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APOSTILA - ANTROPOLOGIA CULTURAL

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Prévia do material em texto

Antropologia Cultural
Professora Mestra Renata Oliveira dos Santos
Diretor Geral 
Gilmar de Oliveira
Diretor de Ensino e Pós-graduação
Daniel de Lima
Diretor Administrativo 
Eduardo Santini
Coordenador NEAD - Núcleo
de Educação a Distância
Jorge Van Dal
Coordenador do Núcleo de Pesquisa
Victor Biazon
Secretário Acadêmico
Tiago Pereira da Silva
Projeto Gráfico e Editoração
André Oliveira Vaz
Revisão Textual
Kauê Berto
Web Designer
Thiago Azenha
UNIFATECIE Unidade 1
Rua Getúlio Vargas, 333,
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 2
Rua Candido Berthier
Fortes, 2177, Centro
Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 3
Rua Pernambuco, 1.169,
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 4
BR-376 , km 102, 
Saída para Nova Londrina
Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
www.unifatecie.edu.br
As imagens utilizadas neste 
livro foram obtidas a partir
do site ShutterStock
FICHA CATALOGRÁFICA
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFATECIE. 
Credenciado pela Portaria N.º 527 de 10 de junho de 2020, 
publicada no D.O.U. em 15 de junho de 2020.
Núcleo de Educação a Distância;
SANTOS, Renata Oliveira dos.
Antropologia Cultural.
Renata. Oliveira dos Santos.
Paranavaí - PR.: UniFatecie, 2020. 83 p.
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária
Zineide Pereira dos Santos.
AUTORA
Professora Mestra Renata Oliveira dos Santos
●	 Mestra em Ciências Sociais - Universidade Estadual de Maringá. 
●	 Graduada em Ciências Sociais - Universidade Estadual de Maringá. 
●	 Especialista em História e Sociedade - Universidade Estadual de Maringá. 
●	 Especialista em Educação a Distância - UNIFAMMA - Centro Universitário Me-
tropolitano de Maringá.
●	 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPE) - Universida-
de Estadual de Maringá. 
●	 Integrante do Grupo de Pesquisa em Educação a Distância e Tecnologia (GPEa-
DTEC) - Universidade Estadual de Maringá. 
* Principais temas de interesses: Educação, Ensino de Sociologia, Políticas Pú-
blicas, Educação a Distância (EAD), Tecnologia, Comunicação. Atualmente, professora 
de	Sociologia	-	Educação	Básica.	Professora	de	Ciências	sociais	e	Áreas	afins	-	Ensino	
Superior. 
●	 Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/7216942697334779
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Caro(a) aluno(a), 
Seja bem-vindo(a) à disciplina de Antropologia Cultural!
O	objetivo	geral	desta	disciplina	será	refletir	sobre	os	estudos	antropológicos,	com-
preendendo o conceito dessa ciência, sua importância e seus objetivos. Com o propósito de 
entender as diferenças entre o eu e o outro, para que não haja nenhum tipo de preconceito 
e discriminação em relação à diversidade social e religiosa existente no Brasil.
Dessa maneira, seu material didático está dividido da seguinte forma: 
Na Unidade I iremos conversar sobre o conceito de cultura e seu desenvolvimento 
dentro da ciência chamada de Antropologia. Espera-se que você entenda que culturas 
são diferentes e precisam ser respeitadas. Porém, sem o conhecimento de seu sentido e 
significado	corremos	o	risco	de	nos	tornar	intolerantes	e	discriminatórios.	
Sendo assim, na Unidade II vamos compreender um pouco mais sobre essa relação 
entre o Eu e Outro, com o objetivo de entendermos que se faz necessário a compreensão 
dos conceitos de etnocentrismo, relativismo cultural e identidade que nos ajudarão a per-
ceber o quanto estamos interligados. Isso nos revelará que a relação entre os sujeitos 
sociais é permeada por muitos símbolos que demonstram quem somos e como agimos em 
sociedade.
Aprofundando um pouco mais nossos estudos, na Unidade III conversaremos so-
bre a questão do sincretismo religioso e as religiões de matrizes africanas que fazem parte 
da formação histórica e religiosa do Brasil. Lembrando que qualquer tipo de preconceito é 
gerado pela ignorância, a falta de conhecimento e a recusa de respeitar as diferenças.
Por	fim,	na	Unidade	 IV	 refletiremos	sobre	a	necessidade	da	 formação	de	um(a)	
professor(a) que seja livre de atitudes racistas, sexistas, homofóbicas, preconceituosas e 
discriminatórias. Um(a) educador(a) que entenda que não pode reproduzir e nem mesmo 
deixar com que isso aconteça em sala de aula. Assim, pensaremos sobre a construção de 
uma educação antirracista, humanizada e corajosa frente a uma sociedade tão desigual. 
Acreditamos que a mudança cultural é uma ação demorada e muito complexa. 
Entretanto,	ela	é	possível.	Afinal,	como	afirmou	o	grande	ativista	negro	Nelson	Mandela:	
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua 
religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser 
ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu 
oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta”. 
Fonte: Livro: Long Walk to Freedom (1995).
SUMÁRIO
UNIDADE I ...................................................................................................... 7
Cultura, pra quê?
UNIDADE II ................................................................................................... 22
Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
UNIDADE III .................................................................................................. 39
Antropologia Brasileira e o Sincretismo Religioso
UNIDADE IV .................................................................................................. 58
Por uma Pedagogia Antirracista
7
Plano de Estudo:
●	 Você sabe o que é cultura?
●	 Antropologia: uma ciência em constante mudanças
●	 O antropólogo: quem é ele?
●	 Entenda: cada cultura tem sua própria lógica
Objetivos de Aprendizagem:
●	 Conceitos	e	Definições	de	Cultura
●	 Campos de estudo da Antropologia
●	 Refletir	sobre	o	papel	do	Antropólogo
●	 Compreender a importância dos estudos antropológicos contra discriminação, 
preconceito e intolerância
UNIDADE I
Cultura, pra quê?
Professora Mestra Renata Oliveira dos Santos
8UNIDADE I Cultura, pra quê?
INTRODUÇÃO
Somos todos preconceituosos! 
Logo de cara, ler essa frase nos causa um pouco de desconforto, não é mesmo? 
Pois bem, é justamente para repensar nossos privilégios sociais e lugares que ocupamos 
na sociedade que a Antropologia começará a fazer parte das nossas discussões.
Você verá que muitas coisas que faz, fala, a maneira como reage e age no meio 
social estão relacionadas a sua cultura. Mesmo que não saiba ainda, nós reproduzimos 
muitas falas e ações de quem faz parte do cotidiano que vivenciamos. Assim, vamos cons-
truindo e desconstruindo nossas ideias e maneira de pensar o mundo.
Claro que você já deve ter percebido que muitos atos de racismos, preconceitos em 
relação a identidades de gênero, violências contra mulheres e homossexuais estão cada 
vez mais presente nos noticiários, nas redes sociais. Denúncias que se repetem e que 
deveriam	nos	levar	a	pensar:	“Mas,	afinal,	por	que	essas	coisas	acontecem?”
Bom, sabe aquela frase que nossos pais/avós falam e que, muitas vezes, nos irrita: 
“na minha época não era assim”? Então, é que vivemos em contextos históricos, políticos, 
educacionais e econômicos diferentes. Assim, a maneira como uma coisa era pensada 
anteriormente	pode	não	ter	nenhum	significado	e	sentido	agora.	
Lembre-se,	culturas	são	dinâmicas.	Elas	se	movem	e	se	modificam	o	tempo	todo.	
Por isso, atos racistas, preconceituosos e discriminatórios, que historicamente foram 
naturalizados, em nossos tempos, são cada vez mais problematizados e combatidos. As 
diferenças fazem parte da nossa sociedade e elas precisam ser entendidas e respeitadas. 
Todos os sujeitos sociais devem ter seus direitos sociais e judiciários assegurados, para 
quem	ninguém	fique	à	margem	do	 todo	social,	 simplesmente	porque	sua	 forma	de	ver,	
pensar,	agir	e	estar	no	mundo	é	singular,	específica	em	relação	ao	outro.
9UNIDADE I Cultura, pra quê?
1 VOCÊ SABE O QUE É CULTURA?
Afinal,	qual	a	necessidade	de	se	estudar	CULTURA?	
Bom,quando	 entendemos	 o	 que,	 de	 fato,	 o	 conceito	 dessa	 palavra	 significa,	
podemos perceber que ela é de extrema utilidade, pois nos ajuda a entender a enorme 
complexidade, que se traduz na espécie humana, por meio da diversidade cultural.
Segundo Laraia (1986), Edward Tylor, em seu livro Primitive Culture, de 1871, foi 
o	primeiro	autor	a	definir	que	cultura	poderia	ser	entendida	como	um	objeto	de	estudo	sis-
temático por se tratar de um fenômeno natural, com causas e regularidades. Isso permitia 
uma maneira de estudo objetivo que fosse capaz de gerar leis sobre o processo cultural e 
a sua evolução. 
A ideia de evolução tem sua raiz nos estudos Darwinistas, em que se acreditava 
que o ser humano evoluiu do macaco. No caso da cultura, seria enfatizar que entendendo 
um	povo	ou	grupo,	seria	possível	modificá-lo	para	algo	melhor.	Essa	maneira	de	pensar	
o conceito está bem relacionada à ideia biológica, ou seja, as ações humanas nada mais 
seriam que reproduções naturais, evolucionistas.
Se contrapondo a essa ideia, o alemão Franz Boas desenvolveu o método com-
parativo. Para o autor, ao se analisar uma cultura seria possível reconstruir da história de 
povos e comparar a vida social de diferentes grupos, tudo isso sendo pensado a partir da luz 
histórica. Assim, começou-se a entender que cada cultura seguia seus próprios caminhos, 
isso devido ao fato de vivenciarem eventos históricos diferenciados (LARAIA, 1986). 
10UNIDADE I Cultura, pra quê?
O antropólogo americano Alfred Kroeber (1876-1960) aprofundou seus estudos e 
foi	capaz	de	definir	que	a	cultura	atua	sobre	o	homem.	Este	se	diferencia	da	forma	animal,	
justamente, por produzir uma cultura particular que representa as necessidades e a maneira 
de	construir	sentidos	e	significados	para	as	práticas	humanas.	Para	o	autor,	nós,	homens	e	
mulheres, criamos o próprio processo evolutivo e nos libertamos das amarras da natureza 
e do orgânico (LARAIA, 1986).
Nesse	sentido,	podemos	afirmar	que	somos	o	resultado	do	meio	cultural	em	que	
fomos e estamos sendo socializados. Você já prestou atenção no quanto tem atitudes como 
a do seu pai ou da sua mãe? Maneira de andar, gesticular as mãos, de sorrir. Repare. 
Pense.	Veja	que	muitas	dessas	ações	são	semelhantes	e	podem	ser	consideradas	reflexos	
dos nossos primeiros contatos com a sociedade. Assim, quando dizem para você: “Nossa, 
como	você	parece	tal	pessoa”,	estão	afirmando	como	você	imita	ela	e	acaba	por	reproduzir	
características que não são somente suas.
Dessa maneira, entendemos que não nascemos inteligentes, criativos, preconcei-
tuosos, homofóbicos, racistas. Tudo isso aprendemos e reproduzimos de outras pessoas 
que, por serem muito próximas, a nós acabam por ajudar a construir a forma como estamos 
agimos e vemos o mundo. Isso pode acontecer em casa, na igreja, na escola, que consti-
tuem instituições sociais importantes da nossa sociedade.
“A cultura é um processo acumulativo, resultante de toda experiência histórica 
das gerações anteriores. Esse processo limita ou estimula a ação criativa do indivíduo” 
(LARAIA, 1986, p. 49).
Com isso, entendemos que toda experiência de uma pessoa é transmitida para os 
demais, o que ocasiona um acúmulo de saberes e conhecimentos que podem ser compar-
tilhados, repensados e recriados dependendo do contexto e das necessidades.
Por isso, ao pensarmos em cultura, vamos recorrer aos estudos do antropólogo 
Clifford	Geertz	(2013),	que	afirma	que	o	conceito	de	cultura	deve	estar	ancorado	na	ideia	de	
semiótico. Assim, entende, baseado nas ideias de Max Weber, que o homem é um animal 
preso	à	uma	teia	de	significados	que	ele	mesmo	teceu.	A	cultura	seria	essa	teia	e	caberia	
aos pesquisadores analisá-las, na construção de uma ciência interpretativa, à procura de 
significados.		
Os praticantes da ciência da cultura, chamada de antropologia, são chamados de 
antropólogos. Esses, ao interpretar um grupo de pessoas, são responsáveis por desenvol-
ver	uma	maneira	de	estudo,	que	pode	ser	identificado	como	etnografia.	
11UNIDADE I Cultura, pra quê?
Para	 um	 antropólogo,	 é	 preciso,	 ao	 praticar	 a	 etnografia,	 estabelecer	 relações,	
selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos e ter um 
diário em que é possível anotar tudo que vê e ouve, podendo, assim, descrever, de maneira 
densa,	o	que	aprendeu	sobre	uma	determinada	cultura.	Captar	e	entender	códigos,	signifi-
cados e sua importância.
Talvez você goste de futebol, talvez não. Porém, é inegável que a cultura brasileira 
se	insere	também	pela	paixão	e	 identificação	com	esse	esporte.	Pois	bem,	quando	algo	
além do jogo ocorre, a gente se pergunta se futebol é apenas um jogo. Mas, como assim? 
Bom, você já deve ter vistos pessoas se abraçando sem se conhecer depois de um gol ou 
de um campeonato. 
Naquele momento há outros sentidos para aqueles gestos. Isso faz com que ir a um 
estádio de futebol ou torcer por um time seja algo que aproxima as pessoas, gera regras de 
convívios,	símbolos	e	significados.
Geertz	(2013)	nos	afirma	que	a	cultura	é	pública	e,	por	isso,	significa	exatamente	
o que é. Ela possui um contexto que pode ser descrito de forma inteligível, a partir do 
momento que respeitamos a voz do nativo, ou seja, de quem vive aquela realidade. Ser 
antropólogo não é dizer que algo está correto ou errado, mas sim ouvir o que realmente o 
outro diz. Ao compreender a cultura de um povo é possível expor sua normalidade sem que 
suas particularidades deixem de existir.
Uma	descrição	etnográfica	é	interpretativa.	O	seu	estudo	acontece	na	própria	cul-
tura e caberá ao pesquisador a capacidade de olhar o que é necessário e importante para 
quem	participa	daqueles	 signos	e	 significados.	Vale	 lembrar	 que	os	estudos	nunca	 são	
finitos	em	si	mesmo.	Eles	podem	ser	repensados	a	todo	momento,	pois	tudo	muda	o	tempo	
todo no mundo.
Olhar as dimensões simbólicas da ação social - arte, religião, ideologia, ciên-
cia, lei, moralidade, senso comum - não é afastar-se dos dilemas existenciais 
da vida em favor de algum domínio empírico de formas não emocionalizadas; 
é mergulhar no meio delas. A vocação essencial da antropologia interpre-
tativa não é responder às nossas questões mais profundas, mas colocar à 
nossa disposição as respostas que os outros deram - apascentando outros 
carneiros em outros vales - e assim incluí-las no registro de consultas sobre 
o que o homem falou (GEERTZ, 2013, p. 21).
Dessa Maneira, vamos nos aprofundar um pouco mais sobre a antropologia, de-
monstrando como, na prática cotidiana, ela nos permite compreender o outro e a nossa 
própria sociedade por meio de perspectivas diversas, que não podem ser consideradas 
melhores ou piores; superiores ou inferiores; boas ou ruins.
12UNIDADE I Cultura, pra quê?
2 ANTROPOLOGIA: UMA CIÊNCIA EM CONSTANTE MUDANÇAS
Segundo Laplantine (1987), o homem nunca deixou de questionar a si mesmo, 
assim como, de se observar e ver o outro. A ciência antropológica nasceu no Século XVIII, 
em que torna o homem um objeto de conhecimento e não somente preso à natureza.
Nesse primeiro momento, os estudos da antropologia se restringiram à pesquisa 
de sociedades muito afastadas das europeias ou chamadas de civilizadas. Tratava-se de 
grupos de pessoas que vivem isoladas, com tecnologia pouco desenvolvida, sociedades 
consideradas simples em sua organização. Isso faz com que o objeto de estudo seja, ini-
cialmente, as populações não pertencentes à civilização ocidental.
Entretanto, as mudanças nas rotas comerciais e a aproximação entre os povos 
fizeram	a	antropologia	perceber	seu	objeto	de	estudo	desaparecendo.	Então,	seus	pes-
quisadores começaram a desenvolver olhares também para sua própria sociedade, seus 
pesquisadores começaram a direcionar olhares também para sua própria sociedade, obje-
tivando	entender	as	especificidades	de	todos	os	tipos	de	povos.
Você deve estar pensando qual a razão de estudar o homem em seus sentidose	significados,	e	como	fazer	isso...	Bom,	esse	desafio	os	antropólogos	possuem	até	hoje	
para	compreender	que	somos	pessoas	sociais	e	culturais.	O	que	significa	que	o	mundo	
como conhecemos, vivemos e ajudamos a desenvolver está inserido em perspectivas de 
grupos	diversos.	O	que	isso	significa?	É	que	a	ideia	apenas	de	certo	ou	errado,	selvagem	
ou civilizados não passa de maneira de enxergar as coisas a partir de pontos de vistas 
diferenciados. 
13UNIDADE I Cultura, pra quê?
“O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes 
comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança 
cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura” (LARAIA, 1986, p. 68). 
Você sabia, por exemplo, que pessoas de culturas diferentes riem das coisas mais 
diversas? Você já reparou que de uma cidade para outra as palavras mudam? Pois é, tudo isso 
nos mostra que fazemos parte de um mundo muito maior do que somos capazes de imaginar.
Podemos dividir os estudos antropológicos em, pelo menos, cinco áreas diferentes, 
são elas: 
●	 Antropologia Biológica - está ligada à genética das populações. O pesquisador 
analisará	 as	 particularidades	morfológicas	 e	 fisiológicas	 relacionadas	 ao	meio	
ambiente. 
●	 Antropologia Pré-Histórica - relacionada à arqueologia, busca reconstruir as so-
ciedades desaparecidas, em suas técnicas, organizações, produções culturais e 
artísticas.
●	 Antropologia Linguística - entende que a linguagem é um patrimônio cultural de 
uma sociedade. Será por meio dela que homens e mulheres poderão se expres-
sar e interpretar o mundo em que vivem.
●	 Antropologia Psicológica - baseada no estudo dos processos psíquicos humanos.
●	 Antropologia Social e Cultural - se refere a tudo que constitui uma sociedade 
que se representa pelos seus aspectos econômicos, jurídicos, sociais, religio-
sos, educacionais, costumes, hábitos, organização política e criações artísticas 
(LAPLANTINE, 1987). 
Nossos estudos estão ancorados, justamente, nessa última área, em que gestos, 
trocas simbólicas e os detalhes de quem somos e agimos no dia a dia fazem parte daquilo 
que buscamos compreender. Já que muitas vezes essas manifestações são responsáveis 
por criar nossa própria identidade. 
Não se esqueça que, para a antropologia, nossa maneira de andar, dormir, nos 
encontrar, emocionar, comemorar e reagir são produtos de escolhas culturais que podemos 
realizar	de	maneira	consciente	ou	apenas	reproduzindo	os	reflexos	que	interiorizamos.
Dessa maneira, quando nos propomos a ver o mundo com outra perspectiva, somos 
conduzidos, por essa ciência, a uma verdadeira revolução do olhar: 
“Eu sou mil possíveis em mim; mas não posso me resignar a querer apenas um 
deles” (Roger Bastide).
14UNIDADE I Cultura, pra quê?
3 O ANTROPÓLOGO: QUEM É ELE?
O antropólogo é o cientista responsável por utilizar as ferramentas e os instrumen-
tos	específicos	para	compreender	uma	cultura.	Não	cabe	a	ele	qualquer	tipo	de	julgamento	
de valor, mas sim apresentar, da maneira mais clara e coerente, as manifestações culturais 
dos grupos mais diversos do mundo. 
Esse	pesquisador	nos	ajuda	a	entender	signos,	sentidos	e	significados	que,	para	
nós, pareciam naturais, porém não são. Você já deve ter visto algum documentário sobre 
comidas, pratos típicos de outras regiões e, até mesmo, países, Não? Caso não tenha 
visto, saiba que uma maneira de conhecer seu povo é compreender a sua culinária. 
Ninguém se alimenta apenas por uma função biológica, nós comemos o que 
podemos plantar, colher, caçar, cozinhar e consumir cru. Por isso, algumas culturas se 
alimentam de carnes bovinas, enquanto outras de peixes. Isso também está relacionado a 
questões	geográficas.	
O antropólogo sempre nos surpreenderá com a descrição daquilo que nos parece 
familiar, proporcionando um estranhamento de coisas que pensamos ser naturais e normais. 
Por isso, seu trabalho não é transformar a sociedade que estuda, mas, ao conhecê-la, pode 
permitir que seus membros realizem mudanças que entende como necessárias para a sua 
manutenção.
Para Oliveira (2000), os antropólogos devem cumprir três etapas para analisar os 
fenômenos sociais, questionando-os e os tematizando, por meio do olhar; ouvir e escrever. 
15UNIDADE I Cultura, pra quê?
Práticas	que	vão	sendo	disciplinadas	por	teorias	que	auxiliam	esse	profissional	a	entender	
a realidade e querer interpretá-la. 
● OLHAR: domesticação	do	Olhar	etnográfico	 -	Realizado	por	meio	de	 toda	a	
teoria apreendida durante as aulas acadêmicas. Um itinerário que é absorvido 
e será posto em prática quando o pesquisador for a campo, ou seja, para o 
local de seus estudos. Nesse momento, teoria e prática irão se chocar, por 
isso é muito importante que a maneira de enxergar se desenvolva de maneira 
sensível. 
● OUVIR: assim como o olhar é um exercício da investigação, saber ouvir os 
ruídos	também.	Isso	significa	que	o	pesquisador	precisa	entender	o	que	falam,	
quem fala e como fala. Sabe quando estamos em um ônibus do transporte 
público e paramos para ouvir as conversas alheias? Pois bem, da próxima vez 
que acontecer isso contigo, prepare seu ouvido para apenas ouvir e depois 
desenvolva	um	diálogo	consigo	mesmo	sobre	o	que	tudo	aquilo	significava.	Pa-
rece	loucura?	Você	verá	que	não.	É	apenas	uma	maneira	de	escutar	o	mundo	
ao seu redor. 
● ESCREVER: tão importante quanto o olhar e o ouvir será também o ato de 
escrever. Essa capacidade de relatar para o mundo o que se apreendeu e de 
interpretar, por meio da linguagem, o que se deseja expressar. Quando vemos, 
ouvimos e nos propomos a escrever percebemos o quanto é possível saber 
sobre nós mesmo e sobre os outros. Com a ajuda de teorias, essa escrita ganha 
caráter	científico.	Assim,	a	etnografia	pode	ser	compreendida	como	uma	manei-
ra de representar em texto aquilo que o campo nos fez ver e escutar.
[...] o ato de escrever e o de pensar são de tal forma solidários entre si, juntos, 
formam	praticamente	um	mesmo	ato	cognitivo.	Isso	significa	que,	nesse	caso,	
o texto não espera que seu autor tenha primeiro todas as respostas, para, só 
então, poder ser iniciado. Entendo que na elaboração de uma boa narrativa, o 
pesquisador, de posse de suas observações devidamente organizadas, inicia 
um processo de textualização, concomitante ao processo de produção do 
conhecimento (OLIVEIRA, 2000, p. 32).
Diante	 disso,	 podemos	 afirmar	 que	 o	 ato	 de	 olhar,	 ouvir	 e	 escrever	 são	 pró-
prios da antropologia, e podem promover uma maneira de entender o mundo de forma 
relativizada. Eles devem ser vistos de maneira tematizada e etapas da construção de novos 
conhecimentos.
16UNIDADE I Cultura, pra quê?
4 ENTENDA: CADA CULTURA TEM SUA PRÓPRIA LÓGICA
Agora que você já caminhou um pouco sobre o mundo da Antropologia, espero 
que	tenha	ficado	bem	claro	que	culturas	são	DIFERENTES.	Por	isso,	não	podemos	dizer	
que a manifestação de um grupo, de um povo é algo esquisito, estranho e exótico. Somos 
diferentes e isso precisa ser algo que a gente deve aprender e jamais esquecer. 
Vale	ressaltar	que	todo	sistema	cultural	tem	a	própria	lógica.	O	que	significa	que	
eu e você podemos até não entender por que determinada região se alimenta de algo, ou 
por que outras pessoas têm manifestações religiosas diferentes da nossa, entretanto, é in-
dispensável	compreender	que,	para	essas	pessoas,	tudo	tem	um	sentido	e	um	significado.
As sociedades se desenvolvem porque os sujeitos sociais que as constituem são 
produtos e produtores de uma cultura. Assim, a maneira como pensamos, agimos, silencia-
mos e lutamos está relacionada à forma como isso nos foi ensinado, seja por nossa família 
ou por conta de qualquer outra instituição social, como é o caso da escola, do Estado e da 
igreja.
O fato é que os homens e as mulheres sempre buscaram explicações para fatos 
que	não	conseguem	entender	sem	uma	investigação	mais	pontual.É	o	caso,	por	exemplo,	
das questões sobre a vida e a morte. Para responder a esses anseios cada sociedade tem 
promovido diversas interpretações. Por exemplo, você sabia que o povo mexicano tem um 
dia para festejar os mortos? Sim, eles dançam e cantam para seus antepassados, sem 
17UNIDADE I Cultura, pra quê?
choro e com muitas manifestações de vida, em uma grande celebração. Isso seria algo 
quase impossível aqui no Brasil, não é?
Os mexicanos estão errados e nós brasileiros certos? Nem uma coisa, nem outra, 
são apenas práticas e discursos diferentes, que demonstram que não existe apenas uma 
maneira de entender a morte no mundo. 
Se optarmos por explicar a vida, veremos que as mais diversas sociedades en-
tenderam	a	concepção	do	nascimento	de	maneira	diversificada.	Uma	 investigação	mais	
pontual irá provar como a forma como cada uma delas enxerga esse ato tem a sua própria 
lógica e coerência no seu sistema social.
Por isso devemos estar atentos, pois muito do que acreditamos ser algo natural, 
não passa, na verdade, de uma construção histórica, fruto de um processo cultural subje-
tivo. Desse modo, não podemos pensar a cultura como desejava Edward Tylor, como algo 
objetivo e universal. 
Ao compreender essas questões percebemos que a cultura não é algo estático, mas 
sim	dinâmico	e	que	a	todo	momento	pode	ser	modificada.	Mas,	como	isso	é	possível?	Bom,	
é só pensar nos tatuadores e naqueles que possuem tatuagens. Até mais ou menos uns 
30	anos	atrás	ter	uma	tatuagem	tinha	um	significado	bem	pejorativo	em	nossa	sociedade.	
Ainda hoje temos algumas pessoas que acham a tatuagem algo ruim. Entretanto, 
nos últimos anos vimos que a sociedade começou a compreender o trabalho e a arte do 
tatuador,	reconhecendo	suas	especificidades	e	criando	não	somente	novos	postos	de	tra-
balhos, como também uma outra maneira de entender aquele que tatua e quem é tatuado.
“Cada mudança por menor que seja, representa o desenlace de numerosos con-
flitos.	Isto	porque	em	cada	momento	as	sociedades	humanas	são	palco	do	embate	entre	
tendências conservadoras e as inovadoras” (LARAIA, 1986, p. 99).
Enfim,	a	mudança	cultural	não	é	uma	ação	fácil,	mas	necessária	quando	um	tipo	
de comportamento e ação já não condiz mais com a realidade social. Por essa razão, é 
muito importante entender as dinâmicas sociais, que se alteram a cada nova geração e que 
podem evitar atitudes preconceituosas, racistas e discriminatórias em nossa sociedade.
18UNIDADE I Cultura, pra quê?
SAIBA MAIS
Você sabia que a vaca é considerada um animal sagrado entre os indianos? O que pode 
parecer estranho, esquisito e exótico tem uma explicação lógica. Para saber mais, leia o 
texto indicado e descubra como as diferenças fazem parte do nosso mundo.
Por que a Vaca é Sagrada na Índia?
Disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/por-que-a-vaca-e-sagrada-na-india/
REFLITA 
“A falta de cultura é um dos maiores fomementos da infelicidade de um povo. E não 
adianta dizer o contrário. Quem é analfabeto cultural, não sabe interpretar a vida” (Re-
nan Venâncio).
Qual a razão da cultura ser um aspecto tão importante para a compreensão do meio em 
que vivemos?
19UNIDADE I Cultura, pra quê?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Começamos	 essa	 unidade	 afirmando	 que	 somos	 preconceituosos.	 Talvez	 isso	
tenha sido desconfortável para você, porém esse é um choque necessário para aqueles 
que se propõem a pensar a sociedade que faz parte.
Você é um ser social e cultural, em construção e desconstrução. Por isso, é impor-
tante entender que cultura é algo criado e recriado por nós mesmo. Como nos disse Cliford 
Geertz,	se	trata	de	uma	teia	de	sentido	e	significado	que	demanda	interpretação,	além	de	
uma descrição densa.
Podemos compreender que pensar a cultura não é algo do senso comum, mas sim 
de uma ciência chamada de Antropologia. Ela surgiu no século XVIII, com a pretensão de 
entender sociedades chamadas de primitivas, distantes das grandes cidades da Europa 
e possuidoras de uma forma de organização social, considerada, sobre uma perspectiva 
evolucionista e etnocêntrica, como simples.
 Porém, no século XX, notou-se que não cabia apenas esse lugar para as análises 
antropológicas, principalmente, porque essas sociedades tidas como distantes foram se 
aproximando devido às mudanças históricas, sociais, econômicas e políticas. Assim, coube 
à antropologia a investigação das manifestações culturais em seu próprio meio, assim como 
em outras sociedades.
Descobrimos também que quem desenvolve esse trabalho é chamado de antro-
pólogo. Este precisa desenvolver, ao longo do seus estudos teóricos, a domesticação do 
olhar e do ouvir. Para que possa entender o que vê e o que escuta durante seu trabalho 
de campo e ser capaz de escrever sobre uma determinada cultura. Nesse sentido, o Olhar, 
Ouvir e Escrever são fundamentais para a construção do trabalho do antropólogo.
Por	fim,	reafirmamos	que	culturas	são	diferentes	e,	assim,	entendemos	que	cada	
uma possui uma lógica própria. Não são melhores e nem piores, superiores ou inferiores, 
boas ou ruins, simplesmente são diversas e essa constatação implica em compreendermos 
a importância da necessidade do respeito frente à diversidade cultural.
20UNIDADE I Cultura, pra quê?
LEITURA COMPLEMENTAR
Você acha que nossa cultura é melhor do que outra? Aliás, será que você já parou 
para pensar nos detalhes culturais que se manifestam em nossa formação?
Pensando nessas indagações convido você a ler um texto bem divertido e que vai te causar 
muitos estranhamentos. Vamos lá?
Texto: Os ritos corporais dos Nacirema - Horace Miner 
MINER, H. Os ritos corporais dos Nacirema. In: ROONEY, A. K.; VORE, P. L. de (Orgs.). YOU AND T HE 
OTHERS - Readings in Introductory Anthropology. Cambridge: Erlich, 1976. Disponível em: https://ediscipli-
nas.usp.br/pluginfile.php/364413/mod_resource/content/0/Nacirema.pdf.	Acesso	em:	10	ago.	2020.
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/364413/mod_resource/content/0/Nacirema.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/364413/mod_resource/content/0/Nacirema.pdf
21UNIDADE I Cultura, pra quê?
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO 
• Título: Cultura: um conceito antropológico
• Autor: Roque de Barros Laraia
• Editora: Zahar
• Sinopse: Dividido em duas partes, o livro refere-se ao conceito 
de cultura a partir das manifestações iluministas até os autores 
contemporâneas, enquanto a segunda procura demonstrar como 
a	cultura	parece	influenciar	o	comportamento	social	e	diversificar	
a humanidade, apesar de sua unidade biológica. O autor busca 
utilizar, sempre que possível, exemplos referentes à sociedade e 
às sociedades tribais que compartilham o território brasileiro, o que 
não impede a utilização de exemplos de autores que trabalham em 
outras partes do mundo.
FILME/VÍDEO 
• Título: O casamento Grego
• Ano: 2002
• Sinopse: Todos na família Portokalos estão preocupados com 
Toula (Nia Vardalos). Ainda solteira aos 30 anos de idade, ela tra-
balha no Dancing’s Zorba, o restaurante de seus pais, Gus (Michael 
Constantine) e Maria (Lainie Kazan). Após começar a trabalhar na 
agência de viagens de sua tia, ela se apaixona por Ian Miller (John 
Corbett),	um	professor	que	é	alto,	bonito	e	que	definitivamente	não	
é grego. Toula não está certa do que será mais aborrecedor para o 
seu pai: Ian ser estrangeiro ou ser vegetariano.
WEB 
Pegar toda a complexidade de uma pessoa e de seu contexto 
e reduzi-los a um só aspecto é o que Chimamanda chama de o 
perigo da história única. Como uma estudante nigeriana em uma 
universidade nos Estados Unidos, ela vivenciou com frequência 
isso.
• Link do site: https://www.youtube.com/watch?v=EC-bh1YARsc
https://www.youtube.com/watch?v=EC-bh1YARsc
22
Plano de Estudo:
●	 Eu e o outro: Sociedade do Desvio
●	 Etnocentrismo.
●	 Relativismo Cultural
●	 Identidade
Objetivos de Aprendizagem:
●	 Refletir	sobre	as	diferenças	da	relação	entre	eu	e	o	outro
●	 Compreender o conceito de Etnocentrismoe como sua perpetuação provoca ações 
preconceituosas e discriminatórias
●	 Entender a importância do conceito de relativismo cultural para a diversidade
●	 Refletir	sobre	o	que	significa	ter	identidade
UNIDADE II
Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
Professora Mestra Renata Oliveira dos Santos
23UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
INTRODUÇÃO
Durante	 toda	a	Unidade	 I	 nosso	desafio	 foi	 compreender	 o	 conceito	 de	 cultura.	
Descobrimos que existe uma ciência responsável por esse tipo de estudo chamada de 
Antropologia e que aquele que desenvolve suas pesquisas é chamado de antropólogo. Por 
fim,	percebemos	que,	ao	entender	as	diferenças	entre	as	pessoas,	é	possível	construir	uma	
nova perspectiva social, incapaz de atos preconceituosos e discriminatórios.
Nosso	desafio	agora,	na	Unidade	II,	é	refletirmos	como	esse	conceito	de	cultura	
se revela no cotidiano, nas ações que desenvolvemos em relação ao outro e na busca por 
uma sociedade que possa entender que cada indivíduo é diferente e precisa ter o direito de 
ser quem desejar.
Nesse sentido, vamos compreender quem determina ou não que o outro pode ser 
excluído da sociedade por não se encaixar em um determinado padrão. Para isso, vamos 
debater sobre o conceito de desvio e como ele se propaga quando não estamos preparados 
para a diversidade social.
Ao	ser	 incapaz	de	pensar	no	outro	como	ele	 realmente	é	e	desejar	modificá-lo,	
podemos cometer uma grave ação chamada de etnocentrismo. Veremos que esse conceito 
explica, por exemplo, a ação dos invasores portugueses no Brasil e porque eles acredita-
vam que a nação que aqui vivia deveria ser colonizada por uma civilização superior, no 
caso, a europeia.
Porém, quando entendemos que somos diferentes e respeitamos, somos capazes 
de desenvolvermos um olhar mais sensível capaz de entender as razões que nos diferem, 
auxiliando	nas	lutas	sociais	daqueles	que	ficam	à	margem	de	uma	sociedade	etnocêntrica.	
Para	essa	discussão,	vamos	refletir	sobre	o	conceito	de	relativismo	cultural.
Para	encerrar	as	reflexões	dessa	unidade,	iremos	nos	debruçar	sobre	o	conceito	de	
Identidade,	qual	sua	importância	e	relevância	para	podermos	afirmar	quem	somos.
BONS ESTUDOS! 
24UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
1 EU E O OUTRO: SOCIEDADE DO DESVIO
Para convivermos em sociedade, é preciso entender que cada grupo social faz as 
suas próprias regras e, por isso, tentam impor-lás aos indivíduos que fazem parte de uma 
determinada estrutura social. 
	 O	fato	é	que	as	regras	sociais	tendem	a	definir	os	comportamentos	adequados	
das	pessoas	para	cada	situação,	o	que	pode	significar	a	definição	do	que	é	certo	ou	errado.	
Com	toda	certeza	você	já	deve	ter	passado	por	experiências	em	que	pensou:	“quem	definiu	
que isso era correto?”.
Pois bem, a ideia de certo e errado está mais relacionada às subjetividades impos-
tas pelo coletivo do que na liberdade individual. Aprendemos e ensinamos essas noções, 
sem, muitas vezes, questionar como elas foram determinadas. 
Segundo Becker (2008), todas as pessoas que não seguem regras impostas são 
consideradas infratoras e vistas como outsiders. A pessoa rotulada dessa maneira é per-
cebida por outros como aquela que está fora da normalidade, do padrão e que quebra 
todas as regras, simplesmente por não as seguir. Como você acha que um outsider é visto 
socialmente?
Será que você pode ser entendido como um outsider? Este se caracteriza por ser 
um desviante e é rotulado assim por outras pessoas. O julgamento que precede a esse tipo 
de indivíduo se baseia na ideia de que todos devemos agir de maneira igual, quando isso 
não ocorre deve ser corrigido.
25UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
O desvio pode ser entendido por algumas concepções:
● Estatística: qualquer coisa que difere do que é comum. Por exemplo, se você 
é	canhoto,	ruivo,	calvo...	já	é	considerado	um	desviante.	Afinal,	a	maioria	das	
pessoas são destras, brancas (loiras) ou pretas e a falta de cabelo não é algo 
tão aceitável na sociedade. Para Becker (2008), trata-se de uma explicação 
muito simples para o desrespeito das diferenças.
● Patológico: acredita que qualquer manifestação de diferença pode ser con-
siderada	como	doença,	em	especial,	um	produto	de	doença	mental.	É	nesse	
sentido que muitas pessoas pensam ser possível uma suposta cura gay e que 
os problemas com alcoolismo ou drogas são apenas de ordem psicológica. Com 
isso, as pessoas tendem a discriminar atitudes ou maneiras de ser que conside-
ram capazes de desequilibrar a ordem “natural” da sociedade, considerando-as 
disfuncionais, podendo ser eliminadas.
● Relativista: nesta concepção existe a crença de que o desvio pode ser enten-
dido como uma falha em obedecer às regras de um determinado grupo social. 
O que não deve ser entendido como desequilíbrio ou fora da normalidade, mas 
como representações diferentes de atuação no mundo.
Os desviantes são um tipo de pessoas que questionam a razão de uma determina-
da regra ser aceita ou não por ele e pelo outro. Para aqueles que pensam numa sociedade 
homogênea é muito problemático conviver com quem pergunta, exatamente, o porquê das 
coisas. Por isso, o desvio é algo criado pelo próprio meio social que, por meio das pessoas, 
define,	aponta	o	que	deve	ou	não	ser	aceito.	
“[...] o desvio não é uma qualidade do ato que a pessoa comete, mas uma conse-
quência da aplicação por outros de regras e sanções a um ‘infrator’” (BECKER, 2008, p. 
22). Assim, o desviante é aquele que recebe um rótulo do outro que determina quem ele 
pode ou deve ser. 
O interessante de pensar a ideia do eu e outro sobre essa lógica do desvio é que 
aqueles que são considerados desviantes podem muito bem encontrar pessoas seme-
lhantes à sua rotulação. Quando isso ocorre, muitas vezes quem é tratado como fora da 
normalidade também aponta quem os que assim o determina como um desviante. Você 
achou esse pensamento confuso? 
Então, se eu me considero capaz de julgar o outro como desviante, porque penso 
e	me	comporto	de	um	jeito	em	sociedade,	isso	significa	que	o	outro,	ao	olhar	para	a	minha	
26UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
forma	de	viver,	pode	me	considerar	um	desviante,	afinal	entendemos	as	 regras	do	 jogo	
social	de	maneira	oposta	e	tentamos,	de	alguma	maneira,	modificá-las	a	nosso	favor.	
Um	exemplo	disso	pode	ser	refletido	por	meio	da	ideia	de	loucura.	Afinal,	quem	pode	
determinar que a outra pessoa é louca ou não? Já reparou que muitas vezes apontamos a 
loucura em alguém por simples expressão de linguagem? Pois bem, sem um diagnóstico 
psicológico, a ideia de ser louco tem sido utilizada em nossa sociedade indiscriminadamen-
te para todas as ações, mas será mesmo que é loucura?
Vale	 ressaltar	 ainda	que	 toda	a	 regra	é	 criada	por	alguém.	Então,	 definir	 o	que	
é certo ou errado perpassa pela ideia subjetiva de quem assim o determina. Podemos 
entender, então, que o desvio não é algo que se ancora no próprio comportamento humano, 
mas sim nas trocas entre uma pessoa que comete um ato e aquela que reage a ele. Desta 
maneira, muitas vezes, percebemos que os julgamentos podem ter dois pesos e medidas 
distintas, dependem de onde e para quem ele está sendo direcionado. 
Além de reconhecer que o desvio é criado pelas reações de pessoas a tipos 
particulares de comportamento como desviante, devemos também ter em 
mente que as regras criadas e mantidas por essa rotulação não são univer-
salmente	aceitas.	Ao	contrário,	constituem	objetos	de	conflito	e	divergência,	
parte do processo político da sociedade (BECKER, 2008, p. 30).
Compreender a maneira como se estabelece a relação entre o eu e o outro é fun-
damental para respeitar as diferenças. Quando admitimos que estamos imersos em uma 
sociedade diversa, nos tornamos menos propensos a reproduzir ações que prejudiquem 
alguém por ser exatamente aquilo que é.
27UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
2 ETNOCENTRISMOEm uma sociedade repleta de padrões sociais, não é fácil conviver com as dife-
renças. Bom, até agora você já deve ter aprendido uma porção de coisas sobre cultura e, 
provavelmente, deve estar imaginando como poderá absorver todo esse conhecimento para 
o seu dia a dia. Pois bem, a partir do momento em que respeitamos o outro, é impossível 
ser um etnocêntrico e é sobre esse conceito que vamos debater a partir de agora.
No	mundo	em	que	vivemos	podemos	observar	uma	grande	dificuldade	de	aceitar	
quem é diferente do padrão normativo. Muitas vezes somos questionados por nossa forma 
de pensar, de agir, falar, nos vestir e, até mesmo, andar. Para aqueles que acreditam que o 
mundo pode ser apenas de um jeito, ser alguém considerado diferente, como vimos, é ser 
um desviante.
Mas, o que acontece para que os seres humanos não consigam viver de maneira 
harmoniosa a diversidade? O fato é que todas as vezes que uma pessoa julga a outra 
ou tenta homogeneizar os modos de ser, viver e se comportar, o que ela está fazendo é 
entender o outro por sua própria ótica. Ficou confuso? Vamos a explicação.
Bom, toda vez que fazemos um comentário sobre um indivíduo, podemos utilizar 
a expressão popular de que “estamos medindo a pessoa com a nossa própria régua”. 
Isso	significa	que	os	padrões	que	temos	fazem	com	que	eu	acredite	que	o	outro	deva	ser	
e pensar exatamente igual a mim. Assim, todo aquele que se recusar a ter as mesmas 
28UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
percepções da vida como as que tenho será descartado da minha conivência e também 
julgado por suas escolhas diferentes.
Esse tipo de percepção quando direcionada para o coletivo pode ocasionar o des-
prezo e a aniquilação de grupos. A partir de um momento que uma determinada sociedade 
se	sente	melhor,	superior,	maior	do	que	outras,	 tendem	a	promover	o	que	 identificamos	
como etnocentrismo, ou seja, tornar tudo estranho, esquisito ou exótico, o que não respeita 
como diferente.
O	antropólogo	brasileiro	Everaldo	Rocha	(1994)	afirma	que	o	etnocentrismo	é	um	
fenômeno em que estão sendo misturados elementos intelectuais e racionais junto com 
os	emocionais	e	afetivos.	Quando	o	entendemos	pela	dinâmica	intelectual,	significa	com-
preender	que	sua	manifestação	se	revela	na	dificuldade	de	encarar	a	diferença	no	plano	
afetivo, nos sentidos e sentimentos que ocasionam estranheza, medo e hostilidade.
Assim, quando pensamos no etnocentrismo podemos entender que ele se mani-
festa a partir do julgamento do valor da cultura do outro grupo naquilo que eu acredito ser 
essencial na minha cultura. Voltamos ao nosso exemplo do ditado popular, a régua do meu 
grupo é que mede a forma de existência do outro grupo.
Foi exatamente esse tipo de pensamento que permitiu com que os mais diversos 
tipos de colonizadores se estabelecessem no Brasil. Em especial, o invasor português que, 
ao chegar em terras brasileiras, promoveu tanto um genocídio das populações indígenas 
que aqui já viviam, como também um etnocídio, já que não respeitou toda a cultura já 
existente.
Como uma proposta de “missão civilizadora”, os portugueses vestiram, catequiza-
ram	e	modificaram	o	modo	de	viver	dos	indígenas.	Estes,	considerados	primitivos	e	selva-
gens, deveriam aprender com o novo colonizador o que era ser “gente”. Embora a invasão 
portuguesa tenha ocorrido há vários séculos, é possível ainda hoje perceber o quanto essa 
população sofre com ações etnocêntricas. 
Na	atualidade,	 vemos	 que	 ações	 governistas	 são	 insuficientes	 na	 promoção	 do	
respeito aos indígenas. Com isso, convivemos, diariamente, com esses representantes de 
nossa formação cultural tendo que pedir dinheiro em semáforo para sobreviver em uma 
sociedade que não o incluir, socialmente, e muito menos respeita suas particularidades. 
O fato é que o etnocentrismo se revela como ação de intolerância e preconceito 
cultural, religioso, étnico e político. Esse tipo de manifestação foi sentido de diferentes 
maneiras ao longo da história da humanidade. Hoje em dia podemos sentir seus efeitos na 
ideologia racista da supremacia branca, que se revela na forma de escancarada do racismo. 
29UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
Não podemos esquecer das ações nazistas que mataram seis milhões de judeus 
no mundo todo. E qual era o problema dos judeus para Hitler? Você já parou para pensar 
nisso? 
Pois bem, o Holocausto nos mostra como uma nação, uma pessoa ao se conside-
rar superior, melhor, maior do que a outra pode cometer atrocidades. Para que isso jamais 
possa voltar a acontecer, é preciso defender sempre que existe uma pluralidade de modos 
de viver, pensar, agir e sentir. Por isso, a defesa da diversidade é uma prática que devemos 
exercitar diariamente para que diferentes povos possam conviver em harmonia.
30UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
3 RELATIVISMO CULTURAL
Depois de compreender o que é etnocentrismo, você deve estar pensando como é 
possível não permitir que ele ocorra, não é mesmo? Pois bem, o oposto de ser um etnocên-
trico	é	saber	relativizar.	Mas	afinal,	o	que	isso	significa?	
De maneira geral, relativizar é compreender que não existem regras, normas, va-
lores sociais que são únicos, verdadeiros e absolutos. Isso demanda a noção de que não 
devemos continuar “medindo o outro com a nossa própria régua”. 
Ao falarmos de relativismo cultural, é necessário entender que, ao olharmos para 
uma cultura e compreendermos os elementos simbólicos que fazem parte dela, estamos 
também	refletindo	sobre	a	maneira	como	os	indivíduos	são	condicionados	a	ter	um	modo	
de	viver	a	partir	de	valores,	sentidos	e	significado	criados	por	um	grupo	ou	povo,	em	uma	
determinada sociedade.
A partir dessa percepção de que cada pessoa é produto e produtora de cultura é 
que	fica	claro	o	quanto	o	julgamento	sobre	o	que	é	bom	ou	ruim,	certo	ou	errado,	melhor	
ou pior não pode ocorrer sem que possamos nos tornar etnocêntricos. Por essa razão é 
que o relativismo cultural é fundamental para a prática do olhar para o outro de maneira a 
reconhecer que somos diferentes.
Vale ressaltar que os usos, hábitos e costumes de um povo ou grupo social deve ser 
entendidos a partir do momento que o “nativo” expressa para o outro toda a particularidade 
31UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
de seus ritos. Por isso, enxergar as ações desse outro pela ótica do eu pode gerar juízos 
de valor que impedirão ele ser e se manifestar como quiser.
Ter	um	olhar	relativizado	significa	que	nos	propomos	a	nos	colocar	no	lugar	do	ou-
tro. Muitos chamam isso de empatia. Entretanto, a empatia não pode ser entendida apenas 
como estar no lugar de outra pessoa, mas sim que, mesmo sem nunca ocupar aquele 
espaço, somos capazes de entender e lutar para que ela tenha seu direito garantido.
Sem dúvida que ao entendermos o conceito de relativismo cultural estaremos mais 
propensos a nos afastarmos dos (pre)conceitos, da intolerância e da discriminação que 
assola nossa sociedade. Um relativista defende que seja impossível acreditar numa mani-
festação unívoca e universal para todos os grupos sociais. 
Na verdade, o que existe são ações e percepções diferentes sobre o que venha ser 
bom, justo, belo. Tudo isso construído por meio da vivência social. Por isso, cada sociedade 
terá sua forma de perceber e atuar no mundo.
Para	os	relativistas,	é	impossível	afirmar	que	exista	uma	concepção	de	bom,	belo,	
gostoso	e	benéfico	que	seja	unívoca	e	universal	para	todos	os	povos,	independentemente	
de	seu	tempo	e	espaço	ocupado.	Para	esses,	o	que	é	bom,	belo,	gostoso	e	benéfico	são	
percepções construídas socialmente.
Assim sendo, o relativismo cultural pode ser representado pela ideia de que não há 
valores morais absolutos. Uma cultura existe a partir dos códigos, costumes, convenções 
e práticas encontradas dentro de diferentes manifestações culturais que não são melhores 
ou piores. 
A	definição	do	que	é	moralmente	 certoou	errado	 será	 aceito	 por	meio	 de	uma	
tradição mantida e repassada. Dessa maneira, não tem nenhum sentido para um relativista 
dizer, por exemplo, que o aborto, em qualquer circunstância, deve ser moralmente conde-
nável. 
Isso	significa	que,	para	entendermos	uma	questão	importante	como	essa,	se	faz	
necessário compreender a situação e o meio que ela está sendo pensada e gerada. Cada 
sociedade decide como lidar com a liberdade corporal das mulheres e a ideia de vida. Por 
isso, não somos iguais.
O fato é que diferentes culturas têm diversos pontos de vista sobre questões 
morais, logo torna-se impossível defender ou pensar em valores morais absolutos. Não 
existindo uma verdade moral única sobre qualquer coisa, é muito importante que estejamos 
dispostos a olhar uma cultura de modo particular.
32UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
4 IDENTIDADE
Se neste momento eu lhe perguntasse qual sua identidade, como você responde-
ria? Será que aquela imagem que está no documento de identidade representa exatamente 
quem você é? Pois bem, saber quem somos faz parte de entendermos como nos diferen-
ciamos das demais pessoas com quem convivemos e nos tornamos alguém único.
Quando falamos de identidade podemos entender o conceito como um espaço de 
pertencimento	se	estamos	refletindo	sobre	o	lugar	que	habitamos	ou	nos	reconhecemos	
em grupo. Por isso, a ideia de identidade cultural pode ser entendida como cada sociedade 
elabora	sua	própria	cultura	a	partir	das	influências	e	do	encontro	com	outras	manifestações	
que vão determinando a maneira como cada grupo irá agir no cotidiano. 
Para o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2005), vivemos em uma sociedade 
moderna	que	se	caracteriza	pela	liquidez.	Isso	significa	que	as	nossas	ações	são	rápidas	e	
fluídas,	por	essa	razão	os	laços	que	estabelecemos	com	o	próximo	são	líquidos.	Para	ele,	
a	descoberta	da	identidade	pode	ser	identificada	como	problemática	quando	se	pretende	
defini-la	apenas	de	maneira	única.	Assim,	a	nossa	existência	individual	pode	ser	entendida	
como fragmentada. Com isso, somos muitos, ao mesmo tempo que habitamos apenas um 
corpo.
Se eu perguntasse a você como seria a sua maneira de se representar, o que você 
me diria? A questão “quem eu sou” é muito antiga e profunda. Ela pode ser pensada de 
diferentes formas. Desta maneira, você pode ser homem ou mulher, casado ou solteiro, tor-
33UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
cer	por	um	determinado	time	de	futebol,	ser	atleta,	professor,	filho,	filha,	sacerdote,	médica,	
pastora,	patroa,	sócia,	proprietária,	estudante,	presidente,	amigo.	Enfim,	cada	uma	dessas	
facetas	pode	te	definir.	Assim	sendo,	você	é	uma	variável	de	representações	identificadas	
por ti e pelos outros.
Por	 isso,	Bauman	 (2005)	 acreditava	 que	 as	 identidades	 flutuam	no	 ar,	 algumas	
são escolhas nossas e outras precisamos ter cuidado para não serem nos dadas pelos 
outros como forma pejorativa, preconceituosa e opressora. Vale ressaltar que é você que, 
primeiro, precisa se reconhecer em sua particularidade.
Falar de identidade é tentar compreender um conceito discutido há poucos anos 
em nossa sociedade. A cada mudança social e cultural vemos a necessidade de alguns 
grupos sociais lutarem pelo reconhecimento. Com certeza você já deve ter visto, vivido e 
até mesmo provocado atos de cunho preconceituoso, não é mesmo? Chamado muitas ve-
zes de brincadeira, essas atitudes com objetivo de desmerecer o outro por meio de alguma 
coisa que somente ele possui ou é tida pela sociedade como fora do padrão.
É	preciso	entender	que	nenhuma	brincadeira	pode	tirar	o	direito	da	pessoa	de	ser	
quem ela é e se manifestar dessa maneira. Por isso, só começamos a perceber quem 
somos quando isso começa a fazer parte do nosso cotidiano: “[...] perguntar quem é você 
só faz sentido se você acredita que possa ser outra coisa além de você mesmo; só se você 
tem uma escola, e só se o que você escolhe depende de você…” (BAUMAN, 2005, p. 25).
Embora pareça óbvio, ser quem somos não é algo fácil, em especial, se você é 
alguém que o coletivo social chama de minoria. As minorias sociais são grupos que estão à 
margem da sociedade – grupos excluídos por sua cor de pele, crença religiosa, orientação 
sexual. Em geral, essas populações são discriminadas por serem quem são. Não se bene-
ficiam	com	as	estruturas	de	poder	impostas	pelo	racismo,	que	é	evidenciado	em	agressões	
físicas, psicológicas e simbólicas, que cerceiam a manifestação da sua identidade.
Nos últimos anos tem-se noticiado cada vez mais episódios de racismo, tanto no 
Brasil como em outros países, e isso tem levantado a inúmeros debates em nossa sociedade. 
Em pleno século XXI precisamos problematizar e desnaturalizar atitudes que não deveriam 
fazer mais parte do nosso dia a dia. Além de cenas de desrespeito ao próximo, somos reco-
nhecidos como o país que mais comete crimes contra homossexuais e pessoas trans. 
Os números são realmente alarmantes e chocam aqueles que acreditam que cada 
um pode ser o que e como quiser: “As identidades ganharam livre cursos, e agora cabe a 
cada indivíduo, homem ou mulher, capturá-las em pleno voo, usando seus próprios recursos 
e ferramentas” (BAUMAN, 2005, p. 35).
34UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
Vale ressaltar que somos nós que promovemos nossa própria identidade. Por isso, 
estamos em constante mudança a partir daquilo que vivenciamos e absorvermos quando 
cidadãos do mundo. Observar o meio em que vivemos e as pessoas que fazem parte dele 
pode nos auxiliar nessa descoberta variável de quem somos.
Stuart Hall (2015) foi um outro importante sociólogo que se dedicou a estudar a 
questão da identidade. Em sua obra A identidade cultural na pós modernidade ele nos 
convida	a	pensar	sobre	ela	também	como	algo	em	construção,	não	unificada	e	que	somos	
compostos	por	várias	identificações.	O	indivíduo	moderno	pode	ser	entendido	por	identi-
dades	fragmentadas	e	isso	ocasionou	o	que	o	autor	identificou	como	“crise	de	identidade”.	
Essa crise pode ser entendida como parte de um todo social em mudança, em que 
as identidades modernas estão em um processo de descentralização e deslocamento. Isso 
significa	que,	no	mundo	contemporâneo,	aquilo	que	era	tido	como	estável	e	imutável	já	não	
é mais. Isso vem ocasionando uma crise imensa naqueles que ainda gostam de entender 
o mundo apenas em preto e branco.
Segundo Hall (2015), é possível distinguir três concepções distintas de identidade: 
● Sujeito do Iluminismo:	indivíduo	totalmente	centrado,	unificado	e	dotado	das	
capacidades de razão, de consciência e de ação centrado na pessoa do “eu”. 
Uma concepção do ser individualista.
● Sujeito Sociológico: esse é formação pela relação com outras pessoas que o 
influenciavam	e	podiam	ser	influenciadas	por	ele.	Interação	entre	o	eu	e	o	outro	
que permeiam a compreensão do mundo pessoal e público.
● Sujeito pós-moderno: a mudança do sujeito que possuía uma identidade es-
tável	e	unificada,	mas	que	se	percebe	vivenciando	uma	nova	sociedade	mais	
fragmentada e capaz de gerar várias identidades. Esse indivíduo marcado pela 
pós-modernidade	não	tem	uma	identidade	fixa,	essencial	ou	permanente.	Ele	
se	modifica	continuamente,	pois	se	define	por	meio	da	história	dinâmica.	Assim,	
pode assumir identidades distintas em momentos variados de sua existência.
Diante dessas perspectivas, Hall (2015) compreendeu que os sujeitos pós-moder-
nos são capazes de representar o contrário do que até então era propagado como identida-
de,	unificada,	segura,	coerente,	estável	e	imutável.	Afirmando	que	a	partir	do	momento	que	
os	sistemas	de	significados	e	de	representação	cultural	tem	se	modificado	e	multiplicado,	
somos	postos	frente	a	frente	com	uma	infinidade	de	identidades	que	podemos,	em	algum	
momento, chamar de “nossa”.
35UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
Assim sendo, quando falamos de identidade precisamos ter em mente que,diante 
de um mundo globalizado e da possibilidade de conhecermos, convivermos e trocarmos 
experiências variadas com as mais diversas nações, pessoas e manifestações culturais. 
Seria impossível pensarmos que podemos ser apenas um tipo de pessoa.
Ao fazermos parte desse mundo, estamos a todo momento aprendendo com outras 
coisas novas, nos reconhecendo ou não com dinâmicas diferenciadas que podem nos au-
xiliar na forma como nos percebemos e entendemos o mundo.
Depois de tudo isso que você descobriu até agora, seria possível me dizer quantas 
identidades possui? 
SAIBA MAIS
Você sabia que na Índia as pessoas trans são tratadas como o terceiro gênero e respei-
tadas por lei?
Conhecidas como hijras, são consideradas sagradas na tradição hindu. Por essa razão, 
até hoje, elas são chamadas para abençoar casamentos na zona rural. Por outro lado, 
acredita-se que matar, agredir ou desagradar uma delas resultaria em uma maldição 
para a vida toda. Essa superstição ajuda a prevenir ataques transfóbicos nos redutos 
mais conservadores e no interior do país.
Fonte: a autora
REFLITA 
Quando chamamos alguém de louco, o que de fato queremos dizer? E quando alguém 
nos chama de louco, será que se trata de alguma questão de fato mental?
“Às vezes não tenho tanto a certeza de quem tem o direito de dizer quando um homem 
é louco e quando não é. Às vezes penso que não há ninguém completamente louco tal 
como não há ninguém completamente são até a opinião geral o considerar assim ou 
assado.	É	como	se	não	fosse	tanto	o	que	um	tipo	faz,	mas	o	modo	como	a	maioria	das	
pessoas o encara quando o faz” (William Faulker).
Fonte: Becker (2008).
36UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desmistificar	o	olhar.	Essa	foi	a	proposta	dessa	unidade.	
Espero	que	ao	término	da	leitura	você	possa	ter	reafirmado	a	noção	de	que	culturas	
são diferentes. Por isso, devemos respeitar o outro exatamente como ele é. 
Iniciamos nossas discussões falando da ideia da relação entre eu e o outro. Muitas 
vezes	ela	se	configura	baseado	em	muito	preconceito	e	discriminação	quando	somos	inca-
pazes de entender as razões que nos difere. Com isso acabamos por rotular aqueles que 
não seguem os mesmos padrões considerados por nós como corretos.
Quando uma pessoa não segue regras pré-estabelecidas pelo todo social, vimos que 
é possível caracterizá-la como outsider, ou seja, alguém que, segundo aqueles que seguem 
as regras, não permite o equilíbrio social, pois está fora daquilo que é tido como ações verda-
deiras. Mas será mesmo que os outsiders existem ou são apenas intitulados como? 
Pois bem, vimos que quem pode determinar o que somos é o outro. Dependendo 
da sua posição social, será ele que dirá quem é louco, bonito, feio, certo ou errado. Sendo 
assim, ao rotular alguém, sempre existirá o outro lado que pode concordar ou não. 
Em nome de uma sociedade civilizada, correta e moralmente perfeita, muitas 
pessoas	e	grupos	torna-se	etnocêntricos.	Como	vimos,	o	etnocentrismo	significa	que	uma	
cultura tende a se ver e sentir como superior, melhor, boa em relação a outra. Isso explica, 
por exemplo, as ações dos invasores portugueses que, ao chegar no Brasil, cometeram 
atos de genocídios e etnocídios em relação aos indígenas. Tudo isso em nome de uma 
“Missão Civilizadora” que, na verdade, tinha como objetivo impor aos índios regras morais 
que não faziam o menor sentido para eles. 
Para que não sejamos etnocêntricos, é possível desenvolvermos um olhar de 
respeito ao outro e a sua cultura a partir do momento que conseguimos compreender suas 
particularidades. Neste sentido é que repulsa o conceito de relativismo cultural responsável 
por permitir que tenhamos uma visão não punitiva e nem julgadora, mas sim respeitosa em 
relação às diferenças, podendo, assim, preservá-las.
Por	fim,	para	que	uma	nova	maneira	de	compreender	o	mundo,	as	culturas,	povos	
e grupos como diferentes, se faz necessário compreender a nossa própria identidade. 
Aprendemos	que	ela	pode	ser	múltipla	e	fluída.	Por	 isso,	 cada	um	 tem	o	direito	de	ser	
exatamente aquilo que deseja e necessita ser respeitado.
37UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
LEITURA COMPLEMENTAR
Respeitar	as	diferenças	é	um	desafio	diário,	pois	é	no	cotidiano	que	corremos	o	
risco de ser preconceituosos e discriminatórios. Para que isso não ocorra, devemos estar 
atentos em nossas atitudes, sem julgar os costumes, hábitos, forma de ser e agir de um 
determinado povo ou grupo.
Pensando em tudo que conversamos até agora, te convido a ler o texto: De uma 
Branca para Outra, da jornalista Eliane Brum. Espero que você esteja disposto(a) a deixar 
seu lugar de conforto e privilégio de lado para olhar em um horizonte cheio de aprendizado.
Fonte: BRUM, E. De uma Branca para Outra. El País, fev. 2017. Disponível em: https://brasil.elpais.com/
brasil/2017/02/20/opinion/1487597060_574691.html. Acesso em: 15 ago. 2020.
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/20/opinion/1487597060_574691.html
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/20/opinion/1487597060_574691.html
38UNIDADE II Respeito às Diferenças: Eu e o Outro
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO 
• Título: Identidade
• Autor: Zygmunt Bauman
• Editora: ZAHAR
• Sinopse: Identidade volta a uma questão central do pensamento 
de Zygmunt Bauman em alguns de seus livros: no mundo de hoje, 
qual é o espaço do eu e do outro? Qual é a medida da liberdade in-
dividual? E do respeito ao próximo, com todas as suas diferenças? 
É	 possível	 construir	 uma	 identidade	 sem	 levar	 a	 alteridade	 –	 o	
outro – em conta? A sobrevivência de um Estado-nação moderno 
pode	 se	 afirmar	 na	 falência	 ou	 na	 negação	 de	 outros	 estados?	
Nessa entrevista que concedeu ao jornalista italiano Benedetto 
Vecchi, um dos maiores teóricos da atualidade, mostra como a 
identidade se tornou um conceito-chave para o entendimento da 
vida social na era da “modernidade líquida” – termo que Bauman 
cunhou para falar do esgarçamento das relações na atualidade. 
Segundo o sociólogo, à medida que nos deparamos com as 
incertezas e as inseguranças da “modernidade líquida”, nossas 
identidades	 sociais,	 culturais,	 profissionais,	 religiosas	 e	 sexuais	
sofrem um processo de transformação contínua. Isso nos leva a 
buscar relações transitórias e fugazes e faz com que soframos as 
angústias inerentes a essa situação. A confusão atinge os valores, 
mas também as relações afetivas: “Estar em movimento não é 
mais uma escolha: agora se tornou um requisito indispensável”, 
afirma	Bauman.
FILME/VÍDEO
• Título: Ninguém sabe que estou aqui.
• Ano: 2020
• Sinopse: é a história de Memo (Jorge Garcia), morador de uma 
remota fazenda de ovelhas no Chile, que esconde sua linda voz 
do mundo. Traumatizado por acontecimentos do passado, ele vive 
de maneira solitária, até que uma mulher lhe oferece a chance de 
encontrar a paz que tanto procura.
WEB 
• Propaganda - Identidade - Fernando Meirelles.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=yKG8no8OKDg.
Acesso em: 14 ago. 2020.
https://www.youtube.com/watch?v=yKG8no8OKDg
39
Plano de Estudo:
●	 Cultura Material e Imaterial
●	 Antropologia das religiões
●	 Sincretismo religioso no Brasil
●	 Religiões afro brasileiras: Candomblé e a Umbanda
Objetivos de Aprendizagem:
●	 Conceituar a diferença entre cultura material e imaterial
●	 Compreender a importância dos estudos da antropologia da religião
●	 Refletir	sobre	o	sincretismo	religioso	no	Brasil
●	 Conhecer as principais religiões de matriz africana que fazem parte da cultura brasileira
UNIDADE III
Antropologia Brasileira e o 
Sincretismo Religioso
Professora Mestra Renata Oliveira dos Santos
40UNIDADE III Antropologia Brasileira e o Sincretismo Religioso
INTRODUÇÃO
Chegamos a nossa Unidade III e nela você será convidado(a) a aprofundar um 
pouco mais seus conhecimentos em relação à antropologia e à religião. Será que você já 
conhece algo sobre as religiões de matriz africana que temos emnosso país? Ou apenas 
tem reproduzido saberes que não são verdadeiros?
Faço esses questionamentos a você, pois quando não conhecemos algo corremos 
o risco de nos tornar pessoas etnocêntricas, discriminatórias e também preconceituosas. 
Você sabia que pessoas que profetizam as religiões afro brasileiras muitas vezes 
são	atacadas	fisicamente	por	fazerem	parte	de	uma	denominação	religiosa	tida	como	ruim?	
Isso acontece por falta de conhecimento. Por isso, vamos compreender sobre a história e a 
importância do Candomblé e da Umbanda para a formação cultural de nosso país 
Novamente,	reafirmamos	que	é	preciso	compreender	que	culturas	são	diferentes	e	
as manifestações religiosas, tidas como um fenômeno social, também são distintas entre si. 
Sabendo	disso,	todas	necessitam	ser	respeitadas	em	suas	especificidades.
Como brasileiro, um dos principais traços da nossa cultura religiosa é sermos, em 
grande	maioria,	sincréticos	em	nossas	manifestações	de	cunho	 religiosas.	Mas,	afinal	o	
que	isso	significa?	
Bom, você verá que no dia a dia somos capazes de misturar as crenças mais 
diversas e conviver como símbolos que são importantes para denominações religiosas 
diferentes. Por isso, somos um país tão especial quando falamos de cultura.
Vamos começar essa nova aventura do saber?
BONS ESTUDOS!
41UNIDADE III Antropologia Brasileira e o Sincretismo Religioso
1 CULTURA MATERIAL E IMATERIAL
Você já deve ter percebido que a cultura é algo muito importante para a compreen-
são dos grupos e povos de todo mundo. Ela nos ajuda a entender que cada pessoa sofrerá 
influências	diversas	para	a	sua	formação	social	e,	assim,	verá	o	mundo	com	perspectivas	
que	irão	se	modificar	a	partir	do	momento	que	seu	contato	com	a	realidade	for	permeado	
por contatos e ações variadas.
Segundo Oliveira (2001), para conhecermos um determinado povo, devemos pres-
tar atenção aos elementos que os formam, representados pelos traços culturais; complexo 
cultural; área cultural; padrão cultural; subcultura.
● Traços Culturais: são considerados os elementos mais simples de uma cultura 
que	 só	 tem	 sentido	 e	 significado	 quando	 entendida	 dentro	 de	 uma	 cultura	
específica.	Ex.:	adornos	religiosos,	uso	das	tecnologias	culturais.
● Complexo Cultural: representado pela combinação de traços culturais que são 
reproduzidos em uma atividade básica. Ex.: futebol, cujo traços culturais são a 
bola, o campo, o juiz, a torcida, os jogadores, as comidas do estádio etc. Tudo 
isso combinado torna-se um complexo de coisas. Por isso, muitos cronistas de 
futebol gostam de repetir a frase: “Não é apenas futebol”.
●	 Área	 Cultural:	 trata-se	 da	 região	 geográfica	 em	 que	 o	 complexo	 cultural	 se	
manifesta. Por isso, os indivíduos que vivem em determinadas áreas são seme-
lhantes	entre	si,	seja	física	ou	socialmente.	Muitos	afirmam	que	as	pessoas	que	
42UNIDADE III Antropologia Brasileira e o Sincretismo Religioso
moram em cidades mais frias têm a tendência a ser mais fechadas e outras que 
residem em locais mais quentes podem ser mais animadas e alegres. Você já 
reparou nisso?
● Padrão Cultural:	talvez	esse	seja	o	traço	mais	influenciador	de	uma	cultura.	Os	
padrões podem ser entendidos como normas e regras estabelecidas pela so-
ciedade que determinam como nós, indivíduos sociais, devemos agir, nos vestir, 
falar e, até mesmo, pensar. Assim, um padrão cultural determina que tipo de 
pessoa você deve ser. Como vimos, aqueles que fogem dessas determinações 
são chamados de outsiders.
● Subcultura: é uma maneira diferente de se comportar ou agir por meio de 
regras de grupos que fazem parte de uma cultura maior. Não entendeu? Pois 
bem, é como se existisse um grupo dentro de outro grupo. Em geral, podemos 
encontrar, na subcultura, elementos da cultura, porém seus símbolos, normas, 
regras	e	valores	sociais	são	específicos.	Ex.:	Tribos	Urbanas.
Esses elementos da cultura nos ajudam a compreender a diferença entre cultura 
material e imaterial. Entendido pelo conceito de patrimônio. Você sabia que existe um con-
junto de bens culturais móveis e imóveis no país? Pois bem, é muito importante pensar em 
sua conservação, porque se trata de um bem público, que nos auxilia a preservar a história, 
a	memória	de	todo	país.	No	sentido	arqueológico,	etnográfico,	bibliográfico,	literário,	artís-
tico,	todo	elemento	que	nos	identifique	como	sendo	brasileiros.
No caso da cultura material, existe uma lei que a protege, regulada pelo Decreto 
Lei nº 25, de 1937, da Constituição Federal, em seus artigos 215 e 216, e Decreto Lei nº 
3.551/2000, que determina quais ações podem ser tomadas em relação à preservação 
material, são elas:
● Tombamento: este é considerado o instrumento mais antigo de proteção. Cabe 
a ele proibir a destruição de bens culturais tombados. Ou seja, determinando 
que esse bem não possa ser demolido e nem alterado. Essa determinação 
ocorre depois de um processo administrativo, que pode ser bem demorado. 
Após tombado, o patrimônio pode ser inscrito em um dos quatro Livros do 
Tombo instituídos pelo Decreto Lei nº 25/1937: Livro do Tombo Arqueológico, 
Etnográfico	e	Paisagístico;	Livro	do	Tombo	Histórico;	Livro	do	Tombo	das	Belas	
Artes; e Livro do Tombo das Artes Aplicadas;
43UNIDADE III Antropologia Brasileira e o Sincretismo Religioso
● Valoração do Patrimônio Cultural Ferroviário: responsável pela guarda e 
manutenção do espólio da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Bens 
ferroviários que não fazem parte do espólio da RFFSA têm sua proteção feita 
por meio de tombamento; 
● Chancela: instituído pela Portaria Iphan nº 127/2009, reconhece a importância 
cultural de certas regiões do território nacional, que representam os processos 
que permitem a interação do homem com o meio natural. A chancela é utilizada 
para promover a parceria entre o poder público, a sociedade civil e a iniciativa 
privada. Tendo como intuito compartilhar a manutenção do território nacional 
na preservação da nossa história e da relação entre o homem e o meio natural. 
Já em relação à cultura imaterial, a ideia de patrimônio é pensada como as práti-
cas	e	o	domínio	dos	códigos,	sentidos	e	significados	sociais	que	influem	na	formação	do	
indivíduo: normas sociais, religião, costumes, ideologias, ciências, arte, lendas, tradições, 
celebrações, rituais.
Vale ressaltar que o patrimônio imaterial não continua existindo, pois é transmitido 
por gerações. Sendo repensado e retransmitido constantemente entre os grupos. Essa é 
uma maneira de manter viva as tradições dos povos e conservar a história dos ancestrais. 
Assim, é possível preservar a história e a identidade. 
O conceito de patrimônio imaterial pode ser entendido pelo cuidado e a manuten-
ção de expressões e tradições de um determinado povo por meio do respeito ao passado, 
sua vivência no presente e sua continuidade no futuro. Ex.: a festa do bumba meu boi; as 
romarias religiosas, a festa de Santo Reis, a festa junina entre outras.
44UNIDADE III Antropologia Brasileira e o Sincretismo Religioso
2 ANTROPOLOGIA DAS RELIGIÕES
Quando falamos sobre cultura, um dos aspectos mais marcantes da representati-
vidade de um povo é, sem dúvida, a religião. As denominações e manifestações religiosas 
são características fundamentais da formação de um grupo e da maneira como essas 
pessoas observam e atuam no meio em que vivem. 
A religião é um fenômeno da nossa sociedade. Ela está presente em diferentes 
territórios e das formas mais variadas. Porém, infelizmente, existem pessoas que acreditam 
que a manifestação religiosa deva ser representada por apenas um tipo religioso. Isso 
promove o que chamamos de fundamentalismo religioso.
Aqueles que proferem um tipo de religião e acreditam que sua fé é a verdadeira, 
única e salvadora são capazes de ações de intolerância e desrespeito. O fundamentalismo 
não consegue dialogar com outras denominações religiosas, não entendem os diferentes 
livros sagradosexistentes e nem os rituais. Sem conhecimento, são capazes de matar em 
nome da fé. Um fundamentalista acredita ser um escolhido de Deus e em nome disso pode 
atuar na sociedade arrebatando aqueles que estão “perdidos”. 
Esse tipo de pensamento não permanece apenas na esfera da religião, ele já 
permeia ações políticas, educacionais, trabalhistas. Ou seja, está intrinsecamente ligado à 
sociedade e, por isso, é preciso muita atenção para que não se estabeleçam relações de 
ódio entre as pessoas.
45UNIDADE III Antropologia Brasileira e o Sincretismo Religioso
A antropologia da religião ou antropologias das religiões compreende as manifes-
tações religiosas como um espaço de práticas e crenças promovidas por seres humanos. 
Ela	desenvolve	análises	científicas	em	relação	aos	fenômenos	religiosos	que	são	essen-
cialmente humanos. 
Para Gaglianone (2016), os estudos antropológicos focados na religião têm desen-
volvido	obras	fantásticas	para	o	seu	entendimento.	Uma	dessas	investigações	exemplifica	
o autor está no livro: Imagens e Símbolos, desenvolvido pelo autor Mircea Eliade. A leitura 
dessa obra nos ajuda a compreender que os símbolos têm por função transmitir uma men-
sagem, mesmo que a gente não o entenda em um primeiro momento. Parece confuso? 
Mas	não	é.	Por	exemplo,	caso	você	chegue	em	qualquer	lugar	e	tenha	um	crucifixo	pendu-
rado na parede, mesmo que você não pertença a nenhuma religião cristã, é possível que 
saiba interpretar o que aquele símbolo representa, não é mesmo? Muitas vezes nós nem 
prestamos atenção de maneira consciente, apenas percebemos aquela representatividade 
tão presente no cotidiano.
Para Eliade (1991), é possível entender que o pensamento simbólico vem antes 
mesmo da linguagem falada, do discurso a ser realizado para sua explicação. Sabe por 
quê?	É	que	o	símbolo	tende	a	revelar	certos	aspectos	da	realidade	que	desafiam	qualquer	
outro meio de conhecimento. Sendo assim, você deve já ter entendido que as imagens, os 
símbolos e os mitos são extremamente poderosos quando são capazes de transportar o ser 
humano para o mundo espiritual muito mais amplo.
Nesse sentido, a antropologia da religião tem por fundamento a realização de uma 
análise do mundo simbólico da religião. O pensamento mágico é considerado algo fundante 
para a crença no mito, no que não se pode ver. Por isso, muitas sociedades antigas, ao 
tentarem estabelecer uma relação com seus deuses, tinham por objetivo a crença de que 
esses seriam responsáveis por promover uma colheita promissora. Auxiliar na guerra e na 
caça. Prever desastres naturais e criar uma relação entre o mundo dos vivos e dos mortos.
Se	você	parar	para	pensar,	essa	ideia	ainda	se	produz	na	atualidade.	É	só	você	
refletir	por	que	as	pessoas	procuram	uma	religião.	Muitas	vezes	os	ritos	são	realizados	em	
forma de agradecimentos e também de pedidos, esperando que sempre o sagrado nos 
proteja de todo mal. 
Para um importante antropólogo, chamado Marcel Mauss (2013), as relações em 
sociedade consistente em trocas simbólicas realizadas a partir de alianças tidas por ele 
como dádivas. Segundo esse autor, as relações humanas estão baseadas em dar e rece-
ber, ou seja, estabelecer alianças recíprocas. 
46UNIDADE III Antropologia Brasileira e o Sincretismo Religioso
Assim, essa relação não implica apenas em trocas materiais, como também, espiri-
tuais e de almas. Vale ressaltar que essas trocas serão baseadas em cada particularidade 
cultural. Por isso, a antropologia da religião é responsável por investigar suas mais variadas 
representações, reconhecendo a diversidade entre elas.
O fato é que ao se permitir conhecer a religião de um povo, o antropólogo vai se 
dedicar ao estudo de elementos religiosos existentes em culturas variadas. Com o objetivo 
de entender o que aquele grupo tende a manifestar na questão do sagrado e do profano. 
A dimensão da ideia de sagrado faz com que a antropologia da religião possa 
apenas estudar uma parcela de suas representações na sociedade. Trata-se de um campo 
vasto	de	pesquisa	e	que	pode	a	todo	momento	se	modificar.	
Faz-se necessário destacar que os estudos realizados da Antropologia da Religião 
se relacionam com manifestações concretas da experiência religiosa, observáveis e aces-
síveis à análise. Ou seja, o objeto de estudo é perceptível pela observação e demanda toda 
atenção do olhar do antropólogo. 
Para compreender uma determinada manifestação religiosa, esse pesquisador 
deverá ser capaz de ver e ouvir aquilo que o nativo, ou seja, o manifestante daquela fé 
está lhe contando. Jamais o antropólogo será capaz de traduzir tudo que vivenciar, pois a 
representação	de	uma	cultura	é	específica	para	aqueles	que	a	proferem.
47UNIDADE III Antropologia Brasileira e o Sincretismo Religioso
3 SINCRETISMO RELIGIOSO NO BRASIL 
Com toda certeza você já deve ter caminhado por sua cidade. Se você fez esse 
tipo andança, deve ter reparado que a religião está presente em vários momentos. Seja por 
meio das inúmeras igrejas existentes ou templos, mesquitas, terreiros e casas de orações. 
Quando nos propomos a estudar Antropologia, o que vai nos acontecer é que 
nosso olhar, até então bem restrito, vai começar a se desenvolver, no sentido de que é 
preciso ver além para poder entender que somos diferentes e isso implica na maneira como 
entendemos a fé e suas manifestações.
Como	já	sabemos,	a	convivência	pacífica	entre	as	culturas	diferentes	e	as	religiões	
só é possível quando compreendemos que não existe algo nem melhor ou pior, maior 
ou	menor,	 superior	ou	 inferior.	Afinal,	 vivemos	e	proferimos	nossas	crenças	de	maneira	
diferente e isso precisa ser respeitado. 
As manifestações religiosas são um marco na formação humana. Desde sempre 
estamos rodeados de símbolos que nos remetem alguma relação entre o eu e o sagrado. 
Crucifixos,	fitinhas	amarradas	no	braço,	 livros	sagrados,	rituais	de	 iniciação	e	conversão	
que fazem sentido para quem os pratica e também aqueles que se propõem a aprender 
sobre coisas que desconhecem. 
Somente através de muita leitura e estudos somos capazes de não sermos pre-
conceituosos e promover uma sociedade mais harmônica. Capaz de conviver com as 
diferenças entre as pessoas, suas crenças e manifestações religiosas. 
48UNIDADE III Antropologia Brasileira e o Sincretismo Religioso
Você sabe que vivemos em um país muito misturado, não é mesmo? Aqui se formou 
uma	cultura	que,	sobre	três	grandes	influências,	forma	nossa	sociedade	brasileira.	Como	
diz Darcy Ribeiro, em sua obra clássica, O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil 
(1995),	somos	formados	da	confluência	do	invasor	português,	com	os	índios	donos	da	terra	
brasilis e o escravo africano. 
Dessa mistura de culturas nasceu uma nova identidade de povo, chamado de 
brasileiro.	Realmente,	ser	brasileiro	deveria	ser	 identificado	como	uma	raça,	pois	somos	
o	emaranhado	de	muitas	nações	e	culturas.	Diante	de	tantas	confluências,	você	deve	ter	
percebido que falar de religião não é uma tarefa fácil, pois pensar as manifestações de fé 
no	Brasil	é	refletir	sobre	suas	misturas	e	representações	mais	variadas.	
O	sincretismo	religioso	faz	parte	do	cotidiano	de	nossas	ações.	Mas,	afinal	o	que	
esse	conceito	significa?	Bom,	trata-se	de	uma	espécie	de	conexão	entre	diferentes	dou-
trinas religiosas capaz de criar algo novo. Sabemos que a palavra sincretismo se traduz 
tanto na representação “synkretismós”, que vem do grego, como também “syncrètisme”, de 
origem francesa.
Quando	falamos	sobre	sincretismo	religioso,	estamos	refletindo	sobre	o	convívio	
entre diferentes religiões, seus costumes, rituais e tradições e sua relação entre diversos 
grupos. 
Com a convivência, diversos elementos culturais vão sendo absorvidos por culturas 
diferentes,	 se	 adaptando	 ao	meio,	 ressignificando	 suas	 ações.	Mesmo	que	 ocorra	 uma	
fusão cultural entre grupos diversos, vale dizer que a originalidade da doutrina é mantida,

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