Concede uma ou mais prestações efetuadas pelo devedor. É permanente É transitório Estabelece direito de seqüela vinculado ao bem A execução recai sobre o patrimônio geral. Numerus clausus É infinito. AS OBRIGAÇÕES PROPTER REM. A conceituação do Direito das Coisas traz uma série de questionamentos acerca de sua relação com o Direito Pessoal. A doutrina se diverge em duas concepções: a teoria realista e a teoria monista. A despeito da aceitação dessa dicotomia, não chegaram os civilistas a um critério único para assinalar os traços distintivos do direito real e pessoal. Não obstante, nosso Código Civil adotou a teoria realista. Entretanto, existe uma categoria intermediária entre o direito real e o pessoal. São figuras híbridas ou ambíguas, constituindo, na aparência, um misto de obrigação e de direito real. As obrigações “in rem”, “ob”, ou “propter rem”, para ARNOLDO WALD derivam da vinculação de alguém a certos bens, sobre os quais incidem deveres decorrentes da necessidade de manter-se a coisa. Assim, considera que “as obrigações reais, ou propter rem, passam a pesar sobre quem se torne titular da coisa. Logo, sabendo-se quem é o titular, sabe-se quem é o devedor”. Portanto, essas obrigações só existem em razão da situação jurídica do obrigado, de titular do domínio ou de detentor de determinada coisa. Caracterizam-se pela origem e transmissibilidade automática. Consideradas em sua origem, verifica-se que provêm da existência de um direito real, impondo-se a seu titular. Se o direito de que se origina é transmitido, a obrigação segue, seja qual for o título translativo. A transmissão ocorre automaticamente, isto é, sem ser necessária a intenção específica do transmitente. São obrigações propter rem: a do condomínio de contribuir para a conservação da coisa comum (CC, art. 624): a do proprietário de um imóvel no pagamento do IPTU. Assim, é oportuno fixar as características dessas figuras: 1º) vinculação a um direito real; 2º) possibilidade de exoneração do devedor pelo abandono do direito real, renunciando o direito sobre a coisa; 3º) transmissibilidade por meio de negócios jurídicos, caso em que a obrigação recairá sobre o adquirente. É de bom alvitre ressaltar a natureza jurídica dessas obrigações, pois se encontram na zona fronteiriça entre os direitos reais e os pessoais. Não são elas nem uma obligatio, nem um jus in re, constituindo figuras mistas, no dizer de MARIA HELENA DINIZ. Entretanto, há aqueles que atribuem maior importância ao aspecto real da relação. Como também, aqueles, que apontando uma prestação num facere, não se quadra à natureza do direito real. ORLANDO GOMES afirma que, apesar de ser predominante no direito positivo brasileiro a tese da realidade das obrigações propter rem, é irrecusável que constituem vínculo jurídico pelo qual uma pessoa, embora substituível, fica adstrita a satisfazer uma prestação no interesse de outra. Assim, pondo os olhos para a questão, verifica-se que qualificados de acordo com a teoria da realidade, seriam tutelados por meio de ações reais. No entanto, a tendência é para admitir que o credor tem ação pessoal contra o devedor, assim se procede na cobrança de IPTU. A propósito do tratamento do direito obrigacional no Código Civil de 2002, apresentamos a contribuição valiosa do texto elaborado pelo desembargador carioca Sylvio Capanema, a seguir: “O NOVO CÓDIGO CIVIL E A REFORMULAÇÃO DA TEORIA DAS OBRIGAÇÕES E DOS CONTRATOS A socialidade, eticidade e efetividade, que caracterizam o novo Código Civil, revelam-se, ainda mais, no complexo e desafiante mundo das obrigações e dos contratos, submetido que foi a um intenso processo de releitura. De um modelo individualista, solidamente alicerçado nos velhos dogmas do Estado Liberal, que transformava os princípios da autonomia da vontade e da imutabilidade dos contratos em valores quase absolutos, passamos agora para um sistema profundamente comprometido com a função social do direito, e preocupado com a construção da dignidade do homem e de uma sociedade mais justa e igualitária. A boa-fé objetiva, que passa a exigir dos contratantes uma efetiva conduta honesta, leal e transparente, transformou-se em dever jurídico, em cláusula geral, implícita em todos os contratos, substituindo o velho conceito de boa-fé subjetiva, que traduzia mera exortação ética, que pouco contribuía para garantir equações econômicas justas. Como se não bastasse, converteu-se a boa-fé em primeiro critério de hermenêutica dos negócios jurídicos, o que representará sua louvável e necessária purificação ética. E a nova técnica das cláusulas gerais, de princípios indefinidos, que aumenta, e muito, a discricionariedade dos juízes, permitindo-lhes adotar, diante do caso concreto, as medidas necessárias para compor o conflito de interesses, será o mais poderoso mecanismo de efetiva realização e acesso à justiça, acelerando a entrega da prestação jurisdicional. Entre tantas inovações, que oxigenam as relações obrigacionais, vamos destacar as que nos parecem representar mudanças paradigmáticas, capazes de promover a redenção ética da sociedade brasileira. A execução das obrigações de fazer e não fazer resulta muito mais efetiva, já que se confere ao credor, em caso de urgência, e independentemente de autorização judicial, o direito de mandar executar ou desfazer o fato, para depois ser ressarcido pelo devedor inadimplente (parágrafos únicos dos artigos 249 e 251). Imperdoável lacuna do antigo Código foi agora suprida, inserindo-se capítulo expresso que disciplina a assunção da dívida, inclusive com um certo alento para os que se dispõem a assumir débitos garantidos por hipoteca, hipótese em que o silêncio do credor, ao final de 30 dias, representará anuência com a transferência. Parece-nos, entretanto, que a regra de maior significado social está consagrada no artigo 317, que autoriza o juiz, a requerimento da parte prejudicada, corrigir, quanto possível, o valor real da prestação, sempre que por motivos imprevisíveis sobrevier desproporção manifesta do valor da prestação devida entre o momento de seu nascimento e o do pagamento. Fácil é perceber que o juiz será, agora, o grande equilibrador ético e econômico das relações obrigacionais, cabendo-lhe velar pela preservação da equação financeira dos negócios jurídicos, restaurando a comutatividade inaugural. Pessoalmente temos entendido que esta revisão superveniente poderá ser feita mesmo que o desequilíbrio resulte de um fato previsível, mas desde que sejam imprevisíveis os seus efeitos, posição também já manifestada pela maioria dos participantes do memorável encontro organizado pelo Superior Tribunal de Justiça, do qual resultaram os primeiros enunciados interpretativos. No cálculo das perdas e danos decorrentes do inadimplemento das obrigações pecuniárias, além da atualização monetária, dos juros moratórios, custas e honorários de advogado, se permite, agora, desde que não tenha sido ajustada cláusula penal, que o credor reclame indenização suplementar, demonstrando que os juros foram insuficientes para ressarci-lo integralmente. Do mesmo modo, e como se vê do artigo 416, autoriza-se o credor a demandar pelo integral ressarcimento de seus danos, caso a cláusula penal arbitrada se revele insuficiente, mas desde que fique tal possibilidade expressamente consignada, competindo ao credor a prova do prejuízo excedente. No sensível campo da teoria geral dos contratos, os artigos 421 e 422 representam um novo tempo, e, por si só, já justificariam o Código, redimindo-o de seus inevitáveis erros. O primeiro vincula os contratos a uma função social, colocando-os a serviço não só das partes, mas também de toda a sociedade, e o segundo passa a exigir dos contratantes uma efetiva conduta honesta, o que se traduzirá em maior lealdade e transparência, além de equações econômicas permanentemente equilibradas e justas. No contratos de adesão, hoje tão freqüentes, se estabelece que a interpretação se fará sempre em favor do aderente, vedando-se renúncias prévias a direitos inerentes