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1 Ketlin T.S. CIRURGIA DO BAÇO O baço é um órgão do sistema linfático que participa da defesa contra infecções por microrganismos por meio de detecção e filtração de células alteradas na sua estrutura. A substância vermelha do baço facilita a fagocitose de eritrócitos infectados com parasitas (malária e a babesiose). A incidência de sepse pós-esplenectomia é baixa, sendo cerca de 3% dos pacientes, com maior risco em crianças. O risco é maior dentro dos 2 primeiros anos após a cirurgia, mas 1/3 ocorrem após 5 anos. Permanecendo o risco por toda a vida. Os principais microrganismos são → Streptococcus pneumoniar, Haemophilus influenzae tipo B e Neisseria meningitidis. Em caso de esplenectomia de urgência, recomenda-se aplicar a vacina após o trigésimo dia de pós-operatório. Está indicada profilaxia antimicrobiana com cefazolina ou clindamicina aos alérgicos antes da cirurgia. Alguns mantém cefazolina por 24h após o procedimento. Todos os pacientes são orientados a procurar a emergência com o surgimento de sinais e sintomas de infecção. A indicação é de que se realize o procedimento por videolaparoscopia → mesmo com maior tempo operatório, tem menores índices de complicações e menor tempo de internação hospitalar. Na avaliação pré-operatória → ultrassonografia para determinar o tamanho e o volume do baço. Em pacientes com contagem de plaquetas inferior a 20 000/dL pode ser administrado corticoides e/ou imunoglobulina para aumentar o número de plaquetas e diminuir o risco de sangramento. ANATOMIA ESPLÊNICA O baço desenvolveu-se a partir das células mesenquimais no mesogástrio dorsal durante a 5º semana de gestação. Fica localizado no hipocôndrio esquerdo. O diafragma separa o baço da pleura, d lobo inferior esquerdo do pulmão e as 9º, 10º e 11º costelas adjacentes. Em adultos, o tamanho é de 12 cm de comprimento, 7 cm de largura e 3-4 cm de espessura. O peso médio em um adulto é de 150 g, variando de 80-300g. É muito próximo das costelas o que favorece o trauma. Pode acontecer trauma por compressão em crianças. O peritônio parietal adere firmemente à cápsula esplênica, exceto ao hilo esplênico. O peritônio estende-se superior, lateral e inferiormente, criando dobras que formam os ligamentos suspensores do baço. O descapsulamento do baço é uma lesão comum em acidentes de trânsito. A cápsula esplênica, reveste o órgão, a partir dela as suas trabéculas entram ao parênquima, ramificam-se e subdividem o órgão em pequenos compartimentos. A artéria esplênica provém do tronco celíaco, faz um trajeto ao longo da borda superior do pÂncreas. 2 Ketlin T.S. A segmentação da artéria esplênica permite que seja feita a segmentação do órgão. Os ramos da artéria esplênica incluem os ramos pancreáticos, as artérias gástricas curtas, a artéria gastroepiploica esquerda e os ramos esplênicos terminais. Baço acessório → 10 a 20% dos pacientes costumam ter. A localização mais comum é o hilo esplênico, no ligamento gastroesplênico, pode estar também em volta da cauda do pâncreas, no retro-peritoneal. Na polpa branca estão presentes os linfócitos, células de defesa. As bainhas linfáticas ficam intercaladas ao longo dos vasos arteriolares como folículos. Entre a zona branca e vermelha há a zona marginal, conforme as arteríolas perdem suas bainhas de tecido linfático elas penetram na polpa vermelha, que é comporta de vasos sanguíneos. Possui células de musculatura lisa o que lhe proporciona certa contração. A veia esplênica corre inferiormente à artéria e posteriormente à cauda e o corpo do pâncreas. Ela recebe várias tributárias curtas do pâncreas. Une-se a veia mesentérica superior por trás do colo do pâncreas para formas a veia porta. FUNÇÃO ESPLÊNICA Tem importante função hematopoética durante a fase inicial do desenvolvimento fetal, com a produção de hemácias e leucócitos. No 5º mês de gestação a medula óssea assume o papel predominante na hematopoese. A remoção não costuma resultar em anemia ou leucopenia em uma pessoa saudável. É um reservatório de hemácias e plaquetas. A sua filtração mecânica, remove as hemácias senescentes e contribui para o controle das infecções. Os elementos sanguíneos formados precisam passar através de fendas no revestimento dos seios venosos, se não conseguem passar, ficam aprisionados no baço e são ingeridos pelos fagócitos esplênicos. A perda do baço resulta em perda tanto das funções imunológicas como de filtração. A função de filtração esplênica é importante para manter a morfologia e a função normal das hemácias.Por isso, o baço é importante para o processamento das hemácias imaturar e para o reparo ou destruição de hemácias deformadas ou envelhecidas. Na condição asplênica ocorrem várias alterações na aparência morfológica das hemácias no sangue periférico, com a presença de: Células alvo → células imaturas; Corpos de Heinz → hemoglobina desnaturada; Corpos de Howell-Jolly → remanescentes nucleares; Corpos de Pappenheimer → grânulos de ferro; Pontilhamento e células em esporas. 3 Ketlin T.S. A função de filtração também é um fator importante nas condições anêmicas associada a morfologia das hemácias → as anormais ficam aprisionadas no baço, resultando em uma piora da anemia, esplenomegalia sintomática e em infarto esplênico. Todo paciente que for fazer esplenectomia é recomendado vacina pré operatória. Em situação de emergência é feita após o procedimento. VACINA → pelo menos 2 semanas antes para dar tempo de desenvolver anticorpos. PPV 23 que é feita. Em pacientes operados seguir usando antibiótico pelo menos 5 anos de antibioticoprofilaxia, nas crianças 2 anos. Contudo, no adulto isso não parece que faz muita diferença. Receber receita de penicilina, para que em momentos de febre já iniciem com o antibiótico. A amigdalite é um fator de risco aos pacientes que tiveram o baço ou uma parte dele removidos. HIPOESPLENISMO (ASPLENISMO) HIPERESPLENISMO → esplenomegalia e diminuição de algumas linhagens do sangue (anemia, leucopenia, trombocitopenia). Anemia + leucopenia → aumentando pois tá destruindo plaquetas, por exemplo. A anemia crônica faz com que sejam necessárias muitas transfusões. INDICAÇÕES DE ESPLENECTOMIA As indicações mais comuns para esplenectomia eletiva são: Púrpura trombocitopênica idiopática: melhor resposta clínica Púrpura trombocitopênica trombótica Esferocitose hereditária Anemia hemolítica autoimune Na falha terapêutica; tratamento adjunto ao tratamento clínico; diagnóstico impreciso. 4 Ketlin T.S. DOENÇAS HEMATOLÓGICAS Púrpura trombocitopênica idiopática → caracterizada pela baixa contagem de plaquetas, medula óssea normal e a ausência de outras causas de trombocitopenia. É uma doença de aumento de desturição das plaquetas, o que resulta na fagocitose plaquetáris pelo sistema reticuloendolelial. Mulheres 10-40 anos; crianças geralmente tem remissão espontânea permanente; plaquetopenia por destruição plaquetária; descartar outras causas como diagnpóstico diferencial; aparecem em função da destruição plaquetária as púrpuras, petéquias, epistaxe, sangramento gengival. Tratamento conservados com corticóides (prednisona 1mg/kg/dia), pacientes com níveis muito baixos de plaquetas possuem maior risco de sangramento e passam a ter indicação ao tto cirúrgico (menos de 10000). A imunoglobulina intravenosa é importante no tratamento do sangramento agudo e para o preparo de pacientes para a operação, ou parto, a dose habitual é de 1g/kg/dia durante 2 dias. A esplenectomia está indicada para pacientes com= trombocitopenia sintomática grave refretária, em pacientes que precisam doses tóxicas de esteroides para remissão, em pacientes com recaídas da trombocitopenia após o tratamento inicial com os glicocorticoides. Esferocitose hereditária → é uma doença autossômica dominante queresulta de um deficiência de espectrina, uma proteína do citoesqueleto da hemácia. Isso causa a formação de hemácias pequenas, esféricas e rígidas. Com fragilidade osmótica aumentada. As características clínicas incluem= anemia, ocasionalmente icterícia, esplenomegalia. O diagnóstico se dá pela identificação dos esferócitos no esfregaço do sangue periférico, aumento de reticulócitos, aumento da fragilidades osmótica e um teste de Coombs negativo. A esplenectomia diminui a taxa de hemólise e leva a uma resolução das anemias leves = reduz o aprisionamento e a destruição prematura das hemácias. É adiada até pleo menos o 4º ano de vida da criança, devido a função imunológica do baço. Linfoma não hodgkin → via de regra tto clínico, contudo, as vezes o diagnóstico clínico não se confirma, pois pode ser isolado no baço e por isso o diagnóstico de biópsia do baço é necessário e a esplenectomia faz-se precisa. A esplenectomia está indicada em pacientes com LNH para o tto da esplenomegalia maciça, pois o volume contribui para a dor abdominal, sensação de plenitude e saciedade precoce e também nos pacientes com hiperesplenismo com anemia associada, trombocitopenia e neutropenia. Doença de Hodgkin → é um linfoma maligno que afeta principalmente jovens de 20 a 30 anos de idade. A maioria dos pacientes apresenta linfadenectomia assintomática e muitos com aumentos dos linfonodos cervicais. O estádio I = doença em um único sítio linfático; estádio II = duas ou mais cadeias linfonodais do mesmo lado do diafragma; estádio III = presença em ambos os lados do diafragma; estádio IV = disseminada em locais extralinfáticos. A laparotomia de estadiamento estadia patologicamente a presença e a extensão, contudo, atualmente não é mais tão utilizada, uma vez que a TC e linfangiografia melhoraram o estadiamento não cirúrgico da doença. A laparotomia de estadiamento e a esplenectomia são apropriadas para pacientes em estágio clínico da doença em fase inicial (IA ou IIA). 5 Ketlin T.S. TRAUMA EPSLÊNICO A ultrassonografia abdominal e a TC permitiram a localização e a quantificação relativa da hemorragia abdominal e a TC uma definição boa do grau anatômico de ruptura esplênica. A história e o exame físico continuam a ser a base para o diagnóstico de lesão epslênica. No exame físico → evidência de irritação peritoneal as vezes são aparentes, mas na maioria dos casos essa evidência é mínima. A sensibilidade à percussão ou evidÊncia de contusão e lesão dos tecidos moles do rebordo costal inferior esquerdo posterior costumam estar presentes nas lesões esplênicas por pancadas. Queixas de dor no quadrante superior esquerdo ou dor referida ao ombro esquerdo (sinal de Kehr) estão muito correlacionadas com lesão. O estado hemodinâmico do paciente também pode sugerir lesão que está produzindo hemorragia = hipotensão ou a taquicardia. É importante verificar se há a presença de alguma lesão aparente que possa sangrar e assim produzir alterações hemodinâmicas. O diagnóstico torna-se mais fifícil n presença de múltiplas lesões e quando há lesão neural associada e o abuso de substâncias. A utilização da TC permitiu ser criado uma definição de critérios objetivos para a calassificação dos graus de lesão esplênica. A resolução permite uma delineação mais precisa da fratura do órgão e da ruptura vascular intraparenquimatosa. A ultrassonografia tem suas vantagens por não ser invasiva, ser rápida e de baixo custo. Identifica a presneça de líquidos intraperitoneal livre e quantifica, as janelas acústicas podem ser notadas ao redor das interfaces sólidas. A aplicação mais importante é a avaliaçaão do paciente hemodinamicamente instável com lesões múltiplas. 6 Ketlin T.S. Lacerações de mais de 3 cm no grau III geralmente atingem os vasos trabeculares. Nos pacientes IV e V não param de sangrar. Os pacientes grau I, II, III podem ter tratamento conservador. INDICAÇÃO DE CIRURGIA Instabilidade hemodinâmica → PAS <90, FC>120 após 1-2L cristalóide e evidências de hemorragia intra- abdominal (paciente com escoreação na região do hipocôndrio) com paciente instável. Sofreu o trauma e possui lesão grau I ou II e possui ruptura de vícera oca, ai revisa o baço. Baço estensamente lesado com sangramento contínuo. Sangramento associado à lesão hilar. A esplenectomia tem suas indicações nas seguintes circunstâncias: 1. O paciente está instável; 2. Outras lesões precisam de atenção imediata; 3. O baço está extensamente lesado com um sangramento contínuo; 4. O sangramento está associado à lesão hilar. ESPLENORRAFIA A sua aplicação reduziu-se devido ao aumento dos casos de tratamento não cirúrgico. Quatro tipos de esplenorrafia foram utilizados: 1. Agentes hemostátivos superficiais: cautério, celulose oxidada, esponja de gelativa absorvível, trombina tópica; 2. Reparo com sutura; 3. Envoltório com uma rede absorvível; 7 Ketlin T.S. 4. Desbridamento com ressecção. As abordagens hemostáticas superficiais são úteis para as lesões graus I e II e podem ser coadjuvantes nas lesões de maior grau. O reparo por sutura das lacerações nas lesões de grau II e III tornou-se comum. Quando necessário a oclusão temporária da a esplnênica pode reduzir a perda de sangue e facilitar o reparo. No entanto, o reparo por sutura aumenta as chances de lacerações do baço, quando são amarradas. O acolchoamento com esponja de gelativa absorvível de 2 a 3 cm encolvidas em celulose oxidada e amarradas com sutura tem sido utilizado. O envoltório com tela tem sido eficaz nas lesões de grau III e algumas do grau IV. Funciona por mecanismo de tamponamento. O desbridamento resseccional é aplicado para grandes fraturas, geralmente envolvendo o polo superior ou inferior em lesões de grau II ou IV. TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO Atualmente 70-90% das crianças com lesão esplênica são tratadas com sucesso sem operação e 40-50% dos adultos. Sugere-se que as diferenças anatômicas entre adultos e crianças são as responsáveis, incluindo uma caixa torácica mais elástica, cartilaginosa, proporcionando proteção, e mais elastina no baço produzindo contração e algum grau de hemostasia em crianças. A regra para um tratamento não cirúrgico é o paciente estar hemodinamicamente estável. A maioria das lesões grau I e II pode ser tratada não cirurgicamente (60-70% dos casos). Nota-se em estudos que é preciso ter muita cautela ao tratamento das lesões graus III e IV, mesmo com estabilidade hemodinâmica. 8 Ketlin T.S.
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