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Presságio Fernando Pessoa O AMOR, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente... Cala: parece esquecer... Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse P'ra saber que a estão a amar! Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente! Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar... Este trabalho tem como objetivo analisar o poema Presságio do autor Fernando Pessoa, que está no livro Fernando Pessoa - Obra Poética – Inéditas, publicado no ano de 1972 pela Editora Cia José Aguilar. Analisaremos este poema quanto a sua estrutura: versos, rimas, ritmos, métrica e figuras de linguagem. O poema em análise tem como tema o amor e, a partir das estrofes, é possível verificar como o eu lírico tem a dificuldade em expressar seus sentimentos, bem como se declarar á pessoa amada: O AMOR, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar. (1-4). Neste poema, Pessoa demonstra o quão perturbador pode se tornar um apaixonado por não saber agir de acordo com seus sentimentos. Na segunda quadra o sujeito poético aparenta está em total desespero, não sabe se fala ou se cala. Se o apaixonado se declara, a pessoa amada pode interpretá-lo como um exagerado, mas se os sentimentos não forem declarados, o eu poético pode ser considerado como uma pessoa sem sentimentos: Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente... Cala: parece esquecer... (5-8). Na terceira quadra o sujeito poético deseja que sua amada o entenda, que perceba o quanto ele a ama sem ele precisar dizer uma palavra: Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse P'ra saber que a estão a amar! (9-12). Fernando Pessoa era um escritor modernista, portanto o poema Presságio é classificado como um quarteto: total de vinte versos, organizados em cinco estrofes de quatro versos. O poema também é marcado por pontuações: vírgulas, ponto parágrafo, reticências e exclamação, ditando um ritmo pausado. É possível observar a presença de alguns recursos estilísticos presentes no poema, como a antítese, anáfora, assonância e sinestesia. O autor usa – se da antítese para evidenciar a oposição que há entre sentir o amor e declará - lo á pessoa amada: “Fala: parece que mente.../ Cala: parece esquecer...” (7-8). Encontramos a anáfora nos versos 7, 8, 15 e 16: “Fala: parece que mente.../ Cala: parece esquecer...” (7-8). “Fica sem alma nem fala/ Fica só, inteiramente!” (15-16). Evidenciando a confusão de sentimentos do eu poético, o autor recorreu à sinestesia no 10º verso: “Se pudesse ouvir o olhar”. Assim como a conjunção adversativa, que se fez presente em quase todas as estrofes do poema: “Mas quem sente muito, cala” (13), “Mas se isto puder contar-lhe” (17). Com a assonância podemos perceber certa musicalidade no poema, destacamos os versos 9 a 12 para exemplificar: Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse P'ra saber que a estão a amar! Ao analisar este poema, percebemos que o mesmo fala de amor, não da parte linda do sentimento, ao contrário, foi mostrado como o amor pode ter suas complicações. Embora o amor seja um sentimento puro e genuíno o eu poético se mostrou perturbado e confuso, incapaz de demonstrar seu amor à pessoa amada.
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