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SUMÁRIO 1. Introdução e Definição ............................................. 3 2. Epidemiologia .............................................................. 4 3. Etiologia ......................................................................... 6 3. Grupos de risco para desenvolvimento de DRC ........8 4. Fisiopatologia .............................................................. 8 5. Quadro Clínico ...........................................................11 6. Diagnóstico ................................................................22 7. Tratamento .................................................................27 8. Transplante renal ....................................................36 Referências bibliográficas .........................................39 3DOENÇA RENAL CRÔNICA 1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO A Doença Renal Crônica (DRC) é de- finida como a diminuição do ritmo de filtração glomerular (RFG) abaixo de 60 ml/min/1,73m² e/ou a presença de anormalidades na estrutura re- nal, com duração acima de 3 meses. Fluxograma 1: Marcadores de anormalidades na doen- ça renal crônica De um modo geral, a DRC é consequ- ência de processos patológicos lenta- mente progressivos. SE LIGA! Ao contrário do que se obser- va na maioria dos casos de Insuficiência Renal Aguda (IRA), na DRC não ocorre regeneração do parênquima renal, e por isso a perda de néfrons, por definição, é IRREVERSÍVEL. Às vezes, no entanto, a doença re- nal crônica pode se instalar de forma aguda, tal como acontece em dois exemplos clássicos – necrose cortical aguda e glomerulonefrite rapidamen- te progressiva. Segundo a Kidney Disease: Impro- ving Global Outcomes (KDIGO), a DRC é subdividida em estágios (0, 1, 2, 3a, 3b, 4 e 5), com base no ritmo de filtração glomerular e em relação a proteinúria em A1, A2 e A3, antes, a doença era estadiada apenas pela TFG, porém, o risco de piora da fun- ção renal está intimamente ligado à quantidade de albuminúria, de modo que ela foi incorporada na classifi- cação. Essas duas classificações di- ferentes unidas estagiam a doença, assim como dão seu prognostico. A tabela a seguir mostra os parâmetros dos estágios dos dois valores que são considerados e, também, o nível de gravidade da doença. Assim, vê- -se que pacientes na faixa verde di- ficilmente tem complicações graves e pacientes na vermelha geralmente estão em dialise, para evitar outras complicações. MARCADORES DE ANOMALIDADES ALBUMINÚRIA >30mg/ dia SEDIMENTO URINÁRIO ALTERADO DISTÚRBIO ELETROLÍTICO HISTOLOGIA ALTERADA ALTERAÇÃO DE IMAGEM 4DOENÇA RENAL CRÔNICA Em todos os seus estágios, a DRC é um fator de risco independente para doenças cardiovasculares, sen- do considerado um “equivalente de risco cardiovascular”. Ressalta-se ainda que a presença de proteinúria é um fator de risco adicional e indepen- dente do conferido pela própria DRC. Pacientes nos estágios 4-5 (RFG < 30 ml/min) devem ser referenciados para serviço de nefrologia, assim como aqueles que tiverem albuminú- ria >300mg/24h (ou albumina/crea- tinina urinária >300 mg/g). Além do impacto da DRC como fator de risco cardiovascular, o desenvolvimento da doença, principalmente em seus estágios finais, representa um grave problema de saúde pública. CONCEITO! A doença renal crônica (DRC) é definida como uma alteração estrutural ou funcional do rim, pre- sente por mais de 3 meses. Dentre as anormalidades estruturais podemos ob- servar alguma alteração em exames de imagens. Dentre as alterações funcio- nais podemos observar proteinúria e/ou albuminúria persistentes, anormalidades histológicas crônicas (fibrose, infiltrado), distúrbios tubulares crônicos (acidose, alcalose), alterações no sedimento uri- nário e paciente com transplante renal. A classificação de DRC pela KDIGO atra- vés de sua taxa de filtração glomerular e proteinúria é capaz de estagiar e predi- zer o prognóstico da doença 2. EPIDEMIOLOGIA O aumento no número de casos de doença renal crônica tem sido repor- tado na última década em diferentes Figura 2: Prognóstico de doença renal crônica por RFG e categorias da albuminúria - KDIGO 2012 5DOENÇA RENAL CRÔNICA contextos, associados ao envelheci- mento e à transição demográfica da população, como resultado da melho- ra na expectativa de vida e do rápido processo de urbanização. SE LIGA! Doenças prevalentes na po- pulação, como Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus são as principais etio- logias de doença renal crônica no mun- do, inclusive no Brasi. Em países desenvolvidos, o rastrea- mento estima prevalência de doença renal crônica entre 10 e 13% na popu- lação adulta, com mais de 4,5 milhões de adultos com a doença no mundo. No Brasil, estimativas da prevalência dessa enfermidade são incertas, contudo, de acordo com a caderneta de saúde cole- tiva de 2017 mais de 100 mil pacientes recebiam terapia dialítica no país, com uma taxa de internação hospitalar de 4,6% ao mês e uma taxa de mortalidade 17% ao ano. O mesmo estudo detectou maior predominância no sexo masculino com taxa de crescimento anual de 2,2% e, de 2% para o sexo feminino, raça/cor predominante é a branca (39,6%) em relação às raças/cor amarela (1,2%), in- dígena (0,1%), parda (36,1%) e preta (11,4%). De acordo com o último censo da So- ciedade Brasileira de Nefrologia, o custo anual somente com a terapia renal substitutiva é mais de dois bi- lhões ao ano. As principais causas de perda da função renal no nos- so meio são a hipertensão arterial (35% das causas), diabetes mellitus (28,5%) seguidas das glomerulone- frites (11,5%). Outro dado alarmante segundo o Vigitel 2011, consideran- do a população brasileira maior de 18 anos, 23% é hipertensa, 5,6% diabé- tica, 18% fumante, 48% estão com excesso de peso e 16% são obesos (IMC>30 Kg/m²), todos estes são fa- tores de risco que contribuem para a perda de função renal. Cabe ainda comentar que a morbi- mortalidade de pacientes é substan- cialmente maior em pacientes dia- béticos do que nos demais pacientes não diabéticos, sendo as doenças cardiovasculares e as infecções as principais causas de morte. A HAS é também uma cau- sa importante de 6DOENÇA RENAL CRÔNICA morbidade e mortalidade que acele- ra a aterosclerose e precipita compli- cações relacionadas ao aumento da pressão. 3. ETIOLOGIA No Brasil, a primeira causa de DRC é a hipertensão arterial sistêmica, a segunda é o diabetes, seguido pela glomerulonefrite crônica. Nos EUA, observa-se o diabetes como principal etiologia da DRC (45%), seguido pela HAS e glomerulopatias. CAUSAS DE DOENÇA RENAL CRÔNICA Nefropatia diabética* Nefrosclerose hipertensiva Doença glomerular - Glomerulonefrite - Amiloidose, doença de cadeia leve* - Lúpus eritematoso sistêmico, Granulomatose de Wegener* Doença tubulo intersticial - Nefropatia de refluxo (pielonefrite crônica) - Nefropatia por analgésicos - Nefropatia obstrutiva (cálculos, hipertrofia pros- tática benigna) - Rim do mieloma* Doença vascular - Esclerodermia* - Vasculite* - Insuficiência renovascular (Nefropatia isquêmi- ca) - Doença renal ateroembólica* Doença cística - Doença renal policística autossômica dominante - Doença renal cística medular *doenças sistêmicas que apresentam envolvimen- to renal Tabela 1: Etiologias da Doença Renal Crônica 7DOENÇA RENAL CRÔNICA D IE TA Definição DOENÇA RENAL CRÔNICA Etiologia Classificação Alteração estrutural Tratamento das complicações Manifestações da síndrome urêmica Terapia de substituição renal Nefropatia diabética Nefroesclerose hipertensiva Nefropatia isquêmica Nefropatia do HIV Nefrite lúpica Necrosa tubular aguda com lesão permanente Uropatia obstrutiva Anomalias renais congênitas Ateroembolismo Síndrome de Alport Mieloma múltiplo Câncer renal Granulomatose de Wegner Fisiopatologia Insulto inicial da doença de base Perda de néfrons irreversível Aumento da pressão e filtração glomerular Proteinúria Inflamaçãotúbulo intersticial Fibrose Não respondem à diálise Respondem à diálise Anemia, distúrbios do cálcio e potássio, prurido cutâneo, disfunção imunológica, aterosclerose Sintomas cardíacos, pulmonares, gastrointestinais, neurológicos Distúrbios ácido- base, distúrbios hidroeletrolíticos, disfunção plaquetária Diálise peritoneal Hemodiálise Distúrbio hidroeletrolítico Acidose Diabetes HAS Anemia Hiperparatireoidismo secundário Dieta hipopotássica, evitar excessos de água Usar bicarbonato de sódio via oral na dose de 0,5 a 1,0 mEq/kg/dia, alvo do bicabornato: 22mEq Prevenção primária : reduzir microalbuminúria Primeira linha: IECA/ BRA BCC, diuréticos Alvo: PA < 130x80 Repor as carências (Fe, VB12, AFOL) Repor eritropoietina Calcitriol oral (0,25 μg/dia), calcimiméticos, quelantes de fósforo Alteração de imagem Doença cística renal Malformação renal Alteração funcional ALBUMINÚRIA <30mg/dia Transplante renal Sedimento urinário alterado Histologia alterada Distúrbio eletrolítico RFG < 60 mL/ min/1,73m2 MAPA MENTAL DEFINIÇÃO, EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA DA DRC 8DOENÇA RENAL CRÔNICA 3. GRUPOS DE RISCO PARA DESENVOLVIMENTO DE DRC Alguns pacientes são mais suscetí- veis para desenvolver doença renal crônica e podem ser considerados grupos de risco. São eles: • Hipertensão arterial sistêmica: a HAS é uma doença bastante co- mum na DRC e pode ocorrer em mais de 75% dos pacientes, inde- pendente da idade. • Diabetes: pacientes diabéticos apresentam fator de risco au- mentado para desenvolver DRC e doença cardiovascular (DCV), devendo ser monitorados frequen- temente para avaliar presença de lesão renal • Idosos: pacientes com idade avan- çada já apresentam uma diminui- ção do ritmo de filtração glomeru- lar (RFG). Associando esse fator às lesões renais secundárias às do- enças crônicas apresentadas nes- sa faixa etária, os idosos são sus- cetíveis a DRC. • Doença cardiovascular: a DRC é fator de risco independente para a DCV e estudos demonstraram que a DCV se associa com a diminui- ção da filtração glomerular e com a ocorrência de DRC. • Familiares de portadores de DRC: pacientes com história familiar po- sitiva para DRC apresentam pre- valência aumentada de HAS, DM, proteinúria e doença renal. • Uso de medicações nefrotóxicas: medicações nefrotóxicas devem ser evitadas ou otimizadas em pa- cientes que possuem DRC, princi- palmente quando o ritmo de filtra- ção glomerular é menor que 60 ml/ min/1,73m². 4. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da DRC caracteriza- -se por dois amplos grupos gerais de mecanismos lesivos: • mecanismos desencadeantes es- pecíficos da etiologia subjacente, por exemplo anormalidades do de- senvolvimento ou da integridade renal determinadas geneticamen- te, deposição de imunocomplexos e inflamação em alguns tipos de glomerulonefrite, ou exposição a toxinas em algumas doenças dos túbulos e do interstício renais. • um conjunto de mecanismos pro- gressivos que envolvem hiperfil- tração e hipertrofia dos néfrons viáveis remanescentes, que são consequências comuns da redu- ção prolongada da massa renal, independentemente da etiologia primária. 9DOENÇA RENAL CRÔNICA Figura 3: À esquerda: Ilustração da arquitetura normal do glomérulo. À direita: Alterações glomerulares se- cundárias associadas à redução numérica dos néfrons, inclusive dilatação dos lúmens capilares e formação de aderências focais. As respostas à redução da quantida- de de néfrons são mediadas por hor- mônios vasoativos, citocinas e fatores de crescimento. Por fim, essas adap- tações de curto prazo (hiperfiltração e hipertrofia) tornam-se mal adaptativas à medida que as elevações da pressão e do fluxo sanguíneos dentro do né- fron predispõem à distorção da arqui- tetura dos glomérulos, função anormal dos podócitos e rompimento da bar- reira de filtração, levando a esclerose e destruição dos néfrons remanescen- tes. O aumento da atividade intrarrenal do sistema renina-angiotensina (SRA) parece contribuir para a hiperfiltração adaptativa inicial e para a subsequente hipertrofia mal adaptativa e esclerose. Esse processo explica por que a redu- ção da massa renal secundária a uma lesão isolada pode causar declínio pro- gressivo da função renal ao longo de muitos anos. Esse processo pode ser simplificado no fluxograma abaixo. FISIOPATOLOGIA DOENÇA RENAL CRÔNICA INSULTO PERDA IRREVERSÍVEL DOS NÉFRONS Atividade intrarrenal do sistema renina-angiotensina ↑ PRESSÃO ↑ FLUXO GLOREMULAR HIPERFILTRAÇÃO ADAPTATIVA PROTEINÚRIA FIBROSE RENAL GLOMERULOESCLEROSE SEGMENTAR DIFUSA Fluxograma 2: Fisiopatologia Doença Renal Crônica 10DOENÇA RENAL CRÔNICA HORA DA REVISÃO: O rim tem inúmeras funções, dentre elas podemos citar: Excreção de produtos finais de diversos metabolismos Produção de hormônios Eritropoetina, hormônio que estimula a produção de hemácias na medula óssea Vitamina D, hormônio relacionado com o metabolismo do cálcio Controle do equilíbrio hidroeletrolítico Controle do metabolismo ácido-básico Controle da pressão arterial Ao entendermos a função renal, é mais fácil de compreender quais são os as- pectos clínicos da doença renal crônica. FUNÇÃO RENAL CONSEQUÊNCIAS DA DIS- FUNÇÃO Controle do equilíbrio hidro- eletrolítico e do metabolismo ácido-básico Hiponatremia, hipercalemia, baixo teor de potássio total, hipocalcemia, hiperfosfatemia, diminuição da tolerância para carga de eletrólitos ou mine- rais Regulação da pressão arterial Hipertensão, doença cardio- vascular Mediador endó- crino Anemia (diminuição de eritro- poetina), hipertensão (ativação do sistema renina), doença óssea (hiperparatireoidismo secundário), baixo nível de ati- vação de vitamina D, meia-vi- da prolongada de hormônios peptídicos (p. ex., insulina) Excreção de pro- dutos de metabólitos Anorexia, náusea, deposição de tecido mole de oxalatos e fosfatos, disfunção neurológi- ca e perda de proteína muscular Tabela 2: Função renal e consequências da disfunção em pacientes portadores de doença renal crônica Cabe ainda, dentro da fisiopatologia da DRC destacar a fisiopatologia da síndrome urêmica, a qual é respon- sável pelo quadro clínico que veremos a seguir. Embora as concentrações séricas de ureia e creatinina sejam utilizadas para avaliar a capacidade excretora dos rins, o acúmulo dessas duas moléculas não explica, por si só, muitos dos sinais e dos sintomas que caracterizam a síndrome urêmica nas doenças renais avançadas. SE LIGA! Dá-se o nome de Síndrome Urêmica ao conjunto de sinais e sinto- mas que aparece na insuficiência renal grave, quando a filtração glomerular está < 30 ml/min Centenas de toxinas acumuladas na insuficiência renal têm sido implica- das na síndrome urêmica. Isso inclui compostos hidrossolúveis, hidrofóbi- cos, ligados a proteínas, com carga e sem carga. Outros tipos de escórias nitrogenadas excretadas incluem os compostos guanidínicos, os uratos e hipuratos, produtos do metabolismo do ácido nucleico, as poliaminas, o mioinositol e os fenóis, os benzoatos e indóis. Desse modo, fica eviden- te que as concentrações séricas da ureia e da creatinina, embora possam ser determinadas facilmente, devem ser entendidas como marcadores substitutos e imprecisos desses com- postos; a monitoração dos níveis da ureia e da creatinina do paciente com 11DOENÇA RENAL CRÔNICA disfunção renal é uma simplificação exagerada do estado urêmico. A síndrome urêmica e o estado pa- tológico associado à disfunção renal avançada envolvem mais que uma falência excretora dos rins. Numero- sas funções metabólicas e endócri- nas desempenhadas normalmente pelos rins também são comprometi- das ou suprimidas, e isso causa ane- mia, desnutrição e anormalidades do metabolismo dos carboidratos, das gorduras e das proteínas. Além dis- so, os níveis plasmáticos de muitos hormônios (como PTH, FGF-23, insu- lina, glucagon, hormônios esteroides,como a vitamina D e os hormônios sexuais, e prolactina) alteram-se na DRC em razão da excreção reduzida, da sua decomposição reduzida ou da regulação hormonal anormal. Por fim, a DRC está associada à pio- ra da inflamação sistêmica. Os níveis altos de proteína C-reativa são detec- tados simultaneamente aos outros reagentes da fase aguda, enquanto as concentrações dos chamados re- agentes negativos da fase aguda (p. ex., albumina e fetuína) diminuem com a redução progressiva da TFG. Desse modo, a inflamação associada à DRC é importante para a síndro- me de desnutrição-inflamação e ate- rosclerose/calcificação, que contribui para a aceleração da doença vascular e a comorbidade associada à doença renal avançada. ALTERAÇÕES IÔNICAS DEFICIÊNCIAS ENDÓCRINAS ACÚMULO DE TOXINAS Fluxograma 3: Princípios da fisiopatologia da síndrome urêmica Assim, em resumo, a fisiopatologia da síndrome urêmica pode ser sub- dividida em manifestações disfun- cionais em três esferas: (1) distúrbios secundários ao acúmulo das toxinas normalmente excretadas pelos rins, como os produtos do metabolismo das proteínas; (2) anormalidades con- sequentes à perda das outras fun- ções renais, como a homeostase hi- dreletrolítica e a regulação hormonal; e (3) inflamação sistêmica progressi- va e suas consequências vasculares e nutricionais. 5. QUADRO CLÍNICO A uremia consequente da doença renal crônica causa distúrbios fun- cionais em quase todos os sistemas do organismo. A diálise crônica pode reduzir a incidência e a gravidade de alguns desses distúrbios, de for- 12DOENÇA RENAL CRÔNICA ma que as manifestações evidentes e marcantes da uremia praticamente desapareceram do cenário de saúde moderno. Entretanto, mesmo o trata- mento dialítico ideal não é totalmente efetivo como terapia renal substituti- va, porque alguns distúrbios resultan- tes da disfunção renal não melhoram com diálise. Segue a seguir uma lista dos sintomas que reagem e não rea- gem a dialise: ACÚMULO DE TOXINAS QUE RESPONDEM A DIÁLISE: • Sintomas gastrointestinais – anorexia, náuseas, vômitos, diarreia • Sintomas neurológicos – encefalopatia, neuropatia periférica • Sintomas cardíacos – pericardite, edema pulmonar cardiogênico • Sintomas pulmonares - edema pulmonar não cardiogênico, derrame pleural • Disfunção plaquetária com hemorragias DEFICIÊNCIAS ENDÓCRINAS ALTERAÇÕES IÔNICAS • Resistência a insulina • Desequilíbrio hidroelétrico – hipervolemia, hipercalemia e hinonatremia • Desequilíbrio acido/base – acidose metabólica QUE NÃO RESPONDEM A DIÁLISE: • Anemia • Aterosclerose acelerada • Osteodistrofia renal • Depressão imunológica infecções • Dislipidemia Fluxograma 4: Aspectos clínicos da doença renal crô- nica divididos por resposta ou não a diálise Antes de explicar algum desses sin- tomas que marcam o quadro clínico da DRC, é importante comentar que a maioria dos pacientes só vai apre- sentar tais sintomas com a doença avançada. Isso ocorre devido a hiper- filtração adaptativa que mantem os níveis de filtração glomerular durante o início do quadro, evitando que sinais clínicos sejam notados. Distúrbios volêmicos e eletrolíticos As quantidades corporais totais de sódio e água mostram-se modes- tamente aumentadas, embora isso possa não ser perceptível ao exame clínico. Com a função renal normal, a reabsorção tubular do sódio e da água filtrados é ajustada de forma que a ex- creção urinária fique igual à ingestão total. Alguns tipos de doença renal, por exemplo glomerulonefrite desvir- tuam esse equilíbrio de tal modo que a ingestão dietética de sódio seja maior que sua excreção urinária, resultando na retenção de sódio e consequente expansão do volume de líquido ex- tracelular (VLEC). Isso pode contribuir para a hipertensão que, por si própria, pode acelerar a lesão dos néfrons. A hiponatremia não é comum nos pa- cientes com DRC, mas, quando pre- sente, pode melhorar com a restrição de água. Além dos distúrbios da ex- creção de sal e água, alguns pacientes com DRC podem, em vez disso, apre- sentar reduzida conservação renal de 13DOENÇA RENAL CRÔNICA sódio e água. Quando há uma causa extrarrenal para a perda de líquidos (por exemplo perdas gastrintestinais), esses pacientes podem ser suscetíveis à de- pleção do VLEC em razão da incapa- cidade de os rins insuficientes reterem quantidades adequadas de sódio fil- trado. Além disso, a depleção do VLEC, em razão das perdas gastrointestinais ou do tratamento diurético exagerado, pode comprometer ainda mais a função renal em consequência da hipoperfu- são ou por um mecanismo “pré-renal”, resultando na descompensação aguda da insuficiência renal crônica. Com a DRC, o declínio da TFG não se acompanha necessariamente da redução correspondente da excreção urinária de potássio, que é media- da de modo predominante pela se- creção aldosterona-dependente nos segmentos distais dos néfrons. Nes- ses pacientes, outra defesa contra a retenção de potássio é o aumento da sua excreção pelo trato GI. Ape- sar dessas duas respostas homeos- táticas, a hiperpotassemia pode ser precipitada em determinadas situ- ações clínicas. Isso inclui o aumento da ingesta dietética de potássio, o ca- tabolismo proteico, a hemólise, a he- morragia, a transfusão de hemácias estocadas e a acidose metabólica. SE LIGA! Os pacientes com DRC apre- sentam um estado de HIPERVOLEMIA devido a retenção de sódio e HIPERCA- LEMIA devido a retenção de potássio. Distúrbio acidobásico A acidose metabólica característi- ca da DRC avançada é causada na maioria dos pacientes que ainda con- seguem acidificar a urina, mas produ- zem menos amônia e, por essa razão, não é capaz de excretar a quantidade normal de prótons em combinação com esse sistema de tamponamento urinário. Quando presente, a hiperpo- tassemia suprime ainda mais a pro- dução de amônia. A combinação de hiperpotassemia com acidose me- tabólica hiperclorêmica é observada comumente, mesmo nos estágios ini- ciais de DRC, nos pacientes com ne- fropatia diabética ou nos indivíduos com doença predominantemente tu- bulointersticial ou uropatia obstrutiva; esta condição é conhecida como aci- dose metabólica sem ânion gap. Com a deterioração da função renal, a excreção urinária total diária de áci- dos costuma ficar limitada a 30 a 40 mmol, e os ânions dos ácidos orgâni- cos retidos podem então causar aci- dose metabólica com anion gap. Des- se modo, a acidose metabólica sem anion gap, que pode ser observada nos estágios iniciais da DRC, pode ser complicada pela acidose meta- bólica com anion gap à medida que a doença avan- ça. Na maioria dos pacien- tes, a acidose metabólica é leve, o pH ra- 14DOENÇA RENAL CRÔNICA ramente é < 7,35 e, em geral, pode ser corrigida por suplementos orais de bicarbonato de sódio. SE LIGA! Os pacientes com DRC ini- cialmente apresentam ACIDOSE ME- TABÓLICA SEM ÂNION GAP (ou aci- dose metabólica hiperclorêmica). Nos estágios posteriores da doença, obser- va-se a ACIDOSE METABÓLICA COM ÂNION GAP. Distúrbios do metabolismo de cálcio e fosfato As principais complicações dos dis- túrbios do metabolismo do cálcio e fosfato associados à DRC ocorrem nos ossos e vasos sanguíneos, com envolvimento ocasionalmente grave dos tecidos moles extraósseos. As manifestações ósseas da DRC podem ser classificadas em dois ti- pos: alterações associadas ao turno- ver ósseo elevado com níveis altos de PTH (como a osteíte fibrose cística, uma lesão clássica do hiperparatireoi- dismo secundário); e anormalidades atribuídas ao turnover ósseo reduzido com níveis normais ou baixos de PTH (doença óssea adinâmica e osteoma- lacia). A fisiopatologia do hiperpara- tireoidismo secundário e da doença óssea consequente ao turnover ele- vado está relacionada com o meta- bolismo mineral anormal em razão dos seguintes fatores: (1) a TFG de- clinante diminui a excreção de fosfato e, desse modo, causa retenção deste elemento; (2) o fosfato retidoestimula o aumento da síntese tanto de FGF- 23 por osteócitos quanto de PTH e estimula o crescimento das parati- reoides; e (3) os níveis baixos de cál- cio ionizado, resultantes da supressão da síntese de calcitriol pelo FGF-23 e pelos rins insuficientes, assim como a retenção de fosfato, também estimu- lam a produção de PTH. Os níveis baixos de calcitriol contri- buem para o hiperparatireoidismo por- que causam hipocalcemia e, também, por um efeito direto na transcrição dos genes do PTH. Essas alterações co- meçam quando a TFG diminui para menos de 60 mL/min. O FGF-23 faz parte de uma família de fosfatoninas que promovem a excreção renal do fosfato, esse pode manter os níveis séricos normais do fosfato por no míni- mo três mecanismos: (1) aumento da excreção renal de fosfato; (2) estimu- lação do PTH, que também aumenta a excreção renal de fosfato; e (3) supres- são da síntese de 1,25(OH)2D3 , que diminui a absorção do fósforo no trato GI. Curiosamente, os níveis altos do FGF-23 também são um dos fatores de risco independentes para hipertro- fia do ventrículo esquerdo e mortalida- de dos pacientes com DRC, em diálise e transplantados renais. Assim, o hi- perparatireoidismo estimula o turnover ósseo e causa osteíte fibrose cística. A histologia óssea mostra osteoide anormal, fibrose dos ossos e da me- dula óssea e, nos estágios avançados, 15DOENÇA RENAL CRÔNICA formação de cistos ósseos, algumas vezes com elementos hemorrágicos, razão pela qual adquirem uma co- loração castanha, daí o termo tumor marrom. As manifestações clínicas do hiperparatireoidismo grave consistem em dor e fragilidade ósseas, tumores marrons, síndromes compressivas e resistência à eritropoetina, em parte relacionada com a fibrose da medula óssea. Além disso, o PTH é conside- rado uma toxina urêmica intrínseca, e níveis altos estão associados a fra- queza muscular, fibrose do músculo cardíaco e sintomas constitucionais inespecíficos. Já doença óssea com turnover reduzi- do pode ser classificada em dois sub- tipos – doença óssea adinâmica e os- teomalácia. A prevalência da doença óssea adinâmica está aumentando, principalmente entre os diabéticos e os pacientes idosos. Essa doença caracteriza-se por volume e minera- lização ósseos reduzidos e pode ser causada pela supressão excessiva da síntese do PTH, pela inflamação crô- nica, ou ambas. A supressão do PTH pode ser causada pela utilização de preparações de vitamina D ou expo- sição excessiva ao cálcio na forma de quelantes de fosfato à base de cálcio ou soluções dialíticas ricas em cál- cio. As complicações da doença ós- sea adinâmica incluem incidência alta de fraturas e dor óssea e incidência mais alta de calcificações vasculares e cardíacas. Algumas vezes o cálcio precipitará nos tecidos moles forman- do concreções grandes chamadas de “calcinose tumoral” SE LIGA! A osteodistrofia renal é o ter- mo utilizado para descrever alterações na morfologia óssea decorrente da DRC. A classificação e o diagnóstico da doen- ça requerem a realização de biópsia ós- sea e se baseiam nos componentes de remodelamento, volume ósseo e mine- ralização. As categorias da osteodistrofia renal conforme a histologia são: • Osteíte fibrosa: uma doença de alta remodelação óssea causada pelo hi- perparatireoidismo secundário. • Osteomalácia: de baixa remodelação e caracterizada por um defeito na mineralização óssea. • Doença adinâmica: também de baixa remodelação. • Doença mista: surge como doença intermediária com alto remodela- mento e defeito de mineralização. Figura 4: Radiografia em AP da mão de um pacien- te com hiperparatireoidismo secundário, apresen- tando reabsorção subperiosteal (pontas de seta) no aspecto radial da falange média do 2º dedo. Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S0482-50042007000300010 16DOENÇA RENAL CRÔNICA Figura 5: Radiografia em perfil do crânio com pa- drão em “sal e pimenta”, mostrando padrão de reabsorção trabecular óssea dentro da díploe e perda da definição da tábua externa. Fonte: http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S0482-50042007000300010 CONCEITO! O distúrbio ósseo e mine- ral decorrente da DRC inicia-se com a redução na produção de 1,25 dihidroxi- calciferol. O declínio progressivo do nível sérico de vitamina D é acompanhado por elevação de paratormônio (PTH) à medida que declina a filtração glomeru- lar. Assim, nos estágios 3 e 4 da DRC, a maioria dos pacientes já apresenta hi- perparatireoidismo secundário. Fluxograma 4: Fisiopatologia Hiperparatireoidismo secundário Cálcio, fósforo e sistema cardiovascular Evidências epidemiológicas recentes demonstraram uma forte correlação entre hiperfosfatemia e aumento da taxa de mortalidade cardiovascular entre os pacientes com DRC no es- tágio 5 e mesmo nos indivíduos com as formas mais iniciais dessa doença. Por fim, a hiperfosfatemia pode provo- car uma alteração na expressão dos ge- nes das células vasculares e estimular 17DOENÇA RENAL CRÔNICA a aquisição de um perfil semelhante ao dos osteoblastos, resultando em calci- ficações vasculares e até ossificação. Outras complicações do metabolismo mineral anormal é calcifilaxia (arteriolo- patia urêmica calcificante), o qual é um distúrbio devastador observado quase exclusivamente nos pacientes com DRC avançada. Essa condição é prenunciada por livedo reticular com progressão para placas de necrose isquêmica, sobretu- do nas pernas, nas coxas, no abdome e nas mamas. Ao exame patológico, há indícios de obstrução vascular associa- da a extensa calcificação vascular e de tecidos moles. A princípio, a calcifilaxia foi atribuída às anormalidades graves da homeostase do cálcio e do fósforo nos pacientes dialisados, em geral em combinação com o hiperparatireoidis- mo avançado. Entretanto, mais recen- temente, esse distúrbio tem sido ob- servado com frequência crescente na ausência de hiperparatireoidismo grave. Figura 6: Radiografia simples da fíbula e tíbia eviden- ciando calcificações de vasos da perna. Fonte: Chao LW et al. Clínica Médica – Medicina USP/ HC-FMUSP. Editora Manole. Volume (3) 637-651, 2009 Doença vascular isquêmica A existência de DRC em qualquer estágio é um fator de risco impor- tante para doença cardiovascular is- quêmica como doenças coronariana, cerebrovascular e vascular periférica obstrutivas. A prevalência mais alta das doenças vasculares entre os pa- cientes com DRC deve-se aos fatores de risco tradicionais, “clássicos” e não tradicionais, associados à DRC. Entre os fatores de risco tradicionais, estão hipertensão, hi- pervolemia, disli- pidemia, hiperati- vidade simpática e hiper-homocis- teinemia. Os fa- tores de risco as- sociados à DRC incluem anemia, hiperfosfatemia, hi- perparatireoidismo, aumento de FGF- 23, apneia do sono e inflamação ge- neralizada. O estado inflamatório associado à perda da função renal é refletido pe- los elevados níveis circulantes dos reagentes de fase aguda, como as citocinas inflamatórias e a proteína C-reativa, com reduções correspon- dentes dos “reagentes negativos da fase aguda” como albumina e fetuína séricas. O estado inflamatório parece acelerar a doença vascular obstrutiva, e os níveis baixos de fetuína podem predispor às calcificações vasculares mais rápidas, principalmente na vi- gência de hiperfosfatemia. 18DOENÇA RENAL CRÔNICA Outras anormalidades detectadas nos pacientes com DRC podem agravar a isquemia miocárdica, como hipertrofia ventricular esquerda e doença micro- vascular. Além disso, a hemodiálise com seus episódios associados de hipoten- são e hipovolemia pode agravar ainda mais a isquemia coronariana e atordoar o miocárdio. Entretanto, curiosamente, o aumento mais expressivo da taxa de mortalidade cardiovascular dos pacien- tes em diálise nem sempre está relacio- nado diretamente com infartos agudos do miocárdio confirmados, mas sim com insuficiência cardíaca congestiva e todas as suasconsequências. SE LIGA! Os níveis da troponina cardí- aca frequentemente estão aumentados nos pacientes com DRC, mesmo sem qualquer indício de isquemia aguda, po- dendo dificultar o diagnóstico. Desse modo, a tendência dos níveis de troponina ao longo de algumas horas após a apresentação clínica pode ser mais informativa do que uma dosa- gem isolada indicando concentração alta. Curiosamente, os níveis consis- tentemente altos são um dos fatores prognósticos independentes para a ocorrência de eventos cardiovascula- res adversos nessa população. Insuficiência cardíaca A função cardíaca anormal resultante da isquemia miocárdica, da hipertrofia ventricular esquerda e da miocardio- patia avançada, somada à retenção de sal e água que pode ocorrer com a DRC, frequentemente causa insufi- ciência cardíaca ou até mesmo ede- ma pulmonar. A insuficiência cardíaca pode ser devida à disfunção sistólica, diastólica ou ambas. Um tipo de edema pulmonar de “bai- xa pressão” também pode ocorrer na DRC avançada e evidencia-se por dispneia e distribuição do edema al- veolar em padrão de “asa de mor- cego” na radiografia de tórax. Essa anormalidade pode ocorrer mesmo na ausência de sobrecarga de volume lí- quido extracelular e está associada às pressões capilares pulmonares nor- mais ou ligeiramente elevadas. Esse processo foi atribuído ao aumento da permeabilidade das membranas alveolocapilares em razão do esta- do urêmico e melhora com a diálise. Outros fatores de risco associados à DRC, como anemia e apneia do sono, podem contribuir para o risco de insu- ficiência cardíaca. Hipertensão e hipertrofia ventricular esquerda A hipertensão é uma das complica- ções mais comuns da DRC. Em ge- ral, a hipertensão começa nos está- gios iniciais da DRC e está associada a desfechos adversos, inclusive ao desenvolvimento de hipertrofia ven- tricular e à deterioração mais rápida 19DOENÇA RENAL CRÔNICA da função renal. Muitos estudos de- monstraram correlação entre o nível da pressão arterial e a taxa de pro- gressão das doenças renais diabé- tica e não diabética. A hipertrofia do ventrículo esquerdo e a miocardio- patia dilatada estão entre os fatores de risco mais importantes para mor- bidade e mortalidade cardiovascula- res entre os pacientes com DRC e, aparentemente, estão relacionadas sobretudo (embora não apenas) com hipertensão prolongada e sobrecarga de VLEC. Além disso, a anemia e a criação de uma fístula arteriovenosa para hemodiálise podem aumentar o débito cardíaco e desencadear insufi- ciência cardíaca. A ausência de hipertensão pode significar uma função ventricular es- querda ruim. Na verdade, nos estu- dos epidemiológicos com pacientes em diálise, a pressão arterial baixa implicava prognóstico mais desfavo- rável que a pressão arterial elevada. Esse mecanismo explica em parte a “causalidade reversa” observada nos pacientes dialisados, nos quais a presença dos fatores de risco tra- dicionais, por exemplo hipertensão, hiperlipidemia e obesidade, parece conferir prognósticos mais favorá- veis. Ao contrário do que se observa na população geral, é possível que nos estágios tardios da DRC a pres- são arterial baixa, o índice de massa corporal reduzido e a hipolipidemia indiquem a existência de um estado avançado de desnutrição-inflama- ção, que está associado a um prog- nóstico desfavorável. Anormalidades hematológicas A anemia normocítica e normocrômi- ca começa a partir de estágios mais avançados da DRC e está presen- te em quase todos os pacientes em estágio tardio. A causa primária nos pacientes com DRC é a produção insuficiente de eritropoetina (EPO) pelos rins afetados, a deficiência re- lativa dessa causa sobrevida redu- zida das hemácias. Outros fatores que causam essa anemia são diáte- se hemorrágica, deficiência de ferro, hiperparatireoidismo, fibrose da me- dula óssea, inflamação crônica, defi- ciência de folato ou vitamina B12 e hemoglobinopatia. A anemia da DRC está associada a algumas consequências fisiopatoló- gicas adversas, inclusive transporte e consumo de oxigênio reduzidos nos tecidos, aumento do débito cardíaco e dilatação e hipertrofia ventriculares. As manifestações clínicas incluem fa- diga e diminuição da tolerância aos esforços, angina, insuficiência cardía- ca, distúrbios da cognição e acuida- de mental, bem como diminuição das defesas contra infecção. Além disso, a anemia pode desempenhar um im- portante papel na restrição do cresci- mento das crianças com DRC. 20DOENÇA RENAL CRÔNICA Anormalidades gastrointestinais e nutricionais O hálito urêmico (odor de urina no ar exalado) é causado pela decomposição da ureia em amônia na saliva e geral- mente está associado a um paladar me- tálico desagradável (disguesia). Gastrite, doença péptica e ulceração em muco- sas em qualquer nível do trato GI ocor- rem nos pacientes urêmicos e podem causar dor abdominal, náuseas, vômitos e hemorragia digestiva. Esses pacientes também são suscetíveis à constipação, que pode ser agravada pela administra- ção dos suplementos de cálcio e ferro. A retenção de toxinas urêmicas também causa anorexia, náuseas e vômitos. A desnutrição proteico-calórica se- cundária à baixa ingestão de proteínas e calorias é comum na DRC avançada e costuma indicar a necessidade de iniciar a terapia renal substitutiva. A acidose metabólica e a ativação das citocinas inflamatórias podem predis- por ao catabolismo proteico. A avalia- ção da desnutrição proteico-calórica deve começar no estágio 3 da DRC. Distúrbios endócrinos-metabólicos O metabolismo da glicose está altera- do na DRC, conforme se evidencia pela redução da velocidade com que os ní- veis da glicemia declinam após a admi- nistração de uma carga de glicose. No entanto, a glicose sanguínea em jejum costuma estar normal ou ligeiramente elevada, e a intolerância leve à glicose não requer tratamento específico. Como os rins contribuem para a remoção da insulina da circulação, os níveis plasmá- ticos deste hormônio ficam ligeira ou moderadamente elevados na maioria dos pacientes urêmicos, tanto em jejum quanto no estado pós-prandial. Nas mulheres com DRC, os níveis de estrogênio são baixos e é comum ob- servar anormalidades menstruais, in- fertilidade e incapacidade de levar as gestações ao termo. Quando a TFG cai a cerca de 40 mL/min, a gestação está associada a índices elevados de abor- tamento espontâneo, e apenas cerca de 20% das gestantes dão à luz bebês vivos; além disso, a gravidez pode ace- lerar a progressão da própria doença renal. Já os homens com DRC têm con- centrações plasmáticas baixas de tes- tosterona e podem ter disfunção sexu- al e oligospermia. A maturação sexual pode ser retardada ou prejudicada nos adolescentes com DRC, mesmo que estejam sendo tratados com diálise. Anormalidades dermatológicas As anormalidades cutâneas observa- das nos pacientes com DRC são: pru- rido, muito associado a uremia, hiper- pigmentação, devido a deposição de metabólitos pigmentados, dermopa- tia fibrosante nefrogênica (enduração subcutânea progressiva, nos braços e pernas principalmente), condição se- melhante em pacientes com DRC ex- postos ao gadolínio, que é usado no contraste da ressonância magnética. 21DOENÇA RENAL CRÔNICA Distúrbios volêmicos, eletrolíticos e ácidobásico Níveis de estrogênio diminuidos SÍNDROME URÊMICA HAS Distúrbios do metabolismo de cálcio e potássio Disturbios endócrinos- metabólicos Doenças coronarianas Anemia normo/normo Anormalidades gastrointestinais e nutricionais Níveis de testosterona diminuidos Gastrite Amônia na saliva Hálito urêmico Dor abdominal, náuseas e vômitos Hipóxia Aumento do débito cardíaco Insuficiência cardíaca HAS Alto turnover osteíte fibrose cística Baixo turnover doença óssea adinâmica osteomalacia Ácidose metabólicaHiperpotassemiaAumento de sal e água Dor de cabeça/ confusão mental Maior lesão no néfron DRC MAPA MENTAL QUADRO CLÍNICO PACIENTE COMDRC 22DOENÇA RENAL CRÔNICA SISTEMA SINAIS E SINTOMAS Geral Fadiga, cansaço, perda de ape- tite, soluços, perda de massa muscular, edema, hipertensão arterial, sinais de desnutrição. Dermatológico Pacientes com síndrome urêmi- ca apresentam palidez cutânea por conseqüência de anemia, retenção de pigmentos urocrô- micos, uréia e melatonina. A pele em geral é seca e atrófica. Outras manifestações são equi- moses, distúrbios na hemostasia e prurido. Cardiovascular Pericardite, tamponamento peri- cárdico, miocardiopatia urêmica, aceleração da aterosclerose, calcificação vascular. Pulmonar Pleurite, pneumonite, edema agudo de pulmão, respiração de Kusmaull Gastrointestinal Náuseas, vômitos, gastrite erosi- va, pancreatite, ascite, parotidi- te, hemorragia digestiva. Endócrino Hiperparatireoidismo secundá- rio e alteração no metabolismo ósseo, impotência e redução de libido, alteração de ciclo mens- trual, dislipidemias, intolerância à glicose. Hematológico Anemia normocítica e nor- mocrômica por deficiência de eritropoetina, disfunção plaque- tária. alteração de função neu- trofílica. maior susceptibilidade a infecções e neoplasias. Periférico Neuropatia sensitivo-motora, síndrome das pernas inquietas. Neurológico Sonolência, redução da aten- ção e da capacidade cognitiva, alterações de memória e lenti- ficação, mioclonias, convulsões, confusão mental e coma Tabela 3: Principais sinais e sintomas da Doença Renal Crônica Fonte: Chao LW et al. Clínica Médica – Me- dicina USP/ HC-FMUSP. Editora Manole. Volume (3) 637-651, 2009 6. DIAGNÓSTICO Diagnóstico da doença renal crônica é mais bem identificado com o ritmo de filtração glomerular. Essa é a melhor medida do funcionamento renal em indivíduos normais ou pacientes com doença renal. O nível da RFG varia com a idade, sexo, e massa muscu- lar. A RFG menor que 60mL/min/1,73 m2 representa diminuição de cerca de 50% da função renal normal e, abai- xo deste nível, aumenta a prevalência das complicações da DRC. Embora a diminuição da RFG rela- cionada à idade possa dever-se ao processo de envelhecimento normal, a diminuição da RFG no idoso é um preditor independente de evolução adversa da doença, tal como óbito e doença cardiovascular. Além do mais, a RFG diminuída no idoso deve impli- car em ajustes nas dosagens das me- dicações, semelhantemente ao que se faz em todos os pacientes com DRC. Assim, a definição da DRC é a mesma, independentemente da ida- de. Como a RFG diminui com a ida- de, a prevalência de DRC aumenta nos pacientes idosos; cerca de 17% das pessoas com mais de 60 anos apresentam RFG menor que 60mL/ min/1,73m2. A RFG, idealmente, deveria ser deter- minada pela depuração da inulina ou de materiais radioisotópicos. Infeliz- mente, tais métodos, além de onero- sos, não são de fácil utilização no dia a 23DOENÇA RENAL CRÔNICA dia. Na prática clínica, a RFG pode ser determinada pela dosagem da creati- nina sérica e/ou pela depuração desta pelo rim. A depuração da creatinina pode ser realizada em urina coletada no período de 24 horas, porém a co- leta urinária inadequada, seja por fal- ta de compreensão do procedimento ou tipo de atividade do paciente, é um limitador do método. Mais recentemente, as diretrizes pre- conizam que a FG pode ser estimada a partir da dosagem sérica da crea- tinina (Crs), aliada a variáveis demo- gráficas, tais como: idade, sexo, raça e tamanho corporal. As duas equações mais frequentemente utilizadas en- contram-se a seguir: 1. Equação de Cockcroft-Gault: Filtração glomerular (mL/min)= 140 - idade (em anos) x peso (kg) / 72 x Creatinina sérica (x 0,85 se mulher) 2. Equação abreviada do estudo Modification of Diet in Renal Dise- ase (MDRD) Filtração glomerular (mL/min/1,73m2) = 186 x (Creatinina sérica)-1,154 x (idade)-0,203 X (0,742 se mulher) X 1,210 se negro SAIBA MAIS A fórmula de Cockcroft-Gault e a utilizada no estudo MDRD apresentam excelente correlação com a determinação da RFG avaliada com DTPA e já foram amplamente empregadas em vários estudos em diferentes partes do mundo, inclusive no Brasil. Atualmente, as fórmulas que estimam a RFG estão disponibilizadas em programas para computadores manuais, nas páginas da internet da Sociedade Brasileira de Nefrologia e na National Kidney Foundation ou na forma de tabelas. Você pode conferir as calculadoras nesse link da Sociedade Brasileira de Nefrologia: https:// sbn.org.br/utilidades/calculadoras/] A DRC pode ser diagnosticada sem o conhecimento da sua causa. Ge- ralmente, o comprometimento do parênquima renal é confirmado por marcadores de lesão em vez da bióp- sia renal. De acordo com as Diretrizes do K/DOQI1, a proteinúria (albuminú- ria) persistente é o principal marcador de lesão renal. Outros marcadores de lesão renal incluem anormalidades no sedimento urinário (principalmente hematúria e leucocitúria), alterações de parâmetros bioquímicos no san- gue e na urina e alterações nos exa- mes de imagem. Pacientes com RFG normal, mas com marcador(es) de le- são renal apresentam risco aumenta- do para evolução da DRC. O sumário de urina é um dos prin- cipais exames a serem feitos na ava- 24DOENÇA RENAL CRÔNICA liação inicial do paciente com DRC, devendo-se analisar os sedimentos urinários e suas anormalidades e a microscopia do sedimento (pesquisar células, cilindros e cristais). • Hematúria: presença anormal de eritrócitos na urina (> de 3 a 5 eri- trócitos/campo ou até 3000 hemá- cias por mililitro) ◊ Presença de hemácias disfór- micas indicam glomerulonefri- te proliferativa ou nefrites he- reditárias. • Leucócitos: piúria é definida como acima de 10 leucócitos/campo ou 10.000/ml, sendo indicativa de in- flamação do trato urinário. ◊ Piúria pode ser indicativa de in- fecção, porém quando associa- da a cultura estéril pode indicar: tuberculose de trato urinário, infecção por clamídia, doença glomerular proliferativa difusa, litíase renal, nefrite intersticial aguda (linfomononucleares e eosinófilos) e doença renal ate- roembólica (eosinófilos). • Cilindrúria: excreção aumentada de cilindros na urina. ◊ Excreção de cilindros céreos, celulares, gordurosos e pig- mentados indicam patologia renal. ◊ Excreção de cilindros hialinos e granulosos podem não indi- car doença renal • Situações que levam à cilindrúria transitória: desidratação, exercício extenuante, uso de diurético e fe- bre, que podem remitir em 24-48h após desaparecimento do estímu- lo inicial. • Cristais: a presença de cristais na urina como de ácido úrico, fosfato ou oxalato de cálcio nem sempre significam alguma patologia. Indivíduos normais excretam peque- na quantidade de proteína na urina diariamente, numa faixa considera- da como fisiológica. No entanto, a excreção de quantidade aumentada de proteína na urina é um marcador sensível para DRC secundária a dia- betes (doença renal diabética), glo- merulopatias primárias e secundárias e hipertensão arterial. Já as proteínas de baixo peso molecular, quando em quantidade anormal na urina, suge- rem a ocorrência de doenças túbu- lo-intersticiais. É preciso deixar claro que proteinúria é um termo genéri- co que engloba a excreção urinária de albumina e qualquer outro tipo de proteína. Já a palavra albuminúria refere-se única e exclusivamente à eliminação urinária de albumina, um marcador de lesão glomerular. Além disso, o termo microalbuminúria é uti- lizado quando a quantidade de albu- mina urinária está acima do normal, porém aquém dos níveis detectados nos testes de proteinúria total. 25DOENÇA RENAL CRÔNICA GRUPO DE RISCO Pesquisar proteinúria com fita de imersão ≥ 1 + Negativo ou traços Quantificar proteinúria: - Relação proteína/creatinina (amostra isolada) ou - Proteinúria 24hs >200mg ≤200mg Pesquisar microalbuminúria: - Amostra isolada (fita de imersão) - Amostra urinária de 12h (noturna) - Amostra urinária 24h Positivo NegativoPositivo Negativo Positivo NegativoAvaliaçãodiagnóstica Repetir anualmente Tratamento Consulta FLUXOGRAMA DA AVALIAÇÃO DA PROTEINÚRIA EM INDIVÍDUOS DE GRUPO DE RISCO E SEM DOENÇA RENAL EVIDENTE O fluxograma apresentado é uma proposta para pesquisar proteinú- ria como marcador de lesão renal em indivíduos que compõem grupos de risco e sem evidências de doen- ça renal. O primeiro passo é pesqui- sar a proteinúria com fita de imer- são numa amostra urinária isolada. A ocorrência de uma ou mais cruzes de proteinúria determina a neces- sidade de quantificação, que pode ser feita em amostra urinária isolada (relação proteína/creatinina) ou na urina de 24 horas. Valores superio- 26DOENÇA RENAL CRÔNICA res a 200 mg implicam em avalia- ção diagnóstica e tratamento. Se o paciente faz parte de grupo de risco para DRC e a fita de imersão resul- tar negativa, o próximo passo é pes- quisar microalbuminúria em amostra urinária isolada (com fita de imersão, método semiquantitativo) ou urina de 12 horas noturna ou em amos- tra urinária de 24 horas. Se o resul- tado for negativo, repetir a avaliação anualmente. Em caso de resultado positivo, ou seja, dois ou mais re- sultados positivos em intervalo su- perior a três meses entre os testes, deve-se aprofundar a investigação, objetivando confirmação diagnósti- ca e instituição de tratamento nefro- protetor. A ultrassonografia renal pode ser utilizada para definir o diagnóstico de doença renal policística autossô- mica dominante, obstrução do trato urinário, refluxo vesicoureteral, di- ferenciação entre tumores sólidos e cistos renais. Pacientes com perda de função renal no início da doença podem apresentar nefropatia crônica à imagem do ultrassom, com perda da diferenciação córtico medular, re- dução do córtex renal e aumento da ecogenicidade do parênquima renal. Figura 7: Ultrassom de rim evidenciando à esquerda perda da diferenciação córtico medular e aumento da ecogenicidade do parênquima e à direita demonstra rim com padrão ecocardiográfico normal, com diferenciação córtico medular presente. Biópsia renal A avaliação da histologia renal é im- portante para o diagnóstico, deter- mina o prognóstico e direciona o tra- tamento, incluindo para pacientes candidatos ao transplante renal. Po- rém, quando se é feito o diagnóstico da DRC, muitas vezes o rim já está com um grau avançado de fibrose o que dificulta a definição da histologia de base, com redução do seu tama- nho, que pode causar sangramento durante o procedimento. Assim, mui- tas vezes, o risco não compensa os benefícios. 27DOENÇA RENAL CRÔNICA 7. TRATAMENTO Os tratamentos dirigidos às causas específicas da DRC incluem, entre outros, o controle rigoroso da glicemia dos pacientes diabéticos, o uso de agentes imunossupressores na glo- merulonefrite e a utilização das novas modalidades de tratamento especí- fico para retardar a cistogênese na doença renal policística. Em geral, a ocasião ideal para iniciar o tratamen- to, específico e não específico, é muito antes que haja declínio detectável da RFG e certamente antes que a DRC esteja bem estabelecida. Em todos os pacientes, é útil medir sequencialmente a RFG e colocar os resultados em um gráfico que expres- se a velocidade de declínio. Qualquer aceleração na velocidade de declínio deve levar a uma busca de algum pro- cesso agudo ou subagudo sobreposto, Anormalidades no sedimento urinário Hematúria DIAGNÓSTICO Marcadores de lesão renal Ultrassonografia de rim e vias urinárias Equação para estimar a filtração glomerular Biópsia renal Leucocitúria Proteinúria Albuminúria Perda da diferenciação córtico medular Diminuição renal Equação do MDRD: TFG =186 x (Creatinina sérica)-1,154 x (idade)-0,203 X (0,742 se mulher) X 1,210 se negro Equação de Cockcroft-Gault: TFG = 140 - idade (em anos) x peso (kg) / 72 x Creatinina sérica (x 0,85 se mulher) Taxa de filtração glomerular < 60 ml/ min/1,73m2 por mais de 3 meses = DRC Determina o prognóstico, direciona o tratamento MAPA MENTAL DIAGNÓSTICO 28DOENÇA RENAL CRÔNICA o qual pode ser reversível. Isso inclui depleção do VLEC, hipertensão des- controlada, infecção do trato urinário, uropatia obstrutiva de início recente, exposição a fármacos nefrotóxicos, como AINEs ou contraste radiográfi- co, e reativação ou agravamento da doença original, por exemplo lúpus ou vasculite. Para reduzir a progressão da doença a taxa de declínio da RFG va- ria nos diferentes pacientes com DRC. Entretanto, as intervenções descritas adiante devem ser consideradas na tentativa de estabilizar ou retardar o declínio da função renal. Dieta Devem ser considerados cuidados nutricionais gerais para os pacientes portadores de DRC. A dieta deve ser hipossódica (até 2g de sódio ou 5g de NaCl), hipopotas- sêmica, dieta hipofosfatêmica (até 800mg/dia) – evitar alimentos indus- trializado e embutidos. Para pacientes a partir do estágio 4 da DRC, deve-se ter uma dieta hipoproteica, para evitar a hiperfiltração glomerular e a sobre- carga renal. Hipertensão arterial sistêmica A redução da hipertensão intraglo- merular e da proteinúria é imprescin- dível. As pressões de filtração intra- glomerular elevadas e a hipertrofia dos glomérulos ocorrem como uma resposta à perda quantitativa dos né- frons em razão de diferentes doenças renais. Essa resposta é mal adaptativa porque estimula o declínio persistente da função renal, mes- mo que o processo desencadeante tenha sido tratado ou tenha regredido esponta- neamente. O con- trole da hipertensão glomerular é impor- tante para retardar a progressão da DRC. Além disso, a pressão arterial elevada agra- va a proteinúria por- que aumenta o fluxo através dos capilares glomerulares. Por outro lado, o efei- 29DOENÇA RENAL CRÔNICA to nefroprotetor dos agentes anti-hi- pertensivos é aferido pela redução subsequente da proteinúria. Desse modo, quanto mais efetivo for deter- minado tratamento na redução da excreção proteica, maior o impac- to subsequente na proteção contra o declínio da RFG. Essa observação constitui a base das diretrizes tera- pêuticas que estabelecem o nível de 130/80 mmHg como meta de pres- são arterial para pacientes com DRC e proteinúria. Os inibidores da ECA e os bloqueadores de receptores da angiotensina II (BRAs) inibem a va- soconstrição das arteríolas eferentes da microcirculação glomerular, que é induzida pela angiotensina. Essa ini- bição possibilita a redução da pres- são de filtração intraglomerular e da proteinúria. Vários estudos contro- lados demonstraram que esses fár- macos foram efetivos em retardar a progressão da insuficiência renal nos pacientes com estágios avançados da DRC diabética ou de outras etio- logias. Esse retardo da progressão da DRC está diretamente associado ao efeito redutor da proteinúria. Quando não há resposta antiproteinúrica com a utilização isolada de um desses fár- macos, pode-se tentar o tratamento combinado com inibidores da ECA e BRAs. Essa combinação está asso- ciada à redução mais expressiva da proteinúria, quando comparada com o uso isolado de um desses fármacos. Embora a redução da proteinúria seja um indicador substituto de melhora do prognóstico renal, a combinação poderia ser vantajosa. No entanto, há uma incidência maior de insuficiência renal aguda e complicações cardíacas com esse tratamento combinado. Por essa razão, ainda não está claro se a combinação de inibidores da ECA com BRAs pode ser recomendada rotineiramente. Entre os efeitos ad- versos desses fármacos estão tosse e angioedema com os inibidores da ECA e anafilaxia e hiperpotassemia com as duas classes. O aumento pro- gressivo da concentração sérica de creatinina com o uso desses fárma- cos pode sugerir a existência de do- ença renovascular das artérias de pe- queno ou grande calibre. A ocorrência desses efeitos colaterais pode exigir a utilização dos agentes anti-hiperten- sivos de segunda linha em vez dos inibidores da ECAou dos BRAs. Os IECA devem ser utilizados com cau- tela em pacientes com níveis de cre- atinina acima de 3 mg/dL e naqueles propensos a desenvolver hiperpotas- semia. SE LIGA! A meta da pressão arterial é de 130/80 mmHg para pacientes com DRC e proteinúria. Entre os bloqueadores dos canais de cálcio (BCC), o diltiazem e o vera- pamil podem reduzir a proteinúria e causar efeitos nefroprotetores mais eficazes, quando comparados com 30DOENÇA RENAL CRÔNICA as di-hidropiridinas. No mínimo dois tipos de resposta podem ser obser- vados: um no qual a progressão está diretamente associada à hiperten- são sistêmica e intraglomerular, bem como à proteinúria (p. ex., nefropatia diabética, doenças glomerulares) e no qual os inibidores da ECA e os BRAs provavelmente são a primeira opção; e outro no qual a proteinúria é leve ou indetectável nos estágios iniciais, por exemplo na doença renal policística do adulto e em outras doenças tubu- lointersticiais, e no qual a contribuição da hipertensão intraglomerular é me- nos proeminente; neste último grupo, os outros agentes anti-hipertensivos podem ser úteis para controlar a hi- pertensão sistêmica. Os diuréticos tiazídicos e a clortalido- na podem ser úteis no início da do- ença renal crônica, porém, à medida que a insuficiência renal progride, em uso isolado tendem a perder a eficá- cia. Caso o paciente apresente níveis ascendentes de creatinina, chegan- do a 2mg/dl, recomenda-se o uso de diuréticos de alça. Assim, associa-se a furosemida nesses casos. Os va- sodilatadores não apresentam bons resultados, e o minoxidil deve ser re- servado apenas para casos de hiper- tensão arterial grave. Diabetes mellitus Já o manejo da nefropatia diabética consiste em prevenção por meio de controle da glicemia. O bom controle da glicemia e da hemoglobina glica- da reduz o ritmo com que a microal- buminúria aparece e progride no DM tipo 1 e 2. Entretanto, quando ocorre macroalbuminúria, não está bem de- finido se a melhora do controle glicê- mico irá reduzir a velocidade de pro- gressão da doença renal. Durante a fase posterior de declínio da função renal, as demandas de insulina po- dem cair, pois o rim é um local de de- gradação da insulina. À medida que a RFG diminui com a nefropatia pro- gressiva, o uso e a dose dos agentes que reduzem a glicose devem ser reavaliados. Alguns desses medica- mentos (sulfonilureias e metformina) estão contraindicados na insuficiên- cia renal avançada. SE LIGA! O objetivo é manter a glicemia capilar pré-prandial entre 90 e 130 mg/ dL, pico pós-prandial < 180 e hemoglo- bina glicada < 7,0%.] Em comparação com o que ocorre nos indivíduos que não são diabéti- cos, a hemodiálise nos pacientes com DM está associada a complicações mais frequentes, tais como hipoten- são, decorrente de neuropatia auto- nômica ou da perda da taquicardia reflexa, um acesso vascular mais di- fícil e uma progressão acelerada da retinopatia. As complicações da ate- rosclerose constituem a principal cau- sa de morte em indivíduos diabéticos 31DOENÇA RENAL CRÔNICA com nefropatia, e a hiperlipidemia deve ser tratada de modo agressivo. O transplante renal proveniente de um doador vivo aparentado constitui a terapia preferida, mas torna neces- sária a imunossupressão crônica. O transplante combinado de pâncreas- -rim oferece a promessa de normogli- cemia e de liberdade da diálise. Anemia A anemia, definida como valores de hemoglobina <13,0 g/dL no homem e <12,0 g/dL na mulher, é uma das complicações mais frequentes e pre- coces no curso da DRC. Sempre que o diagnóstico de anemia for feito, de- ve-se dosar a ferritina, o índice de saturação de transferrina, ácido fó- lico e B12. Devem ser considerados a reposição de ferro, vitamina B12 e ácido fólico e o uso de agentes esti- muladores da eritopoese, a eritopoe- tina. A reposição de eritropoetina só deve ser feita após o fornecimento dos substratos, caso haja carência de ferro, B12 e ácido fólico. SE LIGA! Dose da eritropoetina: 50 a 150 unidades/kg/semana. Distúrbio mineral ósseo Deve-se considerar como parâmetros para o tratamento os valores de fós- foro, PTH e vitamina D, apenas para pacientes com DRC nos estágios 3, 4 e 5. Os níveis séricos de fósforo de PTH devem ser mantidos na faixa de normalidade, de acordo com o está- gio da DRC, como apresentado na ta- bela abaixo. DRC FÓSFORO (MG/ DL) PTH (PG/ML) 3 3,0 – 4,6 35-70 4 3,0 – 4,6 70-110 5 3,5-5,5 150-300 Tabela 4: Valores de normalidade de fósforo e PTH conforme estadiamento da DRC. Os quelantes de fósforo (carbonato de cálcio, hidróxido de alumínio, ace- tato de cálcio e sevelamer) devem ser prescritos se, apesar da restrição die- tética, o fósforo sérico ou o PTH esti- verem acima dos níveis recomenda- dos, pois além de serem quelantes de fósforo, aumentam o aporte de cálcio ao paciente. A elevação do PTH deve ser tratada com pulsos de calcitriol ou outro me- tabólito da vitamina D, caso o produto cálcio x fósforo não esteja elevado. SE LIGA! O cálcio sérico deve ser corrigi- do para o valor de albumina sérica: cálcio sérico corrigido = cálcio sérico medido + 0,8 x (4 – albumina sérica (em g/dL)) O calcitriol (0,25 μg/dia) aumenta a rea- bsorção intestinal de cálcio e fósforo, po- dendo gerar valores proibitivos de fos- foremia e calcemia; os novos análogos sintéticos de vitamina D são mais seleti- vos para as paratireóides, sem interferir 32DOENÇA RENAL CRÔNICA nos níveis séricos de cálcio e fósforo, pois não têm ação sob o receptor intestinal da vitamina D. Caso o tratamento me- dicamentoso com vitamina D sintética não obtenha os efeitos desejados, está indicado o tratamento cirúrgico, com a realização de paratireoidectomia subto- tal, total ou total com auto-implante. Existem ainda os calcimiméticos, ago- nistas de receptores cálcio-sensíveis que atuam nas glândulas paratireói- des, aumentando a sensibilidade des- ses receptores ao cálcio. Como au- menta a sensibilidade das glândulas paratireóides aos níveis de cálcio sé- rico, essa nova classe de droga pode levar à redução na produção do PTH. Acidose A progressão da DRC, leva a uma ex- creção de H+ insuficiente para manter a homeostasia e o paciente desenvol- ve acidose metabólica, com concen- tração sérica de bicarbonato variando de 12 a 18 mEq/L. O tratamento deve ser instituído para prevenir a osteo- penia e o catabolismo muscular. Nos casos de acidose, recomenda-se o uso de bicarbonato de sódio via oral na dose de 0,5 a 1,0 mEq/kg/dia, para manter o bicarbonato com dose pró- xima a 22 mEq/L. Outras complicações No manejo de outras complicações da DRC, principalmente as que não res- pondem a diálise, deve-se atentar ao ajuste na dose de medicamentos. Em- bora a dose de ataque da maioria dos fármacos não seja afetada pela DRC, porque a eliminação renal não entra nos seus cálculos, as doses de manu- tenção de muitos fármacos precisam ser ajustadas. Como os fármacos cujas doses são excretadas por vias não re- nais são mais de 70%, os ajustes de dose podem ser desnecessários. Mas alguns fármacos que devem ser evita- dos incluindo metiformina, meperidina e hipoglicemiantes orais eliminados por via renal. Os AINEs devem ser evi- tados em vista do risco de agravar ain- da mais a deterioração renal. Alguns antibióticos, anti-hipertensivos e an- tiarrítmicos podem exigir reduções da dose ou alteração dos intervalos entre as doses. Como mencionado antes, os contrastes radiológicos e o gadolínio devem ser evitados ou utilizados de acordo com diretrizes estritas confor- me a necessidade médica. Em alguns casos, o alívio transitório dos sinais e dos sintomas da uremia iminente, como anorexia, náuseas, vômitos, fraqueza e prurido, pode ser conseguido com a restrição da inges- tão proteica. Entretanto, essa inter- venção acarreta risco significativo de desnutrição e, desse modo, devem ser planejadas medidas terapêuticas de longo prazo. A diálise de manuten- ção e o transplanterenal prolongaram a vida de centenas de milhares de pa- cientes com DRC em todo o mundo. 33DOENÇA RENAL CRÔNICA Terapia de substituição renal As indicações para a instituição da te- rapia renal substitutiva para pacien- tes com DRC estão na tabela abaixo: INDICAÇÕES SINAIS E SINTOMAS Absolutas Pericardite Hipervolemia refratária a diuréticos Hipertensão arterial refratária às drogas anti-hipertensivas Sinais e sintomas de encefalopatia Sangramentos atribuíveis à uremia Hiperpotassemia não controlada clinicamente Relativas Anorexia progressiva/náuseas e vômitos Prurido persistente e intenso Acidose metabólica Alterações de atenção, memória e depressão Tabela 5: Indicações de Terapia Renal Substitutiva Em vista da variabilidade individual da gravidade dos sintomas urêmicos e da função renal, não é recomendável atribuir um valor arbitrário de ureia ou creatinina recomendado para o mo- mento ideal do início da terapia renal substitutiva. Além disso, os pacientes podem ficar acostumados à uremia crônica e negar seus sintomas, em- bora logo descubram que se sentem melhor com a diálise e percebam re- trospectivamente como se sentiam mal antes de iniciar o tratamento. Estudos pregressos sugeriram que o início da diálise antes do apareci- mento de sinais e sintomas graves de uremia estaria associado ao pro- longamento da sobrevida. Isso origi- nou o conceito de “início saudável” e é compatível com a filosofia de que é melhor manter o paciente sempre se sentindo bem, em vez de deixar que adoeça em razão da uremia, antes de tentar recuperar suas melhores condi- ções de saúde com a diálise ou trans- plante. Embora estudos recentes não tenham confirmado uma correlação entre diálise precoce e aumento da sobrevida dos pacientes, ainda existe mérito com essa abordagem em al- guns indivíduos. Na prática, a prepa- ração antecipada pode ajudar a evitar problemas com o próprio processo de diálise, por exemplo uma fístula que não funciona adequadamente para a hemodiálise ou um cateter perito- neal mal funcionante e, desse modo, impedir a morbidade associada à ne- cessidade de criar um acesso tempo- rário para a hemodiálise com seus ris- cos inerentes de sepse, sangramento, trombose e associação com mortali- dade acelerada. Hemodiálise A hemodiálise é a terapêutica mais utilizada para tratamento, controle e manutenção vital de pacientes porta- dores de DRC em estado avançado. A hemodiálise remove os solutos urê- micos anormalmente acumulados e o excesso de água, e restabelece o equilíbrio eletrolítico e ácido-básico do organismo. A hemodiálise se baseia na transfe- rência de solutos e líquidos através de 34DOENÇA RENAL CRÔNICA uma membrana semipermeável que separa os compartimentos sangüí- neos do “banho de diálise” (dialisado) no hemodialisador (filtros capilares). Essa membrana permite a passa- gem de moléculas de pequeno peso molecular (eletrólitos, uréia, creatini- na, potássio etc.) e ao mesmo tempo impede a transferência de moléculas maiores e de elementos figurados (como as proteínas séricas, elementos figurados do sangue, bactérias e ví- rus). Essa passagem de solutos pode ser feita através da difusão ou através da convecção (gradiente pressórico exercido por meio da membrana se- mipermeável do dialisador). As vantagens dessa técnica são: re- tirada rápida de volume, correção de distúrbios hidroeletrolíticos e menor chance de falhas. As complicações da hemodiálise con- sistem de: hipotensão, cãimbra, infec- ção de corrente sanguínea associada à cateter e queda da função renal re- sidual. Figura 8: Componentes da hemodiálise Fonte: http://experimentoteca.com/ Diálise peritoneal É especialmente indicada para crian- ças e para pacientes com dificuldade na obtenção de um acesso vascular, além de ser uma opção para pacien- tes com instabilidade hemodinâmica durante as sessões de hemodiálise. A diálise é feita através de um cateter inserido dentro da cavidade abdomi- nal. O peritônio visceral é o responsá- vel pela maior área afetiva de troca. 35DOENÇA RENAL CRÔNICA Quando se infunde solução de diálise no espaço peritoneal, ocorre trans- ferência de soluto entre o sangue e a solução dialisadora. A troca se faz por meio de três estruturas distintas: capilar, interstício peritoneal e meso- télio. O transporte de líquidos através da membrana peritoneal se faz por ultrafiltração, gerada pelo gradien- te de pressão osmótica e criado pela elevada concentração de glicose nas soluções de diálise. O transporte de solutos realiza-se de maneira passi- va, segundo dois processos: difusão (gerado pelo gradiente de concen- tração entre o sangue e o dialisado) e convecção (arraste de solutos por ocasião da ultrafiltração). A difusão é o processo responsável pela transfe- rência da grande massa dos solutos. As vantagens do método incluem: menor chance de hipotensão, melhor qualidade de vida, já que o pacien- te pode realizar o procedimento em casa, além de maior preservação da função renal. As desvantagens do método incluem: maior chance de falha técnica, perito- nite (infecção da cavidade peritoneal) e esclerose do peritônio. Figura 9: Componentes da diálise peritoneal. Fonte: http://www.minutoenfermagem.com.br/ 36DOENÇA RENAL CRÔNICA 8. TRANSPLANTE RENAL O transplante renal é uma modali- dade de tratamento ideal para o pa- ciente com DRC. Caracteriza-se pela substituição de um órgão sem função por um outro capaz de suprir todas as necessidades vitais daquele pa- ciente. Permite o reestabelecimento da função renal a níveis satisfatórios, sem sinais de sintomas urêmicos e distúrbios hidroeletrolíticos e melho- ria na qualidade de vida do paciente. Pequena parcela da população porta- dora de DRC, geralmente em estádio V, se beneficia do transplante renal no Brasil. É indicada para pacientes com DRC, que está recebendo ou não terapia de substituição renal (diálise peritoneal ou hemodiálise). As contraindicações para o trans- plante renal são: • Retardo mental grave • Neoplasias ativas • Problemas psiquiátricos graves • Alterações não passíveis de corre- ção em vias urinárias • Oxalose primária SE LIGA! Pacientes podem ainda so- frer recidiva da doença de base após o transplante renal, como em casos de glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF) e de outras glomerulopatias. Na técnica do transplante renal, são mantidos os rins do paciente, mas o novo rim é colocado através da anas- tomose com os vasos ilíacos e com o ureter. Além disso, existe a possibi- lidade de o doador renal ser doador vivo ou falecido. Estima-se que as so- brevidas dos pacientes transplanta- dos de doador vivo e doador falecido sejam de 90 e 80%, respectivamen- te, no primeiro ano da terapia. O transplante renal requer o uso de imunossupressores uma vez que isso diminui a taxa de rejeição do órgão. Entretanto, isso irá aumentar a chan- ce de infecções deste paciente, prin- cipalmente nos primeiros meses pós transplante. O transplante renal consiste numa me- lhor sobrevida e melhor qualidade de vida para o paciente, comparando com as outras terapias de substituição renal. Figura 10: Transplante renal. O novo rim é posiciona- do na parte inferior do abdômen e os rins originais do paciente não são geralmente removidos Fonte: http:// www.anm.org.br/ 37DOENÇA RENAL CRÔNICA MAPA MENTAL TRATAMENTO DOENÇA RENAL CRÔNICA Tratamento das complicações ANEMIA Repor as carências (Fe, VB12, AFOL) Reposição de eritropoietina Tratar sangramentos DISTÚRBIO HIDROELETROLÍTICO Dieta hipopotássica Evitar excessos (água) HIPERPARATIREOIDISMO SECUNDÁRIO Quelante de fósforo Calcimiméticos nos graves Calcitriol oral (0,25 μg/dia) Paratireoidectomia nos refratários DIABETES Prevenção primária : reduzir microalbuminúria Sulfonilureias e metformina estão contraindicados na insuficiência renal avançada Doença renal crônicaHAS Alvo: PA < 130x80 Diuréticos e BCC Anti-hipertensivo IECA/BRA Se albuminúria> 30 mg/g e clcr>30 utilizar IECA ou BRA Primeira linha, reduzem perda de função renal Fase inicial da DRC: tiazídicos e a clortalidona ACIDOSE Bicarbonato de sódio via oral na dose de 0,5 a 1,0 mEq/kg/dia, alvo do bicabornato: 22mEq Transplante renal Doador vivo ou falecido Uso de imunossupressão Melhor sobrevida Melhor qualidade de vida Contraindicações: retardo mental grave, neoplasias ativas, problemas psiquiátricos graves, alterações não passíveis de correção em vias urinárias, oxalose primária Terapia de substituição renal Hemodiálise Diálise peritoneal Melhor preservação da função renal residual Indicações Absolutas:pericardite, hipervolemia refratária a diuréticos, hipertensão arterial refratária às drogas anti- hipertensivas, sinais e sintomas de encefalopatia, sangramentos atribuíveis à uremia, hiperpotassemia não controlada clinicamente Relativas: anorexia progressiva/ náuseas e vômitos, prurido persistente e intenso, acidose metabólica, alterações de atenção, memória e depressão. UREMIADIETA Hipossódica (até 2g de sódio ou 5g de NaCl), hipopotassêmica, hipofosfatêmica (até 800mg/dia) e hipoproteica 38DOENÇA RENAL CRÔNICA D IE TA Definição DOENÇA RENAL CRÔNICA Etiologia Classificação Alteração estrutural Tratamento das complicações Manifestações da síndrome urêmica Terapia de substituição renal Nefropatia diabética Nefroesclerose hipertensiva Nefropatia isquêmica Nefropatia do HIV Nefrite lúpica Necrosa tubular aguda com lesão permanente Uropatia obstrutiva Anomalias renais congênitas Ateroembolismo Síndrome de Alport Mieloma múltiplo Câncer renal Granulomatose de Wegner Fisiopatologia Insulto inicial da doença de base Perda de néfrons irreversível Aumento da pressão e filtração glomerular Proteinúria Inflamação túbulo intersticial Fibrose Não respondem à diálise Respondem à diálise Anemia, distúrbios do cálcio e potássio, prurido cutâneo, disfunção imunológica, aterosclerose Sintomas cardíacos, pulmonares, gastrointestinais, neurológicos Distúrbios ácido- base, distúrbios hidroeletrolíticos, disfunção plaquetária Diálise peritoneal Hemodiálise Distúrbio hidroeletrolítico Acidose Diabetes HAS Anemia Hiperparatireoidismo secundário Dieta hipopotássica, evitar excessos de água Usar bicarbonato de sódio via oral na dose de 0,5 a 1,0 mEq/kg/dia, alvo do bicabornato: 22mEq Prevenção primária : reduzir microalbuminúria Primeira linha: IECA/ BRA BCC, diuréticos Alvo: PA < 130x80 Repor as carências (Fe, VB12, AFOL) Repor eritropoietina Calcitriol oral (0,25 μg/dia), calcimiméticos, quelantes de fósforo Alteração de imagem Doença cística renal Malformação renal Alteração funcional ALBUMINÚRIA <30mg/dia Transplante renal Sedimento urinário alterado Histologia alterada Distúrbio eletrolítico RFG < 60 mL/ min/1,73m2 MAPA MENTAL DOENÇA RENAL CRÔNICA 39DOENÇA RENAL CRÔNICA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Harrison, Tinsley Randolph, and Anthony S. 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