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Ascaridíase Introdução O Ascaris lumbricoides é um helminto do filo dos nematódeos, que consiste de vermes fusiformes de tamanho entre 1 mm e 1 m. São dióicos, alongados, com boca e ânus. A ascaridíase, conhecida popularmente com o termo lombriga, é uma doença benigna na maioria dos casos mas podendo se associar a obstruções intestinais. Taxonomia: trata-se de um nematelminto da família Ascarididae, que inclui os gêneros Ascaris lumbricoides e Ascaris summ, sendo essa segunda classicamente causadora de parasitismo em suínos, embora haja registro de contaminações cruzadas em humanos. Epidemiologia: infecção prevalente mundialmente (30%) e principalmente em crianças, estando associado com desnutrição infantil. Apesar de benigna, a grande produção de ovos, quando associada a condições sanitárias precárias e uma elevada temperatura, configuram-a como um problema de saúde pública. Morfologia Verme adulto: são vermes de coloração leitosa, o macho medindo 20 a 30 cm, enquanto as fêmeas são maiores, medindo entre 30 e 40 cm. Eles possuem três lábios em sua estrutura cefálica. No caso do macho, ele se distingue da fêmea por seu tamanho e diâmetro menor e por sua extremidade posterior em formato de gancho, ao passo que na fêmea a extremidade posterior é retilínea. Ovo: é a forma infectante eliminada nas fezes, podendo ser fértil ou infértil. Os ovos inférteis possuem um formato mais elíptico, são ricos em grânulos, não possuem internamente a larva ou células germinativas e têm sua membrana externa (mamilonada) mais delgada. O ovo fértil é oval e possui a forma larvária ou células germinativas em seu interior, passando por um período de maturação no solo para amadurecer essa larva até que se torne infectante. Esse ovo fértil é composto por uma membrana interna (lipoprotéica e impermeável à água, garantindo resistência), uma média de quitina e proteínas e uma membrana externa irregular ou mamilonada de mucopolissacarídeos, que, quando ausente no ovo fértil, dá origem ao ovo decorticado (também infectante). Ciclo Biológico Transmissão: ocorre por ingestão da água ou alimentos (frutas e hortaliças, que não vão ao cozimento) contaminados com ovos contendo a larva na forma L3. Habitat: são verminoses encontradas apenas em humanos e que habitam o intestino delgado, especialmente jejuno e íleo. Ciclo biológico: no indivíduo infectado, são liberados até 200.000 ovos por dia, os quais podem ou não ser embrionados. Aqueles ovos férteis possuem vida útil de até 1 ano e, nas condições de temperatura entre 25 e 30 graus, desenvolvem-se as formas larvárias L1 e L2 (rabditóides) até chegar à forma L3 ou filarióide (por seu esôfago retilíneo), que é quem infecta o ser humano. Esses ovos contendo as larvas L3 são bastante aderentes a superfícies, sendo então ingeridos com as hortaliças. Em nível do duodeno, fatores do hospedeiro como o pH, favorecem a eclosão das larvas, que penetram a parede intestinal na altura do ceco e caem nos vasos linfáticos e veias mesentéricas, chegando ao coração até passar pelos pulmões. Nos pulmões, eles formam as formas L5 e L5, as quais podem ser expulsas por meio da tosse ou deglutidas, passando novamente ao estômago para se fixarem como vermes adultos no intestino delgado (após um tempo de 90 dias), durando essas formas adultas cerca de 1 ano. Obs.: o ciclo pelo qual esses parasitos passam ao penetrar a mucosa do ceco, chegar aos pulmões e serem expulsos ou deglutidos até formar o verme adulto é denominado ciclo de Loss, algo que ocorre em outros parasitos como Ancylostoma duodenale, Necator americanus e Strongyloides stercoralis. Manifestações Clínicas O principal determinante clínico nas manifestações da doença e no seu tratamento é a carga parasitária, uma vez que a maior carga parasitária se associa com sintomas mais graves e pode inviabilizar a terapia medicamentosa. As formas clínicas da doença se dividem nas manifestações produzidas pelas larvas e naquelas produzidas pelo verme adulto. Larvas: em pequeno número, as larvas não costumam desempenhar danos, porém podem causar pequenas hemorragias e necrose focal, gerando pequenas áreas de fibrose no fígado e alvéolos pulmonares. A principal manifestação causada por formas larvárias é a síndrome de Loeffler, que ocorre em todos os parasitos que Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Ascaridíase realizam o ciclo de Loss e consiste em uma pneumonite com infiltrado predominantemente eosinofílico que se associa com tosse irritativa, broncoespasmo, dispneia e elevada eosinofilia ao leucograma. A tosse irritativa inicialmente não é produtiva, porém pode evoluir com expectoração mucóide ou mucossanguinolenta. Verme adulto: de um modo geral, uma pequena carga parasitária como 3 a 4 vermes não implica manifestação clínica, porém uma carga com 30, 40, 100 ou mais vermes costuma ser sintomática. O verme causa dano por meio da ação tóxica (ativação do sistema imune), espoliadora (vários nutrientes em especial vitaminas C e A), mecânica (por obstrução) e localização ectópica. Através desses mecanismos o parasito pode manifestar alguns quadros, sendo os principais deles: ⇒ Ascaridíase: o quadro típico mais comum é marcado por má digestão, náuseas, irritabilidade, sono intranquilo e emagrecimento. Esses quadros são comuns em crianças e não se distinguem facilmente de outras enteroparasitoses, sendo o diagnóstico clínico limitado. ⇒ Obstrução intestinal: a complicação mais comum da ascaridíase é a obstrução do lúmen intestinal que ocorre nos quadros de alta carga parasitária. Nessa ocasião, os parasitos formam um ‘’bolo de áscaris'' que oclui a mucosa podendo gerar sinais de irritação peritoneal. ⇒ Formas ectópicas: em crianças, o parasito tem sido associado à apendicite em algumas ocasiões dado o sítio ectópico desse (associado à alta carga parasitária), obstruindo o lúmen do apêncide. Além disso, o parasito também se associa com invasão da árvore biliar. Ele também pode ser encontrado no olho ou causar perfuração gástrica, embora sejam complicações menos frequentes. Diagnóstico Diagnóstico parasitológico: como o diagnóstico clínico é inespecífico e limitado, geralmente a etiologia da doença é apontada pelo diagnóstico parasitológico, que consiste de um exame macroscópico e microscópico das fezes. Os métodos mais utilizados são os de sedimentação espontânea, uma vez que métodos quantitativos como o Kato-Katz são menos acessíveis. Outros exames: também pode-se utilizar métodos sorológicos e imunológicos, porém isso não é rotineiro uma vez que a sensibilidade dos exames parasitológicos costuma ser alta. Nos casos de complicações como a obstrução intestinal, exames de imagem como radiografia e tomografia são úteis ao diagnóstico. Tratamento Pode-se utilizar o albendazol (400 mg dose única), ou o Mebendazol (100 mg, duas vezes ao dia por três dias ou 500 mg, dose única). No caso da obstrução intestinal ou suboclusão, pode-se utilizar óleo mineral para facilitar o trânsito e eliminação dos vermes. Porém, caso não haja sucesso no emprego do óleo mineral, pode-se realizar a ressecção cirúrgica. Prevenção É importante realizar o correto embalo de alimentos (evitando contato com vetores mecânicos como insetos), além do consumo de água fervida ou filtrada. Também é importante o trabalho em educação popular em saúde e medidas sanitárias básicas. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Ascaridíase
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