que produz vasoconstrição de maneira consistente nas doses comumente empregadas. Todos os outros anestésicos locais produzem vasodilatação periférica pelo relaxamento da musculatura lisa das paredes dos vasos sanguíneos. Isso resulta em aumento do fluxo sanguíneo de entrada e saída do local da deposição do anestésico local. O aumento no fluxo sanguíneo local eleva a velocidade de absorção da substância, o que leva, por sua vez, à diminuição da profundidade e da duração da ação anestésica local, ao aumento do sangramento na área de tratamento e à elevação dos níveis sanguíneos do anestésico local. O efeito primário dos anestésicos locais sobre a pressão arterial é a hipotensão. Em resumo, os efeitos negativos no sistema cardiovascular não são observados até que haja elevação significativa dos níveis sanguíneos dos anestésicos locais. A sequência habitual das ações induzidas pelos anestésicos locais no sistema cardiovascular é a seguinte: 1. Em níveis abaixo da superdosagem, há um pequeno aumento ou nenhuma alteração na pressão arterial em razão do aumento do débito cardíaco e da frequência cardíaca, como consequência do estímulo da atividade simpática; há também vasoconstrição direta de alguns leitos vasculares periféricos. 2. Em níveis próximos, porém ainda abaixo da superdosagem, observa-se grau leve de hipotensão; isso é causado pela ação relaxante direta sobre o músculo liso vascular. 3. Em níveis de superdosagem, há acentuada hipotensão, causada pela diminuição da contratilidade do miocárdio e redução do débito cardíaco e da resistência periférica. 4. Em níveis letais, é observado colapso cardiovascular. Isso é causado pela vasodilatação periférica maciça e diminuição da contratilidade do miocárdio e da frequência cardíaca (bradicardia sinusal). 5. Alguns anestésicos locais, como bupivacaína (e em menor grau ropivacaína e etidocaína) podem precipitar fibrilação ventricular potencialmente fatal.
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