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O DIREITO NO PÓS-SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

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O DIREITO NO PÓS-SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
O fim do Estado Novo, a deposição de Vargas, a eleição de Dutra e a constituição de 1946 (aspectos gerais)
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O FIM DO ESTADO NOVO (I):
A derrocada do regime do Estado Novo resultou fundamentalmente da inserção do Brasil no campo das relações internacionais – na verdade, as condições políticas internas pouca influência exerceram sobre o fim deste período ditatorial;
Com a entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial, ao lado dos Aliados e a conseqüente preparação da FEB para ser enviada à Itália, figuras de oposição ao regime começaram a explorar as contradições entre o apoio do Brasil aos regimes democráticos e o regime autoritário de Vargas;
Em 24 outubro de 1943 veio a público o “Manifesto dos Mineiros”, no qual personalidades como Afonso Arinos, o ex-presidente Artur Bernardes, Milton Campos, Pedro Aleixo, Virgílio de Melo Franco propunham que se instalasse no Brasil um verdadeiro regime democrático que pudesse dar segurança econômica e bem-estar ao povo brasileiro;
Dentro do governo, Osvaldo Aranha mostrou-se francamente favorável à abertura democrática e com o fechamento da Sociedade dos Amigos da América pelo chefe de polícia, Coriolano de Góis, entidade para a qual Aranha havia sido convidado para ser vice-presidente, fez com que o ministro das Relações Exteriores pedisse demissão do cargo;
Verificou-se também um progressivo afastamento do general Góis Monteiro em relação ao Estado Novo, um de seus idealizadores e alicerces militares – em 1945, voltou de Montevidéu, onde exercia o cargo de embaixador junto ao Comitê de Emergência e Defesa Política da América, para o Ministério da Defesa onde encaminharia a saída de Getúlio do poder.
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O FIM DO ESTADO NOVO (II):
A partir de 1943, estudantes universitários iniciaram sua mobilização contra a ditadura através da organização da UNE (União Nacional dos Estudantes) e de suas seções estaduais – uma passeata realizada em 1943 foi dissolvida com violência pela polícia, resultando na morte de duas pessoas e em ferimentos em tantas outras, o que provocou grande indignação;
A imprensa burlava a todo momento a censura, condição esta que revela um indicador seguro da perda de força dos regimes autoritários – em 22 de Fevereiro de 1945, José Américo, ex-ministro de Getúlio criticou o Estado Novo e afirmava que a oposição já tinha candidato que era o brigadeiro Eduardo Gomes;
Em 28 de Fevereiro de 1945 Getúlio baixou o Ato Adicional à Carta de 1937 que determinava um prazo de 90 dias para a marcação da data das eleições – editou-se assim o Código Eleitoral que regulava o alistamento e as eleições , estabelecendo a data de 02 de Dezembro de 1945 para a eleição do Presidente e da Assembléia Constituinte e a data de 06 de Maio de 1946 para a realização das eleições estaduais;
Por este tempo, Getúlio declarava que não seria candidato à presidência – dentro do governo gestava-se a candidatura do general Dutra, ainda Ministro da Guerra, em oposição à candidatura de Eduardo Gomes.
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ALGUMAS OBSEVAÇÕES (I)
Ao longo do ano de 1945 formaram-se os três principais partidos que dominariam o cenário político brasileiro entre 1945 e 1964:
PSD (Partido Social Democrático): surgido a partir da “máquina” do Estado, sob os auspícios da burocracia, dos interventores nos Estados e do próprio Getúlio;
PTB (Partido Trabalhista Brasileiro): fundado em setembro de 1945, sob a égide de Getúlio, do Ministério do Trabalho e da burocracia sindical, tendo como objetivo reunir os trabalhadores em torno da política getulista;
UDN (União Democrática Nacional): formada em abril de 1945, a partir da antiga oposição liberal, continuadora da tradição dos partidos democráticos estaduais, organizou-se em torno da candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes;
O PCB (Partido Comunista Brasileiro) veio apoiar o governo Vargas, a partir de orientação vinda de Moscou de que os partidos comunistas deveriam apoiar os governos de seus países que fizessem parte da frente antifascista, fossem estes governos democráticos ou ditatoriais;
Isto explica o apoio de Prestes ao governo Vargas que, em abril de 1945 estabelecera, pela primeira vez, relações diplomáticas com a URSS – verificou-se uma maior aproximação dos comunistas em relação ao governo quando em junho de 1945, um decreto lei do governo visava o controle dos monopólios e de práticas monopolistas, prevendo inclusive a desapropriação, pelo presidente da República, das empresas envolvidas em atos nocivos ao interesse público;
Em meados de 1945, trabalhistas ligados a Getúlio, com o apoio dos comunistas, deram início a campanha do QUEREMISMO, defendendo a instalação da Assembléia Constituinte com Getúlio no poder – tudo indicava que Getúlio pretendia manter-se como ditador ou como presidente eleito, “esvaziando”, ao longo do tempo, as candidaturas de Dutra e de Eduardo Gomes.
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Vargas acabou sendo deposto não por conspiração externa, mas pelo jogo político interno que teve, no afastamento de João Alberto do cargo estratégico de Chefe de Polícia do Distrito Federal e em sua substituição pelo irmão de Vargas, Benjamin Vargas;
Dutra ainda tentou um compromisso, solicitando ao presidente que voltasse atrás na nomeação – com a recusa de Vargas, Góis Monteiro mobilizou as tropas, forçando Vargas à renúncia, o que fez com que esta “transição” para o regime democrático, bancada pelos militares, especialmente por um personagem que havia participado ativamente da Revolução de 1930 (Góis Monteiro) mantivesse muitas continuidades com o regime anterior;
Com a queda de Vargas, os militares e a oposição liberal, assim como os dois candidatos à presidência (Eduardo Gomes e Dutra) acordaram que o poder deveria ser entregue, temporariamente, ao presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares, em cujo período de exercício do poder executivo podemos destacar:
Manutenção do calendário que previa as eleições para 02 de Dezembro de 1945;
Revogação do decreto anti-truste, anteriormente produzido por Vargas;
Repressão aos comunistas e invasão de algumas sedes do PCB;
Nomeação de novos interventores nos Estados e substituição de alguns prefeitos;
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A ELEIÇÃO DE DUTRA;
As eleições de 1945 despertaram grande interesse da população, apesar da inexpressividade de Dutra como candidato – sua candidatura só ganhou impulso com o apoio público de Vargas que ressalvou que ficaria contra o presidente, caso não cumprisse suas promessas de candidato;
Descontando-se os votos nulos e brancos, Dutra venceu como 55% dos votos contra 35% de Eduardo Gomes e 10% de Iedo Fiúza, candidato comunista;
Tal resultado mostrou a eficiência da máquina eleitoral montada pelo PSD e o prestígio de Vargas entre os trabalhadores – a vitória de Dutra representou o repúdio da grande massa ao antigetulismo demonstrado pela oposição, o que fez com que Eduardo Gomes fosse visto como “candidato dos ricos”;
Mais uma vez, para as eleições legislativas (para a Câmara e para o Senado), a máquina eleitoral construída pelo Estado Novo mostrou-se muito eficiente – o PSD garantiu a maioria absoluta das cadeiras na Câmara e no Senado, seguido pela UDN
As eleições legislativas definiram uma nova Câmara e um novo Senado que se reuniriam conjuntamente como Congresso Constituinte até a aprovação da Constituição e depois se separariam, funcionando como congresso ordinário. 
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ALGUNS ASPECTOS DA CONSTITUIÇÃO DE 1946
Em fevereiro de 1946 iniciaram-se os trabalhos da Constituinte, cujos representantes foram escolhidos em eleições realizadas em 02/12/1945 – não houve qualquer texto (qualquer anteprojeto) que servisse como base para a elaboração do texto constitucional.
Pode-se dizer que o texto da Constituição de 1946 apresentou uma tendência restauradora das linhas do regime constitucional de 1891, com o aproveitamento de algumas inovações presentes no texto constitucional de 1934 (disposições de proteção aos trabalhadores, à ordem econômica, à educação, à família), tendo sido o texto foi finalmente promulgado no dia 18/09/1946.
Pela primeira vez, em nossa história política,
no Parlamento, tiveram assento representantes dos comunistas e de trabalhistas, o que propiciou a eleição de um considerável número de candidatos provenientes do proletariado.
Pelos fins de Janeiro de 1946, Dutra tomou posse na Presidência da República, ao mesmo tempo em que a Constituinte iniciava seus trabalhos.
Após debates acirrados travados ao longo das sessões, nas quais temas fundamentais para o país foram abordados, em 18 de Setembro de 1946, a nova Constituição brasileira era promulgada.
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 A Constituição de 1946 foi elaborada em um molde liberal-democrático, distanciando-se da Constituição de 1937;
Nela o Brasil foi definido como uma República Federativa (art. 1º), estabelecendo-se que a União compreendia os Estados, o Distrito Federal e os Territórios (art. 1º, § 1º) – assegurava-se a autonomia dos municípios (art. 28, inciso I e inciso II, itens a e b ) e recursos (art. 29, caput e incisos de I a V).
 O Poder Executivo seria exercido pelo Presidente da República, eleito por VOTO DIRETO e SECRETO por um período de cinco anos.
 O Poder Legislativo caberia ao Congresso Nacional, formado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, sendo que a eleição para a Câmara se realizaria segundo o PRINCÍPIO DA REPRESENTAÇÃO PROPORCIONAL, segundo o qual os deputados seriam eleitos na proporção dos votos a eles concedidos no âmbito de cada partido a que pertenciam, enquanto que a eleição para o Senado obedeceria ao PRINCÍPIO MAJORITÁRIO.
 Estabeleceu-se um número fixo de senadores: três por Estado, critério esse que favorecia os Estados menos significativos em termos populacionais.
 Para a Câmara, a Constituição de 1946 reproduziu um dispositivo da Constituição de 1934 em que se determinava que o número de deputados seria fixado em lei nos termos da seguinte proporção: 1 deputado para cada 150.000 habitantes até o limite de 20 deputados e, além deste limite, 1 deputado para cada 250.000 habitantes – o número mínimo de deputados que um Estado poderia ter era de 07, assim como o Distrito Federal, enquanto que cada Território teria direito a um deputado.
A Constituição de 1946 suprimiu a representação profissional prevista na Constituição de 1934.
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 O direito e a obrigação de votar foram estabelecidos para os brasileiros alfabetizados, maiores de 18 anos, de ambos os sexos, alistados na forma da lei (art. 131) completando assim a igualdade, no nível dos direitos políticos, entre homens e mulheres, uma vez que a Constituição de 1934 estipulava a obrigatoriedade do voto apenas para as mulheres que exercessem função pública remunerada.
 No art. 132 definia-se aqueles que não podiam votar (os analfabetos, os que não soubessem se expressar em língua nacional e os que estivessem temporariamente ou definitivamente privados dos direitos políticos) e no art. 133 era previsto o alistamento obrigatório para ambos os sexos, salvo os casos previstos em lei.
 No que se refere aos direitos e garantias individuais previstos na Constituição de 1946 (art. 141) podemos destacar:
 O princípio da igualdade perante a lei (§ 1º).
 O princípio da legalidade (§ 2º).
 O princípio da segurança jurídica (§ 3º).
 O princípio da ubiquidade da justiça (§ 4º).
 No § 5º estava prevista a liberdade de manifestação de pensamento, sem interferência da censura, salvo no que dizia respeito a espetáculos e diversões públicas.
 Garantiam-se a inviolabilidade da casa, como asilo do indivíduo (§ 15), o direito de propriedade (§ 16), patentes e copyright (§§ 17, 18 e 19).
 O habeas corpus encontrava-se fixado no § 23 e o mandado de segurança no § 24.
 A ampla defesa e a instrução criminal contraditória encontravam-se fixadas no § 25.
 No § 29 encontravam-se fixados os princípios da individualização da pena e o da retroatividade da lei penal mais benéfica e no § 30, o princípio da pessoalidade da pena .
 No que se referia a aplicação da pena de morte, somente se daria a partir de legislação militar em tempo de guerra com país estrangeiro.
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 No capítulo referente à ordem social e econômica, podemos destacar: 
 Foram estabelecidos critérios para o aproveitamento dos recursos minerais e de energia elétrica – a exploração dos recursos minerais e o aproveitamento da energia hidráulica se dariam somente por concessão ou autorização federal na forma da lei (art. 153).
 Pelo art. 152, as minas e demais riquezas do subsolo e as quedas d’água constituem propriedade distinta da propriedade do solo para efeitos de exploração e/ou de aproveitamento industrial.
 No art. 155, ficava estabelecida que a navegação de cabotagem para transporte de mercadorias seria privativa dos navios nacionais.
 Os preceitos sobre os quais deveriam se alicerçar a legislação do trabalho e a previdência social encontravam-se fixados no art. 157.
 Previa-se a participação dos trabalhadores no lucro das empresas (inciso IV do art. 157), “nos termos e pela forma que a lei determinar” – tal dispositivo virou letra morta, uma vez que não se aprovou qualquer lei neste sentido;
 No capítulo referente à educação e à cultura, podemos destacar:
 gratuidade do ensino primário oficial e para os que provassem falta ou insuficiência de recursos, gratuidade para o ensino oficial posterior ao primário. 
obrigatoriedade, para as empresas que tivessem mais de 100 empregados, de manutenção de ensino primário para funcionários e seus filhos.
 obrigatoriedade para empresas industriais e comerciais de promoverem a aprendizagem a seus trabalhadores menores.
 No capítulo referente à família predominaram as concepções da Igreja Católica e dos grupos conservadores no sentido da definição de que a família se constituía pelo casamento de vínculo indissolúvel.
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A ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA PELA CONSTITUIÇÃO DE 1946
 
 A supremacia do Judiciário foi restaurada, assegurando-se sua posição como um dos três poderes da Nação, ao mesmo tempo em que foram restabelecidos os princípios clássicos que norteiam o exercício da magistratura (VITALICIEDADE, INAMOVIBILIDADE e IRREDUTIBILIDADE de vencimentos), e que firmam a independência e a autonomia deste poder.
 As vedações constitucionais previstas em constituições anteriores, relativas à magistratura, foram mantidas (acumulação do exercício da magistratura com outra função pública, exceto a do magistério, recebimento de percentuais, a qualquer título, referentes às causas sujeitas a seu despacho e julgamento e o exercício de atividades político-partidárias).
 O Supremo Tribunal Federal foi mantido com as mesmas atribuições anteriores, ao mesmo tempo em que foi criado do Tribunal Federal de Recursos, que já se encontrava previsto na constituição de 1891 e cuja instalação teve como objetivo de limitar as competências do STF, restringir os casos de cabimento de recurso extraordinário e transferir as matérias que o tornavam segunda instância.
A justiça federal de primeira instância não teve referência no texto originário na constituição de 1946, sendo que suas atribuições foram transferidas para as justiças locais – assim a justiça federal ficou organizada com jurisdição especial em duas instâncias: a PRIMEIRA INSTÂNCIA formada pelos JUÍZES LOCAIS e a SEGUNDA INSTÂNCIA constituída pelo TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS, não se incluindo na jurisdição federal as causas das autarquias.
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 O texto constitucional de 1946 deu nova estruturação, organização e definição de competências à JUSTIÇA MILITAR, garantindo a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade dos vencimentos dos magistrados desta justiça – junto à Justiça Militar, passou a funcionar o Ministério Público Militar (composto de promotores e advogados de ofício).
 O habeas corpus passou a ter alcance na Justiça Militar, exceto em casos de punição disciplinar, com recurso para o STF, quando originário no Superior Tribunal Militar;
 A JUSTIÇA ELEITORAL foi recomposta nesta constituição, sem composição e sem corpo próprio de juízes – a justiça eleitoral foi organizada em caráter temporário, valendo-se de juízes de direito, permitindo-se nela o mandado de segurança e o habeas corpus.
Manteve-se no texto de 46 o princípio da dualidade da justiça, princípio este originário da constituição de 1891, ficando a JUSTIÇA ESTADUAL sob a competência dos estados-membros que poderiam organizá-la de acordo com as peculiaridades locais, respeitando-se os princípios presentes na constituição de 1946 – esta constituição permitiu ainda a criação de TRIBUNAIS DE ALÇADA, inferiores aos TRIBUNAIS DE JUSTIÇA, visando desafogar o órgão da cúpula do judiciário estadual.
 A constituição de 1946 integrou a JUSTIÇA DO TRABALHO na categoria de JUSTIÇA FEDERAL ESPECIALIZADA, proporcionando-lhe estrutura, composição e definição de competências;
 Esta constituição manteve a possibilidade de criação de Justiça de Paz Temporária e Temporária Togada no âmbito das justiças estaduais, já previstas nas constituições de 34 e 37;
 Permitiu também o texto constitucional de 46, a inclusão da Justiça Militar Estadual, organizada segundo os princípios da lei federal, tendo como órgão de primeira instância, os CONSELHOS DE JUSTIÇA, e em segunda, um tribunal especial ou o próprio TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

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