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ANÁLISE DE PROJETOS E ORÇAMENTO EMPRESARIAL AULA 4 Prof. Clecio Steinthaler 2 CONVERSA INICIAL Você sabia que o orçamento empresarial é um processo de extrema importância para as organizações? E que é a partir dele que os projetos são viabilizados e decisões que influenciarão o futuro das empresas são tomadas? Incorporar a filosofia do orçamento na gestão de uma empresa não é uma tarefa fácil, mas esse processo demonstra planejamento, buscando reduzir riscos e incertezas, projetando o futuro. O orçamento é um marco regulatório, que, de forma prática e realista, dita o que pode e o que não pode ser feito, sendo uma bússola orientadora no mundo dos negócios. Então, vamos conhecer esse imprescindível instrumento de trabalho para as empresas? CONTEXTUALIZANDO Nesta aula, vamos estudar os aspectos econômicos de um projeto, como a relação da análise do mercado, a capacidade produtiva, a localização espacial e a escala de produção, bem como analisar os ciclos de um projeto, os quais compreendem desde sua fase de elaboração até sua conclusão final, sendo estruturados em: pré-projeto, planejamento, execução, monitoramento, encerramento. O aspecto financeiro, que envolve a questão da composição do capital a ser investido, para analisar sua viabilidade, também será abordado, além dos principais indicadores utilizados no processo de análise de projetos, como payback, taxa interna de retorno, e valor presente líquido. Por fim, vamos estudar as ferramentas para avaliação de projetos, como o fluxo de caixa descontado, o custo de capital e os principais indicadores. TEMA 1 – ASPECTOS ECONÔMICOS DE UM PROJETO Os aspectos econômicos tratam da relação da análise do mercado, a capacidade produtiva e a localização espacial, conforme relacionado na Figura 1 a seguir: 3 Figura 1 – Aspectos econômicos de um projeto Atenção: são fatores interdependentes a localização espacial e a escala de produção. 1.1 Localização espacial A localização espacial de um projeto é uma decisão estratégica da empresa, pois é um de seus componentes da capacidade competitiva. A melhor localização de uma empresa é a que garante a diferença entre os benefícios maiores e os custos menores. Vamos contextualizar essa ideia? Imagine um centro de produção instalado em um local que fique distante da área de armazenamento e, para compensar isso, a organização decide criar uma área de distribuição, que também fica distante do mercado consumidor. Isoladamente, as decisões podem ter sido consideradas corretas, quer seja por custo de mão de obra, que seja por vias de acesso, etc. No conjunto operacional, porém, que custo isso representa? Figura 2 – Conjunto operacional Fabricação Vendas Distribuição Depósito MICROSOFT CORPORATION Finanças ? Aspectos econômicos Localização espacial Escala de produção Análise de mercado 4 A esse conjunto de fatores Melnick (1981) chama de “forças locacionais”. Seu resultado pode levar a uma taxa ótima de lucro, com um custo mínimo, ou conduzir a um processo inverso, cujos custos inviabilizam todo o projeto. Ainda segundo esse autor, é necessário que sejam considerados os seguintes componentes: custos totais de transporte (desde a matéria-prima até o mercado consumidor); custos relativos, como o da mão de obra; custos ambientais, como odores, ruídos, destinação de resíduos, etc.; custos complementares, como terreno, tributação, etc. Atenção: O custo total da matéria-prima é um dos componentes com grande peso na estrutura econômica de um projeto, interferindo de forma expressiva na localização da empresa, como aquelas que utilizam grandes quantidades de matéria-prima para produzirem pequenas quantidades de produto. Ex.: as indústrias açucareiras e siderúrgicas. utilizam matéria-prima perecíveis, que exigem distâncias menores de transporte; utilizam matérias-primas localizadas, como minérios. necessitam de mão de obra intensiva, portanto, sua localização será onde esse fator for mais barato. 1.2 Escala de produção A escala de produção deve ser considerada sempre como o resultado final da equação entre a oferta e a demanda, pois é ela que determina o preço de venda e a disponibilidade do produto. A seguir, serão apresentados dois conceitos fundamentais, amplamente utilizados em economia. A demanda estabelece que a procura de um produto tende a ser inversamente proporcional a seu preço, ou seja, quanto menor o preço maior a demanda; e quanto maior o preço menor a demanda. Essa lei sofre algumas influências, como a renda do consumidor, a possibilidade de produtos similares com preços menores, etc. Vamos exemplificar? 5 Gráfico 1 – Demanda Observe que a curva da demanda representa todas as posições possíveis entre a quantidade demanda, representada por “Q”, e os níveis de preços, representados por “P”. Sendo a curva da demanda um gráfico inversamente proporcional entre preço e quantidade, podemos confirmar que a diminuição de preços (de P1 para P2) provoca um aumento na quantidade demandada (de Q1 para Q2). Portanto, o preço é um condicionante econômico importante, mas sofre forte influência da renda. Sabemos que o poder de compra influencia significativamente na demanda, pois quanto mais dinheiro disponível maior a possibilidade de se aumentar a demanda e, consequentemente, maior a receita da empresa. Atenção: O contrário também é verdadeiro – quanto menos dinheiro menos compras e menos receita para as empresas. Gráfico 2 – Receita Podemos, ainda, comentar sobre a lei da oferta, que, no mesmo sentido, esclarece, de forma simplificada, que quanto maior for o nível de preços mais as empresas estarão dispostas a ofertar seus produtos. Essa demonstração básica sobre a lei da oferta e da demanda objetivou mostrar a importância de uma análise prévia do mercado, para um 6 dimensionamento da produção e, consequentemente, a dimensão ideal do tamanho do projeto. Determinado o mercado, podemos dimensionar a escala do projeto, tendo por base a capacidade estimada e a capacidade nominal de produção. Capacidade efetiva: representada pela utilização de toda a capacidade produtiva, descontando períodos parados por manutenção, falhas etc. Capacidade nominal: representada pela utilização de toda a capacidade produtiva, sem descontar períodos parados por manutenção, falhas etc. “É a empresa operando a 100 o tempo todo”. Com esses dois conceitos, pode-se calcular o índice de utilização, que representa a oferta real da empresa, e efetivamente a escala limitadora do projeto. Nu = Ce Cn Onde: Nu = índice de utilização Ce = capacidade efetiva Cn = capacidade nominal Vamos contextualizar? Imagine que uma empresa tenha uma capacidade instalada nominal que diz que ela pode produzir 1 500 peças de um determinado produto por mês. Ao final do mês, porém, descobre que produziu apenas 1 280 peças. Ao aplicar a fórmula (1 280 / 1 500), ela descobre que sua capacidade efetiva é 0,85333, ou seja, 85,33% da capacidade instalada. Portanto, calculou seu limite produtivo para determinar o tamanho do projeto. Para ultrapassar esse limite, deverão ser dispendidos novos investimentos, que aumentarão o custo previsto para o projeto. Portanto, uma economia de escala, o aumento dos custos significa diminuição dos lucros; por isso, o índice de utilização calculado representa o ponto de escala ideal para a empresa. 7 TEMA 2 – ASPECTOS TÉCNICOS E FINANCEIROS DE UM PROJETO Normalmente, os aspectos técnicos de um projeto estão relacionados com a capacidade humana para sua elaboração. Essa característica refere-se aos requisitos técnicos necessários para atingir o cronograma projetado, e o maisimportante ciclo é o de vida de um projeto. Esse ciclo compreende desde a fase de elaboração do projeto até sua conclusão final. Esse processo é chamado de ciclo de vida de um projeto e compreende as seguintes fases: inicial ou de definição do projeto; planejamento; execução; monitoramento; encerramento. Todas essas fases exigem níveis diferentes de esforços. Na fase de execução, está concentrado o nível máximo de empenho. Gráfico 3 – Nível de esforço em relação ao tempo Fonte: Adaptado de Macedo; Corbari (2014). Observe que o nível de esforço inicia-se de forma muito branda no início do projeto, até atingir seu ponto máximo, onde são dispendidos os maiores esforços de insumos, quer sejam técnicos, quer sejam financeiros. Após atingir seu ponto máximo, tende a ter uma queda rápida no uso desses insumos, até seu encerramento. Essas fases fazem parte do ciclo de vida de um projeto. 8 Gráfico 4 – Ciclo de vida de um projeto E s fo rç o Tempo de duração do projeto P ré -p ro je to Fonte: Adaptado de Joel macedo, analise de projeto P la n e ja m e n to E x e c u ç ã o E n c e rr a m e n to Monitoramento Fonte: Adaptado de Macedo; Corbari (2014). A seguir, são descritas cada uma dessas fases. Pré-projeto: fase embrionária do projeto, quando são identificados os objetivos do projeto e analisadas as estratégias a serem utilizadas. Planejamento: nessa etapa, ocorre o detalhamento do projeto – é estabelecido o cronograma, feita a alocação de recursos, analisados os riscos e atribuídas as atividades entre os componentes do projeto. Execução: trata-se da efetivação do planejamento, ou seja, representa o planejamento na prática. Nessa fase, ocorre uma subfase muito importante: a de monitoramento. Monitoramento: objetiva acompanhar o que está sendo desenvolvido no projeto. Trata-se de uma fase que tem a qualidade da prevenção de riscos e das ações corretivas em casos de anormalidades. É a responsável pelo sucesso ou fracasso do projeto. Encerramento: podemos chamar essa fase de “recicladora de processos”, pois é nela que ocorre o retrospecto de tudo o que foi feito. Analisam-se as falhas ocorridas e como foram solucionadas, permitindo criar um banco de dados com informações importantes para o gerenciamento do próximo projeto. Podemos chamar essa fase de “O que? Por quê? De que forma?”. Vamos contextualizar esse tópico? O que ocorreu? Por que ocorreu? De que forma ocorreu? Solução 9 O que ocorreu? Qual foi o problema ou o imprevisto ocorrido? Por que ocorreu? Que fatores foram negligenciados, permitindo que o problema ocorresse? De que forma ocorreu? Como o problema ocorreu sem ter sido detectado com antecedência? Qual é a melhor solução encontrada e aplicada para o caso? Agora, você já conhece o ciclo de vida de um projeto. No entanto, cada um sempre estará envolvido com um produto, então, como esses ciclos se complementam? Figura 3 – Ciclos de um projeto Exemplificando, podemos dizer que o ciclo de vida de um produto é dividido em cinco estágios. Gráfico 5 – Ciclo de vida de um produto Fonte: Adaptado de Woiler, Mathias, 2008 p. 59. As características que definem cada estágio estão descritas a seguir. Introdução: caracterizada por ter vendas em níveis baixos, e o crescimento ainda é lento. Nessa fase, os lucros são baixos, pois a empresa ainda está com altos gastos em marketing, distribuição e tecnologia. Ciclo de vida do projeto •Compreende o período da sua elaboração até a sua conclusão Ciclo de vida do produto Refere-se aos aspectos econômicos do produto •Compreende se desenvolvimento, a sua fabricação, distribuição e comercialização Descarte e reciclagem •Atende aos quesitos de responsabilidade social e ambiental 10 Crescimento: caracterizada pela “aceitação”’ do produto pelo mercado, quando as vendas aumentam e os mercados se expandem. Nessa fase, a empresa recupera o investimento e os lucros passam a ter aumentos substanciais. Maturidade: começa a ocorrer certo declínio das vendas em menor escala, e os lucros diminuem. Para reverter essa fase, normalmente as empresas fazem grandes campanhas de marketing, apregoando novas qualidades e utilidades para o mesmo produto. Saturação: ocorre forte desaceleração nas vendas, levando produtores que têm altos custos a sair do mercado. Nessa fase, as empresas costumam relançar os mesmos produtos, mas agregando características diferenciadas de apresentação, tecnologia etc. Declínio: as empresas costumam retirar o produto do mercado, pois os lucros praticamente deixam de existir, e as vendas atingem níveis mínimos. Segundo Wernke (2004, p. 75), “o ciclo de vida real não termina quando o produto é fabricado, e sim quando o produto ou equipamento perde sua utilidade ou se desgasta totalmente para a finalidade que o consumidor o adquiriu”. Vamos conversar sobre a questão financeira? Quanto ao aspecto financeiro, deve-se analisar a questão da composição do capital a ser investido, pois todo capital investido sempre terá um custo financeiro, mesmo que seja o capital próprio da empresa, que também deve ser remunerado. A composição do capital leva em conta o cálculo do valor econômico agregado (VEA), o qual representa a média ponderada do custo dos capitais. Vamos exemplificar? Imagine uma empresa captando recursos para um investimento de R$ 800.000,00, que trará retornos anuais de R$ 120.000,00. As opções de captação foram: capital próprio de R$ 350.000,00 a ser remunerado a 12% aa e empréstimo bancário de R$ 450.000,00 a um custo de 17% aa. Economicamente, há viabilidade nesse projeto? Vamos calcular! Taxa de retorno anual do investimento: retorno anual de R$ 120.000,00 / total de investimento R$ 800.000,00 = 0,15. Custo médio ponderado dos capitais a serem investidos. R$ 350.000,00 / R$ 800.000,00 = 0,4375. R$ 450.000,00 / R$ 800.000,00 = 0,5625. 11 Temos então que: 43,75% do capital (capital próprio) serão remunerados a 12% aa; 56,25% do capital (terceiros) serão remunerados a 17% aa; (12,00 × 43,75%) + (17,00 ×56,25%) = 14,81% aa de custo médio de capitais Resultado: o investimento tem uma taxa de retorno de 15% com um custo de capital de 14,81%, portanto, economicamente é viável. Outras técnicas podem ser utilizadas, como as análises do grau de endividamento, a evolução do capital e do patrimônio etc. Elas se referem à análise de projeção do projeto e, normalmente, ocorrem nas fases em que o já está implantado. TEMA 3 – FERRAMENTAS PARA AVALIAÇÃO DE PROJETOS 3.1 Fluxo de caixa e payback Para analisar a viabilidade de um projeto ou investimento, como padrão, utiliza-se o fluxo de caixa. Os métodos mais utilizados, com base no fluxo de caixa, são o payback simples e descontado, a taxa interna de retorno e o valor presente líquido. Vamos iniciar com o diagrama do fluxo de caixa, no qual as setas voltadas para cima representam a entrada de recursos, e as voltadas para baixo, as saídas dos recursos. Observe, a seguir, o diagrama de um fluxo de caixa. Figura 4 – Diagrama do fluxo de caixa Supondo um investimento a ser feito por uma empresa em “n” períodos, a uma taxa nominal de 2% a.m. considerada para o projeto. Inicialmente, a empresa teve um desembolso de caixa, nos momentos 0, 3 e 5, mas, nos momentos 1, 2, 4 e 6, teve entrada de recursos, portanto, o fluxo de caixa representa a taxa efetiva entre os investimentos feitos e os retornos obtidos em um determinado período. 12 Esse cálculo serve para determinar se a rentabilidade desejada para o projeto, no caso 2% a.m., foi atingida ou não. Esses métodos quantitativos levam em conta o valor do dinheiro no tempo, sendo denominado de fluxo de caixa descontado. Agora que já sabemoso que é um diagrama de fluxo de caixa descontado, vamos conversar sobre o payback, que consiste na determinação do tempo necessário para que o dispêndio de capital seja recuperado por meio dos fluxos de caixa promovidos pelo investimento. Atenção: o payback é interpretado como um importante indicador do nível de risco de um projeto. Seu cálculo pode ser feito de duas formas: 1. Payback médio: não considera o valor do dinheiro no tempo; 2. Payback efetivo: considera o valor do dinheiro no tempo. Exemplificando: Uma empresa fará um investimento de R$ 300.000,00 e terá como retorno os valores estimados de: 1º ano – R$ 90.0000,00; 2º ano – R$ 50.000,00; 3º ano – R$ 60.000,00; 4º ano – R$ 50.000,00; 5º ano – R$ 250.000,00. Vamos estimar em quanto tempo o investimento será recuperado pelo: payback médio Figura 5 – Exemplo de payback 13 Retornos estimados Cálculo: retornos estimados = retorno médio total dos períodos Valor do investimento = payback médio (total de períodos Retorno médio em que o investimento será recuperado) Na prática: (90.000,00 + 50.000,00 + 60.000,00 + 50.000,00 + 250.000,00) / 5 anos = 100.000,00, o que representa o retorno médio mensal. 300.000,00 / 100.000,00 = 3 anos é a estimativa de retorno do investimento. Payback efetivo Considerando o mesmo exemplo, temos: Figura 6 – Retorno do investimento Trata-se do cálculo do período de retorno para o investimento feito, mas considerando os efetivos retornos obtidos. Portanto, temos: 1º ano – R$ 90.000,00; 2º ano – R$ 50.000,00; 3º ano – R$ 60.000,00; 4º ano – R$ 50.000,00; Total – R$ 250.000,00. Ainda faltam R$ 50.000,00 para completar o investimento feito, porém há uma última entrada de R$ 250.000,00. Portanto, quanto R$ 50.000,00 (que falta) representa de R$ 250.000,00 (da última entrada)? Calculando: 50.000,00 / 250.000,00 = 0,20 ou 20%. Resposta: Pelo payback efetivo, o retorno do investimento ocorrerá em 4,2 anos, ou seja, em 4 anos e mais 20% do período do 5º ano. Atenção: trata-se de um cálculo que representa, de maneira realista, o período de retorno, portanto, é o mais utilizado. 14 Fluxo de caixa descontado Trata-se de um cálculo que traz ao valor presente (VP), considerando uma taxa financeira determinada, todos os retornos estimados. Vamos imaginar o mesmo exercício anterior, mas supondo que ele tem um custo financeiro (que pode ser a própria rentabilidade desejada) de 25% embutida em cada período. Nesse caso, devemos trazer o retorno estimado ao VP, considerando esse custo financeiro. Vamos ver como é o cálculo? Figura 7 – Fluxo de caixa descontado A fórmula que trata é 𝑉𝑃 = 𝑉𝐹 (1+𝐼)𝑁 . Onde: VP = valor presente VF = valor futuro I = taxa de juros N = período 15 Aplicando a fórmula, temos: 90.000 1,25 + 50.000 1,252 + 60.000 1,253 + 50.000 1,254 + 250.000 1,255 72.000 + 32.000 + 30.720 + 20.480 + 81.920 = 237.120 300.000 237.120 = 1,27 período o Portanto, se todo o retorno fosse recebido de uma parcela única, descontando o custo financeiro, teríamos recebido uma parcela de R$ 237.120,00. Logo, o retorno do investimento ocorreria em 1,27 período. TEMA 4 – FERRAMENTAS PARA AVALIAÇÃO DE PROJETOS 4.1 Valor presente líquido Agora que você já estudou o que é fluxo de caixa descontado, vamos estudar o valor presente líquido (NPV), que expressa o resultado econômico (riqueza) atualizado do projeto de investimento. Portanto, um NPV positivo demonstra uma rentabilidade superior à mínima aceitável, enquanto um NPV negativo indica um retorno inferior à taxa mínima requerida para o investimento Vamos buscar o mesmo exemplo anterior, em que calculamos o fluxo de caixa descontado, mas, agora, considerando que os 25% do custo financeiro referem-se à taxa de retorno desejada para o investimento. O cálculo do NPV segue praticamente a fórmula do fluxo de caixa descontado, apenas no final diminui-se o total investido. 16 NPV = ( FV (1 + I)N ) − Investimento Temos um valor negativo, portanto, nessa taxa de rentabilidade, o projeto é inviável. Ao estipular uma taxa de rentabilidade de 25% sobre o investimento inicial, e trazendo ao valor presente, o resultado é menor que o capital investido no projeto, portanto, não será alcançado o objetivo de rentabilidade desejada. Agora, vamos supor esse mesmo investimento revendo a taxa de rentabilidade desejada para 15% em cada período: Pronto, agora o projeto é viável, pois trará o retorno desejado. 4.2 Índice de lucratividade É determinado por meio da divisão do valor presente dos benefícios líquidos de caixa pelo valor presente dos dispêndios (desembolso de capital). Indica, em termos de valor presente, quanto o projeto oferece de retorno para cada unidade monetária investida. Sua fórmula consiste em: caixa de sdesembolso dos VP caixa de líquidos benefícios dos VP IL Voltando ao nosso exemplo: o valor presente dos rendimentos é o montante de R$ 237.120,00, enquanto o valor presente do investimento é R$ 300.000,00 (um único desembolso no início do projeto). Calculando: Vamos calcular o índice de liquidez para o investimento, com o retorno estimado de 25% por período. IL = 237.120,00 / 300.000,00 = 0,7904 Isso quer dizer que, para cada R$ 1,00 investido, o retorno será de R$ 0,7904 centavos. 90.000,00 + 50.000,00 + 60.000,00 + 50.000,00 + 250.000,00 300.000,00 = 1,25 72.000,00 + 32.000,00 + 30.720,00 + 20.480,00 + 81.920,00 300.000,00 = 62.880,00- 1,25 2 1,25 3 1,25 4 1,25 5 90.000,00 + 50.000,00 + 60.000,00 + 50.000,00 + 250.000,00 300.000,00 = 1,15 78.260,87 + 37.807,18 + 39.450,97 + 28.587,66 + 124.294,18 300.000,00 = 8.400,87 1,15 2 1,15 3 1,15 4 1,15 5 17 Agora, vamos repetir o cálculo, com o retorno reajustado para 15% por período. IL = 308.400,87 / 300.000,00 = 1,028 Isso representa que, para cada R$ 1,00 investido, o retorno será de R$ 1.028. Portanto, para o investimento de R$ 300.000,00, tendo os rendimentos estimados, a opção viável para o projeto é uma taxa de rentabilidade de 15% por período. Alguns autores analisam de forma um pouco diferente, mas com o mesmo resultado final. O critério é estabelecer quanto o projeto oferece de retorno para cada unidade monetária investida. Então, temos que: IL > 1: o projeto deve ser aceito (NPV > 0) IL = 1: indica um NPV = 0 Inicialmente, o projeto é considerado atraente, pois remunera o investidor em sua taxa requerida de atratividade. IL < 1: o projeto apresenta um NPV negativo (destrói valor), devendo, portanto, ser rejeitado Por último, temos a Taxa Interna de Retorno (IRR ou TIR). Sua formulação é representada supondo-se a atualização de todos os movimentos de caixa para o momento zero, da seguinte forma: n t n t t t t t O K FC K I I 1 1 11 Onde: I0 = montante do investimento no momento zero (início do projeto); It = montantes previstos de investimento em cada momento subsequente; K = taxa de rentabilidade equivalente periódica (IRR); FC = fluxos previstos de entradas de caixa em cada período de vida do projeto (benefícios de caixa). Exemplo ilustrativo Investimento de R$ 300,00 com benefícios de caixa de R$ 100,00, R$ 150,00, R$ 180,00 e R$ 120,00, respectivamente, nos próximos quatro anos 432 1 120 1 180 1 150 1 100 300 KKKK 18 Com o auxílio de uma calculadora financeira, temos: K = 28,04% (na sequência, há um exemplo de uso na HP 12C). A rentabilidade totaldo projeto atinge 168,8%, ou seja: [(1,2804)4 – 1] × 100 = 168,8%. Figura 8 – Usando a HP 12C Se a taxa interna de retorno exceder (ou igualar) o percentual mínimo desejado pela empresa, considera-se o investimento como economicamente atraente, devendo ser aceito. O projeto pode até ser lucrativo, mas, se produzir uma taxa de retorno inferior à desejada pela empresa, será inviável. TEMA 5 – CUSTO DE CAPITAL E ANÁLISE DE INDICADORES Conforme Assaf Neto (2009, p. 392), o “custo de capital de uma empresa reflete, em essência, a remuneração mínima exigida pelos proprietários de suas fontes de recursos (credores e acionistas)”. Portanto, o custo de capital terá sempre estas fontes: capital interno (recursos próprios); capital externo (recursos de terceiros). A resultante desses dois custos financeiros representa o custo total de capital da empresa. 19 Figura 9 – Capital da empresa O custo de capital de terceiros é composto de todas os débitos ou obrigações que a empresa tem com seus credores. Equivale a totalidade das obrigações da empresa (passivo circulante e passivo não circulante). É importante destacar que somente uma parte do passivo (dívidas da empresa) é remunerada: aquela referente aos empréstimos e financiamentos. Há outros itens que participam do passivo e não tem remuneração, como salários a pagar, encargos sociais, impostos e tributos a pagar e outras contas. Itens, como fornecedores, têm sua remuneração embutida no custo das mercadorias. O passivo oneroso representa as fontes de financiamento da empresa que apresentam custo financeiro, independentemente de sua fonte. Sabemos que todo projeto que envolve quantias significativas tem mais de uma fonte de recursos e, consequentemente, custos financeiros diferentes. O custo de capital de terceiros é definido de acordo com esses passivos, seus montantes e seus custos. Portanto, representa o custo médio total dos valores investidos. É importante destacar que, ao calcular a taxa média dos custos de capital de terceiros, devemos considerar o eventual “ganho extra” que a empresa obtém, em virtude da dedutibilidade fiscal permitida. E o que isso representa? Que a taxa nominal calculada pelo custo do capital de terceiros pode tornar-se uma taxa menor na contabilidade da empresa. Custo de capital de terceiros: proveniente das fontes de recursos de terceiros (credores) que financiam a empresa. Custo de capital próprio: recursos de capital próprio (de acionistas ou sócios) aportados na empresa. Custo total de capital: é o custo médio ponderado de capital de ambos os custos. 20 Vamos ver um exemplo? Uma empresa consegue viabilizar um projeto de investimentos no valor total de R$ 1.000.000,00 por meio da contratação de três empréstimos. 1. Empréstimo bancário – R$ 500.000,00 a uma taxa de 15% a.a. 2. Empréstimo de terceiros – R$ 200.000,00 a uma taxa de 17% a.a. 3. Capital próprio a ser investido – R$ 300.000,00, que deve ser remunerado a 10% aa. Tabela 1 – Custo financeiro total Esse cálculo demonstra que o custo financeiro total da empresa para o total dos recursos obtidos é igual a 13,90% a.a. Portanto, o custo de uma dívida de R$ 1.000.000,00 a uma taxa de 13.90% a.a. é o mesmo que o custo para cada valor emprestado individualmente nas taxas em que foram contratados. E quanto à dedução extra dessa taxa? Se a empresa tem uma despesa financeira, tem redução em seu lucro e, consequentemente, paga menos impostos, e é assim que ela terá economia ou redução da taxa nominal. Vamos supor que a empresa, no exemplo acima, tenha uma carga tributária de Imposto de Renda de 30%. Que economia ela poderá obter? Total dos recursos obtidos: R$ 1.000.000,00. Custo financeiro (13,90%): R$ 139.000,00. Economia de Imposto de Renda (30%): R$ 41.700,00. Despesa financeira líquida: R$ 97.300,00. Relacionando as despesas financeiras com seu passivo gerador, temos: Custo de capital / Total empréstimos = 97.300,00 / 1.000,000,00 = 9,73%. Taxa nominal Taxa efetiva Investimento Valor dos Percentual Custo Custo total emprest. Empres/Invest. empres. Ponderado 500.000,00 50,00% 15,00% 7,50% 1.000.000,00 200.000,00 20,00% 17,00% 3,40% 300.000,00 30,00% 10,00% 3,00% Custo financeiro do total dos recursos obtidos 13,90% 21 De uma taxa nominal de 13,90% a.a., quando considerarmos a economia no Imposto a pagar, essa taxa será reduzida para 9,73% a.a. Esse cálculo é importante, pois pode viabilizar projetos que possuam uma margem de rentabilidade muito reduzida, mas um ganho de mercado expressivo. Quanto aos indicadores financeiros, eles se referem à análise por meio das informações financeiras da empresa. São desenvolvidos com base nas demonstrações contábeis – Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e Balanço Patrimonial (BP). A análise das demonstrações contábeis está organizada em dois grandes grupos, conforme exposto a seguir. Figura 10 – Análise das demonstrações contábeis A análise vertical possibilita o estudo da estrutura patrimonial da empresa nos aspectos qualitativos e quantitativos, pois destaca o percentual de um grupo patrimonial em relação ao total dos seus componentes. Exemplo: Descrição Saldo Análise Vertical Caixa 20.000,00R$ 1,21% Bancos 180.000,00R$ 10,88% Aplicações financ. 750.000,00R$ 45,32% Dpls a Receber 230.000,00R$ 13,90% Estoque 475.000,00R$ 28,70% Ativo Circulante 1.655.000,00R$ 100,00% Análise das demonstrações contábeis Análise horizontal e vertical Análise dos indicadores contábeis 22 Fórmula: AV = Saldo da conta contábil / Total do grupo AV = 20.000,00 / 1.655.000,00 = 0,0121 ou 1,21% A análise horizontal consiste na comparação entre valores da mesma conta ou grupo de conta. AH = ((Saldo da conta do período 2 / saldo da conta do período 1) ×100) – 100 AH = ((25.000,00 / 20.000,00) × 100) – 100 = 25,00% Quanto à análise dos indicadores contábeis, por tratar-se de assunto correlato à área da contabilidade gerencial, vamos, neste tópico, apenas comentar de forma resumida quais são. Figura 11 – Indicadores contábeis Indicadores de liquidez: mostram a situação financeira da empresa em relação à sua capacidade de honrar seus compromissos de curto ou longo prazos, ou seja, a capacidade de solvência da empresa. Indicadores de endividamento: revelam a situação financeira da empresa em relação ao seu passivo, ou seja, qual é a origem dos recursos investidos e sua proporção de capital próprio e de capital de terceiros. Indicadores de rentabilidade: mostram a situação econômica da empresa em relação ao retorno de capital investido. Medem os resultados econômicos da empresa. Exemplo: Analise Descrição Ano 1 Ano 2 Horizontal Caixa 20.000,00R$ 25.000,00R$ 25,00% Bancos 180.000,00R$ 210.000,00R$ 16,67% Aplicações financ. 750.000,00R$ 640.000,00R$ -14,67% Dpls a Receber 230.000,00R$ 195.000,00R$ -15,22% Estoque 475.000,00R$ 560.000,00R$ 17,89% Ativo Circulante 1.655.000,00R$ 1.630.000,00R$ -1,51% Indicadores ou quocientes Indicadores de liquidez Indicadores de endividamento Indicadores de rentabilidade Indicadores de atividade 23 Indicadores de atividade: revelam a situação da empresa com relação ao recebimento de suas vendas, aos seus pagamentos e em relação ao giro de seus estoques. TROCANDO IDEIAS Você sabia que o orçamento empresarial é conhecido como um instrumento de criação de cenários prospectivos? Com ele, tentamos prever o futuro. É comum ouvir dizer que o futuro das empresas é múltiplo, incerto e que muda a todo instante. Se isso é verdade, como minimizar o risco perante o futuro incerto e construir estratégias vencedoras? A utilização dos instrumentosorçamentários e sua análise quantitativa permite a construção de cenários prospectivos, sendo um extraordinário instrumento para o desenvolvimento da visão estratégica das empresas. Portanto, o orçamento permite construir cenários, que são visões consistentes daquilo que o futuro pode vir a ser. Que tal, a partir de hoje, construirmos cenários com base em processos orçamentários? NA PRÁTICA A discussão sobre novas formas organizacionais explora modelos de gestão flexíveis, caracterizados pela tomada de decisão mais frequente, rápida e complexa, pelo achatamento de níveis hierárquicos, pela contínua e ampla aquisição e compartilhamento de informações e pelo fomento à aprendizagem organizacional. Em paralelo, questiona elementos do paradigma modernista de organização, como a racionalidade instrumental, a produção em massa e o modelo fordista de organização do trabalho. Essas novas formas organizacionais são vistas pelos estudiosos de duas maneiras principais: 1. como representação de uma lógica de ação diferente da instrumental, que é típica do modelo modernista de organização; 2. como aperfeiçoamento da abordagem contingencial da administração. Os estudos realizados carecem, entretanto, de aprofundamento para que se possa considerar as chamadas organizações pós-modernas ou como expressão da ruptura qualitativa com a modernidade ou como versão 24 especificamente histórica de organizações modernas (Dellagnelo; Machado-da- Silva, 2000). Considerando as ideias acima, avalie as afirmações a seguir. I. A abordagem contingencial, própria do projeto modernista de organização, procura discutir as novas alternativas organizacionais em um ambiente considerado turbulento e competitivo, com a preocupação de desenhar o melhor arranjo organizacional para o alcance de maior efetividade. II. De acordo com a compreensão sistêmica e comportamental da administração, as novas formas organizacionais revelam a ruptura com a racionalidade instrumental, caracterizando o paradigma pós-modernista. III. Na visão pós-modernista, as novas formas organizacionais podem representar a operacionalização de modos de racionalidade diferentes daquele descrito por Weber como típico do modelo burocrático. É correto o que se afirma em: a. I, apenas. b. II, apenas. c. I e III, apenas. d. II e III, apenas. e. I, II e III. FINALIZANDO Nesta aula, estudamos a importância de conhecermos e analisarmos os aspectos econômicos de um projeto, sua capacidade produtiva, bem como a importância estratégica da localização espacial e da própria escala de produção como definidora do tamanho do projeto. Analisamos o ciclo de um projeto, que compreende desde sua fase de elaboração até sua conclusão, sendo estruturado em: pré-projeto, planejamento, execução, monitoramento e encerramento. Também abordamos o aspecto financeiro, que envolve a questão da composição do capital a ser investido, para analisar sua viabilidade. Passamos a analisar os principais indicadores utilizados no processo de análise de projetos, como o payback, a taxa interna de retorno, e o valor presente líquido. 25 Por fim, estudamos as ferramentas para avaliação de projetos, como o fluxo de caixa descontado, o custo de capital e os principais indicadores. RESPOSTAS Na prática C. 26 REFERÊNCIAS MACEDO, J. J; CORBARI, E. C. Análise de projeto e orçamento empresarial. Curitiba: Intersaberes, 2014. DELLAGNELO, E. L.; MACHADO-DA-SILVA, C. L. Novas formas organizacionais: onde se encontram as evidências empíricas de ruptura com o modelo burocrático de organizações? In: Organizações e Sociedade, v. 7, n. 19, p. 19, set./dez. 2000 (adaptado). CARVALHO JUNIOR, M. R. Gestão de projetos – da academia à sociedade, Curitiba: Intersaberes, 2013.
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