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Síndromes no Pós- Operatório SÍNDROME DE REALIMENTAÇÃO Condição com potencial letal que ocorre frequentemente na reintrodução da alimentação em pacientes desnutridos gravemente após períodos longos em jejum (7+ dias). Caracterizada por alterações neurológicas, sintomas respiratórios, arritmia, falência cardíaca e distúrbios eletrolíticos. Decorre da sobrecarga na ingestão calórica e reduzida capacidade do sistema cardiovascular. Grupos de risco Pacientes com marasmo/Kwashiorkor Perda de peso superior a 10% em 2 meses Jejum de 7-10 dias Pacientes alcoólatras crônicos, oncológicos ou anoréxicos (todos têm em comum a desnutrição). Fisiopatologia Consequências metabólicas: hipofosfatemia severa, hipocalemia, hipomagnesemia, alterações no balanço hídrico e na glicose, deficiências vitamínicas (B1, B12). No jejum prolongado a secreção de insulina é diminuída e as concentrações de glucagon são aumentadas, fazendo com que os estoques de gordura e proteínas sejam envolvidos na produção energética resultando em perda de massa corporal e perda intracelular dos eletrólitos, principalmente do fosfato. Nesse quadro, a principal fonte de energia das células do corpo são os aminoácidos, corpos cetônicos e AG livres, mas sabe-se que o fornecedor de energia ideal é a glicose. No início da realimentação desloca-se o metabolismo lipídico ao glicídico com aumento da secreção de insulina e passagem de íons (fosfato, magnésio, glicose e água) para o meio intracelular, podendo resultar em distúrbios metabólicos e hidroeletrolíticos. Essas anormalidades podem causar perda de peso e excreção urinária de sódio, gerando balanço negativo de sódio. Dietoterapia Energia – iniciar com 1000Kcal/dia ou 20Kcal/kg ou 25% das NNE, avançando de 3 a 5 dias para o valor total Proteína – 1,2 a 1,5g/kg (PI na DEP ou PA na obesidade) Lipídeos – até 3,8g/kg ✓ Antes de iniciar a realimentação os distúrbios eletrolíticos devem ser corrigidos e o volume circulatório cuidadosamente reestabelecido; ✓ A glicose plasmática e os eletrólitos urinários e plasmáticos, principalmente sódio, potássio, fosfato e magnésio, devem ser monitorados antes e durante a realimentação, por pelo menos 4 dias; ✓ Uma dieta hiperglicídica pode aumentar a produção de lipídios no fígado, podendo gerar uma esteatose hepática já que o órgão estava desacostumado a exercer tal função; ✓ Corrigir a deficiência de vitaminas e elementos traços. Tiamina (B1) intravenosa antes da realimentação pode ser benéfico para evitar distúrbios encefálicos, até que o paciente tolere a dose oral sugerida. Alguns clínicos indicam suplementação de folato; ✓ Para tratamento da hipomagnesemia recomenda-se a administração oral de sais de magnésio. Em casos de má absorção ou distúrbios gastrointestinais utilizar reposição venosa com sulfato e magnésio; ✓ A infusão contínua intravenosa e a ingestão dietética de glicídios podem atenuar o balanço negativo de nitrogênio, gerar uma diurese osmótica, e ainda causar hiperglicemia; ✓ A administração de lipídios não deve exceder para evitar alterações na função hepática e outras alterações sistêmicas. SÍNDROME DE DUMPING Ou síndrome do esvaziamento gástrico rápido; é uma resposta gastrointestinal e vasomotora à presença de grandes quantidades de alimentos na porção proximal do intestino delgado. Pode ocorrer em: Gastrectomias totais ou parciais manipulação do piloro Fundoplicatura Vagotomia / Danos ao nervo vago Alguns procedimentos de derivação gástrica. Entre as crianças, a principal causa da síndrome de Dumping é devido ao tratamento cirúrgico de DRGE. Fisiopatologia A presença súbita desses nutrientes na porção proximal do intestino delgado tem como resposta fisiológica a liberação de líquido extracelular, de enteroglucacon, bradicina e serotonina, levando aos sintomas iniciais em até 30 minutos e os sintomas tardios em 90 minutos a 3 horas devido à alta secreção de insulina, causando hipoglicemia mais tardiamente. Sinais/sintomas INICIAIS TARDIOS Náuseas Vômitos Transpiração Diarreias Fadiga Tremor Hipotensão arterial Necessidade de deitar Dificuldade de concentrar Tontura Taquicardia Perda de consciência Rubor Calor Irritabilidade Sudorese Palpitação Taquicardia Cólica Inchaço Hipoglicemia Sensação de saciedade Plenitude gástrica Cefaleia Borgorigmo Diagnóstico Teste oral de tolerância à glicose São administrados 50g de glicose com água e avaliado a glicemia, hematócrito e pulsação durante três horas em intervalos de 30 minutos. Para que o resultado seja declarado positivo, o paciente deve apresentar hiperglicemia inicial e uma posterior hipoglicemia, elevação do hematócrito em mais de 3% e aumento na taxa inicial de pulsação (maior que 10bpm). Questionários Em casos de ausência de recursos bioquímicos a serem avaliados, dois questionários podem ser implementados para auxiliar no diagnóstico. Sistema de Pontuação de Sigstad → as pontuações maiores ou equivalentes a 7 após a ingestão de glicose são considerados de positividade diagnóstica. Quanto maior o escore, maior a queda apresentada pelo volume plasmático. Escore de Arts → avalia a gravidade dos sintomas que são apresentados após a ingestão de glicose durante a primeira hora para um diagnóstico precoce e de 1 a 2 horas para dumping tardio. A escala varia de 0 a 3, sendo 0 a indicação de ausência de sintomas e 3 um estado grave. Dietoterapia Fracionamento da dieta (menor volume e maior frequência); Não ingerir líquidos durante a refeição, apenas 2h após as refeições; Uso de aditivos viscosos, como goma guar e pectina, nas refeições com a intenção de diminuir a velocidade com que os nutrientes chegam ao intestino, ou seja, retardar o rápido esvaziamento gástrico. Se essas medidas não obtiverem eficácia, podem ser usados análogos de somatostatina, sendo essa eficaz para todos os sintomas, precoces e tardios (administrado por via intramuscular ou subcutânea). Em casos ainda mais graves, podem ser feitas cirurgias de reconstrução do reservatório gástrico, ser desfeita a operação, ou se possível, inserir uma alça curta antiperistáltica. SÍNDROME DO INTESTINO CURTO Capacidade absortiva inadequada decorrente da redução do comprimento ou diminuição do intestino funcional depois de ressecção cirúrgica, defeitos congênitos ou doenças. Diferentes graus de má absorção variam de acordo com o local e tamanho da região submetida à ressecção e doença residual no intestino que restou. Predomina em ressecções do íleo. Consequências metabólicas Como a maioria dos macronutrientes é digerida no duodeno e no jejuno, a perda dessas porções causa redução temporária na absorção de nutrientes, até que o intestino remanescente possa se adaptar à nova condição. Na ressecção do jejuno pode ocorrer intolerância à lactose, já que boa parte da lactase é produzida no jejuno e no íleo proximal. Na retirada do íleo há importantes consequências nutricionais e metabólicas, e ocorrência de diarreia e esteatorreia, já que nessa área ocorre absorção de sais biliares, lipídios e vitamina B12. No cólon, a ressecção de grandes porções, pode resultar em deficiências de sódio, potássio e água, e também acelerar o trânsito intestinal. O espessamento da parede, dilatação e diminuição da motilidade são mudanças morfológicas e fisiológicas que ocorrem nas partes preservadas com o tempo. Sinais/sintomas Diarreia, esteatorreia, dor abdominal, deficiências nutricionais, desnutrição e desidratação. Dietoterapia Fase inicial (pós operatório) O primeiro objetivo é alcançar o balanço hidroeletrolítico. Depois iniciar a parenteral, preferencialmente em até 24h para evitar a desnutrição, perda de peso e o BN negativo. A NP é administrada, em média de 7 a 10 dias, mas pode durar meses, a depender da situação dopaciente. Terapia intravenosa para reposição de fluidos pode ser necessária em associação a NP, por causa da grande perda nessa fase. Fase de adaptação Com a estabilização do quadro clínico do paciente e perda de fluidos inferior a 2,5L por dia, em associação com a NP, a enteral é iniciada. Deve ter administração contínua, e, inicialmente, suprir 5% do VET, progredindo nos próximos 3 a 7 dias. Com a melhora da adaptação intestinal, a NE pode ser substituída e fornecida como suplementação à alimentação por via oral. Fase de manutenção ou recuperação A ingestão oral encontra-se parcialmente ou totalmente adequada. Pacientes graves, com grandes ressecções, não atingem essa fase. O consumo de CHOs simples pode aumentar a carga osmótica intestinal e causar diarreia; e para pacientes que apresentam má absorção de TCL, recomenda-se o uso de TCM. A terapia pode incluir administração de glutamina, nucleotídeos, AGCC e GH. É possível uma dieta total por via oral após a nutrição por via parenteral, sendo que a NP é a primeira forma de nutrição, seguida da associação da NP com dieta oral, até a completa reintrodução da dieta oral, sempre com verificação da tolerância individual, fracionamento da dieta e administração em pequenos volumes. Glutamina A glutamina atua no intestino servindo de substrato energético dos enterócitos, preservando a mucosa intestinal e evitando a translocação bacteriana. Estresses metabólicos podem levar a alterações no seu fluxo e concentração no plasma e músculos pois aumenta a demanda por glutamina no fígado, rins, intestino e sistema imune. Traumas grandes e grandes cirurgias são exemplos de situações que podem levar à depleção de glutamina em até 50% do estado normal, o que demora bastante a ser recuperado devido ao recrutamento por tantos órgãos e tecidos. Os benefícios da administração de glutamina nos portadores de SIC incluem a preservação da mucosa intestinal durante a nutrição parenteral, a redução da atrofia jejunal, incentivo à hiperplasia, melhora do balanço nitrogenado e do metabolismo de glutamina na mucosa intestinal após ressecção extensa. Na forma de dipeptídeo ela é solúvel, mais estável e melhor absorvida, sendo a mais indicada para o uso terapêutico. Não existe consenso sobre a dosagem mais indicada, mas a prática hospitalar costuma administrar 30g/dia sempre fracionada (três doses de 10g) e a forma mais indicada de administração é via parenteral, por conta da dificuldade de absorção característica da patologia.
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