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O TRABALHO DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL COM UM GRUPO DE ALUNOS DE 3º ANO DO ENSINO MÉDIO TETU, Viviane – PUCPR viviane.tetu@pucpr.br DOMINGUES, Alexandre Santos – PUCPR ale.domingues04@gmail.com CHIOCHETTA, Luciana – PUCPR lucianachiochetta@gmail.com VELOSO, Maria Marta – PUCPR velosc2000@yahoo.com.br Eixo Temático: Educação e Saúde Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo A sociedade atual vive um momento de grandes mudanças: descobertas científicas, avanços tecnológicos que abrem caminho para o surgimento de novas profissões no mercado de trabalho. Novas escolhas poderão ser feitas pelos jovens, no momento em que estão formando sua identidade e, como afirma Lucchiari (1993, p. 11), “se descobrindo novamente”, buscando se conhecer melhor e saber quem eles querem ser e quem eles não querem ser. Mas será que estes jovens têm subsídios suficientes para fazerem tais escolhas? Será que a sociedade acolhe e pensa com eles a respeito das suas angústias frente ao “desconhecido” mundo adulto? Os programas de orientação vocacional/profissional são de grande importância para que isto seja efetivado, pois têm como objetivos acolher as dúvidas das pessoas, seus anseios; dar a elas a possibilidade de se conhecerem melhor, conhecerem o mundo das profissões e incentivá-las a explorar este mundo; em suma, capacitá-las para que possam fazer uma escolha ulterior consciente e autônoma. O presente trabalho se desenvolveu como uma das atividades de Estágio Profissionalizante de Psicologia, numa instituição da rede particular de ensino de Curitiba, com doze estudantes do 3º ano do Ensino Médio. O processo de Orientação Profissional (OP), com base na Modalidade Clínica descrita por Bohoslavsky (2007), ocorreu em nove encontros, com uma sessão semanal de noventa minutos. Foram utilizados diversos instrumentos e técnicas no processo de orientação, tais como: entrevistas preliminares, dinâmicas de integração, testes e atividades de autoconhecimento, atividades relacionadas ao conhecimento das profissões, envolvendo pesquisas dos próprios orientandos. Ao final, foram revistas as expectativas manifestadas pelos participantes na entrevista preliminar e constatou-se que a maioria dos estudantes conseguiu escolher ou confirmar o curso para o qual deseja realizar o vestibular neste ano. Palavras-chave: Orientação Profissional. Escolha Profissional. Modalidade Clínica de OP. 12310 Introdução A sociedade atual vive um momento de grandes mudanças. Descobertas científicas, avanços tecnológicos abrem caminho para o surgimento de novas profissões, que encontram espaço neste novo cenário do mercado de trabalho. Novas escolhas poderão ser feitas pelos jovens. Mas será que estes jovens têm subsídios suficientes para fazerem tais escolhas? Será que a sociedade acolhe e pensa com eles a respeito das suas angústias frente ao “desconhecido” mundo adulto? Os programas de Orientação Vocacional/Profissional são de grande importância para que isto seja efetivado. Têm como objetivos acolher as dúvidas das pessoas, seus anseios; dar a elas a possibilidade de se conhecerem melhor, conhecerem o mundo das profissões e incentivá-las a explorar este mundo; em suma, capacitá-las para que possam fazer uma escolha ulterior consciente. O trabalho em questão apresenta o processo de Orientação Profissional em um grupo de alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma instituição de ensino particular de Curitiba, na modalidade clínica. A Modalidade Clínica de Orientação Profissional Segundo Bohoslavsky (2007, p. 1), a orientação vocacional profissional “constitui uma ampla gama de tarefas, que inclui o pedagógico e o psicológico, em nível de diagnóstico, de investigação, de prevenção e a solução da problemática vocacional”. A escolha se torna um momento crítico e conflituoso, pois envolve muitas mudanças na vida dos indivíduos. É um momento em que há a possibilidade e a necessidade de tomar decisões, e isto se dá principalmente a partir da passagem de um ciclo educativo a outro. Considerando a orientação vocacional/profissional para jovens, esse momento de escolha acaba se tornando ainda mais crítico, já que a necessidade de escolher aparece no momento em que o jovem está formando sua identidade, como afirma Lucchiari (1993, p. 11), “se descobrindo novamente”, está buscando se conhecer melhor e saber quem ele quer ser e quem ele não quer ser. Quando há essa demanda da escolha na vida do jovem, ele faz escolhas de acordo com suas possibilidades do momento, tomando uma decisão sem ter consciência das influências que sofre e também sem ter informações suficientes sobre a profissão que está escolhendo (LUCCHIARI, 1993). 12311 Neste contexto, aparece a importância da realização de uma orientação vocacional/profissional, a fim de facilitar o momento da escolha, auxiliando o indivíduo a compreender seu momento de vida, no qual estão incluídos aspectos pessoais, familiares e sociais. Conforme mostra Bohoslavsky (2007, p. 3), a orientação vocacional/profissional pode acontecer de acordo com duas modalidades: estatística e clínica. Na modalidade estatística, acredita-se que cada carreira ou profissão requer aptidões específicas, mas tais aptidões são definíveis, mensuráveis e mais ou menos estáveis ao longo da vida; o teste é o principal instrumento para conhecer as aptidões e interesses. Segundo o autor, esta modalidade de descrições quantitativas está cada vez mais rigorosa, determinando, ao final do teste, um caminho pelo qual o indivíduo deveria seguir profissionalmente. Já na modalidade clínica, o psicólogo auxilia o cliente a pensar a respeito de sua escolha de maneira autônoma, consciente e responsável. A orientação de que caminho profissional, ou que campo seguir não é dada pelo psicólogo, mas o próprio indivíduo pode chegar a uma decisão. Nesta abordagem cabe toda uma mudança de ponto de vista, principalmente porque incorpora à tarefa de orientação vocacional uma dimensão ética. A ética surge do fato de que, ao considerar o homem sujeito de escolhas, consideraremos que a escolha do futuro é algo que lhe pertence e que nenhum profissional, por capacitado que esteja, tem o direito de expropriar. (BOHOSLAVSKY, 2007, p. 21). Esta modalidade propõe, na realidade, o que Lucchiari (1993, p. 12) chama de “facilitação da escolha”. Facilitar a escolha, segundo a autora, “significa participar auxiliando a pensar, coordenando o processo para que as dificuldades de cada um possam ser formuladas e trabalhadas”. Os aspectos que devem ser trabalhados para facilitar a escolha são o conhecimento de si mesmo (passado, presente e futuro), conhecimento das profissões, e a escolha propriamente dita. O momento da escolha profissional na adolescência As escolhas que os adolescentes fazem às vésperas de um exame de vestibular refletem, muitas vezes, os modelos parentais que os jovens trazem de casa. Suas motivações pessoais, interesses, mesclam-se com os conselhos paternos, e desejos dos pais em relação ao 12312 futuro dos filhos, que por vezes desencadeiam situações conflituosas que geram angústias maiores ao jovem que ainda não fez uma escolha profissional. Os pais têm um papel fundamental na escolha profissional dos seus filhos; servem como referências, são os primeiros modelos de profissionais com que os filhos entram em contato, e vão apresentando aos poucos o mundo adulto para o jovem adulto em desenvolvimento (SOBRAL, 2009). Ainda pode-se considerar o processo de Orientação Vocacional/Profissional, conforme Silva (2001), como uma possibilidade de rito de passagem para a vida adulta. Este rito de passagem deve ser feito junto aos pais; pois estes exercem uma influência significativa e podem auxiliar nesta transição do jovem que se encontra numa situação dilemática. Segundo Bohoslavsky (2007, p. 83), a escolha do futuro implica aumento de conflitos que semanifestam em dúvida, a ser resolvida pelo adolescente que se vê diante de situações descritas como predilemática, dilemática, problemática ou de resolução, cada uma caracterizando-se por um tipo de relação objetiva, ansiedades predominantes, comportamentos específicos e mecanismos defensivos. A situação predilemática caracteriza-se pela imaturidade, dependência, ansiedade baixa e confusa; a situação dilemática é marcada pela presença de afetos confusos diante do enfrentamento da dúvida e da mudança; na situação problemática, “o adolescente parece realmente preocupado” (BOHOSLAVSKY, 2007, p. 84) e na situação de resolução, trata-se de encontrar uma solução para o problema. A orientação profissional é uma dimensão fundamental que deve estar presente no processo educacional de todo ser humano, pois norteia suas escolhas, influencia na realização de seus potenciais e pode determinar a sua maneira de servir e dar sua contribuição à sociedade. A escolha profissional coincide com a fase do desenvolvimento em que o jovem está buscando definir sua identidade, logo, coincide também com a busca de autoconhecimento, de descoberta de suas qualidades, seus gostos, desejos, interesses e motivações. Obviamente a família, os amigos, o contexto social em que ele está inserido, bem como a mídia, a escola, exercem influências nas suas decisões e escolhas. O objetivo da orientação profissional é oportunizar ao jovem meios e recursos para compreender sua fase de vida, suas questões pessoais, familiares, sociais e até mesmo ecológicas, mundiais, para que possa delinear melhor sua escolha a respeito da opção 12313 profissional, possibilitando um futuro com maior objetividade tanto na realização pessoal como no modo particular de contribuir como cidadão. No aspecto conhecimento de si mesmo é preciso focar quem é a pessoa, quem foi e quem será; qual é seu projeto de vida, como se vê no futuro desempenhando seu trabalho, quais são as expectativas da família versus expectativas pessoais, quais são seus principais gostos, interesses e valores. Quanto ao conhecimento das profissões é importante ressaltar o que são, o que fazem, como fazem, onde fazem; também é imprescindível que se conheça o mundo do trabalho dentro do sistema político-econômico vigente, as possibilidades de atuação, o mercado de trabalho, visita a locais de trabalho, informações sobre currículos e entrevistas com profissionais. Na escolha propriamente dita é importante focalizar que ela implica decisão pessoal e renúncia ao que não foi escolhido. A orientação profissional não deve estar focalizada somente nos cursos universitários como futuro promissor dos jovens, mas precisa estar aberta à infinidade de cursos profissionalizantes que dão condições para o ingresso no mercado de trabalho, ciente de que a pessoa se realiza fazendo o que gosta, se sentindo útil, querendo ser melhor, fazendo bem o que se faz. Mais importante que o fazer, a orientação profissional aponta para o ser, pois, a integração do fazer com o ser é imprescindível. Neste sentido, concorda-se com Valore (2010, p. 66), que retoma os trabalhos de renomados estudiosos em OP, como Bohoslavsky (1991), Levenfus (1997), Super (1957), Soares-Lucchiari (1993), Lisboa (2000), dentre outros, e unindo com suas experiências, entende que o objeto de estudo e de intervenção em OP consiste na identidade profissional, a qual não remete apenas ao “o que fazer” – enquanto conjunto de tarefas ocupacionais predeterminadas, mas ao “quem ser e quem deixar de ser”, integrando-se à identidade pessoal mais ampla. Assim, a autora revela que a identidade profissional consiste em uma posição subjetiva diante da vida, do mundo e de seu papel neste mundo. Uma posição que se constrói através das relações interpessoais e deriva de uma série de princípios, valores e posturas, ora reconhecidos, ora desconhecidos pelo sujeito, os quais, ao serem articulados com o ideal de cada um, constituirão um “projeto de vida”. É importante perceber que as escolhas não são construídas por acaso, nem tampouco num determinado momento, mas o seu processo se dá ao longo da vida de uma pessoa, a partir de uma série de experiências cognitivas e afetivas, identificações com figuras parentais, 12314 com os pares, com figuras idealizadas, além de toda uma construção e internalização dos valores transmitidos nas diversas etapas de sua vida. Por fim, o interesse em esclarecer ao jovem o que é Orientação Vocacional Profissional se dá pois, como afirma Bohoslavsky (2007, p. 137), “a função do psicólogo não consiste em tranquilizar o adolescente, mas em ajudá-lo a pensar”. Portanto, auxiliando o jovem a pensar, ele vai aprender a escolher; aprendendo a escolher, ele terá mais facilidade ao tomar decisões ao longo de sua vida, não apenas no que diz respeito à escolha profissional na etapa da saída da adolescência para a vida adulta. O Processo de Orientação Profissional de um grupo de alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma instituição de ensino particular O trabalho de orientação profissional, parte integrante do Estágio Profissionalizante de Psicologia, foi realizado num colégio da rede particular de ensino de Curitiba, e contou com a inscrição de doze alunos do terceiro ano do Ensino Médio. Destes, sete concluíram o processo, um interrompeu por motivo de participação em intercâmbio, dois desistiram durante o processo, e outros dois não chegaram a dar início à orientação. As sessões aconteceram semanalmente com duração de noventa minutos cada. Foram realizadas nove sessões, sendo que a primeira e a última com entrevistas individuais. Entre os dez participantes iniciais, dois eram do sexo masculino e oito do sexo feminino, todos com idade entre dezesseis e dezessete anos. O grupo participante, de início, apresentou insegurança e dúvidas a respeito da escolha profissional: a maioria já tendo algum curso em mente, alguns querendo comprovar se a profissão pensada seria a escolha ideal, outros com o dilema da escolha entre dois ou mais cursos. Apresentaram expectativas em relação ao autoconhecimento, no que diz respeito às suas habilidades e aptidões, assim como ao conhecimento das diversas profissões para que pudessem escolher a mais adequada e prazerosa para cada um. Durante o processo, o grupo foi se mostrando bastante comprometido, realizando as atividades propostas, participando das dinâmicas de integração, permitindo trocas produtivas entre os participantes, alcançando os objetivos de cada sessão. Foram utilizados diversos instrumentos e técnicas no desenvolvimento dos encontros de orientação, tais como: entrevistas preliminares; dinâmicas de integração (aquecimento): “Características e manias”, “Autógrafos”, “Mural de prioridades profissionais”, “Longa viagem”, “Adivinhe quem sou eu”; testes e atividades de autoconhecimento: “Autobiografia”, 12315 “Gosto e faço”, “Genetograma familiar das profissões”, “Escala de maturidade para escolha profissional (EMEP)”, “Teste de frases incompletas para exploração da identidade vocacional”, “Entrevistas com pessoas significativas”, “Identificação de interesses, aptidões e traços de personalidade”; atividades relacionadas ao conhecimento das profissões: “Técnica R-O – Rol de Ocupações ou Realidade Ocupacional”, pesquisa dos orientandos a respeito das principais profissões que apareceram no seu “R-O”, “O congresso das profissões”, “A nave de Noé”. Em todas as atividades houve participação integral do grupo. Conclusões A situação predilemática descrita por Bohoslavsky (2007) não foi constatada no grupo de orientandos. Enquanto que na situação dilemática, marcada pela presença de afetos confusos diante do enfrentamento da dúvida e da mudança, percebeu-se a inserção dos sete alunos que vivenciaram elevado grau de ansiedade, ora avançando na escolha, ora recuando diante do desafio. Durante o desenvolvimentodo trabalho percebeu-se o grupo preocupado, envolvido exaustivamente com a situação de escolha, participando das atividades e pesquisas propostas que vinham ao encontro de seu elevado conflito, características próprias da situação problemática. Na última sessão de conclusão do processo, foi possível identificar no grupo certa tranquilidade e contentamento, como se tivesse ‘chegado de uma batalha e enxergado uma nova luz’. Identificou-se, assim, a situação de resolução, assinalada por certo “cansaço”, mas ornada pelo “contentamento”, provindos da elaboração de um luto (BOHOSLAVSKY, 2007, p. 85) Na verificação dos resultados da EMEP (Escala de Maturidade para Escolha Profissional) que foi aplicado no início e no final do processo, pôde-se perceber que seis participantes obtiveram percentil de maturidade total mais elevado na última aplicação; enquanto que apenas um participante manteve o mesmo percentil, o que demonstra resultado positivo no processo de OP. Na devolutiva feita a cada participante, em particular, foram retomadas as expectativas manifestadas na primeira entrevista e constatou-se que a maioria atingiu aquelas expectativas e/ou conseguiu escolher ou confirmar o curso para o qual deseja realizar o vestibular no final 12316 deste ano, o que pode ser constatado pelos seguintes trechos das “Cartas de despedida” escritas por eles: “Ao fim digo que acho que posso conciliar meus sonhos com a realidade[...]” H. Referindo-se ao processo de OP: “Deixo-te, não com tristeza, mas com uma felicidade muito grande, pois você abriu novos horizontes na minha vida e como se diz popularmente, acende a luz no fim do túnel, para eu seguir uma carreira de sucesso”. G. “Quando entrei, queria conseguir, através dessas sessões, a certeza da minha escolha, e vou sair e finalizar esse processo com o objetivo que eu queria”. T. “A OP deixará saudades, e também deixará a responsabilidade de sempre estarmos procurando saber cada vez mais a respeito das profissões”. E. REFERÊNCIAS BOHOSLAVSKY, R. Orientação vocacional: a estratégia clínica. Tradução de J. Maria V. Bojart. 12ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. LUCCHIARI, D. H. P. S.; LISBOA, M. D.; FILHO, K. P. Pensando e vivendo a orientação profissional. São Paulo: Summus, 1993. SILVA, A. L. P.; SOARES, D. H. P. A orientação profissional como rito preliminar de passagem: sua importância clínica. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 6, n. 2, p. 115-121, jul./dez. 2001. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/pe/v6n2/v6n2a16.pdf. Acesso em 22 ago. 2011. SOBRAL, Joana Mafalda; GONCALVES, Carlos Manuel; COIMBRA, Joaquim Luís. A influência da situação profissional parental no desenvolvimento vocacional dos adolescentes. Rev. bras. orientac. prof, São Paulo, v. 10, n. 1, jun. 2009 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679- 33902009000100004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 22 ago. 2011. VALORE, L. A. Orientação profissional em grupo na escola pública: direções possíveis, desafios necessários. In: LEVENFUS, R. S.; SOARES, D. H. P. & COLABORADORES. Orientação vocacional ocupacional. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
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