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AULA 1 – OS CONCEITOS SOCIOANTROPOLÓGICOS DE INDIVÍDUO E SOCIEDADE
O objeto das Ciências Sociais
Por Ciências Sociais entende-se o conjunto de saberes relativos às áreas da Antropologia, Sociologia e Ciência Política. Assim, o objeto de estudo das Ciências Sociais é a sociedade em suas dimensões sociológicas, antropológicas e políticas.
As Ciências Sociais fazem parte do grupo de saberes intitulado Ciências Humanas e apresentam métodos próprios de investigação dos fenômenos que analisam.
As áreas constitutivas das Ciências Sociais: Sociologia, Antropologia e Ciência Política
Sociologia – A Sociologia estuda o homem e o universo sociocultural, analisando as inter-relações entre os diversos fenômenos sociais. Neste campo do conhecimento, a vida social é analisada a partir de diferentes perspectivas teóricas, notadamente as que têm como base conceitual os estudos desenvolvidos por Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. A partir dessas matrizes teóricas, estudam-se os fatos sociais, as ações sociais, as classes sociais, as relações sociais, as relações de trabalho, as relações econômicas, as instituições religiosas, os movimentos sociais etc.
Antropologia – Na Antropologia privilegiam-se os aspectos culturais do comportamento de grupos e comunidades. Questões cruciais para o entendimento da vida em grupo, como alteridade, diversidade cultural, são tratadas por essa ciência, que em seus primórdios estudava povos e grupos geográfica e culturalmente distantes dos povos ocidentais. Ao longo de seu desenvolvimento, os antropólogos passaram a analisar grupos sociais relativamente próximos*, buscando transformar o exótico, o distante em familiar.
*Assim, em sua história, a Antropologia revelou estudos notáveis sobre sociedades indígenas e sociedades camponesas, identificando suas diferentes visões de mundo, sistemas de parentesco, formas de classificação, cosmologias, linguagens etc. Também desenvolveu uma série de estudos sobre grupos sociais urbanos, enfatizando a diferenciação entre seus indivíduos, com base em critérios de raça, cor, etnia, gênero, orientação sexual, nacionalidade, regionalidade, afiliação religiosa, ideologia política, sistemas de crenças e valores, estilos de vida etc.
Ciência Política – Na Ciência Política analisam-se as questões ligadas às instituições políticas. Conceitos de poder, autoridade, dominação são estudados por essa ciência. Analisam-se também as diferenças entre povo, nação e governo, bem como o papel do Estado como instituição legitimamente reconhecida como a detentora do monopólio da dominação e do controle de determinado território.
Ao contrário de outras ciências, as Ciências Sociais lidam não apenas com o que se chama de realidade, com fatos exteriores aos homens, mas igualmente com as interpretações que são feitas sobre a realidade.
A importância do estudo socioantropológico na compreensão da realidade
O conhecimento científico da vida social não se baseia apenas no fato, mas na concepção do fato e na relação entre a concepção e o fato. Por estudar a ação dos homens em sociedade, de seus símbolos, sua linguagem, seus valores e cultura, das aspirações que os animam e das alterações que sofrem, as Ciências Sociais constituem ferramenta importante para o desenvolvimento da compreensão crítico-reflexiva da realidade.
Por essa razão, cada vez mais as Ciências Sociais são utilizadas em diversos campos da atividade humana. Campanhas publicitárias, campanhas eleitorais, elaboração de políticas públicas, até mesmo a programação de redes de rádio e televisão levam cada vez mais em conta resultados de investigações socioantropológicas, à medida que estas buscam entender as pessoas envolvidas em cada uma dessas atividades, suas crenças, valores e ideias.
Com as mudanças cada vez mais rápidas e profundas dos padrões morais e culturais das sociedades contemporâneas, mais relevantes se tornam as análises que visam compreendê-las. Deslocamentos de pessoas e grupos motivados pelo processo de globalização da economia, que intensificou os fluxos migratórios em todo o planeta, trocas culturais proporcionadas pelo estabelecimento de uma “sociedade em rede”, novos modelos de família e conjugalidade, novas configurações no campo religioso, entre outros, constituem tema de trabalhos de cientistas sociais contemporâneos. Esses trabalhos são utilizados frequentemente como fonte de reflexão por governos, sociedade civil e indivíduos que buscam desenvolver sua capacidade de compreensão dos acontecimentos e planejamento de ações com vistas à atuação na vida social.
Os conceitos socioantropológicos de indivíduo e sociedade
O papel do indivíduo na sociedade
A perspectiva socioantropológica aponta para uma relação dialógica entre indivíduo e sociedade. Não existem sociedades sem indivíduos e os indivíduos só se tornam verdadeiramente humanos por meio da socialização, processo pelo qual um indivíduo se torna um membro ativo da sociedade em que nasceu, isto é, comporta-se de acordo com determinados atributos preconcebidos.
O indivíduo, assim, desempenha na realidade um papel duplo em relação à cultura. Segundo Ralph Linton (O indivíduo, a cultura e a sociedade), em circunstâncias normais, quanto mais perfeito seu condicionamento e consequente integração na estrutura social, tanto mais efetiva sua contribuição para o funcionamento uniforme do todo é mais segura sua recompensa. Entretanto, as sociedades existem e funcionam num mundo em perpétua mudança.
REFLEXÃO: “Como uma simples unidade no organismo social, o indivíduo perpetua o status quo. Como indivíduo, ajuda a transformá-lo quando há necessidade. Desde que nenhum ambiente se apresente completamente estacionário, nenhuma sociedade pode sobreviver sem o inventor ocasional e sem sua capacidade para encontrar soluções para novos problemas”.
Como nos ensina Albert Einstein (Por que Socialismo?)
O “homem é, simultaneamente, um ser solitário e um ser social. Enquanto ser solitário, tenta proteger a sua própria existência e a daqueles que são próximos, satisfazer seus desejos pessoais e desenvolver as suas capacidades inatas. Enquanto ser social, procura ganhar o reconhecimento e afeição dos seus semelhantes, partilhar os seus prazeres, confortá-los nas suas tristezas e melhorar as suas condições de vida. Apenas a existência desses esforços diversos e frequentemente conflituosos respondem pelo caráter especial de um ser humano, e sua combinação específica determinada até que ponto um indivíduo pode atingir um equilíbrio interior e pode contribuir para o bem-estar da sociedade.
É perfeitamente possível que a força relativa destes dois impulsos seja, no essencial, fixada por herança. Mas a personalidade que finalmente emerge é largamente formada pelo ambiente em que um indivíduo acaba por se descobrir a si próprio durante o seu desenvolvimento, pela estrutura da sociedade em que cresce, pela tradição dessa sociedade, e pelo apreço por determinados tipos de comportamento. O conceito abstrato de “sociedade” significa para o ser humano individual o conjunto das suas relações diretas e indiretas com os seus contemporâneos e com todas as pessoas de gerações anteriores. O indivíduo é capaz de pensar, sentir, lutar e trabalhar sozinho, mas depende tanto da sociedade – na sua existência física, intelectual e emocional – que é impossível pensar nele, ou compreendê-lo, fora da estrutura da sociedade.
É a “sociedade” que lhe fornece comida, roupa, casa, instrumentos de trabalho, língua, formas de pensamento, e a maior parte do conteúdo do pensamento; a vida foi tornada possível através do trabalho e da concretização dos muitos milhões passados e presentes que estão todos escondidos atrás da pequena palavra “sociedade”. É evidente, portanto, que a dependência do indivíduo em relação à sociedade é um fato da natureza que não pode ser abolido – tal como no caso das formigas e das abelhas. No entanto, enquanto todo o processo de vida das formigas e das abelhas é reduzido ao menor pormenor por instintos hereditários rígidos, o padrão social e as inter-relaçõesdos seres humanos são muitos variáveis e susceptíveis de mudança.
A memória, a capacidade de fazer novas combinações, o dom da comunicação oral tornaram possíveis os desenvolvimentos entre os seres humanos que não são ditados por necessidades biológicas. Estes desenvolvimentos manifestam-se nas tradições, instituições e organizações; na literatura; nas obras científicas e de engenharia; nas obras de arte. Isto explica a forma como, num determinado sentido, o homem pode influenciar sua vida através de sua própria conduta, e como neste processo o pensamento e a vontade consciente podem desempenhar um papel.
AULA 2 – OBJETO E MÉTODO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
Ciências Naturais e ciências sociais: objeto e método
As Ciências Naturais estudam fatos simples, eventos que presumivelmente têm causas simples e são facilmente isoláveis, recorrentes e sincrônicos. Tais fatos podem ser vistos, isolados e reproduzidos dentro de condições de controle razoáveis, num laboratório.
Assim, nas Ciências Naturais há uma distância irremediável entre o cientista e seu objeto de pesquisa, o que torna o método objetivo o mais apropriado para a investigação de fenômenos dessa ordem.
Ao contrário de outras ciências, as Ciências Sociais lidam não apenas com o que se chama de realidade, com fatos exteriores aos homens, mas igualmente com as interpretações que são feitas sobre a realidade.
As Ciências Sociais estudam fenômenos complexos. Seu objeto de investigação é o homem nas relações intersubjetivas, os fenômenos sociais, ou seja, eventos com determinações complicadas e que podem ocorrer em ambientes diferenciados, fazendo com que toda análise de fenômenos dessa natureza seja parcial, subjetiva.
Por que como um bolo?
- Posso comer bolo porque tenho fome.
- Posso comer por solidariedade a alguém que faz aniversário.
- Posso comer o bolo para agradar a minha mãe.
OBS: No âmbito das Ciências Sociais torna-se difícil desenvolver uma teoria capaz de transmitir com PRECISÃO uma causa única ou motivação exclusiva.
Indaga-se:
- É possível reproduzir determinados acontecimentos?
- Podemos reproduzir a época dos Descobrimentos? Da Revolução Francesa?
Podemos reunir os mesmos personagens, músicas, comidas, vestes, mobiliário, animais... Não será possível reproduzir o clima daquele momento, a atmosfera da época. Estaremos criando outro significado.
Resumindo:
Nas ciências naturais
- Os fenômenos podem ser percebidos, divididos, classificados e explicados dentro de condições de relativo controle em condições de laboratório.
- Alcança-se a objetividade científica.
- As descobertas possibilitam o desenvolvimento de novas tecnologias.
Nas ciências humanas e sociais
- Os fenômenos são complexos.
- As percepções são variadas, porquanto históricas.
- O resultado prático é visto em livros, romances, arte, teatro, novelas, onde tais ideias podem ser aplicadas para produzir modificações no comportamento das pessoas – nos sistemas de valores.
- Os fatos sociais são irreproduzíveis em condições controladas e, por isso, quase sempre faze parte do passado.
- São eventos a rigor históricos e apresentados de modo descritivo e narrativo, nunca na forma de uma experiência.
Como estudar fenômenos sociais?
Ao observar os fenômenos sociais somos levados enfrentar nossa própria posição, nossos valores, nossa visão de mundo que interfere na nossa pesquisa. Nossa fala, nossos gestos, nossa modo de ser e de agir revelam o tipo de socialização que tivemos e influencia em nossa visão de mundo. 
Dessa forma, trabalhamos com fenômenos que estão bem perto de nós, temos a interação complexa entre o investigador e o investigado, pois ambos compartilham de um mesmo universo de experiências humanas.
 “Nasce, daí, um debate inovador, numa relação dialética entre investigador e investigado”. 
(DA MATTA, Roberto in Relativizando: uma introdução à antropologia social).
REFLEXÃO: As teorias descobertas poderão ser usadas para alterar a vida das baleias, mas nunca usadas diretamente pelas baleias. Por isso são considerados conhecimentos objetivos, externos, independentes de baleias, aves e investigadores.
Nas Ciências Sociais temos a interação complexas entre o investigador e o investigado. Ambos compartilham de um mesmo universo de experiências humanas.
Podemos assimilar um costume diferente do nosso, ou até mesmo, perceber o melhor de nossas tradições quando estamos em contato com outras culturas. Neste âmbito, percebemos que podemos adotar costumes de outros povos, aprender seus credos, modificar nossas leis.
“Cada sociedade humana conhecida é um espelho onde nossa própria existência se reflete”.
(DA MATTA, Roberto in Relativizando: uma introdução à antropologia social).
AULA 3 – A ANÁLISE ANTROPOLÓGICA DA CULTURA
O conceito de cultura
O conceito de cultura é uma preocupação intensa atualmente em diversos áreas do pensamento humano, no entanto a Antropologia é a área por excelência de debate sobre esta questão.
O primeiro antropólogo a sistematizar o conceito de cultura foi Edward Tylor que, em Primitive Culture, formulou a seguinte definição:
“cultura é todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral. Lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade”.
Desde sempre os homens se preocuparam em entender por que outros homens possuíam hábitos alimentares, formas de se vestir, de formarem famílias, acessarem o sagrado de maneiras diferentes das suas. A essa multiplicidade de formas de vida dá-se o nome de diversidade cultural.
Contudo, foi a partir da descoberta do “Novo Mundo”, nos séculos XV e XVI, que os europeus se depararam com modos de vida completamente distintos dos seus, e passaram a elaborar mais intensamente interpretações sobre esses povos e seus costumes. É fundamental lembrarmos que o impacto e a estranheza se deram dos dois lados. Os grupos não europeus se espantavam com o ser diferente que chegava até eles desembarcando em suas praias e tomando posse de seu território.
Existem relatos de povos que após a morte de um europeu em combate, colocavam seu corpo dentro de um rio e esperavam sua decomposição para ver se eram pessoas como eles. A diferença é que não temos contato com esses relatos dos povos não europeus para conhecermos a visão que eles tinham dos brancos.
O olhar eurocêntrico sobre a cultura
....
A prática etnográfica
Na segunda metade do século XIX esta “metodologia” é questionada afinal, como falar sobre uma cultura que nunca se viu? Como descrever eventos que nunca se vivenciou? Assim cunha-se a prática etnográfica que é a metodologia característica da antropologia até os dias de hoje: o próprio antropólogo vai ao campo, entra no grupo, vivencia esta cultura diferente, deixa-se fazer parte deste dia a dia, registra esta vivência, retorna para sua própria cultura e finaliza seu trabalho de escrita que é o registro final desta experiência. Segundo François Laplantine, em Aprender Antropologia, a prática etnográfica consiste em “impregnar-se dos temas de uma sociedade, de seus ideais, de suas angústias. O etnógrafo é aquele que deve ser capaz de viver nele mesmo a tendência principal da cultura que estuda”.
No entanto, não é nada fácil vivenciar uma outra cultura diferente de nossa. Por que? Não sentimos nossa cultura como uma construção específica de hábitos e costumes: pensamos que nossos hábitos e nossa forma de ver o mundo devem ser os mesmos para todos!
Naturalizamos nossos costumes e achamos o do outro “diferente”. Diferente de quê? Qual é o padrão “normal” segundo o qual analisamos o “diferente”?
Geralmente estabelecemos a nossa cultura como padrão, a norma. Assim tudo que é diferente é concebido como estranho, e mesmo errado. Tal postura é o que denominamos etnocentrismo.
Etnocentrismo
Segundo Everardo Rocha, em O que é Etnocentrismo, trata-se da “visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentido através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual,pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade etc”.
Roberto da Matta, no texto “você tem cultura?” demonstra que “essa é a experiência antropológica, buscar compreender a lógica da vida do outro. Antes de cogitar se “aceitamos” ou não esta outra forma de ver o mundo, a Antropologia nos convida a compreendê-la, e verificar que ao seu jeito uma outra vida é vivida, segundo outros modelos de pensamento e de costumes. O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. O conceito de cultura, ou, a cultura como conceito, então, permite uma perspectiva mais consciente de nós mesmos.
Precisamente diz que não há homens sem cultura e permite comparar culturas e configurações culturais como entidades iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que inevitavelmente existiriam sociedades superiores e inferiores”.
Relativismo cultural
É a postura, privilegiada pela Antropologia contemporânea, de buscar compreender a lógica da vida do outro.
Ainda segundo Roberto da Matta, “antes de cogitar se “aceitamos” ou não esta outra forma de ver o mundo, a antropologia nos convida a compreendê-la, e verificar que ao jeito outra vida é vivida, segundo outros modelos de pensamento e de costumes (...) pois, cada sociedade humana conhecida é um espelho onde nossa própria existência se reflete”
Para finalizar, as palavras de uma das mais notáveis antropólogas conhecidas, a americana Margaret Mead, que no prefácio de Sexo e Temperamento afirmou: “toda diferença é preciosa e precisa ser tratada com muito carinho”.
AULA 4 – A FORMAÇÃO DO PENSAMENTO POLÍTICO MODERNO E AS QUESTÕES BÁSICAS DA CIÊNCIA POLÍTICA
...
AULA 5 – CONTEXTO HISTÓRICO DA FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA E DA ANTROPOLOGIA
Revolução Industrial e neocolonialismo
O século XIX foi marcado pela Revolução Industrial e pelo neocolonialismo, cujas consequências se projetaram, para os séculos XX e XXI. No plano político e econômico o termo revolução é usado para expressar um movimento de transformação que, na visão dos seus protagonistas, traz transformações significativas, positivas e benéficas para a sociedade. De fato, as revoluções trazem grandes transformações e com a Revolução Industrial não poderia ter sido diferente. Tais transformações já se fizeram presentes na transição do feudalismo para o capitalismo.
O desenvolvimento industrial se fez acompanhar pelo desenvolvimento científico, que por sua vez impulsionou ainda mais a indústria em função de descobertas e invenções. Nos centros urbanos europeus respirava-se desenvolvimento e acreditava-se que a tecnologia e a máquina resolveriam todos os problemas do homem. A indústria cresceu e com esse crescimento vieram as crises de produção porque a superprodução não era acompanhada pelo consumo. A solução para a crise de consumo foi encontrada no neocolonialismo, ou imperialismo do século XIX.
Diferente do colonialismo dos séculos XV e XVI, o neocolonialismo representou nova etapa do capitalismo, do momento em que as nações européias saíram em busca de matérias-primas para sustentar as indústrias, de mercados consumidores para os produtos europeus e de mão de obra barata. Esse colonialismo se diferenciou para a África e a Ásia, que foi partilhada entre as nações européias.
A América escapou desse colonialismo porque se tornara independente pouco antes. Porém, se não foi dominada politicamente pela Europa e pelos EUA, o foi economicamente, pois dependia dos banqueiros e do capital industrial europeu. Naquela época, por exemplo, grupos franceses e ingleses iniciaram a exploração da borracha na região amazônica, porque era mais barato produzir aqui e exportar para a Europa e para os EUA: afinal, aqui se encontrava a matéria-prima, a mão de obra barata e o favorecimento governamental.
A África e a Ásia foram o cenário onde atuou uma infinidade de cientistas e religiosos que assumiram o fardo do homem branco. Na Índia, por exemplo, qualquer membro da raça branca era tido como membro da classe dos amos e senhores, respeitado e reverenciado. Situações semelhantes fizeram o fundador da República do Quênia, na segunda metade do século XX, referir-se assim à dominação imperialista: “Quando os brancos chegaram, nós tínhamos as terras e eles a Bíblia; depois eles nos ensinaram a rezar; quando abrimos os olhos, nós tínhamos a Bíblia e eles as terras”.
Todas as tentativas de reação por parte das nações dominadas pelos impérios europeus foram enfrentadas com o uso das armas por parte das nações européias. Nem a China ficou de fora da corrida imperialista: foi dominada economicamente e teve territórios ocupados pelos japoneses.
O cientificismo e o darwinismo social
O cientificismo esteve presente em tudo. Foi também nessa época que se desenvolveu a teoria de Charles Darwin sobre a evolução e adaptação das espécies. O autor colocou em xeque as idéias da imutabilidade das espécies. Assim, a formação dos sistemas vivos começou a ser entendida não como criação simultânea, mas como decorrência de etapas sucessivas. Na sua obra A origem das espécies, publicada em 1859, em consonância com o espírito da época, Darwin defendeu a noção de variação gradual dos seres vivos graças ao acúmulo de modificações pequenas, sucessivas e favoráveis, e não por modificações extraordinárias, surgidas repentinamente. Nessa obra Darwin apresentou o núcleo da sua concepção evolutiva: a seleção natural, ou a persistência do mais capaz; com o passar dos séculos, a seleção natural eliminaria as espécies antigas e produziria novas espécies.
Logo, as teses de Darwin estavam sendo discutidas em todo o meio científico e o próprio liberalismo econômico adotou o pressuposto da competição. Ao defender a propriedade privada, o liberalismo postula que todo homem compete em igualdade no acesso à propriedade privada. Aquele que não a conquista, não o faz porque é vicioso ou preguiçoso. É claro que essa tese, presentes em nossas mentes até hoje, interessava e interessa a manutenção do domínio da classe burguesa.
Se o liberalismo apropriou-se do conceito de competição, de Charles Darwin, não foi o único. Logo surgiu o Darwinismo Social.
Segundo o Darwinismo Social, as sociedades se modificam e se desenvolvem como os seres vivos. As transformações nas sociedades representam a passagem de um estágio inferior para outro superior, onde o organismo social se mostra mais evoluído, adaptado e complexo. Se na natureza a competição gera a sobrevivência do mais forte, também na sociedade favorece a sobrevivência de sociedades e indivíduos mais fortes e evoluídos.
As expressões: “luta pela existência” e “sobrevivência do mais capaz”, tomadas de Darwin, apoiaram o individualismo liberal e justificaram o lugar ocupado pelos bem-sucedidos nos negócios. Por outro lado, as sociedades foram divididas em raças superiores e inferiores, cabendo aos mais fortes dominar os mais fracos e, consequentemente, aos mais desenvolvidos levar o desenvolvimento aos não desenvolvidos. A civilização deveria ser levada a todos os homens. É claro que o Darwinismo Social serviu para justificar a ação imperialista das nações européias.
O Darwinismo Social levado às Últimas Consequências
Foi nesse cenário de constantes conflitos sociais, políticos, econômicos e religiosos, cenário marcado pela industrialização e pelo cientificismo, que a Antropologia e a Sociologia produziram suas primeiras explicações.
O evolucionismo social
Os evolucionistas formaram a primeira escola antropológica. Tendo como paradigma principal a sistematização do conhecimento acumulado sobre os “povos primitivos” e o predomínio do trabalho de gabinete, a análise desses antropólogos era feita a partir dos relatos de viajantes e colonizadores que lhes chegavam às mãos. Defendiam a idéia de que a história da Humanidade se dava através de um processo evolutivo que ia da selvageria à civilização, passando pela barbárie. Utilizavam o chamado método comparativo,em que tomavam como parâmetro a sociedade européia do século XIX para descrever e classificar formas culturais de outros povos, numa postura que, como vimos na aula 3, se mostrava extremamente etnocêntrica, tratando os povos não europeus como primitivos, exóticos e incivilizados.
O positivismo
O positivismo foi uma diretriz filosófica criada por Augusto Comte na segunda metade do século XIX. O tema central de sua obra é a Lei dos Três Estados, em que ele divide a evolução histórica e cultural da humanidade em três fases, de acordo com seu desenvolvimento; a classificação e a hierarquização das ciências, das mais simples até a mais complexa, já que para ele a ordem é necessária ao progresso; e a reforma da sociedade, com mudanças intelectuais, morais e políticas destinadas principalmente a restabelecer a ordem na sociedade capitalista industrial.
A hostilidade dirigida ao pensamento tradicional foi especialmente forte em Comte, que negava a possibilidade do conhecimento metafísico, que ele considerava ser estagnante e uma forma de pesquisa desnecessária. Ele exigia uma “sociocracia” dirigida por cientistas para a unificação, conformidade e progresso de toda a humanidade. Logo, o positivismo redefiniu o propósito da filosofia, limitando-a a análise e definição da linguagem científica.
Comte devotou-se à Sociologia, uma palavra que ele elaborou para descrever a ciência da sociedade. Ele acreditava que sua principal contribuição foi a teoria de que a humanidade passou por três estágios de desenvolvimento intelectual: o teológico, o metafísico e o positivo. No primeiro estágio, o universo era explicado em termos de deuses, demônios e seres mitológicos. No segundo estágio, a realidade era explicada em termos de abstrações como a essência, existência, substância e acidente. De acordo com Comte, o estágio metafísico estava só terminando, dando lugar ao cientifico ou estágio positivo. Neste estágio final, explicações somente poderiam ser baseadas em leis cientificas descobertas através de experimentação, observação ou lógica. Matemática, astronomia, física, química e biologia, classificadas por ele na base crescente de complexidade, já eram cientificas; Comte procurou completar o estágio positivo ao criar a mais complexa de todas, a sociologia como ciência.
Os traços mais marcantes do positivismo são, certamente, a excessiva valorização das ciências e dos métodos científicos, a exaltação do homem e suas capacidades e o otimismo em relação ao desenvolvimento e progresso da humanidade.
Para reformar a sociedade, Comte propôs:
1 – Reconhecer a existência de princípios reguladores;
2 – Estudar os processos e estrutura social;
3 – Reconhecer a existência de dois movimentos: estático (fator de permanência e harmonia) e dinâmico (fator de progresso).
OBS: Desta forma a análise comtiana propõe: I - a negação da luta de classes – harmonia entre as classes sociais. II – a necessidade de um Estado forte, centralizador, mantenedor da ordem.
Essa corrente filosófica foi muito influente no pensamento da época. Prova disso é o lema da bandeira brasileira – “ordem e progresso” -, um dos principais preceitos do positivismo, que afirma que, para que haja progresso, é preciso que a sociedade esteja organizada.
AULA 6 – MODELOS CLÁSSICOS DA ANÁLISE SOCIOLÓGICA: A CONTRIBUIÇÃOD E ÉMILE DURKHEIM
Émile Durkheim
Criador da Escola Sociológica francesa, com ele a sociologia se constitui como uma disciplina rigorosamente cientifica.
Define o objeto da sociologia: os fatos sociais e atribui-lhe um método de investigação: a análise objetiva dos fatos sociais, que deveriam ser estudados como “coisas”, ou seja, o investigador deveria manter uma relação de objetividade com o objeto estudado, desfazendo-se de qualquer pré-noção em relação a eles.
Fatos sociais
Em seu livro As regras do método sociológico, Durkheim define os fatos sociais com “maneiras de agir, pensar e sentir que apresentam a característica marcante de existir fora da consciência individual”. Estes tipos de conduta ou de pensamento não são apenas exteriores aos indivíduos, são também gerais na extensão de toda sociedade conhecida e dada, são dotados de um poder imperativo e coercitivo que constitui características intrínsecas de tais fatos.
Para Durkheim, a sociedade, como todo organismo, apresenta estados normais e patológicos (saudáveis e doentios).
Fato social normal
É normal o fato que não extrapola os limites dos acontecimentos mais gerais de uma determinada sociedade e que refletem os valores e as condutas aceitas pela maior parte da população.
Por isso, em sua concepção, o crime é considerado um fato social normal, porque pode ser entendido como necessário (útil) para uma sociedade, pois, se a consciência coletiva (moral) fosse excessiva, se cristalizaria e a consciência individual inovadora não se manifestaria. Desse modo, onde o crime existe é porque os sentimentos coletivos estão no estado de maleabilidade necessária para tomar nova forma: representa um fato social que integra as pessoas em torno de uma conduta valorativa, que pune o comportamento considerado nocivo, que fere a consciência coletiva.
REFLEXÃO: Quando os sentimentos coletivos são fortemente atingidos, algumas ofensas passam de faltas morais para delitos e crimes. É por essa lógica que ele irá avaliar o castigo imposto não como forma de acabar com o crime, mas sim para mantê-lo na taxa social “média”.
 
Fato social patológico
É todo fato que extrapola os limites aceitos pela consciência coletiva vigente em uma sociedade, é o comportamento tido como desviante. São fatos que põem em risco a harmonia e o consenso, representa um estado mórbido da sociedade. Eles são transitórios e excepcionais, assim como as doenças.
Normalidade X patologia
O que é normal? Quais is parâmetros estabelecidos para diferenciar o “normal” do “anormal”? O que é normal varia de sociedade para sociedade.
Segundo Richard Miskolci: “os anormais nada mais são do que construções sociais naturalizadas, as quais derivam de relações de poder que atribuem a eles uma posição de inferioridade e submissão na ordem social. Nossos corpos socializados trazem o passado ao presente e contribuem para a manutenção das categorias sociais e da hierarquia imposta pelo padrão de normalidade burguês. Assim, a desigualdade de poder chega aos indivíduos nos seus próprios corpos e no uso destes, dos prazeres e capacidades reprodutivas”.
Em seu livro Da divisão do trabalho social, Durkheim definiu consciência coletiva como “o conjunto de crenças e de sentimentos comuns entre os membros de uma mesma sociedade, forma um sistema determinado que tem sua vida própria; podemos chamá-la de consciência coletiva ou comum. Sem dúvida, ela não tem como substrato um órgão único; é, por definição, difusa, ocupando toda a extensão da sociedade; mas nem por isso deixa de ter características específicas, que a tornam uma realidade distinta. Com efeito, ela é independente das condições particulares em que se situam os indivíduos. Estes passam, ela fica. É a mesma no Norte e no Sul, nas grandes e pequenas cidades, nas diferentes profissões. Por outro lado, não muda em cada geração, mas, ao contrário, liga as gerações que se sucedem. Portanto, não se confunde com as consciências particulares, embora se realize apenas nos indivíduos. É o tipo psíquico da sociedade, tipo que tem suas propriedades, condições de existência, seu modo de desenvolvimento, exatamente como os tipos individuais, embora de outra maneira”.
Pode ser verificada em fenômenos coletivos típicos, expressos através de uma forma de consciência que contrapõe indivíduo/sociedade. As torcidas organizadas e os grandes festivais de música, por exemplo, representam fenômenos coletivos típicos, expressos através de uma forma de consciência que contrapõe indivíduo/sociedade.
É a ausência, desintegração ou inversão das normas vigentes em uma sociedade, neste caso, a consciência “perde” os parâmetros de julgamento da realidade. Ela vai acontecer em momentos extremos, tais como guerras, desastres ecológicos,econômicos etc.
Divisão do trabalho social
É a organização da sociedade em diferentes funções, exercidas pelos indivíduos ou grupos de indivíduos. Nas sociedades mais simples predomina a divisão social do trabalho, baseada principalmente em critérios biológicos de sexo e idade. Essa divisão parece decorrer de uma extensão analógica das diferenças naturais de funções entre membros de um grupo. Durkheim classifica a forma de solidariedade social deste tipo de sociedade como solidariedade mecânica.
Nas sociedades mais complexas, em especial quando tem início o desenvolvimento da agricultura, a sedentarização e o sistema de propriedade privada, surge uma divisão social mais complexa, com a criação de novas funções sociais. A indústria foi o sistema produtivo que mais desenvolveu a divisão social do trabalho, criando uma imensa gama de funções e atribuições diferenciadas. Durkheim classifica a forma de solidariedade social deste tipo de sociedade como solidariedade orgânica.
ATENÇÃO
A divisão social do trabalho implica sempre uma divisão não só de funções, mas também de privilégios, regalias e poder.
AULA 7 – MODELOS CLÁSSICOS DA ANÁLISE SOCIOLÓGICA: A CONTRIBUIÇÃO DE MAX WEBER
O método compreensivo de Max Weber
De acordo com LOCHE, Adriana ET AL. (Sociologia Jurídica. Porto Alegre: Síntese, 1999. P. 32), Max Weber procura compreender a sociedade como uma agregado de indivíduos que possuem suas motivações próprias. Ao mesmo tempo, o estatuto de realidade objetiva é mudado para uma concepção menos determinista de sociedade, segundo a qual a realidade é um fenômeno compósito; por isso, o cientista não conhece a sociedade de antemão, nem consegue abarcá-la totalmente. Para compreender a sociedade, é preciso entender as redes de significações estabelecidas pelos indivíduos em suas ações e relações sociais.
Para criar uma imagem, como a que Durkheim via a sociedade como uma coisa, Weber a compreendia como um conjunto de ações parciais que precariamente se totalizavam. Assim, somente podemos compreender pequenos “pedaços” dessa realidade. Como cada indivíduo tem sua própria visão parcial do mundo, há um conflito permanente entre os indivíduos que compõem a sociedade. Por isso Weber propõe a reconstrução do sentido subjetivo original da ação e o reconhecimento da parcialidade da visão do observador.
Ação social: uma ação dotada de sentido
O objeto da sociologia para Weber é o sentido da ação social, que deve ser buscado pela apreensão da totalidade de significados e valores atribuídos pelos indivíduos. Nesse sentido, ele procura mostrar que não há apenas uma causa dos fenômenos sociais; através da idéia de “adequação de sentido”, Weber mostra a convergência da ação em duas ou mais esferas que compõem o todo social (a economia, a política, a religiosa etc.), ou seja, a ação social é determinada por mais de uma causa, sendo que cada causa tem importância variada sobre a determinada ação.
Para ele, a tarefa do sociólogo é “pesquisar os sentidos e os significados recíprocos que orientam os indivíduos na maioria de suas ações e que configuram as relações sociais”. A análise sociológica deve, assim, compreender e interpretar o sentido e os efeitos das ações humanas.
Tipos de ação
Weber, preocupado com o valor que cada indivíduo atribui à sua ação, procurou elaborar uma tipologia para compreender as características particulares, definindo quatro tipos de ação:
I – Ação racional com relação a fins – motivada por fins objetivos, ou seja, para atingir seus objetivos. A racionalidade econômica capitalista é exemplo desse tipo de ação. Nesta perspectiva, para Weber, o individualismo e a racionalidade de condutas são elementos centrais da modernidade.
II – Ação racional com relação a valores – motivada por crenças em valores morais, religiosos, políticos etc. Neste tipo de ação o que importa para o indivíduo é seguir os princípios que mais lhe são caros, não importando o resultado de sua conduta; o que lhes impele é lealdade aos valores que orientam sua conduta. É o caso dos agentes que abrem mão de vantagens financeiras em função da preservação ambiental, por exemplo.
III – Ação afetiva – guiada por uma conduta emocional. Sentimentos como raiva, ódio, paixão, desejo, ciúme orientam sua conduta. Muitas vezes, o resultado dessas ações não é esperado pelo agente, em virtude da irracionalidade de seu ato. Os crimes passionais são exemplos típicos deste tipo de ação social.
IV – Ação tradicional – guiada pela tradição, costumes arraigados que fazem com que os indivíduos ajam em função deles. É uma espécie de reação a estímulos habituais. Exemplo disso é o hábito de saudarmos as pessoas com expressões como “bom dia”, “boa noite”, “fique com Deus”, independentemente de termos grande afinidade com elas ou mesmo alguma fé. Para Weber é difícil perceber até que ponto o agente age conscientemente ao empreender este tipo de ação.
Relação social
Estabelece-se quando os agentes partilham o sentido de suas ações e agem reciprocamente de acordo com certas expectativas que possuem do outro. Como mostra Quintaneiro et al. Em Um toque de clássico (Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2009), são exemplo de relações sociais a amizade, relações de hostilidade, trocas comerciais, relações políticas etc.
Segundo as autoras, “tanto mais racionais sejam as relações sociais, mais facilmente poderão ser expressas sob a forma de normas, seja por meio de um contrato ou de um acordo, como no caso das relações de conteúdo econômico ou jurídico, da regulamentação das ações de governo, de sócios etc.”.
Patrimonialismo: a permanência do arcaico
Na aula 4, estudamos as formas de dominação legítima preconizadas por Max Weber, a saber: a dominação tradicional, a dominação racional-legal e a dominação carismática. Vimos que a dominação racional-legal expressaria a forma mais moderna de dominação, visto que este tipo de dominação se assenta nas formas impessoais de concessão e reconhecimento da autoridade legitimamente constituída.
Neste último tópico da aula, discute-se a permanência de práticas tradicionais na sociedade brasileira, marcada, segundo Roberto da Matta, em O que faz o Brasil, Brasil? (Rio de Janeiro: Ed. Sala, 1984):
“o dilema brasileiro residiria na oscilação, ou seja, no que existe de liminar, entre um esqueleto nacional feito de leis universais cujo sujeito era o indivíduo e situações onde cada qual se salvará e se despachava como podia, utilizando para isso seu sistema de relações pessoais”.
Nesse sentido, o brasileiro oscilava entre uma série de leis que, teoricamente, todos os indivíduos da sociedade deveriam cumprir, e uma série de expedientes passíveis de serem utilizados para burlas estas normas com bases em uma rede de contatos pessoais facilitados pelo nosso próprio sistema burocrático e hierárquico.
Deste conflito nasceram situações que todos nós estamos acostumados a vivenciar, como o jeitinho, que sempre está em nosso alcance (pra tudo tem um jeito), e o famoso “você sabe com quem está falando?”.
Tomemos como exemplo o patrimonialismo...
Segundo Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, “no Brasil onde imperou, desde tempos remotos, o tipo primitivo de família patriarcal (o pai é o chefe supremo, o homem possui um status de soberano, senhor total de todos e todas as coisas), o desenvolvimento da urbanização que não resulta unicamente do crescimento das cidades, mas também do crescimento dos meios de comunicação, atraindo vastas áreas rurais para a esfera de influência das cidades - ia acarretar um desequilíbrio social, cujos efeitos permanecem vivos ainda hoje”. 
Não era fácil aos detentores das posições públicas de responsabilidade, formados por tal ambiente, compreenderem a distinção fundamental entre os domínios do privado e público. Assim, eles se caracterizam justamente pelo que separa o funcionário "patrimonial" do puro burocrata, conforme a definição de Max Weber. Para o funcionário "patrimonial", a própria gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular; as funções, os empregos eos benefícios que deles aufere relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático, em que prevalecem a especialização das funções e o esforço para se assegurarem garantias jurídicas aos cidadãos.
Patrimonialismo (continuação)
Como se sabe, a prática do patrimonialismo ainda é bastante arraigada na sociedade brasileira. Apesar de o ordenamento jurídico brasileiro consagrar o princípio da igualdade entre os cidadãos, verifica-se a permanência de relações hierarquizada que permitem que alguns indivíduos sejam “mais iguais que outros”, como irônica e argutamente demonstra Roberto da Matta, na obra supracitada. É o caso de homens públicos que se utilizam de recursos públicos para fins privados, seja utilizando-se de funcionários públicos para serviços domésticos, seja pleiteando vistos diplomáticos a parentes sem alegadas razões de Estado. 
Cabe ressaltar que essas práticas vem sendo contestadas e combatidas, como pode-se perceber na proibição do nepotismo (contratação de parentes para ocupar cargos públicos) nas três esferas do poder (Executivo, Legislativo e Judiciário), como preconiza a Súmula Vinculante nº 13 do Supremo Tribunal Federal, de 29 de agosto de 2008, que ressalta o princípio da impessoalidade no trato da coisa pública.
AULA 8 – MODELOS CLÁSSICOS DA ANÁLISE SOCIOLÓGICA: A CONTRIBUIÇÃO DE KARL MARX
Materialismo histórico:
Na concepção marxista, o termo materialismo refere-se à teoria filosófica preocupada em destacar a importância dos seres objetivos (os homens) como elementos constitutivos da realidade do mundo.
Este é o método de análise social marxista, segundo o qual, as relações materiais que os homens estabelecem entre si e o modo como produzem seus meios de vida formam a base de todas as suas relações.
(Quintaneiro et all. Um toque de clássicos. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2009).
Dialética
É o modo de pensarmos as contradições da realidade, de pensarmos as diferenças sociais e, consequentemente, a transformação permanente da realidade – a realidade dialética.
Princípios básicos da dialética: tudo se relaciona; tudo se transforma; mudanças qualitativas; luta dos contrários.
REFLEXÃO: A aplicação das teses fundamentais do materialismo dialético à realidade social deu origem à concepção materialista da história.
Modo de produção
Segundo esta concepção, o entendimento da realidade da vida só é possível à medida que conheçamos o modo de produção da sociedade – modo de produção é aqui entendido como a maneira pela qual os homens obtêm seus meios de existência material. 
Como demonstram Marx e Engels, em A Ideologia Alemã, é através do modo de produção que conhecemos uma sociedade em sua especificidade histórica e social. Não é a consciência que determina a vida material, mas a vida material que determina a consciência. A partir do modo de produção é possível identificar as diferenças históricas e as relações sociais presentes em cada época determinada.
Na história, podemos distinguir pelo menos cinco grandes modos de produção: primitivo; o regime asiático; escravatura; servidão (feudal) e a capitalista.
Luta de classes
Ideologia
De acordo com Marilena Chauí (O que é ideologia, São Paulo, Brasiliense, p.981), ideologia é “o conjunto de proposições existentes com a finalidade de fazer aparentar os interesses da classe dominante com o interesse coletivo, construindo uma hegemonia daquela classe, tornando-se uma verdade absoluta e natural”. Dessa forma, a manutenção da ordem social requer dessa maneira menor uso da violência. A ideologia torna-se um dos instrumentos da reprodução do status que da própria sociedade.
“O vencedor ou o poderoso é transformado em único sujeito da história não só porque impediu que houvesse a história dos vencidos (ao serem derrotados, os vencidos perderam o “direito” à história), mas simplesmente porque sua ação histórica consiste em eliminar fisicamente os vencidos ou, então, se precisa do trabalho deles, elimina sua memória, fazendo com que se lembrem apenas dos feitos dos vencedores. Não é assim, por exemplo, que estudantes negros ficam sabendo que a Abolição foi um feito da Princesa Isabel? As lutas dos escravos estão sem registro e tudo que delas sabemos está registrado pelos senhores brancos. Não há direito à memória para o negro. Nem para o índio. Nem para os camponeses. Nem para os operários”.
Alienação
É originada na vida econômica. O bem produzido não pertence ao trabalhador. Não é mais o operário que projeta o trabalho. Há separação entre planejamento e execução, entre pensar e agir. Tem-se como consequência um saber mecânico e fragmentado.
Práxis
É um conceito central no pensamento de Marx. A práxis não se confunde com a prática. A práxis é a união da interpretação da realidade (teoria – conhecimento científico) à prática (realização efetiva, atividade), em outras palavras, é a ação consciente do sujeito na transformação de si mesmo e do mundo que o cerca. É através da práxis que se dá o combate à alienação.
AULA 9 – A ATUALIDADE DAS CIÊNCIAS SOCIAIS NA COMPREENSÃO DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: GLOBALIZAÇÃO, DESIGUALDADES E EXCLUSÃO SOCIAL
Globalização Cultural
Giddens define globalização como "a intensificação de relações sociais mundiais que unem localidades distantes de tal modo que os acontecimentos locais são condicionados por eventos que acontecem a muitas milhas de distância e vice versa".
Questão central: As identidades nacionais estão sendo “homogeneizadas”?
Stuart Hall, em Identidade cultural na pós-modernidade (Rio de Janeiro: DP&A, 2000.), apresenta três posições contrárias ao sentimento de homogeneização cultural.
I - Juntamente com a tendência a homogeneização global, acontece uma fascinação com a diferença e com a mercantilização da etnia e da “alteridade” (Kevin Robin).
II - A globalização é desigualmente distribuída pelo mundo, entre regiões e estratos da população nas regiões = “geometria do poder” da globalização (Doreen Massey).
III - A globalização continua sendo um fenômeno essencialmente ocidental = afeta de forma desigual os diversos espaços geográficos do globo (Kevin Robin).
Consequências da globalização cultural
1 - Juntamente com a globalização há um reforçamento das identidades locais;
2 - A globalização é um processo desigual, com sua própria “geometria de poder”;
3 - As identidades culturais estão sendo relativizadas, apesar de reterem aspectos da dominação global: migração, legal e ilegal, de enormes contingentes de pessoas da periferia para os centros, principalmente das antigas colônias para as potências europeias.
OBS: Esta formação de “enclaves” étnicos minoritários no interior dos estados-nação do Ocidente leva a uma “pluralização” de culturas nacionais e de identidades nacionais, tendo como consequência o surgimento de manifestações de xenofobia em várias partes do mundo. 
Percebe-se que a globalização não parece estar produzindo nem o triunfo do “global” nem a persistência, em sua velha forma nacionalista, do “local”. Os deslocamentos ou os desvios da globalização mostram-se, afinal, mais variados e mais contraditórios do que sugerem seus protagonistas ou seus oponentes. Entretanto, isso também sugere que, embora alimentada, sob muitos aspectos, pelo Ocidente, a globalização pode acabar sendo parte daquele lento e desigual, mas continuado, descentramento do Ocidente.
A sociedade em rede
Outra característica marcante da sociedade contemporânea é a formação de redes sociais nas quais os processos de construção de identidades são cada vez mais múltiplos. Segundo Manuel Castells, em A era da informação: economia, sociedade e cultura, o mundo contemporâneo globalizado constitui uma “sociedade em rede”.
Para ele, “redes constituem a nova morfologia social de nossa sociedade e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura. Tudo isso porque elas são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrandonovos nós desde consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde compartilhem os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou objetos de desempenho)”.
Nesse contexto é que a rede é um instrumento apropriado para a economia capitalista voltada para a inovação, globalização e concentração descentralizada; para o trabalho, trabalhadores e empresas voltadas para a flexibilidade e adaptalidade; para uma cultura de desconstrução e reconstrução contínuas; para uma política destinada ao processamento instantâneo de novos valores e humores públicos; e para uma organização social que vise à suplantação do espaço e invalidação do tempo.
Globalização e desigualdade social
Segundo Boaventura de Sousa Santos (Os processos da globalização. Disponível em http://www.eurozine.com/articles/2002-08-22-santos-pt.html), o impacto da globalização na produção de desigualdade a nível mundial tem sido amplamente debatido nos últimos anos. As novas desigualdades sociais produzidas por esta estrutura de classe têm vindo a serem amplamente reconhecidas mesmo pelas agências multilaterais que têm liderado este modelo de globalização, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. É hoje evidente que a iniquidade da distribuição da riqueza mundial se agravou nas duas últimas décadas: 54 dos 84 países menos desenvolvidos viram o seu PNB per capita decrescer nos anos 80; em 14 deles a diminuição rondou os 35%.
Segundo o Relatório do Programa para o Desenvolvimento das Nações Unidas de 2001,  mais de 1,2 bilhões de pessoas (pouco menos que 1/4 da população mundial) vivem na pobreza absoluta, ou seja, com um rendimento inferior a um dólar por dia e outros 2,8 bilhões vivem apenas com o dobro desse rendimento.
Segundo o Banco Mundial, o continente africano foi o único em que, nas últimas décadas, se verificou um decréscimo da produção alimentar.  O aumento das desigualdades tem sido tão acelerado e tão grande que é adequado ver as últimas décadas como uma revolta das elites contra a redistribuição da riqueza com a qual se põe fim ao período de uma certa democratização da riqueza iniciado no final da Segunda Guerra Mundial. Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano do PNUD relativo a 2005, os 20% da população mundial a viver nos países mais ricos detinham, em 1997, 86% do produto bruto mundial, enquanto os 20% mais pobres detinham apenas 1%. Segundo o mesmo Relatório, mas relativo a 2001, no quinto mais rico concentram-se 79% dos utilizadores da internet As desigualdades neste domínio mostram quão distantes estamos de uma sociedade de informação verdadeiramente global. A largura da banda de comunicação eletrônica de São Paulo, uma das sociedades globais, é superior à de África no seu todo. E a largura da banda usada em toda a América Latina é quase igual à disponível para a cidade de Seul.
Desigualdade, pobreza e exclusão social no Brasil
A desigualdade social no Brasil tem sua origem no processo de colonização. Ao longo dos anos, apesar de conquistas sociais como o fim do regime escravista, a marginalização histórica dos setores mais baixos da escala social brasileira permaneceu, a despeito dos avanços verificados nas duas últimas décadas.
Estatísticas revelam que 12,9% dos brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza. As desigualdades regionais são visíveis: as regiões Norte e Nordeste respondem por 43% do total de pessoas vivendo em extrema pobreza no país.
A desigualdade também se expressa nos grandes centros urbanos, onde populações desassistidas vivem pelas ruas, e nas periferias das grandes e médias idades brasileiras, um expressivo número de pessoas vive em subocupações – as favelas, localidades em que se registra uma alto índice de criminalidade, decorrente da ausência ou ineficiência do poder público, e da ação de grupos que passam a exercer autoridade sobre a população, como traficantes e milícias.
Preconceito, discriminação e exclusão
Embora seja vedada pela Constituição Brasileira qualquer forma de discriminação, mecanismos sociais de exclusão, baseados em preconceito, discriminação e, por vezes, intolerância, impedem que parcelas significativas da sociedade brasileira tenham acesso à cidadania plena. Temos como exemplo desse processo de exclusão, entre outros, a situação das mulheres, dos negros e dos homossexuais.
Preconceito contra as mulheres
Hustana Vargas nos mostra que, na representação política, por exemplo, as mulheres estão muito aquém da igualdade que a Constituição lhe assegura: Embora as mulheres representem 51,20% do eleitorado brasileiro, aproximadamente o mesmo percentual da composição entre os sexos na população brasileira (IBGE, 2005), o percentual de candidatas às câmaras de vereadores, nas eleições de 2004 em todo o país, foi de 22,14%, totalizando 76.765. Já as candidatas às prefeituras somaram apenas 9,48% do total das candidaturas, ou seja, 1.495 candidaturas femininas.
Outro claro exemplo de preconceito contra as mulheres se expressa nos altos índices de violência doméstica, motivação para a criação de lei específica visando maior rigor na punição dos agressores, a chamada Lei Maria da Penha.
Preconceito de raça e de classe
O Brasil não conheceu o regime de segregação racial, o apartheid. A sociedade brasileira, ao longo de sua história, não foi pensada de forma dual (negros x brancos). Contudo, isso não significa que o racismo, em suas diferentes manifestações, faça parte da vida brasileira.  Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil 2005 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), por exemplo, enquanto o número de pobres diminuiu entre 1992 e 2001, o número de negros (cabe salientar que a categoria negro refere-se aos pretos e pardos das estatísticas do IBGE) pobres teria aumentado.
O debate em relação ao preconceito racial no Brasil tomou vulto nos últimos anos, com a elaboração do Estatuto da Igualdade Racial e as políticas de ação afirmativa, em especial a política de reservas de cotas nas universidades por critérios racialistas. Essa tentativa de racialização da sociedade brasileira, como nos mostra, entre outros, Yvonne Maggie, Peter Fry e Demétrio Magnoli, coloca em xeque a tradição cultural brasileira de se pensar miscigenado, múltiplo, não-dual, diferentemente da sociedade norte-americana, modelo que inspirou as referidas políticas de ação afirmativa.
Preconceito contra os homossexuais
Pesquisa recentemente realizada pela USP revelou que, nas escolas públicas brasileiras, 87% da comunidade - sejam alunos, pais, professores ou servidores - têm algum grau de preconceito contra homossexuais. Essa é uma questão que estudantes e educadores homossexuais, bissexuais e travestis enfrentam diariamente nas escolas: a homofobia.  O levantamento foi realizado com base em entrevistas feitas com 18,5 mil alunos, pais, professores, diretores e funcionários, de 501 unidades de ensino de todo o país. 
Estudo da UNESCO divulgado este ano indica que nas escolas públicas do Distrito Federal 44% dos estudantes do sexo masculino afirmaram não gostariam de estudar com homossexuais. Entre as meninas, o índice é de 14%.
REFLEXÃO: Ressalte-se que esta minoria é, historicamente, vítima de violências físicas e simbólicas e, até recentemente, sua prática era considerada patológica.
AULA 10 – A ATUALIDADE DAS CIÊNCIAS SOCIAIS NA COMPREENSÃO DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: NOVOS PADRÕES MORAIS E CULTURAIS
Novas identidades étnicas
Conceito de grupo étnico
 
Grupo étnico designa uma população que:
1 - se perpetua principalmente por meio biológicos;
2 - compartilha de valores culturais fundamentais;
3 - compõe um campo de comunicação e interação;
4 – tem um grupo de membros que identifica e é identificado por outros como constituinte de uma categoria distinguível de outras. Barth acentua que o fato de compartilhar culturas comuns pode ser visto como consequência não como fato causa dos grupos étnicos.
Reconfigurações identitáriais: o “ser indígena” no Brasil contemporâneo
Os anos 70 no Brasil, entre outros, processos de buscas políticas por liberdadede expressão, marcados por movimentos contra-hegemônicos de dissidentes da ditadura militar. Inspirados em parte pelo movimento católico da Teologia da Libertação, como também pelas ações do Conselho Missionário Indigenista (CIMI), algumas comunidades indígenas do Nordeste lutaram por seus direitos a terra e identidade, voltando a pelo menos parte de seus territórios. Ainda hoje trabalham pela manutenção de uma identidade que lhes havia sido subtraída durante o processo colonizatório.
Vera Calheiros, Clarice Mota, Rodrigo Grunewald e outros autores registraram este constante processo de “reinvenção da tradição” e “etnogênese”, como ficou conhecido na literatura antropológica.
Esse processo de busca pelo que se considera o elemento principal para a retomada da terra e dos direitos subsequentes tem motivação a chamada cultura ancestral, por conseguinte, a autoimagem identitária.
Percebe-se um movimento para fora dos limites físicos e culturais da aldeia, ao mesmo tempo em que tal movimento reflete a busca da identidade indígena por dois grupos sociais: a própria comunidade indígena e alguns setores urbanos de classe média e alta.  Grupos que se contradizem, portanto, ao passo que também se encontram em um espaço recém-construído de necessidades de autoafirmação interdependentes, onde a antiga exclusão se traduz em inclusão, mesmo que a custa de invenções e ressignificações das tradições perdidas.
Novos padrões familiares
O modelo tradicional de família
Para Lévi-Strauss (A família, 1972), entende-se por família uma união mais ou menos duradoura, socialmente aprovada, entre um homem, uma mulher e seus filhos, fenômeno que estaria presente em todo e qualquer tipo de sociedade.
Como modelo ideal, a palavra família designa um grupo social possuidor de pelo menos três características:
•tem sua origem no casamento; 
•é constituído pelo marido, esposa e filhos; 
•os membros da família estão unidos entre si por laços legais, direitos e obrigações econômicas, religiosas ou de outra espécie, um entrelaçamento definido de direitos e proibições sexuais, divisão sexual do trabalho e uma quantidade variada e diversificada de sentimentos psicológicos (amor, afeto, respeito, medo).
Décadas de 60 e 70 – as transformações dos modelos de família
Como demonstra Miriam Goldenberg em “Novas famílias nas camadas médias urbanas” (disponível em http://www.scribd.com), o final da década de 60 e início da década de 70 são marcos fundamentais nas transformações dos papéis femininos e masculinos na sociedade brasileira e, consequentemente, da concepção de família em nosso país.
Movimento Feminista
O movimento feminista, que estava sendo organizado na Europa e nos Estados Unidos, começou a repercutir no Brasil. Os jornais, as revistas, o cinema, o teatro e a televisão passaram a dar espaço para as reivindicações das mulheres. O denominador comum das lutas feministas foi o questionamento da divisão tradicional dos papéis sociais, com a recusa da visão da mulher como o “segundo sexo” ou o “sexo frágil”, cujo principal papel é o de “esposa-mãe”. As feministas reivindicam a condição de sujeito de seu próprio corpo, buscando um espaço próprio de atuação profissional e política.
A partir dos anos 70
A partir dos anos 70, ainda que permaneça dominante o modelo da família nuclear, surgem versões inéditas de conjugalidade, sendo os indivíduos das camadas médias urbanas os que primeiro buscaram alternativas fora dos padrões institucionalizados. Apesar do predomínio do modelo nuclear conjugal, entre as famílias das camadas médias, aumentam as experiências de vínculos afetivo-sexuais variados e o contingente de mulheres optando pela maternidade fora da união formalizada. Castells assinala que há um crescimento do número de pessoas vivendo sós e um crescimento expressivo das famílias chefiadas por mulheres (em função da elevação das taxas de separações e divórcios; da expectativa de vida maior para as mulheres gerando mais viuvez feminina e da crescente proporção de mulheres solteiras com filhos, não apenas por abandono de seus parceiros mas como opção feminina).
A coabitação sem vínculos legais ou união consensual como alternativa ao casamento se torna cada vez mais expressiva numericamente, e aceita legal e socialmente (e a duração destas uniões informais tendem a ser cada vez menores). O tamanho das unidades domésticas tendem a diminuir ainda mais, com o decréscimo do número de filhos. Crescem os recasamentos e as famílias recombinadas.
Os modelos contemporâneos de família
Ao falar-se, na atualidade, de família, o plural impõe-se. “Já não há um ‘modelo ocidental’ mas vários”, como afirma Segalen. O divórcio, a união livre, as recomposições familiares abalam o que se chamava, até há pouco tempo, de “modelo de família ocidental”. Este modelo será ainda mais abalado com as novas técnicas de procriação. A doação de óvulos, a fecundação por inseminação artificial ou in vitro, a possibilidade de clonagem de seres humanos, levam a que se ponha em causa os princípios fundamentais sobre os quais se assenta o nosso sistema de parentesco: sexualidade e parentesco são dissociados, paternidades e maternidades são multiplicadas (genética e socialmente), o nascimento de um filho não provém necessariamente de um casal.
Há uma visibilidade cada vez maior das famílias homoafetivas, ou seja, formadas por indivíduos do mesmo sexo. Este modelo de família tem recebido o reconhecimento de consideráveis setores da sociedade, bem como de setores do Judiciário, que vem, desde inédita sentença do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul em 2001, reconhecendo como entidade familiar o relacionamento entre duas pessoas do mesmo sexo. Comprovada a vida em comum, de forma contínua, pública e ininterrupta, constituindo uma verdadeira família, foi deferido o direito à herança, concedendo ao sobrevivente todo o patrimônio do de cujus. Posteriormente, outras decisões asseguraram direitos previdenciários e direito real de habitação ao companheiro sobrevivente.
REFLEXÃO: Essas tendências colocam em xeque a estrutura e os valores da família tradicional. Não se trata do fim da família, uma vez que outras estruturas familiares estão sendo testadas e poderemos, no fim, reconstruir a maneira como vivemos uns com os outros, como procriamos e como educamos de formas diferentes.

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