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ASPECTOS RELEVANTES DO DIREITO NO BRASIL IMPERIAL

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ASPECTOS RELEVANTES DO DIREITO NO BRASIL IMPERIAL
 
O PERÍODO DO PRIMEIRO REINADO: PANORAMA SÓCIO-JURÍDICO-POLÍTICO-INSTITUCIONAL.
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UM TEMA PRELIMINAR: O PROCESSO DA EMANCIPAÇÃO POLÍTICA BRASILEIRA.
O entendimento da construção do arcabouço jurídico-político-institucional do Império do Brasil durante o governo de D. Pedro I (Primeiro Reinado – de 1822 a 1831) exige que sejam desenvolvidas algumas considerações a respeito do processo de emancipação.
Para tanto, o início do processo da independência brasileira em relação a Portugal será balizado pela elevação do status jurídico-político do Brasil, no contexto do Império Português e do cenário internacional da época à condição de Reino Unido ao de Portugal e Algarves.
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DA ELEVAÇÃO DO BRASIL À CONDIÇÃO DE REINO UNIDO (1815) À RUPTURA POLÍTICA (1822):
O CONTURBADO PROCESSO DA EMANCIPAÇÃO POLÍTICA BRASILEIRA
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O IMPÉRIO PORTUGUÊS NA ENCRUZILHADA ENTRE A AMÉRICA E A EUROPA (1815 – 1822)
A elevação do Brasil à condição de Reino Unido ao de Portugal e Algarves, ocorrida em 16 de dezembro de 1815, deu legitimidade a uma situação que já existia de fato, por força da transferência da Família Real ocorrida em 1808: o Brasil havia se tornado o centro decisório do Império Português, configurando-se como a parte do Império dotada de maior importância política, econômica e estratégica.
Tal ato foi sugerido pelo representante francês (Talleyrand) nas negociações do Congresso de Viena, com o objetivo de fortalecer a posição de Portugal na Europa pós-napoleônica.
 A elevação do Brasil à categoria de Reino Unido garantiu, todavia, a permanência da Corte no Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que, naquele momento americana do Império Luso-Brasileiro.
Se para o Senado da Câmara do Rio de Janeiro, o ato de 16/12/1815 constituiu-se em “ilustrada política”, pois levava em consideração a “preeminência” que o Brasil fazia por merecer em função de “sua vastidão, fertilidade e riqueza”, para os portugueses (apoiados pelos ingleses) fazia-se imprescindível o retorno da Família Real à Europa. 
A elevação do Brasil à condição de reino, a recusa de D. João a voltar a Portugal e sua coroação como rei (com o título de D. João VI) em 06/02/1818 (em virtude da morte de D. Maria I em 1816 e da Insurreição Pernambucana de 1817) reafirmava o crescente peso político do Brasil sobre o Império e a ascendência do Rio de Janeiro sobre as demais partes do país.
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OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
A aclamação de D. João VI em terras americanas atingiu duramente os sentimentos dos portugueses na Europa – o jornal O PORTUGUÊS chamava a Corte no Brasil de “governo tupinambá”.
Algumas medidas paliativas foram tomadas visando atenuar o descontentamento dos súditos portugueses europeus – para tanto, o alvará de 25/04/1818 concedia taxas mais favoráveis para o vinho e a aguardente trazidos de Portugal, enquanto que o aviso de 30/05/1820 isentava dos direitos de entrada nos portos brasileiros, o peixe e alguns tecidos portugueses (como o linho).
O descontentamento, em Portugal, com as condições em que se encontrava a parte européia do Império, levou à chamada Revolução do Porto (24/08/1820) – tal movimento tinha como objetivos, o fim do Antigo Regime, a convocação de cortes (na verdade, uma Assembléia Constituinte) para a elaboração de uma Constituição para o Império e o restabelecimento do lugar que os portugueses entendiam como merecido no contexto do Império Luso-Brasileiro.
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A REVOLUÇÃO DO PORTO E A EMANCIPAÇÃO BRASILEIRA (1820-1822) - I
A dinâmica da Revolução Portuguesa de 1820 deve ser entendida em um ambiente sócio-político-econômico de descontentamento generalizado, visando retirar a antiga sede do império luso-brasileiro do marasmo econômico, da subordinação de governadores considerados ineptos e da arrogância do Marechal Beresford e das tropas inglesas de ocupação. 
Os dirigentes do movimento buscavam construir a imagem de que a revolução se configurava como uma “regeneração” política que levaria a uma substituição das práticas do Antigo Regime pelo liberalismo, evitando-se, contudo, “os perigosos tumultos filhos da anarquia” , típicos de revoluções como a Revolução Francesa.
 O núcleo dos “revolucionários” do Porto era constituído por militares, comerciantes e magistrados, em sua maioria pertencentes ao SINÉDRIO (sociedade secreta que se organizou em 1818 e que serviu de instância para a discussão das idéias que acionariam o movimento vintista).
Este núcleo de insurgentes era moderado em suas pretensões políticas, desejando tão somente a transformação de Portugal em uma monarquia constitucional, com o retorno do rei e o fim da tutela inglesa – a adesão da burguesia mercantil e financeira ao movimento incorporou outros objetivos, tais como, a reformulação das relações comerciais luso-brasileiras. 
Apesar das autoridades de Lisboa terem tentado deter o movimento que se alastrava por todo o país com a convocação das antigas Cortes do reino, a instalação das Juntas Provisionais do Governo Supremo do Reino e Preparatória das Cortes (27/09/1820) transformaram as antigas Cortes consultivas em deliberativas, visando a elaboração de uma Constituição que subordinasse o trono ao Poder Legislativo.
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A REVOLUÇÃO DO PORTO E A EMANCIPAÇÃO BRASILEIRA (1820-1822) - II
No Brasil, as notícias da Revolução do Porto encontraram campo propício para sua propagação, tendo diversas províncias aderido ao movimento - em 01/01/1821, o Grão-Pará aderiu ao movimento liberal, em 10/02/1821, a Bahia jurou a Constituição que iria ser elaborada em Portugal e em 26/02/1821, por pressão das tropas portuguesas, a cidade do Rio de Janeiro incorporou-se ao movimento liberal iniciado no Porto.
Durante o ano de 1821, verificou-se o surgimento de uma pregação liberal e constitucionalista em ambos os lados do Atlântico, com a circulação de folhetos políticos, panfletos, periódicos – o debate político foi para o domínio público, atingindo, não somente o pequeno círculo de letrados das cidades, mas também outros atores, como pequenos proprietários rurais, pequenos comerciantes, caixeiros, soldados, homens livres pobres, libertos, escravos interessados em uma possível alforria.
Diante deste quadro, D. João VI hesitou entre permanecer no Brasil e voltar para Portugal – mas os acontecimentos do dia 26/02 no Rio de Janeiro, quando as tropas portuguesas exigiram o juramento imediato do soberano das bases da futura constituição portuguesa, a demissão de alguns membros do governo e a adoção temporária da Constituição espanhola de 1812 até a elaboração da constituição portuguesa, apressaram a decisão do rei.
Em 26/04/1821, D. João VI embarcou de volta para Portugal, deixando em seu lugar, como regente, o príncipe D. Pedro, que passou a deter amplos poderes.
Coube-lhe a administração da Fazenda, da Justiça, a resolução de todas as consultas relativas à administração pública, o provimento dos diversos cargos dos ofícios de justiça e fazenda, dos empregos civis e militares, das dignidades eclesiásticas (exceto dos bispos), o perdão da pena de morte, fazer guerra defensiva ou ofensiva no caso de ameaça ao Brasil.
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A REVOLUÇÃO DO PORTO E A EMANCIPAÇÃO BRASILEIRA (1820-1822) - III
O início da regência de D. Pedro ocorreu no transcurso dos preparativos para as eleições dos deputados às Cortes de Lisboa que se deram de forma indireta e em quatro níveis de seleção, não havendo sido estabelecido censo algum, podendo votar todo o cidadão com mais de 25 anos, estando excluídos da votação: mulheres, menores de 25 anos (a menos que fossem casados), oficiais militares da mesma faixa etária, clérigos regulares, os filhos os criados de servir (excluindo-se os feitores que vivessem em casa separada de seus amos), os vadios, os ociosos e os escravos – para ser eleito deputado era necessário ter mais de 25 anos, não pertencer às ordens regulares e residir na província há mais de 07 anos.
Do ponto de vista político e financeiro, o início da regência de D. Pedro foi bastante difícil: cofres públicos vazios, as províncias
do Norte se recusaram a qualquer subordinação, tanto econômica, quanto política, ao Rio de Janeiro, as províncias do Sul, apesar de prestarem lealdade ao príncipe, se recusaram a prestar apoio financeiro – a posição de D. Pedro era de quase impotência e de dependência do Congresso de Lisboa.
Em junho de 1821, D. Pedro foi obrigado “pela tropa e pelo povo” a jurar a Constituição portuguesa chegada de Lisboa no final de maio, ao mesmo tempo que, ao longo de 1821, as diversas províncias brasileiras formaram governos provisórios ou juntas governativas eleitas e reconhecidas pelas Cortes de Lisboa, em oposição ao controle central do Rio de Janeiro.
Diante de tais dificuldades, o príncipe regente teve que se aproximar dos setores mais conservadores da elite brasileira, os que haviam frequentado a Universidade de Coimbra e exercido funções na administração, compartilhando a idéia de um império luso-brasileiro. 
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A REVOLUÇÃO DO PORTO E A EMANCIPAÇÃO BRASILEIRA (1820-1822) - IV
Durante o segundo semestre de 1821 as notícias acerca das discussões travadas nas Cortes de Lisboa deixavam claro que a assembléia intentava submeter o rei ao controle do Legislativo e restabelecer a supremacia européia sobre o resto do império.
Aos poucos, foi se desenvolvendo nas Cortes a perspectiva de uma política integradora, em que o Reino Unido deixasse de representar a união de dois reinos, tornando-se uma única entidade política, da qual o Congresso seria o símbolo, em substituição ao rei.
No início de dezembro de 1821, chegaram ao Rio os decretos de 29/09 das Cortes que referendavam as juntas provinciais diretamente subordinadas a Lisboa e que exigiam o retorno imediato de D. Pedro a Portugal. 
Entre voltar para Portugal e permanecer no Brasil para tentar erguer uma monarquia do tipo “ilustrado”, D. Pedro optou pela segunda via, opção esta que se confirmou com a proclamação do Fico, em 09/01/1822 – em 11/02, tropas portuguesas tentaram forçar o embarque de D. Pedro para Lisboa, sendo impedidos pela movimentação do povo e de soldados brasileiros. 
Deste ponto em diante, as decisões tomadas em ambos os lados do Atlântico acabaram por aprofundar o crescente mal-entendido entre as partes, o que levaria à independência brasileira.
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A INDEPENDÊNCIA E O INÍCIO DA CONSTRUÇÃO DO ESTADO MONÁRQUICO BRASILEIRO: O PRIMEIRO REINADO
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Ao longo do primeiro semestre de 1822, foi se delineando o processo da ruptura definitivo com Portugal.
Em 16/01, D. Pedro organizou um novo ministério, tendo à frente José Bonifácio de Andrada e Silva, o mais destacado elemento do “grupo de Coimbra”.
Em fevereiro, com o objetivo de estreitar os laços das províncias com o governo do Rio de Janeiro, D. Pedro convocou um Conselho de Procuradores.
Em 30/04, Gonçalves Ledo, através de seu jornal “Revérbero Constitucional Fluminense”, levantou a proposta de emancipação política do Brasil.
Em 23/05, o português José Clemente Pereira, presidente do Senado da Câmara do Rio de Janeiro, entregou ao príncipe regente uma representação solicitando a convocação de uma “Assembléia Brasílica” (uma Assembléia Constituinte Brasileira), convocação esta que foi decidida no dia 03/06.
Tal assembléia teria como objetivo evitar o esfacelamento do Brasil – a instalação de um Poder Legislativo poderia afastar a “sombra do despotismo no Rio de Janeiro” que ainda amedrontava as províncias do Norte.
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Até meados do ano de 1822, raros foram os escritos que fizeram alguma referência ao desejo das Cortes de Lisboa em restabelecer o exclusivo colonial como fator que pudesse ensejar a separação entre Brasil e Portugal.
Todos os atos do governo regencial de D. Pedro no Rio de Janeiro tinham como objetivo afirmar um centro de poder que fosse capaz de evitar o esfacelamento territorial do país – ainda não havia a pretensão da ruptura plena entre a Metrópole e a antiga colônia.
Em 01/08, D. Pedro declarava inimigas todas as tropas portuguesas que desembarcassem no país sem seu consentimento, afirmando, contudo, que a INDEPENDÊNCIA era tomada no sentido da AUTONOMIA POLÍTICA, sem o rompimento formal com Portugal.
Neste mesmo mês, dois manifestos (Manifesto aos povos do Brasil, de Gonçalves Ledo e Manifesto às nações amigas, de José Bonifácio) entendiam que a separação era um fato consumado, sendo que José Bonifácio se mostrou mais reticente em relação à ruptura total.
Com o aprofundamento das divergências entre os que apoiavam o príncipe regente e a crescente autonomia do Brasil e as Cortes de Lisboa, a ruptura dos laços políticos foi se mostrando como uma tendência irreversível.
Na medida em que se caminhava para a emancipação, importantes grupos sociais, como o dos bacharéis, magistrados, altos funcionários que perderam seus empregos em função da decretação da extinção dos Tribunais Superiores no Rio de Janeiro, mostravam sua insatisfação com o domínio português. 
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Outro grupo importante, o dos grandes comerciantes portugueses estabelecidos no Rio de Janeiro, não concordavam com uma provável retomada da hegemonia portuguesa no contexto do Império.
Combinando seus interesses com os interesses de outros setores tradicionais ligados à propriedade da terra e com os da burocracia político-administrativa da cidade, estes comerciantes poderosos preferiram cerrar fileiras em torno do príncipe regente, desde que se mantivessem a ordem e as estruturas vigentes, especialmente o sistema escravista.
Apesar do 07/09/1822 ser considerada a data da independência brasileira (e que hoje é comemorada como a data nacional do Brasil), a separação, ainda que parcial, já estava devidamente consumada para a grande maioria dos contemporâneos – para estes, a decisão de convocar uma Assembléia Constituinte, tomada no dia 03/06 e o decreto de 01/08 representava a emancipação.
Ela viria ser oficializada com a aclamação de D. Pedro I como imperador constitucional do Brasil (12/10/1822) e com a sua coroação em 01/12/1822.
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Durante o Primeiro Reinado (de 1822 a 1831) procedeu-se à montagem de todo o arcabouço legal, político e institucional do Império Brasileiro. 
 A construção da ordem jurídico-político-institucional brasileira se deu sob a égide de um liberalismo iluminista (marcado pelas idéias e pelos ideais do Iluminismo do século XVIII) matizado pelas práticas patrimoniais e corporativas de uma parte considerável de suas elites e pela presença “hegemônica” do trabalho escravo no cenário sócio-econômico, tendo sido o debate jurídico-político, ao longo do período imperial, marcado pelos seguintes temas: poder moderador, centralismo, soberania popular e representação política.
Sobre o Primeiro Reinado...
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Características gerais do Primeiro Reinado:
O Primeiro Reinado (1822/1831) se constituiu como uma etapa de consolidação da emancipação política brasileira, a qual não produziu grandes alterações na ordem social e econômica e na forma de governo;
Ainda que a emancipação política, sob a forma de união em torno do Rio de Janeiro, não tenha produzido grandes mudanças na organização sócio-político-econômica brasileira, ela resultou de lutas e não de consenso;
Nestas lutas travadas pela consolidação da Independência, foram derrotados, nas províncias, os movimentos autonomistas e os que defendiam a permanência da união com Portugal; 
A nova relação de dependência econômica que começou a se construir com as principais potências da época (especialmente com a Inglaterra) a partir da abertura dos portos brasileiros (1808) e que se consolidou com a emancipação política de 1822, não significou uma simples continuidade com o padrão colonial anterior, mas uma nova forma de inserção no sistema econômico internacional;
Por outro lado, a Independência demandava a tarefa a construção de um Estado Nacional capaz de organizar o país e de garantir sua unidade, e para tal tarefa não havia um consenso das autoridades em torno das linhas básicas que deveriam marcar a organização do novo Estado.
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OBSERVAÇÕES ACERCA DA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE DE 1823 (I)
Nos dois primeiros anos após a Independência,
o debate político se configurou em torno da aprovação de uma Constituição, que deveria ser produzida e votada por uma Assembléia Constituinte que começou a se reunir no Rio de Janeiro em maio de 1823.
Logo no início dos trabalhos da Assembléia Constituinte, começaram a surgir divergências entre os constituintes (na maioria, liberais moderados) e as tendências centralizadoras, autoritárias e absolutistas de D. Pedro I, apoiado a princípio por Jose Bonifácio.
As desavenças entre o Imperador e os constituintes se produziram em torno das atribuições do Poder Executivo (o imperador) e o Legislativo – os constituintes não queriam que o imperador tivesse o poder de dissolver a Câmara dos Deputados, nem que pudesse negar a validade de qualquer lei aprovada pelo Legislativo.
Já o imperador e os círculos políticos que o apoiavam achavam que era necessário um Executivo forte, capaz de conter as “tendências democráticas e desagregadoras”.
Tais divergências levaram ao afastamento de José Bonifácio do ministério em julho de 1823 , imprensado entre as críticas dos liberais e as insatisfações dos conservadores e posteriormente à dissolução da Assembléia Constituinte, com o apoio dos militares.
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OBSERVAÇÕES ACERCA DA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE DE 1823 (II)
Durante o período em que esteve reunida a Assembléia Constituinte para a elaboração da primeira constituição do Brasil independente (entre maio e novembro de 1823, o debate político foi intenso, com frequentes mudanças de posição.
Quando o projeto da Constituição começou a ser discutido, as galerias ficaram lotadas, com populares acompanhando o posicionamento dos parlamentares a respeito dos direitos civis e suas opiniões sobre a maior ou menor extensão dos direitos políticos, com uma tendência clara para a não extensão destes direitos a todos os membros da sociedade.
Havia a preocupação com as parcelas mestiças que podiam ser excluídas do processo político. Por sua vez a participação política dos que fossem considerados cidadãos deveria ser graduada entre cidadãos “passivos” e “ativos” – para ser brasileiro, segundo o deputado Rocha Franco, não bastava apenas a naturalidade ou a naturalização, devendo-se somar a tais critérios, a residência no Brasil e a propriedade, o que significava dizer que a residência e a propriedade seriam os caracteres distintivos da cidadania.
Quando se votou a proposição da extensão dos direitos de cidadãos aos LIBERTOS, ela foi rejeitada.
Aos poucos, a Assembléia ia sendo pautada pelo cotidiano das ruas e pela intensa participação popular, até a sua dissolução.
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A constituição de 1824 (caracterização inicial):
Com a dissolução da Assembléia Constituinte e a prisão de vários deputados, dentre eles os irmãos Andradas (José Bonifácio, Martim Francisco e Antônio Carlos), o imperador cuidou de criar uma comissão de “notáveis” que elaborassem um projeto de constituição que resultou na Constituição outorgada em 25 de março 1824 - apesar de OUTORGADA, esta constituição marcou o início da institucionalização da monarquia constitucional, configurando-se a partir daí os Poderes do Estado, as garantias de direitos e a contenção de abusos – a prática constitucional somente teria início em maio de 1826, quando se instalou o Legislativo.
A Constituição de 1824 não diferia muito da proposta dos constituintes de 1823 – a grande diferença é que ela foi imposta pelo imperador ao “povo”, ou seja àquela minoria de brancos e mestiços que tinham participação política.
Com relação ao alcance da Constituição de 1824, devemos destacar dois pontos essenciais: 
Havia um contingente expressivo da população (os escravos) que estava excluído de seus dispositivos.
Ainda que a Constituição representasse um avanço do ponto de vista da organização dos poderes, da definição de atribuições e de garantia dos direitos individuais, sua aplicação seria muito relativa, especialmente no campo dos direitos em um país onde a maioria da população livre dependia dos grandes proprietários rurais, onde só uma minoria (bem pequena) tinha alguma instrução e onde existia uma tradição autoritária.
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Esta constituição vigorou, com algumas modificações, até o final do período imperial e apresentou como principais características:
A forma de governo foi definida como MONÁRQUICA, HEREDITÁRIA e CONSTITUCIONAL.
O império teria uma nobreza, mas não uma aristocracia, cujos títulos seriam concedidos pelo imperador, não sendo, todavia hereditários.
A religião católica continuou como religião oficial, (o Estado Monárquico Brasileiro era CONFESSIONAL) permitindo-se o culto particular de outras religiões, sem que houvesse, todavia, “forma alguma exterior de templo”.
O Poder Legislativo foi dividido em duas instâncias: a Câmara dos Deputados e o Senado – para a Câmara, a eleição era temporária, enquanto que, para o Senado, era vitalícia.
O voto era INDIRETO e CENSITÁRIO – INDIRETO (até a reforma de 1881) porque os votantes (que corresponderiam a massa atual de eleitores) votavam em um CORPO ELEITORAL, em ELEIÇÕES PRIMÁRIAS, o qual elegia os deputados e CENSITÁRIO porque para ser votante primário, fazer parte do CORPO ELEITORAL (COLÉGIO ELEITORAL), ser deputado ou ser senador, o indivíduo deveria atender a alguns requisitos, dentre os quais (e principalmente) de NATUREZA ECONÔMICA.
O país foi dividido em províncias cujos presidentes eram nomeados pelo imperador, ao mesmo tempo em que se asseguravam, formalmente, os direitos individuais (igualdade perante a lei, liberdade de religião com algumas restrições, liberdade de pensamento e de manifestação).
o Judiciário, apesar de formalmente independente, encontrava-se sob a égide dos interesses da administração.
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Foram instituídos o Conselho de Estado e o Poder Moderador que desempenhariam importantes papéis no desenvolvimento da história política do Império.
O Conselho de Estado era um órgão composto por conselheiros vitalícios nomeados pelo Imperador dentre cidadãos brasileiros com idade mínima de 40 anos (idade avançada para a época), renda não inferior a 800 mil-réis e que fossem pessoas de “saber, capacidade e virtude” – o Conselho deveria ser ouvido nos “negócios graves e medidas gerais da pública administração”, como por exemplo, declaração de guerra e ajustes de pagamentos.
O Poder Moderador provinha de uma idéia do escritor francês Benjamin Constant que defendia a separação entre o Poder Executivo, cujas atribuições caberiam aos ministros do rei, e o poder propriamente imperial, chamado de neutro ou MODERADOR – tal poder, exercido pelo monarca (pelo imperador), teria a função de moderar as disputas mais sérias e gerais, interpretando a “vontade e o interesse nacional”, não intervindo na administração do dia-a-dia.
No Brasil nunca houve uma clara separação entre o Poder Moderador e o Poder Executivo, resultando uma concentração de atribuições nas mãos do imperador.
Assim, pelos princípios constitucionais, a figura do imperador foi considerada sagrada e inviolável, NÃO ESTANDO SUJEITA A RESPONSABILIDADE ALGUMA, cabendo a ele, dentre outros pontos, a nomeação de senadores, a faculdade de dissolver a Câmara e convocar eleições para renová-la e o direito de sancionar, ou seja, aprovar ou vetar as decisões da Câmara e do Senado.
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ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA DO PERÍODO IMPERIAL:
A Constituição de 1824 deu nova feição à Justiça brasileira, elevando-a à condição de um dos poderes estatais (Do Poder Judicial – Título VI).
Pela Constituição imperial, o Poder Judiciário se organizava da seguinte forma:
PRIMEIRA INSTÂNCIA:
	Juizes de Paz – para conciliação prévia das contendas cíveis e, pela Lei de 15 de outubro de 1827, para instrução inicial das causas criminais, sendo eleitos em cada distrito. 
	Juizes de Direito – para julgamento das contendas cíveis e criminais, sendo nomeados pelo Imperador.
SEGUNDA INSTÂNCIA:
	Tribunais de Relação (Provinciais) - Para julgamento dos recursos das sentenças (revisão das decisões). 
TERCEIRA INSTÂNCIA: 
	Supremo Tribunal de Justiça - Para revista de determinadas causas e solução dos conflitos de jurisdição
entre Relações Provinciais. (O Supremo Tribunal de Justiça foi efetivamente criado pela Lei de 18 de setembro de 1828, compondo-se de 17 Ministros - ao mesmo tempo em que foi extinta a Casa da Suplicação, o Desembargo do Paço e a Mesa da Consciência e Ordens).
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ATENÇÃO (I) !!!
O Poder Moderador, exercido pelo Imperador, agia sobre o Poder Legislativo (direito de dissolução da Câmara, direito de adiamento e de convocação, direito de escolha, na lista tríplice, dos senadores), agia sobre o Poder Judiciário pelo direito de suspender magistrados (na prática, o texto constitucional negava a vitaliciedade e inamovibilidade dos juízes, assim como não assegurava a irredutibilidade de vencimentos), influía sobre o Poder Executivo pelo direito de escolher livremente seus ministros de Estado e livremente demiti-los – em nosso parlamentarismo o Imperador reinava e governava – a ação do poder do soberano encontrava-se reforçada pela existência de dois órgãos no aparelho político central: o Senado (órgão de reação contra as possíveis tendências excessivamente liberais da Câmara dos Deputados) e o Conselho de Estado (órgão consultivo que aconselhava o Imperador nas medidas administrativas e políticas, constituindo-se em intérprete supremo da Constituição).
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ATENÇÃO (II) !!!
A carta constitucional de 1824 criou um Estado Unitário, vigorosamente centralizado política e administrativamente na capital do Império e nos poderes que a Constituição criou, tornando impraticável qualquer aspiração de autonomia dos poderes locais – o art. 165 estabelecia que cada província teria um presidente nomeado pelo Imperador que o poderia remover quando o bom serviço do Estado assim o entendesse; os artigos 81 e 84 tratavam das atribuições dos Conselhos Gerais das Províncias, que entre 1826 e 1834 se constituíram em meros órgãos consultivos, devendo as deliberações tomadas em maioria serem remetidas ao Poder Executivo (no Rio de Janeiro), por intermédio do Presidente da Província – se a Assembléia Geral estivesse reunida, as deliberações eram enviadas pela Secretaria de Estado para serem propostas como projetos de lei e para obterem a aprovação da Assembléia por uma única discussão em cada câmara - no caso do Legislativo não estar reunido, o Imperador poderia mandar executá-las provisoriamente ou negar-lhes aplicação.
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ATENÇÃO (III) !!!
O rigorismo centralizador da Constituição de 1824 foi amenizado com a adoção do Ato Adicional de 1834 (e que foi “esvaziado” pela lei de interpretação do Ato Adicional de 1840) que criou as Assembléias Legislativas Provinciais (substituindo os Conselhos Gerais de Província) para as quais foram concedidos amplos poderes fiscais, legais e administrativos.
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ELEIÇÃO PARA A CÂMARA DOS DEPUTADOS E SENADO DE ACORDO COM OS DISPOSITIVOS DA CONSTITUIÇÃO DE 1824:
ELEIÇÕES PRIMÁRIAS (eleições para o Colégio Eleitoral)
Votavam os cidadãos brasileiros, inclusive ESCRAVOS LIBERTOS, não podendo votar os menores de 25 anos, os criados de servir, os que não tivessem renda anual de pelo menos 100 mil-réis proveniente de bens de raiz (imóveis), indústria, comércio ou emprego – o equivalente ao rendimento líquido anual de 150 alqueires de farinha de mandioca;
COLÉGIO ELEITORAL
Para ser candidato ao Colégio Eleitoral, o indivíduo, além dos requisitos anteriores, deveria ter uma renda anual de, no mínimo, 200 mil-réis e não ser escravo liberto – o equivalente ao rendimento líquido anual de 250 alqueires de farinha de mandioca;
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Para ser candidato a deputado, além dos requisitos anteriores, era necessário ser católico e ter uma renda mínima anual de 400 mil-réis – o equivalente ao rendimento líquido anual de 500 alqueires de farinha de mandioca; 
OBS I: Para ser candidato a senador, o pretendente deveria ter idade igual ou superior a 40 anos, que tivessem feito serviços à Pátria e que possuíssem rendimento anual proveniente de bens, indústria, comércio ou empregos de 800 mil-réis – o equivalente ao rendimento líquido anual de 1000 alqueires de farinha de mandioca. A votação para o Senado se dava em listas tríplices, cabendo ao Imperador a escolha de um dos nomes;
OBS II: As mulheres estavam excluídas dos direitos políticos pelas normas sociais e até 1882, era praxe, a admissão do voto de grande número de analfabetos, tendo em vista o silêncio da Constituição de 1824 a esse respeito;
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