Aula 08 - Contrainteligência V

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Doutrina de inteligência II
Aula 8: Contrainteligência V
INTRODUÇÃO
Na última aula, estudamos conceitos de Contraterrorismo constantes na Política Nacional de Inteligência, Decreto
Federal nº 8.793, de 29 de junho de 2016, bem como os aspectos legais da tipi�cação do crime de terrorismo
constante na Lei 13.260/2016.
A Atividade de Inteligência e as funções de Segurança Pública e Institucional de mandam análises aprofundadas e
nesta aula, examinaremos outro segmento da Segurança Ativa, que é a Contrapropaganda.
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OBJETIVOS
Descrever os conceitos de Propaganda e Contrapropaganda.
Analisar a formação da opinião pública.
Identi�car medidas Contrapropaganda.
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PROPAGANDA
De acordo com Bobbio (1998, p.1018), Propaganda pode ser de�nida como:
“Difusão deliberada e sistemática de mensagens destinadas a um determinado auditório
e visando a criar uma imagem positiva ou negativa de determinados fenômenos
(pessoas, movimentos, acontecimentos, instituições etc.) e a estimular determinados
comportamentos.”  
Saiba Mais
, 
“A Propaganda é, pois, um esforço consciente e sistemático destinado a in�uenciar as opiniões e ações de um certo público
ou de uma sociedade total. É no sentido da difusão de ideias, isto é, sem conotações explicitamente negativas, que o termo foi
originariamente usado pela Igreja católica para designar a sua atividade de proselitismo. Na ideologia e nas práxis
comunistas, é usada com frequência a distinção — devida a Plekhanov e depois repetida por Lenin — entre agitação e
Propaganda. Aquela é feita sobretudo oralmente e visa a inculcar uma só ideia ou poucas ideias num grande número de
pessoas; esta teria, ao contrário, como objetivo difundir muitas ideias num auditório restrito. Em suas acepções mais
correntes, a Propaganda difere de outras formas de persuasão, enquanto realça elementos puramente emotivos, recorre a
estereótipos, põe em relevo só certos aspectos da questão, revela um caráter sectário etc. Em suma, o termo adquiriu uma
conotação amplamente negativa: a Propaganda está muitas vezes ligada à ideia de manipulação de grandes massas por parte
de pequenos grupos”.
Bobbio (1998, p.1018)
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CONTRAPROPAGANDA
Com a de�nição de Propaganda é possível de�nir o que é a Contrapropaganda: “trata-se de uma Propaganda que
visa anular a propaganda adversa”.
A Política Nacional de Inteligência, Decreto Federal nº 8.793/16, prevê uma necessária atenção à Propaganda
adversa para um planejamento estratégico de defesa da Nação:
“Os atuais cenários internacional e nacional revelam peculiaridades que induzem a
atividade de Inteligência a rede�nir suas prioridades, dentre as quais adquirem
preponderância aquelas relacionadas a questões econômico-comerciais e cientí�co-
tecnológicas. Nesse contexto, assumem contornos igualmente preocupantes os aspectos
relacionados com a espionagem, propaganda adversa, desinformação, a sabotagem e a
cooptação”  
A Política Nacional de Inteligência considera direcionamentos da Atividade de Inteligência em nível estratégico as
ações de propagandas que venham a atingir o �ns econômicos-comerciais e cientí�co-tecnológicos do Brasil.
É de conhecimento público o poder que a informação nos dias atuais pode ter. Em questão de minutos, um fato
pode ser de conhecimento mundial. Nesse sentido, a propagação de uma notícia falsa, ou com determinados �ns
pode causar imensos estragos e ainda fomentar caos social.
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Quem, principalmente aqueles que lidam com Segurança Pública, não teve a oportunidade de vivenciar um caso
concreto que uma vez divulgado na mídia tenha tomado versão completamente diversa?
A Propaganda adversa, de interesse da Atividade de Inteligência, pode ter objetivos:
Políticos
Econômicos
Sociais
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As Propagandas Políticas durante os períodos eleitorais são um grande exemplo de intenso trabalho de análise que
perduram todo o tempo anterior do referido período eleitoral.
Atenta-se que a atividade estatal de Inteligência deve pautar-se pelo princípio da imparcialidade, e agir com �ns de
Estado e não de Governo.
Um dos mais tristes exemplos de propaganda político-social da história mundial foi a poderosa propaganda nazista,
capitaneada por Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda de Hitler que, por meio da linguagem persuasiva,
destruiu a reputação do povo judeu e permitiu que a ideia de perseguição se tornasse efetiva na Alemanha nazista.
Klemperer (2002), mostra angustiante ideia propalada por Goebbels sobre as formas de atacar os judeus:
Tecnológicos
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“No livro Combate por Berlim, de Goebbels, está escrito: podemos de�nir o judeu como a
encarnação do complexo de inferioridade, reprimido. Por isso, a forma mais profunda de
atingi-lo é designá-lo por sua essência. Pode-se chamá-lo de canalha, patife, mentiroso,
criminoso, homicida e assassino. No íntimo, ele pouco se sentirá atingido. Fixe-se nele o
olhar durante algum tempo, calmamente, e diga-se então: ‘O senhor é um judeu!’ No
mesmo instante ele �cará inseguro, desconcertado, com a expressão de quem se sente
culpado...”  
O estudo das ideologias do século XX, como o nazismo, comunismo e fascismo são muito importantes para o
analista de inteligência, considerando as proporções de atentados contra a humanidade que �zeram.
Neste campo, as técnicas de propaganda que utilizaram, com discursos de ódio e fomentando lutas na sociedade,
são fontes de estudo obrigatório para se ter em mente o poder de destruição que lideranças despóticas podem
alcançar com o uso da Propaganda.
     
Campo político
A análise de discursos e vida pregressa de políticos e pessoas próximas são fontes de pesquisas que poderão ser
usadas nas campanhas eleitorais, fomentando a desquali�cação do candidato e de seu partido. Atua, portanto, em
esferas de poder do país.
     
Campo econômico-comercial
Uma propaganda adversa pode levar uma empresa à falência, caso uma campanha de desquali�cação de seus
produtos atinja o público.
O fenômeno das fakenews (glossário) tomou proporções imensas nas eleições norte-americanas de 2016. O mesmo
pôde ser observado durante as eleições de 2014 no Brasil.
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Ilustração de 1894 por Frederick Burr Opper
Alguns princípios da propaganda que podem ser estudados pela Atividade de Inteligência, segundo Bobbio (1998):
Simpli�cação
A mensagem da propaganda deve ser resumida, se possível. A criação de um slogan é muito
importante, pois é facilmente captado e rapidamente recordado. Discursos muito complexos
e intelectuais acabam não sendo captados pela opinião pública. A Propaganda deve ser
dirigida a um público heterogêneo e o nível intelectual da mensagem deve ser
su�cientemente baixo para poder ser compreendido por um número maior de pessoas.
Quanto mais vasto for o auditório mais baixo será o nível da mensagem.
SaturaçãoA mensagem tem sua e�cácia em função, entre outras coisas, da frequência da emissão ou
da recepção. Hoje em dia, com a ampla rede de comunicação disponível em um país
democrático torna-se muito difícil não �car exposto à massi�cação de informações,
principalmente se meios de comunicação poderosos estiverem por trás da propaganda
adversa.
Espiral do Silêncio
Princípio com base em estudos de Elisabeth Noelle-Neumann possui a ideia central de que
indivíduos omitem sua opinião quando con�itantes com a opinião dominante devido ao
medo do isolamento, da crítica, ou da zombaria. Bobbio informa que apresentar posições
parciais, que re�etem apenas o pensamento de uma minoria, como se exprimissem, em vez
disso, a convicção unânime de uma população inteira é uma das técnicas e trata-se, no
fundo, de convencer o ouvinte ou o leitor de que, em termos de opinião, está fora do caminho
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certo, e de o induzir a aderir às teses que lhes são apresentadas, por meio de um mecanismo
bem conhecido da psicologia social, o do conformismo induzido por pressões do grupo
sobre o indivíduo isolado.
Deformação e parcialidade
A informação nunca é apresentada em toda a sua inteireza, contendo sempre um elemento
de valor bastante acentuado, geralmente assinalado pela presença de adjetivos "fortes"; ao
mesmo tempo, os argumentos eventualmente contrários são ignorados, ridicularizados ou
tratados como irrelevantes, e nunca entram na essência da informação. Mais: a posição de
quem emite a informação é sempre a de quem apresenta conclusões absolutamente certas e
incontroversas e não pontos discutidos: a expressão da dúvida e da perplexidade não é o
ponto forte do propagandista.
A Propaganda adversa pretende alcançar a formação da opinião pública e, assim, ter o poder de manipular ao seu
interesse. Bobbio (1998, p.842) de�ne opinião pública:
“A opinião pública é de um duplo sentido: quer no momento da sua formação, uma vez
que não é privada e nasce do debate público, quer no seu objeto, a coisa pública. Como
"opinião", é sempre discutível, muda com o tempo e permite a discordância: na realidade,
ela expressa mais juízos de valor do que juízos de fato, próprios da ciência e dos
entendidos. Enquanto "pública", isto é, pertencente ao âmbito ou universo político,
conviria antes falar de opiniões no plural, já que nesse universo não há espaço apenas
para uma verdade política, para uma epistemocracia. A opinião pública não coincide com
a verdade, precisamente por ser opinião, por ser doxa e não episteme; mas, na medida em
que se forma e fortalece no debate, expressa uma atitude racional, crítica e bem
informada.”  
TÉCNICAS DE CONTRAPROPAGANDA
A Contrapropaganda, com base na teoria da Propaganda propicia técnicas e�cazes para anular os efeitos da
propaganda adversa.
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Inicialmente deverá ser realizada uma análise da Propaganda adversa, com base nos seguintes itens:
Cliente Fonte Público
Deve-se estar ciente de
quem é o cliente que se
beneficiará com a
Contrapropaganda, pois é
a partir deste
conhecimento que os
objetivos e diretrizes
serão estabelecidos.
Que meio foi utilizado
pela propaganda
adversa e qual o meio
resposta que será
usado. Leva-se em
conta os custos que a
Contrapropaganda
alcançará.
Torna-se necessário
conhecer quem serão os
alvos da
Contrapropaganda para
adequar a linguagem e
características dos
grupos, seu alcance e
peculiaridades.
Após a devida análise da Propaganda adversa o especialista de Contrapropaganda estabelecerá as técnicas
adequadas para se opor à propaganda.
Para a refutação de argumentos de forma e�caz deve-se examinar o que é essencial em toda discussão, o que
realmente acontece nela. Schopenhauer (1997) ensina:
“O adversário expôs uma tese, para refutá-la, há dois modos e dois métodos:
1. Os modos ad rem, ad hominem ou ex concessis; isto é, demonstramos que ou a tese
não está de acordo com a natureza das coisas, com a verdade objetiva, ou que não
concorda com outras a�rmações do adversário. Este último caso não é senão uma
passagem relativa e não tem importância nenhuma para a verdade objetiva.
2. Os métodos: (a) Refutação direta, (b) indireta. A Refutação direta ataca a tese em seu
fundamento, a indireta ataca em suas consequências. A direta mostra que a tese não é
verdadeira; a indireta, que não pode ser verdadeira.”
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Além das técnicas expostas por Schopenhauer (1997) é possível descrever outras igualmente e�cazes:
A utilização das técnicas de Contrapropaganda de forma efetiva vai depender da capacidade dos analistas
envolvidos em perceber o momento oportuno e a técnica adequada, sendo sempre recomendado o uso dentro de
parâmetros éticos estabelecidos nas normas institucionais.
Na realidade, o conhecimento das técnicas de Contrapropaganda está ligado diretamente à necessidade de o
pro�ssional de inteligência estar apto a conhecer todas as possibilidades de uso do conhecimento especí�co
utilizado nos meios de comunicação para que possa assessorar de forma adequada os gestores quando estiverem
diante de propagandas adversas.
Atenção
, 
Bobbio (1998) esclarece que nas democracias, à Propaganda efetuada por um grupo ou por uma formação política
corresponde sempre uma ou mais contrapropagandas, isto é, uma forma mais ou menos equilibrada de contestação, mesmo
que nem todas as forças políticas disponham da mesma possibilidade de acesso aos canais de informação ou de redes de
distribuição igualmente aparelhadas.
EXERCÍCIOS
Fragmentação da Propaganda
Separar os pontos fortes dos fracos, isolando-os, a �m de estudar a contra argumentação focada nos pontos fracos e evitar o
confronto direto com os pontos fortes.
Argumento ad hominem
Procura defender contra a propaganda adversária com uma proposição crítica ao seu autor e não ao seu conteúdo. Atenta-se
ainda para os órgãos patrocinadores na Propaganda adversa, buscando fragilidades e contrariedades.
Levar para o lado cômico ou irônico
A ridicularização da propaganda adversa levando-a para o lado cômico procura desviar a atenção, suavizando os efeitos da
propaganda adversa e evitando a confrontação direta.
Silêncio
Quando a propaganda adversa é forte e ante a falta de argumentos bons para seu combate a técnica do silêncio pode ser uma
alternativa, evitando-se colocar mais “lenha na fogueira” e permitindo que o agente “tempo” se encarregue de propiciar o
esquecimento da propaganda poderosa.
Levar os fatos ao exagero
“Podemos provocar o adversário contradizendo-o e induzi-lo assim a exagerar para além do que é verdade uma a�rmação que,
em si e em certo contexto, pode ser verdadeira; e, uma vez refutado o exagero, é como se tivéssemos refutado também a
proposição original” (Schopenhauer, 1997, pág. 153).
“Mostra-se que a generalização da tese da Propaganda adversa leva ao absurdo e, então, tenta-se demonstrar que o adversário
ou não está consciente do alcance de suas próprias opiniões ou está tentando impingir um absurdo” (Schopenhauer, 1997, pág.
153).
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Agora, vamos fazer uma pequena revisão do conteúdo. Para isso, responda as questões a seguir:
De�na Propaganda:
Resposta Correta
O que é a Contrapropaganda?
Resposta Correta
Cite princípios de Contrapropaganda que podem ser estudados pela Atividade de Inteligência.
Resposta Correta
O princípio pelo qual a ideia central de que indivíduos omitem sua opinião quando con�itantes com a opinião
dominante devido ao medo do isolamento, da crítica,ou da zombaria chama-se?
a) Simpli�cação
b) Saturação
c) Espiral do Silêncio
d) Deformação e parcialidade
e) Ad hominem
Justi�cativa
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Glossário
FAKENEWS
Notícias falsas são um tipo de imprensa marrom que consiste na distribuição deliberada
de desinformação ou boatos via jornal impresso, televisão, rádio, ou ainda online, como nas mídias sociais. As notícias falsas
são escritas e publicadas com a intenção de enganar, a �m de obter ganhos �nanceiros ou políticos, muitas vezes com
manchetes sensacionalistas, exageradas ou evidentemente falsas para chamar a atenção.
Saiba mais Wikipedia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Not%C3%ADcia_falsa).
https://pt.wikipedia.org/wiki/Not%C3%ADcia_falsa