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Apostila de Direito Civil V - Direito das coisas - parte 1

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17
Apostila de Direito Civil V – Direito das Coisas
Prof. Murilo Silveira e Pimentel
Direito das Coisas
Professor Murilo Silveira e Pimentel
Whatsapp: 64 99213-4584
Instagram: @prof.murilopimentel
Ementa: Conceito e princípios do Direito das Coisas. Posse. Direitos reais. Propriedade. Superfície, servidões, usufruto, uso, habitação, direito do promitente comprador, penhor, hipoteca, anticrese, concessão de uso especial para fins de moradia, concessão de direito real de uso e laje.
Bibliografia Básica
DINIZ, Maria Helena; Curso de Direito Civil Brasileiro: direito das coisas, vol 04, São
Paulo, 30ª edição, editora Saraiva, 2015 (livro físico).
GONÇALVES, Carlos Roberto; Direito Civil Brasileiro: direito das coisas, vol. 05, São
Paulo, 12ª edição, editora Saraiva, 2015 (livro físico).
PEREIRA, Caio Mário da Silva; Instituições de Direito Civil: direitos reais, revisor
MONTEIRO FILHO, Carlos Edson do Rêgo, vol. 04, 20ª edição, editora Forense, 2009
(livro físico).
VENOSA, Sílvio de Salvo; Direito Civil: direitos reais, vol. V, São Paulo, 15ª edição,
editora Atlas, 2015 (livro físico).
Bibliografia Complementar
DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado, São Paulo, 17ª edição, editora Saraiva, 2014 (livro físico).
GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Manual de Direito Civil, vol. único, São Paulo, 2ª edição, editora Saraiva, 2018 (livro digital).
MAZZILI, Hugo Nigro, e GARCIA, Wander. Anotações ao Código Civil, São Paulo, 1ª
edição, editora Saraiva, 2005 (livro físico).
NADER, Paulo. Curso de Direito Civil: direito das coisas, vol. 04, Rio de Janeiro, 7º edição, editora Gen/Forense, 2016 (livro digital).
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil: direitos reais, vol. IV,revista e atualizada por FILHO, Carlos Edison do Rêgo Monteiro, Rio de Janeiro, 26ª edição, editora Gen/Forense, 2.018 (livro digital).
RODRIGUES, Sílvio.Direito Civil: direito das coisas, vol. 05, São Paulo, 28ª edição, editora Saraiva, 2007 (livro físico).
SILVA, Regina Beatriz Tavares da (coordenação).Código Civil Comentado, São Paulo, 6ª edição, editora Saraiva, 2.008 (livro físico).
TARTUCE, Flávio.Direito civil: direito das coisas, vol 04, Rio de Janeiro, 11ª edição, editora Gen/Forense, 2.019 (livro digital).
TARTUCE, Flávio.Manual de Direito Civil. vol. único, São Paulo, 9ª edição, editora
Gen/Método, 2019 (livro digital).
DIREITO DAS COISAS
Conceito
 	Muita discussão existe a respeito da denominação correta desta parte do Direito Civil, porquanto se entende que o designativo correto seria direitos reais e não direito das coisas, uma vez que, em expressão de origem irônica, as coisas não têm direitos.
 	Entretanto, a discussão não se resume a isso, porquanto a denominação que se deve dar a um ramo do direito deve ser aquela que melhor signifique a abrangência de seu objeto.
 	Com efeito, sob a rubrica direito das coisas, o código disciplina não só os direitos reais, que são aqueles taxativamente previstos no art. 1.225, mas, também, a posse e outros direitos derivados diretamente da propriedade, como, por exemplo, os direitos de vizinhança.
 	Destarte, a denominação direitos reais não abrangeria todo o objeto da disciplina, de forma que o legislador deve ter por preocupação o conteúdo material das questões tratadas. No caso específico, a relação do sujeito de direitos com as coisas é, de fato, o critério que fornece maior amplitude para emprestar à disciplina um nome.
Distinções entre os direitos reais e os direitos pessoais
 	Existem várias concepções acerca da diferenciação entre direitos pessoais e reais. Existem a teoria realista e a teoria personalista:
a) pela teoria realista, o direito real encerra uma relação entre a pessoa e a coisa; 
b) pela teoria personalista, o direito real, assim como o direito pessoal, também encerra relação entre pessoas, entretanto, o sujeito passivo não é certo e determinado, mas, sim, um sujeito passivo universal.
 	De qualquer sorte, o direito real se diferencia, principalmente, do direito pessoal, por não necessitar de intermediário (outra pessoa) para ser exercido, mas, apenas, da própria coisa e, em regra, opõe-se erga omnes (contra todos).
 	Pode-se traçar o seguinte entre as principais diferenças entre direitos reais e pessoais:
Direitos pessoais: 
a1) são exercidos contra outra pessoa; 
a2) é oponível somente contra o devedor ou quem por ele se obrigar, por lei ou por contrato; 
a3) os direitos pessoais são transitórios, ou seja, extinguem-se com o cumprimento da obrigação; 
a4) podem ser violados por fato positivo (obrigações de não fazer) ou negativo (inadimplemento); 
a5) não se adquire direito pessoal por usucapião; 
a6) podem ser criadas novas formas de direito pessoal, livremente, pela vontade das partes.
Direitos reais: 
b1) são exercidos sobre a coisa; 
b2) são oponíveis erga omnes, ou seja, podem ser exercidos contra todos; 
b3) são perpétuos, porquanto não dependem do cumprimento de uma prestação, por outrem, para serem satisfeitos; 
b4) somente podem ser violados por fato positivo; 
b5) podem ser adquiridos por usucapião; 
b6) Tipicidade: não podem ser criados, livremente pelas partes, novos modos de direitos reais, uma vez que o rol de direitos reais constante da lei é taxativo (numerus clausus) e não pode ser ampliado por convenção particular, mas somente pela própria lei (independentemente de ser o próprio código civil); 
b7) Sequela: atributo específico dos direitos reais, a sequela é a prerrogativa que faz com que referido direito tenha o efeito de seguir a coisa sobre a qual incide onde quer que esteja.
POSSE
Teorias sobre a posse
 	São duas as teorias mais discutidas a respeito da natureza jurídica da posse, quais sejam, a teoria subjetiva de Savigny e a teoria objetiva de Ihering.
Teoria subjetiva
 	Para Savigny, a posse é um estado de fato sobre a coisa, segundo o qual o possuidor, além de deter a coisa em seu poder (corpus), tem o ânimo de detê-la como dono (animus domini). Em razão disso, sua teoria é conhecida como subjetiva, pois depende da análise subjetiva da vontade do detentor de possuir a coisa como dono.
 	As consequências da teoria subjetiva importam em classificar a posse como atributo exclusivo do proprietário, qualificando, pois, como simples detenção, situações como a do locatário, do credor pignoratício, do arrendatário, etc.
Teoria objetiva
 	A teoria de Ihering explica melhor a diferença entre posse e detenção e possibilita enxergar o fenômeno da divisão da posse em direta e indireta.
 	Para Ihering, a posse existe quando exercida de forma a aparentar o domínio sobre a coisa, ou seja, para o referido doutrinador, a posse é a exteriorização do domínio. Para que haja posse, não é necessário que o possuidor tenha ânimo de dono sobre a coisa, mas apenas que detenha a coisa (corpus) de forma a exercer poderes próprios de proprietário.
 	Assim, sua teoria é objetiva, pois não exige a pesquisa do ânimo do possuidor de ter a coisa como dono, mas apenas os caracteres de sua detenção sobre a coisa.
 	Destarte, aquele que possui a coisa, exercendo poderes típicos de proprietário, será considerado possuidor, independentemente de ter o domínio sobre a coisa ou o ânimo de adquiri-lo. Assim, contempla-se a situação do locatário, por exemplo, que exerce poderes típicos de proprietário como usar a coisa ou dispor deste uso (sublocação).
 	Para a teoria objetiva, portanto, a posse se difere da detenção, não porque na posse haja o animus domini, mas porque, se na mera detenção o detentor age sob o mando ou instruções de outrem, não tem essa detenção nenhuma das características da propriedade.
 	Além disso, situações como a do locatário, credor pignoratício, arrendatário, etc explicam a divisão da classificação da posse em:
· direta (exercida por quem está na detenção da coisa, com caracteres específicos de dono)
· indireta (exercida pelo proprietário que cede a outrem a posse direta).
 	O Código Civil de 1916 já adotava esta teoria, quando rezava, em seu art. 485, que “considera-se possuidor toda aqueleque tem de fato o exercício, pleno, ou não, de algum dos poderes inerentes ao domínio ou propriedade”.
 	O Código Civil de 2002 também acata a teoria objetiva, ao dispor, no art. 1.196: 
“Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”.
OBS: a teoria adotada pelo Código Civil é a teoria objetiva de Ihering.
Teoria social
 	O francês Raymond Saleilles formulou uma teoria própria, partindo, no entanto, dos princípios da teoria objetiva de Ihering.
 	Para Saleilles, tal como para Ihering, a caracterização da posse prescinde do elemento subjetivo (animus domini), bastando seus elementos externos, ou seja, a aparência de domínio na conduta do possuidor.
 	No entanto, Saleilles defende que a posse só pode merecer proteção jurídica quando o estado de fato sobre a coisa estiver acompanhado da realização de algum objetivo sócio-econômico. Desta forma, evita-se que o ordenamento jurídico ampare situações em que se exerce posse sem nenhum objetivo social ou econômico, mas por mera especulação.
 	Em seu projeto de modificação do Código Civil (Projeto 6.960/02), o deputado Ricardo Fiúza propõe a seguinte redação para o art. 1.196 do Código Civil:
“Considera-se possuidor todo aquele que tem poder fático de ingerência socioeconômica, absoluto ou relativo, direto ou indireto, sobre determinado bem da vida, que se manifesta através do exercício ou possibilidade de exercício inerente a propriedade ou outro direito real suscetível de posse.”
Como se vê, o projeto de autoria do deputado Ricardo Fiúza adota, claramente, a teoria da função social da posse, de Saleilles, porque exige, para configuração da posse, o exercício de poder fático de ingerência socioeconômica sobre a coisa. Não basta, para tanto, deter a coisa com aparência de dono, mas exercer sobre ela alguma atividade relevante do ponto de vista socioeconômico.
Localização tópica da posse
 	Independentemente da teoria que se adote (objetiva ou subjetiva), a posse é um estado de fato sobre a coisa e não propriamente um direito que se exerce sobre ela. Por isso, o Código Civil não admite a posse como direito real, deixando de arrolá-la como tal no art. 1.225.
 	Assim, temos no código civil, no livro a respeito do direito das coisas, o título I a respeito da posse e, posteriormente, o título II a respeito dos direitos reais.
Classificações da posse
 	Conforme certas características da posse, ela pode ser classificada, conforme veremos adiante:
Posse direta e indireta: é a divisão da posse conforme o proprietário ou outro detentor de direito real sobre a coisa transfere a outrem a posse direta sobre a coisa. 
 	A diferença entre posse direta e indireta se encontra principalmente no contato físico e imediato com o bem. Na posse direta a pessoa está fisicamente presente com o bem, seja móvel ou imóvel, já na indireta, ele conserva alguns direitos porém não está fisicamente presente.
 	Reza o art. 1.197 do Código Civil que “a posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto”.
Posse e detenção: A posse, como vimos, é o estado de fato de uma pessoa sobre a coisa que faz exteriorizar alguns dos caracteres da propriedade; assim, o possuidor possui em nome próprio, tendo ou não a propriedade. A detenção, por sua vez, caracteriza-se pelo apoderamento da coisa em nome de outra pessoa ou em cumprimento de ordens ou instruções desta outra pessoa (ex.: a detenção do caseiro sobre a terra rural que lhe é confiada). 
 	Assim, disciplina o art. 1.198: “Considera-se detentor aquele que, achando- se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário”. 
 	Também se têm entendido como mera detenção as situações dos arts. 1.208 e 1.224 do Código Civil: 
“Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade”; 
“Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido”. 
 	A esta última hipótese PONTES DE MIRANDA dá o nome de tença. Na consideração da detenção relevam três conclusões distintas: 1 – a mera detenção não é capaz de gerar posse ad usucapionem, a não ser que se convole em posse (art. 1.224); 
2 – a detenção não pode se convolar em posse por ato unilateral do detentor, mas sempre com a participação do possuidor, ainda que por inércia, como no caso do art. 1.224; 
3 – a ocupação ou apropriação de bens públicos não gera posse, mas sempre detenção, por se tornar impossível a aparência de dono exigida pela teoria objetiva;
Composse: É o fenômeno pelo qual duas ou mais pessoas possuem, em comum, uma coisa indivisa, hipótese na qual “poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores” (art. 1.199);
Posse justa e injusta: posse justa é aquela exercida a justo título. Classifica-se a posse como justa por exclusão, ou seja, será justa quando não for adquirida de forma violenta, clandestina ou precária (nec vim, nec clam, nec precario), hipóteses em que se qualifica como injusta. Assim, temos: 
1) posse violenta: aquela adquirida pela força contra o justo possuidor. A violência pode ocorrer tanto no momento da aquisição da posse como em momento posterior. Assim, há posse violenta quando a violência é dirigida à retirada da posse do justo possuidor; da mesma forma, é violenta a posse quando o justo possuidor, não tendo presenciado o esbulho, é repelido posteriormente. Enfim, entende-se por violência somente aquela praticada contra a pessoa do possuidor e não contra a coisa, de forma que o rompimento de obstáculo, por exemplo, para apossamento de coisa abandonada, não caracteriza a violência prevista no dispositivo. Exemplo: movimento popular invade violentamente, expulsando a tapas o caseiro.
2) posse clandestina: aquela que se adquire às escondidas, em detrimento do justo possuidor. Um bom exemplo são as situações em que grupos se valem da “calada da noite” (período de menor circulação de pessoas) para invadir propriedade às escondidas, sem conhecimento do proprietário.  Invasor que se apossa do terreno na calada da noite, sem o conhecimento do dono. Pessoa que aproveita a ausência do possuidor e invade sua casa de praia. Alteração de marcos que dividem dois imóveis na calada da noite.
3) posse precária: aquela que se adquire com abuso de confiança, resultando, geralmente, da retenção indevida da coisa que se deve restituir ao justo possuidor. Exemplo: o comodatário que findo o empréstimo não devolve o bem). Assemelha ao estelionato ou apropriação indébita.
Posse de boa-fé e de má-fé: A posse será de boa ou de má-fé conforme o possuidor conheça ou não eventual obstáculo que lhe impede de adquirir a coisa. Ignorando (desconhecendo) o obstáculo, o possuidor está de boa-fé; conhecendo-o, considera-se de má-fé. Daí resulta concluir que, para estar de boa-fé, o possuidor deve acreditar que sua posse não prejudica a ninguém, hipótese que se chama de posse de boa-fé real. Além disso, se o possuidor tiver justo título sobre a coisa, presume-se a sua boa-fé, salvo prova em contrário, caso em que se tem posse de boa-fé presumida (esta presunção é juris tantum). Além disso, “a posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente” (art. 1.202).
 	Logo, o possuidor de boa-fé acredita que realmente é possuidor da coisa e que dela tem justo título.Destarte, será de má-fé a posse em que o possuidor sabendo do vício e reconhecendo a ilegitimidade de sua posse nela permanece ou adquire.
 	  Para o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves (2012), a posse de boa-fé “decorre da consciência de se ter adquirido a posse por meios legítimos. O seu conceito, portanto, funda-se em dados psicológicos, em critério subjetivo. ”
Manutenção dos caracteres da posse
 	Nos termos do art. 1.203, salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.
 	Tal dispositivo importa em afirmar, por exemplo, que se a posse é adquirida por direito pessoal (locação, comodato, etc.), conservará, sempre, esta característica, de forma que a sua não-devolução ao final do contrato transformá-la-á em posse precária. Além disso, ainda que a posse comodatária ou locatícia perdure por longo período de tempo, ela não perderá essa característica, de forma que não autoriza ao possuidor direto a aquisição do domínio pela usucapião.
Aquisição da posse
 	O novo código (art. 1.204) estatui que se adquire a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. Tal dispositivo atende à teoria objetiva, já que considera a caracterização da posse por elementos objetivos, quais sejam, os poderes próprios de proprietário exercidos pelo possuidor.
 	Ao disciplinar como a posse pode ser adquirida, o art. 1.205 permite a aquisição da posse, diretamente, pela pessoa que a pretende, ou por representante; mas permite, também, que a posse seja adquirida por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.
 	O novo código não previu a aquisição da posse pelo chamado constituto possessório (cláusula constituti). 
 	Para entendermos o que seja o constituto possessório, devemos recorrer a duas situações: 
a) a primeira é a da pessoa que possui a coisa alheia por algum fator (locação, comodato, arrendamento, depósito, etc.), mas adquire, depois, sua propriedade. Neste caso, diz-se que o possuidor tinha animus nomine alieno (ânimo de possuir coisa alheia) e passou a ter animus domini (ânimo de dono), ao adquirir a propriedade. Em verdade, ao adquirir a propriedade, esse possuidor já tinha a posse direta, razão por que não necessita de uma tradição real sobre a coisa, mas apenas da chamada traditio brevi manu; 
b) a segunda hipótese é o inverso, ou seja, a pessoa possui a coisa em virtude do direito de propriedade que exerce sobre ela, entretanto, aliena essa propriedade a outrem, mas continua a exercer a posse sobre ela (também, por locação, comodato, arrendamento, depósito, etc.). Neste caso, não houve tradição real da coisa para o adquirente, pois o alienante continua na posse. Neste caso, podem as partes celebrar a chamada cláusula constituti, a qual faz com que o vendedor continue na posse direta da coisa e permite que o comprador adquira a posse, de forma simbólica.
 	Este, então (hipótese da letra b), é o constituto possessório. Muito embora o art.1.205 não o tenha previsto como forma de aquisição da posse, tem entendido a doutrina que, por não ter sido proibido pela lei, pode continuar a ser celebrado por vontade das partes, tal como se observa na conclusão da Jornada I STJ, n.º 77: “A posse das coisas móveis e imóveis pode ser transmitida pelo constituto possessório”.
Quanto à origem
Aquisição originária: o adquirente fica isento dos vícios que a posse anterior pudesse ter porque não há qualquer relação entre o possuidor atual e o anterior, como nos casos de apreensão, acessão, ocupação ou usucapião;
Aquisição derivada: sendo derivada a aquisição, porque fundada numa relação entre a posse atual e a anterior, a nova conservará os vícios e defeitos dela. Este modo de aquisição é o que decorre de negócio jurídico.
Transmissão da posse
 	A posse pode ser adquirida, também, pela abertura da sucessão. Esta ocorre no momento do falecimento do autor da herança. Importante ressaltar, entretanto, que “a posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres” (art. 1.206), ou seja, se o autor da herança tinha posse decorrente de contrato com o proprietário, a esse título se dará a sua aquisição pelos herdeiros; se for violenta, clandestina ou precária, igualmente;
 	Assim, se for justa a posse do autor da herança, inclusive tendente a legitimar a usucapião, os herdeiros continuam nesta posse com o mesmo título, tal como prevê o art. 1.207, primeira parte, que prevê que o sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor.
Acessio possessionis
 	A aquisição por acessão da posse pode ocorrer de forma universal, como se observa na primeira parte do art. 1.207, chamada de sucessão, ou de forma singular, conforme prevê o art. 1.207, segunda parte, que prevê, in verbis: “ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais”.
 	Como se observa, no caso de sucessão, a continuação da posse é automática e imperativa de acordo com a lei. No caso da sucessão singular, ou união, ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais, o que ocorre, geralmente, para o efeito de se adquirir a coisa por usucapião.
 	Para haver acessio possessionis, por sucessão singular, é necessário que a aquisição da posse, pelo sucessor, seja contínua e pacífica, não podendo o novo possuidor unir sua nova posse à do possuidor anterior se a adquiriu contra este de forma injusta (violenta, clandestina ou precária).
Atos de mera tolerância e presunção de posse das coisas móveis
 	Nos termos do art. 1.208, não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.
 	Assim, a posse precária nunca irá se convalidar, porquanto se arrima em mera permissão ou tolerância do proprietário, que pode derivar, inclusive, de negócio jurídico no qual se transfere a posse direta (locação, comodato, depósito, etc.). Quanto à posse clandestina ou violenta, somente pode se convalidar após cessar a violência ou clandestinidade, ou seja, após a ciência do antigo possuidor que, ciente, não pratica atos de recuperação da posse.
 	E, consoante o art. 1.209, a posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas móveis que nele estiverem.
Efeitos da posse
Direito aos interditos possessórios
 	Um dos principais efeitos da posse é conferir ao possuidor a proteção jurídica ao exercício do poder de fato que lhe é conferido de forma justa. Assim, nos termos do caput do art. 1.210, o possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
 	Subdivide-se, portanto, a proteção possessória, em três hipóteses diferentes:
a)	esbulho: ocorre esbulho quando o possuidor da coisa se vê completamente impedido de exercer a posse sobre a totalidade ou parte dela, por ato de terceiro que sobre ela passa a exercer posse injusta (clandestina, violenta ou precária). Dá origem à ação de reintegração de posse;
b)	turbação: ocorre a turbação quando o possuidor sofre embaraço no exercício de sua posse, deixando de conseguir exercer alguns de seus atributos. Não pode ser confundido com o esbulho parcial sobre a coisa, pois neste existe impedimento para o exercício de todos os atributos da posse, pelo possuidor, mas apenas sobre parte da coisa; na turbação, o possuidor se vê apenas impedido de exercer alguns dos atributos de sua posse, sem, entretanto, deixar de exercê-la sobre a totalidade do objeto. (ex.: assim, é esbulho parcial a invasão de dez hectares de uma gleba de cem hectares; é turbação a atitude do confinante de guardar máquinas, na terra do vizinho, sem seu consentimento, atrapalhando-o a exercer atributos da posse sobre o local). A turbação legitima a ação de manutenção de posse;
c)	violência iminente: a violência iminente caracteriza-se por atos de terceiro que caracterizem ameaça deesbulho ou de turbação da posse, dando ao possuidor o direito ao interdito proibitório.
 	Essas são as hipóteses que legitimam o possuidor a requerer a proteção judicial da posse. Autoriza-se, entretanto, que o possuidor se mantenha ou se restitua na posse por força própria, contanto que o faça logo e que os atos de defesa da posse não ultrapassem os limites do indispensável à manutenção ou restituição. 
 	A isso se dá o nome de desforço imediato ou desforço incontinenti, previsto no art. 1.210, § 1.º: “O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. ”
 	Por fim, deve-se mencionar, também, a proteção possessória conferida pelos embargos de terceiro senhor e possuidor ou apenas possuidor. Com efeito, ao permitir a norma processual (CPC, art. 1.046, § 1.º) a defesa da posse contra atos judiciais de constrição, confere-se previsão clara de proteção possessória ao possuidor da coisa.
Alegação de domínio na pendência do processo possessório
 	A exemplo da normatização anterior, continua vedada a alegação (ou exceção) de domínio sobre a coisa na pendência do processo possessório. É que, sendo a ação de caráter possessório, destina-se ela à proteção da justa posse do possuidor, a qual se pode dar, inclusive, contra o proprietário. Por isso, não se admite, na ação puramente possessória, a alegação de domínio.
 	A respeito, disciplina o art. 1.210, § 2.º do Código Civil: “não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa”.
 	No mesmo sentido, a norma do art. Art. 557: “Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa. Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação de propriedade ou de outro direito sobre a coisa. ”
 	A Súmula 487 do Supremo Tribunal Federal, no entanto, esclarece que “será deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o domínio; se com base neste for ela disputada”, ou seja, somente se defere a posse com base no domínio se a ação for intentada, pelo autor, com fundamento na propriedade. Neste caso, a ação possessória se aproxima da petitória (ação na qual se pretende o reconhecimento da propriedade), embora não perca o caráter possessório.
 	Em verdade, admite-se a decisão em favor de quem seja o proprietário não só quando a posse é disputada com base no domínio, mas, também, quando houver, nos autos, sobre quem detenha a posse justa sobre a coisa.
Direito aos frutos
a)	possuidor de boa-fé: o possuidor de boa-fé que perder a posse e, por isso, for obrigado a restituir a coisa ao legítimo dono, tem direito sobre os frutos percebidos e colhidos no devido tempo em que conservava a boa-fé (art. 1214). Os frutos pendentes ao tempo que cessar a boa-fé, assim como os colhidos por antecipação, devem ser restituídos. Para efeito de restituição, reputam-se colhidos ou percebidos os frutos naturais ou industriais logo que são separados, enquanto os frutos civis se reputam dia a dia (art. 1215);
b)	possuidor de má-fé: de má-fé o possuidor, além de não ter direito a nenhum fruto, deverá restituir ou indenizar pelos frutos colhidos e percebidos, bem como pelos percepiendos ou pendentes que não houver colhido por sua culpa, desde o momento em que se constituiu a má-fé. Todavia, tem direito de ser indenizado das despesas de produção e custeio (art. 1216).
Perda ou deterioração da coisa
 	A perda representa a completa inutilização da coisa, por incêndio, terremoto, perda em sentido próprio, ou outra causa; a deterioração, decorre da diminuição da utilidade para o fim a que se destina.
a)	possuidor de boa-fé: o possuidor de boa-fé não responde pela perda, nem pela deterioração da coisa, salvo se a culpa for sua;
b)	possuidor de má-fé: o possuidor de má-fé responderá pela perda ou a deterioração ainda que o seja acidental, salvo se provar que uma ou outra ocorreria mesmo que a coisa estivesse em mãos do legítimo possuidor (art. 1218).
Direito às benfeitorias
Noções
 	O direito às benfeitorias varia conforme a sua natureza e conforme a qualidade do possuidor. As benfeitorias podem ser necessárias, úteis ou voluptuárias, conforme tenham por fim conservar a coisa ou evitar que se deteriore, aumentar ou facilitar o seu uso ou sirvam para simples deleite ou recreio, sem aumentar o uso habitual, embora a torne mais agradável ou seu valor seja elevado (art. 96).
 	Conforme seja de boa-fé ou de má-fé o possuidor e conforme a natureza da benfeitoria, varia a solução do problema em caso de restituição da coisa.
Possuidor de boa-fé
 	Ao possuidor de boa-fé que tiver de restituir a coisa em que houver introduzido benfeitoria, é assegurado o direito de ser indenizado pelo valor delas, podendo inclusive exercer o direito de retenção da coisa em seu todo até que o seja pelo valor das benfeitorias úteis ou necessárias. Quando voluptuária a benfeitoria, ao invés de direito de retenção, tem direito de retirá-la do local, se o puder sem danificar a coisa.
 	Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
Possuidor de má-fé
 	Se de má-fé o possuidor, outros serão os desfechos: direito de ser indenizado somente pelas benfeitorias necessárias, mas sem direito de retenção, e perda incontinenti das benfeitorias voluptuárias sem qualquer indenização.
 
 	Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
 OBS: É omisso o Código quanto às benfeitorias úteis. A doutrina tem opinião de que o possuidor de má-fé perde tanto as benfeitorias úteis como as voluptuárias.
Perda da posse
 	A posse se perde, em se adotando a teoria objetiva de Ihering, assim que o possuidor deixa de exercer sobre as coisas os poderes próprios do domínio, tal como reza o art. 1.223: “perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem , ao qual se refere o art. 1.196”.
 	Por outro lado, dispõe o art. 1.224 que só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido. Tal não significa que, sendo violentamente repelido o justo possuidor, a posse do agressor ou clandestino passe a ser justa. O dispositivo tem o condão apenas de fixar o exato momento da perda da posse. Tanto é que, para se adquirir a propriedade por usucapião ordinário, exige-se justo título e boa-fé, circunstâncias que são excluídas em caso de posse injusta.
 	Tal dispositivo quer dizer que a posse violenta ou clandestina somente se convalida, pelo decurso de prazo, se obtida na presença do antigo possuidor e sem nenhuma reação posterior deste.
 	Se o possuidor não presenciou o esbulho nem teve notícia posterior dele, não se convalida a posse injusta, não gerando, pois, nenhum efeito a apreensão violenta ou clandestina. Da mesma forma, só se considera perdida a posse para o que tenta recuperá-la após ser repelido violentamente. Enquanto perdurarem os atos de tentativa de recuperação da posse, não se considera esta perdida.

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