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Universidade Federal do Ceará Cultura e Mudança Organizacional 2021.1 Jéssica Dantas de Andrade TEMA: Cultura Organizacional Brasileira 1. Cultura Antes de tratarmos do tema principal do presente trabalho: Cultura Organizacional Brasileira, iremos discorrer sobre os caminhos que conduzem ao entendimento do mesmo. A começar para compreender de forma sucinta a definição de cultura. 1.1. Definição de cultura A Antropologia, a fim de estudar sobre as sociedades humanas e suas relações, utiliza alguns termos como: cultura. De acordo com o dicionário Aurélio Online, cultura pode significar: "Ato, arte, modo de cultivar; lavoura; conjunto das operações necessárias para que a terra produza; vegetal cultivado; meio de conservar, aumentar e utilizar certos produtos naturais; aplicação do espírito a (determinado estudo ou trabalho intelectual); instrução, saber, estudo; apuro; perfeição; cuidado". A primeira vez que tem-se o conhecimento quanto ao uso formal do tempo “CULTURA” no âmbito acadêmico (séc. XIX), através do trabalho de Tylor, antropólogo britânico, considerado o precursor do conceito contemporâneo de cultura. Para o autor, a cultura representa um lócus que engloba o avanço das pessoas promovidos através dos processos individuais de aprendizagem, que ocorrem ao longo da vida. Como podemos perceber, a interpretação quanto a cultura é ampla e diversa, além de, segundo White (2009) poder assumir diferentes significados ao longo do tempo e a depender de cada local em que é construída. Para Thompson (2009): [...] a cultura de um grupo ou sociedade é o conjunto de crenças, costumes, ideias e valores, bem como os artefatos, objetos e instrumentos materiais, que são adquiridos pelos indivíduos enquanto membros de um grupo ou sociedade. [...] De acordo com White (2009) o Homem e a cultura são inseparáveis, onde a cultura surge a partir do processo de simbolização feito pelo Homem, e se o indivíduo não possuísse tal capacidade ainda estaríamos vivendo como o Homem de Neandertal, sem organização social e tecnologia humana. Sendo assim, o autor exprime a ideia de que o papel da cultura é contribuir para uma vida com mais segurança e durabilidade para a espécie humana. Segundo Morgan (1996), falar de CULTURA, na atualidade, é tratar sobre as mais diversas possibilidades de diferentes grupos de pessoas terem distintos estilos de vida. 1.2. Cultura Organizacional Compreender a definição de Cultura e sua ampla dimensão nos ajuda a visualizar a relação das organizações dentro desse contexto. Ou seja, as organizações como são inseridas em um contexto macro, terão sua cultura interna influenciada pelos hábitos e crenças compartilhados do local em que está. A partir do início dos anos de 1960, a cultura começou a ser estudada nas organização, dando origem ao surgimento do termo “Cultura Organizacional”, cujo foco dessa nova abordagem era destacar possibilidades de criação ou promoção de mudanças na organização, onde o ponto de partida corresponde ao processo cuidado de (re)estruturação das relações internas e externas existentes. À expressão interna da organização, mencionada anteriormente, chamamos de: Cultura Organizacional, a qual, de acordo com Schein (1984), trata-se de um modelo dos pressupostos básicos inventados por um grupo, a partir de um processo de aprendizado, que objetiva lidar com problemáticas quanto adaptação ao mundo externo da organização e questões de integração interna. Ademais, o autor trouxe em seus estudos três abordagens usadas para estudar e definir a cultura: ● 1ª abordagem: Pesquisa - sinônimo de clima organizacional, onde o colaborador preenche uma pesquisa e o consultor de recursos humanos analisa os números e obtém uma imagem de satisfação do grupo. Atinge alguns aspectos da cultura, mas não se aprofunda; ● 2ª abordagem: Descritiva e Analítica: possui certa semelhança com a anterior, pois ainda há o desejo de medir, porém divide a cultura em partes analíticas (rituais, normas, valores, estórias, etc) para, então, compreender a cultura como um todo. ● 3ª abordagem: Etnográfica - a cultura existe como uma realidade social, ou seja, manifestações comportamentais observáveis dos membros de dada cultura. É complexo, não podendo ser compreendida através de um formulário de pesquisa por exemplo, é preciso vivenciar; Segundo Barbosa (2002, p.22), o entendimento quanto à cultura organizacional, deve está diretamente ligado: “à sua capacidade de oferecer novos e melhores instrumentos de intervenção na realidade. Por conseguinte, identificar e classificar os diferentes tipos de cultura e medir sua eficácia tornou-se um imperativo gerencial”. Ou seja, deve ser vista como um dos instrumentos que a organização pode utilizar para alcançar os resultados desejados: CULTURA ORGANIZACIONAL = ORGANIZAÇÃO + CULTURA Da mesma forma que a compreensão quanto o que é cultura atravessou diversas definições até que chegasse a compreensão que temos hoje, o mesmo ocorreu quando falamos de cultura organizacional, observe a tabela abaixo que elaboramos a partir de Barbosa (2002, p.12-13): 1º Período: Até 1970 2º Período: 1970 - 1990 3º Período: 1990 - Presente 1. Contexto histórico: movimentos civis; 2. Ligação com o Desenvolvimento Organizacional; 3. Concepção humanística das organizações; 4. Instrumento de melhoria das organizações; 5. Retórica do autodesenvolvimento ; 6. Cultura não era vista como uma vantagem competitiva; 1. Contexto histórico: relevância do modelo cultural japonês para economia/ organizações; 2. Reflexões sobre o que é cultura organizacional 3. Ganha importância visando transformar a cultura organizacional em vantagem competitiva; 4. Peso dos teóricos e consultores na difusão do conceito 5. Foco no gerencial 1. Contexto histórico: forte relação com um contexto de mudança em dimensões distintas; 2. Cultura Organizacional como importante ativo intangível; 3. Mensuração dos seus benefícios 4. Importância da liderança corporativa na sua consolidação 5. Foco no estratégico Como podemos perceber, a definição de cultura tem cada vez se distanciando mais da visão antropológica que a originou: inicialmente vista como parte de um processo de gestão mais funcional, e atualmente, já é tida como um fator de vantagem competitiva. Retomando a definição de cultura organizacional compreendida por Schein, podemos utilizar a metáfora do iceberg para ilustrar melhor os níveis da cultura propostos também pelo autor: VALORES/ARTEFATOS TANGÍVEIS Estratégias, estrutura organizacional, processos, gestão e liderança, tecnologia, uso de recursos, autoridade formal, etc. VALORES/ARTEFATOS INTANGÍVEIS Valores, pressupostos e presunções, normas implícitas, interações informais e comunicação não verbais, atitudes, tensões e conflitos, crenças, sentimentos e emoções ● NÍVEL 1: ARTEFATOS : representados pela ponta do iceberg, são visíveis e, portanto, fáceis de encontrar, mas nem sempre decifráveis. Outros exemplos: tecnologia, arquitetura, formato dos escritórios, maneira de vestir, linguagem; ● NÍVEL 2: VALORES: São as estratégias, objetivos, filosofias da cultura. Necessita de entrevista e análise para observar se há a manifestação da cultura na pessoa ou grupo; ● NÍVEL 3: PRESSUPOSTOS: corresponde a camada mais invisível, composto por crenças e práticas, são as verdades, pensamentos, sentimentos, etc. De acordo com Schein os pressupostos são respostas aprendidas; Tal metáfora é relevante para ilustrar o entendimento de que, ainda que normalmente identificamos mais facilmente componentes tangíveis da cultura organizacional, esses representam apenas a ponta do iceberg, na realidade, é preciso observar e estudar mais a fundo a organização para compreender o que não é tangível mas que compõe a cultura da empresa. Além disso, fica mais perceptível que a própria definição da Cultura Organizacional é embasada a partir dos elementos que a compõem, onde os principais são, segundo Freitas (1991): a) Valores: correspondemàs atitudes e comportamentos esperados por todos da organização, ou seja, independentemente do nível hierárquico; b) Crenças e pressupostos: representa aquilo que é tido como verdade na organização; são inconscientes e inquestionáveis; c) Ritos, rituais e cerimônias: práticas voltadas para a cultura mais tangível, exemplo: grandes parte das atividades realizadas pelos Departamentos de Recursos Humanos; d) Estórias e mitos: as estórias são narrativas de eventos ocorridos na organização e os mitos são estórias consistentes com os valores organizacionais, sem que haja a sustentação nos fatos; e) Tabus: representa as áreas de proibições, ou seja, enfatiza o que não é permitido; f) Heróis: são os indivíduos da organização que incorporam seus valores e condensam a força da organização, exemplo: Henry Ford, da Ford; g) Normas: são as regras que pautam os comportamento esperado, aceito e permitido pelo grupo, podendo ser escrita ou não h) Processo de comunicação: engloba a rede de relações e papéis informais (padres, fofoqueiros, conspiradores, contador de estórias, etc); Bibliografia AURÉLIO. Dicionário do Aurélio Online 2018. Disponível em: <https://dicionariodoaurelio.com/cultura>. Acesso em: 28 de Jun. de 2021 THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna. Teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petropólis: Vozes, 2009 WHITE, L. A.; DILLINGHAM, B. O conceito de cultura. Rio de Janeiro : Contraponto, 2009. SCHEIN, Edgard. "Coming to a New Awareness of Organizational Culture". Sloan Managemente Review, Winter, 1984 SCHEIN, Edgard. "How Culture Forms, Develops and Changes". In KILMANN, R. et alii. Gaining Control of the Corporate Culture, San Francisco, Jossey-Bass, 1985 TYLOR,Edward Burnett. “Primitive Culture: researches into the development of mythology, philosophy, religion, language,art and custom”, 1871. MORGAN, G. Imagens da organização. 1.ed. São Paulo: Atlas, 1996. BARBOSA, Lívia. Cultura e empresas. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. Coleção Passo-a-Passo. LÜCK, Heloísa. Gestão da Cultura e do Clima Organizacional da Escola. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.
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