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DTAs: Doenças Transmitidas por Alimentos As DTAs configuram uma importante área em emergência na atualidade. A responsabilidade entre famílias e estabelecimentos que comercializam alimentos se compartilha. Nesse caso, o alimento atua como um veículo de transmissão. Um único alimento contaminado pode atingir de formas diferentes os indivíduos. O que são as DTAs? As Doenças Transmitidas por Alimentos constituem uma síndrome que acomete o homem, a partir da ingestão de alimentos e/ou água contaminados por microrganismos, toxinas e outros agentes químicos e físicos. Elas incluem sinais e sintomas de anorexia, vômito, diarreia, acompanhada ou não de febre, atribuída à ingestão de água ou alimentos contaminados. As DTAs normalmente causam um quadro de sintomas predominantemente digestivos, acometendo fígado, rins e até o SNC, na dependência do agente envolvido. A ocorrência dessas doenças é multifatorial: - Crescimento das populações - Necessidade de produção de alimento em larga escala - Vulnerabilidade individual Outros fatores determinantes: - Maior exposição da população aos alimentos - Consumo de alimentos em vias públicas - Mudanças de hábitos alimentares FATORES + MULTIPLICIDADE DOS AGENTES CAUSAIS = Possibilidade de ocorrência de DTAs Manifestação • Aguda ou crônica • Casos isolados ou surtos • Distribuição localizada ou disseminada • Formas clínicas diversas Aspectos Epidemiológicos A distribuição das DTAs é mundial e está relacionada a condições socioeconômicas, fatores ambientais, questões de saneamento, culturais e de educação. Atualmente, há uma alta ocorrência (morbidade) de casos de DTAs com magnitude desconhecida. Grupos de risco: pessoas debilitadas, em recuperação ou sob medicação, idosos, crianças, gestantes. A letalidade está atrelada ao agente etiológico, acesso aos serviços de saúde e condições individuais (FAZER QUADRO) BRASIL: perfil pouco conhecido de DTAs, já que os dados registrados no SINAN são escassos → agentes etiológicos mais comuns, alimentos frequentemente implicados e população de maior risco e fatores contribuintes. • Alta morbidade • Magnitude Modos de transmissão Ingestão de alimentos e/ ou água contaminados Modo de contaminação como essa contaminação pode acontecer; pontos de toda a cadeia alimentar, desde a criação, até o transporte, envase, exposição do produto. Período de Incubação: depende do agente etiológico, representa o tempo entre a manifestação dos primeiros sintomas (de horas a meses). Susceptibilidade geral: grupos de crianças, idosos, imunodeprimidos. No caso das DTAs, não existe imunidade duradoura. Aspectos Etiológicos e Clínicos É importante fazer o estudo da frequência, distribuição e fatores determinantes da DTA para a aplicação de medidas de saúde com o objetivo de realizar o controle e a prevenção. Surto x dta Surto: episódio em que duas ou mais pessoas apresentam doença semelhante após ingerirem alimentos e/ou água da mesma origem. No caso de doenças raras, apenas um caso já é considerado como surto. Modo de Contaminação dos alimentos moscas, formigas, água, mãos sujas ou com ferimentos. Agentes etiológicos Bactérias: Salmonella spp., Shigella spp., E. coli Toxinas bacterianas: Staphylococcus aureus, Clostridium spp., Bacillus aureus Vírus: rotavírus, norovírus, vírus da hepatite A Parasitos: Giardia lamblia, Toxoplasma gondii, Trypanosoma cruzi Substâncias tóxicas: metais pesados (mercúrio), plantas. FATORES PARA SOBREVIVÊNCIA E MULTIPLICAÇÃO Fatores do Alimento: intrínsecos (próprios do alimento, como pH), ou extrínsecos ao alimento (ambientais, como a temperatura). Fatores Intrínsecos • pH: determina o crescimento e a sobrevivência dos microrganismos existentes. Normalmente está em torno de 5 e 8. A acidificação do interior da célula propicia a perda de transporte de nutrientes por conta do microrganismo, podendo levar à morte celular. • Atividade de Água: sobrevivência, crescimento e metabolismo. A água livre favorece o metabolismo dos microrganismos. • Potencial de oxirredução: presença de oxigênio. Fatores Extrínsecos • Temperatura: é o mais importante fator ambiental. Ao passo que a temperatura ambiental se afasta da temperatura ótima de multiplicação do microrganismo, a velocidade do desenvolvimento diminui – morte celular. ESPECTROS DAS DTAs Reemergência frente à ocorrência de epidemias mundiais. Podem ocorrer doenças associadas a príons, que, em alguns países europeus, estão associados ao consumo de carne bovina (EEB – encefalopatia espongiforme). Mecanismos patogênicos: Infecções → causadas pela ingestão de microrganismos invasivos (células viáveis), com capacidade de penetrar e invadir tecidos. O quadro clínico variável, que normalmente inclui diarreias frequentes, sem necessariamente ter aumento de volume, contendo sangue e pus, dores abdominais intensas, febre, desidratação leve, que sugerem infecção do intestino grosso. Exemplos: Salmonella spp., Shigella spp., Yersinia enterocolitica, Campylobacter jejuni. Também pode haver agentes virais, protozoários, helmintos cujo mecanismo de ação é a invasão tecidual, embora o quadro clínico manifestado seja diferente. Toxinfecções → causadas por microrganismos toxigênicos, cujo quadro clínico é provocado por toxinas liberadas quando estes se multiplicam, esporulam ou sofrem lise na luz intestinal. As toxinas atuam nos mecanismos de secreção e absorção da mucosa intestinal. Quadro clínico compatível com diarreia intensa, sem sangue, com febre discreta ou ausente, sendo comum a desidratação. Exemplos: E. coli enterotoxigênica, Vibrio cholerae, Clostridium perfringens e Bacillus cereus (cepa diarreica). Intoxicações → provocadas por ingestão de toxinas, formadas em decorrência da intensa proliferação do microrganismo patogênico no alimento. Os mecanismos de ação dessas toxinas no homem não são muito bem esclarecidos, porém, em animais, descrevem-se alterações na permeabilidade vascular e inibição na absorção de água e sódio. Nesse caso, o indivíduo já ingere a toxina que se formou no alimento. Quadro clínico de vômitos associados à ação das toxinas sobre o SNC. Exemplos: Clostridium botulinum, Staphylococcus aureus, Bacillus cereus (cepa emética). Intoxicações não-bacterianas → causadas por outros agentes envolvidos (plantas, peixes, pombos silvestres, agrotóxicos, metais pesados). Os mecanismos fisiológicos são variáveis, envolvendo uma ação química direta do próprio agente sobre os tecidos ou órgãos específicos, ou ação de aminas biogênicas presentes no alimento tóxico. Mecanismo de ação e quadro clínico variáveis, pois depende do agente causador. Exemplos: protozoários, metais pesados, agrotóxicos, alimentos tóxicos. FATORES DETERMINANTES O patógeno deve estar em quantidade suficiente para causar uma infecção ou produzir uma toxina, exceto em alguns casos (Ex: E. coli). O alimento precisa permitir o crescimento desses patógenos O alimento deve permanecer na zona de perigo de temperatura x tempo, que favoreça a multiplicação dos microrganismos e a produção de determinada toxina. A pessoa deve ingerir uma quantidade suficiente do alimento. Diagnóstico Para que seja feito o diagnóstico, deve se abrir um inquérito epidemiológico, que investigará várias condições: hábitos alimentares, consumo de alimentos suspeitos ou refeições incrimináveis, tempo da doença clínica, existência de outros familiares ou comensais. O diagnóstico etiológico é realizado por meio dos exames laboratoriais do indivíduo ou da amostra coletada. • Sorologia • Isolamento • PCR • Período de incubação e quadro clínico Considerar os procedimentosde coleta da amostra, acondicionamento e transporte. Em muitos casos, não se chega ao diagnóstico definitivo do agente etiológico, por inativação do agente, metodologias com técnicas pouco abrangentes. Tratamento Procurar UBS → tratamento de suporte. Em muitos casos, as DTAs são autolimitantes, com exceção de botulismo, listeriose em imunodeprimidos. A melhor forma de prevenção é a higienização das mãos e dos alimentos. Principais Doenças Microbianas de Origem Alimentar Bactérias estão frequentemente envolvidas com surtos de doenças transmitidas por alimentos. 1. Clostridium botulinum Bacilo gram-positivo, formador de esporos ovais. A condição de multiplicação do microrganismo é a anaerobiose estrita. O microrganismo é capaz de produzir toxinas de natureza proteica. Reservatório: solo pH: neutro a levemente alcalino Temperatura ótima: 37ºC (mesófilo) Alimentos: embutidos de carnes em geral (salsicha, salame, presunto), conservas em lata (palmito, aspargos, cogumelo), vidros de doces e outros em embalagens a vácuo. Formas do Botulismo - Botulismo clássico: ingestão de alimentos contendo neurotoxinas pré- formadas. Período de incubação entre 12 e 36h. • Patogenia: A toxina se liga às membranas pré-sinápticas dos neurônios motores, na junção neuromuscular, bloqueando a liberação da acetilcolina, impedindo a contração muscular. • Quadro clínico: fraqueza muscular, problemas de visão, disfagia, fadiga. • Controle: conservadores químicos na preparação de produtos cárneos (nitritos e nitratos), tratamento térmico elevado (esterilização comercial); - Botulismo de lesões: causada pela proliferação e consequente liberação de toxinas nas lesões de pele infectadas. - Botulismo infantil: Causada pela ingestão de esporos em crianças com menos de 1 ano de idade. 2. Clostridium perfringens Bacilo gram-positivo, anaeróbio, esporulado e imóvel. As cepas são classificadas em 5 tipos, de acordo com a produção das quatro toxinas extracelulares mais importantes. Essas toxinas têm uma produção celular de fosfolipase e hemolítica, com alta capacidade de multiplicação em temperaturas altas, tendo relação firme com surtos de doenças alimentares. Reservatório: microbiota do solo, intestino do homem e animais Temperatura ótima: 40-45ºC pH: entre 6,0 e 7,0 Surtos estão associados ao consumo de alimentos preparados em grandes quantidades e consumidos várias horas após. Alimentos: carne bovina e de frango. Formas de Doença • Quadro clínico: toxinfecção alimentar, com presença de um número elevado de células viáveis da bactéria, que esporulam no intestino, levando a enterotoxina. Formas de Doença por C. perfringens - Cepas do tipo A – Forma clássica: inclui sintomas como dores abdominais agudas, diarreia com náuseas e febre. Raramente ocorre vômito. Os sintomas duram entre 12 e 24 horas, sendo muito comum em termos de morbidade e baixa mortalidade. - Cepas do tipo C – Enterite necrótica: sintomas incluem dores abdominais agudas, diarreia sanguinolenta, vômitos variáveis, inflamação necrótica do intestino delgado. Apresenta alta mortalidade. Associada ao consumo de carne suína malcozida. • Controle: Temperatura de 60ºC inativa rapidamente as células vegetativas de C. perfringens. Os esporos sobrevivem ao cozimento de alimentos e podem ter sua germinação estimulada pelo aquecimento. 3. Bacillus cereus Bacilo gram-positivo, aeróbico, mesófilo, com flagelos peritríquios e produtor de esporos. Todas as cepas são produtoras de hemolisinas. Reservatório: solo Temperatura: 10-48ºC (ótima = 28- 35ºC) pH: 4,9-9,3 Está comumente associado ao arroz, também encontrado na superfície de carne bovina, suína e de frango, além de laticínios. Formas de Doença - Síndrome diarreica: período de incubação entre 8 e 16h. Inclui sintomas como diarreia intensa, dores abdominais, tenesmo, raramente náuseas e vômitos. A doença se estende entre 12 e 24h. Alimentos: vegetais crus e cozidos, produtos cárneos, pescado, massas, leite, sorvete, pudim a base de amido. - Síndrome emética: período de incubação curto e causa náuseas, vômitos, mal-estar geral e pode gerar diarreia com 6-24h de duração. Alimentos: farináceos. • Controle: consumo de alimentos recém-preparados não oferece risco; o cozimento em vapor sob pressão, fritura e assar em forno quente destrói células vegetativas e esporos. 4. Staphylococcus aureus Coco gram-positivo, anaeróbico facultativo, produtor de enterotoxina termoestável (doença). Período de incubação varia entre 30 min e 8 horas. Temperatura: 7-47,8ºC. Quanto mais baixa a temperatura, maior o tempo necessário para a produção da enterotoxina. Formas de Doença - Sintomas e sinais: náusea, vômito, diarreia, sudorese. Pode acontecer dor de cabeça, queda da pressão arterial, febre. • Controle: manter alimentos susceptíveis em refrigeração (< 6ºC), treinar manipuladores, evitar o preparo de alimentos com muita antecedência, higiene pessoal adequada, cozimento apropriado. 5. Listeria monocytogenes Reservatório: homem, animais e ambiente. Pessoas imunocomprometidas tendem a apresentar um quadro importante de listeriose, incluindo septicemia, meningite, encefalite, infecção intrauterina. Alimentos: carnes, peixe cru, laticínios (leite e queijos). • Controle: BPF, limpeza de equipamentos, impedir a entrada de animais nos locais de preparo e produção dos alimentos, evitar contaminação cruzada (cozido x cru). 6. Escherichia coli - EPEC (enteropatogênica) - EIEC (enteroinvasiva) - ETEC (enterotoxigênica) - EHEC (entero-hemorrágica) Microrganismo anaeróbico facultativo não-esporulado. Enterobactérias, quando identificadas em um alimento indicam contaminação de origem fecal → condições de higiene insatisfatórias. Alimentos: crus ou malcozidos (carne moída crua ou mal-passada, água). 7. Salmonellas Microrganismos anaeróbios facultativos, não produtores de esporos. Reservatórios: aves assintomáticas. Formas de Doença - Febre tifoide: causada por Salmonella typhi. • Patogenia: acomete apenas o homem e é transmitida por água e/ou alimentos contaminados com material fecal humano. • Quadro clínico: os sintomas incluem septicemia, febre alta, diarreia e vômitos. Alimentos: leite cru, mariscos, vegetais crus. - Febre entérica: causadas por S. paratyphi. • Quadro clínico: Sintomas mais brandos, que duram no máximo 3 semanas. Alimentos: leite cru, vegetais crus, mariscos e ovos. - Enterocolites: causadas por outros sorotipos e espécies de salmonela. • Quadro clínico: diarreia, febre, dores abdominais e vômitos. Pode ser mais agressiva em idosos e imunodeprimidos, já que atinge a corrente sanguínea e pode provocar lesões em outros órgãos. Alimentos: produtos de origem animal. • Controle: tratamento dos efluentes e dejetos, manipulação adequada dos alimentos, higiene do abate, submissão ao calor (65-74ºC), conservação em temperaturas inferiores a 5ºC. Evitar contaminação cruzada e portadores assintomáticos – manipuladores. 8. Campylobacter jejuni (Campilobacteriose) Bastonetes gram-negativos, microaerófilos, causadores de quadros de diarreia em crianças. 9. Outros agentes - Rotavírus: RNA-vírus causador de diarreia viral em lactentes e crianças. Transmissão advinda da contaminação de fezes, via fecal-oral. - Hepatite A: picornavírus, RNA-vírus associado à inflamação e necrose do fígado. Pode ser encontrado em frutos de mar coletados em águas poluídas, leite. Transmissão fecal-oral. - Giardíase:causada pelo protozoário Giardia lamblia. A patogênese está associada à adesão do parasito à mucosa intestinal, impedindo a absorção de gorduras e levando a quadros de diarreia persistente. - Toxoplasmose: ocorrência mundial, causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, cujo hospedeiro definitivo é o gato e felídeos silvestres. Existe possibilidade de infecção congênita e em pacientes imunodeprimidos. DISCIPLINA DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA E SEGURANÇA DE ALIMENTOS
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