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A PROPOSTA DE EDUCAÇÃO INTEGRAL EM TEMPO INTEGRAL DE MATO GROSSO E SUAS CONVERGÊNCIAS COM AS BASES LEGAIS Kleber Gonçalves Bignarde Jefferson Ferreira RESUMO O presente artigo visa discorrer sobre a implantação do ensino médio em tempo integral na educação matogrossense no presente ano letivo. Em especial, discute sobre as bases legais que fundamentam a proposta de educação integral em tempo integral como o projeto referência para ensino médio em Mato Grosso. Para a realização do intento, busca-se os princípios legais nas leis, pareceres, resoluções, Diretrizes Curriculares Nacionais e também nas metas no Plano Nacional de Educação (PNE) no âmbito federal como também leis, resoluções normativas, portarias estaduais e metas no Plano Estadual de Educação (PEE).No bojo de tais fundamentações, esta pesquisa documental visa levantar as aproximações entre o Projeto de Referência para Implantação da Educação Integral em Tempo Integral em escolas de Educação Básica de Mato Grosso, com o arcabouço legal em nível nacional e estadual.Especificamente, este trabalho aborda a gama de princípios legais nas considerações sobre as concepções de educação integral em tempo integral, pleno desenvolvimento do educando,organização curricular à luz da educação integral em tempo integral.Concomitantemente, arrola os fundamentos legais como alicerce de algumas dimensões da matriz curricular do ensino médio integral em tempo integral em conformidade com as Portarias nº 35/2016/GS/SEDUC e nº 37/2016/GS/SEDUC. Com base no exposto, verifica-se que sem negar a relevância dos Programas Mais Educação ou Educa Mais relacionados ao PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola, a proposta de educação integral em tempo integral para o Estado de Mato Grosso é muito mais que uma visão de ambos os programas, ou de um tempo integral em oficinas, algumas vezes descontextualizadas da Base Nacional Comum (BCN). Formação integral articulada às potencialidades de todas as dimensões do sujeito sócio-histórico a fim de possibilitar a potencialização das aprendizagens dos alunos. Palavras-chaves: EDUCAÇÃO INTEGRAL, BASES LEGAIS, ENSINO MÉDIO. 1. Introdução No mês de janeiro de 2016, por intermédio da Portaria Nº. 035/2016/GS/SEDUC/MT no Diário Oficial de 26 de janeiro de 2016, e da Portaria Nº 037/2016/GS/SEDUC/MT de 28 de janeiro de 2016,a SEDUC instaura o projeto referência com a implantação do ensino médio em tempo integral em quatro (4) unidades escolares, sendo duas (2) no município de Cuiabá, na Escola Estadual Antônio Epaminondas e na Escola Estadual José de Mesquita; e outras duas em Rondonópolis, na Escola Estadual Pindorama e na Escola Estadual André Antônio Maggi. XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 9358ISSN 2177-336X Temos a seguinte questão de pesquisa: em que fundamentos, princípios e documentos legais fundamentam-se o Ensino médio integral em tempo integral no Estado de Mato Grosso? 2. A educação integral em tempo integral: bases legais federais 02 A partir do ano de 1988, a educação nacional sofre uma guinada relevante com a promulgação da Constituição Federal – Constituição Cidadã, a qual promove uma educação voltada a formação para a cidadania. Tal preceito reverbera posteriormente em 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN nº 9.394-96, cujo pilar é a formação para o exercício de desenvolvimento da cidadania como tratado: Artigos 2º e Art. 22:“Art. 2º A educação, [...], tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 2015, s/p.) [grifo nosso]. E, no “Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL, 2015, s/p.) [grifo nosso]. Ambos os artigos são de suma importância para a compreensão da educação integral em tempo integral, pois assentam-se na formação para a cidadania na visão mais ampla de desenvolvimento humano. Assim, ademais somente de considerar o desenvolvimento cognitivo-mental do estudante, leva-se em conta outros mais como os desenvolvimentos afetivo-emocional, o social, o cultural, o motor-físico, o espiritual, o artístico-musical, o linguístico, o interpessoal, o ético, o estético, o intrapessoal, etc. Esta gama de aprimoramento pleno do educando como um ser social está em diálogos com os quatro pilares da Educação da Unesco: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e a conviver, os quais devem estar presentes em uma perspectiva educacional integral. No âmbito da etapa do Ensino Médio, a LDBEN abarca o desenvolvimento pleno ou integral do estudante, a saber: “Art. 35 - II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, [... e]; III – o aprimoramento do educando como pessoa humana” (BRASIL, 2015, s/p.). Coerente com o exposto, na esfera estadual, o ensino médio integral em tempo integral visa a transformar o educando para o exercício pleno da cidadania e seu aprimoramento cidadão integral. 2.1 Bases legais nacionais: Parecer, Resoluções Normativas e DCNs XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 9359ISSN 2177-336X Fundamentada no Parecer CNE/CEB n. 7/2010, o CNE/CEB publica a Resolução Normativa n. 04/2010 – que define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica -, toma um viés educacional: “Art. 1º - [...]baseando-se no direito de toda pessoa ao seu pleno desenvolvimento, à preparação para o exercício da cidadania e à qualificação para o trabalho [...]”(BRASIL, CNE/CEB, 2010, p. 3). 03 Face ao aprimoramento cidadão do educando em sua plenitude humana, a Resolução Normativa dita: “Art. 12: Cabe aos sistemas educacionais, [...] definir o programa de escolas de [...] tempo integral (turno e contra-turno ou turno único com jornada escolar de 7 horas, no mínimo, durante todo o período letivo) [...]” (BRASIL, CNE/CEB, 2010, p. 3). Ainda, o CNE/CBE frisa que: “Art. 12 § 1º - Deve-se ampliar a jornada escolar, em únicos ou diferentes espaços educativos, nos quais a permanência do estudante vincula-se tanto à quantidade e qualidade do tempo diário de escolarização quanto à diversidade de atividades de aprendizagens” (BRASIL, CNE/CEB, 2010, p. 3). Outro amparo legal à oferta de educação integral em tempo integral é dado pelo Parecer CNE/CEB n. 5/2011, Art. 14 - III; e pela Resolução Normativa n. 2/2012 - que define Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio -, cujo Art. 14 advoga que:“Art. 14 – III - O Ensino Médio regular diurno, [...] pode-se organizar em regime de tempo integral, com no mínimo 7 horas diárias” (BRASIL, CNE/CEB, 2012, p. 5). Já nas DCNs, a jornada escolar com regime de tempo integral leva em conta que: “O Ensino Médio, fundamentado na integração das dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura, pode contribuir para explicitar o significado da formação na etapa [...] conclusiva da Educação Básica, uma vez que materializa a formação humana integral.” (BRASIL, 2013, p. 190). Nesse sentido, falar em uma jornada integrada em tempo integral é falar em atividades integradas com as quatro dimensões das atividades educativas no Ensino Médio – trabalho, ciência, tecnologia e cultura. Por fim, os fundamentos teórico-legais expostos anteriormente implicam de sobremaneira nas bases legais estaduais. 3. A educação integral em tempo integral: bases legais estaduais Entre os anos de 2014 e 2015, dois movimentos instauram-se na base legal da educação estadual: a aprovação do Plano Estadual de Educação (doravante PEE) em 2014, e no ano subsequente,a promulgação da Resolução Normativa n. 02/2015 pelo Conselho Estadual de Educação de Mato Grosso. Ambos os documentos se configuram num suporte legal para um outro movimento educacional, a criação do Ensino médio integral em tempo integral, amparado também na Portaria nº. 035/2016/GS/SEDUC/MT e Portaria nº. 037/2016/GS/SEDUC/MT. XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 9360ISSN 2177-336X 3.1 O Plano Estadual de Educação e a Resolução Normativa n. 02/2015 Promulgado em 2014, o Plano Estadual de Educação propõe a seguinte meta: “META 16 – Aumentar progressivamente a carga horária em 01 hora por ano atingindo pelo menos sete horas diárias, para 25% (vinte e cinco por cento) dos estudantes matriculados na Educação Básica até 2017” (MATO GROSSO, PEE, 2014, p. 39). 04 Já a Resolução Normativa n. 002/2015-CEE-MT, que estabelece normas aplicáveis para a Educação Básica no Sistema Estadual de Ensino e dá outras providências. Entre elas, a educação em tempo integral:“Art. 11 – Cabe às redes de ensino definir o programa de escolas de tempo integral diurno (matutino ou vespertino), [...] e tempo integral (turno e contra turno ou turno único, com jornada escolar de 7 horas, no mínimo, durante todo o período letivo) [...]” (MATO GROSSO, CEE-MT, 2015, s/p.). O Conselho Estadual de Educação contempla outro aspecto da formação integral: “Art. 11 - §1º – Deve-se ampliar a jornada escolar, em único ou diferentes espaços educativos, [...] à diversidade de atividades de aprendizagens” (MATO GROSSO, CEE-MT, 2015, s/p.).Como a Resolução Normativa n. 02/2015 não detalha o que seja a diversidade de atividades de aprendizado, a SEDUC regulamenta a Portaria n. 37/2016 para especificar esta gama de atividades escolares estruturadas em uma matriz curricular delineada em 8 (oito) macrocampos. É um rearranjo relevante da integração entre a Base Nacional Comum e a parte diversificada do currículo. Como também, é uma articulação educacional que engloba implicitamente os pilares da educação - Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser, aprender a conviver e aprender a aprender, e as dimensões de ações escolares no Ensino Médio: o Trabalho, a Ciência, a Cultura e a Tecnologia. 4. Considerações à respeito do Projeto Referência No ano de 2016, a SEDUC divulga a Portaria n. 035/2016/GS/SEDUC/MT sobre a implantação do Projeto de Referência de educação integral em tempo integral: “Considerando que Educação integral em tempo integral compreende não apenas a permanência do aluno na Escola, mas a oferta de oportunidade educacional em período único, sendo o mínimo de 7 horas, com a realização de atividades integradas aos macrocampos que possam fortalecer e favorecer a aprendizagem, desenvolver as competências inerentes ao desenvolvimento pleno do aluno compreendido na formação humana” (MATO GROSSO, SEDUC, 2016, p. 1) [ênfase adicionada]. No âmbito da matriz curricular do ensino médio integral em tempo integral, concomitantemente às atividades da BNC, existem as chamadas atividades XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 9361ISSN 2177-336X complementares ou atividades integradas, especificamente designadas como atividades integradas aos macrocampos, as atividades de linguagens, atividades de Matemática e Ciências da Natureza, atividades de Ciências Humanas, projetos de vida I e II, todos esses articulados na parte diversificada da matriz (cf. Portaria n. 37/2016/GS/SEDUC). 05 A educação integral em tempo integral trabalha o indivíduo em sua totalidade, em sua multidimensionalidade como pessoa humana. Formação integral articulada às potencialidades de todas as dimensões do sujeito sócio-histórico a fim de possibilitar a potencialização das aprendizagens dos alunos. Em suma, os fundamentos legais nacionais e estaduais delineados no presente artigo demonstram que o ensino médio integral em tempo integral está fundamentado em uma rede ampla de princípios teóricos, legais e jurídicos a fim de propiciar-se uma educação mais transformadora, inclusiva e mais cidadã aos jovens mato-grossenses. Portanto, tal transformação educacional possibilita e potencializa engendrar uma transformação da vida social e da vida em sociedade aos estudantes da rede estadual. Referências bibliográficas BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Atualizada em 19/03/2015. Edição: 11ª, Brasília, DF, 2015. BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO/CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Brasília, DF, 2013. BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO/CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Resolução Normativa n.04/2010. Brasília, DF, 2010. BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO/CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Resolução Normativa n.07/2010. Brasília, DF, 2010. BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO/CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Parecer n. 05/2011. Brasília, DF, 2011 BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO/CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Resolução Normativa n. 02/2012. Brasília, DF, 2012. MATO GROSSO. Plano Estadual de Educação e Plano Nacional de Educação. Cuiabá, Mato Grosso, 2014. XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 9362ISSN 2177-336X MATO GROSSO. SEDUC. PORTARIA Nº. 035/2016/GS/SEDUC/MT.Cuiabá, Mato Grosso, 2016. MATO GROSSO. SEDUC. PORTARIA Nº 037/2016/GS/SEDUC/MT.. Cuiabá, Mato Grosso, 2016. MATO GROSSO. CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO – CEE/MT. RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 002/2015-CEE-MT. Cuiabá, MT, 2015. Publicada no Diário Oficial de 24/09/2015. XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 9363ISSN 2177-336X
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