a solidariedade ou sentimento de interdependência que o ser humano possui em relação ao outro. Não é possível existir sociedade sem tal princípio, de tal maneira que a vida coletiva pressupõe, para Durkheim, a formação de um contexto que possui vida própria, para além das vontades individuais. A sociedade se sobrepõe ao indivíduo. Assim, todo grupo existe segundo o desenvolvimento de regras comuns a partir das quais a vida social é possível. A divisão do trabalho no capitalismo se intensifica em função do aumento do volume da população. Esse aumento leva a uma maior aproximação dos membros da sociedade, no espaço físico, e maior comunicação e interdependência, no espaço social. Durkheim considerava que a crescente divisão do trabalho, levava a um aumento da solidariedade entre os homens, pois a especialização das atividades dos indivíduos aumentava a dependência entre eles, unindo-os e reforçando a coesão e solidariedade social. Em sua obra A divisão do trabalho social, Durkheim relaciona a divisão do trabalho social à ordem moral. A divisão do trabalho resultaria na relação de cooperação e de solidariedade entre os homens. No entanto, como as transformações sócio-econômicas eram aceleradas nas sociedades européias capitalistas, inexistia um novo e eficiente conjunto de idéias morais que pudesse guiar o comportamento dos indivíduos, isso levava ao mau funcionamento da sociedade. Durkheim identifica a existência na história das sociedades de dois tipos de solidariedade: a mecânica e a orgânica. A solidariedade mecânica surge nas sociedades simples e tradicionais, onde os indivíduos se identificam por meio da família, da religião, da tradição, dos costumes. É uma sociedade que tem coerência porque os indivíduos ainda não se diferenciaram e reconhecem os mesmos valores, os mesmos sentimentos, os mesmos objetos sagrados, porque pertencem a uma coletividade. Os indivíduos compartilham a tal ponto padrões de conduta que não há grande diferenciação entre eles, pois numa tribo ou cidade do interior, o padrão moral se efetiva sobre os 6 indivíduos a tal ponto que o que é válido para um, também, é aos demais. Existe uma forte imposição moral nessas sociedades tradicionais. A solidariedade orgânica surge nas sociedades mais complexas e modernas, onde existe uma maior divisão do trabalho e uma maior individualidade, pois as pessoas criam autonomia em relação à consciência coletiva. Por meio da divisão do trabalho social, os indivíduos tornam-se interdependentes, garantindo, assim, a união social, mas não pelos costumes, tradições. Assim, o efeito mais importante da divisão do trabalho não é o aumento da produtividade, mas a solidariedade que gera entre os homens. Nas grandes cidades industriais, observadas por Durkheim no final do século XIX e início do XX, as relações sociais não estavam pautadas pela intensa imposição moral presente nas sociedades simples e tradicionais. A presença do individualismo e da diversidade causavam a perda de coesão e do consenso da vida em sociedade. 4. O normal e o patológico – o conceito de anomia Durkheim caracterizou o fenômeno social de normal ou patológico. Para ele, o fenômeno pode ser considerado normal se for encontrado na sociedade de forma generalizada, não coloque em risco a integração social e esteja dentro de um determinado nível. O crime é um fenômeno normal, pois é encontrado em todas as sociedades de todos os tipos, é geral, e, ao mesmo tempo em que, ao se impor a punição, serve para lembrar e fortalecer os valores de toda sociedade. Fato social normal é geral, recorrente e que favorece a integração social. Fato social patológico é excepcional, transitório e põe em risco a integração social. Para ele, o suicídio também é normal, pois existe em todas as sociedades. Torna-se anormal se houver o aumento das taxas. 7 II - Max Weber (1864-1920) Max Weber nasceu na Alemanha, em 1864, em uma família da alta classe média. Filho de um renomado advogado, foi criado em uma atmosfera intelectualmente estimulante, voltado para os ensinamentos humanistas. Weber recebeu excelente educação em línguas, história e literatura clássica. Em 1882, começou os estudos superiores em Berlim, onde se dedicou ao estudo de economia, história, filosofia e direito. Tornou-se professor na Universidade de Berlim e foi livre-docente, ao mesmo tempo em que servia como assessor do governo. Sua obra é extensa e influente. Sua formação intelectual acompanha o período em que as primeiras disputas sobre a metodologia das ciências sociais começavam a surgir na Europa. Sofreu perturbações nervosas que o levaram a deixar os trabalhos docentes, só voltando à atividade mais tarde. Com tendências depressivas e saúde frágil, morreu em 1920. Viveu na Alemanha no final do sec. XIX e começo do XX. Sua obra coincide com momento de intensa industrialização na Alemanha. Seu pensamento: O pensamento de Max Weber é uma inesgotável fonte de reflexão para os problemas do mundo contemporâneo. De um lado, Weber questionava a confiança no modelo positivista em se formular leis sociais. Para ele, não é possível produzir leis sobre os fenômenos sociais, pois a relação existente entre os homens e entre estes e as instituições sociais é desordenado, imprevisível e caótico, não existindo continuidade na história humana. O conhecimento da história é importante, no entanto isso não tornava possível a elaboração de leis e generalizações dos fenômenos sociais. Não existem leis sociais que possam ser antecipadas e controladas e que passe a prever e controlar a realidade social (do positivismo). Por outro lado, Weber considerava a economia e as formas de produção importantes, mas não acreditava que os fatores econômicos explicavam as condições históricas em sua totalidade, ou seja, não acreditava que a economia tivesse papel preponderante sobre as demais esferas da realidade social (do marxismo). 8 Weber sempre se preocupou em conferir o caráter científico à Sociologia. Considerava que o cientista deveria assumir uma posição neutra, não podendo ter preferências políticas e ideológicas a partir de sua profissão. Fazia a distinção entre o cientista e o político - o homem de ação. Na verdade, ele isolou a Sociologia dos movimentos revolucionários: A ciência deve oferecer a compreensão da conduta, das motivações e conseqüências dos atos do homem. A Sociologia deveria ser um conjunto de técnicas neutras para a compreensão da realidade social. Seu objeto Weber considerava o individuo e a sua ação como ponto chave da investigação. Era preciso compreender as intenções e as motivações dos indivíduos que vivenciam as situações sociais. Seu método Naquele momento surge nas ciências sociais uma tendência que distingue explicação e compreensão da realidade. O modo explicativo seria característico das ciências naturais, que procuram o relacionamento causal entre os fenômenos. A compreensão seria o modo típico de proceder das ciências humanas, que não estudam fatos que possam ser explicados propriamente, mas sim buscam os processos vivos da experiência humana, extraindo deles seu sentido. Os fenômenos sociais só tem significado se conhecermos a motivação e o sentido mais profundo que existem por trás desses fenômenos. Weber analisa o papel das pessoas e as suas ações individuais. A sociedade deve ser entendida a partir das interações sociais. A ação social dá sentido à ação individual. A ação social é orientada pelo comportamento e valores dos indivíduos e dos grupos, sendo fundamental para a organização da sociedade humana. A conduta adquire o sentido social quando se orienta pelo comportamento de outras pessoas. As teorias sociológicas desenvolvidas ao longo do século XIX privilegiavam os