os benefícios que deles aufere relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático, em que prevalecem a especialização das funções e o esforço para se assegurarem garantias jurídicas aos cidadãos. Patrimonialismo (continuação) Como se sabe, a prática do patrimonialismo ainda é bastante arraigada na sociedade brasileira. Apesar de o ordenamento jurídico brasileiro consagrar o princípio da igualdade entre os cidadãos, verifica-se a permanência de relações hierarquizada que permitem que alguns indivíduos sejam “mais iguais que outros”, como irônica e argutamente demonstra Roberto da Matta, na obra supracitada. É o caso de homens públicos que se utilizam de recursos públicos para fins privados, seja utilizando-se de funcionários públicos para serviços domésticos, seja pleiteando vistos diplomáticos a parentes sem alegadas razões de Estado. Cabe ressaltar que essas práticas vem sendo contestadas e combatidas, como pode-se perceber na proibição do nepotismo (contratação de parentes para ocupar cargos públicos) nas três esferas do poder (Executivo, Legislativo e Judiciário), como preconiza a Súmula Vinculante nº 13 do Supremo Tribunal Federal, de 29 de agosto de 2008, que ressalta o princípio da impessoalidade no trato da coisa pública. AULA 8 – MODELOS CLÁSSICOS DA ANÁLISE SOCIOLÓGICA: A CONTRIBUIÇÃO DE KARL MARX Materialismo histórico: Na concepção marxista, o termo materialismo refere-se à teoria filosófica preocupada em destacar a importância dos seres objetivos (os homens) como elementos constitutivos da realidade do mundo. Este é o método de análise social marxista, segundo o qual, as relações materiais que os homens estabelecem entre si e o modo como produzem seus meios de vida formam a base de todas as suas relações. (Quintaneiro et all. Um toque de clássicos. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2009). Dialética É o modo de pensarmos as contradições da realidade, de pensarmos as diferenças sociais e, consequentemente, a transformação permanente da realidade – a realidade dialética. Princípios básicos da dialética: tudo se relaciona; tudo se transforma; mudanças qualitativas; luta dos contrários. REFLEXÃO: A aplicação das teses fundamentais do materialismo dialético à realidade social deu origem à concepção materialista da história. Modo de produção Segundo esta concepção, o entendimento da realidade da vida só é possível à medida que conheçamos o modo de produção da sociedade – modo de produção é aqui entendido como a maneira pela qual os homens obtêm seus meios de existência material. Como demonstram Marx e Engels, em A Ideologia Alemã, é através do modo de produção que conhecemos uma sociedade em sua especificidade histórica e social. Não é a consciência que determina a vida material, mas a vida material que determina a consciência. A partir do modo de produção é possível identificar as diferenças históricas e as relações sociais presentes em cada época determinada. Na história, podemos distinguir pelo menos cinco grandes modos de produção: primitivo; o regime asiático; escravatura; servidão (feudal) e a capitalista. Luta de classes Ideologia De acordo com Marilena Chauí (O que é ideologia, São Paulo, Brasiliense, p.981), ideologia é “o conjunto de proposições existentes com a finalidade de fazer aparentar os interesses da classe dominante com o interesse coletivo, construindo uma hegemonia daquela classe, tornando-se uma verdade absoluta e natural”. Dessa forma, a manutenção da ordem social requer dessa maneira menor uso da violência. A ideologia torna-se um dos instrumentos da reprodução do status que da própria sociedade. “O vencedor ou o poderoso é transformado em único sujeito da história não só porque impediu que houvesse a história dos vencidos (ao serem derrotados, os vencidos perderam o “direito” à história), mas simplesmente porque sua ação histórica consiste em eliminar fisicamente os vencidos ou, então, se precisa do trabalho deles, elimina sua memória, fazendo com que se lembrem apenas dos feitos dos vencedores. Não é assim, por exemplo, que estudantes negros ficam sabendo que a Abolição foi um feito da Princesa Isabel? As lutas dos escravos estão sem registro e tudo que delas sabemos está registrado pelos senhores brancos. Não há direito à memória para o negro. Nem para o índio. Nem para os camponeses. Nem para os operários”. Alienação É originada na vida econômica. O bem produzido não pertence ao trabalhador. Não é mais o operário que projeta o trabalho. Há separação entre planejamento e execução, entre pensar e agir. Tem-se como consequência um saber mecânico e fragmentado. Práxis É um conceito central no pensamento de Marx. A práxis não se confunde com a prática. A práxis é a união da interpretação da realidade (teoria – conhecimento científico) à prática (realização efetiva, atividade), em outras palavras, é a ação consciente do sujeito na transformação de si mesmo e do mundo que o cerca. É através da práxis que se dá o combate à alienação. AULA 9 – A ATUALIDADE DAS CIÊNCIAS SOCIAIS NA COMPREENSÃO DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: GLOBALIZAÇÃO, DESIGUALDADES E EXCLUSÃO SOCIAL Globalização Cultural Giddens define globalização como "a intensificação de relações sociais mundiais que unem localidades distantes de tal modo que os acontecimentos locais são condicionados por eventos que acontecem a muitas milhas de distância e vice versa". Questão central: As identidades nacionais estão sendo “homogeneizadas”? Stuart Hall, em Identidade cultural na pós-modernidade (Rio de Janeiro: DP&A, 2000.), apresenta três posições contrárias ao sentimento de homogeneização cultural. I - Juntamente com a tendência a homogeneização global, acontece uma fascinação com a diferença e com a mercantilização da etnia e da “alteridade” (Kevin Robin). II - A globalização é desigualmente distribuída pelo mundo, entre regiões e estratos da população nas regiões = “geometria do poder” da globalização (Doreen Massey). III - A globalização continua sendo um fenômeno essencialmente ocidental = afeta de forma desigual os diversos espaços geográficos do globo (Kevin Robin). Consequências da globalização cultural 1 - Juntamente com a globalização há um reforçamento das identidades locais; 2 - A globalização é um processo desigual, com sua própria “geometria de poder”; 3 - As identidades culturais estão sendo relativizadas, apesar de reterem aspectos da dominação global: migração, legal e ilegal, de enormes contingentes de pessoas da periferia para os centros, principalmente das antigas colônias para as potências europeias. OBS: Esta formação de “enclaves” étnicos minoritários no interior dos estados-nação do Ocidente leva a uma “pluralização” de culturas nacionais e de identidades nacionais, tendo como consequência o surgimento de manifestações de xenofobia em várias partes do mundo. Percebe-se que a globalização não parece estar produzindo nem o triunfo do “global” nem a persistência, em sua velha forma nacionalista, do “local”. Os deslocamentos ou os desvios da globalização mostram-se, afinal, mais variados e mais contraditórios do que sugerem seus protagonistas ou seus oponentes. Entretanto, isso também sugere que, embora alimentada, sob muitos aspectos, pelo Ocidente, a globalização pode acabar sendo parte daquele lento e desigual, mas continuado, descentramento do Ocidente. A sociedade em rede Outra característica marcante da sociedade contemporânea é a formação de redes sociais nas quais os processos de construção de identidades são cada vez mais múltiplos. Segundo Manuel Castells, em A era da informação: economia, sociedade e cultura, o mundo contemporâneo globalizado constitui uma “sociedade em rede”. Para ele, “redes constituem a nova morfologia social de nossa sociedade e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura. Tudo isso porque elas são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando