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RESUMO OAB ECA

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ECA - OAB/RJ | Yasmim Martins de Magalhães | 2021.1
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – OAB/RJ	
	CONTEÚDO
	1. Direito à convivência familiar e comunitária;
	2. Prevenção especial;
	3. Direito infracional;
	4. Acesso à justiça;
1. DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA.
A convivência familiar e comunitária é um direito fundamental de crianças e adolescentes garantido pela Constituição Federal (artigo 227) e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Em seu artigo 19, o ECA estabelece que toda criança e adolescente tem direito a ser criado e educado por sua família e, na falta desta, por família substituta.
O direito à convivência familiar e comunitária é tão importante quanto o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito e à liberdade. A nossa constituição diz que a “família é a base da sociedade” (art. 226) e que compete a ela, ao Estado, à sociedade em geral e às comunidades “assegurar à criança e ao adolescente o exercício de seus direitos fundamentais” (art. 227).
O §8º do artigo 226 da CF também determina que o Estado deve dar assistência aos membros da família e impedir a violência dentro dela. O artigo 229 diz que “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”.
Quando a família, ao invés de proteger a criança e o adolescente, viola seus direitos, uma das medidas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo 101) para impedir a violência e a negligência contra eles é o abrigamento em instituição. Esta decisão é aplicada pelo Conselho Tutelar por determinação judicial e implica na suspensão temporária do poder familiar sobre crianças e adolescentes em situação de risco e no afastamento deles de casa.
 
De acordo com os artigos 22 e 24 do Estatuto, a medida extrema de suspensão do poder familiar deve ser aplicada apenas nos casos em que, injustificadamente, os pais ou responsáveis deixarem de cumprir os deveres de sustentar e proteger seus filhos, em que as crianças e adolescentes forem submetidos a abusos ou maus tratos ou devido ao descumprimento de determinações judiciais.
O acolhimento institucional deve ser uma medida excepcional e provisória e o ECA obriga que se assegure a “preservação dos vínculos familiares e a integração em família substituta quando esgotados os recursos de manutenção na família de origem” (artigos 92 e 100). Nesta hipótese, a lei manda que a colocação em família substituta se dê em definitivo, por meio da adoção ou, provisoriamente, via tutela ou guarda (artigos 28 a 52 do ECA), sempre por decisão judicial.
I. Decisão de abrigamento exige diagnóstico técnico
Com exceção de situações de emergência, a decisão de afastar a criança ou o adolescente da sua família de origem deve ser baseada em uma recomendação técnica, a partir de um diagnóstico elaborado por equipe qualificada de psicólogo, assistente social e em articulação com a Justiça da Infância e da Juventude e o Ministério Público.
O diagnóstico deve incluir uma avaliação dos riscos que a criança ou o adolescente corre, levar em conta sua segurança, seu bem-estar, cuidado e desenvolvimento a longo prazo e as condições da família para superar as violações e dar-lhe proteção.
A análise deve incluir todas as pessoas envolvidas, inclusive a criança ou adolescente, pois a decisão pelo afastamento do convívio familiar é extremamente séria e terá profundas implicações, tanto para a criança quanto para a família. Portanto, deve ser aplicada apenas quando representar o melhor interesse da criança ou do adolescente e o menor prejuízo ao seu processo de desenvolvimento.
Antes de se encaminhar a criança ou adolescente para um abrigo, é preciso verificar se entre os parentes ou na comunidade há pessoas que lhe tenham afeto e queiram se responsabilizar pelos seus cuidados e proteção. Nos casos de violência física, abuso sexual ou outras formas de violência intrafamiliar, a medida prevista no art. 130 do ECA – afastamento do agressor da moradia comum - deve sempre ser considerada antes de se recorrer ao encaminhamento para serviço de acolhimento.
II. Ministério Público fiscaliza abrigos
 
Entre as missões do Ministério Público, está a de fiscalizar as condições de funcionamento dos abrigos. O Conselho Nacional do Ministério Público baixou a Resolução nº 71, de 15 de junho de 2011,  que dispõe sobre a atuação dos membros do Ministério Público na defesa do direito fundamental à convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes em acolhimento. No §3º do artigo 2º, a resolução estabelece que “no mês de março de cada ano, será elaborado minucioso relatório anual sobre as condições das entidades de acolhimento institucional e programas de acolhimento familiar, mediante o preenchimento dos formulários que integram a presente Resolução”.
2. PREVENÇÃO ESPECIAL
Como não poderia ser diferente, a Lei estipula que é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente (Art. 70).
Assim, tanto as pessoas encarregadas, por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão ou ocupação, do cuidado, assistência ou guarda de crianças e adolescentes quanto as entidades, públicas e privadas são responsáveis pela comunicação de possíveis maus-tratos (Art. 70-B).
Nesse sentido, vejamos as principais ações dos entes para coibir o uso de castigo físico ou de tratamento cruel na educação de crianças e de adolescentes (Art. 70-A).
Principais ações dos entes
· I – a promoção de campanhas educativas permanentes para a divulgação do direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos; 
· II – a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública, com o Conselho Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e com as entidades não governamentais que atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente; 
· III – a formação continuada e a capacitação dos profissionais de saúde, educação e assistência social e dos demais agentes que atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente para o desenvolvimento das competências necessárias à prevenção, à identificação de evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento de todas as formas de violência contra a criança e o adolescente; 
· IV – o apoio e o incentivo às práticas de resolução pacífica de conflitos que envolvam violência contra a criança e o adolescente; 
· V – a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem a garantir os direitos da criança e do adolescente, desde a atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e responsáveis com o objetivo de promover a informação, a reflexão, o debate e a orientação sobre alternativas ao uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante no processo educativo; 
· VI – a promoção de espaços intersetoriais locais para a articulação de ações e a elaboração de planos de atuação conjunta focados nas famílias em situação de violência, com participação de profissionais de saúde, de assistência social e de educação e de órgãos de promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente. 
I. Da Prevenção Especial
Veremos agora a prevenção relacionada à informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões e Espetáculos.
I.I. Espetáculos
O poder público regulará as diversões e espetáculos públicos, informando sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada (Art. 74)
Os responsáveis pelas diversões e espetáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de classificação (Art. 74,§u).
Assim, vejamos as infrações administrativas estipuladas no ECA.
  Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de classificação:
 Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer representações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade a que não se recomendem:
I.II. Emissoras de rádio e televisão
Seguindo, as emissoras de rádio e televisão deverão exibir conteúdo compatível no horário recomendado para o público infanto juvenil, devendo conter a classificação (Art. 76).
O descumprimento enseja em infração administrativa.
 Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo sem aviso de sua classificação.  
Obs. Além da multa, poderá ocorre a suspensão do programa.
I.III. Venda ou aluguel de fitas
Ainda que esteja praticamente em desuso, também há previsão para que os responsáveis por venda ou aluguel de fitas observem a venda ou locação com a devida classificação (Art. 77), no caso de desobediência, geraria também uma infração administrativa (Art. 256).
I.IV. Revistas e publicações
No caso de revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes, deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo (Art. 78)
Crime muito importante é o que esse refere à pornográfica. Vejamos.
Art. 241-A.  Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: 
§ 1 o Nas mesmas penas incorre quem: 
I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo; 
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo. 
Outra informação importante é a competência de julgamento pelo crime do artigo Art. 241-A quando realizado por meio de “WhatsApp” e chat no “Facebook”, nesse sentido, houveram julgados (CC 150.564-MG e RE 628.624/MG) que decidiram basicamente o seguinte:
· Regra -> Justiça Estadual
· Evidenciada a transnacionalidade do delito -> Justiça Federal
Resumo da Lei 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente – P3
I.V. Casas de jogos
Além do mais, não é permitido a entrada de crianças e adolescentes em locais que explorem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas, ainda que eventualmente, à luz dos artigos 80 e 258.
3. DIREITO INFRACIONAL
Conforme previsto pelo ECA, há duas possibilidades de apreensão do menor infrator, por ordem judicial com encaminhamento imediato à autoridade judiciária, ou em flagrante, no ato da infração, devendo ser encaminhado à autoridade policial. Vejamos:
Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo único, e 107, deverá:
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o adolescente;
II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
III - requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da materialidade e autoria da infração.
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de ocorrência circunstanciada.  
Para que o adolescente seja liberado, é necessário o comparecimento de um dos pais ou o responsável pelo menor. O mesmo assina um termo de compromisso e responsabilidade, se comprometendo a se apresentar ao representante do Ministério Público, se for o caso, no mesmo dia, ou no próximo dia útil. Para as infrações mais graves, ele deverá ser internado para garantir não só a ordem pública, mas a sua própria segurança.
Após a apresentação do adolescente ao representante do ministério Público, haverá a oitiva do adolescente, pais, vítima e possíveis testemunhas. (Art. 179 do ECA) Cabe ao Ministério Público arquivar os autos, conceder remissão ou solicitar a autoridade judiciária pela aplicação de uma das medidas socioeducativas previstas no Estatuto. (art. 180 do ECA)
I. MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
São medidas aplicadas aos adolescentes que cometem atos infracionais, com caráter educativo. Os jovens de 12 a 18 anos são as que recebem essas medidas. Em alguns casos excepcionais as medidas podem se estender até os 21 anos incompletos. Quem aplica essa medida é o Juiz da Infância e da Juventude.
As medidas são as seguintes: Advertência, prevista no artigo 115 do ECA, que se trata de uma advertência com o intuito de demonstrar ao adolescente quais as consequências se vierem a cometer uma nova infração.
Temos a obrigação de reparar o dano, no artigo 116 do respectivo estatuto, que prevê o ressarcimento do dano econômico causado pelo adolescente.  A prestação de serviços à comunidade, que são tarefas que o menor irá fazer gratuitamente em prol da comunidade. O período é de até 08 (oito) horas semanais e 06 (seis) meses.
A liberdade assistida, presente no artigo 118 e 119, é a orientação, auxílio e o acompanhamento do adolescente por até 06 (seis) meses, focando na educação, cultura, esporte, saúde e profissionalização. O artigo 120 trata da semiliberdade, essa é uma medida em que ocorre restrição de liberdade. O menor poderá passar o fim se semana em casa e durante a semana é possível realizar algumas atividades externas voltadas à profissionalização e escolarização.
Finalmente chegamos à internação, tratada no artigo 121 a 125 do ECA. É uma medida privativa da liberdade. Essa internação tem que respeitas alguns princípios, tais como: excepcionalidade, brevidade e o respeito à condição do adolescente de pessoa em desenvolvimento.
Estas medidas são progressivas, podendo ser aplicadas cumulativamente e isoladamente. Sendo que podem ser substituídas a qualquer tempo. Aos menores de 12 anos, as medidas são diferentes, como consta no artigo 101 do Eca:
I – encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III – matricula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
IV – inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;
V – requisição de tratamento médico, psicólogo ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
VI – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxilio, orientação e tratamento à alcoólatras e toxicômanos.
É necessário que antes de aplicar tais medidas, seja analisado contexto social do adolescente com as condições econômicas e sociais em que ele vive.
II. CRÍTICAS ÀS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Em uma pesquisa divulgada pelo Conselho Nacional de Justiça, em Cuiabá, ficou comprovado que cerca de 71% dos jovens que cumpriram medidas socioeducativas voltaram a cometer novos atos infracionais. Um levantamento feito pela Polícia Judiciária Civil divulgou que de cada dez jovens apreendidos, cerca de seis são reincidentes. O Promotor de Justiça, Sr. Marcelo Ferraz Volpato afirma que a reincidência na medida de internação é de cerca de 80%, enquanto as outras medidas que trabalham com o lado social tem um quadro menor de reincidência. Ele enumera que um dos fatores é a superlotação das unidades.
“O Jornal A Gazeta, em reportagem publicada no dia 1° de outubro de 2014, apresentou, o que se pode considerar, outro motivo para a falência das medidas socioeducativas, qual seja, as torturas que ocorrem nas unidades. A OEA – Organização dos Estados Americanos, realizou em 2011 pesquisa nas unidades de internação do estado, apresentando recomendações de medidas que de caráter de urgência que deveriam ser adotadas para retirar os menores internados de situações de risco. Contudo,em novo acompanhamento nesse ano, a OEA verificou que os socioeducandos permanecem em situação de risco, sendo relatado agressões entre os menores, além da utilização de forma abusiva de algemas, agressões e ameaças por parte dos agentes socioeducativos.”
O acolhimento dos adolescentes pela sociedade após o cumprimento das medidas socioeducativas, longe de preconceitos, para que tenham oportunidades de se adequar novamente à vida em sociedade, é de extrema importância. Não se educa apenas com a imposição de sanções.
Em relação à medida de prestação se serviços à comunidade, verifica-se que tem é uma das mais eficazes, conforme Nunes e Abreu (2017):
“A prestação de serviços à comunidade é sem dúvida uma das medidas mais eficazes. O período e a quantidade de horas semanais devem levar em conta a condição do infrator e a gravidade da infração, estabelecendo-se uma proporcionalidade. O período máximo é de seis meses, em regime de oito horas semanais. O cumprimento da medida não pode causar prejuízo a outros direitos do infrator, como a educação.”
Essa medida trata com mais qualidade o tempo ocioso dos adolescentes, evitando que os mesmos se envolvam novamente no mundo do crime.
Apenas percebe-se, por fim, que as medidas socioeducativas aplicadas, efetivamente, não são eficazes, não alcançando o objetivo que é ressocializar o adolescente em conflito com a lei, tendo a necessidade de investimentos em políticas públicas nos campos da saúde, assistência social, profissionalização e principalmente em educação.
4. ACESSO À JUSTIÇA
A criança e o adolescente têm direito à assistência judiciária gratuita. As ações que tramitam na justiça da Infância e Juventude, são isentas de custas, salvo litigância de má-fé. Haverá sigilo dos atos judiciais, policiais e administrativos.
A competência para julgamento será do lugar da ação ou omissão, mas a execução das medidas pode ser delegada à autoridade da residência dos pais ou do local da entidade. Outras ações, a competência será a do domicilio dos pais ou responsáveis ou, na falta destes, a do lugar onde se encontre a criança ou adolescente.
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