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DA CRISE DO 2º REINADO À PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

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AULA 6 – PRIMEIRA PARTE: DA CRISE DO 2º REINADO À PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
O processo abolicionista (as leis abolicionistas) e a abolição da escravidão, revoltas populares na década de 1870, a reforma eleitoral de 1881, os enfrentamentos do Estado Imperial com a Igreja Católica (a Questão Religiosa) e com segmentos militares (a Questão Militar), o movimento republicano e a queda da Monarquia.
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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS NECESSÁRIAS...
Tomando-se uma perspectiva de longo prazo, a segunda metade do século XIX (de 1850 a 1900) constituiu-se em uma etapa histórica marcada por acontecimentos sociais, econômicos, políticos, jurídico-institucionais que estiveram associados a mudanças significativas nas bases da sociedade brasileira.
Vejamos que acontecimentos foram esses:
Extinção do tráfico internacional de mão-de-obra escrava.
Promulgação da Lei de Terras, do Código Comercial e publicação da Consolidação das Leis Civis.
Migrações internas e imigração européia.
Guerra do Paraguai.
Movimento abolicionista e abolição da escravidão.
As questões religiosa e militar, a queda da Monarquia e Proclamação da República.
Transferência do polo dinâmico da cafeicultura do Vale do Paraíba para o Oeste paulista.
Primeira crise de superprodução cafeeira e estabilização da ordem republicana sob a égide da “Política dos Governadores”.
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DO QUE TRATAREMOS NESTA PRIMEIRA PARTE DA AULA VI?
Nesta etapa da aula VI trataremos dos temas que marcaram as décadas da crise do 2º Reinado, ou seja, as duas últimas décadas de vigência do regime monárquico no Brasil (décadas de 1870 e de 1880).
Estaremos lidando com o movimento abolicionista (e a legislação abolicionista) e a abolição da escravidão, com os enfrentamentos do Estado com a Igreja Católica e com setores do Exército e da Marinha, com sedições populares ocorridas na década de 1870, com a reforma eleitoral de 1881, com o movimento republicano e com a queda da Monarquia que se deu com o golpe militar de 15 de novembro de 1889. 
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O MOVIMENTO ABOLICIONISTA: A LEGISLAÇÃO ABOLICIONISTA E O FIM DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL 
Com a tomada de medidas efetivas contra o tráfico, a escravidão estava destinada a acabar, ou seja, se o tráfico havia se tornado ilegal, a manutenção da escravidão perdia legitimidade – as questões que se colocavam a partir da extinção do tráfico de escravos eram: em que prazo e de que forma a escravidão iria acabar e quem substituiria a mão-de-obra escrava?
 Entre 1850 e 1870, as áreas mais dinâmicas da economia brasileira (os fazendeiros do Centro-Sul do país) resolveram seus problemas de mão-de-obra através do tráfico interprovincial, ou seja, comprando escravos das regiões em decadência econômica (sobretudo do Nordeste açucareiro).
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A partir da década de 1870, mais precisamente após o fim da Guerra da Tríplice Aliança (ou Guerra do Paraguai) a temática do fim da escravidão ganhou novo impulso juntamente com os primeiros sinais de crise na estrutura sócio-político-econômica do Segundo Reinado.
A extinção da escravidão no Brasil se processou por etapas, ao longo das décadas de 1870 e 1880.
Em maio de 1871, o governo imperial apresentou um projeto de lei que geraria muitas controvérsias, mas que acabaria por se transformar em lei: a chamada Lei do Ventre Livre (Lei 2.040, de 28 de setembro de 1871).
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Alguns dos dispositivos da Lei do Ventre Livre (lei 2.040 de 28/11/1871):
O caput do Art. 1º desta lei declarava que “os filhos da mulher escrava que nascerem no Império desde a data desta lei, serão considerados de condição livre.” 
Todavia, de acordo com o § 1º, do Art. 1º desta lei, “os ditos filhos menores ficarão em poder e sob a autoridade dos senhores de suas mães, os quais terão obrigação de criá-los e tratá-los até a idade de oito anos completos.” 
Segundo este parágrafo, “chegando o filho da escrava a esta idade, o senhor da mãe terá a opção, ou de receber do Estado a indenização de 600$000, ou de utilizar-se dos serviços do menor até a idade de 21 anos completos.”
Ainda de acordo com este parágrafo, no caso do senhor da mãe optar pela indenização, “o governo receberá o menor, e lhe dará destino, em conformidade da presente lei, [sendo que] a indenização pecuniária acima fixada será paga em títulos de renda com o juro anual de 6%, os quais se considerarão extintos no fim de trinta anos.
Dentre outros dispositivos, a lei determinava, no caput do art. 2º e nos parágrafos que o compunham, que os filhos de escravas nascidos a partir da data da lei do Ventre Livre e entregues ao Estado por força de seus dispositivos (cessão por indenização, abandono ou retirada da tutela dos senhores de suas mães), seriam cedidos a associações que teriam o direito de usar os serviços gratuitos (ou alugá-los) dos menores até os 21 anos completos.
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O QUE TERIA LEVADO O GOVERNO IMPERIAL A PROPOR UMA LEI COMO A LEI DO VENTRE LIVRE?
A pergunta acima se torna mais significativa, na medida em que a lei não trazia em si qualquer conteúdo revolucionário, ao mesmo tempo em que causava um sério desgaste nas relações do governo com sua base social de apoio (os plantadores de café do Vale do Paraíba).
Tudo indica que a iniciativa de apresentação do projeto da Lei do Ventre Livre partiu do próprio imperador e de seus conselheiros.
Apesar da não ocorrência de insurreições de escravos, entendia-se nos setores políticos dirigentes que o Brasil padecia de uma fraqueza perigosa internamente que era o fato de que não podia contar com a lealdade de uma grande parte da população, pois esta grande parte era composta por escravos.
O governo preferiu então correr o risco de ferir interesses econômicos importantes, do que lidar com um problema muito maior que seria o de possíveis revoltas escravas.
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A classe social dominante (e, sobretudo, a fração da classe dominante que se constituía na sustentação política do regime imperial) viu no projeto um gravíssimo risco da subversão social – libertar escravos por meio de alforria se constituía em ato de generosidade do senhor, ao passo que libertar escravos por força da lei poderia criar nos escravos a sensação da existência do direito à liberdade, abrindo caminho para uma “guerra entre as raças”.
 Enquanto os representantes do Nordeste votaram majoritariamente pela lei (39 votos a favor e 6 contra), no Centro-Sul esta tendência se inverteu (30 votos contra e 12 a favor) 
Tudo indicava que o tráfico interprovincial de escravos (das províncias em dificuldades econômicas para as áreas do Centro-Sul, mais dinâmicas economicamente) havia diminuído consideravelmente a dependência das economias e das sociedades das províncias nordestinas em relação à mão-de-obra escrava.
A lei do Ventre Livre produziu poucos efeitos práticos, já que a maioria dos senhores de escravos preferiu usar dos serviços destes meninos e meninas até os 21 anos.
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ALGUMAS QUESTÕES A RESPEITO DOS DEBATES GERADOS PELO PROJETO DA LEI DO VENTRE LIVRE...
Ao apresentar o projeto da lei para a Câmara dos Deputados, o imperador buscava introduzir o debate acerca do tema da escravidão em um espaço político mais amplo do que aquele ocupado pelo Conselho de Estado.
De acordo com o imperador, o assunto deveria ser tratado “de modo que, respeitada a propriedade atual e sem abalo profundo em nossa primeira indústria – a agricultura – sejam atendidos os altos interesses que se ligam à emancipação”. 
Desta forma, procurava-se atender às demandas, às pressões externas (provenientes, por exemplo, da junta de emancipação francesa, da Inglaterra) e, ao mesmo tempo, reter, controlar não somente o debate acerca da emancipação escrava nos limites da esfera política, mas, especialmente, a forma como o processo deveria se desenvolver.
O projeto a respeito da libertação dos nascituros foi inicialmente debatido nas reuniões do Conselho de Estado e do Senado, o que provocou grandes divergências na Câmara dos Deputados, já que muitos não concordavam nem mesmo com a liberdade dos nascituros.
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A introdução do debate acerca da emancipação dos escravos
em esfera política mais ampla, trouxe também todo um conjunto de reivindicações que buscavam o comprometimento do governo imperial na definição de novas formas de relação de trabalho e dos novos trabalhadores.
Da forma como se efetivou a libertação dos nascituros (através da Lei do Ventre Livre) garantiu-se a permanência da escravidão por, pelo menos, mais três décadas, ao mesmo tempo em que a lei expressava um consenso em torno de uma estratégia reformista de longo prazo.
 A postergação do fim da escravidão permitia que os deputados especulassem acerca das novas formas de relações de trabalho, do tipo de trabalhador ideal que deveria substituir o escravo e buscassem a reafirmação da preponderância da agricultura (especialmente da grande lavoura produtora de gêneros para a exportação) como fator de sustentação do Império, cobrando-se do governo o compromisso de não deixar os fazendeiros desamparados.
Assim, era voz corrente entre inúmeros deputados e membros do governo imperial que a extinção da escravidão deveria se fazer de forma lenta, sem que se causassem sobressaltos nos proprietários rurais e em todos os interesses legítimos que estariam ligados a esta categoria dos produtores rurais.
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ALGUMAS “FALAS”ACERCA DA NECESSIDADE DA MANUTENÇÃO DA ESCRAVIDÃO...
Segundo o deputado Zama, representante da Bahia, “não há nenhum de nós que sustente a legitimidade da escravidão, mas é um fato legal, que a nós foi legado pelos nossos antepassados, mas com o qual, infelizmente, não podemos de chofre acabar.”
Expressando a preocupação de fazendeiros sobre a possibilidade de poderem contar com o trabalho dos escravos quando estes se tornassem livres, o conselheiro Nabuco de Araújo, por ocasião dos debates sobre a Lei do Ventre Livre, dizia que seria difícil “garantir a ordem pública contra a massa de dois milhões de indivíduos cujo primeiro impulso seria o abandono do lugar onde suportou a escravidão.”
Sobre a possibilidade de se contar com o trabalho dos nascituros, o deputado Duque-Estrada Teixeira, ainda durante o debate sobre a Lei do Ventre Livre, dizia ser impossível, já que “quando conhecessem o estado de liberdade sem o menor preparo moral e religioso, sem laços de família que insuflem amor e hábito ao trabalho, iriam os ex-escravos dedicar-se ao nada fazer.”
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Aos poucos foi-se construindo um discurso em que se afirmava que o negro não seria um bom trabalhador livre por ser incompetente por natureza, condição esta que os levaria ao vício, à indolência e à preguiça.
O deputado Felipe dos Santos, da bancada de Minas Gerais, ao responder a uma interpelação de um deputado do Maranhão, em 1880, perguntava “se o nobre deputado reconhece que os africanos eram selvagens, como se apresenta na Câmara um projeto tratando do direito à liberdade dos africanos?”
O médico francês, Louis Couty, que foi professor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1879, no momento em que se retomava o debate sobre a abolição na Câmara dos Deputados, expressava em seu livro o pensamento de muitos deputados e fazendeiros: “este escravo é bom cozinheiro, este outro é carregador, carpinteiro ou pedreiro , e todos eles trabalham bem. Eles serão libertados e, pouco tempo depois, tendo-se tornado beberrões ou preguiçosos, só trabalham quando obrigados por necessidades muito limitadas.”
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RETOMANDO O PROCESSO ABOLICIONISTA...
Com a aprovação da Lei do Ventre Livre, o movimento abolicionista arrefeceu, somente voltando a ter força na década de 1880, quando então pessoas de condições sociais diversas passaram a participar das campanhas abolicionistas.
Assim, a partir da década de 1880, enquanto o movimento abolicionista ganhava força com o surgimento de jornais e associações abolicionistas, nas províncias do Norte e Nordeste verificava-se um nítido desinteresse pela manutenção da escravidão e em 1884, o Ceará declarou extinta a escravidão em seu território.
Neste contexto verificou-se em 1885 a aprovação da Lei dos Sexagenários (Lei Saraiva-Cotejipe – Lei nº 3.270 de 28/09/1885), proposta por um gabinete liberal sob a presidência do Conselheiro Saraiva e aprovada no Senado quando os conservadores voltaram ao poder com um gabinete presidido pelo Barão de Cotejipe.
Em linhas gerais a lei concedia liberdade aos escravos com idade a partir de 60 anos completos antes e estabelecia normas para a libertação gradual de todos os escravos, mediante indenização – a lei foi pensada como forma de se deter o abolicionismo radical, não alcançando, contudo, este objetivo.
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Alguns dos dispositivos da Lei dos Sexagenários (lei 3.270 de 28/09/1885):
A Lei dos Sexagenários, como ficou conhecida, tinha como objetivo regular a extinção gradual do elemento servil. No caput do art. 1º desta lei, definia-se que seria realizada uma nova matrícula para os escravos, onde seriam declarados o nome, a nacionalidade, sexo, filiação (se conhecida), ocupação ou serviço em que estivesse empregado, idade e valor, calculado este último de acordo com tabela existente no § 3º deste artigo.
 O art. 2º tratava da formação de um fundo de emancipação destinado ao pagamento de indenizações para os senhores que assim as requeressem, no caso de libertação de seus escravos inscritos na matrícula.
Os escravos libertados pelo fundo de emancipação, de acordo com o § 4º do artigo 3º desta lei, deveriam trabalhar para seus ex-senhores pelo prazo de 05 anos, devendo receber uma gratificação pecuniária por dia de serviço, arbitrada pelo ex-senhor e aprovada pelo Juiz dos Órfãos.
De acordo com o § 10 do art. 3º, todos os escravos com 60 completos, antes ou depois da promulgação da lei, seriam considerados libertos, devendo, porém, a título de indenização por sua alforria, prestar serviços a seus ex-senhores por 03 anos. No caput do art. 1º desta lei, definia-se que seria realizada uma nova matrícula para os escravos, onde seriam declarados o nome, a nacionalidade, sexo, filiação (se conhecida), ocupação ou serviço em que estivesse empregado, idade e valor, calculado este último de acordo com tabela existente no § 3º deste artigo.
Todos os libertos com mais de 60 anos e que houvessem completado o tempo de serviço previsto no § 10, continuariam em companhia de seus senhores que teriam a obrigação de alimentá-los, vesti-los e tratá-los em suas moléstias. Pelo § 14, o escravo libertado pelo fundo de emancipação deveria permanecer residindo no município onde se deu a alforria, por 05 anos, excetuando-se as capitais. O liberto que se ausentasse do município, de acordo com o § 15, seria considerado vagabundo e sujeito a ser preso pela Polícia para ser empregado em trabalhos públicos ou colônias agrícolas.
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OBSERVAÇÃO IMPORTANTE ACERCA DO DISPOSTO NA LEI DOS SEXAGENÁRIOS...
De acordo com o § 12 da Lei dos Sexagenários, permitia-se a remissão dos serviços devidos pelos escravos com idade entre 60 e 65 anos, mediante o pagamento de valor que não excedesse a metade do valor arbitrado para os escravos da classe de 55 a 60 anos de idade, de acordo com a tabela existente no § 3º, do artigo 1º desta lei.
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E, POR FIM, A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO...
 Com a crescente desorganização do trabalho nas fazendas paulistas provocada pelas fugas em massa de escravos e com a ameaça, real ou potencial, de uma rebelião geral, em 1888 os conservadores propuseram o fim da Abolição sem restrições – em 13 de Maio de 1888, a Lei Áurea foi aprovada com grande votação no Parlamento e com os votos contrários de 9 deputados, sendo 8 da província do Rio de Janeiro;
 Apesar da condição dos ex-escravos nos pós-13 de Maio variar muito de uma região para outra, o certo é que a abolição da escravidão não resolveu a questão do negro – nas regiões econômicas mais dinâmicas o trabalho do ex-escravo foi substituído pelo trabalho do imigrante e as escassas oportunidades que surgiram em outras áreas, contribuíram para o aprofundamento da desigualdade social da população negra.
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A REFORMA ELEITORAL DE 1881
 Por ocasião da segunda metade da década de 1870, as críticas ao sistema político imperial
se tornaram mais intensas.
Um dos alvos da insatisfação era o sistema representativo e o processo eleitoral que o configurava, apesar das reformas realizadas em 1855, 1860 e 1875.
Em janeiro de 1878, subiu ao poder um gabinete liberal , tendo a frente João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu e que substituiu o governo conservador liderado por Caxias, que havia se afastado por motivo de saúde.
O principal projeto do governo Sinimbu que seria apresentado à Câmara dos Deputados tratava da realização de uma nova reforma eleitoral que deveria introduzir o VOTO DIRETO.
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 Para garantir a aprovação do projeto, o novo gabinete dissolveu, em 11/04/1878, a Câmara, de maioria conservadora, e convocou eleições visando a composição de uma Câmara com maioria (na verdade, com exclusividade) de deputados liberais. 
A campanha pela eleição direta fundamentava-se não apenas na alegação de se dar maior qualidade ao voto, proporcionar maior lisura do sufrágio e da autenticidade representação, mas também em uma preocupação velada com a redução dos custos das eleições para os potentados locais.
 A principal causa atribuída aos problemas acima referidos estaria na extensa participação eleitoral, atribuindo-se a maior culpa pela corrupção e pelo falseamento dos resultados eleitorais ao VOTO DO ANALFABETO. 
 Apresentava-se como solução a adoção da VOTAÇÃO DIRETA, com a supressão das ELEIÇÕES PRIMÁRIAS (que constavam do texto constitucional de 1824 e mantidas nas reformas de 1855, 1860 e 1875) e com a SUPRESSÃO DO VOTO DOS ANALFABETOS.
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 O projeto foi aprovado na Câmara, apesar das ponderações feitas por Joaquim Nabuco, Saldanha Marinho, José Bonifácio (o Moço) contra o projeto, afirmando que os verdadeiros causadores da corrupção eleitoral não era o povo miúdo (especialmente , os analfabetos), mas sim o Governo e os políticos.
 
No Senado, o projeto encontrou fortes resistências e foi rejeitado – a rejeição ao projeto e a impopularidade do gabinete presidido por Sinimbu após a criação do IMPOSTO DO VINTÉM e da violência usada para a repressão à revolta popular que estourou contra o imposto, provocou sua substituição, em 28 de março de 1880, por outro gabinete liberal, presidido por José Antonio Saraiva que conseguiu a aprovação da reforma por lei ordinária de 09/01/1881, conforme o desejo do Senado.
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 A Lei Saraiva que implantou a reforma eleitoral instituía:
 A eleição direta em turno único (eliminava-se a figura do VOTANTE).
 Critérios mais rígidos para a comprovação de renda de 200 mil- réis exigida para os ELEITORES (praticamente vetava-se a participação de assalariados que não fossem funcionários públicos, já que não seriam aceitas as declarações dos empregadores como prova de renda).
 A exclusão dos analfabetos do direito de voto.
O voto facultativo.
 A divisão eleitoral das províncias em “círculos eleitorais” de um só deputado, exigindo-se maioria absoluta (metade mais um voto) na votação (não ocorrendo maioria absoluta, realizava-se um segundo escrutínio entre os dois candidatos mais votados).
O direito de elegibilidade aos naturalizados e aos não-católicos.
 Em 1882, a lei eleitoral de 1881 sofreu uma pequena modificação, ao reduzir a idade mínima exigida para o exercício do voto, de 25 para 21 anos. 
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OBSERVAÇÕES IMPORTANTES ACERCA DA REFORMA ELEITORAL DE 1881...
A reforma eleitoral de 1881 provocou uma drástica redução do eleitorado causada pela exclusão dos analfabetos (que correspondiam, aproximadamente, a 84% da população brasileira) e pelo maior rigor na verificação da renda exigida para o exercício do direito de voto .
Apesar de ter introduzido o voto direto, a reforma provocou um retrocesso na participação eleitoral e, por tabela, uma restrição do acesso à cidadania política formal.
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REBELIÕES POPULARES NA DÉCADA DE 1870
 REVOLTA DO QUEBRA-QUILOS: revolta que ocorreu no Rio de Janeiro em 1871 e em várias áreas rurais de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte contra a adoção do SISTEMA MÉTRICO DECIMAL que havia sido instituído por lei em 26/06/1862. No Nordeste, a revolta contra a implantação do novo sistema de pesos e medidas foi acompanhada de outros fatores como a criação de novos impostos e elevação dos que já existiam pelas ASSEMBLÉIAS PROVINCIAIS, além dos abusos cometidos pelos ARREMATANTES na cobrança. Some-se a isso tudo, o conflito entre o Estado Imperial e a Igreja Católica (a chamada Questão Religiosa) e a reação a nova LEI DE RECRUTAMENTO MILITAR de meados da década de 1870.
 DISTÚRBIOS PROVOCADOS PELA LEI DE RECRUTAMENTO MILITAR: além das províncias do Nordeste, Minas Gerais foi bastante afetado por estes distúrbios. Mesmo os setores proprietários de terras ficaram alarmados diante da possibilidade de que a lei atingisse a todos, independentemente da renda. Em muitos locais (como foi o caso de Mossoró), a chefia da revolta coube a mulheres, temerosas de perderem seus maridos e filhos.
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 REVOLTA DOS MUCKER: Este movimento estourou em 1873 na colônia alemã de S. Leopoldo, no Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Esta revolta resultou de mudanças econômicas e sociais que atingiram a sociedade local e que gerou reações que buscaram uma saída no MESSIANISMO e que foi conduzida por João Jorge Maurer e por sua mulher, Jacobina, que praticava curas e fazia profecias. O movimento foi reprimido com muita violência, tendo sido Jacobina executada sumariamente.
 O MOTIM (ou REVOLTA) DO VINTÉM: ocorrida em plena capital do Império, como reação à implantação do imposto de UM VINTÉM (VINTE RÉIS) em 31/10/1879) sobre as passagens dos bondes e que deveria entrar em vigor a partir de 1º de janeiro de 1880. A reação começou no dia 28/12/1879, quando uma multidão reuniu-se no Campo de São Cristóvão e elaborou, sob a liderança de Lopes Trovão, uma petição ao imperador para revogasse o imposto que, todavia, não foi recebida por D. Pedro II. No dia 1º de janeiro de 1880, depois de um comício no Largo do Paço, uma multidão dirigiu-se para o Largo de São Francisco e no meio do caminho se amotinou provocando grandes estragos e gerou dura repressão. Novos incidentes ocorreram nos dias posteriores e ao longo do ano, aumentou o número de pessoas que se recusavam a pagar o imposto. Por fim, em 05/09/1880, o Governo decidiu abolir o Imposto do Vintém. 
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OBSERVAÇÃO IMPORTANTE ACERCA DA REVOLTA DO VINTÉM...
 A REVOLTA DO VINTÉM se constituiu em importante manifestação de uma nova forma de ação política que se manifestaria nas ruas, aguçando o interesse de um público cada vez mais amplo e estimulando sua participação no processo político da última década do Império.
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O MOVIMENTO REPUBLICANO, A QUESTÃO RELIGIOSA, A QUESTÃO MILITAR E A QUEDA DA MONARQUIA.
 A partir dos anos 1870 começaram a se evidenciar alguns importantes sintomas de uma crise do Segundo Reinado. Dentre estes sintomas podemos destacar:
O início do Movimento Republicano.
Atritos do Governo Imperial com o Exército e a Igreja Católica;
O encaminhamento da questão abolicionista que provocou um desgaste nas relações entre o Estado Monárquico e suas bases sociais de apoio (especialmente os grandes plantadores de café do Vale do Paraíba);
 Cada um destes “sinais” teve um peso específico na queda do regime monárquico. Além disso, tais sintomas devem ser entendidos em um contexto marcado por transformações sócio-econômicas, as quais deram origem a novos grupos sociais e a uma maior receptividade às idéias de reforma.
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O MOVIMENTO REPUBLICANO
 O movimento republicano, que marcaria o contexto de decadência do regime imperial brasileiro, nasceu no Rio de Janeiro, com a fundação, em 03 de novembro de 1870, do Partido Republicano da cidade do Rio de Janeiro, que se originou da fragmentação do Partido Liberal, resultante da queda do gabinete Zacarias em 1868.
 
No manifesto de fundação do partido, os republicanos criticaram o regime de corrupção e privilégios, as prerrogativas do Trono, o centralismo da administração, a ausência das liberdades econômica, de consciência, de imprensa,
de ensino, as limitações do sistema representativo. 
Uma pequena parcela de adeptos do regime republicano defendia que a República deveria se estabelecer a partir de uma revolução popular, enquanto que a maioria dos republicanos compartilhava da opinião de Quintino Bocaiúva de que a transição de um regime para outro (ou seja, a transição da Monarquia para a República) deveria se dar de forma pacífica, preferencialmente após a morte de D. Pedro II.
A base social do republicanismo nas cidades era formada primordialmente por profissionais liberais e por jornalistas, além da influência que as idéias republicanas exerceram sobre os militares do Exército – a Marinha se mostraria mais refratária aos ideais republicanos.
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 Os republicanos no Rio de Janeiro ligavam a República a uma representação mais efetiva dos cidadãos, aos direitos e garantias individuais, à federação e ao fim do regime escravista.
Em São Paulo, o movimento republicano se constituiu em bases mais conservadoras e em 1873 foi fundado o Partido Republicano Paulista cujos quadros eram formados, majoritariamente, por membros da burguesia cafeeira 
O republicanismo paulista se diferenciava daquele que existia no Rio de Janeiro pela maior ênfase dada à idéia de federação, ao mesmo tempo em que demonstrava menor interesse pelo tema das liberdades civis e políticas, assim como evitou tomar uma posição clara a respeito da escravatura e de sua extinção até às vésperas da Abolição.
 Em São Paulo, na cidade do Rio de Janeiro e em Minas Gerais, o movimento republicano encontrou terreno fértil para seu crescimento. Em outras áreas, a evolução do republicanismo foi mais difícil. No Amazonas, não se organizou um partido republicano enquanto durou a Monarquia. Na Bahia, o Manifesto Republicano teve pouquíssima repercussão. Na Paraíba, inexistiu um partido republicano até o fim da Monarquia. O Ceará só teria seu partido republicano em 1887. No Maranhão, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte e na Província do Rio de Janeiro só se organizaram partidos republicanos após o fim da escravidão. No Rio Grande do Sul, em 1882, organizou-se o partido republicano com forte viés federalista e em Santa Catarina, em 1885. No Paraná, os republicanos não ultrapassaram a fase de formação de clubes. 
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A QUESTÃO RELIGIOSA, A QUESTÃO MILITAR E A QUEDA DA MONARQUIA
 Na década de 1870, as relações entre o Estado brasileiro e a Igreja se tornaram tensas. A origem deste conflito pode ser encontrada nas diretrizes emanadas do Vaticano (pontificado de Pio IX) a partir de 1848, quando então o papa tratou de reafirmar o predomínio espiritual da Igreja no mundo – em 1870, o poder do papa foi reafirmado quando um Concílio Vaticano proclamou o dogma da INFALIBILIDADE DO PAPA.
No Brasil, a política do Vaticano incentivou uma atitude mais rígida dos padres em matéria de disciplina religiosa, ao mesmo tempo em que passaram a reivindicar uma autonomia maior perante o Estado – o conflito surgiu quando Dom Vital, bispo de Olinda, seguindo determinações do papa, decidiu proibir o ingresso de maçons nas irmandades religiosas.
 Dom Vital foi tratado como “funcionário rebelde” e foi preso, ocorrendo logo depois o mesmo com outro bispo – o conflito se amainou com a substituição do gabinete do Visconde do Rio Branco (que era maçom), com a anistia dos bispos e com a suspensão, pelo papa, das proibições aplicadas aos maçons. 
 Esta crise se entrelaçou com os levantes ocorridos no Nordeste por força da Revolta do Quebra-Quilos e da Lei de Recrutamento Militar, o que causou grande desgaste da imagem da Monarquia perante a população do interior do Nordeste.
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 Antes da Guerra do Paraguai, algumas críticas contra o governo imperial já estavam sendo feitas por oficiais do Exército. Tais críticas diziam respeito tanto a questões específicas da corporação (como por exemplo, critérios de promoção), como a outras mais gerais referentes à situação do país – os militares mais jovens defendiam o fim da escravidão e maior atenção do governo à educação, à indústria e à construção de estradas de ferro.
Com a reorganização da Academia Militar, transferida para a praia Vermelha em 1858 e após a Guerra do Paraguai, o Exército se reforçou como corporação – A Escola Militar da Praia Vermelha acabou se convertendo e um centro de estudos de matemática, de filosofia e de letras e foi no seu ambiente que os ataques ao governo passaram a se dirigir para o próprio regime monárquico e a idéia de República ganhou terreno, influenciada em parte pelo POSITIVISMO que, a partir de 1872, teve grande aceitação, quando Benjamin Constant se tornou professor da Escola Militar.
 A partir de 1883, vários desentendimentos surgiram entre o governo, deputados e oficiais do Exército, dentre os quais, um dos mais expressivos, foi o que ocorreu com o tenente-coronel Sena Madureira que, na condição de comandante da Escola de Tiro do Rio de Janeiro, convidou um dos jangadeiros que havia participado da luta pela abolição da escravidão no Ceará, a visitar a Escola – o oficial foi punido com sua transferência para o Rio Grande do Sul e com isso ele publicou um artigo no jornal Republicano “A Federação”, narrando o episódio, o que acirrou os ânimos.
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 Vários outros casos chegaram aos jornais gerando polêmicas o que levou o ministro da Guerra a assinar uma ordem proibindo os militares de discutir questões políticas ou da corporação pela imprensa. 
Os oficiais sediados no Rio Grande do Sul protestaram contra a proibição do ministro e Deodoro da Fonseca, presidente da Província do Rio Grande do Sul, se recusou a punir os oficiais envolvidos em polêmicas e debates pela imprensa – por fim surgiu uma solução conciliatória, favorável aos militares.
 Em 1887 foi organizado o Clube Militar como uma associação permanente de defesa dos interesses dos militares e Deodoro foi eleito presidente do Clube – neste mesmo mês de fundação do Clube Militar (junho de 1887), Deodoro solicitou ao Ministro da Guerra que isentasse o Exército da função de caçar escravos fugidos e apesar da recusa do ministro, o Exército, na prática, não mais desempenhou esta atividade.
 A insatisfação militar e a propaganda republicana cresciam e em junho de 1889 os ânimos se acirraram quando um novo gabinete liberal, sob o comando do Visconde de Ouro Preto, nomeou para a presidência da província do Rio Grande do Sul um inimigo pessoal de Deodoro: Silveira Martins.
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 Reuniões entre líderes republicanos paulistas e gaúchos e militares com o objetivo de derrubar a Monarquia vinham acontecendo desde 1887 – em 11 de novembro de 1889, importantes figuras do cenário político e militar (Rui Barbosa, Benjamin Constante, Aristides Lobo, Quintino Bocaiúva) reuniram-se com Deodoro da Fonseca, tentando convencê-lo a liderar um movimento contra o regime monárquico – apesar da resistência de Deodoro, ele acabou por decidir-se a participar de um movimento que, a princípio, deveria tão somente derrubar o gabinete de Ouro Preto.
Em 15 de Novembro de 1889, Deodoro assumiu o comando da tropa e se dirigiu para o Ministério da Guerra, onde se encontravam os líderes monarquistas – segue-se um episódio confuso, não se sabendo ao certo se Deodoro proclamou a República ou apenas considerou derrubado o ministério de Ouro Preto, mas, de qualquer forma, no dia seguinte, dia 16/11/1889, a queda da Monarquia estava definida.
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