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O PRINCÍPIO DA LIVRE INICIATIVA

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O PRINCÍPIO DA LIVRE INICIATIVA 
 
Os princípios constitucionais são um conjunto de normas que fundamentam todas as demais normas do 
nosso Ordenamento Jurídicas, razão pela qual estão situados em posição de superioridade visto que as 
normas subordinadas não podem contrariar as normas de hierarquia superior. 
 
O artigo 1º da Constituição Federal eleva à condição de princípio fundamental a livre iniciativa, lado a lado 
com os valores sociais do trabalho. Vejamos: 
“A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do 
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.” 
A Constituição de 1988, em seu artigo 170 dispõe: 
“A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa", tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes 
princípios: 
I – soberania nacional; 
II – propriedade privada; 
III – função social da propriedade; 
IV – livre concorrência; 
V – defesa do consumidor; 
VI – defesa do meio ambiente; 
VII – redução das desigualdades regionais e sociais; 
VIII – busca do pleno emprego; 
IX - Tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e 
que tenham sua sede e administração no País. 
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, 
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.” 
Este artigo da norma constitucional introduz um modelo econômico baseado na liberdade de iniciativa, 
que tem por finalidade assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, sem 
exclusões nem discriminações. Daí entende-se que, independentemente de sua natureza, se pública ou 
privada, toda a empresa para desenvolver atividade econômica, seja esta indústria ou comércio, ou ainda, 
prestação de serviços, regem-se pelos princípios contidos neste artigo, não obstante opinião contrária do 
Professor Weter R Faria1, que sustenta que: 
“as normas de defesa de concorrência não se aplicam a nenhuma empresa-órgão gerida pela 
União, nem as que executam serviços públicos, estrito senso, sob a titularidade dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios. Aplica-se, todavia às empresas-órgãos dê natureza industrial e 
comercial que operam em regime de concorrência, administradas pelos Estados, pelo Distrito 
Federal e os Municípios. Excetuam-se os organismos federais, porque não se concebe a União 
como sujeito passivo das normas que promulga para proteger o mercado contra as práticas 
comerciais restritas”. 
O Princípio da Livre Iniciativa é considerado como fundamento da ordem econômica e atribui a iniciativa 
privada o papel primordial na produção ou circulação de bens ou serviços, constituindo a base sobre a 
qual se constrói a ordem econômica, cabendo ao Estado apenas uma função supletiva pois a 
Constituição Federal determina que a ele cabe apenas a exploração direta da atividade econômica 
quando necessária a segurança nacional ou relevante interesse econômico (CF, art. 173). 
 
Nossa Constituição Pátria dispõe em seu art. 174 que o Estado tem o papel primordial como agente 
normativo e regulador da atividade econômica exercendo as funções de Fiscalização, Incentivo e 
Planejamento de acordo com a lei, no sentido de evitar irregularidades. Sendo assim, a nossa 
Constituição não coíbe o intervencionismo estatal na produção ou circulação de bens ou serviços, mas 
assegura e estimula o acesso à livre concorrência por meio de ações fundadas na legislação. 
 
O Professor José Afonso da Silva, em seu curso de Direito Constitucional Positivo2 ensina: 
“a liberdade de iniciativa envolve a liberdade de indústria e comércio ou liberdade de empresa e a 
liberdade de contrato.” 
Assegura a todos o art. 170 da Carta Magna o livre exercício de qualquer atividade econômica, 
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. 
 
No entanto, como qualquer princípio, a livre iniciativa não pode ser considerada absoluta uma vez que há 
restrições que a própria ordem econômica, refletida em lei, impõe sobre ela, como por exemplo, quando 
há exigência legal para a obtenção de autorização para o exercício de determinada atividade econômica, 
como é o caso dos bancos comerciais e sociedades seguradoras, que precisam obter autorização do 
Banco Central do Brasil e da Superintendência de Seguros Privados, respectivamente para funcionarem. 
 
Há de se frisar que a relatividade do princípio da livre iniciativa refere-se, especificamente, às restrições 
impostas em lei para o livre exercício de uma determinada atividade econômica, não infringindo a 
dissociação entre o direito de exercer livremente uma atividade econômica e o direito de administrá-la. 
 
Consideram algumas doutrinas, a partir do balizamento constitucional da livre iniciativa por valores de 
“justiça social e bem-estar coletivo”, que a exploração de atividade econômica com puro objetivo de lucro 
e satisfação pessoal do empresário seria ilegítima sob o ponto de vista jurídico. É, este o entendimento de 
José Afonso da Silva3: 
“A natureza neoliberal da ordem econômica prevista na Constituição não tem, entretanto, tal 
extensão. A equiparação entre a livre iniciativa e os valores normalmente desconsiderados pelo 
empresário egoísta – que seria a defesa do consumidor, a proteção do meio ambiente, a função 
social da propriedade etc. – só afasta a possibilidade de edição de leis, complementares ou 
ordinárias, disciplinadoras da atividade econômica, desatentas a esses valores.” 
Podemos dizer que os dois aspectos relevantes que se concluem da inserção da livre iniciativa entre os 
fundamentos da ordem econômica são a constitucionalidade de preceitos de lei que visem a motivar os 
particulares à exploração de atividades empresariais, como é o caso do primado da autonomia patrimonial 
das pessoas jurídicas quando aplicado ao direito societário, tendo o sentido de limitar o risco de forma 
que as pessoas não receiem investir em atividades econômicas em razão da possibilidade de elevado 
comprometimento de seu patrimônio e por fim, a aplicação do princípio da autonomia das obrigações 
cambiais que está destinado a viabilizar a ágil circulação de crédito, mesmo quando o devedor do título é 
um consumidor4. 
 
A liberdade de iniciativa trazida pela Constituição prestigia o reconhecimento de um direito titularizado por 
todos que é o de explorarem as atividades empresariais, decorrendo no dever, imposto à generalidade 
das pessoas, de respeitarem o mesmo direito constitucional, bem como a ilicitude dos atos que impeçam 
o seu pleno exercício e que se contrapõe ao próprio estado, que somente pode ingerir-se na economia 
nos limites constitucionais definidos contra os demais particulares. 
 
O direito repudia duas formas de concorrência e que desprestigiam a livre iniciativa, quais sejam: a 
concorrência desleal e o abuso de poder. 
 
A Concorrência Desleal é reprimida pelo direito civil e penal nos casos em que houver desrespeito ao 
direito constitucional de explorar a atividade econômica expresso no princípio da livre iniciativa como 
fundamento da organização da economia, sendo esse dever em relação ao estado fundado na 
inconstitucionalidade de exigências administrativas não fundadas em lei para o estabelecimento e 
funcionamento de uma empresa (CF, art. 170, parágrafo único) e no que concerne aos particulares se 
traduz pela ilicitude de determinadas práticas concorrências. 
 
Na concorrência desleal o empresário tem o intuito de prejudicar seus concorrentes, de modo claro e 
indisfarçado, retirando-lhes, total ou parcialmente, fatias do mercado que haviam conquistado, infligindo 
perdas a seus concorrentes, porque é assim que poderão obter ganhos. 
 
O Abuso de poder no qual está prevista constitucionalmente a sua repressão, através do art.173, § 4º: 
“A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da 
concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.” 
A nossa constituição pátria traz em seu bojo um conjunto de normas referentes à ordem econômica se 
baseando nos princípios tradicionais do liberalismo econômico quais sejam: a propriedade privada, a 
liberdade de iniciativa e a de competição, a função social da propriedade, a defesa do consumidor, a 
busca do pleno emprego etc. No entanto, por outro lado prevê-se a repressão ao abuso do poder 
econômico através de modalidades de exercício do poder econômico que podem ser consideradas 
juridicamente abusivas e que põem em risco a própria estrutura do livre mercado e que podem ocasionar 
a dominação de setores da economia, eliminando a competição ou aumento arbitrário de lucros. 
 
Os prejuízos à Livre Concorrência ou Livre Iniciativa estão delineados na Lei 8.884/94, em seu artigo 
20, que diz: 
“Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer 
forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não 
sejam alcançados: 
I – limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa; 
II – dominar mercado relevante de bens ou serviços; 
III - aumentar arbitrariamente os lucros; 
IV – exercer de forma abusiva posição dominante.” 
O direito positivo estabelece que os atos de qualquer natureza que tenham o efeito, potencial ou real, de 
limitar, falsear, ou prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa são definidos como infração de ordem 
econômica . 
 
Limitar a livre concorrência ou a livre iniciativa nada mais é do que barrar de forma total ou parcial, 
mediante determinadas práticas empresariais, a possibilidade que tem outros empreendedores ao acesso 
à atividade produtiva e esta obstaculização de acesso decorre do aumento dos custos para novos 
estabelecimentos, provocado com vistas a desencorajar eventuais interessados. 
 
Falsear sugere uma idéia muito mais ampla que simulação relativa aos efeitos dos atos jurídicos. Falsear 
a livre concorrência ou a livre iniciativa significa ocultar a prática restritiva através de atos e contratos 
aparentemente compatíveis com as regras de estruturação do livre mercado. Pode haver falseamento de 
concorrência, sem que o negócio jurídico que o viabiliza se caracterize como simulado e as autoridades 
não precisam demonstrar a existência do defeito do ato jurídico como condição de sanção. 
 
Prejudicar a livre concorrência ou iniciativa nada mais é do que incorrer em qualquer prática empresarial 
lesiva às estruturas do mercado, ainda que não limitativas ou falseadoras dessas estruturas. Tais 
condutas são consideradas reprimíveis pela lei o abuso do poder econômico que visa à eliminação da 
concorrência (CF, art. 173, § 4º). O texto constitucional não faz referência específica à limitação, 
falseamento ou prejuízo da livre concorrência, que são consideradas formas de eliminação parcial e não 
total da competição. Para Medeiros da Silva5, a norma correspondente da lei de 1962, que tipificava 
como abuso de poder econômico a eliminação parcial da concorrência, seria inconstitucional por falta de 
distinção entre as diversas formas de eliminação. 
 
Em síntese, podemos afirmar que a livre iniciativa é um dos preceitos fundamentais da Carta Política de 
1988, reconhecido não apenas pela Constituição como também pela doutrina e que rege a ordem 
econômica nacional, tendo por finalidade assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, sem exclusões nem discriminações. 
 
O PRINCÍPIO DA LIVRE CONCORRÊNCIA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
DE 1988 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A discussão proposta pelo presente artigo circunscreve-se em perscrutar 
o princípio da livre concorrência na Constituição Federal de 1988, suas características e 
peculiaridades. Para tanto, abordar-se-á os princípios da atividade econômica na 
Constituição Federal de 1988, proceder-se-á a distinção entre o princípio da livre 
concorrência e o princípio da livre iniciativa e analisar-se-á a sistematicidade do 
princípio da livre concorrência. 
 
 
 
2 OS PRINCÍPIOS DA ATIVIDADE ECONÔMICA NA CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL DE 1988 
 
O sustentáculo econômico do sistema econômico brasileiro encontra-se 
regulado nos arts.170 a 192 da Constituição Federal, que trazem os fundamentos da 
ordem econômica, informadores de toda atividade econômica. 
Embora o sistema econômico adotado no Brasil seja o modo de produção 
capitalista e neoliberal, o texto constitucional permite que o Estado intervenha para que 
os agentes que atuam no mercado cumpram os elementos sócio-ideológicos trazidos na 
carta constitucional, apresentados especialmente em forma de princípios e diretrizes. 
O art. 170 da Constituição Federal estabelece os princípios da atividade 
econômica, preconizando no caput que: 
 
A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre 
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
[...] IV – livre concorrência 
 
São nove os princípios constitucionais da ordem econômica: soberania 
nacional, propriedade privada, função social da propriedade, o já transcrito acima 
princípio da livre concorrência, defesa do consumidor, defesa do meio ambiente, 
redução das desigualdades regionais e sociais, busca de pleno emprego e tratamento 
favorecido para as empresas de pequeno porte constituída sob as leis brasileiras e que 
tenham sua sede e administração no país. 
Estes princípios foram expressamente previstos na Constituição Federal 
com o fim de promover a justiça social, preservar a dignidade humana e o bem-estar-
social, integrando esses valores ao desenvolvimento econômico produzido pela 
iniciativa privada dentro de uma ótica capitalista e de liberdade de exercício de 
atividade econômica. 
Por conseguinte, no Brasil, pelo citado mandamento constitucional, a 
ordem econômica deve se orientar e ter como objetivo a justiça social, a solidariedade e 
a dignidade da pessoa humana. 
A livre concorrência, nesse plano, apresenta-se como princípio 
constitucional, princípio geral da atividade econômica. 
Os princípios inseridos no art. 170 da CF/88, dentre eles a livre 
concorrência, não se coadunam com o exercício de uma atividade econômica cuja 
finalidade é exclusivamente o lucro. 
A Constituição Federal interferiu na exploração da atividade econômica 
impondo-lhe limites e objetivos e estabelecendo-lhe a obrigação de sempre ser exercida 
de maneira a preservar a dignidade da pessoa humana e promover a justiça social, 
sempre norteando-se pela observância dos princípios que lhe são próprios por força 
constitucional, notadamente o princípio da livre concorrência. 
A livre concorrência decorre da manifestação da liberdade de iniciativa 
de atuação no mercado econômico. A livre concorrência é a garantia da livre iniciativa, 
de modo que se não houver livre concorrência, fatalmente não se terá também a 
liberdade de iniciativa, pois a inexistência de uma livre concorrência praticamente 
impede a liberdade de iniciativa. Por isso, de logo, faz-se importante definir a livre 
iniciativa. 
 
 
 
3 LIVRE INICIATIVA 
 
As bases que sustentam a ideologia capitalista, garantindo a coerência e o 
desenvolvimento do sistema, compõem-se de dois elementos primordiais: a propriedade 
privada e a livre iniciativa. 
O primeiro elemento mencionado, a propriedade, é, de acordo com a 
ideologia liberal, um desdobramento da liberdade natural do individuo. Esse direito, que 
inclui a apropriação dos meios de produção, se situa na grande maioria dos sistemas 
jurídicos dos países capitalistas no plexo dos direitos fundamentais do homem. 
O outro elemento, a livre iniciativa, traduz, também, o ideal de liberdade 
econômica,e seu reconhecimento pela ordem jurídica importa assegurar aos indivíduos 
a livre escolha da atividade que queiram desenvolver para seu sustento, e limitar a 
atuação do Estado no campo das opções econômicas dos agentes. 
Assim, ressalvadas as razões de ordem pública que reservam ao Estado a 
iniciativa econômica e o controle do exercício de certas atividades, há de ser assegurado 
a todo indivíduo o direito de livremente iniciar a atividade econômica que lhe aprouver. 
Naqueles limites, os únicos requisitos necessários ao exercício de uma atividade 
econômica são o talento e o capital, não podendo o Estado vedar o acesso dos 
indivíduos aos meios de produção e instrumentos de trabalho. 
Isso, porém, não significa uma imunidade total a qualquer regulação, pois 
a função social da propriedade e a justiça social, valores consagrados pela Constituição, 
impedem o exercício irrestrito de qualquer liberdade de conteúdo econômico. Essas 
limitações constituem, na verdade, mecanismos de proteção da própria liberdade de 
iniciativa, à medida que asseguram a liberdade de iniciativa de todos. 
O princípio constitucional da livre iniciativa encontra-se expressamente 
previsto no texto constitucional, mediante a regra estatuída no parágrafo único do 
art.170, que a todos assegura o livre exercício de qualquer atividade econômica, 
independentemente de autorização dos órgãos públicos, salvo nos casos previstos em 
lei. 
A liberdade de iniciativa compreende tanto o direito de acesso ao 
mercado - início de atividade econômica, como o de cessação da atividade econômica. 
Os agentes econômicos devem ser livres para produzir e colocar seus produtos no 
mercado, ações que conseguem desenvolver graças ao princípio da livre concorrência, 
que a todos assegura a liberdade dos mercados; devem, ainda, ser livres para cessar suas 
atividades, em obediência ao princípio econômico do custo de oportunidade. 
 
 
4 A LIVRE CONCORRÊNCIA 
 
O conceito de concorrência quer indicar o ato ou efeito de concorrer, ou 
seja, traz em si a idéia de luta, de competição entre pessoas na busca do mesmo objetivo 
ou vantagem. 
É mediante a livre concorrência que se melhoram as condições de 
competitividade das empresas, forçando-as a um constante aprimoramento dos seus 
métodos tecnológicos, dos seus custos, enfim, da procura constante de criação de 
condições mais favoráveis ao consumidor. 
O contrário da livre concorrência significa o monopólio e o oligopólio, 
situações que privilegiam determinado agente produtor da atividade econômica em 
detrimento dos demais produtores e dos consumidores. 
Nesse sentido, a livre concorrência, na área econômica, representa a 
disputa entre todas as empresas para obter maior e melhor espaço no mercado. 
No campo de direito privado, a concorrência é a disputa, o ato pelo qual 
uma pessoa procura estabelecer competições de preços, com o fim de apurar as 
melhores condições para efetivação de compra ou realização de uma obra. 
Em outras palavras, a concorrência é a situação do regime de iniciativa 
privada em que as empresas competem entre si, sem que nenhuma delas goze de 
supremacia em virtude de privilégios jurídicos, força econômica ou posse exclusiva de 
certos recursos. 
Livre concorrência, portanto, significa a possibilidade de os agentes 
econômicos atuarem sem embaraços juridicamente plausíveis, em um dado mercado, 
visando à produção, à circulação e ao consumo de bens e serviços, isto é, a livre 
concorrência procura garantir que os agentes econômicos tenham oportunidade de 
competir de forma justa no mercado. 
A liberdade de concorrência é corolário da liberdade de iniciativa, 
constituindo mesmo a espinha dorsal da economia de mercado, sendo, por isso, também 
chamada economia da concorrência. 
A positivação da livre concorrência decorreu de três motivos 
fundamentais. Primeiramente o motivo econômico, que se refere à promoção da 
eficiência econômica e do bem-estar social, a partir de uma adequada alocação de 
recursos, evitando-se distorções na distribuição do produto nacional, à medida que se 
garante o livre funcionamento dos mercados, sem necessidade de intervenção direta do 
Estado na economia. 
As economias de mercados concorrentes obtêm uma utilização mais 
eficiente dos recursos produtivos, produzindo bens e serviços a custos mais reduzidos. 
 
A motivação sociológica estaria na legitimação da liberdade das decisões 
econômicas dos consumidores, empresários e trabalhadores. Aos consumidores, a 
concorrência propicia as necessárias condições para exercer, de forma livre e racional, o 
poder de decidir sobre as suas reais necessidades, escolhendo o que adquirir e a que 
preço; aos empresários, a liberdade de alocarem os recursos de que dispõem; e aos 
trabalhadores, a ampliação de oportunidades de emprego. 
A motivação política, por seu turno, estaria na necessidade de submeter-
se a controle legal o poder econômico, em virtude da estreita correlação entre as forças 
econômicas e políticas, muitas vezes reunidas para a defesa de interesses privados que 
atentam contra a ordem política e até mesmo contra o regime democrático. 
A positivação da concorrência teria, assim, a função preservadora da 
forma democrática de governo, assegurando a independência do Poder Público em 
relação ao poder econômico. Com a desconcentração do poder econômico, pode-se 
reduzir a discricionariedade que têm os agentes econômicos sobre as questões que 
dizem respeito ao bem-estar da coletividade e se assegura a impessoalidade das decisões 
de mercado, impedindo-se que um ou poucos agentes econômicos decidam pela maioria 
dos indivíduos. 
A concorrência estudada pela ciência econômica constitui um dos 
modelos de dinâmica de mercado, caracterizado pela presença de elementos que 
viabilizam a competitividade entre os agentes econômicos em um dado segmento. 
 
 
5 A LIVRE CONCORRÊNCIA COMO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL 
 
Ao estabelecer a livre concorrência como princípio, a Constituição adota 
explicitamente uma opção, impondo que a conformação da ordem econômica se dê com 
a presença de mercados funcionando sob a dinâmica concorrencial. Portanto, a política 
econômica e o conjunto de normas infraconstitucionais dela decorrentes devem 
obedecer a esse princípio, buscando conformar os mercados de tal modo em que se 
constate a manutenção dos níveis concorrenciais e, para tanto, a pluralidade de agentes 
econômicos nos diversos mercados relevantes. 
Não há, contudo, que se confundir a livre concorrência como um 
elemento limitador da livre iniciativa. A livre concorrência se agrega à livre iniciativa, 
na medida em que constitui um instrumento necessário à estabilidade do sistema, 
garantindo a manutenção das regras do jogo de mercado e a segurança dos 
empreendedores, logo, incentivando o investimento e fomentando a livre iniciativa. 
Na qualidade de princípio da ordem econômica, a livre concorrência 
assumirá, portanto, dois papéis fundamentais. O primeiro o coloca como um princípio 
conformador, na medida em que revela uma opção política nuclear do constituinte, 
refletindo a ideologia neoliberal inspiradora da Constituição, impondo o 
estabelecimento de uma ordem econômica baseada na economia de mercado, 
dinamizada pelo modelo concorrencial. O segundo, por sua vez, diz respeito ao papel 
instrumental da livre concorrência, uma vez que imprescindível para assegurar a 
concretude da livre iniciativa, na medida em que impede o abuso do poder econômico, 
estabelecendo as regras do jogo de mercado e viabilizando, principalmente, os pequenos 
empreendimentos. 
A manutenção de uma economia de mercado dinamizada pelo modelo 
concorrencial pressupõe ações efetivas do Estado, seja como ente regulador ou, até 
mesmo, como ator direto no cenário econômico. 
O modelo capitalista neoliberal adotado pela Constituição não implica na 
inexistência de intervencionismo, muito pelo contrário, exige talmedida quando 
necessária à manutenção e sobrevivência da economia de mercado. Desse modo, o 
princípio da livre concorrência não só legitima como também impõe ao Estado medidas 
que impliquem na sua concretude. 
A Constituição Federal no § 4º do art. 173 estabelece, 
programaticamente, que a lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise a 
dominação dos mercados, a eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário de 
lucros. 
Os dois primeiros programas estão diretamente relacionados à 
efetividade do princípio da livre concorrência, na medida em que o abuso do poder 
econômico voltado para dominação de mercados, ainda que não elimine a concorrência, 
deve, por si só, ser alvo da reprimenda legal, uma vez que tais condutas reduziriam o 
nível de competitividade em dado mercado relevante e, conseqüentemente, 
proporcionariam o distanciamento da concorrência perfeita. O estabelecimento de tais 
programas, portanto, visam atender ao princípio da livre concorrência, tanto na sua 
acepção protetiva e instrumental da livre iniciativa, como na sua roupagem 
conformadora. 
 
 
6 A APLICAÇÃO SISTEMÁTICA DO PRINCÍPIO DA LIVRE 
CONCORRÊNCIA 
 
Assim como a livre iniciativa não pode ser estudada à revelia de outros 
princípios e regras constitucionais, a livre concorrência não pode ser vista isoladamente. 
A conformação de uma ordem econômica se dá mediante a implementação de uma 
política econômica positivada e a livre concorrência deverá ser integrada a essa política 
juntamente com os outros princípios conformadores. 
Os fundamentos da ordem econômica, em especial a valorização do 
trabalho humano, a dignidade da pessoa humana, os ditames da justiça social, a 
soberania, a defesa do consumidor, a redução das desigualdades regionais, a busca do 
pleno emprego e o tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte, deverão 
ser levados em conta no momento da aplicação do princípio da livre concorrência, seja 
diretamente ou através de normas infraconstitucionais dele decorrentes. 
Isso significa dizer que a livre concorrência, passível de abalo pelo abuso 
do poder econômico e pela redução dos níveis de competitividade, só pode ser 
compreendida e aplicada juntamente com os outros interesses tutelados 
constitucionalmente.

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