Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Exercícios – Emoções e Memória Situação Problema 1 Os livros de Neuroanatomia descrevem sempre um famoso caso ocorrido em 1968, quando um funcionário de uma ferrovia americana, P. T. Gage, foi vítima de um acidente, no qual teve parte do seu córtex cerebral transfixado por uma barra de ferro. Ele conseguiu sobreviver ao acidente, sem déficits motores ou sensitivos, mas sua personalidade, antes caracterizada pela responsabilidade e seriedade, mudou dramaticamente. Ele passou a ser desatento, a agir sem pensar nas consequências, perdeu totalmente o senso de responsabilidades sociais. Vagueava de um emprego a outro dizendo grosserias, palavrões e profanidades. Foi demitido por indisciplina. “Sua mente estava tão radicalmente mudada que seus amigos diziam que ele não era mais o mesmo Gage”. Sobre este famoso caso responda: a) Considerando a anatomia dos hemisférios cerebrais cite o lobo e a área funcional cortical onde provavelmente ocorreu a lesão. * A lesão provavelmente ocorreu na parte anterior e não motora do lobo frontal, na área de associação terciária pré-frontal. b) Correlacione as alterações observadas no paciente com as funções atribuídas a essa área. * A área pré-frontal divide-se um duas subáreas: a dorsolateral (superfície anterior e dorsolateral do lobo frontal) e a orbitofrontal (superfície inferior do lobo, adjacente às órbitas). As alterações observadas no caso, como déficit de atenção, atitudes socialmente inadequadas e alterações do comportamento emocional e da personalidade são associadas principalmente à subárea orbitofrontal. A subárea dorsolateral é importante para a tomada de decisão, escolha de estratégias comportamentais adequadas à situação física e social do indivíduo, inteligência e memória operacional. c) O paciente poderia ter um déficit de memória associado? Se sim, qual tipo? Explique. * Sim. O paciente poderia ter um déficit de memória operacional, que é um tipo de memória que permite reter as informações por segundos ou minutos, durante o tempo suficiente para dar sequencia a um raciocínio, compreender e responder uma pergunta, memorizar o que foi lido para compreender a frase seguinte, ou seja, concluir uma tarefa em andamento. A memória operacional é uma das funções atribuídas à área pré-frontal dorsolateral. Situação Problema 2 Paciente de 71 anos chega ao ambulatório de Neurologia, acompanhada pela filha. A filha relata que a mãe sempre foi independente e morava sozinha em Maripá, uma pequena cidade próxima à Juiz de Fora. Há cerca de cinco anos ela começou a ter pequenos esquecimentos. Não se lembrava de fatos ocorridos durante o dia, como o que comera nas refeições ou onde guardou os remédios, e dos compromissos, mas todos achavam que era natural da idade. Há aproximadamente dois anos ela veio morar com a filha porque começou a ficar perdida na cidade (os vizinhos que a ajudavam) e quase incendiou a casa porque esqueceu as panelas no fogo. Mais recentemente o quadro está ainda mais acentuado: ela já esquece até o nome das pessoas mais próximas e está cada vez mais apática. O médico, após realizar um exame físico e testes específicos para memória, suspeitou de Doença de Alzheimer. Sobre o caso responda: a) Qual estrutura do SNC é inicialmente comprometida pela Doença de Alzheimer? * De modo geral, a doença se inicia com uma degeneração progressiva dos neurônios da área entorrinal, que constitui a porta de entrada das vias que, do neocórtex, se dirigem ao hipocampo. Desse modo, a lesão gradualmente leva a um total isolamento do hipocampo, com um déficit progressivo e irreversível da memória. b) Relacione as alterações apresentadas pela paciente ao tipo de memória ou função cognitiva comprometida. * “Não se lembrava de fatos ocorridos durante o dia, como o que comera nas refeições ou onde guardou os remédios, e dos compromissos...” estão associados à memória que nos permite recordar acontecimentos recentes e aprender novas informações, sugerindo comprometimento na entrada de informações do córtex pré-frontal no hipocampo, em um momento inicial da doença. “Há aproximadamente dois anos... começou a ficar perdida na cidade (os vizinhos que a ajudavam) e quase incendiou a casa porque esqueceu as panelas no fogo” evidenciam a manutenção do déficit anterior mais a desorientação espacial. Na fase intermediária, outros déficits cognitivos (orientação, linguagem, raciocínio e julgamento) geralmente estão associados. “...ela já esquece até o nome das pessoas mais próximas e está cada vez mais apática” mostram o comprometimento da memória de longa duração e, portanto, de áreas corticais de associação. Na fase mais avançada, há comprometimento cortical difuso e deterioração das funções psíquicas superiores, com alteração da capacidade intelectual e da iniciativa. Os estados de apatia e prostração são comuns. Na fase terminal o comprometimento motor também já está evidente, a rigidez aumenta consideravelmente, os movimentos ficam lentificados, culminando com a restrição ao leito. c) Com o avançar da doença podem haver outras áreas do SNC afetadas? * Na Doença de Alzheimer há também perda dos neurônios colinérgicos do Núcleo Basal de Meynert, o que leva a perda das projeções modulatórias colinérgicas de praticamente todo o córtex cerebral. Microscopicamente, observa-se placas senis que levam a morte neuronal nas áreas já citadas e também em áreas de associação supramodais, com deterioração das funções psíquicas superiores, sendo as áreas motoras as últimas a serem afetadas.
Compartilhar