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Distúrbios Intestinais 2 ESPRU TROPICAL Síndrome diarreica adquirida notável pela má absorção, ocorrendo em muitas áreas tropicais. Sintomas Além da diarreia e má absorção, pode ocorrer anorexia, distensão abdominal e deficiência nutricional, evidenciada por cegueira noturna, glossite, estomatite, queilose, palidez e edema. A anemia decorre de deficiências de ferro, ácido fólico e vitamina B12. Fisiopatologia A diarreia parece ser do tipo infeccioso, embora não se conheça a causa precisa nem a sequência de eventos patogênicos. A síndrome pode incluir supercrescimento bacteriano, alterações da motilidade GI e alterações celulares no sistema GI. Os microrganismos intestinais identificados podem diferir de uma região dos trópicos para outra. Como na DC, as vilosidades intestinais podem ser anormais, mas as alterações das células da superfície são muito menos intensas. A mucosa gástrica é atrofiada e inflamada, tendo diminuição da secreção de ácido clorídrico e de fator intrínseco. Tratamento Uso de antibióticos de amplo espectro, ácido fólico, líquidos e eletrólitos. Dietoterapia ✓ Restauração e manutenção de líquidos, eletrólitos, macronutrientes e micronutrientes ✓ Introdução de uma dieta apropriada ao grau de má absorção ✓ Pode ser necessária a suplementação com B12 e ácido fólico se for identificada uma deficiência. DOENÇA DIVERTICULAR Diverticulose é a formação de bolsos (divertículos) que se salientam na parede do cólon, tipicamente no sigmóide (no lado esquerdo do abdome). Diverticulite é a inflamação/infecção de uma ou mais dessas estruturas (doença aguda). Fisiopatologia A etiologia ainda não foi claramente elucidada. Os mecanismos fisiopatológicos em evolução na diverticulose e na diverticulite sugerem que inflamação crônica, alterações da microbiota colônica, transtorno da função sensoriomotora colônica e motilidade anormal do cólon têm provavelmente papéis inter-relacionados no desenvolvimento da doença diverticular. As complicações da doença diverticular variam de indolor, sangramento leve e alteração do hábito intestinal à diverticulite. A diverticulite aguda inclui um espectro de inflamação, formação de abscesso, sangramento, obstrução, fístula e sepse por perfuração (ruptura). Tratamento Antibióticos e ajuste da ingestão oral conforme tolerado. Pode ser usado tratamento cirúrgico para pacientes com episódios recorrentes de diverticulite e complicações (hemicolectomia da parte doente, geralmente o cólon descendente ou sigmoide). Dietoterapia Diverticulose ✓ Dieta rica em fibras, conforme recomendação ✓ Evitar comer pipoca, milho, nozes, sementes e outros alimentos com sementes e caroços, como figos, uvas e jabuticabas (as sementes podem ficar presas no interior das bolsas; não foi provado que esta restrição previna a diverticulite, mas muitos profissionais acreditam nesta associação). Para prevenir a formação de divertículos: maior volume de massa fecal no cólon; diminuir a pressão dentro do intestino e reduzir as chances que um divertículo já existente estoure ou inflame. Diverticulite ✓ Exige repouso intestinal total. ✓ Com a regressão da inflamação: dieta de líquidos claros (TN por fórmula enteral ou via parenteral pode ser necessária em desnutridos); ✓ Maioria dos casos: antibióticos e repouso intestinal atenuam os sintomas dentro de 2 a 5 dias; ✓ Progressão de dieta líquidos claros para dieta leve pobre em fibras, com exclusão de nozes, sementes e vegetais fibrosos; ✓ Dieta é restrita em fibras por até 1 mês ou 4 a 6 semanas. Após este período deve ser rica em fibras. MÁ ABSORÇÃO DE FRUTOSE A frutose da dieta existe principalmente sob três formas: (1) o monossacarídeo, (2) sacarose, um dissacarídeo de frutose e glicose, e (3) em cadeias como frutanos. Embora a má absorção de frutose seja comum em pessoas saudáveis, seu aparecimento depende da quantidade de frutose ingerida. A absorção de frutose melhora quando é ingerida com glicose (como na sacarose) porque a absorção de glicose estimula as vias para absorção de frutose. Embora possa ser normal certo grau de má absorção de frutose, aqueles com transtornos GI coexistentes podem ter mais probabilidade de apresentar sintomas GI depois da ingestão de frutose. Os pacientes com SII e hipersensibilidade visceral podem ser mais sensíveis a gases, distensão ou dor pela má absorção de frutose, enquanto aqueles com supercrescimento de bactérias no intestino delgado (SBID) podem apresentar sintomas após quantidades normais de frutose. Dietoterapia ✓ Limitar ou evitar alimentos contendo grandes quantidades de frutose livre (pera, maçã, manga, melancia, cereja, figo, ervilha, mel, suco de fruta concentrado). ✓ A maioria das frutas secas e sucos de frutas pode trazer um problema em quantidades maiores por causa da quantidade de frutose oferecida por porção. O grau de intolerância à frutose e de tolerância aos sintomas da má absorção de frutose são tão variáveis que a ingestão desses alimentos precisa, sem geral, ser individualizada para cada paciente. SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Ou colite espástica, é um distúrbio do intestino grosso na ausência de doença orgânica ou de alterações estruturais macroscópicas do intestino. Não causa inflamação e ocorre principalmente em mulheres. Doença relacionada ao estresse psicológico ou transtornos psicológicos específicos (ansiedade e depressão). História clínica Dor abdominal com constipação e alternando com episódios frequentes de diarreia, ou; Quadro de diarreia indolor (menos comum). Outros sintomas – distensão abdominal, flatulência em excesso, sensação de esvaziamento retal incompleto e dor passageira no reto. Pode ocorrer má absorção de açúcares individuais (lactose, frutose, sorbitol), intolerância ao glúten e exacerbação dos sintomas com ingestão de alimentos específicos (leite, ovo, chocolate, bebidas com cafeína, etc). Diagnóstico O diagnóstico é feito com 3 meses de sintomas contínuos ou recorrentes de dor ou desconforto abdominal; ou pelo menos 2 meses de alterações na frequência de movimentos intestinais (> 3x dia ou <3x semana). Dietoterapia ✓ Alteração da dieta respeitando intolerâncias específicas de cada paciente ✓ Necessária cuidadosa revisão dos hábitos alimentares, orientando uma alimentação mais adequada ✓ Intolerâncias específicas como ao glúten e à lactose devem ser reconhecidas. Uma vez estabelecida a relação entre determinados alimentos e os sintomas, justifica-se a dieta de exclusão ✓ Dieta diminuída em alimentos produtores de gás, sobretudo se há queixa de distensão abdominal ✓ Ingestão de fibras e líquidos na dieta (especialmente para pacientes com constipação predominante) ✓ Em episódios de diarreia ou diarreia predominante: dieta constipante. Dieta FODMAPs É recomendada a dieta pobre em FODMAPs, uma vez que as intolerâncias constatadas estão associadas à presença nos alimentos de alguns carboidratos não digeridos, ou digeridos parcialmente, que formam gases pela ação de bactérias intestinais e que podem causar desconfortos, tais como dores e distensão abdominal, além de diarreia ou constipação intestinal. FODMAP = Fermentável, Oligossacarídeos (FOS e galactanos/galacto-oligossacarídeos – GOS), Dissacarídeos (lactose, sacarose), Monossacarídeos (frutose) e Polióis (açúcares do tipo álcool como sorbitol, manitol, xilitol e maltitol). A intervenção nutricional começa com a eliminação da dieta de todos os alimentos ricos em FODMAPs por um período de experiência de seis a oito semanas. A fase de estimulação começa com lenta reintrodução controlada de uma categoria da dieta com FODMAPs por vez para observar sintomas e identificar os alimentos mais estimulados. As deficiências nutricionais que podem originar-se com a dietapobre em FODMAPs incluem ácido fólico, tiamina e vitamina B6 (por limitação de cereais e pães), bem como de cálcio e vitamina D (por evitar laticínios). FODMAPS Alguns alimentos ricos Excesso de frutose livre *consultar dietoterapia para Má absorção de frutose Lactose Leite, sorvete, queijos, produtos lácteos Oligossacarídeos Frutas: nectarina, caqui, melancia, pêssego Vegetais: chicória, alcachofra, alho, cebola, aspargo Cereais: trigo, cevada, centeio Legumes: feijões, grão-de-bico, lentilha, ervilha, soja Oleaginosas: pistache, castanha de caju Polióis Frutas: maçã, abricó, pera, nectarina, pêssego, ameixa, ameixa seca, melancia, amora preta Verduras: couve-flor, cogumelos, ervilha Adoçantes: sorbitol, manitol, maltitol, xilitol, polidextrose, isomalte FÍSTULAS Uma fístula é uma passagem anormal de um órgão para outro, para a pele ou por uma ferida. Uma fístula enterocutânea (FEC) é uma passagem anormal de uma parte do sistema intestinal para a pele ou uma ferida. Etiologia As fístulas podem ocorrer em qualquer parte do sistema GI, mas frequentemente se desenvolvem no intestino delgado e no grosso. A FEC pode ser classificada de vários modos: por volume de débito por dia causa (cirúrgica vs. espontânea) local de origem número de sistemas fistulares. A cirurgia é responsável pelo maior número de casos de desenvolvimento de FEC e na maioria das vezes se manifesta 7 a 10 dias após a cirurgia. As fístulas do sistema intestinal podem ser sérias ameaças ao estado nutricional porque grandes quantidades de líquidos e eletrólitos são perdidas e pode ocorrer má absorção e sepse. Também pode ser causada por doença inflamatória intestinal, enterite por radiação, isquemia intestinal ou doença diverticular. Tratamento clínico Fistulografia é o padrão-ouro para identificar a localização e o trajeto do sistema fistuloso. O equilíbrio hidroeletrolítico precisa ser restaurado, a infecção precisa ser controlada e pode ser necessário suporte nutricional agressivo para permitir o fechamento espontâneo ou manter o estado nutricional ideal antes do fechamento cirúrgico. Dietoterapia No tratamento inicial, o paciente pode ser mantido em jejum absoluto, pois o débito da fístula é quantificado e se administra terapia nutricional durante a fase inicial da investigação. NP, alimentação por sonda, dieta oral ou uma combinação são procedimentos utilizados em pacientes com FEC. A decisão referente à via de alimentação dos pacientes com FEC depende de vários fatores, inclusive da origem da fístula, presença de obstruções ou abscessos, comprimento de intestino funcional, probabilidade de fechamento da fístula, capacidade de lidar com o débito da fístula e condição clínica geral do paciente. DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL Os dois principais tipos de DII são a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa (RCU). Doença de Crohn Doença inflamatória intestinal caracterizada por inflamação intestinal de caráter crônico e recidivante, do tipo granulomatoso. Pode comprometer qualquer segmento do TGI, mas, caracteristicamente, acomete, de forma isolada ou não, o íleo terminal. Há alternância de segmentos afetados com outros macroscopicamente sadios. Retocolite Ulcerativa (RCU) Doença inflamatória que acomete a mucosa e submucosa do intestino grosso, atingindo principalmente os segmentos distais. Inicia-se geralmente na região retossigmoidiana, podendo progredir, sempre em continuidade, em direção proximal. Pode acometer todo o cólon e, em 10% dos casos, o íleo terminal. O início da DII ocorre mais frequentemente em pacientes com 15 a 30 anos de idade, mas algumas vezes ocorre mais tarde na idade adulta. A DII ocorre mais comumente em áreas desenvolvidas do mundo, em ambientes urbanos, comparados aos rurais, e no hemisfério norte, em comparação com o sul. As razões para o aumento do risco não foram ainda esclarecidas, mas provavelmente se relacionam com o aumento do estado inflamatório e proliferativo e fatores nutricionais que o afetam. Em ambos os tipos de DII, o risco de aumento das doenças malignas aumenta com a duração da doença. Embora possa ocorrer desnutrição em ambos os tipos de DII, é mais uma preocupação para a vida toda em pacientes com doença de Crohn. Etiologia A causa da DII não foi ainda inteiramente compreendida, mas envolve a interação do sistema imunológico GI e fatores genéticos e ambientais (microrganismos residentes e transitórios no sistema GI e nos componentes da dieta). Fisiopatologia Na doença de Crohn, segmentos de intestino inflamado podem ser separados por segmentos saudáveis, enquanto na RCU o processo patológico é contínuo. A reação inflamatória resulta em dano do tecido GI. Os mecanismos regulatórios são defeituosos ou os fatores que perpetuam as reações imunes e de fase aguda são potencializados, levando à fibrose tecidual e destruição. A evolução clínica da doença pode ser leve e episódica ou intensa e sem remissão. RCU DC Apresentação Diarreia c/ sangue Dor abdominal (65%), doença perianal, massa no abdome Doença macroscópica Reto sempre envolvido; move-se continuamente em direção proximal; parede fina; poucos estreitamentos; ulceração difusa Reto pode não estar envolvido; pode ocorrer em qualquer parte; lesões saltadas; parede espessa; estreitamentos comuns; aspecto em pedras de calçamento Histopatologia Ausência de granulomas; pouca inflamação; Granulomas; mais inflamação; úlceras rasas; fibrose úlceras profundas; pseudopólipos; abscessos nas criptas Manifestações extraintestinais Colangite esclerosante, piodermite gangrenosa Eritema nodoso, poliartrite migratória, cálculos biliares Complicações Megacólon, câncer Má absorção, câncer, estreitamentos ou fístulas, doença perianal Tratamento Os agentes clínicos mais efetivos incluem corticosteroides, anti-inflamatórios, imunossupressores, antibióticos e antagonistas monoclonais do fator de necrose tumoral (anti-TNF – agentes que inativam uma das citocinas inflamatórias primárias). Na doença de Crohn, a cirurgia pode ser necessária para reparar estenoses ou remover partes do intestino quando o tratamento clínico falha. Com a RCU, cerca de 20% dos pacientes passam por colectomia e remoção do cólon, e isso resolve a doença. Dietoterapia Objetivos: induzir e manter a remissão; melhorar o estado nutricional. Energia – 25-30 kcal ou Harris Benedict c/ FI= 1,75 Normoglicídica Hipolipídica (< 20% VET) Hiperproteica – 1,2 a 1,5 g/kg na fase aguda 1 a 2g/kg na fase de remissão (desnutrido) Suplementar – B12, C, E, B6, Mg, Fe, Ca, Folato, Zn, Cu, Se Fibras – ↑ solúveis e ↓ insolúveis (fase aguda) ↑ insolúveis (fase de remissão) C o n se g u e a ti n g ir 6 0 % d as n e ce ss id ad e s p o r V O ? Sim Dieta polimérica por VO Não TNE TNP nos casos em que a TNE não seja possível ✓ Nutrição parenteral é usada nos casos de fístulas de alto débito, estenoses graves, megacólon tóxico, perfuração intestinal, sepse intra abdominal, etc. ✓ Nutrição enteral padrão (polimérica, com teor moderado de gordura) é recomendada para TN primária ou de suporte na DII em fase ativa ✓ Fórmulas enterais enriquecidas com TGF- (fator de crescimento transformador B2) não são recomendadas pela falta de evidência científica sobre os benefícios (é um polipeptídio encontrado normalmente no leite, capaz de enriquecer a dieta enteral em razão de sua ação em modular a imunidade intestinal, uma vez que antagoniza o TNF-alfa). ✓ Na fase aguda, evitar leite e derivados, e “excesso” de sacarose e de fibras, pelo risco de fermentação abundante e piora da diarreia ✓ Na melhora da fase aguda, proceder ao retorno da dieta normal, balanceada,saudável, sem grandes restrições.
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