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Apostila de Direito Civil V - Direito das coisas - Murilo

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Apostila de Direito Civil V – Direito das Coisas
Prof. Murilo Silveira e Pimentel
Direito das Coisas
Professor Murilo Silveira e Pimentel
Whatsapp: 64 99213-4584
Instagram: @prof.murilopimentel
Ementa: Conceito e princípios do Direito das Coisas. Posse. Direitos reais. Propriedade. Superfície, servidões, usufruto, uso, habitação, direito do promitente comprador, penhor, hipoteca, anticrese, concessão de uso especial para fins de moradia, concessão de direito real de uso e laje.
Bibliografia Básica
DINIZ, Maria Helena; Curso de Direito Civil Brasileiro: direito das coisas, vol 04, São
Paulo, 30ª edição, editora Saraiva, 2015 (livro físico).
GONÇALVES, Carlos Roberto; Direito Civil Brasileiro: direito das coisas, vol. 05, São
Paulo, 12ª edição, editora Saraiva, 2015 (livro físico).
PEREIRA, Caio Mário da Silva; Instituições de Direito Civil: direitos reais, revisor
MONTEIRO FILHO, Carlos Edson do Rêgo, vol. 04, 20ª edição, editora Forense, 2009
(livro físico).
VENOSA, Sílvio de Salvo; Direito Civil: direitos reais, vol. V, São Paulo, 15ª edição,
editora Atlas, 2015 (livro físico).
Bibliografia Complementar
DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado, São Paulo, 17ª edição, editora Saraiva, 2014 (livro físico).
GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Manual de Direito Civil, vol. único, São Paulo, 2ª edição, editora Saraiva, 2018 (livro digital).
MAZZILI, Hugo Nigro, e GARCIA, Wander. Anotações ao Código Civil, São Paulo, 1ª
edição, editora Saraiva, 2005 (livro físico).
NADER, Paulo. Curso de Direito Civil: direito das coisas, vol. 04, Rio de Janeiro, 7º edição, editora Gen/Forense, 2016 (livro digital).
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil: direitos reais, vol. IV,revista e atualizada por FILHO, Carlos Edison do Rêgo Monteiro, Rio de Janeiro, 26ª edição, editora Gen/Forense, 2.018 (livro digital).
RODRIGUES, Sílvio.Direito Civil: direito das coisas, vol. 05, São Paulo, 28ª edição, editora Saraiva, 2007 (livro físico).
SILVA, Regina Beatriz Tavares da (coordenação).Código Civil Comentado, São Paulo, 6ª edição, editora Saraiva, 2.008 (livro físico).
TARTUCE, Flávio.Direito civil: direito das coisas, vol 04, Rio de Janeiro, 11ª edição, editora Gen/Forense, 2.019 (livro digital).
TARTUCE, Flávio.Manual de Direito Civil. vol. único, São Paulo, 9ª edição, editora
Gen/Método, 2019 (livro digital).
DIREITO DAS COISAS
Conceito
 	Muita discussão existe a respeito da denominação correta desta parte do Direito Civil, porquanto se entende que o designativo correto seria direitos reais e não direito das coisas, uma vez que, em expressão de origem irônica, as coisas não têm direitos.
 	Entretanto, a discussão não se resume a isso, porquanto a denominação que se deve dar a um ramo do direito deve ser aquela que melhor signifique a abrangência de seu objeto.
 	Com efeito, sob a rubrica direito das coisas, o código disciplina não só os direitos reais, que são aqueles taxativamente previstos no art. 1.225, mas, também, a posse e outros direitos derivados diretamente da propriedade, como, por exemplo, os direitos de vizinhança.
 	Destarte, a denominação direitos reais não abrangeria todo o objeto da disciplina, de forma que o legislador deve ter por preocupação o conteúdo material das questões tratadas. No caso específico, a relação do sujeito de direitos com as coisas é, de fato, o critério que fornece maior amplitude para emprestar à disciplina um nome.
Distinções entre os direitos reais e os direitos pessoais
 	Existem várias concepções acerca da diferenciação entre direitos pessoais e reais. Existem a teoria realista e a teoria personalista:
a) pela teoria realista, o direito real encerra uma relação entre a pessoa e a coisa; 
b) pela teoria personalista, o direito real, assim como o direito pessoal, também encerra relação entre pessoas, entretanto, o sujeito passivo não é certo e determinado, mas, sim, um sujeito passivo universal.
 	De qualquer sorte, o direito real se diferencia, principalmente, do direito pessoal, por não necessitar de intermediário (outra pessoa) para ser exercido, mas, apenas, da própria coisa e, em regra, opõe-se erga omnes (contra todos).
 	Pode-se traçar o seguinte entre as principais diferenças entre direitos reais e pessoais:
Direitos pessoais: 
a1) são exercidos contra outra pessoa; 
a2) é oponível somente contra o devedor ou quem por ele se obrigar, por lei ou por contrato; 
a3) os direitos pessoais são transitórios, ou seja, extinguem-se com o cumprimento da obrigação; 
a4) podem ser violados por fato positivo (obrigações de não fazer) ou negativo (inadimplemento); 
a5) não se adquire direito pessoal por usucapião; 
a6) podem ser criadas novas formas de direito pessoal, livremente, pela vontade das partes.
Direitos reais: 
b1) são exercidos sobre a coisa; 
b2) são oponíveis erga omnes, ou seja, podem ser exercidos contra todos; 
b3) são perpétuos, porquanto não dependem do cumprimento de uma prestação, por outrem, para serem satisfeitos; 
b4) somente podem ser violados por fato positivo; 
b5) podem ser adquiridos por usucapião; 
b6) Tipicidade: não podem ser criados, livremente pelas partes, novos modos de direitos reais, uma vez que o rol de direitos reais constante da lei é taxativo (numerus clausus) e não pode ser ampliado por convenção particular, mas somente pela própria lei (independentemente de ser o próprio código civil); 
b7) Sequela: atributo específico dos direitos reais, a sequela é a prerrogativa que faz com que referido direito tenha o efeito de seguir a coisa sobre a qual incide onde quer que esteja.
POSSE
Teorias sobre a posse
 	São duas as teorias mais discutidas a respeito da natureza jurídica da posse, quais sejam, a teoria subjetiva de Savigny e a teoria objetiva de Ihering.
Teoria subjetiva
 	Para Savigny, a posse é um estado de fato sobre a coisa, segundo o qual o possuidor, além de deter a coisa em seu poder (corpus), tem o ânimo de detê-la como dono (animus domini). Em razão disso, sua teoria é conhecida como subjetiva, pois depende da análise subjetiva da vontade do detentor de possuir a coisa como dono.
 	As consequências da teoria subjetiva importam em classificar a posse como atributo exclusivo do proprietário, qualificando, pois, como simples detenção, situações como a do locatário, do credor pignoratício, do arrendatário, etc.
Teoria objetiva
 	A teoria de Ihering explica melhor a diferença entre posse e detenção e possibilita enxergar o fenômeno da divisão da posse em direta e indireta.
 	Para Ihering, a posse existe quando exercida de forma a aparentar o domínio sobre a coisa, ou seja, para o referido doutrinador, a posse é a exteriorização do domínio. Para que haja posse, não é necessário que o possuidor tenha ânimo de dono sobre a coisa, mas apenas que detenha a coisa (corpus) de forma a exercer poderes próprios de proprietário.
 	Assim, sua teoria é objetiva, pois não exige a pesquisa do ânimo do possuidor de ter a coisa como dono, mas apenas os caracteres de sua detenção sobre a coisa.
 	Destarte, aquele que possui a coisa, exercendo poderes típicos de proprietário, será considerado possuidor, independentemente de ter o domínio sobre a coisa ou o ânimo de adquiri-lo. Assim, contempla-se a situação do locatário, por exemplo, que exerce poderes típicos de proprietário como usar a coisa ou dispor deste uso (sublocação).
 	Para a teoria objetiva, portanto, a posse se difere da detenção, não porque na posse haja o animus domini, mas porque, se na mera detenção o detentor age sob o mando ou instruções de outrem, não tem essa detenção nenhuma das características da propriedade.
 	Além disso, situações como a do locatário, credor pignoratício, arrendatário, etc explicam a divisão da classificação da posse em:
· direta (exercida por quem está na detenção da coisa, com caracteres específicos de dono)
· indireta (exercida pelo proprietário que cede a outrem a posse direta).
 	O Código Civil de 1916 já adotava esta teoria, quando rezava, em seu art. 485, que “considera-se possuidor toda aqueleque tem de fato o exercício, pleno, ou não, de algum dos poderes inerentes ao domínio ou propriedade”.
 	O Código Civil de 2002 também acata a teoria objetiva, ao dispor, no art. 1.196: 
“Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”.
OBS: a teoria adotada pelo Código Civil é a teoria objetiva de Ihering.
Teoria social
 	O francês Raymond Saleilles formulou uma teoria própria, partindo, no entanto, dos princípios da teoria objetiva de Ihering.
 	Para Saleilles, tal como para Ihering, a caracterização da posse prescinde do elemento subjetivo (animus domini), bastando seus elementos externos, ou seja, a aparência de domínio na conduta do possuidor.
 	No entanto, Saleilles defende que a posse só pode merecer proteção jurídica quando o estado de fato sobre a coisa estiver acompanhado da realização de algum objetivo sócio-econômico. Desta forma, evita-se que o ordenamento jurídico ampare situações em que se exerce posse sem nenhum objetivo social ou econômico, mas por mera especulação.
 	Em seu projeto de modificação do Código Civil (Projeto 6.960/02), o deputado Ricardo Fiúza propõe a seguinte redação para o art. 1.196 do Código Civil:
“Considera-se possuidor todo aquele que tem poder fático de ingerência socioeconômica, absoluto ou relativo, direto ou indireto, sobre determinado bem da vida, que se manifesta através do exercício ou possibilidade de exercício inerente a propriedade ou outro direito real suscetível de posse.”
Como se vê, o projeto de autoria do deputado Ricardo Fiúza adota, claramente, a teoria da função social da posse, de Saleilles, porque exige, para configuração da posse, o exercício de poder fático de ingerência socioeconômica sobre a coisa. Não basta, para tanto, deter a coisa com aparência de dono, mas exercer sobre ela alguma atividade relevante do ponto de vista socioeconômico.
Localização tópica da posse
 	Independentemente da teoria que se adote (objetiva ou subjetiva), a posse é um estado de fato sobre a coisa e não propriamente um direito que se exerce sobre ela. Por isso, o Código Civil não admite a posse como direito real, deixando de arrolá-la como tal no art. 1.225.
 	Assim, temos no código civil, no livro a respeito do direito das coisas, o título I a respeito da posse e, posteriormente, o título II a respeito dos direitos reais.
Classificações da posse
 	Conforme certas características da posse, ela pode ser classificada, conforme veremos adiante:
Posse direta e indireta: é a divisão da posse conforme o proprietário ou outro detentor de direito real sobre a coisa transfere a outrem a posse direta sobre a coisa. 
 	A diferença entre posse direta e indireta se encontra principalmente no contato físico e imediato com o bem. Na posse direta a pessoa está fisicamente presente com o bem, seja móvel ou imóvel, já na indireta, ele conserva alguns direitos porém não está fisicamente presente.
 	Reza o art. 1.197 do Código Civil que “a posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto”.
Posse e detenção: A posse, como vimos, é o estado de fato de uma pessoa sobre a coisa que faz exteriorizar alguns dos caracteres da propriedade; assim, o possuidor possui em nome próprio, tendo ou não a propriedade. A detenção, por sua vez, caracteriza-se pelo apoderamento da coisa em nome de outra pessoa ou em cumprimento de ordens ou instruções desta outra pessoa (ex.: a detenção do caseiro sobre a terra rural que lhe é confiada). 
 	Assim, disciplina o art. 1.198: “Considera-se detentor aquele que, achando- se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário”. 
 	Também se têm entendido como mera detenção as situações dos arts. 1.208 e 1.224 do Código Civil: 
“Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade”; 
“Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido”. 
 	A esta última hipótese PONTES DE MIRANDA dá o nome de tença. Na consideração da detenção relevam três conclusões distintas: 1 – a mera detenção não é capaz de gerar posse ad usucapionem, a não ser que se convole em posse (art. 1.224); 
2 – a detenção não pode se convolar em posse por ato unilateral do detentor, mas sempre com a participação do possuidor, ainda que por inércia, como no caso do art. 1.224; 
3 – a ocupação ou apropriação de bens públicos não gera posse, mas sempre detenção, por se tornar impossível a aparência de dono exigida pela teoria objetiva;
Composse: É o fenômeno pelo qual duas ou mais pessoas possuem, em comum, uma coisa indivisa, hipótese na qual “poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores” (art. 1.199);
Posse justa e injusta: posse justa é aquela exercida a justo título. Classifica-se a posse como justa por exclusão, ou seja, será justa quando não for adquirida de forma violenta, clandestina ou precária (nec vim, nec clam, nec precario), hipóteses em que se qualifica como injusta. Assim, temos: 
1) posse violenta: aquela adquirida pela força contra o justo possuidor. A violência pode ocorrer tanto no momento da aquisição da posse como em momento posterior. Assim, há posse violenta quando a violência é dirigida à retirada da posse do justo possuidor; da mesma forma, é violenta a posse quando o justo possuidor, não tendo presenciado o esbulho, é repelido posteriormente. Enfim, entende-se por violência somente aquela praticada contra a pessoa do possuidor e não contra a coisa, de forma que o rompimento de obstáculo, por exemplo, para apossamento de coisa abandonada, não caracteriza a violência prevista no dispositivo. Exemplo: movimento popular invade violentamente, expulsando a tapas o caseiro.
2) posse clandestina: aquela que se adquire às escondidas, em detrimento do justo possuidor. Um bom exemplo são as situações em que grupos se valem da “calada da noite” (período de menor circulação de pessoas) para invadir propriedade às escondidas, sem conhecimento do proprietário.  Invasor que se apossa do terreno na calada da noite, sem o conhecimento do dono. Pessoa que aproveita a ausência do possuidor e invade sua casa de praia. Alteração de marcos que dividem dois imóveis na calada da noite.
3) posse precária: aquela que se adquire com abuso de confiança, resultando, geralmente, da retenção indevida da coisa que se deve restituir ao justo possuidor. Exemplo: o comodatário que findo o empréstimo não devolve o bem). Assemelha ao estelionato ou apropriação indébita.
Posse de boa-fé e de má-fé: A posse será de boa ou de má-fé conforme o possuidor conheça ou não eventual obstáculo que lhe impede de adquirir a coisa. Ignorando (desconhecendo) o obstáculo, o possuidor está de boa-fé; conhecendo-o, considera-se de má-fé. Daí resulta concluir que, para estar de boa-fé, o possuidor deve acreditar que sua posse não prejudica a ninguém, hipótese que se chama de posse de boa-fé real. Além disso, se o possuidor tiver justo título sobre a coisa, presume-se a sua boa-fé, salvo prova em contrário, caso em que se tem posse de boa-fé presumida (esta presunção é juris tantum). Além disso, “a posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente” (art. 1.202).
 	Logo, o possuidor de boa-fé acredita que realmente é possuidor da coisa e que dela tem justo título.Destarte, será de má-fé a posse em que o possuidor sabendo do vício e reconhecendo a ilegitimidade de sua posse nela permanece ou adquire.
 	  Para o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves (2012), a posse de boa-fé “decorre da consciência de se ter adquirido a posse por meios legítimos. O seu conceito, portanto, funda-se em dados psicológicos, em critério subjetivo. ”
Manutenção dos caracteres da posse
 	Nos termos do art. 1.203, salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.
 	Tal dispositivo importa em afirmar, por exemplo, que se a posse é adquirida por direito pessoal (locação, comodato, etc.), conservará, sempre, esta característica, de forma que a sua não-devolução ao final do contrato transformá-la-á em posse precária. Além disso, ainda que a posse comodatária ou locatícia perdure por longo período de tempo, ela não perderá essa característica, de forma que não autoriza ao possuidor direto a aquisição do domínio pela usucapião.
Aquisição da posse
 	O novo código (art. 1.204) estatui que se adquire a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. Tal dispositivo atende à teoria objetiva, já que considera a caracterização da posse por elementos objetivos, quais sejam, os poderes próprios de proprietário exercidos pelo possuidor.
 	Ao disciplinar como a posse pode ser adquirida, o art. 1.205 permite a aquisição da posse, diretamente, pela pessoa que a pretende, ou por representante; mas permite, também, que a posse seja adquirida por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.
 	O novo código não previu a aquisição da posse pelo chamado constituto possessório (cláusula constituti). 
 	Para entendermos o que seja o constituto possessório, devemos recorrer a duas situações: 
a) a primeira é a da pessoa que possui a coisa alheia por algum fator (locação, comodato, arrendamento, depósito, etc.), mas adquire, depois, sua propriedade. Neste caso, diz-se que o possuidor tinha animus nomine alieno (ânimo de possuir coisa alheia) e passou a ter animus domini (ânimo de dono), ao adquirir a propriedade. Em verdade, ao adquirir a propriedade, esse possuidor já tinha a posse direta, razão por que não necessita de uma tradição real sobre a coisa, mas apenas da chamada traditio brevi manu; 
b) a segunda hipótese é o inverso, ou seja, a pessoa possui a coisa em virtude do direito de propriedade que exerce sobre ela, entretanto, aliena essa propriedade a outrem, mas continua a exercer a posse sobre ela (também, por locação, comodato, arrendamento, depósito, etc.). Neste caso, não houve tradição real da coisa para o adquirente, pois o alienante continua na posse. Neste caso, podem as partes celebrar a chamada cláusula constituti, a qual faz com que o vendedor continue na posse direta da coisa e permite que o comprador adquira a posse, de forma simbólica.
 	Este, então (hipótese da letra b), é o constituto possessório. Muito embora o art.1.205 não o tenha previsto como forma de aquisição da posse, tem entendido a doutrina que, por não ter sido proibido pela lei, pode continuar a ser celebrado por vontade das partes, tal como se observa na conclusão da Jornada I STJ, n.º 77: “A posse das coisas móveis e imóveis pode ser transmitida pelo constituto possessório”.
Quanto à origem
Aquisição originária: o adquirente fica isento dos vícios que a posse anterior pudesse ter porque não há qualquer relação entre o possuidor atual e o anterior, como nos casos de apreensão, acessão, ocupação ou usucapião;
Aquisição derivada: sendo derivada a aquisição, porque fundada numa relação entre a posse atual e a anterior, a nova conservará os vícios e defeitos dela. Este modo de aquisição é o que decorre de negócio jurídico.
Transmissão da posse
 	A posse pode ser adquirida, também, pela abertura da sucessão. Esta ocorre no momento do falecimento do autor da herança. Importante ressaltar, entretanto, que “a posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres” (art. 1.206), ou seja, se o autor da herança tinha posse decorrente de contrato com o proprietário, a esse título se dará a sua aquisição pelos herdeiros; se for violenta, clandestina ou precária, igualmente;
 	Assim, se for justa a posse do autor da herança, inclusive tendente a legitimar a usucapião, os herdeiros continuam nesta posse com o mesmo título, tal como prevê o art. 1.207, primeira parte, que prevê que o sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor.
Acessio possessionis
 	A aquisição por acessão da posse pode ocorrer de forma universal, como se observa na primeira parte do art. 1.207, chamada de sucessão, ou de forma singular, conforme prevê o art. 1.207, segunda parte, que prevê, in verbis: “ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais”.
 	Como se observa, no caso de sucessão, a continuação da posse é automática e imperativa de acordo com a lei. No caso da sucessão singular, ou união, ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais, o que ocorre, geralmente, para o efeito de se adquirir a coisa por usucapião.
 	Para haver acessio possessionis, por sucessão singular, é necessário que a aquisição da posse, pelo sucessor, seja contínua e pacífica, não podendo o novo possuidor unir sua nova posse à do possuidor anterior se a adquiriu contra este de forma injusta (violenta, clandestina ou precária).
Atos de mera tolerância e presunção de posse das coisas móveis
 	Nos termos do art. 1.208, não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.
 	Assim, a posse precária nunca irá se convalidar, porquanto se arrima em mera permissão ou tolerância do proprietário, que pode derivar, inclusive, de negócio jurídico no qual se transfere a posse direta (locação, comodato, depósito, etc.). Quanto à posse clandestina ou violenta, somente pode se convalidar após cessar a violência ou clandestinidade, ou seja, após a ciência do antigo possuidor que, ciente, não pratica atos de recuperação da posse.
 	E, consoante o art. 1.209, a posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas móveis que nele estiverem.
Efeitos da posse
Direito aos interditos possessórios
 	Um dos principais efeitos da posse é conferir ao possuidor a proteção jurídica ao exercício do poder de fato que lhe é conferido de forma justa. Assim, nos termos do caput do art. 1.210, o possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
 	Subdivide-se, portanto, a proteção possessória, em três hipóteses diferentes:
a)	esbulho: ocorre esbulho quando o possuidor da coisa se vê completamente impedido de exercer a posse sobre a totalidade ou parte dela, por ato de terceiro que sobre ela passa a exercer posse injusta (clandestina, violenta ou precária). Dá origem à ação de reintegração de posse;
b)	turbação: ocorre a turbação quando o possuidor sofre embaraço no exercício de sua posse, deixando de conseguir exercer alguns de seus atributos. Não pode ser confundido com o esbulho parcial sobre a coisa, pois neste existe impedimento para o exercício de todos os atributos da posse, pelo possuidor, mas apenas sobre parte da coisa; na turbação, o possuidor se vê apenas impedido de exercer alguns dos atributos de sua posse, sem, entretanto, deixar de exercê-la sobre a totalidade do objeto. (ex.: assim, é esbulho parcial a invasão de dez hectares de uma gleba de cem hectares; é turbação a atitude do confinante de guardar máquinas, na terra do vizinho, sem seu consentimento, atrapalhando-o a exercer atributos da posse sobre o local). A turbação legitima a ação de manutenção de posse;
c)	violência iminente: a violência iminente caracteriza-se por atos de terceiro que caracterizem ameaça deesbulho ou de turbação da posse, dando ao possuidor o direito ao interdito proibitório.
 	Essas são as hipóteses que legitimam o possuidor a requerer a proteção judicial da posse. Autoriza-se, entretanto, que o possuidor se mantenha ou se restitua na posse por força própria, contanto que o faça logo e que os atos de defesa da posse não ultrapassem os limites do indispensável à manutenção ou restituição. 
 	A isso se dá o nome de desforço imediato ou desforço incontinenti, previsto no art. 1.210, § 1.º: “O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. ”
 	Por fim, deve-se mencionar, também, a proteção possessória conferida pelos embargos de terceiro senhor e possuidor ou apenas possuidor. Com efeito, ao permitir a norma processual (CPC, art. 1.046, § 1.º) a defesa da posse contra atos judiciais de constrição, confere-se previsão clara de proteção possessória ao possuidor da coisa.
Alegação de domínio na pendência do processo possessório
 	A exemplo da normatização anterior, continua vedada a alegação (ou exceção) de domínio sobre a coisa na pendência do processo possessório. É que, sendo a ação de caráter possessório, destina-se ela à proteção da justa posse do possuidor, a qual se pode dar, inclusive, contra o proprietário. Por isso, não se admite, na ação puramente possessória, a alegação de domínio.
 	A respeito, disciplina o art. 1.210, § 2.º do Código Civil: “não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa”.
 	No mesmo sentido, a norma do art. Art. 557: “Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa. Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação de propriedade ou de outro direito sobre a coisa. ”
 	A Súmula 487 do Supremo Tribunal Federal, no entanto, esclarece que “será deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o domínio; se com base neste for ela disputada”, ou seja, somente se defere a posse com base no domínio se a ação for intentada, pelo autor, com fundamento na propriedade. Neste caso, a ação possessória se aproxima da petitória (ação na qual se pretende o reconhecimento da propriedade), embora não perca o caráter possessório.
 	Em verdade, admite-se a decisão em favor de quem seja o proprietário não só quando a posse é disputada com base no domínio, mas, também, quando houver, nos autos, sobre quem detenha a posse justa sobre a coisa.
Direito aos frutos
a)	possuidor de boa-fé: o possuidor de boa-fé que perder a posse e, por isso, for obrigado a restituir a coisa ao legítimo dono, tem direito sobre os frutos percebidos e colhidos no devido tempo em que conservava a boa-fé (art. 1214). Os frutos pendentes ao tempo que cessar a boa-fé, assim como os colhidos por antecipação, devem ser restituídos. Para efeito de restituição, reputam-se colhidos ou percebidos os frutos naturais ou industriais logo que são separados, enquanto os frutos civis se reputam dia a dia (art. 1215);
b)	possuidor de má-fé: de má-fé o possuidor, além de não ter direito a nenhum fruto, deverá restituir ou indenizar pelos frutos colhidos e percebidos, bem como pelos percepiendos ou pendentes que não houver colhido por sua culpa, desde o momento em que se constituiu a má-fé. Todavia, tem direito de ser indenizado das despesas de produção e custeio (art. 1216).
Perda ou deterioração da coisa
 	A perda representa a completa inutilização da coisa, por incêndio, terremoto, perda em sentido próprio, ou outra causa; a deterioração, decorre da diminuição da utilidade para o fim a que se destina.
a)	possuidor de boa-fé: o possuidor de boa-fé não responde pela perda, nem pela deterioração da coisa, salvo se a culpa for sua;
b)	possuidor de má-fé: o possuidor de má-fé responderá pela perda ou a deterioração ainda que o seja acidental, salvo se provar que uma ou outra ocorreria mesmo que a coisa estivesse em mãos do legítimo possuidor (art. 1218).
Direito às benfeitorias
Noções
 	O direito às benfeitorias varia conforme a sua natureza e conforme a qualidade do possuidor. As benfeitorias podem ser necessárias, úteis ou voluptuárias, conforme tenham por fim conservar a coisa ou evitar que se deteriore, aumentar ou facilitar o seu uso ou sirvam para simples deleite ou recreio, sem aumentar o uso habitual, embora a torne mais agradável ou seu valor seja elevado (art. 96).
 	Conforme seja de boa-fé ou de má-fé o possuidor e conforme a natureza da benfeitoria, varia a solução do problema em caso de restituição da coisa.
Possuidor de boa-fé
 	Ao possuidor de boa-fé que tiver de restituir a coisa em que houver introduzido benfeitoria, é assegurado o direito de ser indenizado pelo valor delas, podendo inclusive exercer o direito de retenção da coisa em seu todo até que o seja pelo valor das benfeitorias úteis ou necessárias. Quando voluptuária a benfeitoria, ao invés de direito de retenção, tem direito de retirá-la do local, se o puder sem danificar a coisa.
 	Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
Possuidor de má-fé
 	Se de má-fé o possuidor, outros serão os desfechos: direito de ser indenizado somente pelas benfeitorias necessárias, mas sem direito de retenção, e perda incontinenti das benfeitorias voluptuárias sem qualquer indenização.
 
 	Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
 OBS: É omisso o Código quanto às benfeitorias úteis. A doutrina tem opinião de que o possuidor de má-fé perde tanto as benfeitorias úteis como as voluptuárias.
Perda da posse
 	A posse se perde, em se adotando a teoria objetiva de Ihering, assim que o possuidor deixa de exercer sobre as coisas os poderes próprios do domínio, tal como reza o art. 1.223: “perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196”.
 	Por outro lado, dispõe o art. 1.224 que só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido. Tal não significa que, sendo violentamente repelido o justo possuidor, a posse do agressor ou clandestino passe a ser justa. O dispositivo tem o condão apenas de fixar o exato momento da perda da posse. Tanto é que, para se adquirir a propriedade por usucapião ordinário, exige-se justo título e boa-fé, circunstâncias que são excluídas em caso de posse injusta.
 	Tal dispositivo quer dizer que a posse violenta ou clandestina somente se convalida, pelo decurso de prazo, se obtida na presença do antigo possuidor e sem nenhuma reação posterior deste.
 	Se o possuidor não presenciou o esbulho nem teve notícia posterior dele, não se convalida a posse injusta, não gerando, pois, nenhum efeito a apreensão violenta ou clandestina. Da mesma forma, só se considera perdida a posse para o que tenta recuperá-la após ser repelido violentamente. Enquanto perdurarem os atos de tentativa de recuperação da posse, não se considera esta perdida.
Direitos reais
 	No título específico sobre os direitos reais, o Código Civil dispõe, no art. 1.225, o rol dos direitos reais, dele constando: 
I - a propriedade; 
II - a superfície; 
III - as servidões; 
IV - o usufruto; 
V - o uso; 
VI - a habitação; 
VII - o direito do promitente comprador do imóvel; 
VIII - o penhor; 
IX - a hipoteca; 
X - a anticrese.
 	Além disso, o código estabelece que a propriedade ou qualqueroutro direito real, de fato, não se transmite, no regime jurídico pátrio, pelo mero concurso da vontade das partes, mas apenas com a tradição, em se tratando de bens móveis (art. 1.226) ou pelo registro em cartório, em caso de bens imóveis (art. 1.227).
Propriedade
Breve histórico da propriedade:
Concepção conflituosa: Richard Pipes conta que, na Antiguidade Clássica, sobretudo na chamada Idade do Ouro (período que o autor chama de passado místico) preponderou a ausência de propriedade privada, existindo, somente, a chamada propriedade comunal, época na qual, portanto, são desconhecidas as palavras meu e seu.
 	Conta-nos, ainda, sobre as filosofias divergentes de Platão e Aristóteles. O primeiro defendia a comunidade ideal, a exemplo da sociedade do pretérito, porquanto a propriedade era a motivação da luta de classes. Sem ela, portanto, não mais haveria motivo para “a violência, as disputas ou a adulação”. 
 	Já Aristóteles, embora compartilhasse com seu mestre a concepção de que desigualdades extremas levassem à luta de classes, via na propriedade um atributo da família, e não da comunidade ou do Estado. Aristóteles baseou sua filosofia em argumentos utilitaristas e não idealistas. Para ele, a propriedade comunal era impraticável, porque ninguém cuida bem de objetos que não sejam seus e, ainda mais, pessoas que possuem coisas em comum tendem a brigar mais do que aquelas que as possuem individualmente. Sendo a causa da discórdia, portanto, o desejo, e não a propriedade em si, era mais viável conseguir-se a paz social com o esclarecimento do que pela abolição da propriedade privada.
 	Entretanto, Aristóteles tinha como ideal a propriedade que não causasse diferenças extremas, tendo, como sociedade perfeita, aquela que fosse baseada na classe média.
Concepção absolutista: Paulo Torminn Borges traça um histórico de evolução do direito de propriedade no mundo, dizendo-a absoluta entre os romanos. Isto quer dizer que o direito do proprietário, de usar, gozar e dispor da coisa, não poderia ser restringido de forma alguma, nem sob qualquer pretexto.
Propriedade feudal: exercida por uma pequena casta, sob a legitimação do poder clerical, possibilitando aos ocupantes da terra apenas a posse, com pagamento de tributos aos senhores feudais. Sobrevive, de certa forma, no instituto da enfiteuse.
Revolução francesa: Para o ideário liberal, o que não se concebia era a desigualdade de oportunidades entre os homens para aquisição da propriedade, contrapondo-se, portanto, às teorias cristãs (que legitimavam a propriedade apenas nas mãos dos escolhidos de Deus), fundamento básico da manutenção da propriedade feudal na Idade Média. Segundo Paulo Torminn, o ideário liberal da revolução francesa só fez solidificar a idéia absolutista de propriedade, quando, em seu art. 544, o Código de Napoleão reza que a propriedade é o direito de gozar e dispor das coisas da maneira mais absoluta. Entretanto, observa-se, no mesmo dispositivo, que referido uso não poderia violar as leis e regulamentos.
 	O Código Civil de 1916 adotava essa vertente, em seu art. 524, quando dispunha apenas os poderes de uso, gozo, disposição e sequela do proprietário, sem adotar nenhuma limitação ditada pelo interesse social, mas apenas as limitações decorrentes do direito de vizinhança, que, em outras palavras, eram ditadas pela propriedade de outrem.
Concepção relativista – função social da propriedade: do conceito individualista visto acima, a propriedade evoluiu para o conceito de função social. Paulo Torminn traça esta evolução desde Santo Tomás de Aquino. Para Tomás de Aquino, a propriedade é legitimada por ser um direito natural, existindo três planos distintos, na ordem de valores:
· direito natural de apossamento: como animal racional, é natural ao homem apossar-se de bens materiais para satisfazer-se, economicamente, deles;
· direito de apropriação: decorrente do direito de apossamento, o direito de apropriação consiste em que o homem, apossando-se dos bens materiais, tem, por sua natureza de autopreservação e preocupação com as gerações futuras, o direito de reservar, para si (para seu próprio futuro e para os sucessores), reservas econômicas que lhe garantam o sustento;
· possibilidade de condicionamento da propriedade ao momento histórico do povo, desde que não se chegue ao extremo de negá-lo;
 	Já as encíclicas papais, com especial enfoque nas encíclicas rerum novarum (Leão XIII), Quadragésimo anno (Pio XII) e Mater et Magistra, reconhecem na propriedade um direito natural do homem, mas enfatizam a necessidade da realização do bem comum.
 	Por fim, o Estatuto da Terra, em 1964, em seu art. 2.º, § 1.º, traz os requisitos para que a propriedade cumpra sua função social.
 	Atualmente, a função social ampara-se também no art. 5.º, XXIII da Constituição Federal e no novo Código Civil, cujo art. 1.228, §§ 1.º a 5.º dispõe sobre a necessidade de a propriedade cumprir suas finalidades econômicas e sociais, devendo ser exercida de modo que sejam preservados a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas, podendo o proprietário ser privado da coisa em caso de utilidade pública, interesse social, ou de posse coletiva da terra extensa, ocupada por mais de cinco anos.
Conceito
 	Propriedade é direito de usar, gozar e dispor de uma coisa, bem como de reavê-la de quem quer que injustamente a possua ou detenha, consoante definição legal do art. 1.228, caput do Código Civil.
 	Assim, a propriedade envolve o elemento interno, relativo ao proprietário, de poder usar e gozar da coisa, conforme suas necessidades, bem como de dispor desse poder, caso queira, seja alienando a propriedade em si ou transferindo a outrem alguns de seus atributos, como a posse direta e a dação em garantia pelo pagamento de dívidas, por exemplo.
 	Envolve, também, o elemento externo, que é o de se poder reaver a coisa de quem quer que injustamente a possua.
Propriedade e domínio
 	Tem-se entendido, na lei, que propriedade e domínio são sinônimos. Entretanto, a doutrina difere os dois conceitos, da seguinte forma:
Propriedade: direito que dá ao proprietário a faculdade de usar e gozar de coisa incorporada ao seu patrimônio, como queira, podendo ser exercido, portanto, sobre coisas corpóreas e incorpóreas;
Domínio: direito que dá ao dominus (Mestre) faculdade de dominação total da coisa, incluindo não só a noção de jus utendi et fruendi (direito de usar e fruir da coisa), mas também a de jus abutendi (direito de dispor), ou seja, faculdade de dispor da coisa como bem entender, até mesmo com sua destruição. Em função dessas características, entende-se que o domínio se exerce, exclusivamente, sobre coisas corpóreas.
Elementos
 	Disciplina o art. 1.228 que: o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. 
 Assim, podemos atribuir, como elementos da propriedade:
· jus utendi: é o direito de usar a coisa, auferindo a sua utilidade;
· jus fruendi: é o chamado direito de gozo, que envolve a percepção dos frutos e produtos e demais vantagens provenientes da coisa;
· jus abutendi: é o direito de dispor da coisa, o que envolve alienar, gravar de ônus, destruir, consumir ou transformar a coisa;
 	Além desses elementos clássicos, vê-se que o dispositivo do art. 1.228 dá ao proprietário, também, o direito de sequela, ao lhe permitir o direito de reaver a coisa de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
Delimitação do direito de propriedade
 	A propriedade se presume plena e exclusiva, até prova em contrário, consoante dicção do art. 1.231 do Código Civil. 
 	Entretanto, pode o proprietário mesmo limitar o alcance de seu direito, ao gravar a coisa com ônus reais (hipoteca, penhor, anticrese, etc.) ou conferir a outrem alguns de seus atributos, como nos direitos reais de uso, usufruto, habitação. 
 	Algumas dessas limitações pode decorrer também dalei e não somente da vontade do proprietário, como ocorre no caso de usufruto legal dos bens dos filhos pelos pais (art. 1.689, I), o direito de habitação do cônjuge sobrevivente (art. 1.831), etc.
 	Além das limitações ao conteúdo do direito de propriedade, a lei estabelece, com relação aos imóveis, o âmbito espacial de seu alcance, ao dispor, no art. 1.229:
“A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las. ”
 	Referido dispositivo estabelece a parêmia de que o direito de propriedade do solo não tem alcance ad sidera et ad ínferos (até os céus e até as profundezas), porque somente pode servir até onde importar a utilidade de interesse do proprietário.
 	Podemos exemplificar os casos de passagens de água e de cabos que interessam ao bem comum. A máxima do usque ad ínferos, usque ad sidera, não é absoluta. 
 	Além disso, em função do interesse público, bem como de expressa determinação constitucional presente nos arts. 176 e 177 da Constituição Federal, disciplina o art. 1.230:
“Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais. Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos a transformação industrial, obedecido o disposto em lei especial.”
 	Um bom exemplo de exploração mineral para emprego na construção civil é a possibilidade do proprietário promover a venda de areia. 
Direito aos frutos e produtos
 	Ademais, os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem (art. 1.232).
Descoberta
 	A descoberta está prevista no art. 1.233:
“Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente.”
 	Assiste ao inventor, nos termos do art. 1.234, direito de recompensa não inferior a 5% do valor da coisa, além de indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa. Se o dono preferir abandoná-la, o inventor adquire a propriedade.
 	Se o inventor não encontrar o proprietário, deverá levar a coisa à autoridade, que dará conhecimento da descoberta através da imprensa (art. 1.235). Não encontrado o dono, a propriedade se transfere ao Município onde se encontrou a coisa, deduzidas as despesas e a recompensa do inventor (art. 1.237).
 	Sendo de diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa em favor de quem a achou (art. 1.237, parágrafo único)
Limitações ao direito de propriedade
 	Princípio da função social da propriedade e limitações ao exercício do direito de propriedade. 
 	A função social da propriedade não significa que este direito não seja mais garantido, até porque a localização tópica do princípio da função social (CF, art. 5.º, XXIII) vem logo após o da própria garantia do direito de propriedade (CF, art. 5.º, XXII).
 	Entende-se, por função social, portanto, a exigência legal de que a propriedade, rural ou urbana, atenda a requisitos mínimos, estabelecidos em lei, de atendimento ao interesse da sociedade.
Assim, temos:
 	Elementos da função social da propriedade rural
Na Constituição Federal de 1988 (art. 186): 
- aproveitamento racional e adequado;
- utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
- observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
- exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Na Lei 8.629/93 (art. 9.º) – Lei da Reforma Agrária
– aproveitamento racional e adequado (art. 9.º, § 1.º): 
Considera-se racional e adequado o aproveitamento que atinja os graus de utilização da terra e de eficiência na exploração especificados nos §§ 1º a 7º do art. 6º desta Lei.
Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal competente.
§ 1º O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável total do imóvel.
§ 2º O grau de eficiência na exploração da terra deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento), e será obtido de acordo com a seguinte sistemática: 
I - para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos respectivos índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea; 
II - para a exploração pecuária, divide-se o número total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea; 
III - a soma dos resultados obtidos na forma dos incisos I e II deste artigo, dividida pela área efetivamente utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau de eficiência na exploração.
§ 3º Consideram-se efetivamente utilizadas: 
I - as áreas plantadas com produtos vegetais; 
II - as áreas de pastagens nativas e plantadas, observado o índice de lotação por zona de pecuária, fixado pelo Poder Executivo; 
III - as áreas de exploração extrativa vegetal ou florestal, observados os índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea, e a legislação ambiental; IV - as áreas de exploração de florestas nativas, de acordo com plano de exploração e nas condições estabelecidas pelo órgão federal competente; V - as áreas sob processos técnicos de formação ou recuperação de pastagens ou de culturas permanentes.
§ 4º No caso de consórcio ou intercalação de culturas, considera-se efetivamente utilizada a área total do consórcio ou intercalação.
§ 5º No caso de mais de um cultivo no ano, com um ou mais produtos, no mesmo espaço, considera-se efetivamente utilizada a maior área usada no ano considerado.
§ 6º Para os produtos que não tenham índices de rendimentos fixados, adotar-se-á a área utilizada com esses produtos, com resultado do cálculo previsto no inciso I do § 2º deste artigo.
§ 7º Não perderá a qualificação de propriedade produtiva o imóvel que, por razões de força maior, caso fortuito ou de renovação de pastagens tecnicamente conduzida, devidamente comprovados pelo órgão competente, deixar de apresentar, no ano respectivo, os graus de eficiência na exploração, exigidos para a espécie.
- utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; utilização adequada dos recursos naturais (art. 9.º, § 2.º): Considera- se adequada a utilização dos recursos naturais disponíveis quando a exploração se faz respeitando a vocação natural da terra, de modo a manter o potencial produtivo da propriedade.
- preservação do meio ambiente (art. 9.º, § 3.º): Considera-se preservação do meio ambiente a manutenção das características próprias do meio natural e da qualidade dos recursos ambientais, na medida adequada à manutenção do equilíbrio ecológico da propriedade e da saúde e qualidade de vida das comunidades vizinhas.
- observância das disposições que regulam as relações de trabalho (art. 9.º, § 4.º): A observância das disposições que regulam as relações de trabalho implica tanto o respeito às leis trabalhistas e aos contratos coletivos de trabalho, como às disposições que disciplinam os contratos de arrendamento e parceria rurais;
- exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores(art. 9.º, § 5.º): A exploração que favorece o bem-estar dos proprietários e trabalhadores rurais é a que objetiva o atendimento das necessidades básicas dos que trabalham a terra, observa as normas de segurança do trabalho e não provoca conflitos e tensões sociais no imóvel.
Elementos da função social da propriedade urbana
 	O imóvel urbano atende a função social quando cumpre as exigências estabelecidas pelo Plano Diretor do Município, que é constitucionalmente obrigatório apenas para as cidades com mais de vinte mil habitantes (art. 182, § 3º, CF), sem prejuízo de outras cidades, cuja exigência decorre do art. 41 do Estatuto da Cidade, o qual também dispõe acerca da função social da propriedade urbana:
 
“Art. 39. A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor, assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas, respeitadas as diretrizes previstas no art. 2º desta Lei.”
Limitações ao exercício do direito de propriedade no Código Civil
 	A necessidade, portanto, de se respeitar a função social da propriedade, determina que esse direito sofra limitações que não só aquelas que provinham dos chamados direitos de vizinhança. Por tais razões, o art. 1.228 do novo código, embora reconheça o direito de usar, gozar e dispor da coisa, determina algumas limitações ao direito de propriedade, como se pode ver, in verbis:
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
§ 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.
§ 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente.
 	Outras limitações existem em dispositivos esparsos, como a do art. 1.278 do Código Civil, que prevê que o interesse público pode determinar a interferência no exercício do direito de propriedade. Veja-se:
Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha.
Parágrafo único. Proíbem-se as interferências considerando-se a natureza da utilização, a localização do prédio, atendidas as normas que distribuem as edificações em zonas, e os limites ordinários de tolerância dos moradores da vizinhança.
Art. 1.278. O direito a que se refere o artigo antecedente não prevalece quando as interferências forem justificadas por interesse público, caso em que o proprietário ou o possuidor, causador delas, pagará ao vizinho indenização cabal.
A chamada desapropriação judicial (art. 1.228, §§ 4.º e 5.º) 
O art. 1.228, §§ 4.º e 5.º prevê:
§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa- fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.
 
§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.
 	Trata-se de claro exemplo de limitação ao direito de propriedade, pois o proprietário será privado da coisa, se presentes os requisitos acima previstos.
Natureza jurídica
 	A natureza jurídica é de desapropriação, e não de usucapião, embora esteja condicionada ao decurso de prazo, pois, na usucapião, não existe indenização ao proprietário. É judicial, pois depende de iniciativa dos interessados e de sentença judicial constitutiva. Na desapropriação pública, existe ato administrativo declaratório da desapropriação, o que não ocorre no caso em estudo.
Requisitos
 	Segundo NERY Jr e ANDRADE NERY, os elementos da desapropriação judicial são referentes à posse exercida e ao imóvel objeto da medida.
· com relação ao imóvel: 
- exercício de posse sobre imóvel de outrem;
- imóvel com área extensa;
· com relação à posse:
- boa-fé;
 - ininterrupta por cinco anos;
 - exercício conjunto por número considerável de pessoas;
 - realização, no imóvel, em conjunto ou separadamente, de obras e serviços consideráveis de interesse social e econômico relevante. Tem-se chamado esta característica da posse de posse-trabalho.
Exercício
 	Exerce-se esse direito não só através da defesa na ação reivindicatória, mas, também, através de ação autônoma. A transcrição no Registro de Imóveis, entretanto, nos termos do art. 1.228, § 5.º, fica condicionada ao pagamento do preço estabelecido para a indenização.
 
Outras limitações
 	Como já se frisou, existem limitações ao direito de propriedade impostas pelo próprio proprietário, como a faculdade de gravar a coisa de ônus reais e de instituir sobre ela direito real em favor de terceiro, como servidão, usufruto, uso e habitação.
 	Outras limitações, embora civis, podem não decorrer da vontade do proprietário, como a penhora, as chamadas servidões legais (direito de passagem, aqueduto, etc.) e as limitações impostas pelo Poder Público, de cunho militar (CF, art. 5.º, XXV), administrativo (desapropriações, servidões administrativas, como postes de rede elétrica, etc). ou eleitoral (requisição de locais de votação, de veículos, etc.)
Aquisição da propriedade
Formas de aquisição da propriedade:
Derivada: adquire-se a propriedade de forma derivada quando a aquisição decorre de relação negocial entre alienante e adquirente (ato inter vivos) ou decorra de relação sucessória (causa mortis).
Originária: diz originária a aquisição da propriedade quando o adquirente a obtém sem o intermédio de relação negocial com algum proprietário antigo, como se dá na ocupação, na acessão e, para a maioria da doutrina, na usucapião. 
OBS: a principal característica que difere a aquisição originária da derivada é o fato de que, na aquisição originária, a propriedade se transfere ao adquirente sem os vícios e ônus que incidiam, anteriormente, sobre a mesma coisa.
Sistemas de aquisição da propriedade:
Aquisição pelo contrato: no ordenamento jurídico francês, o negócio jurídico válido é suficiente para transmitir a propriedade;
Aquisição pela tradição ou transcrição: no direito brasileiro, inspirado no sistema alemão, a propriedade não se transmite simplesmente pelo contrato, mas somente após a tradição (no caso de móveis) ou transcrição (no caso de imóveis). Dispõe o art. 1.267 do Código Civil que “a propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição”. Por sua vez, o art. 1.245 prevê: “Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis. § 1º Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel”. Na prática, enquanto não operada a tradição ou transcrição, a ação do adquirente, contra o alienante será pessoal, para cumprimento da obrigação de fazer consistente na transmissão da propriedade.
Aquisição da propriedade imóvel
Usucapião
Conceito
 	Usucapião é forma originária de aquisição da propriedade, na qual o possuidor de coisa alheia exerce a posse, de forma contínua e pacífica (sem oposição) por período de tempo suficiente, segundo a lei, para adquirir a propriedade.
 	Costuma-se denominara usucapião, também, de prescrição aquisitiva. Prescrição porque implica na perda de um direito (propriedade) pelo não exercício, pelo decurso do tempo; aquisitiva porque leva à aquisição da propriedade pelo possuidor, em oposição à prescrição extintiva, que importa apenas na perda do direito.
 	Importante notar que a posse apta a gerar usucapião é somente aquela exercida com animus domini, ou seja, se o possuidor tem poder sobre a coisa em virtude de relação jurídica com o dono (nos casos de locação, comodato e depósito, por exemplo), ou em hipótese de mera detenção (ou fâmulo da posse) a posse nunca poderá ser capaz de gerar usucapião, porque não é vestida do ânimo de ser dono.
 	Assim, a lei utiliza-se, constantemente, da expressão possuir como seu/sua nos dispositivos referentes à usucapião (arts. 1.238/1.242).
Natureza
 	Enquadra-se a usucapião entre os modos de aquisição originária da propriedade, porque entre o usucapiente e o proprietário não existe vínculo. Como consequência, a propriedade adquirida pela usucapião se incorpora sem os ônus e vícios porventura existentes sobre o direito do anterior proprietário.
Extensão
 	A usucapião é modo de aquisição não só do direito de propriedade, como também da servidão (art. 1.379).
 	Além disso, somente bens particulares podem ser objeto de usucapião, já que os arts. 183, § 3.º e 191, parágrafo único da Constituição Federal dispõem, expressamente, que os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
 	Não obstante, o Estatuto da Cidade (lei nº 10.257/01) instituiu a concessão de uso para fins de moradia em imóveis públicos, prevista em seus arts. 15 e ss, entretanto, tal disposição foi vetada pelo presidente da república.
Espécies de usucapião
Usucapião extraordinária
 	A usucapião extraordinária está prevista no art. 1.238 do Código Civil. Reza o dispositivo:
“Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.”
 	Diante do dispositivo, percebe-se que os requisitos da usucapião extraordinária são:
Posse, com animus domini, com os seguintes caracteres:
Ininterrupção: não pode haver interrupção no exercício da posse ad usucapionem. Assim, a perda da posse, ou mesmo a simples oposição, pelo proprietário, desse poder de fato sobre a coisa, inviabiliza a aquisição da propriedade;
Pacificidade: a posse do usucapiente deve ocorrer sem oposição do proprietário. A oposição se caracteriza por atos que caracterizem a intenção de retomar a coisa, como o desforço imediato, a notificação extrajudicial, o ajuizamento de ação reivindicatória, etc;
Prazo de quinze anos: o prazo de posse mansa e ininterrupta, para a usucapião extraordinária, é de quinze anos. Esse prazo “reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo”. (art. 1.238, parágrafo único);
Independência de justo título e boa-fé: no caso da usucapião extraordinária, o legislador privilegia o grande lapso de tempo em que a coisa já se encontra em poder do possuidor, razão por que não se lhe exige a prova de justo título ou boa-fé para o exercício da posse. Na prática, conclui-se que, ainda que o possuidor tenha obtido a posse de forma injusta, nas modalidades violenta ou clandestina, caracteriza-se a posse ud usucapionem, para efeito de usucapião extraordinária, a partir do momento em que o proprietário se desinteressa de reaver a coisa, pois, nos termos do art. 1.224, “só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido”.
Usucapião ordinária
 	A usucapião ordinária encontra-se disciplinada no art. 1.242, in verbis:
“Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.”
São requisitos da usucapião ordinária, portanto:
Posse, com animus domini, com os seguintes caracteres:
Continuidade: aqui, da mesma forma, não pode haver interrupção (solução de continuidade) no exercício da posse ad usucapionem. Assim, a perda da posse, ou mesmo a simples oposição, pelo proprietário, desse poder de fato sobre a coisa, inviabiliza a aquisição da propriedade;
Incontestabilidade: de igual modo, a posse do usucapiente, para a modalidade ordinária, também deve ser pacífica, ou seja, sem oposição do proprietário. A oposição se caracteriza por atos que caracterizem a intenção de retomar a coisa, como o desforço imediato, a notificação extrajudicial, o ajuizamento de ação reivindicatória, etc.;
Prazo de dez anos: o prazo de posse mansa e ininterrupta, para a usucapião ordinária, é de dez anos. “Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico”. (art. 1.242, parágrafo único);
Justo título e boa-fé: quando se trata de usucapião ordinário, é imprescindível que o possuidor demonstre que adquiriu a posse de boa-fé, o que significa o desconhecimento de circunstâncias que tornem a posse injusta; além disso, exige-se o justo título. Por justo título, tem-se, em doutrina, o título que, em tese, seria apto para transferir a propriedade. Diz-se em tese porque se, na prática, ele for apto, a usucapião é desnecessária. Assim, segundo Orlando Gomes, o justo título é o título de aquisição ineficaz. O mesmo autor dispõe sobre três casos nos quais se impede a eficácia do título: 1) aquisição a non domino, ou seja aquisição da coisa, pelo possuidor, de quem não seja dono; 2) aquisição a domino nula, seja por incapacidade do dominus ou por alguma outra nulidade de pleno direito; 3) erro no modo de aquisição, como no caso da aquisição, por instrumento particular, de bem para cuja aquisição a lei exigia escritura pública.
Usucapião especial urbana
 	A usucapião especial urbana, agora expressamente disciplina no Código Civil, já era prevista pelos arts. 183 da Constituição Federal e 9.º do Estatuto da Cidade. Prevê o art. 1.240 do Código Civil:
“Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. 
§ 2º O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
 	Seus requisitos são aqueles estabelecidos para a usucapião extraordinária, em resumo: 
Posse ininterrupta, pacífica e independente de justo título e boa-fé. 
Além destes, exige-se, também:
Utilização da área para moradia do usucapiente ou de sua família;
Área máxima de 250 m2;
Inexistência de outros imóveis (urbanos ou rurais) em nome do possuidor;
Limitação à aquisição da propriedade, por esta modalidade, somente uma vez.
 	O Estatuto da Cidade previu, em seu art. 10, o chamado usucapião coletivo:
Art. 10. As áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
Usucapião familiar
Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamentee sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1o O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
Usucapião especial rural
 	A usucapião especial rural, agora também expressamente disciplina no Código Civil, já era prevista pelos arts. 191 da Constituição Federal e 1.º da Lei 6.969/81. Diz o art. 1.239 do Código Civil:
Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
 	Seus requisitos são aqueles estabelecidos para a usucapião extraordinária, em resumo: 
Posse ininterrupta, pacífica e independente de justo título e boa-fé. 
 	Além destes, exige-se, também:
Utilização da área para moradia do usucapiente ou de sua família;
Área máxima de 50 hectares;
Inexistência de outros imóveis (urbanos ou rurais) em nome do possuidor;
Aplicação de institutos da prescrição extintiva
 	Aplicam-se à usucapião as disposições gerais acerca da prescrição extintiva, por força do art. 1.244:
“Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião. ”
 	Institutos como a citação em ação reivindicatória, por exemplo, então, interrompem a prescrição aquisitiva em favor do possuidor.
 	Assim, excluem-se da aplicação da prescrição aquisitiva os proprietários absolutamente incapazes, porque contra esses não corre a prescrição (art. 198, I).
Aspectos processuais
 	Para as ações de usucapião ordinária e extraordinária, o Código de Processo Civil não prevê rito especial.
OBS: é importante salientar que o novo CPC não prevê um procedimento especial para a ação de usucapião, apesar de a ela se referir nos artigos 246 e 259. Assim sendo, passa a referida ação a se inserindo dentre as ações de procedimento comum.
 	Já as usucapiões especiais devem ser processadas sob o rito sumário, consoante determinação da Lei 6.969/81, art. 5.º e 14 do Estatuto da Cidade.
Eficácia da sentença
 	A sentença proferida na ação de usucapião é meramente declaratória. Já houve quem defendesse a natureza constitutiva da sentença, entretanto, o texto do art. 1.241 do Código Civil (que já encontrava similar no art. 550 do revogado código) é claro ao estatuir:
“Art. 1.241. Poderá o possuidor requerer ao juiz seja declarada adquirida, mediante usucapião, a propriedade imóvel. Parágrafo único. A declaração obtida na forma deste artigo constituirá título hábil para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. ”
 	Na prática, tal disposição equivale a dizer que o possuidor, após o decurso do prazo necessário, já é proprietário da área usucapida, sendo a sentença meramente declaratória dessa propriedade, com eficácia para transcrição no registro de imóveis.
Usucapião como defesa
 	A alegação de usucapião como matéria de defesa, em ação dominial, dá ao possuidor, em regra, apenas a prerrogativa de permanecer no imóvel, tendo em vista o reconhecimento da propriedade na fundamentação da sentença.
 	Assim, a regra é a de que, na ação reivindicatória, por exemplo, a alegação de usucapião, pelo réu, não terá o efeito de servir como título para transcrição no Registro de Imóveis.
 	Esse tratamento decorre de dois motivos básicos: 
O primeiro é o de que a alegação de usucapião, em defesa, não tem o condão de modificar o procedimento ordinário adotado para a reivindicação, por isso, não sendo citados os confinantes, nem as fazendas públicas, como exige o rito especial da usucapião, não pode a sentença servir como título para registro; 
O segundo é o de que a alegação de usucapião como defesa configura questão prejudicial ao exame do mérito da reivindicatória. 
 	Essa regra, entretanto, aplica-se somente às usucapiões ordinária e extraordinária, pois, nas usucapiões especiais (rural e urbana), existe regramento expresso na legislação especial. A respeito, o art. 7.º da Lei 6.969/81:
“Art. 7.º A usucapião especial poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que a reconhecer como título para transcrição no Registro de Imóveis.”
 	De igual teor o art. 13 do Estatuto da Cidade:
“Art, 13. A usucapião especial de imóvel urbano poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que a reconhecer como título para registro no cartório de registro de Imóveis.”
Acessio possessionis
 	Já vimos que a acessio possessionis é a união da posse do possuidor sucessor com a do possuidor antecessor, para as finalidades legais.
 	Essa prerrogativa pode ser utilizada pelo usucapiente, a fim de demonstrar o prolongamento da posse ininterrupta e pacífica pelo prazo exigido em lei. Para a usucapião ordinária, entretanto, a posse do antecessor deve conter os requisitos do justo título e boa-fé, sob pena de inviabilidade da aquisição.
 	No sistema anterior do Código Civil de 2002, entendia-se que a acessio possessionis se destinava exclusivamente às usucapiões ordinária e extraordinária, por ausência de expressa previsão na legislação referente às usucapiões especiais (A Lei 6.969/81, por exemplo, não a previa).
 	A partir do Estatuto da Cidade, entretanto, passou a ser admitida a acessão de posse para a usucapião especial urbana, por força dos arts. 9.º, § 3.º e 10, º 1.º. O novo Código Civil resolveu, definitivamente, a dúvida, ao disciplinar, no art. 1.243:
“Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé.”
 	Repare que os artigos antecedentes ao art. 1.243, no novo código, tratam das quatro hipóteses de usucapião (extraordinária, especial rural, especial urbana e ordinária, respectivamente), razão por que se aplica a acessio possessionis a todas elas.
Aquisição pelo registro do título
 	A forma mais corrente de aquisição da propriedade imóvel, em nosso sistema jurídico, é o do registro do título. Por registro do título, portanto, tenha-se a transcrição, no Registro Imobiliário, de algum título hábil para a aquisição da propriedade imobiliária, como: a escritura pública de compra e venda ou outro negócio jurídico que vise transmitir a propriedade, como a doação ou a permuta, por exemplo (para imóveis com valor superior a trinta salários mínimos); a escritura particular, quando o valor do imóvel não superar os trinta salários mínimos; o formal de partilha, etc.
 	Já vimos que, em nosso ordenamento, a propriedade não se transmite antes da tradição ou transcrição, seguindo a tradição dos sistemas romano e germânico. Por isso, disciplina o art. 1.245:
“Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis. § 1º Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel. § 2º Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel.”
 	Assim, antes do registro, pelo adquirente, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel; de igual forma, uma vez registrada a propriedade em nome do adquirente, passa ele a ser o dono e assim continua a ser havido até que se promova, por ação própria, a ação de decretação da invalidade do registro.
 	A ação para retificação ou anulação do registro se encontra prevista no art. 1.247. 
 	A consequência do reconhecimento judicial de invalidade do registro é o retorno da propriedade ao proprietário anterior que conste no cartório de registro de imóveis. Por isso, o parágrafo único do dispositivo citadoprevê que “Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente”.
 	Essa desconsideração da boa-fé do terceiro adquirente se dá porque, caso não fosse assim, a causa de nulidade ou anulabilidade do título não produziria o efeito previsto pelo art. 182 do Código Civil, que estatui que “anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente”.
 	A eficácia do registro se dá a partir do momento em que se apresenta o título ao oficial, com a prenotação no protocolo (art. 1.246).
Aquisição por acessão
Conceito
 	Acessão significa acréscimo, aumento. Assim, pode o proprietário de um bem imóvel adquirir propriedade pelo acréscimo, ao bem que já lhe pertencia, de nova propriedade.
 	A acessão, portanto, pode ser natural ou por construções e plantações. Aqui devemos diferenciar o que seja imóvel por natureza (como o solo, a vegetação natural, os minerais, rios, etc.) dos bens imóveis por acessão natural.
 	Acessão natural é aquela que ocorre por acontecimento da natureza, sem a intervenção humana, como na formação de ilhas, na aluvião, na avulsão e no abandono de álveo.
 	Nas construções e plantações, diversamente, o acréscimo se dá pelo concurso da ação humana.
Da formação de ilha
 	O conteúdo do art. 1.249, que disciplina a acessão pela formação de ilhas, conduz à conclusão de que, ao se formar uma ilha em uma corrente de águas, sua propriedade é automaticamente acrescida à propriedade daquele que for dono de um imóvel que seja fronteiro à referida ilha.
 	A aquisição da propriedade, entretanto, ocorre na proporção da proximidade do imóvel com a ilha.
 	Assim, as ilhas que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção da testada de cada imóvel. Tenha-se, por testada, a extensão da margem do imóvel à frente da ilha. Além disso, o acréscimo de cada imóvel vai somente até a linha que divide o álveo (leito do rio) em duas partes iguais.
 	Destarte, se a ilha se situa entre uma margem e a linha divisória (situada na metade do leito), pertencerá somente aos proprietários dos imóveis que se situam do lado onde ela se formar.
 	Se a ilha se formar pela formação de um novo braço do rio, ela pertencerá ao proprietário da área invadida pela água.
Aluvião
 	Aluvião é o acréscimo, sucessivo e imperceptível, de depósitos e aterros naturais pelas correntes nos terrenos marginais. Segundo conceituação de Coelho da Rocha (in Nery Jr. e Nery, ob. Citada, p. 654), “é o aumento que as correntes dos rios e ribeiras depositam pouco a pouco nas terras das margens”.
 	O acréscimo formado pela aluvião pertence ao proprietário do prédio ao qual adere, sem direito à indenização ao proprietário que teve seu imóvel diminuído.
Avulsão
 	A avulsão, diferentemente da aluvião, ocorre de forma abrupta, quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a outro.
 	Nesse caso, o dono do prédio acrescido adquire a propriedade se indenizar o dono do prédio diminuído. Esse direito de indenização, no entanto, sofre decadência se, no prazo de 01 (um) ano, não houver reclamação (art. 1.251, caput, parte final).
 	Se, dentro do prazo, o proprietário prejudicado reclamar e o proprietário acrescido se negar a indenizar, terá o primeiro o direito à remoção da parte acrescida (art. 1.251, parágrafo único).
Abandono de álveo
 	Álveo é o leito do rio, por onde passam suas águas. Pode ocorrer de a água abandonar o álveo, formando porção de terra. Essa terra pertencerá aos proprietários ribeirinhos de ambas as margens. 
 	A propriedade de cada prédio é estendida, portanto, até o meio do álveo, sem direito de indenização aos donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso.
 	Só se caracteriza o álveo abandonado se o abandono for total e permanente. Se ocorre abandono parcial, por desvio ou retração de águas, ocorre o que se chama de aluvião imprópria, dando ao proprietário ribeirinho o domínio da porção de terras acrescida.
Das construções e plantações
Noções
 	Adquire-se a propriedade imóvel, também, quando se planta ou constrói. O art. 1.253 prevê a regra geral para as construções e plantações, ao dispor que “toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário”.
 	Assim, o proprietário que constrói ou planta em solo próprio adquire, de plano, a propriedade da construção e plantação que se incorpora ao chão.
 	Diversas circunstâncias, entretanto, podem indicar a necessidade de tratamento especial pela lei, dada a possibilidade de realização de construção ou plantação por terceiros possuidores, de boa ou má-fé.
Vejamos:
· Plantação ou construção em solo próprio com sementes, plantas ou materiais alheios
 	O proprietário do terreno que planta ou edifica em solo próprio, utilizando-se de sementes, plantas ou materiais de outrem, adquire a propriedade da plantação ou construção, entretanto, deve pagar o valor da matéria-prima ao proprietário dela. Se estiver de má-fé, responde ainda por perdas e danos.
· Plantação ou construção em terreno alheio
 	Quem realizar plantação ou construção em solo alheio, de qualquer forma perde, em proveito do proprietário do solo, as sementes, plantas ou construções. A lei lhe dá diferente tratamento em caso de boa ou má-fé:
a) se age de boa-fé: tem direito à indenização pelo valor da construção ou plantação;
b) se age de má-fé: não tem direito à indenização;
c) se de ambas as partes houve má-fé: adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões. Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua (art. 1.256, parágrafo único);
d) Construção ou plantação em terreno alheio com sementes plantas ou materiais alheios: nesse caso, aplica-se o art. 1.256, devendo o proprietário do solo, que adquire a propriedade da acessão ressarcir o seu valor. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou construtor (art. 1.257, parágrafo único).
Direito de retenção
 	Muito se tem discutido acerca do direito de retenção do plantador ou construtor que planta ou semeia de boa-fé em solo alheio. O ordenamento positivo não o prevê, ao contrário do que faz, expressamente, para as benfeitorias (art. 1.219).
 	Lembre-se que construção e plantação são modalidades de acessão, ou seja, modo de aquisição da propriedade, significando acréscimo original ao solo nu. Já a benfeitoria caracteriza-se como melhoramento a uma construção já existente, não se podendo confundir, portanto, os dois conceitos.
 	A jurisprudência tem se inclinado no sentido da impossibilidade do exercício do direito de retenção pela construção ou plantação, a exemplo do seguinte julgado:
Acessão. Direito de retenção. Impossibilidade. Cuidando-se de acessão, não há possibilidade de exercício do direito de retenção (RT 616/144)
 	VENOSA, por exemplo, opina no sentido da existência de direito de retenção ao possuidor que constrói ou planta em solo alheio de boa-fé: “No entanto, seja o conceito de benfeitora, seja de acessão voluntária, o que a lei busca é evitar o injusto enriquecimento. O regime da construção e da semeadura em terreno alheio pode ensejar o direito de retenção ao possuidor de boa-fé, da mesma forma que as benfeitorias, pois a índole é a mesma”
 	Na Jornada I do STJ, concluiu-se, no enunciado 81: “o direito de retenção previsto no CC 1.219, decorrente da realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às acessões (construções e plantações) nas mesmas circunstâncias.
Aquisição da propriedade do solo alheio pelo terceiro plantador ou construtor
 	O novo código contempla hipóteses de aquisição da

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