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RESUMO OAB DIREITO PENAL

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Direito Penal - OAB/RJ | Yasmim Martins de Magalhães | 2021.1
DIREITO PENAL – OAB/RJ
	Conteúdo
	Questões
	1. Fato típico
- Conduta
- Resultado
- Nexo causal
- Tipicidade
	03
	2. Consumação e tentativa
	X
	3. Dolo e Culpa
	X
	4. Ilicitude
	X
	5. Culpabilidade
	05
	6. Erro
	12
	7. Crimes contra a pessoa
- Homicídio 
- Induzimento/Instigação/Auxílio ao suicídio
- Infanticídio
- Aborto
- Lesões corporais
- Crimes contra honra
	13
	8. Crimes contra o patrimônio 
- Furto
- Roubo
- Extorsão
- Receptação
- Estelionato
- Dano
	14
	9. Concurso de pessoas 
	12
	10. Concurso de crimes
	
	11. Causas extintivas de punibilidade
- Prescrição 
- Outras causas
	16
	12. Das penas
	
1. FATO TÍPICO
Dos quatro elementos do fato típico (conduta, resultado, nexo causal e tipicidade), apenas a CONDUTA e a TIPICIDADE são elementos considerados como obrigatórios. O nexo causal e o resultado, por sua vez, não serão necessários em alguns casos!
1.1 CONDUTA
Para configurar um fato típico, é necessário que a conduta do agente seja voluntária, isto é, dominada ou dominável pela vontade, e que seja dolosa ou culposa. Os comportamentos involuntários ou que não possuem dolo ou culpa não caracterizam fato típico.
O dolo e a culpa estão previstos no artigo 18 do Código Penal, in verbis:
Art. 18 - Diz-se o crime:
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
O dolo pode ser Direto ou Eventual.
Considera-se Dolo Direto, quando o agente produz o resultado criminoso intencionalmente, com vontade de fazê-lo. Nesse sentido, o Direito Penal brasileiro adotou a Teoria da Vontade.
Já no Dolo Eventual, o agente não quer o resultado, mas pode prevê-lo e, mesmo assim, assume o risco de produzi-lo. Desta forma, o Direito Penal brasileiro adotou a Teoria do Assentimento.
No crime culposo, o agente tem a previsibilidade do resultado e produz o crime por inobservância do dever de cuidado, isto é, por imprudência, negligência ou imperícia.
O Código Penal, no artigo 19, também prevê os chamados crimes preterdolosos. Nesses crimes, temos o fato criminoso com dolo no antecedente e culpa no consequente: o agente inicia a conduta criminosa dolosamente, esperando um resultado, mas produz um resultado criminoso além do que pretendia, de forma culposa.
Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente.
São exemplos de crimes preterdolosos, os previstos nos artigos 129, §3º e 213, §2º.
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Art. 213.  Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§2º  Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos
Por fim, conforme previsto no artigo 18, parágrafo único, todo crime é previsto na forma dolosa, mas não necessariamente o será na forma culposa, sendo certo que os crimes culposos dependem de previsão expressa nos tipos penais para serem configurados.
CP, Art. 18, Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.
Tipos de Conduta
A conduta do Fato Típico pode ser Comissiva, Omissiva ou Comissiva por Omissão.
Os crimes comissivos são aqueles em que o fato típico define como conduta criminosa uma ação, isto é, um comportamento positivo, como matar, estuprar, furtar etc.
Por outro lado, os crimes omissivos são os que o modelo de conduta definido pelo fato típico indica um comportamento negativo, ou seja, um “não fazer”, como, por exemplo, a omissão de socorro.
Nos crimes comissivos por omissão, ou omissivo impróprio, o agente, através de uma omissão produz um resultado criminoso comissivo, isto é, um crie de ação. Neste caso, o omitente é garantidor e possui o dever jurídico de agir para evitar o resultado, sendo certo que a sua omissão é a causa do resultado criminoso configurado, como, por exemplo, o pai que deixa de salvar o seu filho, mesmo tendo condições de fazê-lo.
O §2º do artigo 13 do Código Penal traz as hipóteses em que colocam as pessoas na posição de garante ou garantidor. Sendo assim, estas possuem o dever jurídico de agir para evitar um resultado criminoso.
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
1.1 RESULTADO
Existem duas classificações do resultado do Fato Típico, a saber: Naturalístico e Jurídico. No Brasil, adota-se a Teoria do Resultado Naturalístico.
Ocorre o resultado naturalístico quando o fato típico praticado produz uma alteração no mundo dos fatos, como nos artigos 121 e 157. O resultado naturalístico gera, necessariamente, um resultado jurídico.
Art. 121. Matar alguém:
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Nem todo crime possui resultado e, consequentemente, não produz um resultado naturalístico. Por exemplo, o crime de violação de domicílio, que se caracteriza somente pelo fato do agente entrar e permanecer em casa alheia sem autorização.
A doutrina classifica três espécies de crimes:
a) crimes materiais - São os crimes de resultados, ou seja, consumam-se com o resultado naturalístico. Ex: Homicídio, Sequestro, etc.
b) crimes formais - A lei prevê um resultado mas não exige que ele ocorra para que haja a consumação do crime, ou seja, o resultado naturalístico não é relevante, pois o crime se consuma antes. Ex: Extorsão mediante sequestro, pois, o resultado é a obtenção de uma vantagem econômica, no entanto, a consumação do crime ocorreu no momento que houve o sequestro.
c) crimes de mera conduta - Totalmente sem resultado previsto na lei, pois, o resultado naturalístico não ocorre. Ex: violação de domicílio, crime de desobediência.
Na Teoria Jurídica ou Normativa, o resultado da conduta é a lesão ou perigo de lesão de um interesse protegido pela norma penal. O delito sem evento constituiria conduta irrelevante para o Direito Penal, pois o que tem importância é a lesão jurídica, e não qualquer consequência natural da ação.
Em suma, enquanto para os adeptos da teoria naturalista existe crime sem resultado, para os adeptos da teoria jurídica ou normativista o resultado é elemento do delito.
Todo crime possui resultado jurídico, mas, nem todos terão resultado naturalístico
O crime impossível, previsto no artigo 17 do Código Penal, não traz resultado naturalístico ou jurídico. Por isso, é considerado fato atípico, isto é, não configura crime.
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
Se a conduta praticada pelo agente produz uma consequência desprezível sobre o bem jurídico, por aplicação do princípio da insignificância ou da bagatela, apesar de haver um resultado naturalístico, mesmo que insignificante, poderá não haver resultado jurídico na conduta.
1.3 RELAÇÃO DE CAUSALIDADE (NEXO CAUSAL)
A Relação de Causalidade, ou nexo causal, é prevista no artigo 13 do Código Penal e significa a relação de causa e efeito entra a conduta do agente e o resultado, tendo em vista que este só é imputável a quem lhe deu causa. Sendo assim, a Relação de Causalidade é a “ponte” entre a conduta do agente e o resultadoproduzido.
É considerado causa do crime, toda ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
De acordo com o §2º do artigo 13, a omissão é penalmente relevante e possui relação de causalidade como o resultado quando o agente é garante e sua omissão é a causa do resultado criminoso. (Ver crimes comissivos por omissão)
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
Princípio da Culpabilidade
Diferentemente da responsabilidade civil, que pode ser objetiva, a responsabilidade penal será sempre subjetiva. Portanto, somente quem praticou a conduta poderá responder ao crime, sendo necessário que a conduta seja dolosa ou culposa.
Teoria Conditio sine qua non (teoria da equivalência dos antecedentes) – TEORIA ADOTADA PELO CP
De acordo com a Teoria Conditio sine qua non, a fim de evitar que a cadeia causal vá até o infinito, devemos analisar as condutas que colaboram com o resultado, tendo em vista o dolo ou a culpa, que efetivamente colaboraram para a ocorrência do fato típico criminoso.
No Código Penal, a conditio sine qua non está prevista no artigo 13, o qual determina que o resultado depende da existência do crime, sendo que o condenado será somente aquele que deu causa a ação que concretizou o crime.
Exemplo prático: João, o qual possui arma de fogo, mora em uma rua que os moradores sempre realizam festas. Em uma das festas realizadas, João atira em direção as pessoas, causando a morte de uma delas. Por meio desta teoria, a pessoa morreu em decorrência do tiro de João, concretizando o crime de homicídio.
1.4 TIPICIDADE
A tipicidade significa a adequação do fato praticado pelo agente com um dos tipos penais previstos na legislação. Portanto, se a conduta não estiver prevista, logo, será considerada como atípica.
Para configurar o fato típico, é necessário que estejam presentes a tipicidade formal e material. Enquanto esta é a efetiva lesividade da conduta sobre o bem jurídico, aquela é a mera adequação da conduta a um tipo penal.
1.4.1 Tipicidade Conglobante
De acordo com a teoria da Tipicidade Conglobante, para que ocorra o fato típico, é necessária a caracterização da tipicidade formal e da tipicidade material.
Se a conduta possui apenas uma espécie de tipicidade, conclui-se que o fato é atípico, como, por exemplo, nas hipóteses de incidência do princípio da insignificância.
Assim, o princípio da insignificância nasceu como forma interpretativa restritiva do tipo penal, com o objetivo de evitar que ele alcance condutas ou resultados que sejam irrelevantes, dividindo o tipo em dois elementos estruturantes: tipicidade formal e tipicidade material.
A tipicidade formal se configura quando a conduta praticada pelo agente adequa-se com perfeição à descrição abstrata prevista no ordenamento penal. Observe-se, ainda, que a tipicidade formal é composta pela conduta, resultado naturalístico, nexo de causalidade e compatível subsunção do fato à lei.
Em suma, a TIPICIDADE FORMAL é o juízo de subsunção entre fato e norma, tendo o fato da vida real se amoldado ao tipo previsto no texto frio da lei penal. Dessa forma, podemos ter que o furto de uma garrafinha de água vazia se caracterize na previsão legal do Código Penal.
TIPICIDADE MATERIAL
Por outro lado, entende-se por tipicidade material a existência de lesão ou exposição de perigo de um bem jurídico penalmente tutelado. Por exemplo, o furto da garrafinha vazia muito provavelmente não ofende o patrimônio da vítima, não podendo tal conduta, portanto, ser denominada de furto para fins penais. Ainda que se tenha observado a tipicidade formal (o furto da garrafa), não há tipicidade material (não há tipicidade de fato, pois não houve lesão jurídica tão gravosa a ponto de ferir o patrimônio da vítima em demasia).
Em síntese, o princípio da insignificância rompe com a tipicidade do ato praticado, tornando-o atípico, não havendo que se falar em prática de crime diante de conduta irrelevante
Princípio da Adequação Social
Pelo princípio da adequação social, não considera-se fato típico aqueles comportamentos que são socialmente aceitos.
Assim, por exemplo, furar a orelha de um recém-nascido ou colocar uma criança de castigo não configuram crimes de lesão ou de maus tratos, respectivamente.
2. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
2.1 CONSUMAÇÃO
Art. 14 – Diz-se o crime:
Crime consumado:
I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;
Iter criminis
O inter criminis é um conjunto de fases que se sucedem, cronologicamente, no desenvolvimento do delito. Vale salientar que, esse instituto só ocorre quando o crime é realizado com a vontade do agente ativo, ou seja, quando o mesmo teve a intenção de realizar o crime por vontade.
Só crime culposo, não há como existir o uso da ferramenta do Inter criminis, visto que, o agente não realizou a ação por vontade. O fato ocorre devido negligência, imperícia e imprudência. O crime ocorre por falta de atenção do agente ativo, em sentido contrário, o crime doloso só terá essa nomenclatura se tiver existido a vontade de realizar o delito.
Cogitação
Essa é a fase inicial do crime, é quando o agente começa a pensar em como executá-lo. A doutrina brasileira ressalta que, essa etapa inicial acontece na mente do agente, é a imaginação de como realizar o crime, são as definições de como será o crime.
Atos preparatórios
Após pensar em como será a execução do crime, o agente ativo começa a prepará-lo. Nessa fase, o agente ativo procura todos os meios e circunstâncias para elaborar a execução do seu crime.
Execução
Depois de esquematizar e realizar os atos preparatórios, o agente ativo irá executar o crime contra o agente passivo.
CONSUMAÇÃO
Se o crime ocorrer de acordo com o que foi planejado pelo agente ativo, será consumado. Para ser considerado crime consumado, todos os elementos da definição do crime legal devem acontecer. Contudo, possa ser que o crime não chegue a consumação, que seja apenas uma tentativa do agente ativo.
De um modo geral, a fase da cogitação e os atos preparatórios não são puníveis pela legislação brasileira. Contudo, existe uma exceção: legislador definir como crime. Por exemplo, o artigo 288 do Código Penal que é o crime que regula o delito de quadrilha e bando, se quatro ou mais pessoas se reúnem para cometer crimes, é punido, mesmo que seja um ato de preparação, já que, de fato o crime não foi executado, estava na fase de preparação.
2.2 TENTATIVA
Art. 14 – Diz-se o crime:
II – Tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Pena de tentativa
Parágrafo único – Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços
Art. 17 – Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
O instituto da tentativa é uma forma de extensão criado pelo legislador para crimes que não foram consumados. Assim como crime tipificado, a tentativa também de estar presente no Código penal. Vale dizer, nem todos os crimes possuem a modalidade de extensão da tentativa. Para que o agente ativo seja enquadrado como praticante do crime tentado, ele precisará realizar a tentativa com dolo. Não é possível existir a tentativa no crime culposo, visto que, é preciso ter a vontade de praticar o crime.
O crime admite atentativa quando puder fracionar o Inter Criminis. Quando não puder ter esse fracionamento, não é possível admitir o crime tentado. Por exemplo, um crime habitual não poderá ter a modalidade tentada.
Tipos de tentativa
I. Incruenta/ branca 
O agente não conseguiu nem mesmo atingir o objetivo pretendido para que o crime fosse consumado.
II. Cruenta/Vermelha
Nessa modalidade, o agente consegue atingir o seu objetivo, mas não consuma o delito.
III. Perfeita/acabada
O agente ativo utiliza todos os meios possíveis ao seu alcance, mas mesmo com diversas tentativas não consegue consumar o crime.
IV. Imperfeita/inacabada
Não consegue utilizar todos os meios de execução para a prática delituosa.
3. DOLO E CULPA
O principal elemento para diferenciar essas duas características é a vontade de quem pratica um ato ilícito. Por vontade, deve-se entender tanto a intenção quanto o objetivo de se obter certo resultado.
Por isso não é exatamente certo dizer que a diferença entre dolo e culpa está na intenção: imagine que você e um amigo estão atirando pedras em um alvo de brinquedo. Você joga a pedra no alvo, e ela ricocheteia em direção ao olho deste amigo, que perde a visão naquele olho.
Se tudo se resumisse à intenção, sem considerar o objetivo de alcançar certo resultado, você efetivamente queria jogar a pedra, não havendo discussão se você queria acertar a pessoa ou não. Ao considerar o elemento vontade de obter certo resultado, torna-se óbvio que o objetivo era acertar o alvo de brinquedo, e não o olho do amigo. É por isso que a vontade é o elemento principal na diferença entre dolo e culpa, e ela engloba essas duas características.
3.1 CARACTERÍSTICAS DO DOLO
O dolo é uma conduta intencional, voluntária e com o objetivo de atingir certo resultado ilícito. Essa conduta pode ser de agir ou de deixar de agir. Se você deixa de auxiliar alguém em um acidente de carro, por exemplo, mesmo que o auxílio não colocasse você em risco, há dolo na sua conduta de não agir.
Em outras palavras, dolo é um sinônimo de vontade, incluindo intenção e objetivo. Via de regra, um crime doloso tende a ser mais grave do que um crime culposo. O exemplo mais clássico é um homicídio: alguém que comete um homicídio doloso quis matar uma vítima e o fez. Alguém que comete homicídio culposo, no entanto, acabou matando alguém em função de uma ação que não objetivava aquele resultado.
3.2 CARACTERÍSTICAS DA CULPA
A diferença entre dolo e culpa torna-se mais clara quando se entende a culpa. Um crime culposo não acontece simplesmente porque alguém não tinha a intenção de que ele acontece. A culpa surge de três tipos diferentes de conduta: a negligência, a imprudência e a imperícia.
Para que um crime seja culposo, portanto, quem o cometeu deve ter cometido uma conduta voluntária, mas que gerou um dano involuntário. Por isso, a vontade está apenas na prática do ato, sem atingir o objetivo de resultado.
Exemplos da diferença entre dolo e culpa
Um exemplo muito comum e ilustrativo para explicar a diferença entre dolo e culpa é imaginar dois garotos com bolas de futebol. O primeiro garoto chuta a bola sem planejar seu destino, e acerta uma vidraça. O segundo, mira em uma vidraça e a acerta.
Neste caso, o primeiro foi imprudente: queria chutar a bola, mas não tinha a intenção de quebrar nada. O dano à propriedade foi culposo. Já o segundo menino quis provocar o dano à propriedade, portanto há dolo em sua ação.
4. ILICITUDE
Para o conceito analítico de crime pela teoria tripartite, o delito é toda ação típica, ilícita e culpável.
O presente estudo visa trabalhar o conceito de ilicitude ou antijuridicidade, que conforme leciona Rogério Greco “é a relação de antagonismo, de contrariedade entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico” (GRECO, Rogério. Curso de direito penal, parte geral, p.315).
Em poucas palavras, o fato é ilícito quando determinada ação viola ou infringe a lei penal.
Juarez Cirino dos Santos esclarece que:
b) para o conceito tripartido de fato punível, tipicidade e antijuridicidade são conceitos autônomos na categoria do tipo de injusto, em que se relacionam como regra e exceção: a tipicidade da ação indica a antijuridicidade do fato (regra), as justificações excluem a antijuridicidade do fato (exceção) - logo, toda ação típica é antijurídica, exceto as ações típicas justificadas. (SANTOS, Juarez Cirino dos Direito penal: parte geral I. p.215 e 216).
Sendo assim, para analisar que o fato é ilícito, primeiro faz-se necessário verificar se é típico, e posteriormente se aquela conduta não possui uma justificativa que também chamamos de excludente de ilicitude, havendo uma justificativa ou excludente de ilicitude, o fato é lícito, portanto, não é passível de punição, exceto nas situações de excesso (art. 23, Parágrafo Único do Código Penal).
Deste modo, a lei prevê quatro excludentes de ilicitude, são aquelas constantes no art. 23 do Código Penal (estado de necessidade, legitima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito). Mas existe ainda as causas supralegais, como o consentimento do ofendido, sendo esta uma construção doutrinária e com amparo na jurisprudência.
a) Estado de necessidade (art. 24 do Código Penal):
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.
Diante do que consta no artigo, podemos destacar os seguintes requisitos para que a conduta seja amparada pelo estado de necessidade:
· Existência de um perigo atual ou iminente;
· Bem jurídico próprio ou alheio (bem jurídico ameaçado);
· Situação não provocada voluntariamente pelo agente;
· Conhecimento da situação justificante;
· Inexigibilidade do sacrifício do bem ameaçado;
· O conhecimento da situação de fato justificante;
Há de ressaltar que, conforme o art. 24, § 1º “Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.” Ou seja, policiais, bombeiros, salva-vidas, são alguns exemplos de pessoas que não podem alegar o estado de necessidade quando, no exercício de suas funções, possuíam o dever legal de enfrentar o perigo.
b) Legítima defesa (art. 25 do Código Penal):
“Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.”
Para que se aplique a legítima defesa, faz-se necessário averiguar se existe uma situação de agressão injusta a direito seu o de outrem, bem como se houve o uso dos meios necessários para repelir tal agressão.
Deve-se lembrar que o excesso do uso de uma excludente de ilicitude é punível, independente de culpa ou dolo (art. 23, Parágrafo Único do CP).
Existe também a situação da legítima defesa putativa.
Sobre o tema, Rogério Greco diz que:
Fala-se em legítima defesa putativa quando a situação de agressão é imaginária, ou seja, só existe na mente do agente. Só o agente acredita, por erro, que está sendo ou virá a ser agredido injustamente. Para a teoria limitada da culpabilidade, acolhida pela exposição de motivos do Código Penal, o erro sobre uma causa de justificação, se incidente sobre uma situação de fato, será considerado como um erro de tipo permissivo, e não como um erro de proibição.
A legítima defesa imaginária é um caso clássico das chamadas descriminantes putativas, previstas no § 1º do art. 20 do Código Penal (...). (GRECO, Rogério. Curso de direito penal, parte geral, p.343)
c) Estrito cumprimento do dever legal (art. 23, inc. III primeira parte):
Previsto na primeira parte do art. 23, inc. III do CP, o estrito cumprimento de dever legal, não possui um conceito expresso no Código Penal, assim, vem a doutrina, maisuma vez, no ensinar o conceito de tal excludente.
Deste modo, Juarez Cirino esclarece que:
“O estrito cumprimento de dever legal compreende os deveres de intervenção do funcionário na esfera privada para assegurar o cumprimento da lei ou de ordens de superiores da administração pública, que podem determinar a realização justificada de tipos legais, como a coação, privação de liberdade, violação de domicílio, lesão corporal etc. (SANTOS, Juarez Cirino dos. A moderna teoria do fato punível, p.187).”
Ressalta-se ainda que, o cumprimento do dever deve seguir estritamente o que está na lei, não podendo ultrapassar.
Assim, o oficial de justiça que munido do mandado de penhora e remoção, remove a televisão de alguém, não comete crime, bem como, o policial militar que recebe a informação que uma família esteja sendo mantida como reféns por assaltantes, e assim, adentra na casa sem autorização para realizar a prisão dos delinquentes, não comete crime de violação de domicílio.
d) Exercício regular do direito (art. 23, inc. III, segunda parte):
Assim como o estrito cumprimento do dever legal, o exercício regular do direito não possui um conceito legal, ficando a cargo da doutrina trazer suprir essa falta.
Trata-se de uma excludente de ilicitude que ampara o agente que no exercício de seu direito, viola o direito de outrem, nesse sentido, podemos destacar o lutador de boxe que quebra o nariz de seu oponente durante uma luta, este não pode ser punido pelo crime de lesão corporal.
Outro exemplo clássico é o do pai que deixa o filho de castigo, sem poder sair do quarto, por um determinado período, por conta de uma falta que este cometeu, não comete crime de cárcere privado, pois é dever dos pais educar seus filhos.
e) Consentimento do ofendido:
O consentimento do ofendido é considerado como uma causa de excludente de ilicitude, supralegal, em outras palavras, não existe amparo na legislação.
Trata-se de situações em que diante do consentimento da vítima, ou ofendido, a ilicitude do crime fica afastada.
Greco nos traz pelo menos três requisitos essenciais para que o consentimento do ofendido surta efeito como excludente de ilicitude, vejamos:
· Que o ofendido tenha capacidade para consentir;
· Que o bem sobre o qual recaia a conduta do agente seja disponível;
· Que o consentimento tenha sido dado anteriormente ou pelo menos numa relação de simultaneidade à conduta do agente. (GRECO, Rogério. Curso de direito penal, parte geral, p.376).
Assim, a doutrina possui um exemplo clássico que seria o do indivíduo que empresta um automóvel para que um cineasta faça uma cena de ação em que o veículo deva explodir, portanto, o cineasta não pode responder pela deterioração do objeto.
Deste modo, fica nosso breve estudo sobre antijuridicidade e as excludentes de ilicitude.
5. CULPABILIDADE
 A culpabilidade significa uma noção de reprovabilidade sob o ponto de vista jurídico penal da conduta típica e antijurídica.
O direito penal brasileiro adotou a teoria normativa pura, visto que na culpabilidade só há elementos normativos e elementos subjetivos, como dolo ou culpa integram o fato típico.
 
5.1 Elementos da Culpabilidade
Imputabilidade é a capacidade de uma pessoa para responder penalmente por seus atos, como, em regra, são os maiores de 18 anos que não sejam doentes mentais.
Os doentes mentais completos não possuem imputabilidade e, de acordo com artigo 26 do Código Penal, estão isentos de pena. Quando cometem um fato típico e antijurídico, em razão de sua periculosidade, podem sofrer medida de segurança de internação ou tratamento ambulatorial,conforme o artigo 97.
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
 
Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. 
 
Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.
 
5.2 Causas Excludentes da Culpabilidade
INIMPUTÁVEIS
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.
Art. 28, § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
 
Em relação aos crimes envolvendo embriaguez, o Direito Penal brasileiro adotou a teoria da actio libera in causa, considerando que o agente que se embriagou livremente responderá pelo crime, de acordo com o inciso II do artigo 28 do Código Penal.
Art. 28, II - Não excluem a imputabilidade penal a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.
Desta forma, em regra, o agente que comete crime embriagado, desde que a embriaguez tenha sido voluntária ou culposa, responde pelo crime como se estivesse sóbrio. Porém, se a embriaguez é decorrente de caso fortuito ou força maior, o agente será inimputável.
 
ERRO DE PROIBIÇÃO
No erro de proibição, o agente pratica o fato típico e antijurídico induzido a erro pelas circunstâncias vividas, pensando eu aquele ato se tratasse de conduta correta perante o Direito. Desta forma, o agente desconhece o caráter injusto do seu ato, afastando-se, assim, a consciência da ilicitude.
Para a caracterização do erro de proibição, é necessário que o erro seja aceitável ou justificável.
DESCRIMINANTES PUTATIVAS
Nas descriminantes putativas, o agente pratica fato típico e antijurídico acreditando estar amparado em alguma causa excludente de ilicitude, quais sejam, a legítima defesa, o estado de necessidade, o exercício regular do direito ou estrito cumprimento do dever legal.
Esta excludente leva à chamada “legítima defesa putativa (imaginária)” e também afasta a consciência da ilicitude. O erro também deve ser aceitável, pois, caso seja inescusável, não se caracterizará como excludente.
 
COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL
Esta excludente caracteriza-se quando o agente pratica um ato sob coação irresistível e responde pela ação quem pratica esta coação.
Diferentemente, a coação física irresistível, afasta a tipicidade da conduta, não se confundindo com a coação moral.
OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA
Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.
A obediência hierárquica se aplica, somente, às relações de trabalho de direito público, não sendo aplicável às da iniciativa privada.
O subordinado, que cumpre uma ordem que não é manifestamente ilegal, não responde pelo ato típico e antijurídico, respondendo pelo crime o superior que deu a ordem.
Não obstante, caso a ordem seja manifestamente ilegal, o subordinado responderá pela sua conduta.
INEXIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA
A inexibilidade de conduta diversa é considerada uma excludente supralegal, uma vez que se trata de construção jurisprudencial e não é expressamente prevista.
Nesta excludente, considera-se que não há culpabilidade quando o agente pratica o ato típico e antijurídico por não ter, em razão das circunstâncias,outra alternativa, senão praticar esta conduta.
6. ERRO
Antes da reforma do Código Penal em 1984, prevalecia o entendimento de que toda espécie de erro afetava a culpabilidade, inclusive o erro de tipo (chamado de erro de fato), excluindo-a, pois, com a teoria causal/naturalista da ação, de Von Liszt, Beling e Radbruch, o dolo fazia parte dessa categoria penal.
Atualmente, a teoria unitária perdeu sentido, e impera a teoria diferenciadora, que distingue erro de tipo de erro de proibição.
O erro de tipo é uma espécie de erro em que o agente age, atua ou opera com a falsa percepção da realidade e divide-se em:
 I – Essencial: aquele que recai sobre o elemento principal do tipo penal; e
II – Acidental: incidente sobre elemento secundário, paralelo, que nada tem a ver com o tipo penal incriminador.
6.1 O ERRO DE TIPO ESSENCIAL se classifica em:
a) Vencível/evitável/inescusável: está esculpido no art. 20 do Código Penal: “O erro sobre elemento constitutivo do tipo penal exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposose previsto em lei”. Exemplo clássico reiterado na doutrina é o de um caçador que, ao ver um vulto e o balançar no arbusto, atira para matar um animal, porém acaba por matar outro caçador. Note-se: o elemento subjetivo “dolo” está presente, vontade de matar, porém o agente errou sobre o elemento objetivo principal no tipo penal do homicídio (alguém), devendo, então, ser responsabilizado por homicídio culposo, delito previsto no art. 121, §3º, do CP. No entanto, caso o agente pegue uma carteira supondo ser a dele, também estaremos diante do mesmo erro em tela; contudo, não haverá qualquer punição, pois não há que se falar em furto culposo.
Nas brilhantes palavras do professor Juarez Cirino dos Santos: “[…] o erro de tipo incide apenas sobre o elemento objetivo do tipo […] pode-se dizer que o erro de tipo representa defeito na formação intelectual do dolo, que tem por objeto os elementos objetivos do tipo legal, presentes ou futuros”.
Na esteira do raciocínio, há o que a doutrina classifica de erro de tipo essencial:
b) Invencível/inevitável/escusável:o qual exclui tanto o dolo quanto a culpa. E sem dolo e sem culpa não há que se falar em conduta punível.
6.2 Por outro lado, temos o ERRO DE TIPO ACIDENTAL, que se subdivide em:
a) Erro sobre a coisa(error in objecto.: O agente pretende furtar uma joia, mas confunde-se e subtrai bijuteria).
b) Erro determinado por terceiro(art. 20, §2º. Ex.: O médico entrega uma injeção com substância letal a uma enfermeira afirmando se tratar de medicamento para dor. Responde pelo crime o médico que determinou o erro).
c) Erro sobre a pessoa(error in persona. 20, §3º. Ex.: A, querendo matar B, mata C achando se tratar de B, pois confundiu as características físicas. Responde como se tivesse matado B, conforme suas qualidades e condições pessoais inerentes).
d) Erro na execução(aberratio ictus. 73. Ex.: O agente atira em fulano, mas erra o tiro e acerta beltrano).
e) Resultado diverso do pretendido(aberratio delicti. 74. Ex.: O agente arremessa uma pedra com intenção clara e inequívoca de quebrar uma vidraça, porém erra e acerta o rosto de uma pessoa), todos do mesmo diploma legal.
Noutro giro, temos o erro de proibição: erro sobre a ilicitude do fato, previsto no art. 21 do CP (isenta o agente de pena ou a diminui). Subdivide-se em direto e indireto.
O erro de proibição direto está previsto no art. 21 do Código Penal e, caso seja inevitável (excludente de culpabilidade), isenta o agente de pena ou apenas a reduz de 1/6 a 1/3 se evitável.
Exemplo clássico seria de um indivíduo que ao cobrar uma dívida de R$ 50,00 a seu colega lhe é negado e tem frustrado o pagamento. Ao abrir a carteira de seu colega, depara-se com a quantia de R$ 300,00 e retira apenas o valor o qual a ele é devido. Não se tem dúvida de que o agente sabe, ou seja, tem plena consciência de que retirar dinheiro de alguém é crime, furto. Todavia, não tem a consciência da ilicitude do fato, pois crê que por causa da dívida ele pode retirar o dinheiro. Note-se: em razão disso é que se diferencia erro de proibição de desconhecimento da lei, mera atenuante genérica, prevista no art. 65, II, do CP.
6.3 Quanto ao ERRO DE PROIBIÇÃO INDIRETO, temos:
· quanto às circunstâncias fáticas (as chamadas descriminantes putativas. Divergem os doutrinadores a respeito, uns afirmando ser espécie de erro de proibição, pois adotam a teoria extremada da culpabilidade; porém, a doutrina majoritária assevera ser uma espécie de erro de tipo, chamado permissivo, adotando a teoria limitada da culpabilidade);
· quanto à existência de uma causa excludente de ilicitude, que permite ao agente praticar o fato (ex.: eutanásia, a pedido da vítima);
· quanto à continuidade diante de uma excludente (ex.: o agente é agredido e, agindo em legítima defesa – subjetiva –, pratica um excesso, errando sobre a continuidade).
7. CRIMES CONTRA A PESSOA
Os crimes contra a pessoa são aqueles que mais imediatamente afetam a pessoa (ente humano). Os bens físicos ou morais que eles ofendem ou ameaçam estão intimamente consubstanciados com a personalidade humana. Tais são: a vida, a intangibilidade corpórea (integridade corporal), a honra e a liberdade do indivíduo.
Os quatro são requisitos fundamentais para a vida comunitária, logo o bem jurídico tutelado tem caráter eminentemente público (o Estado os resguarda e defende).
7.1 HOMICIDIO
HOMICÍDIO – De forma geral, o homicídio é o ato de destruição da vida de um homem por outro homem. De forma objetiva, é o ato cometido ou omitido que resulta na eliminação da vida do ser humano.
Homicídio simples – Artigo 121 do CPB – É a conduta típica limitada a “matar alguém”. Esta espécie de homicídio não possui características de qualificação, privilégio ou atenuação. É o simples ato da prática descrita na interpretação da lei, ou seja, o ato de trazer a morte a uma pessoa.
Homicídio privilegiado - Artigo 121 - parágrafo primeiro – É a conduta típica do homicídio que recebe o benefício do privilégio, sempre que o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo após a injusta provocação da vítima, podendo o juiz reduzir a pena de um sexto a um terço.
Homicídio qualificado - Artigo 121 - parágrafo segundo – É a conduta típica do homicídio onde se aumenta a pena pela prática do crime, pela sua ocorrência nas seguintes condições: mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; por motivo fútil, com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou do qual possa resultar perigo comum;  por traição, emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; e para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime.
Homicídio Culposo - Artigo 121- parágrafo terceiro – É a conduta típica do homicídio que se dá pela imprudência, negligência ou imperícia do agente, o qual produz um resultado não pretendido, mas previsível, estando claro que o resultado poderia ter sido evitado.
No homicídio culposo a pena é aumentada de um terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima. O mesmo ocorre se não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo o homicídio doloso, a pena é aumentada de um terço se o crime é praticado contra pessoa menor de quatorze ou maior de sessenta anos.
Perdão Judicial - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que torne desnecessária a sanção penal.
7.2 INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO – ART. 122 DO CPB
Ato pelo qual o agente induz ou instiga alguém a se suicidar ou presta-lhe auxílio para que o faça. Reclusão de dois a seis anos, se o suicídio se consumar, ou reclusão de um a três anos,se da tentativa de suicídio resultar lesão corporal de natureza grave.
A pena é duplicada se o crime é praticado por motivo egoístico, se a vítima é menor ou se tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. Neste crime não se pune a tentativa.
7.3 INFANTICÍDIO - ARTIGO 123
Homicídio praticado pela mãe contra o filho, sob condições especiais (em estado puerperal, isto é, logo pós o parto).
Trata-se de uma espécie de homicídio doloso privilegiado, cujo privilegium é concedido em virtude da “influência do estado puerperal” sob o qual se encontra a parturiente.
É que o estado puerperal, por vezes, pode acarretar distúrbios psíquicos na genitora, os quais diminuem a sua capacidade de entendimento ou autoinibição, levando-a a eliminar a vida do infante.
Conforme Mirabete, “o estado puerperal é o período que vai do deslocamento e expulsão da placenta à volta do organismo materno às condições normais, havendo discordância quanto a seu limite de duração (de 6 a 8 dias a 6 semanas)”.
Não se trata, especificamente, de uma perturbação psíquica, mas de eventual diminuição da capacidade de a parturiente determinar-se, livremente, causa de sua incriminação por infanticídio e não homicídio, fundando-se o tipo especial em um critério psicofisiológico (critério adotado pelo Código Penal) e não em motivo de honra, como já se decidiu.
Tutela o artigo 123 do Código Penal o direito à vida, contudo, a vida humana extrauterina, assim como no delito de homicídio.
Por ser um crime próprio, somente a mãe puérpera pode praticar o crime em tela, porém, nada impede que terceiro responda por este delito na modalidade de concursos de pessoas: a) mãe que mata o próprio filho com, contando com o auxílio de terceiro; b) o terceiro mata o recém-nascido, contando com a participação da mãe; c) mãe e terceiro executam e coautoria a conduta principal, matando a vítima.
O sujeito passivo do crime é, somente, o filho “durante o parto ou logo após”.
Por se tratar de crime de execução de forma livre, pode ser praticado por qualquer meio comissivo (enforcamento, estrangulamento, afogamento...) ou omissivo (deixar de amamentar a criança, abandonar recém-nascido em lugar ermo com o fim de praticar sua morte - animus necandi - ...).
O elemento subjetivo do crime de infanticídio é o dolo, ou seja, a vontade consciente e voluntária de produzir o resultado. Não existe a modalidade culposa neste crime.
Sobre esta questão, há duas posições na doutrina:
a) O fato será penalmente atípico (posição adotada por Damásio E. de Jesus);
b) Responderá pelo delito de homicídio culposo (posição adotada por Nélson Hungria, Julio Fabbrini Mirabete, Cezar Roberto Bitencourt e E. Magalhães Noronha);
Vale citar a posição de Fernando Capez que entende que o tipo se amolda à segunda conduta (homicídio culposo), pois a capacidade pessoal de previsão do agente (afetada pelo estado puerperal) pertence ao terreno da culpabilidade e não do fato típico.
A consumação do delito se dá com a morte do neonato ou nascente. Por se tratar de um crime plurissubsistente, admite a tentativa quando, por circunstâncias alheias a sua vontade, não logra eliminar a vida do ser nascente ou neonato.
7.4 ABORTO - ARTIGO 124
Ato pelo qual a mulher interrompe a gravidez de forma a trazer destruição do produto da concepção.  No autoaborto ou no aborto com consentimento da gestante, esta sempre será o sujeito ativo do ato, e o feto, o sujeito passivo. No aborto sem o consentimento da gestante, os sujeitos passivos serão o feto e a gestante. 
Aborto provocado por terceiro – É o aborto provocado sem o consentimento da gestante. Pena: reclusão, de três a dez anos.
Aborto provocado com o consentimento da gestante – Reclusão, de um a quatro anos.  A pena pode ser aumentada para reclusão de três a dez anos, se a gestante for menor de quatorze anos, se for alienada ou débil mental, ou ainda se o consentimento for obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Forma qualificada - As penas são aumentadas de um terço se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofrer lesão corporal de natureza grave. São duplicadas se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Aborto necessário - Não se pune o aborto praticado por médico: se não há outro meio de salvar a vida da gestante; e se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
7.5 LESÕES CORPORAIS
Lesão corporal consiste em todo e qualquer dano produzido por alguém, com animus, unicamente, laedendi (vontade única de lesionar), à integridade física ou à saúde de outrem.
Bem jurídico: Integridade corporal e a saúde da pessoa
Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa (crime comum)
Sujeito passivo: excetuando as figuras do § 1º, inc. IV; § 5º, inc. V; e o § 9 (crime próprio), do art. 129 CP – pode ser qualquer pessoa (crime comum)
Autolesão Imputável: A autolesão, em regra, não constitui crime.
Obs.: Se um inimputável, por determinação de outrem, praticar em si mesmo uma lesão, quem o conduziu à autolesão responderá por crime.
Lesão corporal leve e o Princípio da Insignificância: A insignificância da ofensa afasta a tipicidade. Contudo, essa insignificância somente pode ser valorada observando a proporcionalidade e, particularmente, o grau de extensão da lesão sofrida pelo bem jurídico.
A lesão corporal pode se dar através do dolo e da culpa. Além disso, pode ocorrer crime preterdoloso - no qual está presente o dolo na ação antecedente e culpa na consequente (art., 129, § 3º, do Código Penal).
7.6 LESÕES CORPORAIS LEVES OU SIMPLES (ART. 129, § 1º, CP)
A definição de lesão corporal leve se dar por exclusão, ou seja, configura-se quando não ocorre nenhum dos resultados previstos no art. 129, §§ 1º, 2º e 3º do Código Penal.
7.7 LESÃO CORPORAL GRAVE (art. 129, § 1º, CP)
Incapacidade para ocupações habituais por mais de 30 dias: a incapacidade trata-se da efetiva impossibilidade de sua atividade ocupacional, tradicional, regular, de natureza licita.
Obs.: a simples vergonha de aparecer em público não caracteriza a qualificadora em exame.
· Perigo de vida: deve haver perigo concreto efetivo de morte, que deve ser pericialmente comprovado.
· Debilidade permanente de membro, sentido e função: é a redução ou enfraquecimento da capacidade funcional da vítima (por exemplo, em caso de órgão duplos, como os olhos, a perda de um deles). A única recuperação que pode ocorrer aqui é a artificial.
· Aceleração do parto: é imprescindível que o feto estivesse vivo, nasça com vida e continue a viver logo após o seu parto. Além disso, é necessário que o agente tenha conhecimento da gravidez da vítima antes de cometer o crime.
Obs.: todas as qualificadoras contidas no § 1º são de natureza objetiva.
7.7 LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA (ART. 129, § 2º, CP)
· Incapacidade permanente para o trabalho: é somente para trabalho!
· Enfermidade incurável: é a doença cuja curabilidade não é conseguida no atual estágio da medicina. São inexigíveis para a sua consumação as intervenções cirúrgicas arriscadas ou tratamentos duvidosos.
· Perda ou inutilização de membro, sentido ou função: há perda quando cessa o sentido ou função, ou quando o membro ou órgão é extraído ou amputado (extração dos dois olhos da vítima, por exemplo).
· Deformidade permanente: a deformidade não perde o seu caráter de permanente quando pode ser dissimulada por meios artificiais.
· Aborto: é necessário que o agente tenha conhecimento da gravidez, mas sem querer o aborto.
7.8 LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE OU HOMICÍDIO PRETERDOLOSO (art. 129, § 3º, CP)
Se o resultado, aqui, for imprevisível ou decorrente de caso fortuito, o sujeito responderá somente pelas lesões corporais.
Lesões Corporais Majoradas
· Lesões corporais praticadas por milícia privada (art. 129, § 7º, CP): só pode haver essa majorante se o autor do crime não tiver sido condenado pelo crime previsto no art. 288 –A do código criminal.
· Lesões corporais dolosas contra policiaise familiares (art. 129, § 12, CP): será crime hediondo se forem praticadas com natureza grave, gravíssima (art. 129, §§ 1º e 2º) ou de forma preterdolosa (art. 129 § 3º, CP) contra os agentes previsto no § 12 do art. 129 do código penal.
7.9 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA (art. 129, § 9º, CP)
Limita-se somente a lesão corporal leve.
DICA para os agentes do crime: CADI
C – Companheiro ou cônjuge
A – Ascendente
D – Descendente
I – Irmão
Obs.: a violência independe do gênero do sujeito passivo para ocorrer.
A ação pode ser praticada em qualquer local, mas deve existir relação entre a vítima e o agente.
Súmula 542 STJ informa que “a ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada”.
7.10 CRIMES CONTRA A HONRA
CALÚNIA
A calúnia é a falsa imputação a alguém de conduta tipificada como criminosa. O sujeito ativo e o sujeito passivo podem ser quaisquer pessoas, sendo admitida a coautoria ou participação no primeiro.
Aqui, o objeto jurídico tutelado é a honra objetiva. Por ser crime de ação livre pode ser cometido por meio de palavra escrita ou oral, gestos e símbolos, sendo exigido dolo especifico (animus injuriandi vel diffamandi), isso quer dizer que o agente deve ter consciência e vontade de atingir a honra da vítima, ocorrendo a consumação quando chega ao conhecimento de terceira pessoa.
Aqui a tentativa não é admitida se a calúnia for proferida verbalmente, mas se praticada por escrito e não chegar ao conhecimento de terceiro por qualquer razão, poderá ser admitida.
DIFAMAÇÃO
Difamação é a imputação a alguém de fato ofensivo à sua reputação. O sujeito ativo e o sujeito passivo podem ser quaisquer pessoas, sendo admitida a coautoria ou participação no primeiro.
Importante destacar que há crime de difamação contra pessoas jurídicas, já que essa também tem uma imagem a preservar perante terceiros.
Da mesma forma que a calúnia, o crime de difamação pode ser explícito, implícito e reflexo.
O elemento subjetivo do tipo é dolo de imputar a alguém fato desonroso sendo indispensável o animus diffamandi.  A consumação ocorre com o conhecimento da imputação por terceiro.
A tentativa não é admitida se a difamação for proferida verbalmente, mas se praticada por escrito e não chegar ao conhecimento de terceiro por qualquer razão, poderá ser admitida.
INJÚRIA
A injúria é a ofensa ao decoro ou dignidade de terceiro. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, assim como o sujeito passivo sendo, entretanto, excluídas do sujeito passivo as pessoas que não possuem capacidade de entender.
O elemento objetivo consiste na ofensa à honra subjetiva de alguém atingindo diretamente sua moral, seu físico ou seu intelecto. A honra subjetiva diz respeito ao que a própria pessoa estima de si mesmo. A dignidade, no crime de injúria, é atingida quando se atenta contra os atributos morais da pessoa, já o decoro é ferido quando atinge os atributos físicos ou intelectuais da vítima.
O elemento subjetivo é o dolo específico.
Assim como na calunia e na difamação, a tentativa não é admitida se a injúria for proferida verbalmente, mas se praticada por escrito e não chegar ao conhecimento de terceiro por qualquer razão, poderá ser admitida.
8. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
8.1 FURTO (artigo 155 do CP)
Código Penal
Artigo 155: Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
Sujeitos do crime: Não se exige qualidade especial do agente (delito comum). Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do furto, salvo o proprietário. O sujeito passivo poderá ser qualquer pessoa, física ou jurídica, proprietária, possuidora ou detentora da coisa assenhorada.
Conduta: A conduta punida é apoderar-se o agente, para si ou para outrem, de coisa alheia móvel, tirando- a de quem a detém (diminuindo o patrimônio da vítima).
Majorante do repouso noturno (§ 1º): Repouso noturno é o período em que, à noite, pessoas se recolhem para descansar. Não há critério fixo para a conceituação dessa qualificadora, dependendo do caso concreto, a ser decidido pelo juiz. Exemplo: Ninguém dirá que foi praticado durante o período de repouso noturno furto realizado às 21 horas no centro de São Paulo. Entretanto, a qualificadora estará presente, no mesmo horário, quando o delito for cometido em uma fazenda do interior, uma vez que é comum, nesses lugares, o recolhimento das pessoas, para o repouso, ainda bem cedo.
Assim, o critério para definir repouso noturno é variável, não se identificando com a noite, mas com o período a partir do qual as pessoas do local costumeiramente recolhem-se para o repouso.
Furto privilegiado ou mínimo (§ 2º): O privilégio foi instituído em favor dos autores primários de subtração de coisa de valor insignificante, movidos por necessidade de uso.
Eram três os requisitos indispensáveis para caracterizar o benefício: 1) primariedade do réu; 2) coisa de pequeno valor e 3) necessidade de usar, com urgência, a coisa furtada. O atual estágio da doutrina e jurisprudência tem dispensado o requisito “necessidade de usar, com urgência”.
Cláusula de equiparação (§ 3º): O furto consiste na subtração de coisa alheia móvel para si ou para outrem. O § 3º equipara à coisa móvel a energia elétrica e outras (genética, mecânica, térmica e a radioatividade), desde que tenham valor econômico.
Furto qualificado: 
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: 
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.      
§ 6° A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração.      
§ 7º   pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
Vejamos os casos mais importantes de furto qualificado:
Destruição ou rompimento de obstáculo (inciso I): O inciso I trata da destruição ou rompimento de obstáculo colocado de forma a impedir a subtração da coisa. Assim, pode-se exemplificar como sendo a degradação, arrombamento, rompimento, fratura, demolição, destruição, total ou parcial, de quaisquer objetos ou construções, que dificultem a subtração da coisa visada pelo agente.
Abuso de confiança, fraude, escalada ou destreza (inciso II): O abuso de confiança revela circunstância subjetiva, reveladora de maior periculosidade do agente que não só furta, mas viola a confiança nele depositada. Ressalta-se que para configurar esta qualificadora exige-se um especial vínculo de lealdade ou de fidelidade entre a vítima e o agente.
A fraude não se confunde com o estelionato. No furto mediante fraude, esta tem por objetivo diminuir a vigilância da vítima e possibilitar a subtração. O bem é retirado sem que a vítima perceba que está sendo despojada. No estelionato, a fraude tenciona fazer com que a vítima incida em erro e entregue espontaneamente o objeto ao agente.
Escalada é o uso de via anormal para ingressar no local em que se encontra a coisa visada. Não implica, necessariamente, subida, mas a utilização de qualquermeio incomum.
Já a destreza se manifesta quando o agente, por meio de peculiar habilidade física ou manual, pratica o furto sem que a vítima perceba.
Chave falsa (inciso III): Para a doutrina, chave falsa é todo o instrumento, com ou sem forma de chave, destinado a abrir fechaduras. Exemplos: grampos, pregos, arame...
Concurso de pessoas (inciso IV): “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.”
Emprego de explosivo (§ 4º-A): A Lei 13.654/18 inseriu no artigo 155 o § 4º-A, que comina pena de reclusão de 4 a 10 anos -além de multa -, a previsão do furto cometido com emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
Furto de substância explosiva (§ 7º): A Lei 13.654/18 também inseriu no artigo 155 a disposição do § 7º, que pune a subtração de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. Trata-se, portanto, de punir com mais gravidade a subtração do próprio explosivo e de acessórios, independentemente de sua utilização.
8.2 ROUBO (Artigo 157 do CP)
Código Penal
Artigo 157: Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
I – (revogado); 
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior;               
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.                  
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):             
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;              
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.            
§ 3º Se da violência resulta:
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; 
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.  
Sujeitos do crime: Assim como o furto, o roubo é um crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, salvo o proprietário do objeto. Sujeito passivo é o proprietário, possuidor ou o mero detentor da coisa, bem como a pessoa contra quem se dirige a violência ou grave ameaça, ainda que desligada da lesão patrimonial.
Conduta: No caput do art. 155, tem-se o roubo próprio, hipótese em que o agente, visando apoderar-se de patrimônio alheio, lança mão: 1) de violência, 2) grave ameaça, 3) ou qualquer outro meio capaz de impossibilitar a vítima de resistir ou defender-se. Já no roubo impróprio, previsto no § 1º, o agente se vale de violência ou grave ameaça, não para subtrair a coisa, mas, como diz o dispositivo, para assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa.
Majorantes de pena (§ 2º e § 2º-A): O § 2º estabelece majorantes, aplicáveis tanto ao roubo próprio quanto ao impróprio. Vejamos as mais importantes:
O inciso II faz referência ao concurso de pessoas, assim como no furto.
Por meio da Lei 13.654/18, o § 2° do artigo 157 passou a contar com o inciso VI, que aumenta a pena se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. Aplicam-se, no geral, os mesmos comentários sobre a qualificadora do § 7º do artigo 155, com a diferença de que, aqui, a subtração se dá mediante violência ou grave ameaça.
O § 2º-A, introduzido também pela Lei 13.654/18, aplica-se às modalidades própria e imprópria do roubo e estabelece o aumento de dois terços na pena em duas situações:
Inciso I: majora a pena se a violência ou a ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
Inciso II: majora nas situações em que há destruição ou rompimento de obstáculo, com emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. Trata-se de situação na qual o agente emprega violência ou grave ameaça a pessoa para praticar a subtração por meio de explosivos.
Roubo qualificado pelo resultado (§ 3º): A norma do § 3º tem dois incisos. O primeiro refere-se ao resultado lesão corporal de natureza grave; o segundo, ao resultado morte (latrocínio), conduta rotulada com hedionda pela Lei 8.072/90. A divisão em dois incisos foi promovida pela Lei 13.654/18, que também alterou a pena máxima relativa à primeira qualificadora, passando-a de quinze para dezoito anos.
8.3 EXTORSÃO (Artigo 158 do CP)
Código Penal
Art. 158: Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
O crime de extorsão protege, em primeiro lugar, o patrimônio e, secundariamente, a inviolabilidade pessoal da vítima. A despeito da gravidade, e a exemplo do crime de roubo, a finalidade do agente é obter vantagem econômica, diminuindo o patrimônio do ofendido.
Sujeitos do crime: não se exige nenhuma qualidade especial do sujeito ativo, podendo ser qualquer pessoa. Caso a indevida exigência seja feita por funcionário público, mesmo fora de sua função, ou antes de assumi-la, mas em razão dela, o crime poderá ser de concussão, modalidade de delito praticado contra a administração pública. É entendimento predominante o de que sujeito passivo do crime de extorsão é aquele que suporta diretamente a violência ou a grave ameaça, e que pode ser, eventualmente, pessoa diversa da que seja a titular do bem atacado. Aliás, é reconhecida a possibilidade de a pessoa jurídica figurar como vítima patrimonial do delito.
Conduta: Reside no verbo “constranger”, isto é, obrigar, coagir alguém a fazer algo, a tolerar que se faça ou a deixar de fazer alguma coisa. A prática se dá mediante violência (física) ou grave ameaça.
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO (Artigo 159 do CP)
Código Penal
Artigo 159: Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
O dispositivo em estudo traz uma forma qualificada da extorsão, praticada mediante sequestro (a vítima é privada de sua liberdade como meio para a obtenção da almejada vantagem).
Sujeitos do crime: Qualquer pessoa pode figurar no polo ativo do crime. Concorre para a extorsão mediante sequestro o agente a quem, na divisão de tarefas, cabe providenciar alimentos para os sequestradores e às vítimas, alugar chácaras ou outro local para servir de cativeiro, bom como dar outros apoios táticos: ainda que não tenha abordado e dominado os ofendidos, num primeiro momento da ação delituosa, agiu em comparsaria e, portanto, responde pelo crime. Sujeitos passivos serão tanto o indivíduo que tem sua liberdade de locomoção tolhida, quanto aquele que sofre a lesão patrimonial.
Conduta: No verbo “sequestrar” reside o tipo objetivo do delito, significando impedir, mediante qualquer meio, com a finalidade de obtenção de qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate, que alguém exercite o seu direito de ir e vir.
8.4 APROPRIAÇÃO INDÉBITA (Artigo 168 do CP)
Código Penal
Artigo 168: Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário,inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
Comete o crime de apropriação indébita o agente que, abusando da condição de possuidor ou detentor, passa a ter o bem móvel como seu, dele arbitrariamente se apropriando.
Sujeitos do crime: o delito pode ser praticado por qualquer pessoa que tenha a posse ou a detenção legítima do bem móvel alheio. Sujeito passivo será aquele atingido em seu patrimônio pela indevida apropriação, podendo ser pessoa física ou jurídica (não necessariamente aquele que entregou o bem ao agente).
Conduta: Trata-se de crime de ação única, cujo comportamento se consubstancia no verbo “apropriar-se” de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou detenção, passando a agir arbitrariamente como se dono fosse.
8.5 ESTELIONATO (Artigo 171 do CP)
Código Penal
Artigo 171: Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
O crime de estelionato tutela a inviolabilidade patrimonial, punindo a prática de atos enganosos que tenham por objetivo a obtenção de vantagem indevida.
Sujeitos do crime: sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa, não se exigindo nenhuma qualidade ou condição especial. O sujeito passivo também é comum, isto é, qualquer pessoa que sofra lesão patrimonial ou que seja submetida à ação fraudulenta empreendida pelo agente. A jurisprudência do STF é pacífica no sentido de que o sujeito passivo, no crime de estelionato, tanto pode ser a pessoa enganada quanto a prejudicada, ainda que seja um ente público.
Conduta: Pune-se aquele que, por meia da "astúcia", "esperteza", "mentira" ou outro artifício ardiloso, procura despojar a vítima do seu patrimônio fazendo com que esta entregue a coisa visada espontaneamente, evitando assim, retirá-la por meios violentos. Em suma, o agente busca lesar a vítima (ou terceiro) em seu patrimônio, de maneira sutil, mas sempre segura.
8.6 RECEPTAÇÃO (Artigo 180 do CP)
Código Penal
Artigo 180: Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
O bem jurídico tutelado é o patrimônio, cuja inviolabilidade se busca garantir com a incriminação.
Sujeitos do crime: Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, com exceção do concorrente (coautor ou partícipe) do crime anterior. Excepcionalmente, pode figurar como sujeito ativo o proprietário do bem, caso o objeto esteja na posse legítima de terceiro. Sujeito passivo será o mesmo do delito antecedente. Aliás, analisando o crime, conclui-se que a receptação prolonga ou mantém, perpetuando-a, a situação ilícita criada pelo crime anterior, em prejuízo da respectiva vítima.
Conduta: O tipo penal é dividido em duas partes: receptação própria e imprópria.
Na receptação própria, o agente, sabendo ser produto de crime, adquire a coisa, recebe, transporta, conduz ou a oculta. Já a receptação imprópria se consubstancia na conduta daquele que influi para que terceiro, de boa-fé, adquira, receba ou oculte a coisa produto de crime. Para que se configure a receptação (própria ou imprópria), é imprescindível a existência de delito precedente, figurando como objeto material a coisa produto de crime.
8.7 DANO
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Dano qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação
pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos;
(Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017)
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
O texto do código penal, em seu artigo 163 menciona três elementos específicos presentes no crime de dano, quais sejam:
1. destruir;
2. inutilizar;
3. deteriorar.
A pessoa que cometer qualquer um desses verbos a um objeto específico, qual seja: coisa alheia, poderá ser punido com uma pena de um a seis meses, ou multa.
Quando falamos em destruir, estamos nos referindo ao ato de extinguir ou eliminar.
Por outro lado, quando falamos em inutilizar, estamos nos referindo a deixar uma coisa sem utilidade, não servindo mais para aquilo ao qual foi criada inicialmente.
Deteriorar é estragar a coisa sem que esse “estrago” acabe totalmente com ela.
CLASSIFICAÇÃO DO CRIME DE DANO E BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO
A doutrina costuma mencionar o crime de dano como sendo um crime comum, doloso, material, comissivo (podendo ser praticado via omissão imprópria), de ação múltipla, de dano e de forma livre.
Quanto ao bem protegido, podemos mencionar que trata-se de um patrimônio, sem características específicas, podendo ele ser privado ou público, móvel ou imóvel, desde que seja coisa alheia.
SUJEITOS
Por ser um crime comum, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, exceto o próprio dono da coisa, uma vez que o texto da lei deixa claro se tratar de uma punição a quem destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia.
Se por exemplo, João tem um carro e o arremessa de frente a um muro de propósito, é de se mencionar que não estamos diante de um caso de dano sujeito às regras do artigo 163 do código penal.
Entretanto, caso João empreste este automóvel ao seu primo, que com dolo o arremessa contra o muro, poderá ele responder pelo crime de dano.
Além disso, vale mencionar que o crime de dano só pode ser praticado dolosamente, não existindo a previsão para a modalidade culposa.
8.7.1 O DANO QUALIFICADO
A segunda parte do artigo 163 do código penal, menciona quatro casos de dano qualificado.
Nesses casos, a pena será de detenção de seis meses a três anos e multa, além da pena correspondente à violência.
O primeiro caso está relacionado ao dano praticado com violência à pessoa ou grave ameaça.
Ou seja, aqui, a violência a pessoa ou grave ameaça são meios utilizados para a prática do dano. Caso ele seja cometido antes e a violência a pessoa ou grave ameaça depois, não há de se falar em dano qualificado.
O inciso II trata do dano cometido com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave.
Como mencionado anteriormente, para que o crime seja qualificado, é necessário que tal qualificadora seja utilizada como meio para a prática do crime.
Logo, caso a utilização de substância inflamável ou explosiva ocasione uma explosão (por exemplo), estaríamos diante de um outro tipo de crime e não do crime de dano qualificado.
Já o inciso III trata do dano cometido contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos.
Trata-se de revisão legislativa inserida por meio da lei 13.531/2017, elencando todos os órgãos anteriormente esquecidos pelo legislador infraconstitucional e que merece uma atenção especial no estudo para a sua prova ou concurso público.
Por fim temos o dano cometido por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima.
De natureza subjetiva, o motivo egoístico não pode ser invocado em casos de coparticipação. Trata-se de um caso em que o agente busca proveito pessoal indireto.
Já o prejuízo considerável para a vítima deve ser analisado em conjunto com as possibilidades econômicas da vítima para se analisar se a perda do objetivo ocasionou o mencionado prejuízo.
9. CONCURSO DE PESSOAS
O concurso de pessoas pode ser conceituado como a colaboração de dois ou mais agentes para a prática de um delito oucontravenção penal.
O concurso de pessoas é regulado pelos arts. 29 a 31 do CP:
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984)
§ 1o - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terão. (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984)
§ 2o - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-· aplicada a pena deste; essa pena ser· aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984)
9.1 Circunstâncias incomunicáveis
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984)
9.2 Casos de impunibilidade
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984)
9.3 TEORIAS
I. Pluralista (ou pluralística) - Para esta teoria cada pessoa responderia por um crime próprio, existindo tantos crimes quantos forem os participantes da conduta delituosa, j· que a cada um corresponde uma conduta própria, um elemento psicológico próprio e um resultado igualmente particular.
II. Dualista (ou dualística) - Segundo esta teoria, há um crime para os autores, que realizam a conduta típica emoldurada no ordenamento positivo, e outro crime para os partícipes, que desenvolvem uma atividade secundária.
III. Monista (ou monística ou unitária) - A codelinquência (concurso de agentes) deve ser entendida, para esta teoria, como CRIME ÚNICO, devendo todos responderem pelo mesmo crime.  A ADOTADA PELO CP. 
Isso não significa que todos que respondem pelo delito terão a mesma pena. A pena de cada um irá corresponder à valoração de cada uma das suas condutas (cada um responde na medida de sua culpabilidade). Em razão desta diferenciação na pena de cada um dos infratores, diz-se que o CP adotou uma espécie de teoria monista temperada (ou mitigada).
9.4 ESPÉCIES
I. Eventual – pode ocorrer em qualquer infração penal passível de ser praticada por uma só pessoa (crimes unissubjetivos). 
II. Necessário – aquele que em sua própria natureza jurídica devem estar presentes dois ou mais agentes, ou seja, só podem ser cometidos por duas ou mais pessoas.
Ex.: como a bigamia, a rixa, o crime de quadrilha, etc.
9.5 REQUISITOS
I. Pluralidade de condutas: Existentes condutas de várias pessoas é indispensável, do ponto de vista objetivo, que haja nexo causal entre cada uma delas e o resultado.
II. Relevância causal de cada um nas ações: Havendo relação entre a ação de cada uma das condutas e o resultado, ou seja, havendo relevância causal de cada ato delituoso, concorreram essas pessoas para o evento e por ele serão responsabilizadas.
III. Liame subjetivo entre os agentes: É necessário, também, uma ligação psicológica entre os vários autores, ou seja, o conhecimento de que cooperam numa ação comum. Não basta atuar o agente com dolo (ou culpa), sendo necessária uma relação subjetiva entre os concorrentes. Somente a adesão voluntária, objetiva (nexo causal) e subjetiva (nexo psicológico), à atividade criminosa de outrem, visando à realização de um objetivo comum, cria o vínculo do concurso de pessoas e responsabiliza os agentes à pelas consequências da ação. Inexistente esse liame psicológico, não há que se reconhecer o concurso de agentes disciplinado no art. 29 do Cód. Penal.
IV. A identidade de fato: Mirabete aborda a questão de identidade de fato com o exemplo de que não haverá vínculo na omissão do empregado que se esquece de fechar uma porta da casa do empregador, circunstância que vai favorecer a entrada do autor de um furto. Inexiste no caso o concurso de agentes pois o empregado não agiu com dolo voltado à facilitar a entrada de um ladrão e apenas o autor da subtração responderá pelo ilícito, apesar de ter sido favorecido pela falta de cuidado do criado. Existirá, no entanto, o liame psicológico quando o empregado, intencionalmente, deixa aberta a porta, ainda que o ladrão desconheça a vontade daquele em ajudá-lo a cometer a subtração. Há no caso o concurso de pessoas, pois o criado agiu de modo a facilitar a conduta do autor do furto, como também desejou concorrer, ou seja, contribuir para a subtração. Deve haver, portanto, a consciente e voluntária participação no fato, mais uma vez demonstrado que não é indispensável o acordo prévio de vontades para a existência do concurso de pessoas.
A mera ciência, a assistência, ou mesmo a concordância psicológica para o evento, sem que a pessoa concorra com uma razão, porém, diferencia-se da instigação e não é punida pois a instigação visa a fomentação de uma ideia preexistente. Também não há concurso quando a pessoa não denuncia às autoridades que um delito vai ser praticado, exceto se tiver o dever jurídico de impedir o resultado.
9.6 AUTORIA
I. Teoria Restritiva de Autor: É a teoria adotada pelo Brasil, e por ela entende-se como autor aquele que realiza conduta típica descrita na lei, ou seja, é quem pratica o verbo previsto no tipo penal. É aquele que subtrai, que mata, que sequestra etc., não sendo considerado, portanto, o mandante do crime autor, pois lhe faltam os atos de execução do tipo penal.
II. Teoria Extensiva de Autor: Para essa teoria, além daquele que realiza a conduta típica, será considerado autor aquele que contribui com alguma causa para o resultado. Para essa teoria, instigador e cúmplice são igualmente autores, já que não se distingue a importância da contribuição causal de uns e outros. Tampouco se faz a distinção entre autor e partícipe, uma vez que todos os agentes contribuíram para o resultado.
III. Teoria do Domínio Final do Fato: Segundo essa teoria, o autor é aquele que detém o domínio total do fato até a sua consumação, ou seja, autor é quem tem o poder de decisão sobre a realização do evento pretendido. É o mandante, aquele que planeja a ação delituosa, que organiza e dirige a atuação dos demais mesmo que não a realize o núcleo do tipo.
O autor, portanto, possui o domínio finalista, diferenciando-se do partícipe que é um simples colaborador no fato, um concorrente acessório mesmo que sua contribuição seja dolosa.
IV. Autoria Mediata: Autor mediato é aquele que realiza a ação típica através de outra pessoa que atua sem culpabilidade, ou seja, utiliza-se de outra pessoa como instrumento para a prática de um delito.
    * Os crimes de autoria mediata podem resultar de:
1) Valer-se de um inimputável:
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (CÓDIGO PENAL).
Imputabilidade é a capacidade para apreciar o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Todo agente é inimputável, salvo quando ocorrer uma causa de exclusão:
1.2 – Doença mental;
1.3- Desenvolvimento mental incompleto;
1.4- Desenvolvimento mental retardado;
1.5 – Embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior.
2) Coação moral irresistível: Coação moral é obrigar alguém por meio de grave ameaça a realizar uma conduta típica.
2.1 -  Obediência hierárquica;
2.2 - Erro de tipo escusável, provocado por terceiro: O erro de tipo acontece quando o agente não sabe que está cometendo um crime, mas acaba por praticá-lo.
2.3 -  Erro de proibição escusável, provocado por terceiro: No erro de proibição o agente sabe o que faz, mas erra sobre a ilicitude da sua conduta.
Como exemplo de autoria mediata podemos citar a mãe que manda seu filho menor matar a vizinha, ou que subtraia algum objeto em uma loja, ou ainda, o pai que manda seu filho doente mental desferir golpes de faca em seu desafeto. Nesses casos inexistiu a vontade do

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