Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ABORDAGENS TEÓRICAS DA CONTABILIDADE AULA 4 Prof. Ivanildo Viana Moura 2 CONVERSA INICIAL Olá, aluno(a), tudo bem? Seja bem-vindo(a) à nossa aula. Hoje falaremos um pouco mais sobre os itens patrimoniais e de resultado, visando demonstrar sua parte conceitual. Para tanto, vamos tratar dos seguintes tópicos: Ativos: aspectos conceituais; Passivos: aspectos conceituais; Patrimônio Líquido: aspectos conceituais; Receitas e despesas: aspectos conceituais; Perdas e ganhos: aspectos conceituais. Aproveite a leitura e pratique os conhecimentos adquiridos resolvendo os exercícios. Lembre-se, a melhor maneira de aprender, é praticando. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO Até o momento falamos sobre o patrimônio e sua composição, especificando as contas patrimoniais, mais especificamente, Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido, ou seja, o conjunto de bens, direitos e obrigações que se configuram como origem e aplicação de recursos. Também estudamos sobre as contas de resultado, as quais não são evidenciadas no Balanço Patrimonial, porém, dizem respeito aos valores referentes a entradas (receitas) e saídas (custos e despesas) geradas pelas contas patrimoniais, que ao serem confrontadas, evidenciam o resultado de um período (lucro ou prejuízo). Sabendo que essas contas compõem as demonstrações contábeis, que fornecem informações úteis aos usuários da contabilidade, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis - Apresentação das Demonstrações Contábeis (CPC 26), pontua que: As demonstrações contábeis também objetivam apresentar os resultados da atuação da administração, em face de seus deveres e responsabilidades na gestão diligente dos recursos que lhe foram confiados. Para satisfazer a esse objetivo, as demonstrações contábeis proporcionam informação da entidade acerca do seguinte: (a) ativos; (b) passivos; (c) patrimônio líquido; (d) receitas e despesas, incluindo ganhos e perdas. 3 Nesta aula, vamos focar em cada uma dessas contas individualmente, apontando suas principais características e seus conceitos para um melhor entendimento delas. TEMA 1 – ATIVOS: ASPECTOS CONCEITUAIS O ativo compõe o conjunto de bens e direitos de uma entidade, configurando - se como o lado de aplicações de recursos, e por conta disso, suas contas possuem natureza devedora. Sabemos que os bens e direitos são classificados como ativos, mas antes de fazer o reconhecimento desses itens, é necessário saber se estão enquadrados na definição de ativo, a que veremos a seguir. 1.1 Definição de ativo Antes de reconhecer um item numa conta patrimonial ou de resultado, é preciso saber se ele se enquadra na definição correspondente ao respectivo grupo de contas. Diante disso, todos os grupos de contas patrimoniais e de resultado possuem definições dadas pelos órgãos normativos visando a correta classificação dos mesmos nas suas respectivas contas. Quando se fala em ativos, têm-se várias definições dadas ao longo do tempo por diferentes órgãos e teóricos. Todas essas definições dizem praticamente a mesma coisa, porém, contextualizadas de modo diferente. Diante disso, sendo o Comitê de Pronunciamentos Contábeis o órgão responsável pela tradução das normas internacionais de contabilidade para o contexto brasileiro, visando a convergência às mesmas, a definição que estudaremos aqui será a do Comitê de Pronunciamentos Contábeis - Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro (CPC 00). Nesse sentido, definido pelo CPC 00, “ativo é um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade”. Segundo o CPC, essa definição de ativo identifica suas características essenciais, as quais são apresentadas na Figura 1: 4 Figura 1 – Definição de ativo segundo o CPC 00 Fonte: Niyama e Silva (2013, p. 117). Vamos agora explorar cada uma das características apontadas pelo CPC, que estão presentes na definição de ativo: Recurso controlado pela Entidade: quando se fala em controle de um ativo, não significa que o item deve pertencer à entidade, ou seja, não requer a propriedade jurídica. Na verdade, o controle está relacionado aos benefícios que tal ativo pode proporcionar. Segundo o CPC 00, “embora a capacidade da entidade de controlar os benefícios econômicos normalmente resulte da existência de direitos legais, o item pode, contudo, satisfazer à definição de ativo mesmo quando não houver controle legal”. Como exemplo, o CPC 00 coloca um imóvel, objeto de arrendamento mercantil, explicitando que, caso a entidade controle os benefícios econômicos esperados que fluem da propriedade, logo, esse imóvel será um ativo. Assim, o CPC coloca que na determinação da existência do ativo, o direito de propriedade não é essencial. Resultado de eventos passados: para que um determinado item possa ser considerado um ativo, a transação que o originou já deve ter ocorrido, ou seja, deve ser oriundo de um evento que já passou. Nesse sentido, o CPC 00 coloca que, “os ativos da entidade resultam de transações passadas ou de outros eventos passados. As entidades normalmente obtêm ativos por meio de sua compra ou produção, mas outras transações ou eventos podem gerar ativos”. Dessa forma, quando a empresa faz uma compra de um imobilizado, por exemplo, o evento que deu origem ao ativo já ocorreu, pois, a compra já se concretizou. Essa regra vale para qualquer item reconhecido como ativo. 5 Caso a empresa tivesse apenas a intenção de adquirir o imobilizado ou mesmo estoques, mas não tivesse concretizado a transação, significa que o evento ainda não ocorreu, e portando, o item não se enquadra na definição de ativo. Conforme explica o CPC 00: “transações ou eventos previstos para ocorrer no futuro não dão origem, por si só, ao surgimento de ativos. Desse modo, por exemplo, a intenção de adquirir estoques não atende, por si só, à definição de ativo”. Futuros benefícios econômicos: “o benefício econômico futuro incorporado a um ativo é o seu potencial em contribuir, direta ou indiretamente, para o fluxo de caixa ou equivalentes de caixa para a entidade” (CPC 00). Esse contexto remete à prováveis valores que venham a fluir do item registrado pela entidade como um ativo. No contexto do CPC 00, o potencial de contribuir para a geração de fluxos de caixa pode ser produtivo quando o recurso for parte integrante das atividades operacionais da entidade. Por exemplo: em uma indústria, as máquinas que trabalham na fabricação dos produtos estão contribuindo para a geração de fluxos de caixa, pois em cada fase do processo, ao passar por uma dessas máquinas, o trabalho realizado por elas está agregando valor ao produto, o que fará com que o consumidor seja atraído por ele e venha a adquiri-lo. Porém, não é somente de forma direta que o ativo pode contribuir com os fluxos de caixa. De acordo com o CPC 00, o benefício econômico pode ser configurado na forma de redução de saídas de caixa, como no caso de processo industrial alternativo que reduza os custos de produção. O CPC 00 afirma que: “os benefícios econômicos futuros incorporados a um ativo podem fluir para a entidade de diversas maneiras”. O ativo pode ser: Usado isoladamente ou em conjunto com outros ativos na produção de bens ou na prestação de serviços a serem vendidos; Trocado por outros ativos; Usado para liquidar um passivo; ou Distribuído aos proprietários da entidade. Agora que já sabemos como definir se um determinado item se enquadra ou não na definição de ativo, vamos ver as classificações desse grupo de contas patrimoniais. 6 1.2 Classificações de ativos quanto ao Grau de Liquidez O grupo do ativo engloba várias contas, mas a disposição delas no Balanço Patrimonial deve ser feita conforme determinadopela norma. Dessa forma, a Lei n. 6.404/1976 e suas alterações determina que as contas devem ser dispostas em ordem decrescente do Grau de Liquidez, ou seja, aquelas que podem ser transformadas em numerários mais rapidamente são as primeiras que aparecem no Balanço Patrimonial. Nesse entendimento, considerando que o ativo possui contas que já se converteram em dinheiro (caixa, bancos), as de maior liquidez devem ser dispostas primeiro no Balanço Patrimonial. Embora a conta “estoques” ainda não tenha se convertido em numerários, considera - se que ela possui maior Grau de Liquidez que outras contas do ativo, pois a tendência é que os estoques sejam vendidos (à vista) num período breve, e com isso, o valor da receita das vendas seja convertido em numerários, enquanto as vendas a prazo serão lançadas na conta “clientes”. Embora a conta “clientes” também não tenha se convertido em numerários, espera-se que os valores que a compõem sejam convertidos em algum momento, por isso, essa conta também apresenta maior liquidez que outras contas do ativo, tais como a do realizável a longo prazo, que tem recebimento previsto no longo prazo. Já essa conta possui maior Grau de Liquidez que todas as demais contas que compõe o Ativo Não Circulante, pois dentro desse grupo do ativo, é a única que representa ativos destinados à venda, enquanto as outras (imobilizados, intangíveis, investimentos, etc.) envolvem itens destinados a não venda, e consequentemente, possuem menor Grau de Liquidez. A figura a seguir demonstra a disposição das contas do ativo por ordem decrescente de Grau de Liquidez: 7 Figura 2 – Disposição das contas por ordem decrescente de Grau de Liquidez Em resumo, as contas do ativo são expostas pela maior conversibilidade em dinheiro, iniciando pela conta caixa, passando para as próximas conforme se converterão. 1.3 Classificações de ativos em Circulante e Não Circulante A classificação dos itens do ativo não se limita à disposição pela ordem decrescente de Grau de Liquidez, existe outro aspecto importante, que é um grupo de contas dividido em duas partes: 1. Ativo Circulante (AC); 2. Ativo Não Circulante (ANC). A classificação das contas do ativo em Circulante e Não Circulante está relacionada ao prazo de conversão das contas em numerário, abrangendo também aquelas contas que representam itens que não se converterão em valores. Sobre esse assunto, o CPC 26 determina que “a entidade deve apresentar ativos Circulantes e Não Circulantes, e Passivos Circulantes e Não Circulantes, como grupos de contas separados no Balanço Patrimonial”. Essa classificação está relacionada com as datas previstas para a realização de ativos, considerando - se os exercícios sociais e os prazos para essa realização das contas. Diante desse aspecto, o CPC 26 determina os itens que devem constar no Ativo Circulante da entidade, devendo seguir os seguintes critérios: 8 (a) espera-se que seja realizado, ou pretende-se que seja vendido ou consumido no decurso normal do ciclo operacional da entidade; (b) está mantido essencialmente com o propósito de ser negociado; (c) espera-se que seja realizado até doze meses após a data do balanço; ou (d) é caixa ou equivalente de caixa (conforme definido no Pronunciamento Técnico CPC 03 – Demonstração dos Fluxos de Caixa), a menos que sua troca ou uso para liquidação de passivo se encontre vedada durante pelo menos doze meses após a data do balanço. Todos os demais ativos devem ser classificados como não circulantes. Percebe-se que somente podem se encaixar no Ativo Circulante os itens que serão realizados até doze meses após a data de fechamento do balanço, seja na transformação de numerários, seja por terem sido vendidos ou consumidos no ciclo operacional da entidade. Nesse sentido, torna-se importante salientar que o ponto de referência para se classificar no Circulante (curto prazo) ou no Não Circulante (longo prazo) é a data do encerramento do Balanço Patrimonial. Por exemplo, considerando que o exercício social de uma determinada empresa inicie em primeiro de janeiro e encerre em trinta e um de dezembro, o curto prazo abrangerá até trinta e um de dezembro do próximo ano, e o longo prazo iniciará a partir de primeiro de janeiro. Se considerarmos que essa empresa se encontra no exercício social de 2018, o fechamento do balanço tem a data de 31/12/2018. Diante disso, o curto prazo para essa empresa abrangerá o período de 12 meses após essa data, ou seja, será considerado curto prazo todos os ativos que se realizarão até 31/12/2019. No caso de uma venda a prazo, por exemplo, todos os valores a serem recebidos pela empresa até a data de 31/12/2019 devem ser registrados na conta “clientes” dentro do curto prazo, e os valores que cujo recebimento ultrapassarem essa data, serão registrados na conta “realizável a longo prazo”, ou seja, longo prazo. A Figura 3 demonstra essa situação: 9 Figura 3 – Esquema gráfico de Circulante e Não Circulante Importante ressaltar que neste exemplo consideramos o exercício de doze meses, por ser o mais comum. No entanto, existem empresas que adotam um exercício social menor, abrangendo apenas alguns meses. Mesmo nesses casos, o período considerado como curto prazo abrange o período de doze meses após a data de fechamento do balanço. Com base nesse contexto, pode-se dizer que o Ativo Circulante engloba os bens que serão vendidos nos próximos 365 dias após o fechamento do balanço, e os valores que vencem e serão recebidos também dentro dos próximos 365 dias após o encerramento do Balanço Patrimonial. Mas e os itens do Ativo Não Circulante? Ainda conforme o CPC 26, “o Ativo Não Circulante deve ser subdividido em: realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado e intangível”. Diferentemente do Ativo Circulante, o Ativo Não Circulante possui em suas contas bens e direitos de naturezas distintas. A única conta dentro do Ativo Não Circulante que possui a característica da realização (para a transformação em numerários, vendidos ou consumidos no processo) é o Realizável a Longo Prazo (RLP), pois todas as demais contas são mantidas para atividades operacionais da entidade, não possuindo a intenção de realização, venda ou consumo. Percebe-se, portanto, que a divisão das contas em Circulante e Não Circulante está, de certa forma, relacionada com a ordem decrescente de liquidez, pois no AC estão dispostas as contas que tendem a se realizarem primeiro, enquanto que no ANC estão dispostas as contas que tendem a se realizarem num período de tempo mais longo, ou até mesmo, de não se realizarem. A Figura 4 traz uma visão da divisão dessas contas: 10 Figura 4 – Estrutura do ativo com suas respectivas contas As descrições dos subgrupos das contas e os itens que as compõem são colocados a seguir: Disponibilidade: caixa, dinheiro em conta corrente. Direitos realizáveis: clientes a receber, duplicatas a receber. Estoques: mercadorias, matéria-prima, material de escritório. Realizável a longo prazo: direitos a receber no longo prazo. Investimentos: ações em outras companhias. Imobilizados: móveis, utensílios, veículos, instalações. Intangíveis: marcas, patentes, fórmulas. Assim como o ativo, o passivo também possui uma definição que deve ser considerada para o reconhecimento de suas contas, bem como as classificações para esse grupo. TEMA 2 – PASSIVOS: ASPECTOS CONCEITUAIS As obrigações para com terceiros da entidade compõem o passivo no Balanço Patrimonial. Esse grupo de contas apresenta as obrigações exigíveis, e para serem reconhecidas como tal, precisam atender as características apontadas na definição de passivo, conforme determina o CPC 00. 11 2.1 Definição de passivo O Comitê de Pronunciamentos Contábeis, órgão responsável pela tradução das normas internacionaisde contabilidade para o contexto brasileiro, possui vários pronunciamentos contábeis para nortear as práticas contábeis pelos contadores. O CPC 00, estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro apresenta, dentre outros itens, as definições dos itens patrimoniais, além do conceito de passivo: “é uma obrigação presente da entidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos”. Segundo o CPC, essa definição de passivo tem características essenciais, apresentadas na Figura 5: Figura 5 – Definição de passivo segundo o CPC 00 Fonte: Adaptado de Niyama e Silva (2013, p. 160). A seguir, são explicadas cada uma das características dadas pelo CPC sobre a definição de passivo: Obrigação presente: as obrigações, segundo o CPC 00, representam um dever ou responsabilidade de agir ou de desempenhar uma dada tarefa, e podem ser legalmente exigíveis em consequência de contrato ou de exigências estatutárias. Um exemplo disso são as contas a pagar, que tem por origem a aquisição de bens e serviços pela entidade. No entanto, o CPC 00 explica que as obrigações também podem ser oriundas “de práticas usuais do negócio, de usos e costumes e do desejo de manter boas relações comerciais ou agir de maneira equitativa”. Um exemplo dado pelo pronunciamento é a retificação de 12 defeitos nos produtos de uma entidade, mesmo quando esses defeitos tenham se tornado conhecidos depois do período da expiração da garantia. Derivada de Eventos Passados: para que um determinado item possa ser considerado um passivo, a transação que o originou já deve ter ocorrido, ou seja, deve ser oriundo de um evento que já passou. Nesse entendimento, o CPC 00 pontua que: “deve-se fazer uma distinção entre obrigação presente e compromisso futuro. A decisão da administração de uma entidade para adquirir ativos no futuro não dá origem, por si só, a uma obrigação presente”. Nesse contexto, imaginando um orçamento de capital, por exemplo, no qual a entidade coloca a intenção de expandir seus negócios, e para tanto, adquirir novas instalações, máquinas e equipamentos; enquanto não existir contratos ou acordos irrevogáveis, nos quais sejam feitas as entregas de tais ativos para a entidade com a promessa de pagamento futuro, não existirão passivos. A obrigação só existirá, caso a entidade receba os ativos ou faça acordos irrevogáveis com a promessa de pagamento futuro mediante o recebimento. Liquidação resulta em saída de recursos: para a liquidação de uma obrigação, a empresa precisa dispor de recursos incorporados a benefícios econômicos, ou seja, a empresa deve entregar para a outra parte algum recurso (Ativo) que possa lhe gerar recursos econômicos futuros. O CPC 00 pontua que a liquidação de uma obrigação presente pode ocorrer de diversas maneiras, por exemplo, por meio de: a. Pagamento em caixa: o passivo será liquidado por meio de numerários, ou seja, pagamento em dinheiro. b. Transferência de outros ativos: caso haja negociação entre as partes, a empresa pode liquidar a obrigação entregando outros ativos para a outra parte, funcionando como uma espécie de “troca”. c. Prestação de serviços: caso seja do interesse da outra parte, a empresa que possui a obrigação poderá oferecer algum tipo de serviço para a liquidação da obrigação. d. Substituição da obrigação por outra: para a liquidação da obrigação, caso não possua outra saída, a empresa pode fazer um empréstimo bancário para quitar a dívida. Por exemplo, é comum hoje em dia uma pessoa que tem um carro financiado fazer um refinanciamento do mesmo em caso de encontrar dificuldades no pagamento das prestações. 13 e. Conversão da obrigação em item do Patrimônio Líquido: em caso de não encontrar outra saída, o valor da obrigação presente pode se converter em uma participação no Patrimônio Líquido da entidade, levando a outra parte a se tornar sócia com o valor da dívida sendo convertido em capital social. Segundo o CPC 00, a obrigação pode também ser extinta por outros meios, como pela renúncia do credor ou perda dos seus direitos. 2.2 Classificações de passivos quanto ao Grau de Exigibilidade e divisão em Circulante e Não Circulante Assim como os ativos, os passivos também devem ser dispostos no Balanço Patrimonial seguindo um critério, no caso, o Grau de Exigibilidade. Dessa forma, as contas do passivo são classificadas de acordo com a ordem decrescente de sua exigibilidade, devendo ser ordenadas conforme a o seu prazo de vencimento, sendo dispostas primeiro as contas que vencem antes, como expõe. Figura 6 – Disposição das Contas por Ordem Decrescente de Exigibilidade As contas do passivo são dispostas conforme o seu vencimento, e esse grupo também é dividido, em Passivo Circulante (PC) e Passivo Não Circulante (PNC). Segundo o CPC 26, “o passivo deve ser classificado como Circulante quando satisfizer qualquer um dos seguintes critérios”: (a) espera-se que seja liquidado durante o ciclo operacional normal da entidade; (b) está mantido essencialmente para a finalidade de ser negociado; (c) deve ser liquidado no período de até doze meses após a data do balanço; ou 14 (d) a entidade não tem direito incondicional de diferir a liquidação do passivo durante, pelo menos, doze meses após a data do balanço. Os termos de um passivo que podem, à opção da contraparte, resultar na sua liquidação por meio da emissão de instrumentos patrimoniais não devem afetar a sua classificação. Todos os outros passivos devem ser classificados como não circulantes. Assim como no ativo, o ponto de referência para definir o curto e longo prazo (circulante e não circulante) é a data de fechamento do balanço. Assim, as contas com vencimento para até 365 dias após a data de fechamento do balanço são classificadas no Passivo Circulante. Já o Passivo Não Circulante compreende as contas com vencimentos que excedem os 365 dias após o fechamento do Balanço Patrimonial. Importante ressaltar que, embora ambas sejam contas que ficam no lado direito do balanço e que representam a origem de recursos, existem diferenças entre o Passivo e o Patrimônio Líquido, pois enquanto o primeiro representa as obrigações com terceiros (obrigações exigíveis), o segundo representa as obrigações com os sócios ou proprietários da entidade, apresentando características distintas. TEMA 3 – PATRIMÔNIO LÍQUIDO: ASPECTOS CONCEITUAIS O CPC 00 define Patrimônio Líquido como “o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos”. Esse conceito nos remete basicamente à equação básica da contabilidade, na qual: A = P + PL. Se invertermos a equação, teremos: PL = A – P, o que nos remete justamente ao termo “residual” dado pelo CPC, no qual o pagamento de todas as obrigações da entidade para com terceiros irá evidenciar o valor que deverá ser dividido entre os sócios ou proprietários, em caso de descontinuidade da entidade. No contexto da equação básica, o PL é evidenciado pela diferença entre ativos e passivos, o que é confirmado por Iudicibus (2010, p. 166), ao afirmar 15 que: “o Patrimônio Líquido pode ser simplesmente definido como a diferença, em determinado momento, entre o valor do ativo e do passivo”. De modo análogo, Lopes e Martins (2007, p. 145) pontuam que o Patrimônio Líquido “caracteriza - se pelo resultado obtido após a dedução dos passivos dos ativos de uma organização”. No entanto, embora o CPC conceitue o Patrimônio Líquido como interesse residual, importante ressaltar que esse interesse evidencia nada mais, nada menos, que os direitos dos proprietários. Conforme exposto por Hendriksen e Van Breda (2007, p. 466): “os direitos de proprietários são simplesmente a diferença entre os ativos e os passivos da empresa.São às vezes chamados de Ativos Líquidos”. Dessa forma, o PL deixa de ser simplesmente o resultado de uma equação matemática e passa a demonstrar direitos, os quais, de acordo com Iudicibus (2010), contém elementos que caracterizam: Interesses residuais em casos de liquidação: se a empresa entrar em processo de descontinuidade, os sócios ou acionistas somente terão direito ao que sobrar do patrimônio após a empresa pagar todos os seus passivos. Interesses em particular em distribuições de dividendos: se o acionista tiver direito à distribuição de dividendos, ele terá interesse em acompanhar a evolução do PL, visando a sua participação na distribuição dos dividendos, conforme estabelecido no estatuto. Interesses sobre direitos de participação no patrimônio líquido de uma entidade em continuidade: aqui, o interesse dos acionistas está relacionado à venda ou aumento de sua participação na entidade, conforme estiver estabelecido no estatuto. 3.1 Composição do Patrimônio Líquido O Patrimônio Líquido é a primeira conta do Balanço Patrimonial, em que são reconhecidos os valores disponibilizados pelos sócios na constituição da empresa, na forma de capital social. No entanto, após a abertura da entidade, esse grupo de contas passa a ser composto por vários outros itens, os quais são divididos conforme determinado pela Lei n. 11.638/2007, da seguinte maneira: a. Capital Social: representa o valor investido pelos sócios na abertura da empresa. Na integralização do capital social, os valores investidos por http://www.normaslegais.com.br/legislacao/lei11638_2007.htm 16 cada sócio na entidade são integralizados em moeda ou em itens do ativo, como máquinas, equipamentos, móveis, veículos, instalações, etc. b. Reservas de Capital: essas reservas são constituídas por valores recebidos pela empresa, mas que não se referem à entrega de bens ou serviços pela mesma. A Lei n. 6.404/1976 e alterações feitas pela Lei n. 11.638/2007 determinam quais contas devem compor as reservas de capital. c. Ajustes de avaliação patrimonial: conta destinada para contrapartida em alterações de contas de itens patrimoniais. Muitas contas patrimoniais (ativos e passivos) são reavaliados à valor justo no decorrer das atividades da entidade. Quando existe variação nessas contas, ela é registrada no Patrimônio Líquido em ajustes de avaliação patrimonial. d. Reservas de lucros: visando atender a algumas finalidades, seja por força da lei ou mesmo por propostas administrativas, a companhia poderá constituir reservas com parte dos lucros do período. e. Ações em tesouraria: essa é uma conta redutora do Patrimônio Líquido destinada para o registro de ações da própria companhia adquiridas por ela. f. Prejuízos acumulados: conta redutora do Patrimônio Líquido que demonstra resultados negativos de exercícios passados (prejuízos acumulados). A Figura 7 demonstra graficamente a composição do PL: Figura 7 – Composição do Patrimônio Líquido 17 TEMA 4 – RECEITAS E GANHOS: ASPECTOS CONCEITUAIS Conforme estudado anteriormente, o resultado de um período (lucro ou prejuízo) é apurado quando são confrontadas as receitas e as despesas geradas no mesmo período. Mas afinal, o que podemos considerar como receitas? Importante salientar que existe uma terminologia denominada de “ganhos”, que se parece muito com “receitas”, mas não querem dizer a mesma coisa, pois as características que as definem são diferentes. 4.1 Definição de receitas No conceito dado pelo CPC 00, “receitas são aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuição de passivos, que resultam em aumentos do Patrimônio Líquido, e que não estejam relacionados com a contribuição dos detentores dos instrumentos patrimoniais”. A definição de receitas é bastante ampla, abrangendo vários aspectos, tratados a seguir: Aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil: quando a empresa vende seus bens ou serviços, seja à vista ou a prazo, automaticamente acontece um aumento nos benefícios econômicos dessa entidade, pois caso a venda seja à vista, haverá um aumento de valores no caixa, caso seja a prazo, haverá u aumento de valores na conta clientes. Entrada de recursos ou do aumento de ativos, ou diminuição de passivos: é a mesma ideia do item anterior, pois ao vender seus bens ou serviços, a empresa incorre em entrada de recursos (na venda à vista, por gerar dinheiro no caixa) ou simplesmente em aumento do ativo (na venda a prazo, pois embora não entre dinheiro no caixa, há um aumento do ativo, pois a venda é registrada na conta clientes). Outro ponto a ser destacado é a diminuição de passivos. Lembra do tema em que estudamos as formas de liquidação de passivos? Pois bem, considerando por exemplo, que a entidade possui um empréstimo a pagar e, para quitá-lo ela ofereça um serviço para a outra parte, essa operação resultará numa receita para essa entidade. Aumentos do Patrimônio Líquido: as vendas provenientes das operações da entidade, sejam de bens ou serviços, resultam em valores que, confrontados com as despesas, irão evidenciar o resultado do período. Caso 18 esse resultado seja positivo, a empresa terá um lucro, e esse valor será lançado no Patrimônio Líquido da entidade. Valores que não estejam relacionados com a contribuição dos detentores dos instrumentos patrimoniais: os valores que compõe as receitas não podem estar relacionados com o capital integralizado pelos sócios na empresa. Dessa forma, o capital social integralizado não é considerado como receita do período. Com base nessas informações, fica clara a definição de receitas. De acordo com o CPC 00, “a receita surge no curso das atividades usuais da entidade e é designada por uma variedade de nomes, como: vendas, honorários, juros, dividendos, royalties, aluguéis”, sendo esses nomes considerados conforme a atividade da empresa”. Importante ressaltar que elas surgem justamente dos bens ou serviços vendidos pela entidade, ou seja, dizem respeito à ingressos de bens ou direitos provenientes da atividade fim da empresa, sendo essa a diferença entre receitas e ganhos. 4.2 Definição de ganhos De acordo com Iudicibus (2010, p. 165): “um ganho representa um resultado líquido favorável resultante de transações ou eventos não relacionados às operações normais do empreendimento”. Nesse contexto, percebe-se que o ganho, embora seja muito parecido com a receita em sua definição, não tem relação com as operações normais do empreendimento, ou seja, não está diretamente relacionado com o objeto social da entidade. Para ficar claro o entendimento sobre a diferença entre receitas e ganhos, imagine a seguinte situação: uma determinada empresa do ramo industrial fabrica e vende seus produtos. Ao fazê-lo, ela estará auferindo receitas, pois a fabricação de seus produtos é a sua atividade fim, ou seja, o seu objeto social. Nesse caso, o ingresso de bens ou direitos estará diretamente relacionado com as suas atividades operacionais, o que caracteriza a receita. Imaginemos agora que essa indústria tenha adquirido um terreno num determinado local que não é muito povoado, pagando o valor de R$ 100.000,00. Com o passar do tempo, a localidade onde se encontra o terreno da empresa começa a ser povoada, e com isso, o valor passa a ser de R$ 250.000,00, demonstrando uma valorização. 19 Essa diferença entre o valor pago e o valor atual demonstra um ganho, pois houve um aumento no patrimônio da empresa, mas que não foi proveniente da sua atividade fim, mas sim, de ajuste de avaliação patrimonial. Conforme o CPC 00, “a definição de receita abrange tanto receitas propriamente ditas quanto ganhos”, ou seja, ambos dizem respeito a ingressos de bens ou direitos que levam à um aumento no patrimônioda entidade, mas, “ganhos representam outros itens que se enquadram na definição de receita e podem ou não surgir no curso das atividades usuais da entidade, representando aumentos nos benefícios econômicos e, como tais, não diferem, em natureza, das receitas”. Embora ambos tenham o mesmo efeito sobre o patrimônio, é importante manter separado os valores de um e de outro, pois isso possibilita ao usuário da demonstração contábil a identificação do quanto do resultado do período é proveniente da atividade fim da empresa, uma vez que o ganho é circunstancial e não pode ser considerado sempre para a continuidade da entidade. Essa informação é de suma importância para a tomada de decisão na entidade. TEMA 5 – DESPESAS E PERDAS: ASPECTOS CONCEITUAIS Assim como o patrimônio pode ser aumentado por meio de receitas ou ganhos, o mesmo também pode ser diminuído por meio de despesas e perdas, as quais serão conceituadas neste tema. 5.1 Definição de despesas O CPC 00 define despesas como “decréscimos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma da saída de recursos ou da redução de ativos ou assunção de passivos, que resultam em decréscimo do Patrimônio Líquido, e que não estejam relacionados com distribuições aos detentores dos instrumentos patrimoniais”. A definição de despesa está intimamente relacionada com o pagamento de contas associadas às atividades operacionais da entidade. As despesas são gastos relativos tanto à estrutura da empresa, quanto aos valores destinados à busca de obtenção de receitas. Conforme o CPC 00, “as despesas que surgem no curso das atividades usuais da entidade incluem, por exemplo, o custo das vendas, salários e 20 depreciação”. Ainda podemos citar como despesas o aluguel pago pela entidade, gastos com combustíveis, gastos com energia elétrica, água, telefone, etc. A liquidação desses itens, ao serem lançados no demonstrativo de resultados, configuram-se em despesas, as quais serão confrontadas com as receitas para a evidenciação do resultado. O CPC 00 pontua que as despesas “geralmente tomam a forma de desembolso ou redução de ativos como caixa e equivalentes de caixa, estoques e ativo imobilizado”. Por exemplo, quando a empresa paga o aluguel de suas instalações está retirando dinheiro do caixa ou do banco, o que acarreta na redução de seus ativos. Importante ressaltar que as despesas são gastos voluntários, e sua incorrência é conhecida e acontece por vontade dos gestores da entidade, fato que diferencia as despesas das perdas. 5.2 Definição de perdas De acordo com Fasb citado por Kam (1990, p. 282), “perdas decorrem de transações incidentais ou periféricas e de outros eventos que podem estar além do controle da firma”. Essa definição está relacionada com acontecimentos imprevistos e fora do controle da entidade, caracterizando a perda como um gasto anormal e involuntário, ou seja, não acontece com a intenção de gerar receitas e nem se relaciona com os gastos operacionais da entidade. Diferentemente da despesa, a perda está relacionada com os gastos relativos a ações não intencionais ou involuntárias por parte da entidade, considerando gastos que não visam trazer benefícios econômicos. Imagine, por exemplo, um incêndio no qual seja consumida uma boa parte do estoque de mercadorias da entidade. Esse gasto está fora do controle da firma, ou seja, é algo anormal e involuntário que ocorreu sem o consentimento dos gestores. Conforme o CPC 00, “a definição de despesas abrange tanto as perdas quanto as despesas propriamente ditas que surgem no curso das atividades usuais da entidade”. Esse contexto é dado pelo fato de que, tanto as despesas quanto as perdas, resultam em decréscimos nos benefícios econômicos durante o período contábil. No entanto, o CPC ainda pontua que “ as perdas representam outros itens que se enquadram na definição de despesas e podem ou não surgir no curso 21 das atividades usuais da entidade, representando decréscimos nos benefícios econômicos e, como tais, não diferem, em natureza, das demais despesas”. Nesse contexto, pode-se perceber que, embora a definição do CPC seja a mesma para ambos os termos, o que demonstra a diferença entre eles é a questão da forma de ocorrência, ou seja, as despesas ocorrem de forma normal e voluntária, enquanto as perdas são gastos anormais e involuntários. TROCANDO IDEIAS Com base nesta aula, você consegue explicar a relação da definição de Patrimônio Líquido com a equação básica da contabilidade? Entre no fórum e exponha suas ideias, debata o assunto com seus colegas. NA PRÁTICA Responda às questões a seguir. (As respostas encontram-se ao final deste documento). 1. Sobre a definição de ativo, assinale a alternativa correta: a. Resulta em decréscimo do Patrimônio Líquido. b. Aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil. c. Interesse residual. d. Obrigação presente. e. Recurso Controlado pela Entidade. 2. Sobre a definição de passivo, assinale a alternativa correta: a. Resulta em decréscimo do Patrimônio Líquido. b. Aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil. c. Interesse residual. d. Obrigação presente. e. Recurso Controlado pela Entidade. 3. Assinale a alternativa que demonstra a equação que mostra como se chega no conceito dado pelo CPC sobre a definição de Patrimônio Líquido: a. A = P + PL b. A = P - PL c. PL = A - P d. PL = A + P 22 e. P = A – PL 4. Assinale a alternativa que apresenta a diferença entre receitas e ganhos: a. Receitas resultam em aumento do patrimônio e ganhos em diminuição do patrimônio. b. Receitas provém das atividades fim da empresa e ganhos não tem relação com as atividades normais do empreendimento. c. Ganhos provém das atividades fim da empresa e receitas não tem relação com as atividades normais do empreendimento. d. Ganhos são contas de resultado e receitas são contas patrimoniais. e. Receitas são contas de resultado e ganhos são contas patrimoniais. 5. Assinale a alternativa que corresponde à uma perda: a. Produto vencido no estoque. b. Pagamento de salários. c. Venda de produtos. d. Variação patrimonial de bens. e. Pagamento de aluguel. FINALIZANDO Nessa aula, vimos um pouco mais sobre os itens patrimoniais e de resultado. Ativos: aspectos conceituais. Passivos: aspectos conceituais. Patrimônio Líquido: aspectos conceituais. Receitas e Despesas: aspectos conceituais. Perdas e Ganhos: aspectos conceituais. 23 REFERÊNCIAS CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 00 R1 – Apresentação das Demonstrações Contábeis, 2011. _____. CPC 26 R1 – Estrutura Conceitual para a Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro, 2012. HENDRIKSEN, E; BREDA, M.V. Teoria da contabilidade. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2007. IUDICIBUS, S. Teoria da contabilidade. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. KAM, V. Accounting Theory. 2. ed. Canadá: John Wiley & Sons, Inc., 1990. LOPES, A; MARTINS, E. Teoria da contabilidade: uma nova abordagem. São Paulo: Atlas, 2005. NYIAMA, J; TIBÚRSIO SILVA, C. Teoria da contabilidade. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2013. 24 RESPOSTAS 1. Alternativa e. 2. Alternativa d. 3. Alternativa c. 4. Alternativa b. 5. Alternativa a.
Compartilhar