Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 2 AMBIENTES LEAN MANUFACTURING Prof.ª Janaina Padilha 2 CONVERSA INICIAL A diretriz fundamental do sistema Lean é pautada em estabelecer e entregar o valor definido pelo cliente. Isso deve ocorrer desde o desenvolvimento do produto ou o planejamento do serviço. Internalizar e aplicar o pensamento enxuto, utilizar as ferramentas e estruturar o sistema baseado em seus pilares, principalmente no Just in Time e Jidoka resultará em um sistema robusto e com resultados consistentes e permanentes. CONTEXTUALIZANDO No armazém de grãos NYC, a situação detectada durante um diagnóstico para implantação de 5S foi a seguinte: muita sujeira no pátio devido a peças oriundas da manutenção, EPIs velhos e embalagens diversas; no escritório, excesso de materiais nas mesas, documentos sem identificação, paredes sujas; no setor de controle de qualidade, amostras velhas que deveriam ter sido descartadas e muitas outras amostras sem identificação. O local que eles chamavam de oficina velha tinha roedores e pombos mortos, além de muitas coisas velhas que, quando não tinham utilidade, eram depositadas lá. Na atual oficina, mal tinha lugar para pisar de tanta coisa espalhada pelo chão, inclusive as ferramentas, além de o local estar bem sujo. Nas duas moegas (rodoviária e ferroviária), a situação não era diferente: muita sujeira acumulada, roedores e pombos mortos e os restos de grãos que caiam durante a descarga apodreciam no local e exalavam um forte odor. Os vestiários estavam repleto de roupas e calçados velhos que tinham ficado desde a safra anterior, pois foram deixados pelo pessoal contratado por empreitada. A empresa necessitava de uma certificação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), porém, na situação em que estava, não tinha condições de conseguir. A empresa tinha 26 funcionários no total; desses, quatro trabalhavam no escritório, um na copa e na limpeza e os demais eram operacionais. O projeto 5S foi bem aceito pelo pessoal do escritório, mas o operacional não aceitou muito bem. Estes demonstraram agressividade e alguns até tentavam boicotar o projeto, chegando ao ponto de inviabilizar o projeto. O que fazer diante dessa situação? 3 TEMA 1 – OS PILARES DO LEAN Para implantar um sistema tão abrangente quanto o Lean, faz-se necessário o entendimento do seu desenvolvimento e o conhecimento de suas técnicas, para que, assim, seja possível difundi-lo em toda a empresa, motivando as pessoas a buscar e eliminar os desperdícios. Para Ohno (1997, p. 25), “a base do Sistema Toyota de Produção é a absoluta eliminação do desperdício”, cujos dois pilares primordiais de sustentação são o Just in Time e a Autonomação (Jidoka) ou automação com um toque humano. 1.1 Just in Time O Just in Time (JIT) é uma abordagem estruturada de gestão incorporada à base do Sistema Toyota de Produção (STP). Shingo (1996, p. 133) descreve como “produzir peças ou produtos exatamente na quantidade requerida, apenas quando são necessários, e não antes disso”. Para Ohno (1997, p. 26), o Just in Time é um importante pilar de sustentação da filosofia do Sistema Toyota de Produção, que consiste em diminuir as perdas produzindo somente o essencial, na quantidade certa e no momento necessário e somente na quantidade necessária em que a linha de montagem necessita para transformar a matéria-prima em produto. Entretanto, os problemas são incontáveis: uma falha na previsão, um erro no preenchimento de formulários, produtos defeituosos e retrabalho, problemas com equipamento, absenteísmo. Um problema no início do processo sempre resulta em um produto defeituoso no final do processo. Isso vai parar a linha de produção ou alterará um plano, independentemente da sua vontade (OHNO, 1997, p. 26). Vieira e Coelho (2017) citam alguns benefícios, objetivos e deficiências do Just in Time. Benefícios do Just in Time: - Eliminação dos desperdícios. - Redução de custos de fabricação. - Eliminação de tempos ociosos. - Redução do espaço físico. - Redução do Lead Time, entre outros. 4 Objetivos do Just in Time: - Diminuição dos custos. - Buscar a qualidade total em todos os processos. - Ter flexibilidade entre cliente e fornecedor. - Ter velocidade no cumprimento das prioridades. - Ter confiabilidade nos diversos processos organizacionais, entre outros. Deficiências do Just in Time: - Ineficiência na capacidade de atender às prioridades. - Problemas de variação de demanda podem acarretar em interrupções do processo. - Problemas com fornecedores podem acarretar em declínio dos estoques, entre outros. 1.2 Autonomação (jidoka) Outra base do Sistema Toyota de Produção é denominado autonomação, que não deve ser confundido com a simples automação. Ela também é conhecida como automação com um toque humano (Ohno, 1997, p. 27). Este autor também definia esse pilar como “dar inteligência à máquina”. Muitas máquinas funcionam sozinhas uma vez que estejam ligadas. Porém, as máquinas de hoje em dia podem simplesmente parar de funcionar, por conta de problemas relacionados a pequenas anormalidades, por exemplo: um fio solto ou desligado, sujeira no interior da máquina, falta de lubrificação, desgaste de peças, entre outros. Por conta dessas anormalidades, a máquina pode produzir peças defeituosas e prejudicar as partes posteriores do processo. Se a máquina for automatizada, uma série de peças defeituosas são produzidas e não poderão ser evitadas, pois não existe nenhum sistema que faça a conferência automática para conter tais problemas (Vieira; Coelho, 2017). É por isso que a Toyota dá ênfase à autonomação – máquinas que podem evitar tais problemas “autonomamente” – e não à simples automação. A ideia surgiu com a invenção de uma máquina de tecer autoativada por Toyoda Sakichi (1867-1930), fundador da Toyota Motor Company (Ohno, 1997, p. 28). Benefícios do jidoka: - Eficiência na fabricação dos materiais. - Redução da mão de obra. 5 - Garantia de qualidade. - Maior ganho de produtividade, entre outros. Objetivos do jidoka: - Prevenir defeitos e anomalias. - Garantir a qualidade no processo. - Separação entre o trabalho do indivíduo e o trabalho da máquina. - Instalação de dispositivos que permitam a detecção de erros de forma precisa, entre outros. Deficiências do jidoka: - Possíveis falhas na detecção dos problemas. - Falta de manutenção em equipamentos e máquinas. - Problemas causados por interrupção de energia podem acarretar em paradas durante o processo. - Deficiências no projeto de autonomação da máquina, entre outros. TEMA 2 – SUSTENTAÇÃO DOS PILARES LEAN 2.1 Troca rápida de ferramentas A troca rápida de ferramentas (TRF) é um método de otimizar e reduzir os tempos de preparação, trocas e ajustes de equipamentos entre produção diferentes, possibilitando assim produção de pequenos lotes. O desenvolvimento das técnicas de troca rápida de ferramenta, também conhecidas como Single Minute Exchange of Die (Smed), iniciou-se a partir de estudos de um engenheiro chamado Shigeo Shingo, que desenvolveu técnicas as quais possibilitaram reduzir “qualquer tempo de setup em tempos inferiores a 10 minutos” (Shingo, 1996, p. 13). 2.1.1 Trabalho padronizado Segundo Dennis (2008, p. 65), o trabalho padronizado é o jeito mais seguro, fácil e eficaz de fazer o trabalho que conhecemos, principalmente quando entendemos que: não existe uma única maneira de fazer o trabalho; os trabalhadores devem descrever o trabalho e o trabalho padronizado tem o objetivo de fornecer uma base para melhorias, pois mesmo os melhores processos estão repletos de “muda”, o que faz com que o trabalho padronizado se modifique e melhore constantemente. 6 O trabalho padronizado permite que se identifique anomalias durante o processo, permitindo uma produção sem perdas, já que osoperadores executam as operações em uma sequência determinada, mantendo uma maneira única de realizar a atividade independentemente do operador que a execute. O trabalho padronizado apresenta muitos benefícios, tais como estabilidade de processo, pontos de início e parada claros para cada processo, aprendizagem organizacional, solução de auditorias e de problemas, envolvimento de funcionários e poka yoke, kaizen e treinamento (Dennis, 2008, p. 68). 2.1.2 Heijunka Liker (2005, p. 123) comenta que, quando uma empresa consegue acompanhar uma demanda sazonal, ela entra num cenário de “acelera” e “desacelera” a produção, o que levaria em determinados momentos a “picos” de produção, e em outros, a um “declínio”, podendo até ocasionar ociosidade nesses momentos. Este mesmo autor afirma que se a empresa acumular pedidos por um período e nivelar a produção, ela conseguirá reduzir os leads time de produção, eliminar estoques de peças e oferecer menores prazos aos clientes. Mesmo a produção não se tornando linear, os picos e os declínios passam a ter menor variação, ficando mais previsíveis. É essa menor variação e maior previsibilidade que chamamos de Heijunka. Segundo Liker (2005), existem três “MUs” a serem monitorados durante a produção por não agregarem valor. Estes podem estar conectados e atuar simultaneamente, impactando no processo produtivo, já que não agregarem valor. Este mesmo autor os descreve assim: Muda: significa nenhuma agregação de valor. Trata-se de atividades supérfluas que podem aumentar o lead time do processo, como operações suplementares para utilização de peças ou ferramentas, ou mesmo processos de seleção ou inventários de componentes que resultam em alguma forma de espera. Muri: significa solicitar um volume de trabalho de uma pessoa ou máquina além de seus limites. Basicamente significa sobrecarga em colaboradores ou equipamentos. 7 Mura: desnivelamento. Representa uma programação irregular de volume de produção. Muda é resultado de mura. O desnivelamento de produção significa que será necessário ter “em mãos” o equipamento, o material e o pessoal para o mais alto nível de produção, mesmo se as exigências normais forem muito menores. 2.1.3 Kaizen Kaizen é uma palavra de origem japonesa que significa “melhoramento ou melhoria incremental e contínua”, cujo objetivo é eliminar perdas. Existem dois tipos: o de manutenção e o de melhoria. O de manutenção é o processo de prevenir ou impedir que o inesperado aconteça. O kaizen de manutenção reage aos inevitáveis enganos, acidentes, mudanças ou variações que acontecem na vida diária, a fim de atingir o padrão (produtividade, qualidade, segurança) esperado. O kaizen de melhoria não envolve apenas manter padrões, mas também elevar o nível dos desafios. Mais uma vez, faz parte da cultura Toyota a ideia de que a meta é a perfeição e que, portanto, cada processo sempre pode ser melhorado (Petenate, 2018). O kaizen está pautado nas atividades de melhoria nos processos. Formado por kai (“mudança”) e zen (“melhor”), o nome em japonês significa “melhoria contínua”. Segundo Womack e Jones (1998), pode-se dar autonomia aos funcionários para realizar pequenos reparos, controle da qualidade visual e, inclusive, reservar horários para que a equipe sugira medidas para melhorar o processo. 2.1.4 Estabilidade De forma muito simples, pode-se dizer que estabilidade implica previsibilidade geral e disponibilidade constante em relação aos 4Ms (mão de obra, máquinas, materiais e métodos). Sem esses itens fundamentais, como disponibilidade de máquinas e recursos humanos adequados, não se pode operar uma linha de produção e obter fluxo perfeito em ritmo (Smalley, 2018). 8 TEMA 3 – FERRAMENTAS LEAN 3.1 Mapeamento de fluxo de valor Rother e Shook (2003, p. 4) consideram o mapeamento de fluxo de valor uma ferramenta necessária para auxiliar no processo de entender e “enxergar” o fluxo, possibilitando identificar não somente os desperdícios, mas também as fontes de desperdício, na medida em que o produto segue o fluxo de valor desde o fornecedor até ao consumidor. O que se busca pela análise do fluxo de valor é a obtenção de um fluxo contínuo, orientado pelas necessidades dos clientes, desde a matéria-prima até ao produto final. O processo inicial do mapeamento é uma etapa crítica, pois é a partir dela que se aplicam as técnicas Lean. O mapeamento inicia-se com o levantamento do estado atual; logo após, é projetado um estado futuro, considerando os princípios Lean. A próxima etapa é criar um plano de implementação para atingir o estado futuro (Pithon, 2015). 3.2 5S As atividades de 5S tiveram início no Japão, logo após a Segunda Guerra Mundial, para combater a sujeira das fábricas, tendo sido formalmente lançada no Brasil em 1991, pela Fundação Christiano Ottoni. No início de sua aplicação, apenas os três primeiros “S” eram abordados, incorporados depois o quarto e o quinto. A técnica de melhoria tem o seu significado em cinco expressões japonesas: seiri (senso de utilização), seiton (senso de ordenação), seiso (senso de limpeza), seiketsu (senso de saúde), shitsuke (senso de autodisciplina) (Programa Sol, 2018). 3.3 Fluxo contínuo O fluxo contínuo é também conhecido por fluxo de uma peça ou fluxo de uma só peça, em que cada item é passado para o estágio seguinte sem paradas ou desperdícios – daí o nome “contínuo” –, de modo que, onde seja possível, esse fluxo deve ser desenvolvido (Rother; Shook, 2003, p. 45). 9 3.4 Kanban Segundo Shingo (1996, p. 212) o sistema kanban foi inspirado em supermercados, nos quais os consumidores escolhem suas mercadorias e levam suas próprias compras, repondo somente o que é consumido. Este mesmo autor afirma que kanban é uma ferramenta que controla a produção por meio do uso de cartões, como etiqueta de identificação – que indica o que é o produto –, etiqueta de instrução de tarefa – que indica o que deve ser feito, tempos e quantidades –, etiqueta de transferência – que indica de onde e para onde deve ocorrer o transporte. O objetivo do kanban é reduzir os estoques em processo, produzindo somente o necessário, na hora certa e com qualidade. 3.5 Gestão visual Para Dennis (2008, p. 47), o conceito de gerenciamento visual é dar um exemplo real das boas condições e das más condições, sempre no ponto de uso, pois no sistema Lean os padrões estão sempre ligados à ação. Para este autor, o local de trabalho deve ser autoexplicativo, auto-organizativo e automelhorável, pois assim uma situação fora do padrão fica imediatamente evidenciada, facilitando sua correção. 3.6 Total Productive Maintenance –TPM (Manutenção Produtiva Total) A TPM é muito mais do que fazer manutenção. É uma filosofia gerencial que atua na forma organizacional, no comportamento das pessoas sobre como tratam os problemas, não somente os de manutenção, mas todos os ligados ao processo produtivo, pois gera um comprometimento dos colaboradores pelo fato de todos se sentirem partes integrantes do processo. A TPM apoia-se em três princípios fundamentais (Martins, 2018): melhoria das pessoas; melhorias dos equipamentos; qualidade total. A TPM, além de maximizar a utilização das máquinas e equipamentos, ainda capacita os colaboradores a agirem preventivamente. 10 3.7 Poka yoke Dennis (2008, p. 112) menciona que poka significa “erro inadvertido” e yoke significa “prevenção”. Portanto, poka yoke está relacionado a dispositivos à prova de erros que detectem situações anormais antes que aconteçam ou que, caso aconteçam, ajam de modo a parar a linha de produção para evitar defeitos. Esses dispositivos devem ser simples e de baixo custo. TEMA 4 – LEAN MANFACTURING FORA DO AMBIENTE DE PRODUÇÃO O Lean originalmente nasceu na indústria automotiva e aos poucos foi sendo propagadopara outros setores industriais. A novidade é que recentemente essa filosofia vem sendo aplicada ao setor de serviços, tais como escritórios, hospitais, construção, transportes etc. A ideia de tornar também enxutos os processos administrativos vem sendo aceita por empresas no Brasil e no mundo. Porém, a migração desses conceitos da área fabril para o escritório não é tão simples (Oliveira, 2018). Conforme Tapping e Shuker (2010, p. 1), deve-se começar a implementação – tal qual na indústria – com o processo de gerenciamento de fluxo de valor, para que seja feita de maneira estruturada e comprovada, de forma que seja possível planejar as melhorias as quais permitirão que a empresa se torne Lean. O mapa de fluxo de valor adaptado ao ambiente administrativo tem o foco no fluxo de informações voltado ao planejamento e à conexão dos princípios Lean para se atingir o estado futuro, considerando a captação ordenada de dados e sua análise, resultando na redução de custo por meio da eliminação de desperdícios e na criação de fluxos suaves de informação e trabalho. Elementos Lean cruciais não estão normalmente presentes nas áreas administrativas, mas são fundamentais para criar uma empresa Lean autêntica. Caso contrário, será apenas um sistema superficial. Para que isso aconteça, deve-se aprender sobre as ferramentas e os métodos Lean e sobre como integrá- los (Tapping; Shuker, 2010, p. 2). Segundo Greef, Freitas e Romanel (2012, p. 172), a base do Lean office “consiste em melhor gerenciar o trabalho de forma a atender ao cliente no menor tempo possível, com a maior qualidade e com o menor desperdício de recursos, gerando baixos custos”. 11 TEMA 5 – ESTUDO DE CASO Leitura complementar A concessionária de equipamentos da linha pesada de construção tem como sede a cidade de Contagem – MG. Fundada em 1967, possui diversas filiais espalhadas por nove estados brasileiros, sendo eles Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Pará, Amapá, Amazonas, Roraima, Goiás, Distrito Federal e Tocantins, dentre elas a unidade de Ribeirão Preto – SP (local onde foi realizado o estudo). A principal atuação da empresa é possuir parcerias com diversas marcas (montadoras) de diversos ramos, com a principal atuação no setor de equipamentos de construção pesada. Atuando na venda e pós-vendas dessas marcas, garantindo a empresa como mão de obra autorizada pelas montadoras, grande e notório diferencial, visto que seus concorrentes passam a ser as demais empresas que prestam serviço a clientes compradores desses equipamentos, essas sem o “selo” de autorização das fabricantes, o que interesse a questão da garantia dos equipamentos. Sendo assim, uma empresa com essas características, obviamente, os serviços que a mesma designa aos clientes, acaba projetando a sua imagem, podendo ser boa ou ruim. Em sumo, a forma e a qualidade com que a empresa apresenta o seu produto, neste caso sendo exposta como serviços, tornam-se fundamentais para o sucesso dentro deste mercado. Na unidade de Ribeirão Preto – SP, pode-se destacar como principais clientes as usinas de cana-de-açúcar, empresas de terraplanagem, prefeituras e construção civil. Cada uma delas utiliza o equipamento para determinado fim, e cabe a empresa estar presente para garantir o bom funcionamento do equipamento adquirido. Todas essas informações culminam, portanto, em tese para uma atenção especial sobre o processo que este serviço leva até chegar ao cliente. Em específicos na unidade de Ribeirão Preto – SP, foram analisados o processo de pós-venda prestado pela mesma, que atende toda a região de Ribeirão Preto a São José do Rio Preto, cujo desempenho vem sendo questionado por gerência e diretoria. Com uma demanda de atendimentos, seja eles de garantia ou não, chegam a trinta solicitações/dia no escritório, via telefone, e-mail ou presencial. Essas solicitações de serviço, podem ser de garantia (módulo em que a Montadora paga a mão de obra e não o cliente), clientes (quando os equipamentos já se encontram fora de garantia) e contratos firmados (onde o cliente paga antecipadamente períodos estipulados de serviços, assim cabe às 12 unidades espalhadas atenderem os equipamentos, incluindo peças e mão de obra). Especificamente nesta unidade, onde não existe oficina, somente se trata de um escritório, onde os atendimentos são realizados em campo, ou seja, são disponibilizados mecânicos removidos onde o equipamento estiver, e assim, realizar a manutenção no mesmo. Esta modalidade de atendimento requer uma equipe muito bem treinada e capacitada, visto que o profissional não possui o suporte que uma oficina pode lhe trazer, incluindo a disponibilidade de peças que eventualmente sejam necessárias em uma manutenção. Fica a cargo dos programadores (consultor de serviço), agendarem os atendimentos diariamente, e proporcionarem a melhor condição de trabalhado aos mecânicos. Quando é necessária alguma peça no atendimento, este solicita a unidade mais próxima que possua oficina e consequentemente um estoque de peças, para que sejam enviadas via transportadora e os mecânicos façam a retirada e sigam ao atendimento. Esse processo possui alto custo e baixa flexibilidade, dificultando diariamente os atendimentos. A possibilidade mais cabível e com certeza a que traria maior resultado em curto prazo seria a construção da unidade com oficina em Ribeirão Preto – SP, porém a diretoria fortemente informa não ser possível neste momento, devidos a oscilações que o mercado apresenta e a falta de investimentos no momento para tal. O lead time encontrado é de quatro dias. Possuindo uma quantidade de trabalhos em vinte processos e um índice médio de conclusão do serviço de cinco por dia, tem-se então o valor encontrado. Sendo assim, passa-se a medir esforços tanto para a redução de trabalhos em processos quanto o aumento de saídas dos processos concluídos. Este último, viável apenas para o caso em questão, visto que os trabalhos em processos se tratam de pessoas aguardando atendimentos para seus equipamentos. Atualmente, o quadro de mecânicos para a unidade está em doze profissionais, os quais apenas sete possuem veículo e ferramentas para os atendimentos, portanto, cinco desses são auxiliares para serviços mais pesados e que demandem de maior esforço e tempo. A análise feita mostra que os profissionais perdem muito tempo com retrabalho (quando o mesmo tem que retornar outro dia para concluir o serviço inacabado) e peças incorretas (enviadas pela outra unidade detentora das peças). Assim, a eficiência ao fim do período fica bastante prejudicada. Havia muitos problemas com a recorrente movimentação de determinadas ferramentas especiais que possuem alto custo. Avaria, perda, até mesmo a 13 justificativa “não fui eu que peguei” pode ser constatado nas abordagens aos mecânicos. A falta destas em determinados atendimentos culminam no insucesso do mesmo, fazendo com que os mecânicos tenham de voltar para terminar o serviço, onde deveria ser feito da primeira vez. Disponível em: <http://www.saepro.ufv.br/wp-content/uploads/2013.11.pdf>. Acesso em: 23 maio 2018. FINALIZANDO Atender aos anseios do cliente em um ambiente tão competitivo não é tarefa fácil, já que se faz necessário aliar a satisfação do cliente a baixos custos sem perder a qualidade. Associar o pensamento enxuto a metodologias que permitam melhorar os processos, tornando-os mais ágeis e eficientes, faz com que os lucros aumentem por meio da redução de desperdícios. É possível verificar que a aplicação das ferramentas é orientada para a redução de perdas, que é o que propaga o Lean Manufacturing, aumentando a eficiência do sistema, reduzindo custos, garantindo maior produtividade, melhoria na qualidade dos produtos, evidência dos pontos fracos e prioritários para mudanças e maior lucratividade.Porém, o grande segredo para o sucesso do Lean é o envolvimento das pessoas e o comprometimento em entender e aceitar essa filosofia. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica Construindo o Lean Desde que foi idealizado por Taiichi Ohno lá na década de 1940, o Sistema Toyota de Produção (STP) já era pautado em dois pilares de sustentação: jidoka e Just in Time. Desde então, diversas empresas vêm utilizando essa filosofia buscando alavancar um processo de excelência por toda a organização. Shingo (1996, p. 133) descreve o Just in Time como: “produzir peças ou produtos exatamente na quantidade requerida, apenas quando são necessários, e não antes disso”. Jidoka também é conhecido como automação com um toque humano (Ohno, 1997, p. 27). Este autor também definia esse pilar como “dar inteligência à máquina”. 14 Elementos fundamentais no sistema Lean, esses dois pilares aliados às ferramentas de sustentação dão suporte para que esse modelo de sistema seja tão eficiente. Recentemente, esse modelo de eficiência deixou de ser uma exclusividade da indústria, passando a ser implementado também em empresas de serviços com adaptações de algumas técnicas utilizadas. No entanto, as premissas de mapear e eliminar os desperdícios e a visão sistêmica dos processos permanecem, independentemente do tipo de empresa em que se deseja implementar o Lean. 15 REFERÊNCIAS DENNIS, P. Produção Lean simplificada. Porto Alegre: Bookman, 2008. LIKER, K. K. O modelo Toyota: 14 princípios de gestão do maior fabricante do mundo. Tradução de Lene Belon Ribeiro. Porto Alegre: Bookman, 2005. MARTINS, R. Manutenção Produtiva Total: TPM (Total Productive Maintenance). Disponível em: <http://www.blogdaqualidade.com.br/manutencao-produtiva-total- tpm-total-productive-maintenance/>. Acesso em: 23 maio 2018. MICHELLIN, A. P. Aplicação de ferramentas Lean service, uma nova mentalidade para serviços: Um estudo de caso em uma concessionária de equipamentos da linha pesada de construção. In: SIMPÓSIO ACADÊMICO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 8., Viçosa. Anais... Viçosa, 2013. Disponível: <http://www.saepro.ufv.br/wp-content/uploads/2013.11.pdf>. Acesso em: 23 maio 2018. OHNO, T. O Sistema Toyota de Produção: além da produção em larga escala. Porto Alegre: Bookman, 1997. OLIVEIRA, J. Escritório enxuto. Disponível em: <https://www.Lean.org.br/ comunidade/artigos/pdf/artigo_57.pdf>. Acesso em: 23 maio 2018. PEREIRA, C. A. dos S. Lean Manufacturing: aplicação do conceito a células de trabalho. 116 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial) – Engenharia, Universidade da Beira Interior, Covilhã, 2010. Disponível em: <https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/1921/1/LEAN%20MANUFACTURING. pdf>. Acesso em: 23 maio 2018. PETENATE, M. A Toyota e o kaizen. Disponível em: <http://www.escolaedti.com.br/a-toyota-e-os-kaizens/>. Acesso em: 23 maio 2018. PITHON, R. As ferramentas do Lean manufacturing: mapeamento do fluxo de valor. Banas Qualidade, São Paulo, ano XIV, ed. 276, p. 88-89, jun. 2015. Disponível em: <http://revistas.banasqualidade.com.br/BQ_276/index.html#88>. Acesso em: 23 maio 2018. PROGRAMA Sol – Segurança, Organização e Limpeza. Disponivel em: <http://revistas.banasqualidade.com.br/PSOL/files/assets/common/downloads/pub lication.pdf>. Acesso em: 23 maio 2018. 16 ROTHER, M.; SHOOK, J. Aprendendo a enxergar: mapeando o fluxo de valor para agregar valor e eliminar o desperdício. The Lean Institute Brasil, São Paulo, 2003. SHINGO, S. O Sistema Toyota de Produção do ponto de vista da Engenharia de Produção. Porto Alegre: Bookman, 1996. SMALLEY, A. Estabilidade é a base para o processo da produção Lean. Disponível em: <https://www.lean.org.br/comunidade/artigos/pdf/artigo_94.pdf>. Acesso em: 23 maio 2018. TAPPING, D.; SHUKER, T. Lean office: gerenciamento de fluxo de valor para áreas administrativas. São Paulo: Leopardo, 2010. VARGAS, R. Lean Manufacturing: reduzindo desperdícios e aumentando a qualidade! Disponível em: <http://gestaoindustrial.com/index.php/industrial/ manufatura/Lean-manufacturing>. Acesso em: 23 maio 2018. VIEIRA, D.; COELHO, P. O sistema Toyota de produção e seus pilares de sustentação no âmbito organizacional: uma abordagem teórica. In: SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 5., Joinville. Anais... Joinville: Even3, 2017. p. 3.099-3.107. Disponível em: <https://even3.azureedge.net/anais/43613.pdf>. Acesso em: 23 maio 2018. WOMACK, J. P.; JONES, D. T. A mentalidade enxuta nas empresas: elimine o desperdício e crie riqueza. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
Compartilhar