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A célula cancerosa ob je tiv os 14AULA Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: • caracterizar o que é uma célula cancerosa; • descrever as vias de transformação de uma célula normal em cancerosa; • descrever as etapas de crescimento e disseminação de tumores primários. Biologia Celular II | A célula cancerosa 4 C E D E R J A U LA 1 4 M Ó D U LO 3 C E D E R J 5 INTRODUÇÃO Uma célula normal, seja a de uma ameba, seja de um mamífero ou de um vegetal, cumpre um ciclo de vida – o ciclo celular, que estudamos na Aula 1 desta disciplina. O ciclo celular, conforme estudamos, se inicia ao final de uma divisão, quando têm origem as células-filhas. Estas células podem ingressar num novo ciclo de divisão, passando pelas fases G1, S e G2, chegando a uma nova fase M ou não. Mais adiante, na aula sobre células-tronco (Aula 12) vimos que estas células conservam o potencial de se dividir, mas permanecem quiescentes (“dormentes”) num estágio chamado G0 por tempo indefinido, constituindo uma reserva para substituição e reparação de todos ou quase todos os tipos celulares. A divisão sucessiva das células derivadas de uma célula-tronco é acompanhada de processos de diferenciação, dando origem a diferentes tipos celulares. Assim, tanto o fibroblasto que secreta colágeno e outras proteínas da matriz extracelular (Aulas 7 e 8) quanto o neurônio (Aula 10) atuam como instrumentos de uma mesma orquestra: todos possuem a mesma partitura (o código genético), mas executam apenas notas específicas. Para que o concerto seja harmonioso, é preciso que os violinos não sejam abafados pelo rufar dos tambores e que cada músico faça sua entrada no momento certo. Na falta de um maestro – os mecanismos de sinalização intercelular – o que seria uma melodia agradável se torna um caos sonoro. Podemos estender esta analogia musical ao câncer. A célula cancerosa abandona a partitura e inicia um solo interminável durante o qual cresce e se divide compulsivamente, sem levar em conta nem sua programação inicial nem as demais células do organismo, das quais rouba espaço e nutrientes. O que conduz uma célula a este estado? O que é o câncer? Como uma célula se torna cancerosa? Estas e outras perguntas já foram feitas inúmeras vezes por todos nós. Muito se avançou no conhecimento e tratamento dos diversos tipos de câncer, assim como no conhecimento da biologia da célula cancerosa. Entretanto, a humanidade ainda tem uma longa jornada até que seja possível o total controle dessas enfermidades. O QUE É O CÂNCER? Num organismo saudável, cada célula se encontra comprometida com o bem-estar geral do indivíduo e a proteção das células germinais, a fim de garantir a progênie. Afinal, o tempo de vida de um indivíduo é extremamente limitado e, após a sua morte, apenas o código genético Biologia Celular II | A célula cancerosa 4 C E D E R J A U LA 1 4 M Ó D U LO 3 C E D E R J 5 transferido à sua prole sobreviverá. Vimos nas Aulas 12 e 13 que vários tipos celulares – sendo as células sangüíneas um ótimo exemplo disso – se renovam durante toda a vida do indivíduo, morrendo e sendo substituídos por outras, resultantes da divisão e diferenciação de células- tronco. Em termos simples, podemos dizer que a célula cancerosa não apenas “esquece” de morrer, como também “entra numa” de se dividir alucinadamente, num comportamento egoísta que leva o organismo a uma quebra de homeostase e falência de recursos generalizada, resultando na sua morte. HÁ MAIS DE UM TIPO DE CÂNCER? Sim, o que chamamos câncer é, na verdade, um conjunto de doenças de origem e evolução diversas. As células cancerosas, por sua vez, compartilham duas características básicas: multiplicam-se indefinidamente e terminam por invadir e colonizar outros tecidos. A proliferação inicial de uma célula anormal gera uma neoplasia (neo = novo, plasia = formação). A massa de células inicial pode permanecer encapsulada por fibras do tecido conjuntivo e, neste caso, forma-se um tumor benigno que pode, em geral, ser removido cirurgicamente sem futuros transtornos para o indivíduo (Figura 14.1.a). Caso as células se dispersem por entre as células normais, o tumor é dito maligno e o prognóstico quanto à sua remoção e cura é relativamente incerto (Figura 14.1.b). Se estas células se disseminarem pela corrente sangüínea e formarem colônias em outros locais, estas serão chamadas metástases. Esta condição agrava bastante a condição do paciente e dificulta muito a cura. Cápsula fibrosa Neoplasia Tecido normal Túbulos invasivos a b Figura 14.1: Diferenças estruturais entre um tumor glandular benigno (a) e um maligno (b). No primeiro, a cápsula fibrosa que se forma em torno das células cancerosas restringe a invasão do tecido adjacente. Os tumores de mama possuem uma dessas duas conformações. Biologia Celular II | A célula cancerosa 6 C E D E R J A U LA 1 4 M Ó D U LO 3 C E D E R J 7 Na Tabela 14.1 compilamos um glossário de termos comumente usados na definição de tumores, tanto benignos quanto malignos, de acordo com o tipo de tecido e tipo celular a partir do qual se originaram. Designação técnica do tumor Origem e características do tumor Carcinoma Tumor originado de células epiteliais Sarcoma Tumor originado de células musculares ou do tecido conjuntivo Leucemias Cânceres de tecidos hematopoiéticos (sangue) ou tecido nervoso Adenoma Tumor benigno do tecido epitelial glandular Adenocarcinoma Tumor maligno do tecido epitelial glandular Condroma Tumor benigno do tecido cartilaginoso Condrossarcoma Tumor maligno do tecido cartilaginoso Tabela 14.1: Glossário de termos usados na caracterização de tumores. As células cancerosas conservam algumas características da célula normal de onde se originaram. Assim é que no carcinoma baso- celular, um tipo bastante comum e pouco agressivo de câncer de pele, as células continuam a produzir filamentos intermediários de queratina, e no melanoma, um tipo de câncer bastante agressivo, as células seguem produzindo o pigmento melanina, característico de sua célula precursora. O QUE TORNA UMA CÉLULA CANCEROSA? Calcula-se que a célula-ovo que resulta da fecundação de um óvulo por um espermatozóide divide-se 1016 vezes ao longo de nossa vida. Já tendo estudado a divisão celular na Aula 2 desta disciplina, você também sabe que, apesar dos mecanismos de checagem e de reparo, podem ocorrer erros na replicação do DNA e na divisão deste entre as células-filhas. Esses erros são as mutações. Ora, em 1016 vezes, é admissível que ocorram erros, e eles de fato ocorrem, só que na imensa maioria das vezes o resultado dessas mutações são células não viáveis, que não apenas não mais se dividirão como morrerão e serão eliminadas. As células cancerosas possuem um alto grau de instabilidade genética, o que significa dizer que são muito suscetíveis a sofrer e acumular mutações. Essa instabilidade genética ocorre em raros casos por predisposição genética, como num tipo de tumor que afeta as células da retina – o retinoblastoma – ou, mais comumente, por exposição repetida a fatores indutores, como as substâncias contidas no tabaco Biologia Celular II | A célula cancerosa 6 C E D E R J A U LA 1 4 M Ó D U LO 3 C E D E R J 7 dos cigarros ou radiações ionizantes, como os raios-X. Eventualmente, um destes mutantes possui as características necessárias para iniciar uma linhagem tumoral. Isto significa dizer que, comparado à freqüência com que ocorrem mutações nas nossas células, o câncer é uma decorrência