domiciliados ou não no Brasil, possam se dirigir aos representantes consulares do Brasil para requererem a lavratura de atos de competência normal de juiz de casamento, de tabelião ou oficial do registro civil, de acordo com sua lei nacional, que é a brasileira. Importante ressaltar que os atos consulares constituem exceção ao princípio locus regit actum, já que os cônsules, no exercício de seus cargos no exterior, devem seguir as formalidades prescritas em sua lei nacional, e não as do país onde estão a serviço do Brasil. No que diz respeito ao casamento, o art. 18 da LICC, com a alteração do art. 3º da Lei nº 3.238/57, permite que o mesmo seja celebrado no exterior perante cônsul brasileiro, ressaltando que ambos os nubentes devam ser brasileiros, já que no direito brasileiro exige- se a vinculação da nacionalidade dos contraentes à autoridade consular. Ou seja, quando os nubentes tiverem nacionalidades diversas, a cerimônia somente poderá ser realizada perante a autoridade local, não tendo o cônsul brasileiro competência para celebrá-la, não podendo fazê-lo quando apenas um dos cônjuges for brasileiro e o outro for estrangeiro ou apátrida. Após a celebração do casamento pelo cônsul, é necessário o registro do mesmo no livro competente, no prazo de 180 dias contados da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no Cartório do respectivo domicílio ou, na falta deste, no 1º Ofício da Capital do Estado em que passarem a residir, expedindo a certidão do casamento. Se porventura o prazo de 180 dias não for cumprido, o casamento não é invalidado, mas nova habilitação será necessária para retomar a possibilidade do registro49. No caso de a lei do país em cujo território se realizou o casamento de brasileiros não reconhecer o casamento consular, o mesmo terá validade no Brasil50. Art. 19. Reputam-se válidos todos os atos indicados no artigo anterior e celebrados pelos cônsules brasileiros na vigência do Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, desde que satisfaçam todos os requisitos legais. Parágrafo único. No caso em que a celebração desses atos tiver sido recusada pelas autoridades consulares, com fundamento no artigo 18 do mesmo Decreto-lei, ao interessado é facultado renovar o pedido dentro em 90 (noventa) dias contados da data da publicação desta lei. O art. 19 da LICC versa sobre a validade do casamento celebrado por cônsul brasileiro no estrangeiro, de nubentes de nacionalidade brasileira, mesmo que não sejam domiciliados no Brasil, ou seja, validando também as núpcias de brasileiros domiciliados no exterior. O parágrafo único do artigo 19 determina um prazo de noventa dias para que se renove o pedido para a celebração do casamento quando a autoridade consular se recusar a celebrá- lo com fundamento no disposto no art. 18 da LICC. Oscar Tenório51 entende que o simples pedido de reconsideração no processo de habilitação, quando fundamentado legalmente, já obrigaria o cônsul a celebrar as núpcias, deixando de lado a exigência do domicílio no Brasil. Assim, observa Maria Helena Diniz que a Lei nº 3.238/57 veio a alterar os arts. 7º, § 2º, e 18 da LICC, eliminando a exigência do domicílio e considerando apenas o elemento de conexão “nacionalidade”, motivo pelo qual brasileiros, domiciliados ou não no Brasil, poderão contrair núpcias no exterior perante autoridade consular brasileira52. Notas de Rodapé 1 Raó, Vicente. O Direito e a vida do direito. São Paulo: Max Limonad, v.1, p.240-2 e 373-4. 2 Ferrara. Trattato di diritto civile italiano. Roma, p. 116-7, v.1, 1921. 3 Carvalho Santos. Código Civil brasileiro interpretado, Rio de Janeiro, 1934, p. 60-1. 4 Diniz, Maria Helena. Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro Interpretada. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 67-8. 5 Gèny. Método de interpretación y fuentes en el derecho privado. 2.ed. Madri: Reus, p.250; Capitant. Introduction à l’étude du droit civil, 1929, p.82-3; Limongi França. Instituições de direito civil, São Paulo: Saraiva, 1988, p.23; Ráo, Vicente. O Direito. cit., v.1, p. 385-6; Cavalcanti Filho, Teophilo. Ab-rogação da lei por si mesma in Enciclopédia Saraiva do Direito, v.1, p. 481-2. 6 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.68; Ferrara. Trattato, cit., p. 189-91; Batalha, Wilson de S. Campos Batalha. Lei de Introdução ao Código Civil, São Paulo: Max Limonad, v.1, p.118-9; 7 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.87-8. 8 Coviello. Manuale di diritto civile italiano; parte generale, 1924, v.1, p.45. 9 Ob. cit., p. 93. 10 Ferraz Júnior, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito, São Paulo: Atlas, p.210 e 290. 11 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.145. 12 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.171. 13 Ferraz Júnior, Tércio Sampaio. Introdução, cit., p.265. 14 Monteiro, Washington de Barros. Curso de direito civil; parte geral. São Paulo: Saraiva, 1967, v.1, p.43; Bevilácqua, Clóvis. Teoria geral do direito, 4.ed. Ministério da Justiça, 1942, p.59. 15 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.173. 16 Maximiliano, Carlos. Direito Intertemporal, Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1946. Vide também Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.191-2. 17 Diniz, Maria Helena. Comentários ao Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003, v.22, p.163-184. 18RSTJ, v.7, 1991. 19 Porchat, Reynaldo. Da retroatividade das leis civis, São Paulo, 1909, p.22. 20 Ferraz Júnior, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito,cit., p.226-7; Diniz, Maria Helena. Lei de Introdução.., cit., p.196. 21 Carvalho Santos, Código Civil. cit., v.1, p.54. 22 Ferraz Júnior, Tércio Sampaio. Ob. cit., p.226. 23Revista de Direito 69:117; Revista de Crítica Judiciária, 15:393. 24 Código Bustamante, art. 41, reza que se terá : “... em toda parte como válido, quanto à forma, o matrimônio celebrado na que estabeleça como eficazes as leis do país em que se efetua. Contudo, os Estados, cuja legislação exigir uma cerimônia religiosa, poderão negar validade aos matrimônios contraídos por seus nacionais no estrangeiro sem a observância dessa formalidade”. 25 Kahn. Die dritte Haager Staaten Konferenz, in Zeitschrift für internationals Privat-und öffentliches Recht, 1902, v.2, p.421. 26 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.253-4. 27 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.255. 28 Wolff. Private International Law, p.293-333; Castro, Amílcar.Direito Internacional Privado, Rio de Janeiro: Forense, 1968, v.2, p.85 e s. 29 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p. 262. 30 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p. 263. 31 Monteiro, Washington de Barros. Curso, cit., v.2, p.30. 32 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p. 266. 33 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p. 290. 34 Pillet; Neboyet. Manuel de droit international privé, 1924, p.471. 35 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.296. 36 Idem. 37 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.302-3. 38 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.307. 39 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.312. 40 “Art. 1.829, do CC: a sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II – aos descendentes, em concordância com o cônjuge; III – ao cônjuge sobrevivente; IV – aos colaterais”. 41 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.318. 42 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.347. 43 Espínola; Espínola Filho. Lei de Introdução ao Código Civil comentada, Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1943, v.3, p. 274-304; Castro, Amílcar de. Direito Internacional Privado, v.2, p.226; Andrade, Agenor P. de. Manual de direito internacional privado, São Paulo, 1987, p.321-3; Tenório, Oscar. Direito internacional privado, Rio de Janeiro: